Fragmentos biográficos: Rosa Virgínia Mattos e Silva

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Porque fragmentária é também a história das línguas...

Rosa Virgínia Mattos e Silva


Sumário Palavras iniciais

9

Primeiro fragmento: de Salvador a Lisboa

11

Segundo fragmento: da infância...

25

Terceiro fragmento: da adolescência para os 37 estudos Quarto fragmento: Brasília... Quinto

fragmento:

conhecendo

51 Pedro

Agostinho e depois...

55

Sexto fragmento: homenagens e despedida...

65

Cronologia rabiscada

69

Principais trabalhos publicados

71


Palavras iniciais

Rosa Virgínia Barretto de Mattos Oliveira e Silva é uma daquelas personalidades em que os homens reconhecem de imediato a autoridade intelectual e lhe podem adivinhar, sem qualquer esforço, o sentido de poder. Poder de construir legados e de reanimar pensamentos. Poder de ir e de vir, quer na ideia, quer no espaço, quer no tempo. Parece ser este, aliás, o rotor maior de sua ação no mundo. Construiu um espólio em que a diacronia, ou melhor dizendo, a história tem seu melhor espectro. Falar da vida de alguém de dimensão tão profusa, em espaço tão restrito, não poderia ser, portanto, tarefa simples. Mas como os objetivos parecem sempre justificar os meios, o resultado desta ousada tentativa de homenagem, no sentido de registrar, por traços breves e tênues, alguns lampejos de uma existência, é − em face da imemorável medida com que se depara − um mero rabisco de algo que antecederia um esboço. A visão de totalidade não se constrói senão pela junção de algumas das partes mais evidentes, isto é, pela composição de alguns dos traços mais significativos; o mais completo registro de um ato de vida seria, per se, um erro de cálculo original. Por isso, não se pretende aqui apresentar uma biografia linear de Rosa Virgínia Mattos e Silva, mas antes oferecer, aos que possam por suas histórias se interessar, um panorama fragmentado de uma trajetória de vida, cuja narrativa emerge de sua própria vontade de resgatar, com a espontaneidade que lhe é peculiar, o que para si representam os mais vivos vestígios de sua memória.


Primeiro fragmento: de Salvador a Lisboa

No dia dez de janeiro de mil novecentos e sessenta e sete, partia de Salvador rumo a Lisboa o último "voo da amizade" da Varig. Sem a comodidade do serviço de alimentação a bordo, indisponível em função da tarifa especial acordada em prol do alegado estreitamento da relação entre brasileiros e portugueses (que ambas as ditaduras d'além e d'aquém-­‐mar diziam querer promover), tinha de fazer o avião uma escala técnica para o almoço na Ilha do Sal, em Cabo Verde, antes de chegar a seu destino, vinte horas depois. Rosa Virgínia, Pedro Agostinho, George Olavo e Oriana eram aguardados, com muita ansiedade, no saguão do Aeroporto da Portela, por Dona Bertha e por um amigo brasileiro que se encontrava por lá, Albertino, que se fazia acompanhar por sua mulher Ada Natal Rodrigues. Afinal, na última vez em que Pedro Agostinho tinha tido contato pessoal com sua mãe, era então um menino de oito anos de idade, já que após a separação dos pais, tinha optado por migrar para o Brasil, com Agostinho da Silva, sem nunca ter tido a oportunidade de retornar antes daquela data. Talvez pela emoção, senão pelos tropeços próprios à vida ou mesmo pelas variáveis regras do destino, Dona Berta havia de torcer o pé naquele momento de chegada, tendo de ser levada


até o táxi nos braços de Albertino. Pedro a acompanhou até a viatura, apoiado nas muletas que usava ainda com maior frequência àquela altura. Ao chegarem à casa de Gabeu, foram recebidos com saudade pela irmã, tia e cunhada, com uma inusitada e bem apreciada ceia. Rosa Virgínia encontrava-­‐se faminta e não se esforçou nem um pouco por disfarçar sua condição à mesa. Havia-­‐se concentrado durante todo o tempo da escala em Cabo Verde na frustrada tentativa de alimentar Oriana, que, resistente, comera apenas uma maçã até aquela etapa do voo. Ademais, quando o avião aterrou em Lisboa, Rosa Virgínia descobriu que sua filha mais velha, além de mal alimentada, devia ter dormido todo o resto do percurso, desde a Ilha do Sal, debaixo de seu assento, por onde teria escorregado, sem que ninguém percebesse. Um andar acima da casa de Maria Gabriela, ali, na zona de Sapadores, havia de arrendar, a uma mulher a dias, um quarto que lhe permitisse o pouso e o descanso necessários para enfrentar a jornada de estudos, que lhe tinha levado, juntamente com seu marido e filhos, a Portugal. O prédio da Rua Justiniano Padrel, situado perto da Igreja da Graça, seguia o mesmo padrão da arquitetura que se firmou durante o período salazarista. O ditador, que governava o país à sua chegada naquele ano de 67, haveria, entretanto, logo no ano seguinte, de literalmente cair da cadeira, no Estoril, e em decorrência das sequelas da queda, deixaria o poder a seu infeliz sucessor, Marcelo Caetano, que viria a testemunhar a ruína do sistema ditatorial português em 1974, com a revolução dos cravos. Durante toda sua estada, no entanto, Rosa Virgínia e Pedro tiveram muito pouca notícia dos acontecimentos políticos no Brasil. Desconheciam mesmo, antes de voltar para casa, que Arthur da Costa e Silva havia baixado vários atos institucionais, de


cuja série o AI 5 viria a representar, no final de 68, uma das mais violentas atitudes antidemocráticas de todo o período de terror militar no Brasil.

Rosa Virgínia e Pedro Agostinho em Lisboa

Aquela jovem mãe de 26 anos, pela primeira vez fora de seu País, teve de contar com os irrestritos apoios de sua sogra e de sua cunhada para poder assistir às aulas de linguística românica, literatura medieval e de introdução aos estudos linguísticos que eram ministradas pelo Professor Lindley Cintra, na Universidade de Lisboa. Apanhava ora o 17, ora o 25, para ir à Faculdade de Letras e, durante a jornada de 35 minutos, em média, do autocarro, tinha como leitura preferida textos sobre linguística. Mudaram-­‐se depois para um apartamento de quarto e sala um pouco mais amplo, nas mesmas redondezas. Na sala dormiam Dona Berta, Olavo e Oriana. Da janela podiam mesmo avistar o Castelo de Sesimbra, à distância. Quando aberta, Olavo


aproveitava o mínimo descuido dos olhares quase sempre argutos dos pais e despejava janela abaixo tudo o que encontrasse a seu alcance, tendo inclusive − certa feita − atirado ao longe o próprio vestido de sua avó. Durante os seminários para discussão do andamento dos trabalhos de pesquisa que Cintra promovia para seus orientandos, Rosa Virgínia conheceu seu novo colega de turma, Ivo Castro, que viria a se transformar em um de seus constantes aliados, durante toda a vida, em prol do conhecimento da história da língua portuguesa. Aliás, Luís Filipe Lindley Cintra, a quem Ivo Castro e outros viriam posteriormente a suceder na Universidade de Lisboa, foi um dos mais notáveis pesquisadores na área da Filologia Românica, que, conquanto respeitabilíssimo professor catedrático em uma sociedade deveras tradicional, era homem extremamente simples, segundo a ótica de alguns que tiveram a oportunidade de o conhecer. Rosa Virgínia participou de algumas das descontraídas excursões de estudos, algumas voltadas à prospecção dialetal, como a que empreenderam ao norte, entre Trás-­‐os-­‐Montes, Alto Douro e o Vale do Tua, quando teve a oportunidade de conhecer in loco o mirandês, cujos dados gravados serviriam para exercícios de transcrição. Em função de as gravações terem sido posteriormente perdidas, não chegou a realizar qualquer trabalho de natureza científica com essa língua minoritária, que, assim como o galego na Espanha, se achava relegada ao desaparecimento pelas pressões políticas de então.


Lindley Cintra (de suéter, à direita) com seus alunos em uma excursão a Conímbriga. Rosa Virgínia, de óculos

Em uma dessas visitas de estudo, duas personalidades populares a impressionaram a ponto de merecerem registro vivo em sua memória. Em Vilarinho de Sanmardam, teve a chance de conhecer uma velha mulher da comunidade local, que entoava, de memória, romances medievais. Paixão por um período da história que já havia conquistado aquela jovem estudante e que nunca a iria abandonar, a Idade Média portuguesa. Gravou parte da bela performance daquela senhora, mas os dados da fita, assim como a gravação do mirandês, se perderam. Na Beira Litoral, uma surpresa maior ainda. Talvez nunca tivesse tido a felicidade − se é que seja esse realmente o melhor termo − de escutar uma variedade tão extensa de palavrões e vocábulos chulos, atualizados na boca de uma mulher, que mercava, ali, os peixes trazidos por seu homem do mar. Era a variação linguística a toda prova do preconceito para os novos pesquisadores que se formavam sob a liderança de Cintra. Este, aliás, chegava, às vezes, a provocar situações inusitadas para os que o seguiam nas visitas,


como a de quando passaram pelo sítio arqueológico de Conímbriga. Pedro Agostinho, que logo se tinha tornado amigo de Cintra, também participava dessa excursão, mesmo porque tinha seus interesses de antropólogo e já se havia associado a Orlando Ribeiro desde sua chegada a Portugal. E foi a Pedro que Cintra pediu que identificasse para os outros presentes um pequeno rio que corria naquele vale. Pedro Agostinho, ao espantado, senão atônito, olhar dos colegas, ao encontrar a tabuleta de identificação, aportuguesou, inadvertidamente, Caralium pelo termo que, em português, viria a ter como étimo *caraculum. Cenas que, embora picantes, para aqueles que se arriscam a consultar um bom dicionário etimológico, terminam por fazer com que a juventude sempre acabe por fixar na memória. Fora esses passeios culturais, Rosa Virgínia passava parte do seu dia em uma sala na Avenida 5 de Outubro, no Centro de Estudos Filológicos, em Entrecampos, região próxima à Universidade. Nesse espaço cedido a ela por Lindley Cintra, se concentrava no refazimento da edição crítica dos Diálogos de São Gregório, cuja leitura preliminar tinha trazido quase pronta do Brasil, mas que, em razão da nova orientação de seu mestre português, Lindley Cintra, tivera de alterar todos os critérios. De lá apenas saía para merendar com alguma frequência em um pastelaria entre o Campo Grande e a Avenida Estados Unidos ou para ver os manuscritos alcobacenses originais na Biblioteca Nacional. Oriana ficava com Dona Berta e George Olavo brincava com seus primos, os filhos de Gabeu. Oriana já começava a adquirir o padrão linguístico europeu, embora não frequentasse a escola. Rebuçado e tina faziam parte de seu vocabulário, assim como havia de causar surpresa a Rosa Virgínia ouvir de sua filha a construção "Ô fulana, por


que estás a chorar?", que teria sido dita a uma miúda − "miúda", para se manter aqui a integridade histórica e coerência lexical −, enquanto brincavam. Os meninos eram a atenção de Rosa Virgínia e de Pedro aos sábados e domingos. Costumavam passear no Jardim de Santa Clara e às vezes iam à Feira da Ladra. Dali se via o convento de São Vicente de Fora, na Alfama, edificação que abrigava originalmente a imagem e as relíquias do padroeiro oficial de Lisboa, proclamado ainda no século XII, embora os alfacinhas certamente reconheçam em Santo António o atual preposto religioso. O mesmo se passa na Bahia, notadamente em Salvador, de onde Rosa Virgínia é natural. Embora o padroeiro oficial seja São Francisco Xavier, Senhor do Bonfim é, sem dúvida, para aqueles que creem na divindade, o santo de devoção. Às vezes, iam os quatro passear às Amoreiras ou ao Campo Pequeno, embora nunca tivessem assistido a uma tourada.

Rosa Virgínia e seu querido pai, em frente ao gradil da Igreja do Bonfim, em Salvador


Terminada a edição dos Diálogos, conheceu Rosa Virgínia Maria Helena Mira Mateus. Não obstante essa posição sintática de sujeito posposto, imprópria à sintaxe dura da língua portuguesa, em que não se distinguem duas pessoas, senão um possível nome próprio à moda da realeza portuguesa, o importante é que a partir daí formaram com outros colegas um grupo de estudo de Linguística e desenvolveram uma longa amizade, que até hoje perdura. Maria Helena introduziu, nessa altura, Rosa Virgínia ao pessoal do Centro de Cálculo Científico, da Fundação Calouste Gulbenkian. Toda semana, Rosa Virgínia levava as fichas mecanográficas perfuradas do que havia feito, para processamento dos itens lexicais patentes nos Diálogos de São Gregório. Conquanto tenha na maturidade se considerado uma "dinossaura tecnológica", como costumava dizer em sala de aula, por refutar qualquer contato com a parafernália cibernética moderna, teve em seu apropriado tempo, por assim dizer, a coragem, a visão e a disposição de enfrentar a inovação. Não havia nada mais moderno, até então, do que o que se praticava naquele centro, sobretudo no que se refere ao tratamento de dados lexicais. E para abusar de uma citação comum camoniana de sua predileção, "Mudam-­‐se os tempos, mudam-­‐se as vontades". Nesse período de idas ao Centro de Cálculo Científico da Gulbenkian, Pedro Agostinho foi internado em um Hospital, no Chiado, com uma grave crise de peritonite. Durante quarenta dias, fez companhia ao marido, mas sem descuidar de seu trabalho, pois não podia permitir interrupções tão longas. Dona Bertha David e Silva a substituía às tardes para que pudesse realizar suas pesquisas. Sem o apoio integral de sua sogra talvez não tivesse tido as condições necessárias para a conclusão de seu trabalho em Portugal. Não haveria de ser essa a única crise de saúde da família durante sua permanência em Lisboa. George Olavo, que praticamente convivia com os


filhos de Gabeu, tinha também sido acometido de uma otite profunda, resolvida após a médica que o atendera ter indicado "que se lhe picassem os ouvidos". Diferentes os termos, diferentes os métodos, as vezes o mesmo resultado de cura. Dos trabalhos voluntários que desenvolveu, talvez a viagem a Estremoz tenha sido um dos mais significativos na perspectiva de uma contribuição de viés social. Estimulada por Cintra que tinha interesse no trabalho desenvolvido por Paulo Freire no Brasil, Rosa Virgínia fez, juntamente com seu tutor, algumas experiências nesse município alentejano, já que conhecia as ideias e a metodologia empregada por aquele grande educador. A escolha da região tenha talvez se dado em função de ser ainda hoje o Alentejo uma das regiões mais pobres de Portugal, com maior índice de rejeição social, mormente linguística, pelos que vivem no eixo Porto/Lisboa, comparando-­‐se, de certa forma, ao que se observa no Brasil de como enxergam algumas pessoas da região Sul o Nordeste, especialmente o imaginário que constroem do povo que vive no interior. Depois de quase dois anos na Europa, retornaram ao Brasil, em outubro de 1968. Antes de embarcar no voo que os traria de volta a Recife, tiveram de ressarcir ao senhorio do apartamento pelos danos causados por George Olavo nos móveis da casa, cujas marcas de seus desenhos feitos a garfo haviam de se perpetuar como selo de sua passagem por ali. A chegada não haveria de ser sem alguma dificuldade com a alfândega. Cheios de papel, uma das "armas de resistência" mais temidas, pela ditadura brasileira e não menos perseguidas, tiveram que aguardar até que se certificassem os funcionários de que não haveria nada que ameaçasse o sistema naquelas tantas folhas marcadas com ideias. Ademais, Pedro Agostinho tinha perdido o atestado de vacina contra varíola.


Enquanto esperavam, deixaram os meninos soltos no aeroporto. Depois de algum tempo, Rosa Virgínia encontrou George Olavo, em um canto, brincando com uma barata viva como se fosse um carrinho. Afinal, ele nunca havia visto um inseto como aquele na vida. Sem expectativa de emprego, foi morar, com o marido e os filhos, por algum tempo na casa de seus pais, no Canela, na Rua Cláudio Manuel da Costa, no Edifício Patrícia. Até que em março de 69, convidados por Mariana Alvim, "fantástica figura do Partido Comunista", como a define Rosa Virgínia, mudaram-­‐se para sua casa em Brasília. Contemporânea de Luís Carlos Prestes e Olga Benário, filha de uns dos pioneiros da Radiologia no Brasil, Álvaro Freire de Vilalba Alvim, patrocinava bolsas de estudo, desde que retornara ao Brasil após o exílio, para os que se interessassem em colaborar com a fundação de um centro de estudos indígenas no país. Além de Pedro Agostinho e Rosa Virgínia, aderiram ao projeto Ordep e Olímpio Serra, Rafael Bastos e Maria de Lourdes Bandeira. O desconforto da dependência econômica acabaria, com o tempo, por inviabilizar a continuidade da ação. Mas Brasília guardava outras memórias mais antigas.


Segundo fragmento: da infância...

Numa rua que liga o relógio de São Pedro à Avenida Joana Angélica, em Salvador, conheceu Rosa Virgínia − pelo que se lembra mais vividamente dos seus quatro anos − a força das restrições sociais e o poder da maldade. Martinha, sua mãe, modista que era, zelava que estivesse sempre bem arrumada e vestida adequadamente; tarefa delegada a Olindina, que a executava com primor. Afinal, não haveria outra melhor estratégia de marketing do que a beleza pueril daquela filha temporã, com que o destino, no dia 27 de julho de 1940, presentearia aquele casal, dezoito anos depois de dois filhos varões criados.


Rosa Virgínia na sua primeira infância

E era naquela casa de número 24, da Rua 21 de abril, que costumava Martinha receber suas freguesas. Olindina pediu-­‐lhe, naquele dia quase igual a tantos outros, que cumprimentasse aquela "moça bonita" que acabara de chegar. Rosa Virgínia, num arrobo que viria caracterizar o seu comportamento em relação ao trato social, ao fitar o semblante daquela cliente que há pouco entrara, chamou-­‐a de "velha e feia". Depois disso percebeu, pelas consequências advindas de sua atitude, que "a verdade não poderia ser dita: não se podia ter livre expressão na vida". Na época do Natal, o seu aprendizado sobre a natura humana ganhou novos elementos para suas considerações quanto à vida em sociedade. Enquanto Dona Caçula − como era mais conhecida Dona Martinha Barretto de Mattos Oliveira, pelos amigos, − tirava, a uma freguesa, as medidas para um novo traje, pôde Rosa Virgínia assistir a uma demonstração de pura malvadeza. O menino, filho daquela mãe,


enquanto a esperava na sala de estar, começou a quebrar, inopinadamente, uma a uma, todas as bolas de aljôfar da árvore de Natal. Os frágeis frutos, cujas bolas metaforicamente representavam os dons de Cristo, haveriam de ser pulverizados diante do olhar atônito e da impotente perplexidade daquela menina. O chão coalhou-­‐ se, então, com os pedaços daquela madrepérola sintética, em consonância ao sentimento de raiva que lhe invadiu desordenadamente os sentidos. Não obstante essas contrariedades, era a vida com os pais sempre tranquila. Funcionário do Departamento de Portos, Rios e Canais, João de Mattos Oliveira, seu pai, prezava pela harmonia em casa. Ele e Dona Caçula propiciaram uma infância agradável e repleta de saudades. As mudanças de endereço foram frequentes. Antes da casa da 21 de Abril, haviam morado na Avenida Joana Angélica, 96 − onde nasceu pela mãos da parteira Noélia, a quem passou a conhecer como Mamãe Noélia por analogia a Papai Noel −, e depois na Rua da Mouraria, 06. Foi nesta última em que ganhou o primeiro relógio, trazido por Nenzinha, sua tia materna.


Rosa Virgínia entre seus pais, Martinha e Mattos

Naquele período de pós-­‐guerra mundial recente, a inesperada transferência de posto de trabalho de Seu Mattos se deu quando Rosa Virgínia tinha apenas seis anos. A lembrança de Flash, escondido, pela astuta Olindina, sob o beliche do vagão do trem em que iam, para burlar a fiscalização dos funcionários da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, permanece viva, almagamada à paisagem muda que vislumbrara naquele caminho até Aracaju. Bons tempos aqueles, os que precederam ao sucateamento planejado − por escusos interesses econômicos − das ferrovias brasileiras, se é que em algum momento da história o Brasil tenha realmente chegado a um alto patamar nesse tipo de serviço. Diferentemente do até então felizardo e bem-­‐cuidado cachorro da família que seguira no esconderijo, a mobília seguiu desacompanhada, em um trem cargueiro, para a casa que tinham alugado na Rua de Santa Luzia, naquela capital. Sergipe não era


um mundo novo, senão para a pequena Rosa Virgínia. As raízes de seus pais fincavam-­‐ se ali.

Rosa Virgínia, em seu 7º aniversário, na sala da casa de Santa Luzia, com sua mãe e as primas sergipanas, Ilma e Selene

Sua avó materna, Maria, nasceu em Riachuelo. Aliás, sua bisavó, Eugeniana de Menezes Melo, era tia de Josino Odorico de Menezes, que governou Sergipe, no inicio do século XX, entre 1902 a 1905. Padeira, responsável pelo toque do sino da Igreja, andava pelas ruas de Riachuelo sempre de botas, com uma capa sobre as costas. Diziam saber latim, Direito, além de tocar órgão.


Rosa Virgínia no colo de suas avós: Maria, à esquerda, e Esmeralda, à direita

Já seus avós paternos, Esmeralda Mafalda Mattos e Ludgero Oliveira, eram de Estância. De hábitos simples e ascendência humilde, deixaram dentre muitas histórias para o registro do imaginário familiar o dia em que resolveram selar, com esterco bovino, todas as frestas da casa em que moravam, inclusive portas e janelas, para proteger seus filhos de uma epidemia que assolava a região. Do inóspito evento, senão malcheiroso caso, salvaram-­‐se, felizmente, todos. A casa da Rua de Santa Luzia era bastante agradável. Estudou, durante sua permanência em Aracaju, no Educandário do Salvador, que também foi conhecido, em outras épocas, por Colégio do Salvador e Ginásio do Salvador.


Rosa Virgínia, no centro, com a professora Mariazinha e alguns colegas do Educandário do Salvador, em farda de gala, com identificação da foto de próprio punho

Sua carreira nas letras, iniciada na Alfabetização no Colégio de Dona Anfrísia Santiago, em Salvador, perto da Ladeira da Fonte Nova, continuava nesse novo momento distante de sua terra natal, mas desde sempre com o desafio de, na consciência infantil que ainda se formava e mal saberia expressar seus desejos, ter como meta o melhor de si em dedicação e em aproveitamento. Seu pai sempre a incentivou a ultrapassar seus próprios limites. O investimento em matriculá-­‐la nos


melhores colégios particulares onde quer que morassem era prova disso. Ela, por seu turno, correspondia àquele interesse, sendo sempre uma das primeiras da turma, haja vista essa condição depender da avaliação externa, que, como se sabe, não é nem pode ser idêntica. Lembra, com saudade, do caminho que percorria diariamente a pé com seu pai até o Educandário, que se situava no Centro da Cidade. Haveria, ainda por esse tempo, de perder seu cachorro Flash, que, já cego, veio a ser atropelado pela carrocinha que costumava fazer a entrega do leite. Diga-­‐se que Flash era mesmo Fl[a]sh e não, como a erudição linguística de alguns pode pensar, Fl[]sh.

Rosa Virgínia e Flash, na casa da Rua Itabaianinha, em Aracaju

Em 1948, tiveram de retornar para Salvador, por mais uma transferência de posto de trabalho. Foram residir na Rua Quitandinha do Capim, nos Perdões.


Matriculou-­‐lhe ali perto, no Colégio Oito de Dezembro, que ficava na Rua Direita de Santo Antônio, no centro histórico. A morte, que só conhecia de perto pela trágica e recente perda de Flash, viria a se apresentar novamente àquela menina de forma mais intensa. A querida Vó Maria, de belos cabelos alvos, que ainda morava em casa com seus pais, foi a primeira das muitas pessoas de seu íntimo círculo de vida de quem começaria a se despedir definitivamente. O retorno a Salvador seria, entretanto, muito breve. Seu João de Mattos é novamente requisitado em Aracaju. Dessa vez, foram morar na Rua Itabaianinha. Foi lá que Rosa Virgínia ganhou sua primeira bicicleta, uma Monark vermelha. Havia de ser esta, aliás, a primeira e a última e, provavelmente, o pivô de sua relação futura com as máquinas e equipamentos, em geral. O presente tinha sido propiciado por seu irmão Fernando que, na verdade, a ajudou, com parte do dinheiro, a completar o Álbum das Balas Seleções, verdadeira mania nacional naquele tempo, que prometia prêmios bastante aliciantes para seus colecionadores.


A família unida para a foto de Bodas de Prata dos pais. Seu irmão Fernando à esquerda e Walter do lado oposto

Animada com seu novo brinquedo, foi, com as primas, passar um domingo no parque. A pouca habilidade ainda não plenamente desenvolvida faria com que caísse no chão de piçarra da praça e se machucasse. A partir daquele dia, haveria Seu Mattos de proibi-­‐la de subir novamente naquela bicicleta. A paixão do pai pela filha temporã sempre foi imensa e se pode resgatar isso com vigor indelével através de sua memória. Rosa Virgínia foi criada, com atenção integral, numa verdadeira redoma de proteção. O simbolismo dessa relação de amor e de cuidado extremos se manifesta com clareza em um de seus sonhos mais significativos, em que sempre se vê, não como uma menina, mas como um passarinho numa gaiola de vidro que se encontra sobre o piano da sala. Seu pai é aquele que a vem alimentar. Não saberia Rosa Virgínia explicar como conseguiu se transformar na pessoa independente que veio a ser.


Rosa Virgínia, ao piano, observada por sua professora Lia Hausmann, em segundo plano.

De volta à escola, em sua turma no Colégio do Salvador, em Aracaju, teve entre os muitos colegas um menino bastante tímido que, muitos anos depois, viria a se tornar, por dois mandatos consecutivos, Governador do Estado de Sergipe, e a se transformar em um dos mais influentes políticos daquele estado: Albano Franco. Nunca mais haveriam de se cruzar em suas trajetórias, na vida.


Rosa Virgínia, fardada, em frente à casa da Rua Itabaianinha


Terceiro fragmento: da adolescência para os estudos... Quando deixaram Aracaju, logo depois dessa mais ou menos breve transferência, vieram morar na Rua Democrata, 19, perto do Largo Dois de Julho. Dona Caçula queria que a filha frequentasse, então, o Colégio das Mercês, na Avenida Sete de Setembro (quase em frente a outro futuro lugar reservado pelo destino seu: o apartamento, em que viria, curiosamente, a morar muitos anos depois, já casada e com todos os quatro filhos, no Edifício Maroim). Ao chegarem para a primeira entrevista naquele colégio de verve explicitamente cristã, a Madre Superiora logo lhes perguntou de que família provinham. Dona Martinha, indomável que era, disse-­‐lhe, diante de tal inconcebível pergunta, que sua filha não precisava de nome de família, senão de sua própria capacidade, já que sempre fora bastante estudiosa. Retirou-­‐se com a filha, deixando, provavelmente atrás de si, a larga sombra de sua indignação. Prestou, então, Rosa Virgínia o exame de admissão para o Ginásio no Instituto Feminino, no Politeama, de que fez parte durante todo o ciclo escolar e até onde seu pai a acompanhava, a pé, todos os dias, como soía fazer desde a infância em Aracaju. A distância da casa da Rua Democrata até o Instituto era de apenas alguns minutos de caminhada. Aliás aquela casa, senão pela localização e facilidades de locomoção, já começava a se constituir em um problema para a família. O mau-­‐cheiro constante que


exalava através dos telhados fez com que Seu Mattos a apelidasse de a "Latrina da Democrata", que nada de democrática tinha até então de ser. Vizinhas de uma pensão sem banheiros conjugados, acolhiam, diariamente, as telhas da casa diversos "pombos" que, embora sem dispor da leveza e das asas das inocentes aves que lhe emprestaram o nome, voavam a longa distância e com precisão ao alvo, envoltos em papel de diferente origem, quiçá mesmo "da seda azul do papel que envolve a maçã", como diria Caetano Veloso, pela força braçal e cegueira cívica de seus produtores. Isso fez com que procurassem outro lugar para viver. A casa escolhida havia de ser na mesma rua, talvez um pouco mais democrática ou em maior consonância ao nome, a de número 6.


Rosa Virgínia, com o pai, no Clube Fantoches da Euterpe, que ficava em frente à casa da Democrata, 19

Enquanto se aplicava aos estudos, passava-­‐lhe, vez por outra pela mente, a ideia que lhe fora sempre incutida pela mãe, a de vir um dia a ser freira do Bom Pastor. Sempre que se falava no assunto, deixava-­‐o ficar assim, ao sabor dos comentários, já que isso evitava que lhe perguntassem sobre um alegado namorado que àquela altura seria mais do que provável, ou quiçá temido por seus pais. Um certo dia, porém, a


Provincial da Ordem, em visita ao Brasil, a mandou chamar na nova sede, construída adjacentemente à Rua Waldemar Falcão, em Brotas. Aquela Freira da congregação francesa, fundada, em 1796, por Rose Virginie, depois conhecida como Maria de Santa Eufrásia, em prol da recuperação de jovens desamparadas, inclusive de prostitutas, manifestou na entrevista seu interesse intempestivo de a levar consigo para Angers, na França. Foi com alívio, depois do susto, que Rosa Virgínia, no seu herdado e santificado nome transmutado em português, desceu do carro de praça que a tinha levado até Brotas com sua mãe, com o sentimento resolvido de que não queria, definitivamente, ser freira. A fé viria a ser para ela algo que deveria ser simplesmente aceitado, sem possibilidade de especulação. Aliás, é essa a máxima da crença religiosa, crer, apenas crer. Nunca viu validade em questionar se há ou não alguma coisa como a vida além da morte; sempre lhe bastou a crença, rezando todos os dias, na hora de dormir e na hora de levantar, uma oração simples, ensinada pela mãe. Depois do Instituto Feminino foi fazer o chamado colegial no Colégio Aplicação, na Avenida Joana Angélica, no mesmo prédio em que funcionava a Faculdade de Filosofia em Nazaré, onde viria, em mais alguns anos, a estagiar para concluir seu curso de Graduação. Lembra bem ainda das aulas de Matemática, talvez mais ainda de Zulmira, professora muito grosseira, ainda mais do que os secos e exatos números que procurava ensinar. Chegou ao Colégio Aplicação por intermédio de Amílcar Salgueiro de Freitas que a apresentou a Isaías Alves, como excelente aluna. As melhores lembranças são as dos bons professores que teve, dentre eles Leda Jesuíno, com História da Filosofia, que, ao ler um trabalho produzido por Rosa Virgínia para sua avaliação na disciplina, o considerou, já àquela altura, magistral. Ou das lições de Luís


Henrique Dias Tavares, em História do Brasil, Teresa Cardoso, da equipe de Milton Santos, nas aulas de Geografia, e Manuel Barros, com História Geral. As Ciências Humanas, sobretudo a História, não mais abandonariam seu interesse. Luís Henrique Dias Tavares viria − quase cinquenta anos depois − a participar da Banca Examinadora que lhe outorgaria o título de Professora Titular de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia, em 1999, com nota máxima de todos os membros e com performance exuberante, como poderiam testemunhar todos os que tiveram a sorte de lhe assistir, passando, então, a ocupar o lugar de seu saudoso mestre, o Catedrático Nelson Rossi. Fez o vestibular em 1958. Havia provas orais e escritas. Língua Portuguesa, Inglês e Latim eram as principais. Ninguém menos do que o Professor Nelson Rossi haveria de participar da Banca. É a história contada de trás-­‐pra-­‐frente ou mesmo de viés rompido. Na seleção, ocuparia a terceira colocação de Anglo-­‐germânicas para ingresso no Curso de Letras. O primeiro lugar havia sido conquistado por Raquel Fischman; o segundo, por Celeste Aída Galeão, com quem comungava a amizade e dividia o apuro e o hábito pelos estudos. Boa colega, teve a oportunidade de compartilhar com ela da primeira viagem que realizou sem a companhia de seus pais. Foram as duas, em 1960, então com seus vinte anos, para São Paulo, para um curso de um mês de alemão no Instituto Hans Staden, nas imediações da Consolação. Por arranjos prévios do Instituto, ficaram hospedadas na luxuosa casa de "Herr" Stickel, na Rua dos Franceses, sob os cuidados de uma Fräulein, de quem nunca deve sequer, durante o mês de permanência, ter ouvido o nome. Era simplesmente Fräulein. Pela primeira vez se viu obrigada a melhorar sua etiqueta à mesa, em função da parafernália de talheres e taças que se lhe apresentava nas refeições. Eram copos de todos os tamanhos,


formatos e funções. Até a faca, que costumava usar em casa apenas para cortar os alimentos com a mão esquerda, passaria, pela imposição do cenário elegante, a fazer par indissociável com o garfo no jogo de troca de mãos. Para além da formalidade à mesa, ficou-­‐lhe na memória o sabor peculiar do sagu com calda de vinho que lhe foi servido em um desses dias, após o jantar. Antes de voltarem para Salvador, fez o dono da casa questão de as conhecer pessoalmente. Herr Stickel interrompeu alguns dias de suas férias em Campos do Jordão e retornou a São Paulo com esse propósito específico. Descobriu, pelas conversa que empreenderam, o interesse de Rosa Virgínia por textos antigos, tendo chegado a lhe apresentar alguns manuscritos que integravam sua coleção particular. Não sabia Rosa Virgínia que o casal formado por Érico João Siriúba Stickel e Martha Diederichsen Stickel dedicava-­‐se, desde 1954, ao trabalho de assistência de famílias carentes, com tuberculose, na cidade de Campos do Jordão, tendo depois estendido suas ações à cidade de São Paulo. Longe da filha, na Bahia, Dona Martinha, que, pelo que se pode lembrar Rosa Virgínia, nunca antes havia adoecido, chegou a contrair uma forte pneumonia, provavelmente reforçada pelo espectro de atuação da saudade. Do pai, nem pôde imaginar a dimensão do que sentira. Depois de formada, começou a ensinar na Universidade Católica do Salvador. O que ganhava dava apenas para pagar o táxi, meio de transporte que adotaria indefinidamente como seu necessariamente preferido, em função das circunstâncias, já que nunca aprendera a conduzir um veículo motorizado. O prazer pelo ensino compensava o esforço, mas em certa medida se sentia retraída por reconhecer a carência de formação de seus alunos, que sequer conseguiam ler alguns pequenos trechos de textos em francês que sugeria.


Formatura. Rosa Virgínia é a quinta da última fila, da direita para a esquerda. Do seu lado esquerdo, Raquel Fischman, Maria Helena Duarte Guimarães e Celeste Aída Galeão. Jacyra Mota, sua colega no Ilufba, é a quarta da esquerda para a direita, na segunda fila abaixo da de Rosa Virgínia

Rosa Virgínia viria a defender sua tese de doutoramento na USP, em 1971, que finalizou no Brasil, depois de ter tido orientação do Professor Lindley Cintra, como antes visto. De posse do título, inscreveu-­‐se no concurso para a cadeira de Literatura Portuguesa, na Universidade Federal da Bahia. A banca, composta por cinco membros, entre eles Cláudio Veiga, Suzana Alice Marcelino da Silva Cardoso, Maria Luísa Guimarães, Hélio Simões (naquela altura Chefe do Departamento de Letras Vernáculas) e um padre português, de que não se recordava o nome, mas cujos organizadíssimos arquivos da Professora Suzana Alice permitiram recuperar. Tratava-­‐ se de Amadeu Feliciano, frei que se encontrava no Convento de São Francisco da


Bahia. Coube a Cláudio Veiga a Presidência e a Suzana Alice Cardoso, a função de Secretária. Realizou Rosa Virgínia sua inscrição no Departamento de Letras Vernáculas, em Nazaré. E aí, o choque inicial da infância, sobre o qual a memória até hoje resvala os estilhaços das bolas de aljôfar que caíram sob a árvore de Natal de sua sala de estar, se reinsinuou através das palavras do Professor Hélio Simões, que ao dar ciência de seu intento de se candidatar à vaga aberta, chamou-­‐a à parte e lhe disse, na mais resguardada postura verba volant − conforme contou Rosa Virgínia, não certamente nessas mesmas palavras ou na construção morfossintática sugerida, em razão da óbvia distância temporal que separa esse evento deste momento − que o concurso era para sua filha, mas que depois haveria outras oportunidades das quais poderia Rosa Virgínia participar. Diferentemente de sua reação de perplexidade pueril diante daquele menino de sua infância, filho daquela mesma mãe, cliente de Dona Caçula, seu poder de resposta, conquistado na construção da índole adulta de leonina, retrucou que iria fazer o concurso "de qualquer jeito", independentemente daquele incauto alerta. Era um certame de títulos apenas. Reuniu os seus: Doutorado, Mestrado e Especialização, além da Graduação na Ufba, e vários trabalhos publicados. A Banca Examinadora instituiu um barema e fez a contagem de pontos, Rosa Virgínia obteve 1,26 pontos acima da segunda melhor candidata, Isa Maria Simões, ou seja, para esta a média seria de 9,09 e, para Rosa Virgínia (candidata número 2), 10,35. A terceira candidata, de mesmos prenomes desta, teria auferido a média de 4,25. Não obstante esse resultado, a Comissão exarou um relatório final, em que Rosa Virgínia teria alcançado apenas 8,91 e Isa Simões, 9,09. Isso fez com que a Professora Suzana Alice Cardoso apresentasse "voto em separado", o que permitiu a instrução de um recurso


impetrado por Rosa Virgínia, que se arrastou por mais ou menos dois anos. A recorrência desse tipo de atitude, ainda hoje percebida em concursos, prenunciava causar grande prejuízo como, de certa forma, causou à área da Literatura Portuguesa, em contraste explícito com a elegância textual e o respeito pelas três concorrentes de um "voto em separado", registrado por uma jovem professora, que buscava resguardar a equidade naquele enfrentamento, justifica, aqui, a reprodução, talvez extemporânea ou imprópria para o julgamento de alguns, de sua avaliação das três candidatas: "(1) ... a candidata inscrita sob o nº 1 pela qualificação científica, pelo rigor no trabalho que pude comprovar quando a tive por aluna, pelo esforço de aperfeiçoamento científico, apresenta qualificação satisfatória e suficiente para desempenhar a função de Auxiliar de Ensino; (2) ... a candidata inscrita sob nº 2 [Rosa Virgínia Mattos e Silva] pelas qualidades científicas documentadas, pelo dinamismo de trabalho que se comprova com o esforço constante de aperfeiçoamento em nível superior e pela produção crescente, está em condições não apenas de exercer a função de Auxiliar de Ensino, mas de situar-­‐se desde já em níveis mais altos da carreira universitária, para as quais possui credenciais acadêmicas reconhecidas pelos textos regimentais; e (3) ... a candidata inscrita sob o nº 3 tendo apenas um ano e meio de graduada e com a documentação que apresenta poderia, em caráter probatório como reza o Regimento Geral desta Universidade (cf. Art. 181), ser admitida para a função de Auxiliar de Ensino, oportunidade que teria para definir-­‐se profissionalmente no magistério superior". Não obstante o verba volant, alguma scripta sempre manent. A Linguística Histórica, por seu turno, teria a agradecer à injustiça às circunstâncias que redirecionaram seu destino.


Nesse ínterim foi aberto outro concurso, nos inícios de 1973, para contratação de novos professores para os cursos de recuperação em Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia. Foi Rosa Virgínia a primeira classificada, dessa feita. Myrian Barbosa ficou em 2º, Maria da Conceição Brandão Hackler, em 3°, e Maria das Graças Pamponet, na 4ª colocação. No segundo semestre, já dava aulas no currículo normal, ministrando, a convite do Catedrático Nelson Rossi, a disciplina A língua portuguesa no Brasil, ainda hoje integrante da grade curricular de Letras, além das do curso de recuperação para que havia sido contratada. Foi, segundo a avaliação que faz sua memória, "uma turma fantástica", a última do antigo currículo anual. Teve alunas como Cleise Mendes, Emília Helena Portella, Vanda Bastos, Dulce Mascarenhas. A partir dessa época passaram as professoras de Língua Portuguesa a ser conhecidas, pelos estudantes, como as "viúvas de Mattoso", já que eram as obras de Joaquim Mattoso Câmara Júnior leitura obrigatória para todos os que ingressavam nos cursos que ministravam naquela época. Hoje, nem todos os alunos de Letras leem Mattoso ou sequer têm conhecimento de seu legado. Tempos idos. Em 1976, passou a ensinar, no Curso de Mestrado em Letras, a disciplina Diacronia da língua portuguesa. Organizada a partir dos catedráticos, a Pós-­‐Graduação stricto sensu de Letras tinha como principais responsáveis, o Professor Nelson Rossi, por Língua Portuguesa, a Professora Joselice de Macedo, por Linguística, a Professora Judith Grossmann, por Literatura. Interessou-­‐se Rosa Virgínia cada vez mais pelas teorias da mudança linguística e, nesse período, elabora um artigo que viria a ser publicado no Boletim de Filologia, em Portugal, intitulado Mudança linguística: uma


revisão, significativo para si e hoje ainda de leitura obrigatória para os que trabalham com a Linguística Histórica.


Quarto fragmento: Brasília...

Brasília. A cidade que, sem ainda ser, passou, para muitos, o sonho do Eldorado brasileiro; a ainda seca solidão do cerrado que se transformava a cada dia na "alvorada" de concreto e modernidade de Juscelino Kubitschek. Março de 63. Rosa Virgínia, Dinah Callou, Júlia Conceição e Nadja Andrade são escolhidas, por Nelson Rossi, entre os melhores alunos da Ufba, para participar da primeira turma de baianos que iria aprender Linguística no Planalto Central, desde que essa matéria passara a integrar, tardiamente e por força de lei, os curricula dos cursos de Letras do País. Dividiram as amigas, inicialmente, um apartamento, mas, por força de seu casamento, foi Rosa Virgínia − não antes de passar um mês em lua de mel, nas cidades históricas de Minas Gerais −, morar na Oca, no Campus da Universidade, com Pedro Agostinho. A Oca, nome romântico de inspiração desavisadamente indígena, sugestivamente tupi para aqueles que veem o étimo ao pé da letra, era, na verdade, uma referência à empresa responsável por sua construção. Eram dois pavilhões de madeira que serviam de alojamento aos recém-­‐chegados para a ereção intelectual, por assim dizer, de Brasília. Não obstante, era a Oca também pousada dos não menos "inteligentes", pelo menos sabidos, ratos do cerrado. Depois de algum tempo de medo dos frequente visitantes roedores, com o anúncio da primeira gravidez de Rosa Virgínia, aquela "barriga" que traria ao mundo sua filha Oriana, foram Pedro Agostinho e seu amigo Ordep Serra, num sábado, à caça de um desses simpáticos roomates roedores. De posse de uma garrafa de leite, de boca larga, tão icônica e saudosa para a geração dos


anos 60, prenderam um exemplar e o levaram para o Coordenador de Habitação do Campus, função, àquela altura, assumida pelo hoje ilustríssimo Professor Aryon Rodrigues, no intuito de comprovar a insalubridade daquela moradia para um bebê prestes a nascer. O respeitado professor, um dos fundadores e primeiro presidente efetivo da Associação Brasileira de Linguística, a ABRALIN, ao encarar o rato, disse que no apartamento em que morava nunca havia visto um daquela espécie. Também não se pôde precisar se havia visto algum de outra. Em pouco tempo, estariam Pedro Agostinho, Rosa Virgínia e Oriana morando em uma casinha de madeira, com dois quartos pequenos, de sala espaçosa, bom banheiro, cozinha e aposentos de empregada. Era a força da ação e do protesto criando efeitos práticos. A cozinheira era mineira, e, para não fugir à regra, chamava-­‐se Rosa. Havia ainda uma babá para Oriana, já que Rosa Virgínia trabalhava o dia inteiro com a elaboração de sua dissertação de Mestrado, que se concentrava na leitura do livro segundo dos Diálogos de São Gregório, relativo à vida de São Bento, sobre o mais antigo conjunto de textos medievais existente no Brasil, conhecido como Manuscritos Serafim da Silva Neto, que integra ainda um Flos Sanctorum e o Livro das Aves. Moravam, ainda, na mesma casa, os meios-­‐irmãos de Pedro Agostinho, Marcos Felipe e Jorge Tadeu, filhos de Judith Cortesão e de Agostinho da Silva, que haviam chegado do Rio. Até que, em dezembro de 1965, concluiu sua dissertação, ficando ainda seis meses no Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, com a tarefa de prosseguir a leitura dos outros livros dos Diálogos, que viria a se constituir na base de sua tese de Doutoramento. Conseguiu uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian,


com duração de seis meses no Brasil, mas com o compromisso de ir depois para Portugal. No início de 66 voltou a Salvador, já grávida de George Olavo, que viria a nascer no dia 3 de julho daquele ano. Ficou hospedada na casa dos pais, que residiam naquela época no Jardim de Nazaré, no edifício de mesmo nome. Os dois irmãos de Pedro Agostinho passaram, também, a morar na casa dos pais de Rosa Virgínia.


Quinto

fragmento:

conhecendo

Pedro Agostinho e depois... A JUC, Juventude Universitária Católica, foi uma das bases de formação da UNE, União Nacional dos Estudantes. Participou Rosa Virgínia daquele grupo de ação política, com bastante intensidade, durante o seu curso de Graduação, numa dinâmica de preocupação social, em prol do coletivo, que a iria acompanhar até as vésperas de sua aposentadoria na Ufba, quando teve a oportunidade de lutar contra os desmandos de uma gestão que passou a ser rejeitada pela comunidade, mas que a administração central insistia em defender. No intervalo entre a política estudantil e seus estudos, avistou, naqueles anos de 1961, numa sala e aula, uma figura masculina de barba preta que a impressionou bastante. Descobriu seu nome e foi conferir, nos quadros de notas, que ficavam expostas a todos os alunos e à observação pública, que aquele homem só tirava dez. Barba preta e dez haveriam de ser uma fórmula infalível de conquista e sedução. Consoante ao bom tom da época, só pegaram na mão um ano depois, em 1962, quando foram receber o pagamento por um curso de verão para estrangeiros africanos, da primeira turma do CEAO, Centro de Estudos Afro-­‐Orientais, de que Rosa Virgínia tinha participado como professora. Ali no Campo Grande, sentados num dos bancos daquela conhecida praça, ele lhe disse: "Gosto muito de ti, sabes?". Simples,


embora esperada, e desconcertante resposta: "Eu também". É claro que certas intimidades devem sempre restar na imaginação dos curiosos.

Rosa Virgínia na extrema direita e, na sequência à esquerda, Vera Rollemberg, Nelson Rossi, Waldir Oliveira, Dinah Callou, Carlota Ferreira e Nadja Andrade. Atrás, os primeiros alunos do CEAO, Centro de Estudos Afro-­‐Orientais, fundado por Agostinho da Silva

Em 1962, teve Pedro Agostinho de ir ao Rio para mais uma cirurgia. Desde que tinha se acidentado em Florianópolis, na adolescência, quando quase perde a perna esquerda, vivia se submetendo a intervenções cirúrgicas corretivas. Ficara hospedado na casa de Murilo Mendes, que viria a ser adido cultural do Brasil em Roma. Rosa Virgínia, que havia ido a Brasília com o Professor Nelson Rossi, Dinah Callou e Ívia Duarte, ao retornar para Salvador, aproveitou para fazer uma escala no Rio para visitá-­‐ lo. Encontrou-­‐o com a perna toda engessada e sem poder se locomover. A partir daí foram muitas cartas de amor, cujos teores continuam guardados no silêncio escuro de alguma gaveta da casa, e que, com certeza, passarão a cada dia a ser espreitados pelas


retinas ávidas por corpora dos seus discípulos da Linguística Histórica, que ajudou a treinar.

Rosa Virgínia, do lado de Ívia Duarte, a primeira no alto à esquerda, e seus colegas do curso de piano ministrado por Lia Hausmann, na sua adolescência

Em dezembro de 1962, Pedro Agostinho, de volta a Salvador, pediu, no dia de Natal, sua mão em casamento. Não se sabe ao certo o que teria pensado Seu Mattos, aquele amoroso pai, naquele momento, mas o certo é que em 31 de dezembro de 1963, entrariam os dois pela nave da Capela do Convento da Lapa para confirmar esse compromisso de amor, cuja cerimônia foi celebrada pelo Padre José Luís Borges. Aliás, pareceram escolher as datas mais icônicas para o demonstrar. Viajaram em lua de mel para o Rio de Janeiro, tendo passado a noite de núpcias no Hotel Paissandu. Mesmo com toda a euforia do momento, arranjaram algum tempo para "visitar" os Manuscritos Serafim da Silva Neto, na Tijuca, na casa da viúva, Dona Cremilda, que os


conservava em uma pasta de papelão em seu guarda-­‐roupa. Daí, passaram um mês visitando as cidades históricas mineiras. Viveram nesse período algumas aventuras, sobretudo quando alugaram um carro que, depois de atolar na estrada de pura lama, teve de ser carregado por quatro fortes homens como em um milagre para si, já que não gosta de nada que possa ficar embaixo da terra.

O registro fotográfico da cerimônia civil de casamento de Rosa Virgínia e Pedro Agostinho

Construíram os dois, com o tempo, duas carreiras sólidas. Ele na Antropologia, com uma vida dedicada aos índios, mas sem desprezar sua paixão pela náutica e pela etimologia, ela, com a construção de uma reflexão sobre a história da língua portuguesa, desde o período arcaico, sua maior paixão, até o português brasileiro, erigindo um legado bibliográfico dos mais significativos sobre o tema, pelo que chegou ao cargo de Professor Titular, em substituição, mutatis mutandis, a seu grande mestre


Nelson Rossi, e a pesquisador I-­‐A, mais alto nível que pode alcançar um cientista brasileiro, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico − CNPq. Nas férias de verão, a Vila Rosa (que para os desavisados está, hoje e já há algum tempo, pintada de azul), que se situa na cidade de Mar Grande, Município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, na Bahia, sempre foi o repouso necessário para recompor as energias e viver a família.

Rosa Virgínia e Pedro Agostinho com sua descendência, filhos e netos, em frente à Vila Rosa

Esse romance que perdura há quase meio século, depois dos filhos da década de 1960, Oriana e George Olavo, gerou mais dois amadíssimos filhos, João Rodrigo, em 1974, e Lianor, preferencialmente Lia, em 1978, em homenagem à figura de Leonoreta, do Amadis de Gaula, em conjunção à grafia que imprime Camões ao se referir em sua canção a Dona Leonor Teles; João, por causa de seu pai, João de


Mattos, e Rodrigo, em memória ao guerreiro hispânico do século XI, conhecido como El Cid, mas cujo nome teria sido Rodrigo Díaz de Vivar. Rosa Virgínia e Pedro Agostinho, além das constantes e tranquilas travessias entre Mar Grande e Salvador − nem sempre tão calmas assim no inverno baiano −, viveram uma história de companheirismo e interesse mútuo. Foi assim, por exemplo, quando resolveram estudar, cada um a partir de sua ótica científica, os índios kamayurá(s), do tronco linguístico tupi, na região do Alto Xingu brasileiro. Em julho de 1969, embrenharam-­‐se pela floresta da lagoa Ipavu, para conhecer um pouco sobre a vida de 119 indivíduos que viviam na aldeia. As histórias que registraram e os dados que coletaram renderam diversos estudos sobre a aquisição da língua portuguesa por essa comunidade. Dentre as muitas histórias que têm para contar sobre sua presença naquela aldeia destaca-­‐se o momento em que tiveram de se alimentar exclusivamente de goiabada em lata, à noite, escondidos dos índios, que, como se sabe, adoram tudo que é doce, já que o avião da Força Aérea Brasileira − FAB, não havia, conforme previsto, entregue a provisão com que deveriam contar para sua estada na comunidade. Depois de alguns dias, passaram a comer um pouco do peixe pescado pelos solidários anfitriões. Sempre mantiveram os dois o hábito de "embrenhamento" em assuntos da sociedade, nem sempre indígenas, mas certamente motivado por interesse antropológico e linguístico e, não menos, por responsabilidade social e pela paixão pelo histórico e cultural. Entre 1979 e 1981, foi Rosa Virgínia com a família para o Rio de Janeiro, para realizar sua Pesquisa de Pós-­‐Doutoramento, sob a supervisão do eminente Professor Celso Cunha, na Ufrj. Esse trabalho viria a se transformar em um das mais importantes referências bibliográficas sobre o português arcaico, nomeadamente por aplicar um


modelo de análise estruturalista a dados históricos. O livro Estruturas trecentistas: elementos para uma gramática do português arcaico, fruto desse trabalho, rendeu-­‐lhe o Prêmio Pesquisador do Ano Ufba/Fapex, em 1990. Enquanto fazia suas investigações científicas, seus quatro filhos readaptavam seu dia-­‐a-­‐dia à dinâmica da capital carioca. Foram estudar no Colégio Franco-­‐Brasileiro, instituição tradicional, fundada no Catete, em 1915, mas que desde 1922 funcionava na Rua das Laranjeiras, perto do Largo Machado de Assis. João Rodrigo, rebelde que era, indiferente à tradição daquela instituição, já que desde aquela época não reconhecia a Escola como o melhor espaço, nem tampouco o mais agradável, para a sua formação, recusava-­‐se a atender ao rígido sistema de disciplina que lhe era imposto. Conseguia transitar, na sala de aula, com facilidade entre a "fila do avião" e a "fila da carroça" (reservada aos menos comportados ou desatentos). Isso se compreende bem quando a sua turma lhe preparou uma festa de despedida e um de seus colegas foi encarregado de lhe fazer a saudação, aqui, obviamente, parafraseada: "João, você vai fazer muita falta, não esqueceremos sobretudo de suas cambalhotas na sala, e de seu andar por cima das mesas..., você vai ser um humorista da televisão". A carreira se direcionaria para o Cinema, não como humorista, nem como acrobata, mas como realizador. Lia foi sempre a mais tranquila dos quatro irmãos. Comemorou seu primeiro ano de vida no Rio de Janeiro, por isso mesmo não frequentou, como os outros, a escola. Conquanto não desse grandes trabalhos aos pais, não se adaptava ao berço de forma nenhuma e, toda noite, como costumam fazer muitas crianças, levantava-­‐se e ia-­‐se deitar entre os pais. Depois de tentar sem sucesso que se mantivesse no espaço que


lhe era reservado, Pedro Agostinho decidiu que seria mais proveitoso dormir no chão do que ter de a levar de volta incontáveis vezes. George Olavo e Oriana, já adolescentes, começaram, no Fluminense, a paixão pela natação, que perdura até hoje. Numa das competições de que Olavo participou, com saída do Forte do Leme em direção ao Arpoador, Rosa Virgínia ainda se lembra do ridículo por que teria passado ao sair em disparada pela rua, quando, desatenta ao que ocorria, teria ouvido o tiro de largada. Hoje, certamente, sua atitude seria mais do que esperada, em função do nível de violência que se instalou nos grandes centros urbanos no Brasil. Oriana, depois de fazer permanente no cabelo e decidir por usar com frequência roupas indianas, causava certa apreensão a Dona Eliana Riquet, conhecida Diretora do Colégio Franco-­‐Brasileiro, que chegou mesmo a dizer a Rosa Virgínia que aquela menina, pelo que podia observar, haveria de ser hippie. Sem se integrar, como preconizava Dona Lili, nesse tão importante movimento de contracultura, acabou Oriana por seguir a carreira médica, atuando hoje na área da Nefrologia. Terminado o trabalho de pesquisa, voltaram todos ao apartamento do Edifício Maroim, na Avenida Sete de Setembro.


Sexto

fragmento:

homenagens

e

despedida...

O dia de trabalho começava no Instituto de Letras da Ufba antes das 09 horas da manhã. Na sala de número 114, um das certamente mais movimentadas do primeiro andar. Rosa Virgínia cumpria o que considera uma obrigação de professor de dedicação exclusiva, a presença constante e diária. Fundadora e coordenadora, desde o início, em 1991, do grupo de pesquisa Prohpor (Programa para a História da Língua Portuguesa), financiado desde sua origem pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), orientou, entre um cigarro e outro, entre um sorriso e outro, entre uma bronca e outra, alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, desde que o Professor Nelson Rossi, ao decidir se afastar inopinadamente da Ufba, sem retorno possível, lhe disse, lá pelos idos dos anos 80, "agora é com você". Desde então, formou 24 mestres e 12 doutores. Pedro Agostinho, desde que se aposentou "na compulsória", vez por outra a acompanhava até o Instituto, quando havia algum convidado que fosse falar sobre algo de seu interesse, especialmente sobre etimologia, ou, sobretudo, quando havia


alguma manifestação de caráter reivindicatório ou político em cena. A barba não mais preta, é sem cor, como a saudade. Em 2009, promoveram as três maiores universidades baianas, i.e., a Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), de 26 a 29 de julho de 2009, o ROSAE – I Congresso Internacional de Linguística Histórica, em sua homenagem, um ano antes de sua aposentadoria compulsória, que se deu ao completar 70 anos, no dia 27 de julho de 2010. Esse evento, considerado, por muitos, um dos mais representativos já realizados na área, contou com cerca de 1000 participantes, muitos dos quais, expoentes pesquisadores nacionais e internacionais. Como memória, produziram-­‐se dois livros, um impresso, outro digital, organizados por Tânia Lobo et al. (2012) sob o título Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias, publicados pela Edufba. Esse monumento bibliográfico era ansiado por Rosa Virgínia e seria um dos seus presentes de 72 anos. Não o pôde, porém, folhear, pois deixaria a linguística histórica órfã de sua maternidade intelectual, na manhã do dia 16 de julho de 2012. Ficam seu legado para todos e a saudade para aqueles que tiveram o privilégio de a conhecer na sua dimensão mais humana.


Cronologia rabiscada

14/11/1896

Nascimento de João de Mattos

11/11/1898

Nascimento de Martinha

27/07/1940

Nascimento de Rosa Virgínia

15/08/1940

Batismo

24/04/1948

Primeira comunhão

31/12/1963

Casamento

16/07/2012

Falecimento

Os filhos 31/03/1965

Oriana Maria

03/07/1966

George Olavo

22/03/1974

João Rodrigo

02/09/1978

Lianor Maria

Os netos 25/03/1994

Joana

26/06/1996

Maria Clara e André


19/06/1998

Luca

25/07/1998

Pedro

18/03/1999

Mariana

06/01/2005

Davi

06/08/2005

Vito

13/02/2009

Jasmim

A formação 1961

Licenciatura em Línguas Anglo-­‐Germânicas − UFBA

1965

Mestrado em Letras − UnB

1971

Doutorado em Linguística − USP

1982

Pós-­‐Doutorado − UFRJ


Principais trabalhos publicados

A produção bibliográfica de Rosa Virgínia Mattos e Silva é um exemplo para seus pares. As relações que aqui se apresentam não incluem os diversos trabalhos publicados em anais de congressos, nem em outros meios de divulgação. Servem apenas como simples referência, para aqueles que desconhecem a dimensão de seu legado. Seu currículo integral se encontra disponível em http://lattes.cnpq.br/3149705136297230. Livros publicados/organizados ou edições 1. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português arcaico, uma aproximação. 1. ed. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2008. v. 2. 1098 p. 2. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Caminhos da linguística histórica. São Paulo: Parábola, 2008. 206 p. 3. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português arcaico: fonologia, morfologia e sintaxe. 1. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006. v. 1. 203 p. 4. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (Org.); MOTTA, Jacyra. (Org.) ; CARDOSO, Suzana. A. M. (Org.) . Quinhentos anos de História Linguística do Brasil. 1. ed. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia, 2006. v. 1. 485 p. 7. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português são dois: novas fronteiras, velhos problemas. São Paulo: Parábola, 2004. 151 p. 8. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Ensaios para uma sócio-­‐história do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2004. v. 1.


9. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (Org.) ; MACHADO FILHO, Américo V. L. (Org.) . O português quinhentista: estudos linguísticos. 1. ed. Salvador: EDUFBA, 2002. v. 1. 378 p. 10. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (Org.) . Para a história do português brasileiro. Primeiros estudos. São Paulo: Humanitas, 2001. v. 1. 555 p. 11. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (Org.) . A Carta de Caminha: testemunho linguístico de 1500. Salvador: EDUFBA/UEFS/CNPq/EGBA, 1996. v. 1. 285 p. 12. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Contradições no ensino do português. A língua que se fala X a língua que se escreve. São Paulo/Salvador: Contexto/EDUFBA, 1995. 98 p. 13. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português arcaico: morfologia e sintaxe. São Paulo/Salvador: Contexto/EDUFBA, 1994. 135 p. 14. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português arcaico: fonologia. São Paulo/Salvador: Contexto/EDUFBA, 1991. 101 p. 15. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo: Contexto, 1989. 68 p. 16. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Estruturas trecentistas. Elementos para uma gramática do português arcaico. Lisboa: IN-­‐CM, 1989. 881 p. 17. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia ; AGOSTINHO, Pedro. ; SILVA, Myrian. ; ALBÁN, Maria del Rosário. Sete estudos sobre o português Kamayurá. Salvador: CED/UFBA, 1988. 168 p. 18. ROSSI, Nelson; MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Livro das aves. Rio de Janeiro: INL, 1965. v. 1. 80 p. 19. ROSSI, Nelson; CALLOU, Dinah. ; MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: INL, 1963.


Capítulos de livro 1. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Rosae: desvelando um dativo. In: LOBO, Tânia et al. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: Edufba, 2012, p. 25-­‐30 2. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Línguas pluricêntricas e a questão das línguas crioulas. In: SILVA, Augusto Soares et al. (Orgs.). Línguas pluricêntricas: variação linguística e dimensões sociolinguísticas. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia/Universidade de Braga, 2011. p. 197-­‐ 204. 3. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia; MACHADO FILHO, Américo V. L. Variação TER/HAVER. In: LOBO, Tânia; OLIVEIRA, Klebson (Orgs.). África à vista. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 338-­‐351. 4. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia; MACHADO FILHO, Américo V. L. Entre duas diásporas: o português e as línguas africanas no Brasil. In: OLIVEIRA, Klebson et al. (Orgs.) do português arcaico ao português brasileiro: outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 297-­‐304. 5. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia ; MACHADO FILHO, Américo V. L. Fontes para o conhecimento da língua portuguesa de trezentos: os mais antigos manuscritos portugueses existentes no brasil. In: MASSINI-­‐CAGLIARI, Gladis et al. (Orgs.). Série Estudos Medievais 2: Fontes. Araraquara: GT Estudos Medievais ANPOLL, 2009, p. 189-­‐202. 6. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Três sócio-­‐histórias: três línguas. In: REI-­‐DOVAL, Gabriel (Org.). A linguística galega desde além-­‐mar. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 2009, p. 97-­‐105. 7. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Bárbaros à porta: uma reflexão histórica sobre a língua portuguesa no Brasil da atualidade. In: RONCARATI, Cláudia; ABRAÇADO Jussara. (Orgs.). Português brasileiro II. Niterói: EdUFF, 2008, p. 391-­‐398. 8. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia ; OLIVEIRA, Klebson. ; LOBO, Tânia. Panorama preliminar da história do letramento de negros na Bahia. In: RAMOS, Jânia; ALKMIM, Mônica. (Orgs.). Para a história do português brasileiro: v. 5. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2007, p. 359-­‐422. 9. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Aspectos morfolexicais do português arcaico. In: CASTILHO, Ataliba et al. (Orgs.). Descrição, história e aquisição do português brasileiro. Campinas: Pontes, 2007, p. 581-­‐616. 10. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Uma compreensão histórica do português brasileiro: velhos problemas repensados. In: MOTA, Jacyra; CARDOSO, Suzana; MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. (Orgs.). Quinhentos anos da História Linguística do Brasil. 1 ed. Salvador: Secretaria da Cultura e do Turismo do Estado da Bahia, 2006, p. 219-­‐250. 11. LOBO, Tânia C. F.; MACHADO FILHO, Américo V. L.; MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Indícios de língua geral no sul da Bahia na segunda metade do século XVIII. In: LOBO, Tânia et al. (Orgs.). Para a


História do Português Brasileiro: Novos dados, novas análises, v. 7. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2006, v. 2, p. 609-­‐630. 12. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . "O português são dois"... ainda "em busca do tempo perdido". In: GORSKI, Edair; COELHO, Izete. (Orgs.). Sociolinguística e ensino: contribuições para a formação do professor de língua. Florianópolis: Ed da UFSC, 2006, p. 277-­‐288. 13. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Desenvolvimentos recentes no Brasil dos estudos histórico-­‐ diacrônicos sobre o português. In: ZILLES, Ana Maria. (Org.). Estudos de variação linguística no Brasil e no Cone Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005, p. 39-­‐53. 14. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O português brasileiro: sua formação na complexidade multilinguística do Brasil colonial e pós-­‐colonial. In: COSTA, Sônia; MACHADO FILHO, Américo. (Orgs.). do português arcaico ao português brasileiro. Salvador: Edufba, 2004, p. 115-­‐137. 15. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . O PROHPOR e sua inserção no Projeto Nacional Para a História do Português Brasileiro. In: RONCARATTI, Cláudia; ABRAÇADO, Jussara. (Orgs.). Português brasileiro. Niterói: Faperj, 2003, p. 30-­‐38. 16. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Em 1967, um encontro para sempre (evocação de uma amizade que se fez no estudo da linguística). In: CASTRO, Ivo;DUARTE, Inês (Orgs.). Razões e emoção: Miscelânea em homenagem a Maria Helena Mira Mateus. Lisboa: Imprensa Nacional -­‐ Casa da Moeda, 2003, v. 2, p. 403-­‐414. 17. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Reflexões e questionamentos sobre a constituição de corpora para o Projeto Para a História do Português Brasileiro. In: CALLOU, Dinah; DUARTE, Maria Eugênia. (Orgs.). Para a história do português brasileiro: Notícias sobre corpora e outros estudos. Rio de Janeiro: UFRJ/FAPERJ, 2002, v. IV, p. 17-­‐28. 18. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Reconfigurações socioculturais e linguísticas no Portugal de quinhentos em comparação com o período arcaico. In: MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia; MACHADO FILHO, Américo Venâncio Lopes. (Orgs.). O português quinhentista: estudos linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002, p. 27-­‐41. 19. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Notas sobre avaliações linguísticas nos gramáticos Fernão de Oliveira e João de Barros. In: MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia; MACHADO FILHO, Américo Venâncio Lopes. (Orgs.). O português quinhentista: estudos linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002,p. 43-­‐60. 20. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . A definição da oposição entre SER e ESTAR em estruturas atributivas nos meados do século XVI. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva; Américo Venâncio Lopes Machado Filho. (Orgs.). O português quinhentista: estudos linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002, v. 1, p. 103-­‐117. 21. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia; MACHADO FILHO, Américo V. L. Apresentação. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva; Américo Venâncio Lopes Machado Filho. (Orgs.). O português quinhentista: estudos


linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002, v. 1, p. 13-­‐26. 22. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Vitórias de TER sobre HAVER nos meados do século XVI: usos e teoria em João de Barros. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva; Américo Venâncio Lopes Machado Filho. (Orgs.). O português quinhentista: estudos linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002, v. 1, p. 119-­‐142. 23. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A variação SER/ESTAR e HAVER/TER nas Cartas de D. João III entre 1540 e 1553: comparação com os usos coetâneos de João de Barros. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva; Américo Venâncio Lopes Machado Filho. (Orgs.). O português quinhentista: estudos linguísticos. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2002, v. 1, p. 143-­‐160. 24. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Para a história do português culto e do português popular: sugestões para uma pauta de pesquisa. In: Tânia Alkmin. (Org.). Para a história do português brasileiro. São Paulo: Humanitas, 2002, v. 3, p. 443-­‐464. 25. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Variação, mudança e norma: mudanças no interior do português brasileiro. In: Marcos Bagno. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002, v. , p. 291-­‐316. 26. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . De fontes sócio-­‐históricas para a história social do Brasil. In: Silva, Rosa Virgínia. (Org.). Para a história do português brasileiro. Primeiros estudos. São Paulo: Humanitas, 2001, v. 1, p. 19-­‐33. 27. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Da sócio-­‐história do português brasileiro para o ensino do português hoje. In: AZEREDO, J. C.. (Org.). Língua portuguesa em debate. Conhecimento e ensino. Petrópolis: Vozes, 2000, v. 1, p. 19-­‐33. 28. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Alguma reflexão sobre a unidade original galego-­‐portuguesa. In: ALBÁN, Maria del Rosário Suárez. (Org.). Língua e imigração galegas na América Latina. 1 ed. Salvador: CELGA-­‐Centro de Estudos da Língua e Cultura Galegas. p.97-­‐104, 1999. 29. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . O renovado impulso dos estudos histórico-­‐diacrônicos sobre o português: temas e problemas. In: GÄRTNER, Eberhard et al. (Orgs.). Estudos de história da língua portuguesa. Frankfurt am Main: TFM, 1999, v. 1, p. 127-­‐144. 30. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Ideias para a história do português brasileiro: fragmentos para uma composição posterior. In: CASTILHO, Ataliba de. (Org.). Para a história do português brasileiro. Primeiras ideias. São Paulo: Humanitas, 1998, v. 1, p. 21-­‐52. 31. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. A Carta de Caminha no tempo da língua portuguesa. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva. (Org.). A Carta de Caminha: testemunho linguístico de 1500. Salvador: EDUFBA/EGBA/UEFS, 1996, v. , p. 13-­‐26. 32. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . A variação HAVER/TER. In: Rosa Virgínia Mattos e Silva. (Org.). A Carta de Caminha: testemunho linguístico de 1500. Salvador: EDUFBA/UEFS/EGBA, 1996, v. , p. 181-­‐


193. 33. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Variação, mudança, norma e a questão do ensino do português no Brasil. In: CARDOSO, Suzana (Org.). Diversidade linguística e ensino. Salvador: EDUFBA, 1996, v. , p. 19-­‐43. 34. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. TER ou HAVER em estruturas de posse: variação e mudança no português arcaico. In: PEREIRA Cilene; Pereira, P.. (Orgs.). Miscelânea in memorian de Celso F. da Cunha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, v. , p. 288-­‐298. 35. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Diálogos de São Gregório. In: RIIHO, T.; EERIKAINEN, L. (Orgs.). Helsinki: Crestomatia iberorromanica, 1993, v. , p. 235-­‐253. 36. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Diversidade e unidade: a aventura linguística do português. In: CASTRO, Ivo et al.. (Org.). Curso de história da língua portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1991, v. 2, p. 111-­‐141. 37. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Uma leitura da carta 99 do Atlas prévio dos falares baianos. In: FERREIRA, Carlota et al.. (Orgs.). Diversidade do português brasileiro. Salvador: UFBA/PROED, 1988, v. 1, p. 53-­‐66. 38. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia . Dizem que vai mal o vernáculo no Brasil: reflexões sobre o português e seu ensino. In: FERREIRA, Carlota et al. (Orgs.). Diversidade do português brasileiro. Salvador: UFBA/PROEB, 1988, v. , p. 217-­‐225. Artigos completos publicados em periódicos 1. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Para a história do português culto e popular brasileiro: sugestão para uma pauta de pesquisa. Cadernos de Letras da UFF, v. 34, p. 11-­‐30, 2008. 2. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Novas contribuições para a história da língua portuguesa. Diadorim (Rio de Janeiro), v. 2, p. 99-­‐113, 2007. 3. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Sobre o Programa para a história da língua portuguesa (PROHPOR) e sua inserção no Projeto Nacional Para a história do Português Brasileiro (PHPB). Estudos Linguísticos e Literários, v. 1, p. 53-­‐64, 2006. 4. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Vitória de TER sobre HAVER nos meados do século XVI: usos e teorias em João de Barros. Revista Portuguesa de Filologia, v. XXV, p. 563-­‐587, 2006. 5. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Novos indicadores para os limites do português arcaico. Revista do GELNE (UFC), João Pessoa, v. 4, n. 1/2, p. 182-­‐185, 2005.


6. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português no Brasil: sua formação na complexidade multilinguística do Brasil colonial e pós-­‐colonial. Leituras Contemporâneas, Salvador, v. 1, n. 1, p. 95-­‐105, 2004. 7. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Um estudo de aspectos do léxico nos TROVADORES DO MAR. Revista do GELNE (UFC), João Pessoa, v. 6, n. 1, p. 167-­‐ 190, 2004. 8. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia ; MACHADO FILHO, Américo V. L. . A variação ter/haver na primeira metade do século XIX em textos escritos por africanos e afrodescendentes. Linguística (Madrid), São Paulo, v. 15-­‐16, p. 161-­‐174, 2004. 9. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A gramaticalização numa perspectiva diacrônica: contribuições baianas. Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n. 29/30, p. 135-­‐147, 2003. 10. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Diversidade e unidade: a aventura linguística do português. Página do Instituto Camões de Portugal, Lisboa, v. 1, p. 1-­‐29, 2002. 11. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A aventura linguística do português. Página do Instituto Camões na Internet, Virtual, 2002. 12. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Uma compreensão histórica do português brasileiro: velhos problemas revisitados. Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n. 25/26, p. 250-­‐283, 2002. 13. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Uma interpretação para a generalizada difusão da língua portuguesa no Brasil. Revista da Academia de Letras da Bahia, Salvador, n. 45, p. 105-­‐126, 2002. 14. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A variação 'ser'/ 'estar' e 'haver'/ 'ter' em 1540. Revista Portuguesa de Filologia, Coimbra, n. XXIII, p. 71-­‐96, 2001. 15. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Nos limites finais do período arcaico: a vitória de ter verbo de posse e auxiliar de tempo composto e sua emergência como verbo existencial. Revista de Letras Gelne, Fortaleza, n. 22, p. 117-­‐121, 2001. 16. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Da sócio-­‐história do português brasileiro para o ensino do português no Brasil hoje. Revista da Faeba, Salvador, n. 15, p. 23-­‐36, 2001. 17. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Reconfigurações socioculturais e lingüísticas no Portugal de quinhentos em comparação com o período arcaico. Alfa (ILCSE/UNESP), São Paulo, v. 45, p. 33-­‐47, 2001. 18. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Orientações atuais da Lingüística Histórica brasileira. DELTA. Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, n. 15, p. 147-­‐166, 2000. 19. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A língua portuguesa em perspectiva histórica: do


português europeu para o português brasileiro. Estudos Lingüísticos (São Paulo), São Paulo, n. xxix, p. 16-­‐32, 2000. 20. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Uma interpretação para a generalizada difusão da língua portuguesa em território brasileiro. Gragoatá (UFF), Niterói, v. 9, p. 11-­‐ 27, 2000. 21. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Uma compreensão histórica do português brasileiro: velhos problemas revisitados. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, v. 1, n. 25-­‐26, p. 253-­‐283, 2000. 22. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Há 500 anos. . . A Carta de Caminha e a língua portuguesa. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. 23-­‐24, p. 127-­‐142, 1999. 23. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O que corrigir no português de nossos alunos? Uma avaliação do fator escolarização na compreensão do português brasileiro. A Cor das Letras, Feira de Santana, v. 3, p. 179-­‐189, 1999. 24. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Orientações atuais da lingüística histórica no Brasil. Revista Lingüística, São Paulo, v. 1, n. 11, p. 155-­‐174, 1999. 25. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Desencontros e reencontros da Lingüística e da Filologia no Brasil no século XX. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. 21-­‐ 22, p. 97-­‐109, 1998. 26. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A formação de uma área dialetal do português. Papiá. Revista de crioulos de base ibérica., Brasília, v. 09, p. 09-­‐19, 1997. 27. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A variação no uso de SER/ESTAR e HAVER/TER no português ducentista. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. 19, p. 270-­‐ 285, 1997. 28. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Lingüística histórica e história da língua portuguesa. Revista Estudos lingüísticos e literários, Salvador, Universidade Federal, v. 19, p. 07-­‐10, 1997. 29. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Alfabetização hoje no Brasil. ABRALIN (Curitiba), São Luís, n. 18, p. 76-­‐90, 1996. 30. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Notícia sobre o Programa para a História da Língua Portuguesa. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. especial, p. 231-­‐ 237, 1996. 31. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A sócio-­‐história do Brasil e a heterogeneidade do português brasileiro. ABRALIN (Curitiba), São Paulo, n. 17, p. 73-­‐85, 1995. 32. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Lingüística: entre estrutura e história. Cadernos Ilufba, Salvador, n. 7, p. 23-­‐24, 1995. 33. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O português são dois. Alteridades (FFCH/UFBA),


Salvador, n. 2, p. 67-­‐85, 1995. 34. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Para uma caracterização do português arcaico. DELTA. Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, n. 10, p. 247-­‐276, 1994. 35. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Português brasileiro: raízes e trajetórias (Para a construção de uma história). Discursos, Lisboa, n. 3, p. 75-­‐92, 1993. 36. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . O que nos diz sobre a sintaxe a pontuação de manuscritos medievais portugueses. ABRALIN (Curitiba), São Paulo, n. 14, p. 75-­‐ 85, 1993. 37. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . A Carta de Caminha: prólogo. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. 13, p. 103-­‐110, 1992. 38. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Português brasileiro: raízes e trajetórias (versão reduzida). Ciência e Cultura (SBPC), Rio de Janeiro, n. 15, p. 76-­‐81, 1992. 39. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Caminhos de mudanças sintático-­‐semânticas no português arcaico. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, n. 1, p. 85-­‐ 89, 1992. 40. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Que gramática ensinar, quando e por quê? Entre teorias e realidades. Revista Internacional de Língua Portuguesa, Lisboa, n. 4, p. 153-­‐177, 1991. 41. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Caminhos de mudanças sintático-­‐semânticas no português arcaico. Cadernos de Estudos Lingüísticos (UNICAMP), Campinas, n. 20, p. 59-­‐74, 1991. 42. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Uma avaliação da gramática do português contemporâneo. Publicação do Curso de Pós Graduação Em Lingüística e Língua Portuguesa, Araraquara, n. IV, p. 47-­‐62, 1990. 43. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Falar, ouvir, escrever, ler no ensino da língua materna. Hyperion, Salvador, n. 1, p. 47-­‐52, 1990. 44. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Rastros de um velho mistério! Sobre estudos de variação e mudança na fase arcaica do português. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador, n. 10, p. 153-­‐177, 1990. 45. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Breve notícia sobre a situação do português no Brasil. Seara Nova, Lisboa, n. 1, p. 28-­‐36, 1989. 46. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Diversidade lingüística e ensino do português: proposições comentadas. Revista Internacional de Língua Portuguesa, Lisboa, n. 1, p. 28-­‐36, 1989. 47. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia . Língua portuguesa: novas fronteiras, velhos problemas. Revista Lusitana, Lisboa, n. 8, p. 5-­‐21, 1988.


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