Publiquei Revista - 23ª Edição

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23 º EDIÇÃO - JANEIRO DE 2020

ESTA EDIÇÃO REVISITA O ANO DE 2019 PARA FAZER UM ANO NOVO AINDA MAIS INCRÍVEL

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23ª EDIÇÃO Contato revista@publiqueionline.com (21) 99575-2012 publiqueionline.com

EDITORIAL Chegamos à nossa 23a Edição, a última de 2019. Foi um ano de muito crescimento para a equipe Publiquei, em que acumulamos aprendizados, preocupações e alegrias. Por isso, decidimos reunir um pouco do que vimos de melhor na literatura este ano e coisas que nos marcaram, seja positiva ou negativamente. Obrigada aos colaboradores maravilhosos dessa edição, mandando seus textos dentro do prazo ou no dia de fechar a revista. Sou muito grata por poder contar com vocês na Publiquei. Aqui embaixo você verá todo mundo que trabalhou na revista. Que venha 2020, um ano em que já estamos preparando coisas incríveis e que desejamos que seja repleto de mágica para os melhores leitores do mundo: os nossos. Boa leitura! Carol Dias

Sumário

LANÇAMENTOS 3 AMAMOS E-BOOKS 5 MATÉRIA DE CAPA 7 ENTREVISTA 13 EVENTOS 16

Editora-chefe Carol Dias Assistente Editorial Marlon Souza

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Diagramação e Revisão Carol Dias

Redação Carol Dias Erik Thomazi Gabriela Silva Marlon Souza Thaís Abreu de Araújo Imagem da capa: _vane_/Pixabay


LANÇAMENTOS por Thaís Abreu de Araújo

As férias da minha vida

CLARA SAVELLI Lançamento da autora Clara Savelli pela Editoria Intrínseca, “As férias da minha vida” foi um sucesso de vendas na Bienal do Rio 2019. A história é de Ísis, ela vinha sonhando com sua viagem de 15 anos para a Disney, mas suas férias ganharam um novo rumo... Fiquem com um pedacinho da sinopse: “A República Dominicana era a descrição perfeita do paraíso. No entanto, o universo parece ter outros planos, que envolvem surpresas, reviravoltas e, quem sabe, até um novo amor. Em ‘As férias da minha vida’, Ísis vai descobrir que nem sempre a vida segue um roteiro. E que isso pode trazer experiências inesquecíveis”.

Fazendo meu filme - lado B PAULA PIMENTA Paula Pimenta fez a alegria de muitos leitores este ano com o lançamento de Fazendo meu filme – lado B, onde Leo conta sua versão da história contada por Fani em Fazendo meu filme 1. A série é um sucesso não só no Brasil e a autora também é conhecida pela sequência “Minha vida fora de série” (Gutenberg), sendo uma das escritoras nacionais mais lidas dentro do gênero infanto-juvenil.

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Amor sob encomenda CARINA RISSI Depois do sucesso de Perdida (2013), a autora best-seller Carina Rissi continua na lista dos mais vendidos de 2019. Seu lançamento de outubro, “Amor sob encomenda” (Verus Editora), conta a história de Melissa Gouvêa. Segundo a sinopse: “‘Amor sob encomenda’ vem cheio de humor, amor e emoção e apresenta uma história que nos fará refletir a respeito do que realmente é importante na vida”.

Por Nós Dois ERIK THOMAZI E THALITA FACCO No primeiro semestre de 2019, nossos editores Marlon Souza e Carol Dias decidiram publicar a segunda antologia da Publiquei. Nascia então “Por Nós Dois”, que teve participação de Erik Thomazi e Thalita Facco como organizadores. O livro, que está prestes a chegar às mãos dos leitores, fala sobre amor de diversas formas e é dividido entre as quatro estações do ano. Sinopse: Qual sua estação preferida? Você já pensou em como os relacionamentos são influenciados por elas? “Por Nós Dois” é uma antologia que veio consagrar o amor em todas as suas formas, de todas as cores e rostos. O amor verdadeiro se mostra não somente por dentro de você, mas, principalmente, de nós, através de um afetuoso beijo ou um simples ato de carinho. 4


AMAMOS E-BOOKS por Gabriela Silva

2019,

UM ANO PARA (RE)DESCOBRIR Particularmente não foi um grande ano de leituras. Mas foi um ano em que pude compartilhar o que li — e que foram boas leituras. Redescobri formatos, como o audiobook (que não ouvia desde 2016); senti outra vez meus dedos deslizarem o papel e o cheiro de livro novo (depois de muito tempo sem compras). Porém, meus companheiros mesmo foram o smartphone e o Kindle, esses sim garantiram boa parte das minhas leituras de 2019. Aliás, aproveitaram a “sexta-feira negra”? Eu consegui adquirir alguns e-books em promoções e brindes. Alguns garantiram bons descontos nos leitores digitais, garantindo espaço em sua casa, mas enchendo a bolsa de livros — melhor custo-benefício, diga-se de passagem. Como estamos em dezembro, é hora de contabilizarmos os melhores do ano. Contudo, listas não são para mim. Então, escolhi uma obra, pinçada no século XIX,

onde estão meus textos favoritos — não, eu não me vejo com vestidos vitorianos, nem acho que “nasci na época errada”. Apenas sou fascinada pelo movimento romântico e por certo charme da escrita da época. Confesso que, para uma pessoa que está abrindo mão das wishlists e compras absurdas, nada melhor que mergulhar no bom e velho domínio público — coisa que não faço desde os tempos do ensino médio. Cento e sessenta (160) anos de “Úrsula”, da primeira romancista negra brasileira, Maria Firmina dos Reis. Data cheia, que talvez resgatou esse nome importante — e esquecido — da literatura nacional. Filha de mãe escrava alforra e pai desconhecido (apenas em sua certidão de óbito temos o nome do sócio do antigo dono da mãe), dos Reis nasceu no Maranhão, em 1822. Viveu 95 anos, dos quais se dedicou à escrita e educação, tendo inclusive a iniciativa de dar aulas para turmas

mistas nas ruas próximas à Guimarães, cidade em que vivia. Descobri, assim, Maria Firmina: negra, nordestina, professora, abolicionista e (proto)feminista. Sua protagonista, a donzela branca Úrsula, sofre nas mãos do Comendador Fernando, assim como os escravos e companheiros, Suzana e Túlio. Mesmo personagens secundárias, temos dois perfis heroicos; duas pessoas que, mesmo escravizadas, não foram embrutecidas. Suzana nos conta sobre como foi arrancada de sua terra, marido e filhos e levada para um país distante para sofrer todo tipos de trabalho forçado e maus tratos. É um relato de como encontrar esperança na desumanização. Túlio abre a história. Com sua compaixão e nobreza, socorre o mancebo Tancredo, que, mergulhado em tristeza e mágoa, não se preocupa mais em viver. Pois, a amizade resgata a ambos: da escravidão, Túlio, alforriado

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pelo amigo; e a Tancredo, o amor da jovem Úrsula, filha da família que tinha o negro como cativo. Estamos mais que dentro da narrativa agridoce, cheia de poesia e relatos da crueldade dos homens do período do Império. Donos de terra e gente, gananciosos, inescrupulosos, que usam seus privilégios para burlar a lei; para as personagens resta apenas rogar à justiça divina. Lembra muito os tempos sombrios que estamos vivendo (ou sempre vivemos, se olharmos por essa ótica). Deixo a indicação de um clássico ignorado. E quero advogar um pouco em prol dos românticos, realistas, naturalistas e modernistas — não só de contemporâneos vive a literatura brasileira. E pelas mulheres: leiam mulheres! O Leia Mulheres está aí desde 2014 ao redor do Brasil, então procure um clube de leitura e seja feliz. Continue lendo a Publiquei (está aí de graça, olha que beleza!), procure outras revistas literárias. Só não deixem de ler. “A realidade só existe se houver uma palavra que a defina”, já nos deixou por escrito Rubem Fonseca (Bufo & Spallanzani, 1986).

Sinopse

Publicado originalmente em 1859, Úrsula é considerado o primeiro romance de autoria negra e feminina do Brasil. Livro de estreia da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, mulher negra, professora e militante de causas da educação, a obra é um marco na história da literatura brasileira. A autora lança um novo olhar para a questão da abolição, inédito até então, não do ponto de vista eurocêntrico, como era comum na literatura de seu tempo, mas justamente pela perspectiva dos próprios oprimidos, dando voz às mulheres, aos negros e escravos, além de denunciar a opressão do sistema patriarcal. Embora o centro do romance seja o triângulo amoroso formado por personagens brancos, a inovação da obra está justamente em dar protagonismo aos personagens negros: os escravos Tulio, Susana e Antero são fundamentais para o desenvolvimento da história. As trajetórias desses personagens, narradas a partir de um ponto de vista interior e próprio, representam o ponto ápice da literatura firminiana. A nova edição crítica da editora Taverna inclui ilustrações e capa de Gabriela Pires, prefácio de Rafael Balseiro Zin (sociólogo e pesquisador na PUC-SP), posfácio de Ana Flávia Magalhães Pinto (historiadora, pesquisadora e professora na UnB) e paratextos de Fernanda Oliveira (historiadora, professora, coordenadora do GT Emancipações e Pós-Abolição da ANPUH/RS), Regina Zilberman (escritora, ensaísta e professora de literatura na UFRGS), e Ronald Augusto (poeta, crítico literário e músico). 6


CAPA por Carol Dias

RETROSPECTIVA

2019

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Babi Dewet na Bienal de 2019. Foto: Divulgação

2019 foi um baita ano! Entre alegrias e tristezas, preparamos um TOP 5 de coisas que nos marcaram: polêmicas da Bienal do RJ, Machado de Assis negro, sucesso da Bienal de Contagrm, Ecio Salles e o primeiro erro da Flip de 2020 que chegou neste ano mesmo.

POLÊMICAS NA BIENAL

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Já publicamos uma edição inteira sobre a Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2019, mas isso não poderia faltar em uma retrospectiva. Após livros eróticos e LGBT+ terem sido censurados e Felipe Neto ter organizado uma distribuição de livros, fica a lição para cada um de nós. Que sigamos nos próximos anos escrevendo, divulgando e lendo histórias que retratem a cada um de nós: as dificuldades, as paixões, as dúvidas, os relacionamentos e tudo mais. Sejam eles para serem lidos por maiores ou menores de dezoito anos, retratem eles o amor heterossexual ou não. Mas, apesar disso, a Bienal foi um grande encontro, marcou a cada um de nós e deixou esperançosos por um novo encontro em 2021, com um final mais feliz e menos custoso.


MACHADO É NEGRO E É ASSIM QUE ELE DEVE SER REPRESENTADO

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A luta contra o racismo e para que mais vozes negras possam ser ouvidas atravessa séculos e gerações. Ainda hoje a negritude de famosos e pessoas em destaque na sociedade é diminuída e escondida em diversas situações. Imagine então como era no final do século XIX, quando Machado de Assis lançou livros como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Por anos e anos, a imagem do maior escritor do país foi editada e escondeu algo que aquela sociedade precisava abafar: o fato de Machado ter nascido negro. Joaquim Maria Machado de Assis, nascido em terras cariocas em 21 de junho de 1839, foi jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. A discussão sobre seu tom de pele ter sido escondido por tanto tempo é antiga, mas em 2018 teve sua chama acendida quando um pesquisador encontrou uma foto da revista argentina Caras y Caretas onde Machado trazia alguns traços negros muito marcantes, como o tipo de cabelo e o nariz largo. Em um esforço da Faculdade Zumbi dos Palmares, surgiu em 2019 a campanha Machado de Assis Real, em que uma foto característica do escritor ganhou cores para deixá-la mais realista. A foto, que você pode ver ao lado, está disponível no site do projeto (http://machadodeassisreal.com. br/), que incentiva os visitantes a baixarem a imagem, imprimirem e colarem em seus livros.

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3 O SUCESSO DA BIENAL DE CONTAGEM

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Cheia de representatividade e público participante, a 3a Bienal de de Contagem pode ser considerada um sucesso. Realizada em novembro, o evento teve um diferencial bem grande em relação ao formato que o público do eixo Rio–SP está acostumado: no lugar de uma grande feira que concentra estandes em pavilhões, o centro da cidade foi tomado pela Bienal. Realizado em formato de Circuito Cultural, havia um auditório principal para encontro como nomes nacionais e internacionais; o Espaço Água, com programação para jovens e adultos; exposi-

ções e atividades temáticas na Casa Amarela; exposição de livros e presença de autores no Espaço Ar; além do Espaço Una Conhecimento, que era dediccado à literatura, arte, escrita, empreendedorismo, educação e psicologia. Chamou a atenção também a pluralidade nas atrações confirmadas. Nomes como Conceição Evaristo, Miriam Leitão, Elza Soares, Daniel Muduruku, Anielle Franco, Eliana Alves Cruz, as meninas do Estaremos Lá, Rita Cadillac e vários outros mostravam a diversidade de vivências, opiniões e cores na feira.


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FLUP E O LEGADO DE ECIO SALLES

Foto: Marina S Alves e Thais Ayomide

O ano foi de algumas perdas valiosas para a literatura. Entre elas, Ecio Salles, um dos criadores da Festa Literária das Periferias (Flup). Aos 50 anos, ele deixou mulher e duas filhas após perder a luta para um câncer no pulmão. A trajetória dele sempre foi ligada às periferias e ao esforço para tornar a cultura algo acessível a todos. Uma vez curador do selo Tramas Urbanas na editora Aeroplano, publicou livros sobre hip-hop no Brasil, “Poesia revoltada”, e sobre a revolução tecnológia e cultural que aconteceu em Vigário Geral após a chacina de 1993. Ele foi coordenador geral da ONG Afroreggae, que ficava no bairro. Junto de Julio Ludemir, criou a Flup inspirada na Festa Literária de Paraty (Flip). O projeto foi chamado inicialmente de Festa Literária das UPPs (Flupp), mas foi rebatizado para Flup. Em sete anos, o evento passou pelo Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Cidade de Deus, Vidigal e hoje acontece no centro da cidade, região batizada pelo sambista Heitor dos Prazeres como “Pequena África”. O evento é um enorme legado de Ecio para a população periférica. A Flup surgiu para dar voz aos mais pobres e muitas vezes marginalizados pela sociedade. Vê-lo florescer é motivo de orgulho para todos. Vida longa à Flup!

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5 Foto: Divulgação

ELIZABETH BISHOP É O PRIMEIRO ERRO DA FLIP 2020 Uma das mais importantes poetas do século 20. Cumpre à perfeição a missão originária da feira, que é tornar a arte brasileira melhor conhecida em suas fronteiras e no resto do mundo. Traduziu poemas de autores brasileiros como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Vinicius de Moraes. Foi professora em Harvard por sete anos. Viveu no Brasil por quase duas décadas após se apaixonar pela arquiteta e urbanista brasileira Lota de Macedo Soares.

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Todas essas afirmações feitas pela organização da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deveria convencer o público de que Elizabeth Bishop é a escolha perfeita como homenageada de 2020 para o evento, mas a reação foi exatamente a contrária. O povo, que não tem a memória tão curta assim, lembrou-se facilmente do posicionamento da autora na época da ditadura, em que vivia aqui. O período, que é consi-

derado uma mácula em nossa história, por toda a violência e consequências drásticas que teve para a população, foi visto por Bishop como algo necessário. Somado ao fato de Bishop ter dado tais declarações, ela ainda ocupa espaço de autores brasileiros que merecem destaque por sua história de luta pela literatura e pelo país. Mas o que mais me incomodou, enquanto lia a matéria da Revista Piauí que reúne as cartas escritas por ela para seu amigo Robert Lowell, também poeta norteamericano, foi a forma como ela descrevia o Brasil, o povo brasileiro e o momento em que vivíamos. Suas confissões para Lowell são duras, polêmicas e retratam uma pessoa que não merece homenagens vindas de um evento tão grande quanto a Flip. Na primeira vez que escolheu um estrangeiro para homenagear na feira, os organizadores parecem ter escolhido o pior nome possível.


ENTREVISTA por Erik Thomazi

Danilo Barbosa Erik Thomazi: Danilo, para nós é um prazer entrevistá-lo. Conte-nos um pouco sobre você e sua carreira literária. Danilo Barbosa: Eu que agradeço o convite. Livros sempre fizeram parte da minha vida. Leitor voraz, as histórias eram meu meio de sossego e aquietamento em muitos momentos. E sempre digo que as histórias que lia transbordaram de mim e escorreram pelos dedos, criando vida. Já tive site literário, fui resenhista, cronista, agente literário e editor... Não consigo me manter afastado desse mercado, mesmo em meio à crise.

Foto: Facebook/Divulgação

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Foto: Facebook/Divulgação

ET: Qual o seu estilo literário e o que gosta de escrever? DB: Gosto de escrever histórias voltadas às mulheres, que são a maioria das leitoras no nosso país. Histórias que tragam sentido, as faça confrontar suas emoções, ideias e ideais, sentir. Já fiz thriller, horror, drama e erótico. Minhas últimas obras tem uma carga romântica e dramática muito forte, mas o sexo tem permeado os personagens, de alguma forma.

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ET: Como começou a escrever e o que te motivou a criar suas histórias? DB: Eu comecei a fazer cartas para os meninos em sala de aula, para as meninas também.

Poesias, bilhetes etc. Gostava de me alimentar daquelas histórias e dar uma ajuda naqueles finais felizes — curtos, mas intensos rs. A primeira história de verdade foi logo “Arma de Vingança”, que me trouxe tanta coisa boa. ET: Atualmente tem quantos livros publicados? Fale um pouco mais sobre eles. DB: Atualmente, tenho 10 livros publicados, variando entre os mais diversos gêneros. Em todos podemos encontrar mulheres fortes, nada submissas, dispostas a construir os próprios finais felizes. Já tenho algumas ideias para 2020. Espero que deem certo :)

ET: Como editor, você vê alguma dificuldade em publicar um livro no mercado literário brasileiro atualmente? DB: Sim, muita. O mercado ainda está engatinhando em comparação à grandes centros leitores, como EUA, por exemplo. Lá é evidenciada a cultura do próprio país, e o retorno é deles para eles, aumentando a demanda, diminuindo custos com traduções e incentivando a cultura. Não é o que acontece aqui. Muitas editoras, grandes grupos, vem desde os anos 80 incutindo na cabeça do leitor que aquilo que vem de fora é melhor... Tanto que nas livrarias são os estrangeiros que estão em destaque. Temos uma pequena


estante, geralmente sem destaque, em uma lateral ou fundo de loja. Acho que a partir do momento em que o país se fortalecer culturalmente e amadurecer, percebendo que tem muita coisa boa aqui, melhor que lá fora, e os públicos não são os mesmos, talvez isso tenha resultados melhores para nós. ET: Além de escrever, gosta de ler? Quais são seus autores e gêneros favoritos? DB: Amo ler. Leio o tempo todo. Nossa, tenho vários autores que amo. Ana Miranda, Heloisa Seixas, Walter Hugo Mãe, Stephen King, Martha Batalha, Machado de Assis, Paul Tremblay, Toni Morrison... Varia demais. ET: Como você vê o surgimento de novos autores no mercado editorial? DB: Bom e ruim. Temos muita coisa boa, mas muita gente ainda sem voz. Acho que o autor brasileiro precisa criar a própria identidade, ver o que fará com ele deixe uma marca no mercado. Seguir modas e tendências é bom? Claro. Dá dinheiro? Sim, sem dúvida. Mas fideliza público? Você quer ser conhecido por aquilo que escreve ou deseja ser apenas mais um livro lido? O que você tem certeza de que as pessoas vão encontrar assim que abrirem o seu lançamento? É isso que deve analisar.

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ET: Você participou da Bienal do Rio desse ano. Como foi a experiência e o que você pode falar sobre esse e outros eventos do gênero? DB: Bienais são sempre boas, mas esse ano foi cheia de emoções. Tivemos a censura do pre-

feito do Rio de Janeiro e uma união dos autores e certas editoras em busca de lutar contra isso. Infelizmente, vivemos tempos sombrios, onde a cultura não é boa e necessária aos poderes públicos, e resta a cada um de nós desistir. Essas mudanças de posicionamento que muitas vezes colocaram pessoas afins umas contra as outras são dolorosas, mas necessárias. Despem-se assim as máscaras, e as pessoas sabem por quem e com quem podem contar nesse momento de calma. ET: Nessa nova organização nacional, livrarias fechando, e-books ganhando espaço, como você vê a questão do mercado editorial? DB: Começando a andar. Afinal de contas, o mercado continua consumindo. O que está acabando é o antigo modelo de venda. Os nichos estão aí funcionando, por exemplo. Temos clubes de livros com 50 mil assinantes por mês, e pagando mais de 50,00 de um exemplar. Então é hora de ficar atento e abraçar os novos ventos. É trabalhar com segmentos, oferecer o melhor e fidelizar o público que deseja atingir. ET: O que você acredita que podemos esperar do mercado editorial no futuro? DB: A devida profissionalização, tanto da editora quanto do autor. Editora não faz favor publicando literatura nacional. Literatura nacional não é inferior. Editora não pode ser babá de autor, ela tem de cuidar do processo do livro e de todos os trâmites. E vemos muito disso, nas mais variadas escalas, por exemplo. Procurem

diferenciais, talentos, gente que escreva bem, com qualidade. Tem muita coisa nesse mercado, muitos talentos ainda desconhecidos. Fiquem que olho nos audiolivros, que a tendência é aumentar. Invista no autor e comece um “casamento saudável” com ele, fidelizando assim a ele e aos leitores. Isso são só algumas coisas em um campo gigantesco, que tem muitas coisas para acontecer. ET: Para encerrar. Deixe um conselho para os escritores que estão vindo agora. DB: Deixe esse orgulho de lado. Seja humilde. Sua história não é a melhor do mundo, e sempre encontrará pessoas que não gostarão. A soberba te derrubará tão rápido quando te faz subir. Não confie em todos, pois quanto mais degraus você sobe, mais amigos surgirão. Procure sempre dar o melhor de si em seu texto, coloque o seu coração nele. De nada adianta ter técnica primorosa e faltar alma. Ame seus leitores como parte sua, e seja grato a cada conquista sempre. Ajude outros autores sempre que puder, você nunca sabe quando a situação será contrária. Faça sua parte, independente do que os outros digam. Nunca pare, mesmo que o mundo te diga o contrário. Ao se sentir triste, escreva. Feliz? Também. Lembre-se que as pessoas podem te tirar tudo, menos a capacidade do seu coração de contar histórias e criar vidas. E se precisar, estou por aqui. Um beijo!

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EVENTOS por Marlon Souza

Como 2019 me mostrou a importância dos pequenos encontros

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Para quem não sabe, além de escritor e redator da Publiquei, sou produtor cultural e venho atuando desde 2015 produzindo e organizando eventos literários. Primeiro com o coletivo LiteraCaxias que completou 5 anos de existência, bem como também produzindo, mediando bate-papos e trabalhando como Social Media para editoras independentes.

Quando o LiteraCaxias surgiu nos surpreendemos com uma primeira edição lotada e as subsequentes seguiram o mesmo percentual de sucesso. E confesso que fiquei um pouco mal acostumado com o tamanho do evento. Qualquer número menor, para mim, se tornou um sinônimo de fracasso. Não importa que todos falassem que os eventos continu-

avam igualmente bons, com um público fiel, com convidados com cada vez mais prestigio. Eu queria mais, queria um evento cada vez maior. Queria ser tão grande quanto outras feiras e eventos. Queria algo que simplesmente não chegava. Então em dado momento me senti fracassado, em algumas ocasiões decidi que o melhor que poderia fazer era de-


sistir e focar exclusivamente em minha carreira como escritor, pois o trabalho e o tempo que eu precisava me dedicar para entregar um evento de qualidade era muito grande e sempre me sobrecarregava, pois eu não descansava enquanto não batesse metas que eu impus para mim mesmo. E isso acabou tirando muito do meu prazer em organizar tais eventos e no primeiro semestre havia decidido que não faria mais eventos. Cancelei os próximos que viriam e voltei a me dedicar a minha escrita. Eu tinha um livro para terminar, contos que queria escrever, outras histórias para contar. Foi no meio desse processo que decidi focar em minha escrita, que comecei o curso de narrativas curtas da FLUP. Estava interessado em aprender, trocar experiências, dividir com outros escritores o tesão pela escrita mais uma vez. Mas já no primeiro encontro a força invisível do LiteraCaxias me puxou mais uma vez. Ao me apresentar a minha turma da oficina, e falar rapidamente sobre meu trabalho com o LiteraCaxias, fui pego de surpresa quando alguns colegas escritores falaram sobre o evento. Ou que já tinham participado de uma ou outra edição. Ou que já ouviram falar do evento e estavam doidos para irem. Claro que sei que o nome do evento não é assim tão pequeno. Sei que a fama dele a cada edição tem crescido mais. Porém ainda me sentia em uma bolha. E ali naquela sala no MAR, percebi que o evento era muito importante para ser abandonado e o projeto esquecido.

Não podia fazer isso com Duque de Caxias, nem com a Baixada. Nem comigo mesmo. Não podia desistir desse projeto, nem da sua importância. Mas claro que deveria mudar. Sabia de todos os problemas, de todas as dificuldades em organizar o evento. De tudo que ele demandava. E sabia principalmente o que não era bom. O que precisava/precisa ser mudado. Como melhorar um projeto que muitos consideravam bom, mas que eu, como organizador, ainda achava longe do ideal. Foi então conversando com a Isabelle, outra organizadora que também sabia dos problemas e de todos os perrengues que passamos a cada edição, deu a brilhante ideia de fazer um evento exclusivo com mulheres. Até então a única mesa que tinha vindo a minha mente tinha sido com mulheres negras, sobretudo com a participação de Eliana Alves Cruz e Simone Ricco que tem falas poderosas e iriam contribuir muito para esta edição. Com essa ideia inicial, Isabelle veio com a proposta de fazer uma edição temática.

Edição esta, que foi recebida de bom grado e com muita expectativa seja pelos leitores, por outras escritoras, livrarias, todos, enfim. E ali fizemos uma edição brilhante e mudamos completamente o formato do evento. Depois desta edição percebi que não precisava de um grande público (apesar de que esta foi mais cheia do que as três últimas edições!), me mostrou que qualidade é muito melhor do que quantidade, me mostrou que podemos fazer um evento diverso, mesmo que com uma temática pré-estabelecida. E todos os outros encontros que pude participar nesses meses, todas as conversas alegres e cheias de conteúdo que me fizeram pensar durante semanas, todos os caminhos que trilhei para chegar a uma nova década bem mais consciente do que eu quero contar, dividir, e falar. Seja através dos meus livros, ou de tantas conversas com pessoas incríveis que ainda virão. 2020 será um grande ano.

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CONHEÇA SEM AMARRAS E APOIE MAIS UMA PUBLICAÇÃO DA NOSSA EQUIPE

SINOPSE: “Durante muito tempo, vivemos com medo de sermos nós mesmos. Escondidos dentro do armário, com nossas cores desbotando e se escondendo do ódio e do preconceito. Mas já é hora de dar um basta! Não vai ter armário que nos prenda nem opinião que nos diminua. Essa é uma antologia para celebrar nossas vozes e nossos direitos de sermos felizes. Nós existimos, somos livres e podemos viver SEM AMARRAS!” Sobre a Antologia: Todo ser humano nasceu para ser livre, para viver, para amar, para voar. “Sem amarras” é uma antologia sobre amor, cuidado, respeito e, acima de tudo, sobre ser quem se é e amar quem quiser. Sobre ser um arco-íris de cores e não ser obrigado a escolher apenas algumas. É sobre ser LGBT e se permitir sair de casa sem medo ou sobre um simples gesto como andar de mãos dadas com quem se ama. É sobre ser livre num mundo onde o preconceito e a falta de respeito insistem em existir. Que possamos viver sem amarras!

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