E-book da Fundação Luiz Almeida Marins Filho - Ensinando a Aprender - 15 anos

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1999-2014 – 15 ANOS

15 ANOS ENSINANDO A APRENDER E-book em comemoração aos 15 anos da Fundação LAMF

Fundação Luiz Almeida Marins Filho


Fundação Luiz Almeida Marins Filho

15 ANOS ENSINANDO A APRENDER E-book em comemoração aos 15 anos da Fundação LAMF

N

este E-book em comemoração aos 15 anos de instituição da Fundação Luiz Almeida Marins Filho temos o prazer em apresentar a nossos amigos e colaboradores textos diversos, fotos e links para vídeos que

retratam toda a extensão de nossa missão de Ensinar a Aprender. Os textos foram escritos por conselheiros, dirigentes e pessoas amigas que nestes 15 anos contribuíram com as atividades da Fundação LAMF e mostram a visão que possuem sobre educação e aprendizagem. Da mesma forma, os vídeos que aqui serão apresentados em links são outra riqueza destes 15 anos da nossa Fundação. São presidentes de grandes empresas, educadores renomados, consultores, desportistas que formam quase uma centena de amigos da Fundação que nestes 15 anos nos ajudaram a compreender os desafios de ensinar a aprender. Temos a certeza e a convicção de que este E-book, que representa a modernidade do ensinar e aprender, será de grande utilidade aos que desejem participar do processo de educação de nossa nação brasileira.

Sorocaba, SP, inverno, 2014.

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SUMÁRIO UMA LOUCA IDEIA QUE DEU CERTO ...................................................................................... 6 O QUE É ENSINAR A APRENDER ............................................................................................. 8 SER PROFESSOR ......................................................................................................................... 10 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 10

Quanto à formação geral dos alunos ............................................................................ 10 Quanto à conduta pessoal................................................................................................ 11 Por que sou professor? .................................................................................................. 11 Quanto à preparação das aulas ......................................................................................... 13 A POSTURA DO PROFESSOR .................................................................................................. 14

Por que estudar? .................................................................................................................... 14 Por que será que devemos estudar? .............................................................................................. 14 Conceito de Professor .......................................................................................................... 16 Por que sou Professor? ........................................................................................................ 17 Conhecimento do Conteúdo Programático ................................................................... 18 Preparação das aulas ............................................................................................................ 18 O Professor e a Educação Comportamental – Conduta, Comportamento do Professor .................................................................................................................................. 19

Conduta em sala de aula .................................................................................................. 19 Conduta fora da sala de aula ........................................................................................... 20 Conclusão ................................................................................................................................ 21 A LIÇÃO DE CASA ...................................................................................................................... 23 ENSINAR A APRENDER ............................................................................................................ 25 2 www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE MARCO AURÉLIO FERREIRA VIANNA ........................................................................................................................................................ 28

Ensinando a Aprender .......................................................................................................... 28 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE MAX GEHRINGER ................................. 33

Conversa de Macaco ............................................................................................................. 33 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DO PROF. J. R. GRETZ ................................ 35 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE DULCE MAGALHÃES ............................ 38 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE EUGÊNIO MUSSAK ............................... 47 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE REINALDO POLITO ............................... 50

A personalidade inspiradora de Julieta Esther Amaral ................................................ 50 A pontaria do Professor Ulisses Ribeiro .......................................................................... 52 Um jeito diferente e muito sábio de ensinar .................................................................. 54 Tempo de aprender .............................................................................................................. 55 Acumulando centímetros de experiência ........................................................................ 56 ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE CLÓVIS TAVARES .................................. 59 A INTUIÇÃO COMO PARTE ATIVA NO PROCESSO DE INOVAÇÃO .............................. 61

Qualidades de um inovador intuitivo ............................................................................... 62 RESPONSABILIDADE LITERÁRIA ............................................................................................ 65 FAMÍLIA E EDUCAÇÃO ............................................................................................................. 69 EDUCAÇÃO E AMOR ................................................................................................................. 71 A COMUNIDADE DEVE ESTAR INSERIDA NA ESCOLA ..................................................... 73 A EDUCAÇÃO E A DISCIPLINA ................................................................................................ 76 A MOTIVAÇÃO PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ............................................... 79 APRENDIZADO CONTÍNUO, UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA ...................................... 83 3 www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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COMO TRABALHAR EM EQUIPE OU GRUPO ...................................................................... 86

Trabalho em Equipe .............................................................................................................. 87 A SABEDORIA DE CADA UM ................................................................................................... 90 SOBRE DIREITOS E DEVERES ................................................................................................... 92 10 DICAS PARA SER UM JOVEM VENCEDOR ..................................................................... 94 A POLIDEZ.................................................................................................................................... 96 ANEXO .......................................................................................................................................... 98 COMO PARTICIPAR ................................................................................................................ 136 CONHEÇA OS MEMBROS DA FUNDAÇÃO LAMF ........................................................... 138

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APRESENTAÇÃO

A

Fundação LAMF foi um “presente de aniversário” que vinte amigos do Professor Luiz Almeida Marins Filho lhe deram quando completou 50 anos de idade, em setembro de 1999, numa homenagem ao amigo e

educador sorocabano. Os vintes amigos – que fazem parte do Conselho Superior da Fundação LAMF – são todos ligados à educação e através da Fundação realizam programas e projetos de educação comunitária de alta relevância. Nunca é demais ressaltar que a Fundação LAMF não recebe recursos públicos de nenhuma origem – federal, estadual ou municipal. O objetivo de seus instituidores foi o de desafiar pessoas com conhecimento adquirido através de estudo e prática profissional, a devolverem à sociedade aquilo que receberam - fazendo um trabalho de educação social, não-formal, de grande relevância. Como a Fundação LAMF foi instituída em homenagem a um professor e seus instituidores são, em grande maioria, igualmente professores, o “produto” que a Fundação tem a oferecer à comunidade é o conhecimento – que você verá representado neste E-book.

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UMA LOUCA IDEIA QUE DEU CERTO Prof. MS Mário Biazzi

N

o dia em que o Oswaldo Daniel e o Prof. Bramante me procuraram para combinarmos qual presente

poderíamos dar para o querido Professor Marins, nosso Luizinho, nos seus 50 anos de idade e foi sugerida a Fundação LAMF, confesso que minha primeira reação foi exclamar: vocês estão loucos? Uma Fundação cuja meta proposta era dotar todas as escolas de Sorocaba de um laboratório de Informática! Onde conseguir tantos micros? Como interagir com os Diretores das Escolas? Onde conseguir tanto dinheiro? Como dar suporte e assessoria para a manutenção desses laboratórios? Todas essas perguntas não tinham respostas claras em minha cabeça. Imaginem alguém acostumado a equacionar e resolver problemas tendo que se acostumar com a ideia de que no futuro teríamos que montar laboratórios em escolas, sem saber quantas eram, quantos alunos seriam atendidos e qual a receptividade da Fundação nos meios escolares... Esse presente estava muito parecido com o Cavalo de Troia. Hoje, no 54º aniversário do Luizinho, vendo que a Fundação LAMF alcançou todos os seus objetivos, ou seja, todas as Escolas de Sorocaba têm seu laboratório de 6 www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Informática (nós, da Fundação, ficamos responsáveis pelas Escolas Estaduais de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental. Elas são 31!) fico admirado da força de vontade e da determinação de nossa gente sorocabana. O sonho que parecia impossível está concretizado em tempo recorde, em meu entender. E este sonho é fantástico e emocionante: assistir crianças que, com certeza não teriam condições de acesso à informática, demonstrando a maior intimidade com os micro computadores. Então hoje, como Presidente do Conselho da Fundação LAMF, só quero agradecer. Obrigado aos voluntários, aos doadores (pessoas físicas e jurídicas), conselheiros, diretores, imprensa, Dirigentes da Educação Estadual, Secretaria de Educação e Cultura

Municipal,

diretores

das

escolas,

comunidades

envolvidas

nesta

maravilhosa empreitada e um especial agradecimento à família Luiz A. Marins Filho. Muito obrigado, em nome das nossas crianças que por vontade de vocês não são mais cidadãos de segunda classe. Agora essas crianças podem, de fato, exercer a cidadania, a que tem direito. Missão cumprida! Cumprida? Não! Vamos partir para outra proposta, ainda mais ousada: vamos difundir o conhecimento que ainda hoje, em nosso Brasil, é propriedade de poucos privilegiados em nossas comunidades. Nós contamos com todos vocês para mais esta meta. Agora acho que nada pode deter a Fundação LAMF. Com o apoio de vocês, literalmente, nada é impossível!

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O QUE É ENSINAR A APRENDER Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

A

Fundação LAMF tem como foco de ação ensinar a aprender. Mas o que é Ensinar a Aprender? Hoje o que aprendemos na escola quer no ensino fundamental, médio

ou superior, logo ficam desatualizados pelo rápido desenvolvimento científico e tecnológico que ocorrem em todas as áreas do conhecimento humano. Por este motivo é necessário aprender como se atualizar (Ensinar a Aprender) diante desse quadro de rápido desenvolvimento nas mais diversas áreas do conhecimento. Ensinar a Aprender consiste num conjunto de procedimentos pessoais (atitudes, comportamentos, etc.), métodos e técnicas que as pessoas devem aplicar na sua vida diária para conseguir ter uma educação permanente ou continuada (estudar, ler, etc., sempre). A Fundação LAMF quer ensinar esses meios para as pessoas para que elas apliquem na vida diária. Ensinar a Aprender consiste em conhecer as fontes que fornecem o conhecimento atualizado, para uma específica área profissional, para poder se atualizar. Ensinar a Aprender é fornecer os meios para que as pessoas consigam se atualizar permanentemente o seu conhecimento, através de palestras, cursos, leituras, seminários, congressos, livros, revistas, etc. Abordar assuntos diversos também é Ensinar a Aprender - não é só especificamente ensinar, como aprender.

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Leia a seguir o que o Prof. Cláudio de Moura Castro escreveu na Revista Veja de 9/09/98, p. 29: "... Interessa supremamente a qualidade do curso, bem como o esforço do aluno, pois cada vez menos a empresa se importa com o diploma em si e cada vez mais pela capacidade do diplomado de entender o mundo e aprender com a experiência. Ter informações não é importante, saber buscá-las é... O diploma já não é mais uma passagem permitindo entrar no avião que leva ao país das maravilhas. É apenas uma lista dos equipamentos que levaremos para empreender uma jornada que pode ter muitos destinos. Ademais, o equipamento não é garantido pelo fabricante e os bons destinos requerem seu uso competente. Para quem tem o diploma, resta o consolo de que a jornada é muito mais árdua para os que não o têm". A Fundação LAMF através das escolas e das pessoas interessadas, poderá promover palestras, cursos, conferências, mesas redondas, publicações, programas de rádio sempre enfocando Ensinar a Aprender. A Fundação está aberta a participação de voluntários que queiram participar desse trabalho de desenvolvimento de diversas atividades, visando informar a população, professores sobre os mais diversos temas, sempre com o objetivo de ensinar a aprender.

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SER PROFESSOR Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

INTRODUÇÃO

C

omo presidente executivo da Fundação LAMF, tenho recebido inúmeras solicitações de professores dos diversos níveis, para escrever algumas "dicas" sobre o comportamento do professor. O documento abaixo

contém essas dicas, fruto da experiência docente que construí em mais de 40 anos dando aulas. Gostaria de lembrar que iniciei minha carreira docente como professor primário numa escola isolada num bairro rural de Santana do Parnaíba nos idos de 1960. Eu ia e voltava, todos os dias a cavalo para lecionar, sozinho para aluninhos pobres do 1º ao 4º ano primário. Lecionei para o curso secundário em escola pública do Estado. Fui professor do "Estadão" (E.E. Júlio Prestes de Albuquerque), Colégio Municipal Getúlio Vargas, Colégio “Ciências e Letras”, Colégio Técnico “Cel. Fernando Prestes”, durante alguns anos. E, graças a estas dicas que abaixo rascunhei, terminei como Professor Titular da Universidade Federal de São Carlos, onde me aposentei. Digo isso para dizer que não me considero um "teórico" da docência, mas vivi todos os níveis dela e aprendi a cada dia a maravilha de "ser professor”.

Quanto à formação geral dos alunos

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Forme nos alunos o valor do ser e não do ter.

Mostre aos alunos que o estudo, o conhecimento é o mais importante para a vida. Os bens materiais acabam, roubam, etc. O conhecimento

está dentro de você e ninguém rouba. Caso percamos todos os nossos bens materiais, temos o conhecimento para começarmos a nossa vida novamente, com mais facilidade. Com o conhecimento compreendemos melhor as pessoas. 

Mostre e demonstre aos alunos a necessidade de viver em comunidade e trabalhar em equipe.

Mostre e demonstre aos alunos que cada pessoa é uma pessoa humana, com suas qualidades e defeitos. Temos de aprender a viver em grupo, somando as qualidades de cada um e não os defeitos. Temos que fazer uma unidade na diferença. São as diferenças que fazem um grupo, uma comunidade, etc., crescerem.

Não esqueça de formar nos alunos, valores que serão úteis em sua vida profissional, familiar e comunitária. Disciplina, força de vontade, honestidade, ética, respeito à opinião dos outros (diferenças individuais), organização, solidariedade, espírito comunitário, ajuda mútua, respeito em geral e para com os mais velhos, respeito para com os pais, humildade (o sábio é humilde, pois ele sabe o quanto ele não sabe), etc.

Quanto à conduta pessoal

Por que sou professor? 

O professor é modelo para o aluno. A conduta do professor tem de ser condizente com o que ele prega, dentro da escola e fora da escola. As palavras comovem, os exemplos arrastam. 11  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Nunca “mate” aula. Não esqueça que não matar aula é uma questão de justiça social. Os pais que têm recursos financeiros sustentam os filhos por muito tempo, pagam cursinho, etc., os que não têm esses recursos, dependem da sua aula para aprender. Se você “mata” aula, você está fazendo com que o rico fique cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre.

Fixe a sua conduta (comportamentos) como professor na sala de aula em relação aos alunos, no primeiro dia de aula, e cumpra o que fixou como conduta formativa.

O professor não pode, por exemplo, sentar em cima da mesa. Mesa não foi feita para sentar. O professor não pode mascar chicletes durante a aula. Temos que formar nos alunos o domínio da vontade. Temos hora para tudo na vida: para comer, para estudar, para mascar chicletes, para dormir, etc. Na vida real não fazemos tudo que queremos, a toda hora. Isto chama-se disciplina. A disciplina na escola existe para que formemos no aluno a capacidade de domínio da vontade. Quem não domina as pequenas ações (vontades) não será capaz de dominar no futuro os seus impulsos animalescos e sexuais. Facilmente entra no caminho das drogas.

A apresentação do professor(a) é fundamental. O que apresentação do professor? É estar sempre vestido decentemente e condizente com a função que exerce, que é a de dar exemplo para os alunos. Não é estar ricamente vestido, mas decentemente vestido. O uso do avental, acho fundamental.

Procure chamar seus alunos pelo nome.

Organize a sua vida familiar (reúna marido, mulher, filhos e planeje divida as tarefas domésticas), para que possa ter pelo menos 30 ou 60

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minutos por dia para pensar em suas atividades profissionais. Não esqueça que família é uma comunidade, onde deve haver cooperação e não competição. 

Dê o máximo de si para ser um bom professor, mas não fique com complexo de culpa ou coisa semelhante. Faça o que pode e viva em paz.

Quanto à preparação das aulas

Prepare bem as suas aulas.

Prepare suas aulas nas férias. Prepare questões de provas também. Temos que dar muitas aulas e durante o período letivo é difícil conseguirmos preparar adequadamente. Assim durante o período letivo só temos que fazer adaptações e ajustes nos conteúdos programáticos e nas provas.

Analise e pense quais os itens serão levados em conta para a avaliação do aluno, como um todo.

Aproveite assuntos em destaque na mídia para dar o seu conteúdo programático. Os alunos se interessam mais pelos assuntos do momento.

Todo assunto dado em sala de aula deve fazer parte de questões de avaliação.

Não confunda avaliação com prova.

Dê trabalhos aos alunos que você possa ler e corrigir. É preferível um

trabalho de uma página, que seja lido e corrigido, do que um trabalho longo que não é lido nem corrigido.

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A POSTURA DO PROFESSOR Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

Por que estudar?

Por que será que devemos estudar?

O

ser humano é diferente dos animais, ele é um ser racional, livre,

consciente e responsável. Ser racional é aquele que pensa, raciocina, sabe porque está fazendo isto ou aquilo, sabe porque está estudando,

por exemplo. Livre, porque ele decide o que quer fazer, ninguém pode obrigá-lo, pode sim aconselhálo. Consciente, porque ele sabe o que está fazendo, como a gente diz: "ele tem consciência do que faz". Responsável

porque

tem

consciência

de

suas

obrigações como homem, por exemplo: estudar,

Portanto, agimos entendendo e entendemos agindo

trabalhar, jogar, etc. Portanto, agimos entendendo e entendemos agindo. Os atos de "agir entendendo" e de "entender agindo" caracterizam distintivamente o modo de ser do ser humano (Luckesi, et ai, 1991). O conhecimento - como entendimento do mundo não é, pois, um enfeite ou uma ilustração da mente e da memória, mas um mecanismo fundamental para tornar a

vida mais satisfatória e mais plenamente realizada (Luckesi, et ai, 1991). A ação de pensar as coisas com as quais vivemos, dá uma dimensão nova a tudo: 14  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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dimensão significativa da compreensão. As coisas ficam claras para nós, conhecidas, entendidas. Os animais vivem no mundo, exclusivamente submetidos às suas leis; nós seres humanos, vivemos no mundo e com o mundo, porque estamos aí, mas possuímos

a capacidade de "fazer as coisas" com o mundo tornando-o nosso, satisfatório às nossas necessidades. Quando não conhecemos as coisas entramos em pânico, ficamos apavorados (Ex.: doenças). À medida que vamos conhecendo vamos ficando "senhores da situação". O conhecimento faz com que enfrentemos a vida com menos riscos e menos perigos. Nós ficamos mais seguros, agimos com certeza e podemos prever as coisas. Entender o mundo através do conhecimento se faz tanto em situações simples do dia a dia (ex.: na cozinha de nossa casa, na rua, no trabalho, no campo, indústria, brincadeiras, etc.), como nos laboratórios de pesquisa.

O conhecimento é necessário para o progresso

Todos

nós

praticamos

o

conhecimento em nosso dia a dia. O conhecimento é necessário para nos

mostrar o caminho, as coisas do mundo. O conhecimento é necessário para o

progresso, para o desenvolvimento de um mundo cada vez mais adaptado ao entendimento das necessidades do ser humano. Como o homem é livre, o conhecimento tem que ser libertador , ele tem que ser de maneira adequada e mais condizente com suas necessidades. O indivíduo fica livre

do medo do desconhecido. O conhecimento liberta o sujeito porque lhe dá independência e autonomia (ex.: quando sabemos cuidar do corpo nos libertamos do médico. Quando aprendemos a ler nos libertamos do professor, pois lemos e entendemos, etc.). Portanto, o 15  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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conhecimento é importante para termos uma vida compatível como ser humano. Adquirimos o conhecimento durante a nossa vida, em todas as nossas atividades, mas essa aquisição é feita, principalmente, na Escola. Escola nos fornece os meios para conhecermos o mundo que nos rodeia, através dos diversos conteúdos das disciplinas que estudamos. Estudar, pois, significa conhecer o "universo", tudo que nos cerca e usar esse conhecimento para nosso bem estar e felicidade. O estudo nos torna mais humanos, pois passamos a conhecer todas as reações da natureza, do homem e do ambiente em geral. Nos leva a compreensão do próprio homem, do próximo. Estudamos para que possamos ser cada vez mais livres, conscientes e responsáveis como pessoa humana que somos.

Bibliografia - Luckesi, C. C., et aI. Fazer Universidade: uma proposta metodológica. 6ª edição, Cortez Editora, 1991, 232.

Conceito de Professor

Segundo o Dicionário Aurélio: (1)

Professor é aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica,

uma disciplina; mestre; professor universitário; professor de ginástica.

Professar

(1)

reconhecer publicamente; confessar: “os homens deveriam professar

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os princípios que norteiam suas ações”.

(2)

Preencher as funções inerentes a (um

cargo ou profissão); abraçar (cargo ou profissão): professar a advocacia

(3)

Ensinar

na qualidade de professor ou lente; lecionar, professorar: "como ele professava

pedagogia na secção didática do meu curso, esperava encontrar ali a realização das ideias que ele nos expunha na sua cátedra". (Fidelino de Figueiredo, Um Colecionador de Angústias, p.84).

Por que sou Professor?

A razão da escolha profissional é fundamental no seu desempenho. É preciso ter claramente fixados os objetivos profissionais e os porquês para saber por que exerço tal profissão. A profissão que exercemos é um meio para a nossa promoção como pessoa humana. Não trabalhamos só para ganhar o salário no final do mês, mas para a nossa realização pessoal. Se executamos as nossas funções com dedicação, carinho, interesse, estudo, persistência, fundamentação (sabemos o porquê exercemos aquela função), etc., o ganho por exercemos

aquela

função

virá

inevitavelmente. Somos professores para que possamos dar as condições às crianças e jovens de se tornarem seres humanos cada vez mais livres, conscientes e responsáveis. Os conteúdos programáticos que ensinamos, servem para tornar nossos alunos mais humanos, mais capazes de decidirem livremente sobre sua vida, 17  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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tirarmos deles a condição de escravização. O conhecimento liberta a pessoa humana, pois dá a ela a capacidade de ler, entender, discutir, conhecer, amar, etc., mais dignamente. Ela deixa de ser manuseada pelos mais "letrados" ou "sabichões". Ela passa a ter uma análise mais crítica da sociedade. Ela desenvolve o seu raciocínio, sua capacidade de criação. A nossa função de professor é de grande responsabilidade, pois temos que desenvolver no aluno valores humanos indispensáveis para a sua boa formação, tais como: disciplina, respeito, capacidade de trabalho, iniciativa, honestidade, cidadania, ética, moral, conhecimento das diferenças individuais, educação para o convívio social, amor, gratidão, humildade, trabalho em grupo ou equipe, etc.

Conhecimento do Conteúdo Programático

O professor tem de conhecer o que leciona, principalmente e profundamente os conhecimentos científicos básicos da matéria que ministra. Procurar bibliografias atualizadas, ler, estudar. O conhecimento hoje fica ultrapassado em poucos anos. Vários autores dizem que um profissional formado há dois anos e que não frequentou nenhum curso é considerado analfabeto na sua área de conhecimento. Assim, o professor tem que saber além do que ensina em sala de aula.

Preparação das aulas

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Temos que preparar todas as aulas que damos. Não podemos ficar só no livro texto indicado, mas sim procurar várias fontes de um dado conhecimento. O professor não pode chegar na frente dos alunos e dizer: onde paramos? O professor tem que saber em cada sala de aula o conteúdo que está sendo ministrado e em que ponto parou. Ele é quem conhece as classes que dá aula. O professor é um profissional, isto é que professa a sua profissão.

O Professor e a Educação Comportamental – Conduta, Comportamento do Professor

Há um ditado que diz "As palavras comovem e os exemplos arrastam".

Conduta em sala de aula

A apresentação do(a) professor(a) é fundamental. O que é a apresentação do professor? É estar sempre vestido decentemente e condizente com a função que exerce, que é a de dar exemplo para os alunos. Não é estar ricamente vestido, mas decentemente vestido. O uso do avental, (guardapó como dizia antigamente), acho fundamental. O professor não pode, por exemplo, sentar em cima da mesa. Mesa não foi feita para sentar. O professor não pode mascar chicletes durante a aula. Temos que formar nos alunos o domínio da 19  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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vontade. Temos hora para tudo na vida: para comer, para estudar, para mascar chicletes, para dormir, etc. Na vida real não fazemos tudo que queremos, a toda hora. Isto chama-se disciplina. A disciplina na escola existe para que formemos no aluno a capacidade de domínio da vontade. Quem não domina as pequenas ações (desejos) não será capaz de dominar no futuro os seus impulsos animalescos e sexuais. O professor não pode jogar lixo no chão da escola ou da classe. E não é só o professor, toda a comunidade da escola (diretor, supervisor, orientadores secretárias(os), funcionários, serventes, proprietários da cantina da escola, etc.)

toda escola tem que ter conduta formativa. Caso contrário, não estamos formando, mas deformando o aluno. É preciso tratar os alunos com respeito e dentro das normas estabelecidas na escola e na disciplina que leciona. A fixação de normas de conduta dos alunos, devem ser fixadas no primeiro dia de aula. Essas normas têm de ser coerentes com a faixa etária e possíveis de serem cumpridas. Não se fazem normas que não poderão ser cumpridas (por serem rígidas demais). A escola deve ter normas gerais de conduta do aluno e do professor que devem ser seguidas por todos. Essas normas devem ser estudadas pela comunidade da escola para que possam ser cumpridas. É preferível poucas normas, mas que sejam cumpridas. Normas que são fixadas sem o devido estudo e depois tiradas, levam a crer que não tinham objetivos formativos bem delineados e discutidos pela comunidade da escola.

Conduta fora da sala de aula 20  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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O professor não pode ter uma conduta na escola e outra fora dela. A sua conduta pessoal na escola e no shopping tem que ser a mesma: educada, formativa. Não pode fora da escola jogar papel no chão, escarrar na rua, maltratar as pessoas, etc. O nosso comportamento é ditado pela aprendizagem. A aprendizagem prevê mudança de comportamento. Se mudamos nosso comportamento é porque temos a certeza absoluta da importância de tal atitude para a nossa vida, para a comunidade e para nossa família.

Conclusão

O professor tem que saber o porquê da escolha da profissão. Ser professor requer: dedicação, atenção constante aos pontos formativos de nossa conduta, domínio da vontade para dar o exemplo, maturidade emocional, fundamentação pedagógica das atitudes que toma, respeito aos pontos discordantes, não esquecer das diferenças individuais, fazer do trabalho escolar uma unidade de ação e não uma uniformidade, etc. Evidentemente, não é fácil administrar uma comunidade escolar composta de professores, coordenadores, supervisores, pais, funcionários, alunos, cada um com um ponto de vista a respeito do processo pedagógico. Por este motivo, existem nas escolas as semanas de planejamentos. Discute-se, trocam-se ideias, ponderamse atitudes, etc. Todo planejamento deve ser flexível para que possa ser redirecionado, revisto, etc. A nossa responsabilidade na formação do aluno é muito grande. Trabalhamos com crianças, adolescentes, adultos, isto requer uma compreensão clara da pessoa humana e as suas relações e interações com as outras pessoas. Por estes motivos, 21  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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estudamos três ou quatro anos para exercemos a nossa profissão. Além de estudarmos o conteúdo programático de nossa área de conhecimento, estudamos as disciplinas de sociologia, psicologia, didática, etc. que nos fornecem o ferramental necessário para nossa conduta pedagógica. A postura do professor está relacionada com o seu envolvimento no processo educativo dentro e fora da escola. A escola quer formar cidadãos conscientes que sejam agentes de transformação social. É nossa função procurar os meios pedagógicos para que possamos atingir esse objetivo.

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A LIÇÃO DE CASA Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

T

odo o estudante sabe o que é lição de casa. Desde o início da nossa vida escolar nós sempre tivemos a lição de casa para fazer. Meus pais cobravam diariamente a nossa lição de casa e nos ajudavam a solucionar nossas

dificuldades. Será que a lição de casa é importante para o nosso aprimoramento educacional, para nossa aprendizagem? Em todos os ramos de atividades humanas se

“Em todos os ramos de atividades humanas se não houver treinamento, não haverá sucesso”.

não houver treinamento, não haverá sucesso. Notem os esportistas, os músicos, os artistas de circo, de teatro, os profissionais competentes, os jogadores de futebol, etc. Como podemos fixar

um conteúdo dado em sala de aula se não fizermos a lição de casa? Por este motivo os professores passam a lição de casa, para que os alunos aprendam, pois somente com o estudo contínuo é que fixamos a nossa aprendizagem e tiramos nossas dúvidas dos conteúdos que estamos estudando. O trabalho dos pais em ajudar os filhos nas atividades escolares é fundamental. São os pais que reforçam nos filhos a necessidade de fazer a lição, para que realmente aprendam, além de tirar às dúvidas dos ensinamentos recebidos na escola, pois, muitas vezes, os professores com muitos alunos em sala de aula, não conseguem ser eficientes como gostariam, no esclarecimento de dúvidas de todos os alunos. Como um aluno vai aprender a escrever, se não fizer redação e o professor ou os pais não corrigirem seus escritos? Se os pais não obrigarem os filhos a procurar palavras no dicionário, como vão criar o hábito de consultá-lo? Como sempre digo, 23  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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o dicionário é para ficar em um lugar de fácil consulta e não escondido no maleiro do armário embutido, atrás das malas. Ele tem de estar na sala de televisão onde todos possam consultar facilmente, quando leem ou escutam alguma palavra que não sabem o significado. Assim, vão adquirindo o vocabulário tão necessário para exprimirmos as nossas ideias e tenho a certeza, melhorará as nossas redações. Leiam o texto abaixo do Prof. Claudio de Moura Castro, [1] na revista “Veja” de 10/11/2004 p.20: “Pesquisadores americanos foram observar o funcionamento das casas de imigrantes orientais. Verificou-se que os pais, ao voltar para casa, passam a comandar as operações escolares. A mesa da sala transforma-se em área de estudo, à qual todos se sentam, sob seu controle estrito. Os que sabem inglês tentam ajudar os filhos. Os outros – e os analfabetos – apenas vigiam. Os pais não se permitem o luxo de outras atividades e abrem mão da TV. No Japão, é comum as mães estudarem as matérias dos filhos, para que possam ajudá-los em suas tarefas de casa”. (Grifo nosso) Como podemos verificar se os pais não se interessam pela aprendizagem dos filhos, quem irá se interessar? EDUCAR no sentido amplo é uma ação de toda a família, se quisermos que nossos filhos realmente aprendam. Não nos esqueçamos que o conhecimento é a coisa mais importante para deixarmos para os nossos filhos. Conhecimento ninguém rouba, dá à pessoa a capacidade de vencer os obstáculos da vida, com mais facilidade. Este é o motivo pelo qual os pais tanto desejam que seus filhos estudem, mas eles também precisam fazer a sua parte. 24  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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ENSINAR A APRENDER Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

S

abemos que hoje o rápido desenvolvimento científico e tecnológico nos obriga a uma atualização diária de nossos conhecimentos profissionais. O sueco Leif Edvinsson, Diretor - Corporativo de Capital Intelectual da

Skandia AFS, esteve em 1998 no 24º Congresso Nacional de Administração de Recursos Humanos (ConaRH’98) e afirmou: “O conhecimento humano duplica a cada 18 meses no mundo. Para alguém estar atualizado, o ideal seria que investisse cerca de 80% do tempo na sua instrução e desenvolvimento. Como esta prática é irrealizável para a grande maioria - seja por falta de tempo e dinheiro -, seria recomendável que fosse dispensado pelo menos 20% dos dias úteis para novos aprendizados e desenvolvimento de capacidade de inovação”. Afirma ainda: “A beira do outro milênio, surge uma nova teoria de administração empresarial. Estaríamos entrando na era do capital intelectual, na qual o valor real de uma companhia não é mensurado somente pelo seu demonstrativo financeiro, como também pelos ativos não-tangíveis. Isto é, pelo conhecimento, experiência e habilidade de seus funcionários (capital humano) e pelos equipamentos de informática, bancos de dados, patentes, marcas registradas e capacidade organizacional que apoia a produtividade dos empregados (Capital estrutural)”. Pelo texto acima podemos nos conscientizar, que devemos nos manter sempre atualizados com os nossos conhecimentos. Como devemos agir no dia a dia, para nos mantermos atualizados e fixar os conhecimentos adquiridos? Algumas dicas:

Após assistir uma aula ou palestra dispense um tempo para fazer um resumo. Assim fixará o seu conteúdo;

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Procure estudar sozinho ou em dupla;

Não estude ou leia vendo televisão ou ouvindo música;

Escolha uma mesa e cadeira confortável (que você se sinta bem);

Quando estiver lendo algum texto do seu interesse, sublinhe os tópicos mais importantes, faça um resumo. Sublinhe as palavras que você não sabe o significado e procure no dicionário, que deve sempre estar perto de você, para que fique fácil a consulta. Quem não entende uma palavra não entende a frase. Não vá na conversa de ir pelo sentido da frase, porque às vezes você errará redondamente;

Aumentando o seu vocabulário conhecendo o significado de um maior número de palavras, você estará tendo condições de exprimir corretamente a sua ideia quando falar. Assim, você não falará como muita gente que diz: ”eu sei mais não sei falar”, isto é falta de vocabulário para exprimir uma ideia;

Quando estiver vendo televisão, lendo um jornal ou revista e escutar ou ler palavras que não sabe o significado, não tenha preguiça, procure o seu significado;.

O computador - e especificamente a “internet” - é um excelente instrumento para a nossa atualização. Selecione uma relação dos sites e coloque nos “favoritos” e tenha foco no que você deseja se atualizar. Não fique navegando a toa, não divague;

Faça uma pasta com os artigos de revistas científicas, jornais revistas em geral, que você considera relevantes para o seu conhecimento profissional.

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Como você pode verificar não é tão difícil se atualizar, só necessitamos de força de vontade e disciplina na vida diária. Com a acirrada concorrência profissional, pode ter certeza, que tem muitos profissionais jovens que estão agindo corretamente para a consecução de seus objetivos na obtenção e atualização do seu conhecimento. Mude a sua atitude e comece agora.



Participe das enquetes da Fundação LAMF e na sua opinião, qual é a maior dificuldade de ensinar alguém a aprender?

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE MARCO AURÉLIO FERREIRA VIANNA Prof. Marco Aurélio Ferreira Vianna (in memoriam)

Ensinando a Aprender

T

alvez o Paradigma do Aprendizado seja o contexto que está sofrendo o maior impacto neste revolucionário e complexo

início

de

século

XXI.

Conceitos tradicionais têm que ser revistos em profundidade, valores antigos têm que ser fortemente atualizados e mais do que tudo, um novo conjunto de atitudes deve ser adotado. Alguns pontos dentro do Ambiente Estratégico da Educação devem ser ressaltados. Antes e acima de tudo é preciso ter consciência e maturidade para entender que o modelo que ainda existe no cérebro das pessoas, e no qual, portanto, as atitudes da grande maioria se baseia, privilegia o resultado (no caso passar de ano), inferiorizando gravemente o processo de desenvolvimento (no caso o aprender). Mutatis mutandis, Bernardinho o grande Líder do esporte (e, portanto de pessoas) nos ensina que “o gosto e o prazer pelo treinamento tem que ser maior do que o gosto pela vitória”. Desta maneira ele eleva o esforço (custo) ao mesmo patamar do resultado (benefício). O modelo mental do passar de ano é

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levado dos bancos de Escola para as Universidades - e pior ainda para as organizações. Quando assessorava o Presidente de uma das mais renomadas Universidades do Brasil, pedi uma profunda pesquisa sobre as expectativas dos Clientes (alunos) dos cursos do MBA. Repetindo a lógica anterior, aprender se situava em oitava colocação. Currículo (agregar três letras à sua vida profissional), empregabilidade, ganhar mais dinheiro, formar network, motivar-se, receber dicas práticas entre outros tópicos eram muito mais prioritários. Desta maneira, chega-se a uma primeira conclusão. Mesmo que o agente ativo da Educação (o transmissor do conhecimento) se supere na execução de sua missão o agente passivo (o aluno), não quer transformar o que recebe em estoque de conteúdo. Peter Senge, com sérias pesquisas feitas nos Estados Unidos, concluiu que apenas 8% da carga de treinamento nas empresas são aproveitadas com consistência razoável. Em outras palavras, 92% são literalmente jogadas fora.

Assim, uma primeira mudança de paradigma é fundamental. Ao ensinar o conceito é preciso que, também, haja uma transformação na escala da Sabedoria, a saber: Dados, Informação, Cultura, Erudição, Sabedoria.

Assim, uma primeira mudança de paradigma é fundamental. Ao ensinar o conceito é preciso que, também, haja uma transformação na escala da Sabedoria, a saber: Dados, Informação, Cultura, Erudição, Sabedoria. 29  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Saber que o Brasil tem mais ou menos 8000 km de litoral (dados) não tem relevância alguma. Alguma forma de raciocínio e conclusão deve ser atingida. Por exemplo: com 8000 km de orla marítima, o turismo pode ser explorado com grande potencialidade de crescimento (Informação). Indo mais além esta informação deve ser retida (ou pelo menos ser acessível) para que ela se transforme em Cultura, que é a informação assimilada. Evoluindo ainda mais, a Cultura vira Erudição quando consegue interligar fontes diferentes, para com sinergia, criar uma vertente agregada composta. Finalmente, atinge-se a Sabedoria quando com a Erudição consolidada consegue-se criar o novo, construir a inovação. É neste sentido que o aluno, desde o menino tabula rasa até um Ministro de Estado, ou um General do Exército, ou o presidente de uma empresa, devem transformar-se de “agentes passivos” para “agentes ativos” da educação e do treinamento. É aqui que se encaixa o novo (já não tão novo) conceito de Andragogia que significa a Ciência do Ensino Adulto. Este termo é contraposto à Pedagogia que é a Ciência do Ensino para a Criança/Jovem. Na Andragogia o responsável pelo Aprendizado é o aluno e não o professor. Na Era do Conhecimento é necessário esta radical mudança de Atitude. Cada profissional deverá ter em mente que está sob a sua responsabilidade a criação de sua própria Universidade Individual, na qual ele tem papel de fundamental importância atuando como receptor e implantador do conhecimento repassado. Em suma, uma brutal quebra de paradigma. Na ótica do professor e do mestre grandes transformações, também, se fazem necessárias. Eu costumo abrir minhas palestras com a seguinte provocação: “O 30  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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verdadeiro mestre não é o que ensina; o verdadeiro mestre é o que inspira”. Ortega y Gasset vai ainda mais longe: “Quando ensinares alguma coisa ensina também a duvidar”. No mundo de hoje, com algumas exceções em determinados patamares, o professor deixa de ser o banco de ideias para ser o Líder de Vida, fonte de inspiração, exemplo a ser seguido. Eu já perguntei a mais de quinhentas pessoas: “Qual foi o grande mestre de sua vida”. A resposta é praticamente a mesma. “O grande mestre de minha vida não foi aquele/aquela que transmitiu conceitos com excelência; o grande mestre foi o que me inspirou para eu seguir meu próprio caminho, com minhas próprias capacitações”. No mundo de hoje, onde a informação está absolutamente disponibilizada, este tipo de comportamento fica ainda mais importante. Thomas Friedman coloca no seu livro “O Mundo é Plano” que uma criança atualmente entra para a escola com cerca de 5000 horas de televisão. Usando modelos matemáticos sofisticados Stephen Levitt em Freaknomics demonstra cientificamente que a televisão, ao contrário do que muita gente pensa, é altamente positiva para a educação de uma criança antes da idade escolar, desde claro, que sejam escolhidos programas construtivos. É neste ponto que voltamos ao essencial, ao clássico, através do imortal Paulo Freire quando propôs a Pedagogia da Autonomia. Este é o grande papel dos mestres. Inspirar seus alunos a dar grande consistência à sua autonomia, à sua independência cultural. Nenhuma Escola e, portanto, nenhuma Universidade Corporativa conseguirá fazer mais por um aluno do que sua decisão pessoal de se desenvolver, de crescer, de aprender, de adquirir efetivamente conhecimento. Adaptando a ideia seria criada a Andragogia da Autonomia É esta chama que devemos acender dentro de nossos alunos. Ensinar a aprender significa engrandecer as

pessoas no

aumento

de sua autoconfiança e no

seu

autodesenvolvimento. Ensinar a aprender significa sair dos padrões tecnocráticos e evoluir para patamares mais nobres do Humano. Enfim como professor de 31  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Contabilidade, de Anatomia, ou de Física Quântica, o grande papel do mestre é ajudar a criar Seres Humanos Integrais, com total responsabilidade na construção de sua própria Plenitude.

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE MAX GEHRINGER Max Gehringer

Conversa de Macaco

F

az cinco milhões de anos, completados na sexta feira passada, dois macacos estavam conversando em cima de uma árvore. E aí, de repente, um macaco falou para o outro:

– Sabe? Já lá vão sessenta e cinco milhões de anos desde que os dinossauros foram extintos. Você não acha que já é seguro a gente descer da árvore? O outro macaco pensou, pensou, pensou, e finalmente respondeu: – Acho. E os dois desceram da árvore. E, assim que pisaram no chão, um macaco olhou em volta, avaliou a situação e perguntou para o outro: – Você concorda comigo que andar de quatro é atraso de vida? O outro macaco concordou. E, naquele instante, os dois tomaram uma das decisões mais importantes da história da humanidade. Caminhar sobre dois pés, numa posição ereta. E a consequência daquela decisão foi uma herança que a humanidade carrega até hoje. A dor na coluna. Porque, biologicamente, o ser humano foi construído para andar de quatro. E eu tenho certeza que todo mundo conhece um monte de gente por aí que ainda deveria estar andando de quatro. Mas esse não é o nosso tema de hoje.

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Nosso tema de hoje é diferenciação. Pensando bem, de todos os animais, o macaco era um dos que tinha menos possibilidades de vir a dominar o mundo. Os pássaros podiam voar e dominar os ares. Os peixes sabiam nadar e dominar os mares. Em terra, o elefante era muito mais forte, o cavalo era muito mais veloz, e a borboleta era muito mais bonita. E até o rato era muito mais prolífico. Por que, então, no jogo do bicho da evolução, deu macaco? Porque, num momento de lucidez, o macaco percebeu que, sendo mais fraco, só lhe restava uma alternativa: pensar. Raciocinar melhor que os outros animais. E, principalmente, aprender para poder ensinar. Foi só por isso que há cinco milhões de anos, Max Gehringer

dois macacos se diferenciaram da concorrência.

Eles fizeram exatamente o que todos nós temos a obrigação de continuar fazendo todos os dias. Saber um pouco mais do que sabíamos ontem. Para poder ensinar aos que virão amanhã.

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DO PROF. J. R. GRETZ Prof. J. R. Gretz

Quem sabe ensina, quem ensina aprende

Q

uando me perguntam por que sempre uso junto ao meu nome o título de Professor, costumo responder: “É porque esse é o único título que não provoca inveja em ninguém”. Esta frase bem-humorada não deixa de ser

verdade. Mas há outras frases muito lembradas sobre a figura do professor que, embora engraçadas, não trazem uma mensagem positiva para nós que professamos essa atividade. Por exemplo: “Hei de vencer, mesmo sendo professor”. É uma pena que a autoestima de grande parte dos professores não esteja muito boa, mas para vencer precisamos dar valor ao que fazemos. Outra dessas frases, que acho bastante negativa, é: “Quem sabe, sabe. Quem não sabe, ensina”. Discordo totalmente. Só se completássemos a frase assim: “Quem sabe, sabe ensinar. Quem não sabe, ensina mal”. Prefiro um verso inspiradíssimo da poeta goiana Cora Coralina: "Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". Isto porque ensinar é uma ação generosa. É compartilhar algo que você tem, dividir com as outras pessoas o que você aprendeu. Por outro lado, aprender é um gesto de humildade, abertura para o novo. A generosidade do ensinar e a humildade do aprender são atitudes que fazem a pessoa mais feliz.

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Cursei Faculdade de História e sempre fui fascinado pelo estudo das civilizações. Quando me aprofundei na história dos antigos hebreus, vários costumes daquele povo me impressionaram bastante, inclusive um detalhe que é pouco citado, mas é de extrema importância. Pela lei mosaica, os ricos eram instruídos a deixar para os pobres as extremidades de seus campos de cereais ou de suas vinhas. Para merecerem a bênção de Deus, não colhiam nas áreas próximas aos limites de seus campos, que assim ficavam para os necessitados. Quanto maiores fossem essas extremidades, mais abençoados eles seriam. Esse costume está descrito na Bíblia (Levítico, 19:9-10), da seguinte forma: “Quando fizeres a colheita em tua terra, não ceifarás totalmente os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas. Não recolhas também os cachos de uvas caídos da tua vinha; deixe-os para o pobre e o estrangeiro”. Não é preciso ser lavrador para adotar essa atitude em nossa vida. Em muitos momentos nós temos a oportunidade de deixar extremidades daquilo que temos, para as pessoas de nosso convívio. Quando a gente ensina, está doando ao outro muito mais do que as extremidades. O ensino verdadeiro não tem limites, porque é uma interação completa em que os papéis do mestre e do discípulo se misturam. “Se alguém te forçar a percorrer uma milha, anda com ele duas”. Gosto muito de citar essa frase, de Mateus, em minhas palestras e livros, porque entendo que andar a segunda milha é fazer um pouco mais do que o normal. É a condição para uma caminhada de sucesso e para o nosso desenvolvimento como seres humanos.

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No relacionamento com as pessoas de nosso convívio profissional ou pessoal, precisamos também dar alguns passos a mais. Assim como as diversas formas de ajudar, ou as palavras de elogio, de conforto, de estímulo e entusiasmo, as orientações positivas, as oportunidades de progresso, o ofício de ensinar exige de nós muitas vezes um esforço maior do que o normal. E vale a pena andar a segunda milha. Quanto maiores forem as suas extremidades, maior será a distância entre uma ponta e outra, portanto maior será o meio, que é a sua parte. Esta é a chave daquele costume dos antigos hebreus. Assim fazendo você perceberá, em sua própria vida, que está colocando em prática um segredo que nos conduz à prosperidade e nos dá forças para a superação de limites. Ensinar, aprender e viver são verbos inseparáveis.

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE DULCE MAGALHÃES Dulce Magalhães

I

magine que uma pessoa viveu vinte anos em uma mesma casa. Conhecia cada parte da casa, as paredes, os

corredores, as portas, os ângulos. Um dia essa pessoa se muda para uma nova casa. A questão é: de que vale o profundo conhecimento que a pessoa tinha da casa antiga, na nova casa? A resposta a essa pergunta é a essência do valor

da

aprendizagem.

Todas

as

experiências que a pessoa viveu na casa antiga, serão importantes para determinar o nível de sucesso que a pessoa pode atingir a partir daquele momento de sua vida, entretanto o domínio da estrutura da casa não tem valor nenhum no novo ambiente. Isso porque o conhecimento de estruturas, é o domínio de métodos. Em ambientes de mudança, dominar métodos não representa nenhuma vantagem competitiva. Quando estamos atuando em novos ambientes vale menos os métodos que você domina, e vale mais a velocidade com que você aprende novos métodos. Portanto, podemos afirmar que a capacidade de aprender é a verdadeira vantagem competitiva. Só que precisamos aprender a aprender.

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“Em ambientes de mudança vale mais a velocidade com que você aprende”

Primeiro temos que compreender que aprendizagem é a capacidade de transformar informação em conhecimento. Informação é tudo que você sabe, mas isso não modifica sua vida. Há uma quantidade enorme de informação que circula diariamente,

às quais você tem

acesso,

mas que

não

modificam

seu

comportamento. Já o conhecimento é tudo que você sabe e faz. E isto modifica totalmente seus resultados de vida. Todos somos capazes de gerar aprendizagem, contudo cada um de nós tem um estilo diferente para apreender a informação e transformá-la em conhecimento. Conhecer a si mesmo é, portanto, o passo inicial para desenvolver uma ampla capacidade de aprendizagem. Ao descobrir seu estilo de aprendizagem, você pode encontrar a “chave” que aciona sua capacidade de gerar mais e melhores conhecimentos. Os adultos aprendem de modo diverso de como as crianças aprendem. Desta forma é fundamental que os métodos aplicados também sejam diferentes. Não se pode reproduzir o ambiente escolar da infância para educar adultos. Aliás, existem pessoas que tem dificuldades de aprendizagem por terem vivido experiências frustrantes na escola.

“Saber e não fazer é o mesmo que não saber”

A aprendizagem de adultos é um tema tão específico e importante, que há uma 39  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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ciência exclusivamente dedicada ao assunto, a Andragogia (do grego: andros adulto e gogos – educar). Uma das premissas dessa especialidade é entender a motivação das pessoas por trás da aprendizagem. Todo adulto ao iniciar um processo de aprendizagem, já trás consigo uma série de conceitos, crenças e informações de vida, que vão servir de filtro para a elaboração de novos conhecimentos. Isso porque o verdadeiro conhecimento deve gerar um novo comportamento, modificar hábitos, rever métodos. Essa é a razão básica de se aprender algo novo. A andragogia trata muito do entendimento de conceitos e valores. Seu foco é a compreensão do Porque as coisas acontecem, para haver o domínio do Como Fazer, ou seja, para gerar o “Know How”. Na educação de adultos não se tem professores, mas facilitadores, que são pessoas que viabilizam o acesso do indivíduo à aprendizagem. Funcionam como construtores de pontes entre a informação e o conhecimento. A verdadeira prova do saber é a aplicação desse conhecimento. E quanto menor o tempo entre a aprendizagem e a ação, maior será a fixação da informação e a geração do conhecimento. E a competência que é o domínio de determinada atividade, só pode ser alcançada através da aprendizagem.

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INVENTÁRIO DE ESTILOS DE APRENDIZAGEM*

Este inventário tem por finalidade identificar as formas pelas quais se consegue assimilar novas aprendizagens. As diferentes características descritas no inventário são igualmente boas. O objetivo é o de descrever como você aprende, não avaliar sua capacidade de aprendizagem. (Publicado originalmente no Harvard Business Review, editado pela Harvard Business School)

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INSTRUÇÕES Há nove conjuntos de quatro palavras. Para cada conjunto (em linha –a coluna é apenas para a soma) dê um conceito de 01 a 04, sendo que 04 representa a palavra que melhor caracteriza seu estilo de aprendizagem; 03 a palavra que logo em seguida melhor caracteriza seu estilo de aprendizagem; 02 a palavra próxima mais característica e 01 a palavra que é menos característica de sua performance como aprendiz. Nunca repita um número na mesma linha. COLUNA A

COLUNA B

COLUNA C

COLUNA D

01._ discriminador

__ experimentador ___ envolvido

___ prático

02.___ receptivo

___ relevante

___ analítico

___ imparcial

03.___ sentimento

___ observação

___ pensamento

___ ação

04.___ aceitador

___ assume riscos

___ avaliador

___ consciente

05.___ intuitivo

___ produtivo

___ lógico

___ questionador

06.___ abstrato

___ observador

___ concreto

___ ativo

07._orientado para ___ reflexivo o presente 08.___ experiência

___ observação ___ reservado

09.___intenso

__orientado para o ___ pragmático futuro

__ experimentação

__ conceitualização ___ responsável ___ racional

SOME OS PONTOS POR COLUNA

EC ________

OR ________

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CA ________

EA ________


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Você certamente tem mais de um estilo de aprendizagem, o importante aqui é estabelecer qual é o estilo predominante, a partir daí sua capacidade para aprender novas habilidades pode aumentar muito, desde que você utilize a estratégia mais correta, dependendo de suas características de aprendizagem.

EC – Experiência Concreta: você aprende melhor ao viver a situação. Sua aprendizagem deriva mais da experiência.

OR – Observação Reflexiva: você aprende melhor pela observação dos resultados. Sua aprendizagem deriva mais da reflexão sobre o tema.

CA – Conceituação Abstrata: você aprende melhor ao entender a teoria por trás do conhecimento, através de leitura ou apresentação. Sua aprendizagem deriva mais da compreensão intelectual.

EA – Experiência Ativa: você aprende melhor ao dominar os passos do processo. Sua aprendizagem deriva mais da participação em tarefas do estudo em grupo.

O QUE PODE MUDAR NOSSA VIDA

Tem certos fatos que ocorrem em nossa vida, que nos fazem pegar um rumo completamente diferente. Pode ser uma grande perda, uma conquista importante, um acidente, a leitura de um livro impactante, uma mudança, enfim, cada um de nós pode lembrar de fatos marcantes ao longo da vida.

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Entre as muitas circunstâncias que deixaram marcas visíveis na trajetória que percorremos, sempre tem uma ou duas que foram vitais para determinar a pessoa que somos hoje e as aspirações ou frustrações que carregamos. Eu tenho um fato assim, que merece destaque, no baú de lembranças que a gente carrega vida afora. Quero compartilhar esse fato com o leitor, porque acredito que pode abrir oportunidades novas, tanto quanto abriu para mim mesma. Fiz um mestrado em Londres e tive o privilégio de conviver com professores excelentes. Entretanto um, em especial, estava verdadeiramente imbuído pela ideia de nos transformar, a mim e aos meus colegas, em pessoas melhores. Já no primeiro dia de aula, vestindo roupas estranhas, despenteado e com cara de cientista maluco, daqueles que a gente vê em antigos seriados da televisão, ele chegou ao anfiteatro onde tínhamos nossas aulas e nos provocou com a ideia de nos ensinar o segredo do sucesso. Fez uma longa e cômica apologia sobre como esse segredo poderia nos trazer o poder necessário para que alcançássemos todos os nossos objetivos e realizássemos todos os nossos sonhos. Naquela altura do campeonato, com aquela figura estranha à nossa frente, falando entusiasticamente sobre o segredo do sucesso, já estávamos todos curiosos e fascinados. O silêncio era total, a atenção concentrada, esperando uma grande revelação. Quando o professor percebeu que tinha nosso total envolvimento, parou bruscamente de falar e escreveu, com letras grandes no quadro negro, a letra “T”. Aí ele se voltou para a turma, tentando perceber se alguém já tinha adivinhado qual era o segredo. Só viu nosso olhar de confusão, nossa curiosidade aguçada e um certo respeito desconfiado que todo aluno tem por seu professor, ou seja, até ali continuávamos na mesma. Então, mais animado do que nunca, com ar de garoto aprontando 44  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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alguma peça, o professor escreveu “H”. Parou o giz no ar em suspense, e a turma, já acompanhando o ritmo, prendeu junto a respiração. E ele completou com as letras “INK”. THINK, era isso, Pensar, na visão de nosso professor, o segredo do sucesso. Para o bem da verdade, devo confessar aqui que na hora fiquei um pouco decepcionada. Então era só isso?! Pensar, simples assim?! Entretanto o professor não fez nada de simples, ele estava, de fato, escancarando uma enorme porta que dava acesso a tudo que se deseja experimentar e conquistar na vida. É claro que naquela hora eu ainda não sabia disso, assim como meus colegas. O olhar que trocamos foi de constrangimento por termos dado trela para um verdadeiro maluco. Mas o professor não se deu por vencido e imediatamente começou a nos ensinar a pensar. Foi uma disciplina inteira sobre o assunto, e eu que pensava que sabia pensar, descobri que não sabia. De um modo geral a gente acha que pensa, pois pensamentos cruzam a nossa mente o tempo todo, mas o professor nos mostrou que pensar é uma ação consciente, que visa perceber a realidade ao nosso redor, refletir sobre ela, gerando atitudes e comportamentos novos, de modo a afetar a realidade, transformando-a. Pensar é, portanto, mudar a realidade. Se não estamos mudando nossa vida todos os dias, alterando hábitos, alçando novos resultados, superando desafios, enfim, transformando nossa rotina, é porque não estamos pensando. Porque pensar tem que gerar mudança, do contrário não é pensar. E esse é, verdadeiramente, o segredo do sucesso. Uma das coisas mais importantes que aprendi sobre o Pensar, é que essa é a capacidade onde está instalado o livre arbítrio. Onde podemos escolher quem queremos ser e o que queremos viver. Pensar é uma arte sofisticada e uma tecnologia avançada ao alcance de todos nós. Arte porque cada um de nós vai 45  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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moldar sua vida a partir dessa mesma matéria prima, o pensamento, e cada um vai fazer uma obra diferente, única, que leva a nossa assinatura. E é uma tecnologia porque oferece recursos técnicos primorosos, aperfeiçoados ao longo de milhões de anos de evolução. Arte matriz e tecnologia de ponta juntos são poderosos demais para serem subaproveitados. São milhões de neurônios e uma infinidade de combinações possíveis, para que possamos apenas decidir que roupa vamos vestir hoje, ou o que teremos para o jantar. É preciso ir além, usar mais nossos recursos pessoais e criar a vida que almejamos, dando respostas, através de um pensar estratégico, aos desafios que temos que superar. Isso foi o que Mr. Jones nos ensinou. Bem mais do que uma informação acadêmica, foi uma estratégia para a vida. Isso só grandes professores estão empenhados em fazer. Thanks Mr. Jones, for everything, or better, everythink.

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE EUGÊNIO MUSSAK Eugênio Mussak

A

quele rapaz era dotado de uma perspicácia acima da média dos jovens de sua

idade. Certo dia virou-se para sua mãe,

que

tinha

a

profissão

de

parteira e disse: “Mãe, sabe o que eu percebi? Que não é você que faz o parto.

Você

apenas

uma

mãozinha, ajuda, facilita, mas quem dá à luz a criança é a própria natureza”. Não sabemos qual foi a reação da mãe, ao ser confrontada com tal realidade – afinal, ela sempre considerou que, sem ela, o parto não aconteceria –, e nem sequer sabemos se foi exatamente assim que o fato se deu. Mas não importa; a história faz todo sentido, especialmente para os educadores. O nome do rapaz era Sócrates, o primeiro dos grandes educadores, que, fazendo analogia entre um nascimento e o aprendizado, cunhou a ideia da maiêutica, que, em grego, significa literalmente “a arte de dar à luz”. Segundo ele, a função do professor equivale à de um parteiro – facilitar o processo da aprendizagem. O conhecimento nasce por conta própria quando chega o momento. O aluno constrói o conhecimento em sua cabeça a partir das informações que o professor lhe disponibiliza, confrontando tais saberes com sua realidade pessoal. Quanto maior a aproximação entre o novo saber e a vida do aprendiz, maior a garantia da aprendizagem.

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Passados 25 séculos não temos como contradizer Sócrates. Aliás, cada vez mais concluímos que ele tinha razão. O educador americano Bob Gowin, por exemplo, avaliza a maiêutica quando diz que “educação é um fenômeno social em que alguém, chamado professor, compartilha significados com alguém, chamado aluno”. Repare, ele não disse que o professor compartilha conhecimentos, e sim significados. Bingo! A função do professor não é a de passar conteúdos programáticos e sim a de criar os espaços de curiosidade a serem preenchidos pelos conhecimentos construídos. Eu comecei minha carreira dando aulas de biologia lá no início da década de 1970. E foi numa aula sobre peixes que eu recebi um grande ensinamento, diretamente de um aluno questionador, daqueles que sentam bem na frente. Depois de explicar as principais diferenças entre os peixes ósseos e os cartilaginosos, terminei dizendo: - E outra diferença muito importante é que os peixes ósseos excretam amônia, enquanto os cartilaginosos excretam ureia. Nunca se esqueçam desse detalhe. O que aconteceu em seguida marcou minha carreira de professor. O tal aluno levantou a mão, respeitoso, mas com um estranho sorriso irônico, e disse: - Professor, devo lhe dizer que essa informação mudou minha vida para sempre. Aliás, não sei como consegui viver até agora sem saber a diferença da composição química da urina da truta e do tubarão. É claro que a reação da turma foi imediata, e eu nem sequer pude me irritar com as risadas nem com o comentário. Ele era irônico, sim, mas inteligente e cheio de razão, pois afinal, o que interessa isso para uma pessoa, se ela não for um zoólogo ictiologista? Qual o papel de tal informação para melhorar a qualidade da vida de 48  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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quem quer que seja, a não ser, é claro, garantir sua nota na prova de biologia? Nenhuma. Não tem significado prático. O assunto assim apresentado o aluno não aprende, decora. E depois da prova esquece. Comprometimento zero com o assunto em questão. Após esse traumático – mas pedagógico – acontecimento, passei a me interessar menos pela matéria, a parte simples; e mais pelo ser humano (a quem chamam aluno) sentado em minha frente, este, a parte complexa do processo de aprendizagem. Transmitir conteúdos é o que se convencionou chamar de ensinar. Não é. Ensinar é fertilizar a mente do aluno com o adubo da curiosidade e do significado, para então ali depositar a semente do conhecimento. Educadores, eduquem. Não ensinem matérias. Ensinem a aprender – essa é a nobre arte da educação. Sócrates tinha razão. Somos parteiros, e não parturientes. Não damos à luz, apenas mostramos onde ela está.

Ensinar é fertilizar a mente do aluno com o adubo da curiosidade e do significado, para então ali depositar a semente do conhecimento

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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE REINALDO POLITO Reinaldo Polito

Q

uando reflito sobre a minha trajetória

profissional

sempre me deparo com a

influência

dos

professores

que

passaram pela minha vida. Alguns logo cedo, como a minha primeira e inesquecível

professora

do

curso

primário, outros mais recentemente, como o querido Professor Oswaldo Melantonio, inspirador da atividade que

abracei.

Estes

depoimentos

contam um pouco da característica, do estilo e do jeito de ensinar de alguns deles.

A personalidade inspiradora de Julieta Esther Amaral

O Grupo Escolar João Manoel do Amaral, no bairro da Fonte Luminosa em Araraquara, era frequentado por alunos, em sua grande maioria, de classe econômica e social remediada para baixo. De famílias humildes, as crianças não tinham referência do que significava a vida poucos metros além do bairro onde moravam. Só me lembro de dois que tinham pais engenheiros, os outros eram 50  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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filhos de lavradores, leiteiros, ferroviários, motoristas, pedreiros. Os mais aquinhoados vinham das casas da redondeza do grupo escolar, a Vila Ferroviária, que até hoje continua firme preservando uma bonita tradição com a permanência de muitos dos seus antigos moradores. A escola possuía salas de alvenaria no prédio central, localizado logo após o portão de entrada, e outras, mais precárias, provisórias, na parte do fundo. Se algum psicólogo, especializado em análise comportamental, fizesse um estudo das probabilidades do futuro profissional dessa garotada, com certeza os prognósticos seriam desesperadores. Mas, se as condições dessas crianças e de suas famílias eram assim tão desalentadoras, como muitas conseguiram se destacar e se projetar nas atividades que abraçaram? A resposta é simples e direta - tiveram a sorte de contar com professoras excepcionais. Todas eram bem formadas, inteligentes, de boa estrutura familiar, muito estudiosas e profissionais competentes. Além de ensinar as matérias escolares, eram também responsáveis pela formação da personalidade daqueles alunos, que um dia precisariam sair de casa para enfrentar uma vida muito diferente da que estavam acostumados. Assim, rapidinho, eu me lembro do nome de algumas dessas heroínas: Rita, Aparecida, Vera, Dorvalina, Terezinha, Elizabethe. Uma dessas professoras, entretanto, se sobressaia pela personalidade forte e inspiradora, Julieta Esther Amaral. Chegou a ocupar a direção da escola pela naturalidade com que exercia a liderança e por causa de suas iniciativas e capacidade de realização. Quando começava a falar todos se calavam quase que em reverência, diante do poder da sua comunicação. Impunha suas ideias por uma inabalável segurança, ao mesmo tempo em que conquistava por sua meiguice e bondade. Era um prazer ouvi-la. Sua voz sonora, forte, bem timbrada, preenchia todo o ambiente. Articulava as palavras com facilidade e construía as frases com perfeição. Os outros professores a admiravam e diziam que ela era o próprio exemplo do que ensinava, pois conjugava os verbos e fazia as concordâncias com tanta perfeição que seria possível transcrever o que dizia sem nenhuma revisão. 51  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Com seus olhos penetrantes olhava um a um e mantinha a atenção de todos. Era sempre elegante. Bonita, alta, com postura correta, gesticulação graciosa, nunca se descuidava. Sua mensagem sempre tinha sentido e era coerente. Falava com as crianças ou com os outros professores sempre com a mesma consideração. Nós nos sentíamos importantes e respeitados pela maneira como éramos tratados. Falava de um futuro que não conhecíamos, nem que imaginávamos existir. Era eloquente quando mostrava que só poderíamos pretender um futuro melhor se nos dedicássemos ao aprendizado. E sua disposição para ensinar era tamanha que todos queríamos aprender. Repreendia com severidade quem não estudava e se mostrava triste quando alguém não conseguia aprender, como se ela própria estivesse fracassando. Vibrava e comemorava como se fosse uma criança com a conquista dos seus alunos e, de longe, acompanhava a trajetória de cada um. Certo dia, quando eu já não era mais seu aluno, me viu com torcicolo. Segurou meu braço e me levou até sua sala - em pouco tempo com alguns puxões e algumas torcidas já tinha posto tudo no lugar. Não sei o que teria sido da minha vida e de muitos de meus colegas se não tivéssemos a felicidade de encontrá-la. Todos os seus alunos, independentemente da atividade que abraçaram e do rumo que deram a sua vida, devem muito das suas conquistas a essa mulher que, mais do que uma professora, foi a grande inspiradora de um futuro diferente, melhor e mais feliz para todos nós.

A pontaria do Professor Ulisses Ribeiro

Matemática sempre foi, para a maioria dos estudantes, matéria para paixão ou sacrifício. Talvez tenha sido a responsável pelos melhores engenheiros e advogados do país. Alguns abraçaram a engenharia por serem muito apegados aos 52  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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números. Outros se dedicaram à advocacia por detestarem tanto os cálculos. Modificam essa estatística, entretanto, os que tiveram a sorte de ser alunos do Professor Ulisses Ribeiro. Sua maneira própria e alegre de tratar os alunos envolvia e cativava a todos. Em suas aulas a matemática adquiria sentido, objetivo, razão de ser. Com ele era muito fácil entender e gostar da matéria. Quando, por exemplo, aquele professor magro, gentil e sempre sorridente percebia um aluno desatento, punha para funcionar uma de suas inigualáveis habilidades para trazê-lo de volta à realidade. O Mestre andava o tempo todo com o bolso do jaleco cheio de pedacinhos de giz e tinha uma pontaria impressionante. Sem que o aluno percebesse, independentemente da distância, atirava o pedaço de giz, como se joga uma bolinha de gude, e acertava a testa do distraído. Todos se divertiam muito com aquele seu gesto característico e ninguém se sentia agredido ou magoado. Hoje, quando vejo pessoas perdendo a paciência e se irritando com ouvintes que conversam ou ficam desatentos, lembro-me com saudade da competente comunicação do antigo professor, que fez história nas salas de aula das escolas de Araraquara. Imagino sua utilidade para ensinar com seu exemplo, mostrando como conquistar e manter com alegria e simplicidade a atenção de uma plateia. Como eu era amigo de seu filho, também Ulisses, hoje respeitado médico anestesista em Araras, de vez em quando ia até sua casa estudar para as provas de matemática. Como o Professor sabia que no fundo eu estava atrás de alguma dica, aparecia com seu sorriso maroto e relacionava todos os exercícios do livro do Oswaldo Sangiorge dizendo que o exame se basearia naquelas questões. Lógico que se fizéssemos, como na verdade fazíamos, todos os exercícios, o aprendizado estaria garantido. Mais uma aula que procuro sempre seguir, pois falar em público é sempre uma prova, e saber tudo o que precisamos transmitir dá confiança e melhores chances de aprovação. 53  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Ulisses Ribeiro foi um grande professor. Além da matemática, ensinou, com seu jeito de ser, como cativar e manter a atenção dos ouvintes de maneira alegre e gentil e foi um exemplo que influenciou muitas gerações araraquarenses.

Um jeito diferente e muito sábio de ensinar

Quero falar de dois professores que fizeram história nas salas de aula de Araraquara – Machadão e Pezza. O primeiro lecionava português, o último ensinava matemática. O Professor Machadão (no aumentativo para se diferenciar de um outro professor chamado Machadinho, que perambulava por escolas da cidade ministrando entre outras matérias também aulas de português), quando precisava reconquistar a atenção dos alunos ou dar uma boa agitada na aula contava histórias sobre a muquiranice do professor Pezza. Era uma festa. A garotada vibrava quando ele revelava que o Pezza era tão sovina que desligava o televisor no momento em que bola saia pela lateral, e só voltava a ligar depois que entrava em jogo novamente, com o intuito de economizar energia. Ou que ele tomava comprimido amarrado num barbantinho e puxava de volta depois de ter aliviado a dor de cabeça, para reutilizá-lo em outra oportunidade. Se estivesse chegando ao final da aula e o Machadão não tomava a iniciativa de contar histórias do pãodurismo do Pezza, os alunos não deixavam passar, e perguntavam se ele não tinha alguma novidade do professor de matemática. E o mestre não frustrava a galera, sempre tinha uma historinha na manga para alegrar a aula. Já com o Professor Pezza ninguém deixava de prestar atenção na aula. Assim que notava um aluno alheio, desligado da matéria, usava sua tática característica: psiu, psiu, uma arguiçãozinha para o senhor. E coitado daquele que não soubesse as 54  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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respostas! A avaliação do mestre vinha como se fosse uma sentença capital: para aprender a prestar atenção, hoje o senhor vai ficar com zero de nota. Só havia uma forma de se vingar – na próxima aula do Machadão, pedir que ele contasse mais uma boa história do “carrasco”. Como, por exemplo, aquela em que o Pezza havia comprado duas ratoeiras para pôr no bolso, ficando assim impedido de gastar qualquer centavo. Cada um com seu estilo, esses dois queridíssimos professores educaram e formaram muitas gerações de araraquarenses que hoje, com certeza, assim como eu, agradecem por terem sido seus alunos.

Tempo de aprender

Se não fosse o dono da bola, Fidel não participaria do time da nossa rua em Araraquara. Sempre que se aproximava alguém chegado numa verborragia, meu amigo Edélcio Margonar, um tremendo gozador, se voltava de costas, disfarçava olhando para cima e sussurrava entre os dentes: cuidado que esse é perigoso. A brincadeira pegou e se transformou numa espécie de código – era só aparecer um falador que alguém do grupo comentava: esse é perigoso. Hoje, distante desses amigos de infância, não tenho mais com quem usar o código de alerta, mas, assim que vislumbro um tagarela me lembro da reação da garotada e falo com meus pensamentos: ah, esse lá na minha rua ficaria na regra três! Entretanto, nada como a vida e os bons professores para nos mostrar um novo caminho a percorrer. Há poucos dias levei Oswaldo Melantonio, o melhor e mais importante professor que conheci em toda a vida, para conhecer um querido amigo, outro Osvaldo, Osvaldo Marchesi, um gênio da publicidade. Chegamos para almoçar por volta de meio dia e, por incrível que pareça, ele conseguiu de 55  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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maneira simpática e envolvente prender nossa atenção conversando e contando histórias cativantes e arrancando gostosas risadas de todos por mais de seis horas. Assim que chegou, em poucos minutos, com a perspicácia dos seus 80 anos, ele já havia descoberto quais os assuntos que interessavam a cada um e, com muita habilidade, desenvolveu todos seus temas prediletos voltados para o gosto dos ouvintes. Quando, por exemplo, falava das personagens da história brasileira, voltava-se para o meu amigo e chamava sua atenção para os sentimentos de cada uma delas, pois esse tipo de comentário era o que motivava o anfitrião. O mais curioso é que durante aquele encontro ele praticamente falou sozinho e, no final, todos, sem exceção, comentaram que tinha sido uma das conversas mais agradáveis de que participaram. Que aula! Se associarmos nossos temas ao interesse e ao conhecimento dos ouvintes, especialmente nas conversas sociais, teremos o tempo todo pessoas interessadas em nos ouvir e, mesmo que viéssemos a frequentar a turminha do Edélcio Margonar, não correríamos o risco de ser rotulados de perigosos. Obrigado professor Oswaldo Melantonio por mais essa extraordinária aula de comunicação. Daqui para frente, além de usar esses ensinamentos em minhas conversas, também terei mais uma aula prontinha para os novos alunos. Aliás, sem demora, já comecei por este texto.

Acumulando centímetros de experiência

Abdalla foi um profeta dos novos tempos. Sua melhor aula como professor de microeconomia

não

teve

56  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br

nada

a

ver

diretamente

com

os

conceitos


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microeconômicos. Ele passou toda primeira aula do curso explicando porque ninguém deveria trabalhar mais de três anos numa mesma empresa. Sua filosofia era bastante simples: se você trabalhar três anos numa empresa vai aprender dez centímetros, se ficar mais três anos vai passar de dez para doze. Mudando de empresa, com mais três anos você vai aprender mais dez, isto é, oito a mais do que se tivesse permanecido na primeira. Houve uma época em que trabalhar muito tempo numa empresa era um tremendo orgulho para o empregado. Como professor peguei o rabinho desse momento, convivendo com alguns poucos remanescentes da fase pré-FGTS. Eu me lembro que nessa época durante os cursos de expressão verbal in company que ministrava, pedia que todos se apresentassem, e o tempo de casa parece que fazia parte do nome: meu nome é José Carlos da Silva, estou na companhia há 25 anos e ocupo a função de gerente financeiro. Quando alguém dizia que estava, por exemplo, trabalhando na firma só há 12 anos, era olhado de cima para baixo, como se os outros quisessem dizer – esse aí ainda nem tirou as fraldas, tem longa estrada pela frente e muito para aprender. Era uma história com começo, meio e fim arrumava um emprego, permanecia fiel a mesma empresa até se aposentar, recebia um belíssimo relógio de ouro e ia viver seus últimos dias passeando na pracinha. Está certo que a ordem hoje é estar sempre pronto para mudança, mas alguns levaram essa regra ao pé da letra, caíram no exagero e nem chegam a esquentar a cadeira. Há pouco tempo precisei contratar uma nova funcionária e analisei cuidadosamente o currículo de uma moça indicada por um conhecido. Sua trajetória profissional me deixou espantado – três meses numa empresa, cinco na seguinte, dois na última. O maior tempo de permanência foi de nove meses. Refleti bastante e me lembrei do Abdalla, imaginando o que ele diria diante de uma situação extrema como essa. Se não estou ficando maluco, me pareceu ter ouvido 57  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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um debochado sussurro do inesquecível mestre: somando tudo não chega a dois centímetros, Polito.

58  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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ENSINAR A APRENDER – UMA REFLEXÃO DE CLÓVIS TAVARES Clóvis Tavares

R

eciclar é a palavra mágica que motiva a humanidade nos dias de hoje, mais do

que

simplesmente

manter

o

planeta vivo e autossustentável, reciclar é um estilo de vida e ao mesmo tempo uma cultura que transformou o consumismo incontrolável em um ato consciente. Sempre me pergunto como podemos reciclar as coisas... para reciclar papel... eu pico papel. Para reciclar plástico... eu pico plástico. Para reciclar madeira... eu pico madeira... Para reciclar pessoas... tem que doer... incomodar. É ai que entra a arte do palestrante, do orador, que através de palavras, gestos e exemplos de vida reeduca os espectadores, ensinando-os a aprender, ou melhor, reaprender. A metamorfose do indivíduo, faz parte do nosso cotidiano e rever os conceitos, os pré-conceitos e os medos é um ato de sobrevivência. Para ensinar a aprender devemos acima de tudo... APRENDER A ENSINAR, conhecer a linguagem, a cultura e os sonhos dos nossos alunos define a eficiência do aprendizado. Em minhas palestras uso a mágica como um catalisador dos conceitos e palavras, esta fórmula que desenvolvi facilita o aprender porque desperta o riso e a curiosidade. Em resumo, ensinar a aprender é despertar nas pessoas o desejo incontrolável do novo. Comova-se, emocione-se, mostre de todas as formas possíveis sua 59  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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irretocável alegria de ensinar, a intensidade emocional do seu ensinar é que faz o aluno investir o que ele tem de mais precioso na vida... o seu tempo.

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A INTUIÇÃO COMO PARTE ATIVA NO PROCESSO DE INOVAÇÃO Leila Navarro

A

intuição sempre será parte do processo inovador. Ela pode ter vários nomes, e ser chamada de ideia, inspiração, faísca, brilho, dentre outros. São substantivos que deixam subentendidos que o processo inovador é dotado de qualidade e energia. Ele é uma parte natural de nossas vidas, e pode ocorrer com qualquer pessoa em diferentes situações. O processo intuitivo é a habilidade que temos de saber

algo

diretamente,

sem

necessariamente,

pensarmos analiticamente. Acredito que a intuição é uma aptidão pouco reconhecida. Ela não é ativada, estimulada ou valorizada, mas sim desperdiçada. Pois, nossa cultura é, basicamente, formada de inúmeras informações que requerem análises, que por sua vez, devem ser medidas e verificadas constantemente, abdicando, assim, da intuição. O pensamento analítico constata o que já é sabido, como dados e estatísticas baseados no passado. No entanto, o pensamento intuitivo baseia-se em pouquíssimas informações analíticas e relaciona-se mais com tendências futuras, posturas positivas e acessa outros fatores, como se “visse uma luz no final do túnel”. Você deve se lembrar de algumas vezes em sua vida, que sabia algo, mas não sabia o porquê deste saber. Não sabia a lógica disto. Você apenas queria seguir aquele caminho, pois tinha a ciência de que daria certo, porém não conseguia explicar o porquê da sua escolha. Isto ocorre porque você não possui dados suficientes arquivados em seu conhecimento analítico para justificar esse tipo de atitude. Isto 61  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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é intuição.

Ao parar para analisar, você encontrará diversas situações em sua vida, em que soluções, aparentemente impensadas, resolveram problemas pensados em momentos completamente inesperados. Foi a intuição que trabalhou por você neste momento. Infelizmente, passamos muitos anos de nossas vidas aprendendo a pensar analiticamente e pouco tempo aprendendo a pensar intuitivamente. Porém, a intuição pode ser treinada e desenvolvida, e, consequentemente, incorporada ao processo inovador.

Qualidades de um inovador intuitivo

São qualidades que quanto mais você investir a desenvolvê-las, mais inovador você se tornará e, com certeza, garantirá mais resultados em suas metas profissionais e pessoais. São elas:

Desafiador Como desenvolver: seja insatisfeito e questionador. Fuja da rotina e procure buscar sempre novas hipóteses, mas sem ser uma pessoa neurótica.

Curioso 62  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Como desenvolver: explore ativamente o ambiente o qual se encontra. Investigue novas possibilidades e busque sanar o medo e as dúvidas. Sempre faça perguntas às pessoas que encontra, ao invés de apenas dar respostas (já ir falando da sua vida). Pois, as pessoas sempre nos ensinam algo completamente novo, e podem dar respostas as suas dúvidas, sem se darem conta disso.

Automotivado Como desenvolver: trate as suas necessidades internas. Empreenda em novos projetos, independentemente da recompensa que possa vir por seu esforço.

Visionário Como desenvolver: acreditar que o impossível é o impensável já é um bom começo. Mantenha sempre uma orientação futura, e procure ter uma imaginação bem fértil. Honre sempre os seus sonhos.

Flexível e Veloz Como desenvolver: surpreenda-se a si mesmo. Procure ser veloz na sua capacidade de mudança e novas adaptações.

Ousado Como desenvolver: nunca tenha medo do ridículo. Arrisque sempre e experimente tanto as coisas confortáveis como as desconfortáveis. E jamais se conforme com o fracasso. 63  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Peregrino Como desenvolver: “ande” e “viaje” para obter novos pensamentos. Interaja com os outros e mude sempre. Se julgar necessário, mude até o layout de seu ambiente de trabalho, obtenha novos ares e movimentos.

Brincalhão e bem humorado Como desenvolver: deixe fluir a sua criança interior. Não tenha medo de rir, ou de apreciar a incongruência ou a surpresa. Permita-se sonhar!

Inovar é renovar, é trazer novidades, é ampliar seus horizontes. É trazer a felicidade ao seu processo criativo, as suas metas, aos seus sonhos. A intuição independe de raciocínio, mas se você souber se atentar aos detalhes que ela lhe proporciona, só tem a ganhar em todos os aspectos da sua vida profissional e pessoal, você entrará em sincronicidade com o universo juntamente com seus planos, e como disse uma vez Gandhi “a felicidade é quando o que você pensa, o que você diz, e o que você

faz estão em harmonia”.

64  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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RESPONSABILIDADE LITERÁRIA César Romão

D

iante de um painel que ao longo dos tempos

no

Brasil

vem

desempenhando uma forte ação para

que brasileiros se aproximem da literatura, acredito que falta mesmo é: Responsabilidade Literária.

Assim como eu, a primeira experiência de muitos brasileiros com o Livro deve ter sido traumática. Lembro-me que minha professora um dia entrou na sala de aula, numa escola do Sesi, no bairro da Vila Paulina, naquela época minha escola era de madeira e não de lata, e disse que teríamos de fazer um trabalho sobre um livro: ler o livro, fazer um resumo dele e depois apresentá-lo em sala de aula. Eu era uma criança e teria decifrar um dos clássicos de nossa literatura, onde sequer podia reconhecer ambientes, diálogos ou mesmo escala de português. Aquele trabalho foi um sacrifício, uma experiência que eu não via a hora de terminar, e parecia que nunca terminaria, mas quando terminou, o livro tinha se tornado algo com o qual eu não desenvolvi a mínima afinidade, muito pelo contrário, era um total desespero quando outro trabalho deste tipo era solicitado pela escola. Um pouco mais tarde descobri que aquele era o único livro de literatura que minha professora havia lido e que tinha gostado muito. Então resolveu enfiar garganta abaixo de seus alunos um prazer que lhe atendia sem ao menos procurar conhecer os resultados que tal feito ocasionaria em longo prazo àqueles alunos. Como eu, muitos jovens ao longo de sua alfabetização foram impelidos a ler livros 65  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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que não faziam o menor sentido, naquela fase de nossas vidas. Com exceção da Cartilha Caminho Suave genialmente elaborada pela professora Branca Alves de Lima, onde a alfabetização acontecia, e acontece hoje ainda em muitas partes do Brasil, pela imagem, tudo que vinha depois para nós alunos, despreparados para decifrar literatura tradicional, era um atentado à nossa capacidade em desenvolver qualquer afinidade com o livro. Incrível, mas ainda hoje se procede desta maneira em muitas escolas. Como realizo muitas palestras em Faculdades e Universidades, assim como em Cursinhos para Vestibular, sinto uma verdadeira ojeriza dos alunos quando têm de ler algum clássico da literatura brasileira para responder às perguntas de provas ou vestibular. Assim nasceu uma geração de brasileiros que não leem. Assim nasce ainda, em minha opinião, o desapego ao livro, um sentimento subliminar que vem atravessando gerações e fazendo do Brasil um país que sofre com a falta de Responsabilidade Literária. Em minha visão de criação deste termo de Responsabilidade Literária, muitas ações precisam ser revistas. A primeira delas é justamente lá atrás, quando a criança tem seu primeiro contato com o livro. Este contato precisa despertar prazer, felicidade, curiosidade e, mais ainda, compromisso com o ato de ler a ponto de introduzi-lo em sua vida como um hábito natural e necessário. O treinamento de profissionais que possuem em suas mãos a oportunidade de fazer o primeiro contato de crianças com livros é fundamental. Eu mesmo já vi professores recomendarem aos seus alunos livros que eles próprios nunca leram, para que realizassem um trabalho. Neste primeiro contato com o livro, está o segredo e a definição do caráter literário daquela criança, que poderá criar uma 66  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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imagem do livro como um amigo ou como um transtorno. A Responsabilidade Literária segue o rumo dos Governos, que não deveriam permitir que livros fossem envolvidos em processos de corrupção política ou mesmo transformados em bandeiras de campanha, do tipo uma mochila com um livro dentro e boa sorte ao aluno desde que seus pais votem num determinado candidato. A Responsabilidade Literária expande-se para conscientização de pais da importância de auxiliarem seus filhos no despertar da paixão pela literatura, e não da busca na internet, onde hoje por incrível que pareça, também muitos professores estão aceitando esta prática. Você não encontra na internet aquilo que pode encontrar em um livro, imprimir um montão de folhas não é pesquisa, é apenas impressão de um montão de folhas. A Responsabilidade Literária compreende o empenho e o compromisso ético com autores, que devem promover em seus livros um conteúdo capaz de causar reflexão e colaborar na educação e formação das pessoas como cidadãos melhores, além de exigirem de si mesmos a transformação em autores menos prolixos e fazer de seus escritos textos com fluência e influência. A Responsabilidade Literária deve abrir caminho através dos editores que encontrem mais livros duradouros e menos livros da moda. Pois, como todos sabemos, uma moda é passageira e o lucro é obtido em um curto prazo mas, muitas vezes, causadora de prejuízo em longo prazo na mente de uma nação que deseja encontrar no livro um amigo e não um meio de subtrair moedas de seus bolsos. E a moda cria ainda a síndrome da ficção verdadeira, quando muitos leitores chegam a discutir comigo em minhas palestras, de forma verdadeira e fundamentada, um texto puramente de ficção. A Responsabilidade Literária tem sua linha de ligação com o público, nas livrarias, 67  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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onde as pessoas encontram-se com seus livros. Concordo que papel aceita qualquer coisa, que algumas editoras ainda editam qualquer coisa, mas livrarias não deveriam aceitar qualquer para seus leitores. A livraria precisa conscientizar-se de seu papel paternal junto aos leitores: uma livraria é o berçário de um livro, é ali que ele sorri, chora, lança seu olhar ao leitor como se estivesse dizendo: me leve para casa, tenho uma ótima história para lhe contar... O livreiro é como um celeiro de conhecimento, é como um criador de tendências, e deve respeitar as emoções que seus livros podem causar nos leitores. O livreiro é um cativador de leitores, e tem assim responsabilidade sobre eles. A Responsabilidade Literária encerra seu ciclo nas mãos, na mente e na boca do leitor, que poderá fazer daquele livro, um volume a mais em sua biblioteca, só para dizer que tem a obra da moda, que leu, mas não leu. Encerrando, finalmente o ciclo do livro, ele é o único capaz de nos contar uma história; de nos permitir conhecer e vivenciar novas emoções; uma recomendação nutritiva para nossa mente; um amigo para momentos de solidão; uma fonte de carinho e esclarecimento em momentos onde temos dúvidas, ou simplesmente mais um livro, que por menos que tenha sido desvendado, por menos que tenha sido lido, nunca deixará de ser um livro, este importante instrumento capaz de nos levar a lugares aonde nunca chegaríamos por nossas pernas ou nossa imaginação. O Brasil é um país de gente disposta a ler, porém com uma disposição que precisa ser respeitada, e que precisa de estratégias para ser implementada e incentivada, custe o que custar, pois há um custo maior que livros não lidos: é o verdadeiro analfabeto social, não aquele que não sabe ler, mas aquele que sabe, mas não lê.

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FAMÍLIA E EDUCAÇÃO Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

V

amos refletir um pouco sobre a função da família, na educação dos filhos. Ferrer-Gomez (1993), em seu opúsculo “Ser Família Hoje”, faz uma série de colocações, que merece a nossa atenção e que gostaríamos

de partilhar com todos. “A palavra educar pela sua etimologia (educere), significa “conduzir a partir de”. “Educar é ajudar a ser, permitir que se seja. A vida pertence a cada ser humano. O que deve nos preocupar é que esse ser humano seja ele mesmo, despertando nele o que tem de melhor em si”. “De nada valem as atitudes permissivas que tudo toleram e favorecem o capricho e a falta de maturidade, nem o protecionismo, ou paternalismo

que

abrem

todas

as

portas, removem todos os obstáculos e

A palavra educar pela

convertem o filho em uma pessoa

sua etimologia

incapaz; nada disso é bom. É preciso

(educere), significa

exigir do filho que ele seja capaz de

“conduzir a partir de”.

bastar-se a si mesmo, o mais cedo possível, acompanhando-o, dialogando,

sem resolver com isso todos os seus problemas, ter atitudes bem pensadas, uma vontade firme, um mínimo de segurança, tudo isso, supõe uma educação ao mesmo tempo exigente e respeitosa”. ‘“Educar para que o filho se torne livre e verdadeiro. Educar é ajudar a “tornar-se livre”. Não se trata da liberdade de fazer ou não o que se deseja, mas da liberdade interior. É muito importante poder ser livre interiormente, não ser escravo dos caprichos, das paixões, dos medos, das dúvidas e da falta de segurança. Ser livre 69  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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significa ser dono de si, aceitação alegre e humilde de sua própria realidade, quando o ‘Eu interior’ é dono de todo o ser e não submisso ao corpo, aos sentimentos ou às ideias. Ser livre é amar apaixonadamente a verdade e buscá-la em cada situação, diante da cada dificuldade, livre de todo o subjetivismo irracional. Assim, nós nos sentiremos livres diante de nossa própria consciência e diante dos outros. Tornar alguém capaz de viver por si mesmo, de ser ele mesmo, de se integrar na comunidade dos homens e de orientar a própria vida para o amor, eis o alvo, a finalidade da educação. Toda relação de amor supõe a proximidade, a disponibilidade, a atenção e, ao mesmo tempo, uma certa distância que nasce do respeito e que nos impede de ser um peso, de sufocar o outro: estar perto, sempre mantendo a necessária distância; estar longe, mantendo a necessária proximidade”’. Caros pais, vamos pensar, discutir, refletir sobre o texto acima e analisar a nossa missão de pais, que temos como único desejo a felicidade de nossos filhos.

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EDUCAÇÃO E AMOR Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

A

nossa missão de pais é educar com amor e para o amor. Vamos transcrever

abaixo,

trechos

de

Conferências

de

Paul-Engène

Charbonneau, pronunciadas na "Escola de Pais do Brasil". Pedimos aos pais que leiam e discutam sobre o assunto. Não queremos impor ideias, mas sim levantar certos questionamentos para a felicidade de

seus filhos. "Frequentemente reduz-se o problema da educação ao da instrução. Colocam o jovem no colégio, acompanham de perto ou de longe seus sucessos ou insucessos escolares, castigam-no, encorajam-no, e pronto! Mas, é preciso notar que instruir um homem não é formá-lo. Que a instrução seja necessária, ninguém hoje nem sonha negá-lo. Mas é necessário desconhecer completamente a realidade humana para pensar que ela seja suficiente. Além da vida da inteligência, dizia Mounier, existe a vida do amor. Esta verdade é por demais evidente para que não se deixe de perguntar no momento em que se medita sobre o futuro dum adolescente, e sobre seu presente, como prepará-lo para viver o amor". "Nós vivemos num mundo, numa situação materializada - é o mundo do ter. Todos querem ter coisas, todos querem ter felicidade, e felicidade não é coisa que se tenha, não se tem felicidade. Pode-se ser feliz. Não se pode apanhar a felicidade, ela não é comprada, não é coisa fabricada". "Existem pessoas que são incapazes de amar porque têm tudo. São as mais infelizes, porque são incapazes de ser feliz; pela simples razão de terem tudo, criam uma mentalidade que os leva a pensar que basta ter dinheiro para se realizarem em todos os campos. Mas acontece que na vida pode-se comprar quase tudo, 71  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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exceto duas coisas: INTELIGÊNCIA e AMOR. Nenhuma dessas se compra num balcão; não basta dizer que se ama para ser feliz". "O que é preciso desde logo é aprender a ser, para no futuro capacitar-se a ser feliz no amor. Preparar-se para o amor é preparar-se para ser. É justamente na juventude que se define o vir-a-ser de cada um e se estabelecem as diretrizes gerais, ampliando a dimensão pessoal e preparando cada um para amar". “Amar o filho é colocá-lo dentro dos problemas da família, cooperando para a sua solução, a ajuda mútua nas atividades domésticas, a compreensão das dificuldades financeiras, etc., são meios que formam os nossos filhos. A participação dos pais nas atividades dos filhos, nos esportes, na escola, nas explicações das lições de casa, nas conversas vendo televisão, etc., são meios que ajudam a formar uma consciência crítica e dar maturidade”. “Amar o filho é contrariar muitas vezes, é ensinar o certo é dar as condições para que ele tenha uma vida futura saudável, quer como profissional quer como cidadão, que

“Viver em sociedade se aprende em casa com os pais, respeitando o outro, sabendo viver e conviver com as diferenças pessoais”

vive em uma comunidade e tem interação com as pessoas. Viver em sociedade se aprende em casa com os pais, respeitando o outro, sabendo viver e conviver com as diferenças pessoais”. “Como pais, é nossa obrigação contribuir para uma boa formação integral de nossos filhos”.

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A COMUNIDADE DEVE ESTAR INSERIDA NA ESCOLA Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

E

m 1970 quando lecionávamos no

“As duas instituições

(família e escola) estão perdidas e vão mal”.

ensino

fundamental

e

escola

estadual,

era

médio a

na

nossa

preocupação a falta de interesse dos pais para com o acompanhamento da aprendizagem de seus filhos. Criamos um logotipo para estimular a participação da comunidade na escola e

um departamento de Integração Comunidade Escola – DICE, ligado à Associação de Pais e Mestres. A nossa obrigação como pais é dar educação e formação geral aos nossos filhos. Não nos esqueçamos que a única coisa que ninguém rouba é o conhecimento que adquirimos em casa e na escola, através da formação que recebemos de nossos pais e professores. Para que isso seja possível temos que nos conscientizarmos que educar os filhos dá muito trabalho, pois temos que nos policiar em nossas atitudes, não ter preguiça e ter a paciência de explicar tudo para os filhos, principalmente quando contrariamos os seus desejos. A educadora Lisandre Maria Castello Branco da Universidade de São Paulo, (Professora da disciplina Análises Psicológicas do Cotidiano Escolar), fez várias colocações sobre a “nova família” e a escola, em entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo” de 01/08/94, que merecem a nossa atenção.

“As duas instituições (família e escola) estão perdidas e vão mal”.

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‘“Pais ‘modernos’ demonstram que não compreenderam a transição dos padrões familiares e radicalizam ao abolir toda forma de autoridade, como uma maneira de compensar o modelo de educação adotado por seus pais. O grande problema é que eles (os pais) não entenderam que a nova família pode conviver muito bem com os aspectos positivos do sistema tradicional de educação, onde as regras eram delimitadas. Enxergam só os aspectos negativos e a consequência disso é que nunca sabem se estão certos ou errados. Na realidade, as famílias modernas estão inventando moda. Pais nunca são iguais a filhos e isso precisa ficar claro. Com isso, a relação entre eles jamais será horizontal. Quando isso ocorre, ou seja, quando fica vago o lugar de autoridade, esse jovem fica abandonado,

órfão. Um

filho

está sempre esperando

dos

pais a

responsabilidade adulta de quem optou por educar uma pessoa. Muitos casais acham simpático tratar seus filhos como

coleguinhas. Acham moderno, um

avanço, só que isso é dramático. Desse jeito o filho não terá condições de se organizar. Como ele vai aprender regras se a existência da vida social é paga com tributo representado, muitas vezes, pelo sacrifício da própria individualidade? O modelo autoritário e hierárquico foi substituído por um modelo permissivo, onde os papéis e funções sociais são flexíveis. Abandonaram os pontos positivos do antigo sistema em nome da modernidade’”. “Quanto às escolas, ela continua: ao mesmo tempo, estão mais preocupadas em instruir e não em educar. Querem cumprir o currículo e pronto. O dilema muitas vezes está na postura de alguns pais que não querem se envolver, por exemplo, com a lição de casa de seus filhos. Antes, a indisciplina era punida. Hoje as pessoas ficam receosas até para impedir que uma criança coma ou faça lições na frente de uma televisão. A escola lida mal com isso porque ainda não encontrou um caminho. É necessário repensar essa nova família. Caso contrário, a escola se 74  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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transformará em mais uma via de acesso para complicar o processo de socialização da criança”. As ponderações acima, feitas pela educadora da USP, merecem a nossa reflexão e discussão, principalmente entre os pais e professores, pois o que queremos é o melhor para nossos filhos e alunos. Desejamos que nossos filhos e nossos jovens, sejam pessoas humanas bem formadas e integradas na sociedade, para serem agentes multiplicadores do saber humano e de valores dignos da pessoa humana. Quando a comunidade está inserida na escola, todos esses problemas de educação na família e na escola, podem ser discutidos no âmbito escolar, com a presença dos pais e professores. Os pais têm de se interessar pela educação de seus filhos, comparecendo em todas as reuniões de pais e mestres da escola de seu filho e procurar colaborar com a escola, para sua melhor educação. Sabemos que o conhecimento em geral e a formação é a única salvaguarda garantida para o futuro de nossos filhos.

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A EDUCAÇÃO E A DISCIPLINA Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

A

pesar do desenvolvimento da ciência, da tecnologia e principalmente da comunicação, parece que certos valores formadores da pessoa humana estão sendo deixados de lado, mais por falta de informação correta a

respeito de como educar nos dias de hoje. Educar significa tirar de dentro, isto é, fornecer os mecanismos aos filhos e alunos para que futuramente sejam pessoas capacitadas a raciocinar e a entender e modificar o mundo e as pessoas com que convivem, para uma vida melhor. Para que isto ocorra temos que ensinar e ensinar vem de “insignare” que significa colocar no interior um sinal. Dom Lourenço de Almeida Prado (Reitor do Colégio São Bento do Rio de Janeiro) coloca alguns pontos para a nossa reflexão e troca de ideias com os familiares e professores. “A mente humana tem riquezas infinitas, mas precisa ser escorvada para que

 Educar significa tirar de dentro, isto é, fornecer os mecanismos aos filhos e alunos para que futuramente sejam pessoas capacitadas a raciocinar e a entender e modificar o mundo e as pessoas com que convivem, para uma vida melhor.



essas riquezas acordem do silêncio. É necessário acreditar e exigir o conteúdo. Disse exigir. Isto é, cobrar corrigir. A escola modernosa está deixando as crianças morrerem de inanição ou a procurarem na droga e no vício, a alegria que não obteve pelo esforço solicitado do aprender. A alegria de chegar à verdade está sendo substituída pelo prazer dos movimentos irracionais. O grande problema é a escola ser escola. Como nos adverte Christian 76  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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de Duve (Lavenir de la Vie, Seghers, 1981, pág.147). “Infelizmente, cada vez se educa menos a criança a observar uma disciplina, seja ela física ou intelectual. Deseja-se evitar o esforço, suprimir qualquer medida coercitiva, que certos educadores consideram traumatizantes para a criança. Espero que haja, em breve, uma reação. Pois não se pode aprender a pensar, sem esforço, sem usar meios coercitivos, impostos inicialmente de fora para dentro, até que se tenha aprendido a impor-se por si mesmo, de dentro para fora. Para mim, é daí que vem o irracional, a fraqueza na utilização crítica da razão, a ausência do rigor do pensamento”. Como podemos notar no texto acima, a disciplina é fundamental para a formação da pessoa humana. Da disciplina nasce o domínio da vontade, tão esquecida hoje. Exigindo da criança uma rotina de atividades, tais como: execução de tarefas domiciliares, horário diário de estudo (estudo mesmo), horário de assistir a televisão, horário de comer, horário de dormir, horário de brincar, organização em geral etc., estamos formando uma disciplina de vida e de domínio da vontade, que são essenciais para o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos. Se não formarmos na criança a disciplina e o domínio da vontade, teremos pessoas que não saberão no futuro dizer SIM ou NÃO, a qualquer convite indecoroso que deponha contra a pessoa humana. O uso de drogas, os problemas sexuais dos jovens de hoje, muitas vezes, são resultado de uma educação permissiva e sem autoridade racional e madura. “Por ser fruto de um ideal, acima dos instintos, saber dizer sim aos valores humanos, aos mais altos e aos mais humildes, e não aos desvalores, é algo que exige longa e acurada preparação. Na formação da crença do adolescente deve entrar, de um modo ou de outro, uma educação da sua consciência para que saiba e ouse dizer sim ou dizer não. Creio que o bom êxito na formação moral e espiritual de um jovem se pode facilmente avaliar por este simples resultado concreto; a quem ou a que ele saiba e ousa dizer não ou dizer sim? Com que 77  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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lucidez, determinação e serenidade o faz? Como os sins ou os nãos que diz lhe marcam a vida? O terceiro milênio está pedindo jovens diferentes. Que, ao contrário dos que predominam no após-68, marcados por uma geração de puro permissivismo, se mostram preocupados em realizar o ideal de Monsieur Quine. Ser sim à verdade e ao bem. Não ao erro e à mentira” (D. Lucas Moreira Neves, 1995). Este assunto merece a nossa reflexão, como pais e educadores que somos, responsáveis pela formação de nossos e filhos e alunos.

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A MOTIVAÇÃO PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM Luiz Marins

S

em dúvida alguma estamos vivendo a era de maiores transformações da história da humanidade. Em nenhum outro tempo, nenhuma outra época, experimentamos tantas mudanças ao mesmo tempo. A única certeza

estável que temos hoje em dia é a certeza de que tudo vai mudar! Quem nasceu nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX começou o século e terminou o século usando os mesmos atributos da tecnologia. Quem nasceu no século XX iniciou o século de uma forma absolutamente diferente de como terminamos. Como será este novo século? Não sabemos os “sustos” tecnológicos que iremos tomar neste século XXI. Essa consciência de um mundo em extrema e rápida mudança é que poucas pessoas têm. Daí sentirmos uma certa angústia, uma certa inquietude dentro de nós, produto de nossa rápida obsolescência tecnológica e mesmo de valores. As empresas nunca tiveram que mudar tanto e tão rapidamente. O mercado nunca mudou tanto e tão rapidamente. O comportamento do consumidor nunca mudou tanto e tão rapidamente. O ciclo de vida dos produtos é cada vez mais curto. Graças a esse processo de aceleração da história, as empresas não podem mais garantir o emprego a seus funcionários. Quem “garante” o emprego é o mercado. A empresa de hoje vive em constante transformação. Seja com o nome que for, nenhuma empresa de hoje está livre de ter que fazer projetos de “downsizing”, qualidade total, “empowerment” e que tais. O mercado muda tão rapidamente; as regras do jogo mudam tão rapidamente que não há mais como uma empresa garantir o emprego vitalício. Até no Japão essa realidade faz parte do passado. Não podendo mais garantir o emprego, as empresas devem comprometer-se em garantir a “empregabilidade” de seus funcionários. Isto significa aumentar seus investimentos e recursos em treinamento e desenvolvimento de pessoal. Isto 79  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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significa colocar o funcionário numa posição de empregabilidade para o tempo em que a empresa não puder mais sustentá-lo em seus quadros. Isto significa aumentar os investimentos e recursos em programas de bem-estar e prevenção de saúde dos funcionários e executivos. Significa adotar uma atitude honesta e franca com o seu corpo funcional, colocando-o a cada dia mais apto a trabalhar dentro ou fora da empresa. E numa pesquisa que fizemos com executivos de São Paulo, verificamos que essa consciência já chegou ao empregado e ele também prefere que a empresa lhe ofereça maior empregabilidade ao invés de prometer permanência no emprego, uma atitude hoje considerada falsa como a própria realidade vem demonstrando. Programas de incentivo devem ser dirigidos à empregabilidade. Viagens, TVs, como prêmios de incentivo, vêm sendo substituídos nas melhores empresas por programas de treinamento e desenvolvimento no Brasil e no exterior. Muito mais do que incentivos materiais os funcionários estão compreendendo a importância do conhecimento como base de seu sucesso. Isso aumentará sua empregabilidade e sua motivação em relação à empresa. Acredite nisso e verá seus funcionários mais fiéis, leais, comprometidos e motivados. Investindo na empregabilidade dos funcionários, as empresas também garantem o seu melhor desempenho enquanto puder mantê-los em seus quadros e isso aumenta a produtividade da própria empresa e, paradoxalmente, pode impedi-la de ter que dispensar seus funcionários por ficar atrasada na competição do mercado. Assim, sob todos os pontos de vista, investir na empregabilidade é hoje fator essencial para o sucesso de uma empresa. É isso que as grandes empresas de sucesso no Brasil e no mundo vêm fazendo. 80  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Assim, o funcionário de uma empresa que demonstra ser e estar preocupado com a empregabilidade é mais motivado a dar mais de si para os objetivos da empresa. Ninguém “motiva” ninguém. É a própria pessoa que se automotiva, isto é, encontra os motivos para fazer mais e melhor aquilo que dela se espera em benefício da empresa, do mercado, dos clientes.

Assim, trabalhar na

empregabilidade é hoje fator essencial de motivação dos empregados. O funcionário precisa sentir-se em constante desenvolvimento. Ele precisa sentir que não está parado no tempo e que, caso ocorra a sua demissão, ele estará apto a buscar outra colocação num mercado a cada dia mais competitivo. Assim, novamente, treinar, aperfeiçoar, especializar são fatores motivacionais dos mais importantes e valorizados pelos funcionários de qualquer organização. E a grande verdade é que um empregado, hoje, NÃO PODE e NÃO DEVE esperar que sua empresa invista no seu desenvolvimento. É preciso que o próprio funcionário dedique tempo, energia, recursos dentre os poucos que possa ter para aperfeiçoar-se, para desenvolver-se e enfim, garantir o seu emprego. Vejo, com tristeza, empregados que ficam aguardando que a empresa invista nele. E a verdade, novamente, é que ninguém vai investir em mim, se eu não investir em mim em primeiro lugar. Ninguém gastará vela como “mau defunto”, como diz o ditado popular. Assim, hoje, se alguém quer manter o seu emprego, trate de preservá-lo e a melhor maneira de preservar um emprego hoje em dia é estar atualizado, é fazer as coisas com muito comprometimento, atenção aos detalhes e com sentimento de fazer as coisas bem feitas até o fim. Invista em você! A hora é agora! Garanta o seu emprego, aumentando a sua empregabilidade! São as palavras de ordem hoje em dia. E o leitor pode estar perguntando o que tudo a isto tem a ver com os objetivos da Fundação Luiz Almeida Marins Filho, que é “Ensinar a Aprender”? 81  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Em minha opinião, tem tudo a ver. A escola de hoje tem que se “ligar” cada vez mais com o mercado de trabalho. Formar pessoas “empregáveis” é o grande desafio da escola, hoje. Assim, motivar os alunos para que compreendam a importância de um processo permanente de educação e conhecimento é fundamental. O próprio processo ensino-aprendizagem deve concentrar-se no aluno e na sociedade em mudança que estamos vivendo e não nas “ementas” frias. Usar e trabalhar com exemplos concretos da realidade do mundo concreto, é essencial para que o aluno aprenda a aprender. Ensinar a aprender é, portanto, a tarefa fundamental da escola. Pouca adianta dar “dados” que serão modificados pelo desenvolvimento científico e tecnológico. É preciso ensinar os alunos a “pensar”, questionar, para

que passem de uma consciência ingênua da realidade

“Usar e trabalhar com

para uma “consciência crítica” e possam fazer as

exemplos concretos da

opções corretas que o mundo contemporâneo exige.

realidade

do

concreto,

é

para

que

mundo essencial

o

aluno

aprenda a aprender”

Isso é “motivar”. É fazer o educando compreender os “motivos” reais, de ordem lógica, até cartesiana, para que busquem o conhecimento, sem cessar. É fazê-los compreender que o conhecimento é uma corrida sem linha de chegada. É preciso motivá-los a querer

aprender e não simplesmente ter um diploma ou certificado. É preciso motivá-los até a aprender a passar do plano do conhecimento teórico para a ação prática que garantirá o seu futuro no mercado, cada vez mais competitivo. Assim, ensinar a aprender e motivar os alunos a aprenderem a aprender é a grande missão da escola neste século XXI. 82  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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APRENDIZADO CONTÍNUO, UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA José Maria Gasalla

N

ão é difícil entender por que o aprendizado contínuo tem sido tão valorizado no mundo corporativo. Ante a necessidade de manter-se competitivas

e

acompanhar

a

velocidade

das

mudanças, as empresas precisam de gente com conhecimentos de alto nível e atualizados. Cada vez mais, elas não só valorizam profissionais que estão sempre aprendendo como também procuram criar condições que

para todos possam

aprender.

Seu

interesse está na gestão do conhecimento - e quanto mais difundido esse conhecimento, melhor.

Para inserir-se na espiral do aprendizado contínuo de sua organização, terá de compartilhar o que sabe com seus pares e ser receptivo ao que eles sabem

Se você é um profissional preocupado em atualizar-se, desenvolver novas competências e ampliar seu leque de habilidades, é sinal de que já despertou para essa tendência. Mas não lhe bastará fazer cursos, especializações e treinamentos. Para inserir-se na espiral do aprendizado contínuo de sua organização, terá de compartilhar o que sabe com seus pares e ser receptivo ao que eles sabem. A questão é: você está aberto para isso? Pelo que tenho visto como consultor empresarial e observador da vida corporativa, a abertura para a troca de conhecimento e experiências é uma questão delicada, pois está ligada ao sentimento de confiança. E confiança, infelizmente, é um artigo raro neste mundo competitivo, no qual os outros são adversários em potencial e 83  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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reina a lei do cada um por si. Na realidade, a estratégia das pessoas para sobreviver e ter sucesso é a desconfiança, que as leva a erguer barreiras à sua volta e defender o patrimônio de seu conhecimento. Realmente, falar em confiança nesse contexto parece contraditório. Confiar significa abrir mão de nossas defesas e controles, colocar nossos recursos à disposição do outro e acreditar que ele não se utilizará disso para levar vantagem sobre nós nem nos prejudicar. É como se estivéssemos entregando munição ao inimigo, o que acreditamos que precisa ser a todo custo evitado. Pois é justamente nesse paradoxo que reside o argumento para adotar comportamentos baseados na confiança. Em um mundo no qual desconfiar é a regra geral, teremos de inspirar cada vez mais confiança se quisermos nos diferenciar. De fato, confiar é nadar contra a corrente, e ninguém disse que isso seria fácil. Implica assumir riscos, colocar-se em situação de vulnerabilidade perante o outro e superar o medo de ser prejudicado. Trata-se, porém de um comportamento que pode ser praticado e aprendido. Costumo recomendar às pessoas que pratiquem a confiança em um ambiente mais previsível e seguro – com as pessoas mais próximas e conhecidas, por exemplo, e em situações que não ofereçam grandes riscos. A repetição de uma conduta de sucesso a reforçará até que ela seja definitivamente incorporada. No caso da confiança, há um efeito-reflexo que contribui para acelerar e fortalecer o processo, pois ao confiar no outro nós o inspiramos a confiar em nós também. Estabelece-se então uma reciprocidade que alimenta a espiral da confiança em nossos relacionamentos. A espiral da confiança, por sua vez, alimenta a do aprendizado contínuo na organização, pois torna as pessoas mais integradas, dispostas a colaborar mutuamente, abertas para compartilhar ideias e conhecimentos. Esse é o melhor 84  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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dos mundos para as empresas, e não tenha dúvida de que a sua irá descobrir isso também – se e que já não descobriu. Sendo assim, por que não cultivar a confiança desde já em seus relacionamentos? Procure conhecer melhor seus companheiros de trabalho e permita-se deixar conhecer. Ouse confiar mais e inspire os outros a confiar em você sustentando as atitudes

da

competência,

transparência,

cumprimento,

consistência,

comprometimento, coerência e cumplicidade, os pilares da credibilidade de uma pessoa. Abra-se para compartilhar o que você sabe e aprender o que não sabe, pois relacionamentos de confiança são, sobretudo de troca. E com essa troca você também será muito enriquecido, com toda certeza.

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COMO TRABALHAR EM EQUIPE OU GRUPO Prof. Dr. Marcos de Affonso Marins (in memoriam)

S

abemos que o trabalho cooperativo é muito mais eficiente que o trabalho competitivo, principalmente dentro de uma organização empresarial. Para que isso seja possível há a necessidade de trabalhos em grupo ou equipe.

O chefe, o gerente, etc., todos que estão em cargos de mando têm de saber que a transformação de interações negativas em positivas é de uma grande importância. Ser chefe é ter responsabilidade na promoção profissional do seu subalterno. Sua atuação não é de chefia, mas liderança, cooperação, orientação e coordenação. A dinâmica da administração deve atuar nos sentido horizontal (colaboração) e não vertical (chefia). Para um trabalho em grupo, não basta juntar várias pessoas num mesmo grupo e deixar os resultados por conta do acaso. Algumas regras devem ser observadas para que o trabalho em conjunto torne-se produtivo e contribua para o desenvolvimento da capacidade competitiva da empresa.

1 - Definir claramente as metas e objetivos da equipe

Todos têm de saber qual o objetivo do trabalho, para que o esforço seja feito na mesma direção. A comunicação clara é fundamental para alcançar esse objetivo.

2 - Estabelecer os papéis 86  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Se os integrantes da equipe não sabem qual a função ou papel a desempenhar, dificilmente vão poder atingir o objetivo comum.

3 - Aprender a lidar com o conflito

Em um grupo, é inevitável que haja choque de opiniões, personalidades e estilos. O desafio é saber valorizar a diferença e tornar os inevitáveis conflitos impulsionadores do crescimento e da produtividade.

4 - Avaliar e monitorar

O monitoramento do trabalho e dos resultados é fundamental para que cada integrante saiba como está o seu desempenho, em que e como pode melhorar. Informações insuficientes podem jogar por água abaixo o trabalho de qualquer equipe. "Preocupar-se com a qualidade do trabalho em equipe é uma questão crucial para o sucesso da organização", alerta o consultor.

Trabalho em Equipe

1

Nossas observações e estudos relacionados ao tema "Desenvolvimento de Equipes" têm nos conduzido a algumas conclusões que apesar de parecerem óbvias, apresentam situações que raramente são encontradas na rotina de trabalho 1

Carlos Basso

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e nas relações dentro de organizações, departamentos, áreas ou mesmo dentro das próprias Equipes. Por sinal, sempre que as pessoas se referem ao seu grupo de trabalho, mesmo os próprios Gerentes, utilizam o termo "minha equipe". Baseados na afirmação que toda equipe é um grupo, porém, nem todo grupo é uma equipe, há uma pergunta que precisa ser respondida: Como está a sua escola? Vocês trabalham em grupo ou EQUIPE? Entendemos que Grupo é um conjunto de pessoas com objetivos comuns, em geral se reúnem por afinidades. O respeito e os benefícios psicológicos que os membros encontram, em geral, produzem resultados de aceitáveis a bons. No entanto este grupo não é uma EQUIPE. Entendemos que Equipe é um conjunto de pessoas com objetivos comuns atuando no cumprimento de metas específicas. A formação da equipe deve considerar as competências individuais necessárias para o desenvolvimento das atividades e atingimento das metas. O respeito aos princípios da equipe, a interação entre seus membros e especialmente o reconhecimento da interdependência entre seus membros no atingimento dos resultados da equipe, deve favorecer ainda os resultados das outras equipes e da organização como um todo. É isso que torna o trabalho desse grupo um verdadeiro TRABALHO EM EQUIPE.

Vale, portanto considerar: 

Quais são os aspectos e variáveis que favorecem a formação do verdadeiro espírito de Equipe em sua empresa?

Como implementá-los?

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Qual é a postura do Líder?

Que benefícios os membros e empresa terão com o Desenvolvimento do Trabalho em Equipe?

Por que é tão importante considerar este “caminho” para o atingimento dos melhores resultados?

Quem na organização deve ser envolvido?

É muito difícil darmos uma receita de como trabalhar em equipe. O importante é sabermos que cada pessoa é uma pessoa diferente das outras. Nenhum de nós é igual ao outro. Sabemos que geneticamente cada pessoa tem a sua carga genética e, portanto, é única. Por este motivo temos que respeitar todas as pessoas, pois ela é única na face da Terra. Das diferenças individuais temos que fazer uma unidade de trabalho não uma uniformidade, para que a produção e a produtividade, sejam eficientes. Por este motivo o chefe, coordenador, etc. tem de estudar os membros de sua equipe, analisando cada participante (verificando quais as qualidades e não os defeitos) e achar as melhores condutas para conduzir cada um para a eficiência do trabalho.

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A SABEDORIA DE CADA UM Carlos Alberto Júlio

H

oje quero explorar um pouco mais a questão do aprendizado individual, já que nada nos parece mais moderno na empresa de hoje que a gestão do conhecimento e este, por sua vez, começa na aptidão de cada um de

nós para aprender. Existem quatro estágios ou níveis de aprendizagem: o estágio da ignorância, da consciência, da arrogância e o da sabedoria. O primeiro estágio, o da ignorância, é aquele em que eu não sei e não sei que não sei. Complicado? Nem um pouco. Vamos exemplificar com a criança que ainda não sabe andar. Não sabe porque ainda não aprendeu, mas, sentada no chão da sala, ela observa que os adultos a sua volta levantam-se sem esforço do sofá e saem caminhando. Como ela não tem consciência de que não sabe andar, ela tenta se levantar e, ao fazê-lo, cai. Ela é inconscientemente ignorante. Ao tentar várias vezes, caindo e se machucando, ela começa a perceber que aquele ato que parece tão fácil aos adultos não é do seu domínio. Nesse exato momento, começa a entrar no segundo estágio, começa a ter a consciência de sua ignorância, pois agora ela sabe que não sabe andar. Esse é o passo mais importante no processo de aprendizagem: quando assumimos que não sabemos, nos abrimos para a aprendizagem. É quando a criança começa a escorar-se nos sofás, mesas e móveis da casa para ficar de pé e

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começa a dar seus primeiros passos rumo ao equilíbrio. Agarra-se às nossas pernas e caminha junto, de mãos dadas. De repente, como que num passe de mágica, a criança se percebe andando só, sem ajuda de ninguém. Fica orgulhosa, mostra a todos sua proeza, com o narizinho empinado, pois agora ela sabe e, mais importante, ela sabe que sabe. Esse é o estágio mais perigoso do aprendizado. Ao supervalorizarmos o que sabemos, somos levados à soberba e à arrogância, não compartilhamos o que aprendemos, nos sentimos superiores e, o pior, corremos o risco de parar de aprender, o que nos levará novamente ao estágio da ignorância já que o saber não renovado é cada vez mais perecível. Finalmente, a criança, como qualquer adulto, tem no seu ato de andar, algo cotidiano, rotineiro: anda, corre, dança e tudo isso é absolutamente normal. Ela acaba de atingir o quarto estágio: ela sabe e não tem a menor importância que ela sabe. É o conhecimento aplicado à vida. É – como disse no artigo anterior – a sabedoria, quando todo o conhecimento é aplicado para melhorar a minha vida, a vida dos meus familiares, amigos... Para a produtividade de nossas organizações, também podemos aplicar os estágios da aprendizagem. A vida toda estaremos, para cada tema ou situação especifica, em um dos estágios acima. O atalho para aprender novas ideias é admitir o que não sabemos para, imediatamente, ir ao aprendizado.

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SOBRE DIREITOS E DEVERES Luiz Marins

O

restes era a pessoa mais consciente de seus direitos que já conheci. Cumpria rigorosamente o horário em seu emprego. Não chegava um minuto antes e não saia um minuto depois. Tirava suas férias assim que

vencia o período aquisitivo a que tinha direito. Nem um mês antes, nem um mês depois. Treinamentos e reuniões em finais de semana ou à noite, não eram com ele. Ele simplesmente dizia não poder participar porque não era pago para trabalhar fora do horário. Todos os seus finais de semana eram parte de seu sagrado direito. Se seu supervisor ou colega faltasse por motivos de saúde, ele também arranjava um atestado e dava o mesmo número de faltas. O seu maior medo era ser explorado pelo seu patrão ou por seu chefe. Isso ele não admitia. A frase que ele mais usava era “eu tenho direitos!”. Além de ser muito consciente de seus direitos ele também alertava seus colegas para que não fossem explorados. Conclamava a todos para que não ficassem além do horário, que não chegassem mais cedo, que não fizessem nada além da súmula de atribuições e do contrato de trabalho. “É nosso direito” dizia ele. O problema de Orestes é que a sua noção de direitos era muito ampla. Ele usava o telefone da empresa para ligações particulares para seus parentes e amigos; pedia ao mensageiro da empresa (office-boy) para fazer pagamentos particulares sem autorização; usava o computador da empresa para e-mails pessoais, jogos, trabalhos escolares, etc. Durante o expediente ele fazia quatro paradas de meiahora cada uma para tomar café e fumar, sempre no mesmo horário, acontecesse o 92  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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que fosse - era seu direito. Orestes também levava para sua casa algum material de escritório - canetinhas, lápis, papéis, etc. de sua empresa. “Pouca coisa”, dizia ele, "afinal, tenho direito, pois trabalho aqui 8 horas por dia e dou meu sangue para a empresa". Essas coisas foram todas contadas por seus ex-colegas de trabalho depois que ele foi demitido do emprego, recebendo todos os seus direitos trabalhistas. Saiu dizendo-se injustiçado e vítima da exploração de seu patrão. Orestes está desempregado. Dizem que depois desse emprego em que o conheci, ele já teve mais dois, dos quais também acabou sendo dispensado, “sempre por perseguição”. A mulher do Orestes é vendedora autônoma de cosméticos e sustenta a casa. Quem quiser encontrar o Orestes, basta ir ao bar do seu bairro onde ele faz ponto. Todos os dias. Sempre no mesmo horário, na mesma mesa. Você conhece o Orestes? Pense nisso. Sucesso!

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10 DICAS PARA SER UM JOVEM VENCEDOR Luiz Marins

1. Escolha seus amigos. Não ande com pessoas que não vão agregar nada à sua vida futura; 2. Estude. Lembre-se que o século XXI é o século da Inteligência. Vencerão somente os melhores; 3. Procure ouvir a experiência dos mais velhos. Às vezes pode ser chato, mas antes de descartar bons conselhos, pense neles; 4. Cuide de sua saúde. Pratique esportes. Não fume; 5. Encha o seu tempo. Não fique desocupado. Faça alguma coisa boa – cursos rápidos além da escola são uma boa opção; 6. Aprenda inglês e espanhol. Lembre-se que inglês será o idioma universal. Mais da metade da população mundial estará falando inglês nos próximos anos. Espanhol é importante porque será a segunda língua mundial; 7. Aprenda computação. Seja amigável com um computador. O mundo será a cada dia mais eletrônico. Navegue na internet buscando informações úteis para o seu futuro; 8. Divirta-se. Seja uma pessoa alegre. Sorria! 9. Seja "polido" e "educado". Saiba dizer "com licença", "por favor", "obrigado", "desculpe". Pessoas educadas têm mais sucesso na vida e no trabalho; 10. Resista à tentação das drogas e maneiras fáceis (e falsas) de ser feliz. Lembre-se que a felicidade e o sucesso são construídos no dia a dia por nossas atitudes e comportamentos. Acredite em Você! Lembre-se que Você é a pessoa mais importante do mundo! Você merece o melhor! Cuide-se! 94  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


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Pense nisso. Sucesso!

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A POLIDEZ Luiz Marins

A

sociedade moderna e principalmente pessoas mais jovens parecem ter perdido a noção da importância dos símbolos, dos rituais, da forma como as coisas devem ser feitas. Focadas apenas no conteúdo, as

pessoas embrutecem a vida, empobrecem as relações sociais se tornam menos humanas. Esses pequenos símbolos, breves rituais, fazem a vida mais agradável. Gestos de gentileza e cortesia elevam o ser humano ao seu verdadeiro patamar. É importante lembrar aos jovens e às pessoas que se dizem modernas que enviar flores de agradecimento a alguém não caiu de moda. Mandar um bilhete de agradecimento também não caiu. Dizer “com licença” ao atravessar a frente de alguém continua na moda. Dizer “por favor”, também. E “obrigado” nunca deixou de fazer parte do rol de palavras que identificam uma pessoa civilizada. Vejo em supermercados, lojas, cinemas e mesmo em empresas, pessoas que mais se parecem com animais irracionais, embrutecidos pela ausência da inteligência social que caracteriza e distingue o ser humano das outras espécies. A ausência de polidez, de educação, de um mínimo de respeito, está tornando os ambientes insuportáveis - e da falta de educação para a violência é um pulo. Essa ausência de polidez se mostra na forma de falar, rude, grossa. Na forma de vestir, na forma de se comportar em ambientes públicos, na ausência de respeito e

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consideração às pessoas simples. Quantas vezes você já viu alguém tratando mal um garçon ou recepcionista? Vejo pessoas com medo de ir a lugares públicos por saberem da falta de civilidade que encontrarão. E não pense o leitor, tratar-se de pessoas aristocratas ou burguesas. São senhoras e homens de mais idade, vítimas da falta de educação que beira a violência. Veja como, no seu trabalho, na sua casa, no seu dia a dia, você pode fazer pequenos gestos de gentileza, cortesia, educação. Pense em como seria bom se você mesmo valorizasse mais a polidez. A polidez não é uma coisa supérflua e antiga. A ausência de polidez está transformando a sociedade em um lugar menos humano. Pense nisso. Sucesso!

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ANEXO Compêndio de Civilidade de 1916 (com ortografia da época) COMPENDIO DE CIVILIDADE PARA USO Das familias e dos Institutos educativos S. Paulo Escolas Profissionaes Do Lyceu Salesiano do Sagrado Coração de Jesus - 1916 – PREFACIO DOS EDITORES Já de ha muito se fazia sentir a falta de um compendio de civilidade sufficientemente desenvolvido e adaptado ás familias e collegios catholicos, no qual os preceitos fossem acompanhados de considerações moraes e religiosas, formando assim um pequeno tratado de boa educação. É o que nos parece haver conseguido dando á luz este modestissimo opusculo, quasi exclusivamente destinado a alumnos de collegio, e aos jovens filhos de familia. Sem a pretenção de haver exgotado o assumpto e reconhecendo haver no presente trabalho numerosas lacunas que em futuras edições se poderão preencher, afigura-se-nos elle no entanto muito util á mocidade que, lendo-o e estudando-o, se convencerá de que a civilidade nada mais é que uma parte da caridade – virtude christã basilar na doutrina catholica - e que, por conseguinte, não podemos ser bons catholicos se não praticarmos a mais cortez urbanidade. Sendo muito embora verdade que pessoas ha extremamente cortezes sem no entanto praticarem o catholicismo, podemos asseverar que a sua urbanidade é forçosamente falha e superficial, porque não se inspira na caridade christã e não attinge a sua força e efficácia na escola dessa sublime virtude. Ahi está a experiencia a dar plena razão ao que dizemos. Um catholico convicto e praticante que fôr ao mesmo tempo o typo do cavalheiro é destinado a tornar-se o ídolo da sociedade. Eis o ideal que com todas as véras desejamos possam attingir os nossos jovens e alumnos. Nada ou quasi nada, porém, se poderá conseguir, se o presente livrinho não se considerar como texto para uma verdadeira aula de civilidade a que se dê pelo menos a mesma importância que se dá a outras aulas dos cursos, e para a qual se escolham professores sob todos os pontos de vista competentes. Taes professores, em vez de fazerem conferencias ou prelecções, devem explicar passo a passo o compendio, fazer delle um como catecismo civico-moral, mandar decorar em resumo os preceitos geraes, acompanhar a aula theorica com as lições praticas em que se façam movimentos, se entabulem diálogos, se manuseiem objectos etc. etc.; e tudo isso repetido até se formar na creança e no jovem o habito da civilidade. Inutil será, porém o trabalho da aula, se depois não se verificar se o alumno pratica ou não o que lhe foi ensinado, seguindo-o de perto nas suas relações com os superiores, eguaes ou inferiores, nas suas conversações, na egreja, nas aulas, nos recreios, na sala de jantar, no dormitorio etc. Só assim é que poderá ser eficaz o ensino. 98  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho Oxalá o façam os educadores catholicos! Terão contribuido para se banir de vez preceito de que os collegios catholicos não sabem formar os seus alumnos para a visa intensa e complexa da moderna sociedade. São estes os votos que compilaram e adaptaram o presente opusculo. São Paulo, 1° de Junho de 1916. I Deveres para com Deus 1. Deus, Creador e Soberano Senhor de tudo quanto existe, merece todo o respeito e veneração. Consagra-lhe, pois, os melhores affectos de teu coração e tributa-Lhe todos os dias a homenagem da oração temendo summamente offendel-O. 2. Recorda-te que o temos de Deus é o princípio da sabedoria e a base da santidade: d´Elle amana todo o bem. Segue o conselho do bom Tobias a seu filho: “Pensa no Senhor todos os dias e guardate de peccar contra Elle e de transgredir os seus mandamentos”. 3. Ao respeito e amor devidos a Deus, acrescenta o amor e o respeito para com a sua religião e os seus ministros. Dos ministros de Deus ou fala bem ou então cala-te, como fazes com as pessoas que te são caras. 4. Não questiones de religião quando não tiveres feito sérios estudos; d´ outro modo poderias offender a Deus e ás cousas santas. 5. Toléra as crenças religiosas dos outros, mas confessa sincera e francamente a tua fé. Todos, incluindo os impios, admiram o caracter dos que não se envergonham da propria fé. Respeita as opiniões dos outros quando se trata de cousas discutiveis. 6. Guarda-te de imprecar ou mesmo de usar em vão o nome de Deus, da SS. Virgem e dos Santos, embora por gracejo ou por desabafo de ira, como fazem alguns, nesciamente.

II Deveres para com os paes 1. Depois de Deus, é aos nossos paes que mais devemos. Não satisfeito de prometer vida longa e bênçãos nesta terra aos bons filhos, Deus ameaça com o rigores dos seus castigos e maldições, aos filhos que descuram os seus deveres. Taes deveres reduzem-se a dois: amor e respeito. 2. O primeiro dever para com os paes é o de amal-os. É este um sentimento natural, e seria desnaturado o filho que não o tivesse. 3. A primeira prova de amor para com os paes é prestar-lhes obediencia e submissão em tudo o que fôr lícito. É detestável e repreensível a ousadia de responder aos paes, “não quero”, bem como a exigência nos pedidos e o ressentimento pelas negativas recebidas. 4. Ao contrário, como é louvável o proceder daquelles filhos que em tudo se submetem, em tudo consultam aos paes e isto com expressões limadas, taes como: “se é do seu agrado papae; se a senhora deseja, mamãe; com sua licença, etc.”! 5. Evita tudo quanto direta ou indiretamente possa desgostal-os perturbal-os em suas ocupações, tirar alguma cousa sem o seu consentimento, contradizel-os, queixar-te, responderes com maneiras bruscas. Procura ao invés fazer tudo quanto lhes possa dar gosto. 6. Não digas nunca a menor cousa que possa lesar a honra dos teus progenitores; antes, nada deves dizer do que se passa em casa. 7. Guarda-te de qualquer expressão de desprezo, injúria, arrogância ou irrisão. No Antigo Testamento Deus fulminou com palavras de morte aos filhos que dissessem imprecações ou maldições aos próprios paes. 99  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 8. Não deves manifestar os seus defeitos ou critical-os, mas sim encobril-os, excusal-os, compadecel-os. Infeliz do que se julga censor dos defeitos dos seus paes. 9. Não uses para com elles maneiras bruscas, como sacudir desdenhosamente os ombros, voltarlhes as costas, abanar a cabeça, bater com os pés, olhar de esguelha, levantar a voz ou, o que seria hediondo, ameaçar-lhes e bater-lhes. 10. Mais: É preciso em qualquer circunstância manifestar com palavras e com atos o respeito e a veneração que se lhes tributa, tanto em casa como fora, com os estranhos, e com os parentes. 11. Reza pelos teus paes todos os dias. Retribui-lhes com gratidão a benevolência e o amor que te consagram. O filho que regeita os carinhos de seus progenitores e recusa retribuil-os, merece ser privado do amor de seu pae e de sua mãe. 12. Vai-lhes ao encontro pela manhã e saúda-os tomando-lhes a bençam; o mesmo farás á noite antes de te deitares. 13. Nossos paes merecem-nos, mais do que quaisquer outros, estima e respeito. Quem se mostrasse educado para com todos e incivil para com seus paes seria um impostor. 14. Procura de bom grado sua companhia. Há jovens que preferem a companhia dos amigos á dos paes, alegando que os paes têm sempre perto de si. Que má correspondência!... E os paes (pobres paes!), vêm-se muitas vezes constrangidos a calar. Dia virá em que estes filhos indiferentes sentirão falta de seus progenitores e chegarão a compreender toda a sua ingratidão!... 15. Finalmente sê aberto e franco para com teus paes, deposita nelles toda a confiança, porque elles são os mais desinteressados de si e os mais interessados pelo bem de seus filhos. Empenha-te em ser para com teus paes o que foram e são elles para contigo; e, sendo impossível recompensarlhes o amor que te dedicam, faze quanto estiver ao teu alcance para retribuir cuidado por cuidado, sorriso por sorriso. 16. Tuas maneiras e teu proceder sejam taes, que só o verem-te lhes cause alegria e consolo. Todo o sorriso que a seus lábios fizeres assomar, toda a consolação que lhes despertares na alma, serlhes-á grande recompensa que redundará também em bencams para ti. As bencams dos paes são sempre confirmadas por Deus. 17. Felizes dos filhos que desempenharem com fidelidade estes deveres. Serão abençoados por Deus na vida, na morte e na eternidade. Mas ai dos filhos desobedientes que amarguram os dias dos seus paes! Elles atraem sobre si nesta vida, as maldições de Deus, que são o prenúncio das maldições e castigos da outra vida. Maldito quem não honra seu pae e sua mãe, diz a Sagrada Escritura! III Deveres para com os superiores 1. Tudo o que se disse em relação aos teus paes, considera-o dito também em relação aos teus superiores, porque elles fazem as vezes dos teus paes. São teus superiores: o Diretor do Collegio e os que o auxiliam na direção, os teus assistentes, vigilantes, prefeitos ou inspetores, como quer que sejam chamados, os teus mestres e em geral todos aquelles de que em alguma maneira dependes. Como superiores considerarás também os anciãos e como taes os respeitarás. 2. A obediencia aos Superiores é para um jovem, o fundamento de toda a virtude, e por isso o seu primeiro dever. “Obedecei aos que vos são dados por guia e sede-lhes submisso, diz o Apóstolo S. Paulo, porque elles deverão dar de vós contas a Deus. Obedecei não á força, mas de bom grado, para que os vossos superiores possam cumprir seus deveres com alegria e não entre lágrimas e suspiros.” 100  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 3. Persuade-te de que os superiores compreendem a obrigação que lhes assiste de promover o teu bem-estar, e avisando-te, mandando-te e corrigindo-te, não visam senão o teu bem. 4. Procedem mal os que não se aproximam dos seus Superiores, antes os fogem. Os que mais se acercam dos superiores, são os que recebem mais avisos e conselhos. 5. Dá-lhes todas as demonstrações de afecto e reverência que bem merecem, saudando-os quando os encontrares, conservanto-te descoberto em sua presença, antepondo-lhes ao título a palavra Senhor, como: Senhor Diretor, Senhor Professor etc. e bem assim nas afirmações e negações: Sim, senhor, - não senhor. 6. Seja a tua obediencia, pronta, respeitosa e alegre, não fazendo observações para te esquivares, não murmurando ou fazendo gestos de desgosto; obedece mesmo quando o que te mandarem não fôr de teu gosto, porque então ser-te-á mais meritória a obediencia. 7. Obedece ainda quando o superior estiver ausente, porque só os de instintos perversos aproveitam a ausência ou distração do superior para cometer faltas ou desobediencias. 8. Deves ter muita confiança com os teus superiores, mas nunca excessiva familiaridade, por mais que elles se mostrem afáveis para contigo. 9. Pode ser boa educação oferecer aos superiores alguma bebida ou comida, mas não insistir para que aceitem. Não é conveniente que lhes peças taes cousas; quando porém te as oferecerem, aceita-as com reconhecimento e agradece-as. 10. Abre teu coração ao Superior, considerando-o como um pae que só deseja o teu bem. 11. Escuta reconhecido suas correções e, sendo necessário, recebe com humildade castigo das tuas faltas, sem mostrar desamor ou ressentimento para com elles. 12. Evita a companhia daquelles que, enquanto os superiores se dedicam de corpo e alma ao bem de seus alumnos, censuram-lhes as disposições. É este um sinal de máxima ingratidão. 13. Quando fores interrogado pelo superior a respeito do proceder de algum colega, responde com franqueza o que souberes, principalmente se se tratar de impedir ou remediar algum mal. O silêncio em tal caso seria de dano ao companheiro e de ofensa a Deus. 14. Sê sempre grato para com os teus superiores. A gratidão é uma veste preciosa que se torna bela e agradável a todos; é o íman que atrai sobre ti os dons da Providência. Esquece-te muito embora dos benefícios que a outrem fizeste; nunca, porém, te esqueças dos que tu próprio recebestes. IV Deveres para com todos 1. Para com todos deves ser respeitoso e cortez. Venera e honra a teu próximo como a teu irmão e procura edificar a todos com o bom exemplo. 2. Se puderes prestar ao teu próximo algum serviço ou dar-lhe algum bom conselho, faze-o de bom grado. 3. Guarda-te de manifestar os defeitos alheios, a não ser que grave motivo o exija; mas em tal caso não exageres nunca o que disseres. 4. Não chames a ninguém por alcunhas ou apelidos, nem digas ou faças aos outros o que não quiseras que a ti dissessem ou fizessem. 5. Não ridicularizes os defeitos corporais ou morais de teu próximo, e não os arremedes, o que seria um grande insulto. Amanhã pode muito bem suceder-te aquilo que hoje escarneces em outrem. As mais das vezes, aquelles que zombam dos defeitos alheios são os que mais defeitos têm. 6. Não sejas molesto a ninguém, antes seja teu empenho mostrar-te afável e agradável a todos. A boa educação e a caridade christã mandam suportar os defeitos alheios, perdoar as ofensas a e não desgostar a ninguém, fosse embora nosso inferior. 7. As zombarias e motejos exasperam a pessoa ofendida e são causa de desgosto e discórdias. Mostra mau coração quem aplaude aquelles idiotas os quais, para se mostrarem espirituosos, ofendem ao próximo com ditos picantes. 101  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 8. Se procedem mal os que ofendem, nem por isso fazem bem os que se agastam e melindram pelo menor gracejo. O melindroso, o que sempre se ressente, dá mostras de julgar maus os companheiros, e então é elle que se torna mal educado. 9. Evita a soberba que te torna desprezível aos olhos dos homens e odioso perante Deus. A boa educação não é senão a veste da humildade e da caridade. O humilde agrada a todos e é por todos estimado, ao passo que o orgulhoso torna-se antipático e fastidioso. É ás vezes temido, mas nunca querido. 10. No teu porte e nas tuas relações, foge a affectação que é uma falsificação da urbanidade. 11. Aos desconhecidos ou forasteiros não faças perguntas indiscretas a respeito de seu nome, da sua condição ou proveniência. 12. Não dês conselhos a quem t´os não pedir, a não ser que te seja subordinado ou parente, ou tenhas para isso graves motivos. 13. Se receberes algum bom conselho ou fores advertido de algum defeito, deves agradecer sinceramente a quem te usa esta caridade. 14. Sê pródigo com demonstrações de afecto, respeito e cortesia. Uma palavra, um gesto de estima pouco custa, mas vale muito. Foge contudo a adulação que denota ânimo mesquinho e hipócrita, quando não torna suspeitas as tuas intenções. 15. Evita os modos ásperos que usam certos pretenciosos, de modo especial com os dependentes. Estes modos denotam ânimo apoucado e grangeiam antipatias e desprezos. Lembra-te do dito de S. Francisco de Sales : “Apanham-se mais moscas com uma gota de mel, do que com um barril de vinagre”. 16. Não se devem, porém, usar lisonjas e carícias que enervam o caracter e produzem arrogantes e impostores. 17. Demasiada familiaridade para com todos indistintamente é causa reprovável. Respeito e amor para com todos; familiaridades só para com aquelles de quem já recebestes provas de raras virtudes. V Deveres para consigo mesmo 1. Regra fundamental para a educação da sociedade é a que nos ensina a ser morigerados e civis para conosco. Se não fores bem educado para contigo, aos poucos contrairás hábitos e maneiras inconvenientes que te será difícil abandonar, e cometerás grosserias perante outros sem perceberes a sua presença, expondo-te á deshonra e á vergonha. Quantos há que desejam parecer bem educados e no entanto não cumprem este preceito! 2. Quem fôr mal educado para consigo, sê-lo-á para com os outros; por isso deves acostumar-te a agir sempre com decoro. 3. Quando ninguém te vê, seja teu procedimento como se todos te vissem. Assim te habituarás a manter-te sempre civil e delicado, não para agradar a outrem, mas pelo sentimento da própria dignidade e pelo amor á decência. Demais, não é verdade que ninguém te vê : vê-te sempre Deus e isto basta.

VI Procedimento na Egreja 1. A Egreja é a casa de Deus e logar de oração, por isso nela não deves fazer rumor, conversar ou rir, mas expandir os afectos de teu coração para com Deus. 102  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 2. Quando entrares na egreja, toma água benta e benze-te. Faze inclinação ao altar se ahi só houver o crucifixo ou uma imagem qualquer; faze genuflexão simples, se houver o SS. Sacramento e genuflexão dupla, se o SS. Estiver exposto. 3. Depois de breve oração, se vieste á egreja para visitá-la, poderás levantar-se e, se não houver nenhuma função, faze tua visita sem perturbar aos outros. Se estiveres com algum companheiro e precisares, poderás trocar com elle algumas palavras, mas em voz baixa, sem leviandade ou gracejo; fica, porém, sempre afastado de quem reza para não o perturbares. Quantos, nestas ocasiões, se mostram frios, irreverentes, indelicados! 4. Nunca te ajoelhes com um joelho só, apoiando-te no outro com o cotovelo. Não te sentes sobre os calcanhares á maneira dos cachorrinhos, nem te deites sobre o espaldar da cadeira da frente, fazendo arco com o corpo. 5. Durante as sagradas funções abstem-te de bocejar, dormir, voltar-te dum para outro lado e ainda mais de cochichar ou rir com os companheiros. Durante a elevação conserva-te de cabeça erguida fitando a hóstia ou o cálice que o sacerdote eleva, e na benção com o SS., inclina-te mediocremente. São estas as últimas prescrições da Egreja. 6. Ouve com atenção as práticas e instruções morais. Não sejas dos que perturbam o pregador e os ouvintes, tossindo, assoando-se, ou fazendo qualquer rumor. Não saias nunca do sermão, sem algum bom pensamento ou máxima de para praticar. Dá grande importância ao estudo da Religião e a sua prática, como fazem os homens verdadeiramente grandes. O grande Joaquim Nabuco, insigne magistrado e literato, não deixava de ajudar á missa, comungar quando podia e rezar todos os dias o seu terço. 7. Tem cuidado em não mover os bancos e as cadeiras ou fazê-los ranger mexendo-te a cada passo. 8. Não cuspas nunca sobre o pavimento porque tal cousa, além de anti-higiênica e incivil, expõe os teus vizinhos ao perigo de se enxovalharem. 9. Sê recolhido mesmo ao sair da egreja. Não te alvorotes para sair primeiro , nem te detenhas a fazer barulho na porta da egreja. 10. Quando cantares os ofícios divinos ou cânticos sagrados, observa as devidas pausas. Não faças dissonâncias de vozes, gritando ou cantando fora de tom ou prolongando os finais dos versículos para fazeres ostentação de tua voz; pensa ao invez que, com o canto, louvas ao Senhor, e que á tua voz fazem eco os anjos do céu. 11. Tua oração seja freqüente e fervorosa, nunca feita de má vontade ou com perturbação dos outros. Quando rezares em comum, não levantes demais a voz, nem tampouco rezes tão baixo que não sejas ouvido. Reza as orações com as devidas pausas e no mesmo tom dos outros. 12. É mau costume o voltar-se para ver quem entra ou quem sai. 13. Se tiveres a ventura de ajudar á missa, procura conhecer e observas com exatidão as cerimônias, especialmente as inclinações e genuflexões. 14. Arremedar as cerimônias eclesiásticas não é gracejo lícito, antes, demonstra má educação e atrai castigos de Deus. Entrar em egrejas de outras religiões, mesmo por amor da arte, deve ser cousa excepcional e nunca em tempo de funções religiosas, para evitar perigos e escândalos. 15. Na egreja não se saúdam amigos nem conhecidos. Em casos excepcionais, fal-o-ás com simples inclinação de cabeça e nunca com aperto de mão. VII Procedimento na Aula Depois da egreja merece especial respeito a aula. Ahi se forma intelectual e moralmente o homem, adquirindo, com os conhecimentos literários e científicos, a nobreza de coração e a força de caracter. Ahi assentam-se as bases da vida futura e da futura condição social; daí depende tua felicidade terrena e quiçá também a eterna. Por isso estuda e pratica a seguintes normas: 1. Entra na aula com modéstia e em silêncio e dirige-te logo ao teu logar, ahi permanecendo. Apenas te levantarás á chegada do professor, em sinal de respeito e veneração. 103  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 2. Quando o mestre tardar a chegar, não faças rumor, mas espera-o em silêncio, recordando a lição ou lendo algum bom livro. 3. Procura não chegar tarde á aula. Se por justo motivo tiveres que faltar á aula, avisa previamente o professor, se te fôr possível, e voltando, ante de ires ao teu logar, dá-lhe satisfação da tua ausência. 4. Para evitar o mau exemplo, informa o professor, quando por justo motivo chegares á aula sem estar preparado. Quando por justo motivo não julgares melhor o contrário, será acção louvável accusares de atenção a própria negligência, dispondo-te a receber a devida punição. 5. Durante a explicação guarda-te de cochilar, desenhar figuras, fazer bolinhas de papel, dar mostras de admiração ou, o que é pior, de enfado pela explicação. 6. Não te deves voltar para um e para outro lado, nem mover o corpo á maneira de pêndula, nem debruçar-te sobre a carteira, nem apoiar-te com os cotovelos. Evita sobretudo os atos triviais como resmungar, menear as pernas, bater com os pés no chão, assobiar, falar alto, atirar objectos ao ar, etc. Taes actos, além de causarem desordem, revelam grosseria e insubordinação. 7. Não interrompas a explicação com perguntas inoportunas, e quando interrogado, levanta-te prontamente e responde sem pressa, mas também sem te fazeres esperar. Não fiques encostado ou com as mãos nos bolsos. Quando te esqueceres de alguma passagem da lição não procures sugeridores, nem te ponhas a olhar para o teto. 8. Si durante a aula entrar algum superior ou alguma visita, deves levantar-te em signal de respeito. 9. Ás perguntas do professor deves responder clara e distintamente. Nunca respondas seccamente, “sim, não etc” mas “Sim, senhor; não, senhor professor” etc. 10. Quando reprehendido não respondas com arrogância, tivesses embora carradas de razões; no fim da aula poderás desculpar-se em particular com o professor. Mostra-te humilhado, mas contente de ter sido avisado. Não imites os que se enraivessem, atiram o livro ao chão, abaixam a cabeça sobre a carteia com fúria, actos estes que indicam soberba e má educação. 11. Se fores castigado não digas: que é que eu fiz? Eu não fiz nada, etc. nem te levantes com altivez lançando olhares de desdém ao professor ou sorrindo para os companheiros. Pior ainda, se interrogado responderdes com arrogância ou entre dentes, com semblante carregado ou carrancudo. 12. Não caçoes nunca de quem erra ou pronuncia mal as palavras. É também contra a caridade zombar dos mais atrasados. A inteligência e a memória não são cousas tuas, são de Deus, que, assim como as deu, também as poderia tirar. 13. Não faças garatujas na pedra, não escrevas palavras que possa ofender aos companheiros, não sujes as paredes da casa ou os mapas geográficos, não derrames tinta nem sujes com ela a roupa alheia, não introduzas nos tinteiros bolinhas de papel etc. Todos estes actos denotam grande grosseria. 14. As tarefas ou temas de aulas sejam feitos com empenho, asseio e boa caligrafia; a folha em que se fizer a tarefa deve conservar um pouco de margem á esquerda e estar sempre bem cortada. Temas bem feitos e asseados denotam diligência e aplicação e grangeiam a benevolência dos mestres. 15. Tanto pelo próprio decoro, como pelo respeito devido aos colegas, apresentar-te-ás sempre á aula decentemente vestido e asseado e não levarás brinquedos, figuras, jornais ou cousas semelhantes, cujo menos dano é a distração dos companheiros. 16. Não te movas no logar nem dês sinais de impaciência ou aborrecimento. 17. Tanto na saída, como na entrada evita a desordem e a confusão, esperando em silencio tua vez. 18. Respeita os professores, que sejam da tua classe quer sejam de outras. Dá-lhes mostras de reconhecimento: a gratidão é uma das virtudes que mais ornam a tua edade. 104  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho A virtude que de modo especial se inculca aos estudantes é a humildade. Estudante soberbo é synonimo de ignorante. VIII Procedimento na sala de estudo 1. Tudo o que se disse quanto ás aulas diga-se também quanto á sala de estudo. Ahi a tua primeira occupação deve consistir em fazer as tarefas e estudar as lições. Nos dias em que te sobrar tempo poderás ocupar-te em alguma leitura útil. 2. Quando escreves, evita de estar recurvado, apoiar o peito á carteira, torcer o pescoço, arregalar os olhos, contrair os lábios, etc. Não estudes em voz alta, pois além de perturbares os vizinhos, prejudicas a tua saúde. 3. Tem cuidado dos livros, cadernos e em geral de tudo o que te pertence. Não façais figuras e borrões nos livros, não os estragues dobrando as extremidades das folhas e marcando-as com tinta ou com a unha. 4. Não toque no que não te pertence. Em caso de necessidade pedil-o-ás com bons modos ao companheiro. Não atires papel ao chão, mas guarda-o no bolso e á saída deposita-o no caixão ou cesto próprio para isto. 5. O logar dos preguiçosos e negligentes distingue-se pela desordem que ahi reina, pelas manchas de tinta e pelo desasseio geral. Distintivo dos negligentes são também as manchas de tinta nas mãos, na roupa e ás vezes até no rosto e no pescoço. 6. Demonstram pouco amor ao estudo aquelles que se voltam ao mínimo rumor, fitam a quem entra ou sai e o acompanham com o olhar para ver aonde vai, o que faz, ou com quem fala. 7. Não têm franqueza e confiança e por isso não merecem o amor dos superiores aquelles que conserva ás ocultas livros, fotografia, figuras, postais etc. e os fazem girar pelas mãos dos companheiros. Estes, desde tenra idade, já mostram ânimo malévolo. De quanto mal são responsáveis perante Deus. IX Na mesa Na mesa mais do que em outro qualquer logar, conhece-se a pessoa bem educada, porque sendo o comer e o beber acções de todo materiais, assemelhar-nos-emos aos brutos, se não usarmos as devidas precauções. Na verdade, que se há de dizer dos que se curvam sobre o prato, lançam olhares ávidos e irrequietos para esta ou aquela comida ou bebida, devoram, numa palavra, com a boca, com os olhos e com as mãos? Não se podem comparar senão aos brutos. Achando-te pois á mesa, em tua casa ou na alheia e especialmente num jantar de gala, não te descuides de praticar com atenção ao menos as principais regras de civilidade. 1. Antes de te pôres á mesa, tira o sobretudo e depõe o chapéu. Para te sentares espera que o façam os donos da casa; o mesmo observarás quanto ao desdobrar o guardanapo, ao beber, e ao comer. 2. Si os logares estiverem marcados, toma o teu; no caso contrário, espere que o dono da casa t´o indique. Si tivéres liberdade de escolher, escolhe de preferência os ultimos logares, porque é melhor ser convidado a aproximar-se do que a retroceder. 3. Não te mostres descontente do logar que te coube e muito menos dos vizinhos, antes bom fazerlhe logo no princípio um cumprimento e durante a refeição ser com elles cortez e civil. 4. Á mesa deves ficar bem composto. Não arregaces as mangas como o médico prestes a fazer uma operação; não fiques debruçado por sobre a mesa, nem tampouco muito afastado, não apóies os cotovelos á mesa, mas apenas os pulsos. Não inclines a cabeça a cada bocado: deves levar a comida á boca e não a boca á comida; assim também o guardanapo aos lábios e não vice-versa. 105  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 5. O pão parte-se com a mão e leva-se á boca de uma só vez todo o bocado que se partir. As bebidas levam-se á boca com a mão direita. Com a direita deve-se também trinchar e oferecer. 6. O guardanapo deve-se estender sobre os joelhos, Familiarmente tolera-se prendê-lo á roupa pela extremidade. 7. Com o guardanapo só se devem limpar os dedos e os lábios, principalmente antes e depois de beber; e não é lícito enxugar com elle o que quer que seja. É reprovável costume o de enxugar os pratos, os copos e talheres; tal ato mostra que o convidado não se fia da família. 8. A colher segura-se com a mão direita e não com toda, mas com três dedos e com certa elegância. Não se deve introduzir toda a colher na boca, mas só até a metade e pela frente, não de lado. 9. Conforme o uso mais comum, a faca conserva-se na mão direita para cortar a carne e outros sólidos que se levam á boca com o garfo mantido na esquerda. 10. A faca nunca se leva á boca. Quando fôr mister servir-se do prato comum, faça-se com talheres a isso destinados e nunca com os próprios. 11. É cousa reprovável servir-se dos talheres para tamborilar, gesticular etc. 12. Quem serve, deve começar pela pessoa mais digna e passar depois os outros em escala decrescente e sempre á esquerda do convidado. É costume servir pela direita, vinho, café, chá etc. Nas refeições íntimas os próprios comensaes podem-se incumbir de passar os pratos de serviço. Passando ao vizinho um prato, um talher ou outra cousa, deve-se fazer do modo mais cômodo. 13. Sê discreto ao servir-te do prato comum. Toma o que estiver mais á mão e não voltes o prato em todas ad direções para escolher o melhor. Cúmulo de incivilidade seria cheirar as iguarias que se te apresentam. Se por acaso ficares privado de alguma cousa, não dês signal de desgosto, mas mostra-te indiferente e educado. 14. Si te sentares ao lado de uma senhora ou de uma pessoa notável, não só a deverás servir por primeira, mas procura que nada lhe falte e oferece-lhe teus serviços quando perceberes que ela precisa. Isto entende-se para o caso em que não seja o prato de serviço apresentado pelos criados. 15. Nunca toque cousa úmida com as mãos. Só as iguarias enxutas como o pão, o biscoito, algumas frutas etc. podem-se tomar e levar á boca com as mãos. 16. Trinchando, oferecendo ou servindo-te, evita que caia molho sobre a mesa. Se, não obstante, cair algum pedaço de carne ou cousa semelhante, deverás tomá-lo com o garfo e pô-lo num prato á parte. Para evitares, porém, este e semelhantes inconvenientes, deves servir-te com o talher (do prato de serviço) e não entornares ou fazeres deslizar o molho ou as iguarias para o teu prato. Quando colocares o talher na travessa, faze-o com cuidado, para que se não mergulhe no molho. 17. Grande grosseria é tirar alguma cousa do prato comum e levá-la diretamente á boca. 18. Não peças cousa alguma, mas espere que te a ofereçam. Não critiques as iguarias nem dês signal de que te não apetecem. Se depois de te servires de alguma iguaria, não a puderes comer, deixa-a no prato que te será retirado. 19. Olhar com avidez para o que se apresenta á mesa, olhar para a boca dos vizinhos como para querer-lhe contar os bocados são actos de grande grosseria. Quem fôr estranho ou inferior não convide nunca os outros a se servirem; isto não é de sua competência. 20. Tudo quanto puder suscitar repugnância deve-se a todo custo evitar; a saber: a) Mostrar ao vizinho o que de repugnante se encontrar na comida, como um cabelo, um inseto etc. Em tal caso, chame-se o servente e entregue-se-lhe o prato para que o retire. b) Projetar da boca para o prato um osso, uma pedrinha, uma espinha de peito etc. Deve-se tirar com a colher ou garbo sempre disfarçadamente, e depositar no prato. c) Esgravatar os dentes com o garfo ou com as unhas, gorgolhejar com o vinho, café ou outro líquido. Para limpar os dentes servem os palitos. Quando saíres da mesa não leves o palito na boca á maneira dos pássaros quando fazem seus ninhos. 106  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho d) Misturar no copo diversas bebidas, ou no prato diversas espécies de comida, a não ser nas refeições de família. e) Deixar cair da boca os alimentos ou borrifar com elles o vizinho ao falares. Quem tiver este defeito fale pouco e com cuidado. Em nenhum caso, porém se deve falar com a boca cheia. f) Dar estalos com os lábios e com a língua, como para mostrar que está saborosa a comida. g) Enxovalhar a roupa ou a toalha, enchendo demais o copo, entornando molho etc. Do copo devese encher apenas três quartos, no máximo e nunca esgotá-lo completamente nem escorrupichar as bebidas. É de bom tom deixar sempre algum resíduo de bebida: vinho, café etc. h) Cheirar a comida e os copos etc. tirar com os dedos alguma cousa que tenha caído no copo. i) Falar ou beber com a boca cheia, pôr na boca grande quantidade de comida de uma só vez. j) Comer ás pressas, o que além de incivil é prejudicial á saúde; a primeira digestão faz-se na boca. Evite-se, porém, o excesso oposto. k) Abrir a boca, mostrando assim o que se mastiga, limpar o prato com o pão, lamber os dedos, enxugar os lábios com as mãos ou com a manga. l) Virar demasiado o copo na boca deixando impressa a marca dos lábios, ou olhar para os lados enquanto bebe. m) Respirar, tossir, fazer qualquer rumor no copo, tomar longa respiração depois de beber. n) Coçar-se, cuspir, tossir, espirrar, tomar rapé ou assoar-se, sem absoluta necessidade. o) Nem falar muito ou muito alto, como os bêbados, nem tampouco ficar sério e carrancudo como si se estivesse descontente do tratamento. Não se censurem as iguarias e as bebidas, nem se louvem demasiado. Use-se especial cuidado nas conversações, para não sair dos limites da decência e do decoro, para o que de nada vale a fórmula “ com perdão da palavra “. 21. Além destas regras geraes dão-se outras para os diversos alimentos. Pão – Em geral o pão já se acha cortado em fatias num prato comum, quando não se distribui a cada um dos convivas um pequeno pão que depois será repetido quando fôr preciso. Toma-se uma dessas fatias de cada vez e não duas ou mais, segurando-a com a esquerda; parte-se um bocado com a direita e, com a mesma leva-se á boca. Se porventura se tiver que cortar o pão na mesa, tomar-se-á com a esquerda e cortar-se-á no ar ou apoiando-o no prato, não sobre a mesa ou sobre o peito. Não se separe o miolo da crosta para comê-los separadamente; tampouco é lícito esmiuçar o pão para comer os pedacinhos. Sopa – Se estiver muito quente, pode-se agitar um pouco com a colher, nunca soprando. Não se faça rumor com a colher no fundo do prato e os sorvos devem-se fazer sem estrondo. No fim poder-se-á inclinar um pouquinho prato para recolher o resto. Enquanto se toma a sopa não se deve beber vinho ou qualquer outra bebida, o que é muito prejudicial aos dentes. É reprovável encher demasiado o prato, ensopar o pão, principiar um ponto do prato e contorná-lo com a colher, tomar em duas vezes uma só colherada. Sal – Não se deve tirar o sal com os dedos ou com o cabo da colher ou do garfo. Quando não houver colherinha própria tirar-se-á com a ponta da própria faca, se ainda não tiver sido usada. Em caso contrário pede-se uma ao criado; não o querendo ou não o podendo fazer, coma-se do mesmo modo, ou então deixe-se no prato. Molho – O molho serve-se com uma colher apropriada e não virando a vasilha no próprio prato. Carne – A carne, assim como os legumes, come-se com o garfo. Não se toca com as mãos, não se destaca dos ossos com os dentes, mas com a faca e com o garfo. Os ossos de nenhum modo se devem roer ou chupar; não se põem sobre a mesa ou debaixo dela, mas na beira do prato. A carne pode-se comer de dois modos: cortando-a antes pedacinhos que se levarão á boca com o garfo, ou, o que é mais comum segundo o costume inglês, mantendo na direita a faca com que se cortam vez por vez os pedaços que serão levados á boca com o garfo conservado na esquerda. Peixe – Tira-se o peixe com a faca ao longo do dorso e, quando estiver servido, com auxílio do garfo separam-se as espinhas. 107  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho Manteiga – A manteiga não se estende de uma vez por todo o pão , mas á medida que se parte o pão vai-se-lhe pondo a manteiga, levando-o depois á boca. Quando a manteiga não fôr servida a cada um dos convivas, deve-se tirar da manteigueira, com a faca que ao lado dela estiver, uma certa quantidade, pô-la á beira do prato e servimo-nos dali. 24. Apresentando-se á mesa uma iguaria que não conheces e não sabes como se come não te deves servir dela. Assim também não acceites a incumbência de trinchar, se não estiveres nisto exercitado, pois qualquer imperícia pode ter graves conseqüências. Não é pois cavalheiroso insistir para que alguém tome tal encargo. 25. Quando fôr tempo de mudar os pratos, deixa que t´os mudem sem cerimônia. Cabe ao servente tirá-los, e não a ti oferecel-os. (Os que retiram os pratos devem fazel-o do lado direito). 26. Se durante a refeição houver leitura, deves escutal-a com atenção e em silêncio, evitando rumor com os talheres ; o mesmo se deve observar se houver canto, música, declamação ou cousa semelhante. 27. Para os brindes os costumes variam conforme os países. Entre nós está prevalecendo a praxe de não se tocarem entre si as taças ao findar o brinde, mas fazerem-se com elas apenas simples acenos á pessoa brindada. O brinde é uma composição literária completamente distinta das demais. Não é absolutamente um discurso, mas uma simples saudação brevíssima e quanto possível viva e brilhante. A rigor deverse-ia suspender completamente qualquer movimento para se prestar atenção exclusiva aos brindes e todos os convivas deveriam levar logo a mão às taças, certo de que o orador terminaria em poucos segundos; mas como se poderá isso conciliar com a praxe detestável – que felizmente tende a desaparecer – dos longos discursos á mesa? O ideal seria abolir de vez os brindes; mas enquanto isso não se conseguir, façam-se poucos, brevíssimos e um tanto espaçados, pela simplicíssima razão de que, quando se emendam muitos brindes, ou hão de os convivas deixar de comer por um certo tempo considerável, ou então, continuando a comer, faltar de consideração para quem fala. 28. A oração antes e depois da comida é uma prática que um christão nunca deveria omitir. 29. Para coroar este capítulo importantíssimo, resta dizer que a primeira e mais importante regra de educação na mesa é a temperança no comer e no beber. Quem come até se empanzinar e bebe até ficar alterado, é indigno de sentar-se á mesa com pessoas educadas. O alimento nos é dado, não para satisfação do apetite, como aos brutos, mas sim para conservarmos são o corpo, instrumento da nossa alma. Não é pois bem entendida a civilidade daquelles que insistem muito com os comensaes para que comam e bebam. 30. Julgo supérfluo acrescentar que se evite o menor estrago de comida: quantos pobres cobiçam os nossos sobejos! A demasiada prodigalidade e o estrago de comida merecem severo castigo de Deus, que ordenou aos seus discípulos recolhessem as migalhas de pão para não se perderem. 31. Um bom christão jamais aceita, em dias de abstinência, convites para refeições, feitos por pessoas que não a observam. Sendo surpreendido em taes refeições, deve-se ter bastante coragem para obedecer às leis da S. egreja. O effeito da tal proceder é sempre a estima dos comensaes sisudos. 32. Enfim, nem todas as regras aqui compreendidas tem sempre o mesmo valor. Em família e no seio das comunidades permitem-se algumas exceções, nunca, porém, em detrimento da cortezia, pois ahi, mais que em qualquer outro logar, deve dominar o afecto que é a norma da cortesia. X Ainda sobre o procedimento á mesa

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Acrescentamos aqui, como complemento ao capítulo precedente, que é sem dúvida dos mais importantes do compendio, alguns preceitos particulares extraídos dos melhores autores. Guarda-te de: 1. Fazer sopas de pão dentro da sopa, molho, ou o que quer que seja. 2. Encher o garfo de comida com a faca, para depois o meter na boca. Devemos levar no garfo o que elle pode apanhar com facilidade, e não mais. 3. Pegar no talher desastradamente. Devemos apoiar os cabos da faca e do garfo á palma da mão. A maneira de se manejar graciosamente o talher só se consegue pela prática e observação. 4. Estar com o garfo espetado, á laia de punhal; devemos sempre levar a comida á boca com um movimento curvilíneo ou do garfo ou da colher. 5. Comer e engolir com sofreguidão. Devemos fazê-lo sempre com vagar; comer atabalhoadamente é grosseria. 6. Encher a boca com comida de mais e mastigar ruidosamente. 7. Molhar o pão ou os biscoitos no vinho, café, chá etc. Leva-se o bocado á boca, mastiga-se um tanto e depois toma-se um sorvo de líquido. Esta regra é geral também para qualquer alimento, líquido ou sólido. 8. Alargar os cotovelos, quando se cortam as iguarias. Devemos conservar os cotovelos cingidos ao corpo. 9. Comer com a colher tudo o que pode ser comido com o garfo. Mesmo os gelados são agora freqüentemente comidos com o garfo. 10. Devorar a ultima colher de sopa, o ultimo bocado de pão, a ultima garfada de qualquer iguaria; a limpeza dos pratos não pertence aos convivas. 11. Pedir a repetição de qualquer prato. Devemos esperar que o criado o offereça. No entanto é preferível não repetir cousa alguma. 12. Estender a mão por deante das outras pessoas, na intenção de pegar qualquer cousa que esteja longe de nós. 13. Pedir ao vizinho que nos dê qualquer objecto que não esteja ao nosso alcance. Para isso é que servem os criados. Brincar com o guardanapo, com o copo ou com o garfo, ou com qualquer outro objecto. 14. Limpar a cara ou o queixo com o guardanapo. Devemos somente passá-lo levemente pelos lábios. 15. Voltar as costas a uma pessôa , com o propósito de falar de outra. 16. Conversar por deante da pessôa, que está sentada ao lado. 17. Estar acanhado. Devemos fazer a diligencia por estar á vontade, e têr por nós próprios o respeito que devemos aos outros. 18. Deixar cair a faca ou garfo no chão; caso, porém tal aconteça não devemos ficar atarantados. Dirijamo-nos placidamente ao criado pedindo-lhe que substitua o objecto caído, e não pensemos mais em semelhante ninharia. 19. Preocupar-te com estes pequenos incidentes; devemos deixar passar estas faltas sem comentários, e com filosófica indiferença. 20. Reportrear-te na cadeira. Os Romanos reclinavam-se em leitos, junto da mesa, mas a moderna civilização não o permite. 21. Debruçar-te sobre a mesa. 22. Usar palito á mesa sem grande necessidade; caso nos sirvamos delle, devemos cobrir a boca com uma das mãos, emquanto tiramos dos dentes o que nos incomoda. 23. Comer cebola ou alho, quando esperares visitas; devemos guardar as comidas com taes adubos para quando jantamos sozinhos e tencionamos ficar sós algumas horas depois de jantar. Não é agradável manifestar pelo olfato quaes foram as nossas refeições. Para o cheiro da cebola ou do alho é eficaz, no entanto, um copo de leite tomado logo a seguir. 109  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 24. Teimar com um convidado para que coma. Antigamente isto era costume, e era também considerado delicadeza da parte do convidado aceitar ou desculpar-se por se ver forçado a recusar. Maçar um conviva com offerecimentos contínuos é, presentemente, considerado mau gosto. 25. Como convidado, dobrar o guardanapo quando acabares de jantar. Basta que o ponhas de lado. 26. Ao recusar, um prato, dares como razão “que pode fazer mal” ou “que não gostas”. Basta recusar simplesmente, e ninguem tem o direito de perguntar porque. 27. Fazer a mais leve alusão a dispepsia, indigestão ou incomodos semelhantes. A digestão é um assumpto, muito intimo que fica só para nós. 28. Fazer notar, como conselho de amizade, que uma certa vianda é indigesta ou prejudicial a qualquer doença, etc. Não é delicado metermo-nos na vida alheia, e naturalmente a pessôa a quem nos dirigimos está muito mais apta do que nós para saber o que lhe faz mal ou bem. 29. Mostrar uma correcção de maneiras demasiado affectada; devemos ser naturaes na nossa delicadeza. Mais vale cometter leves faltas, que mostrar esforço para não as cometter. 30. Agradecer ao dono ou dona da casa o jantar para o qual fostes convidado; devemos somente á sahida expressar o prazer que sentimos com o convite. 31. Mastigar a comida com a boca aberta. 32. Assobiar ou cantar quando estiveres á mesa. 33. Beber pelo pires. No entanto, se esta grosseria ou outra qualquer fôr comitida por outra pessôa , não devemos fazê-la notar. 34. Meter a colhér na chávena de chá ou de café enquanto te servirem; este costume faz que muitas vezes se entorne a chávena. Devemos deixar ficar a colhér no pires. 35. Cortar o pão ás fatías; é preferível partir o pão á mão, em bocadinhos, e em seguida barrá-los de manteiga. 36. Quebrar um ovo quente na borda da chávena ou cópo. Quando ha algum recipiente adequado faz-se na extremidade do ovo uma abertura sufficiente e esvasia-se a casca. Em caso contrário deve-se comer na casca, abrindo a parte superior do ovo como se fosse uma tampa. 37. Levantarmo-nos da mesa antes de acabar a refeição. 38. Ler jornaes ou livros á mesa, quando haja outros convívas. 39. Deixar caír pingos de café, vinho etc., ou deitar nódoas de gordura no fato. Basta um certo cuidado para evitar estes incidentes. XI Da conversação Nosso Senhor na sua bondade deu-nos um instrumento que nos serve ao mesmo tempo de recreio, de repouso, de rehabilitação do espírito abatido pelas lutas da vida, e de escola de conhecimentos úteis: é a conversação. Quando nos sentimos cançados, nosso espirito busca o descanço no seio dos amigos; acabrunhados, nosso coração verte no coração amigo as suas magoas e attinge conforto e coragem. Cumpre-nos, pois, dever sagrado de não convertermos instrumento tão salutar em veneno e perdição. Muitas são as regras de civilidade que nos cabe praticar, para que a nossa conversação se torne atrahente, instructiva e moral. 1. Teu porte deve ser correcto e nobre, quer estejas sentado quer de pé. Deves, quanto possivel, collocar-te deante das pessoas com quem conversas, para poderes perceber a impressão que tuas palavras produzem, evitando porém o fitar demasiado algum interlocutor. 2. Tem cuidado em não falar muito proximo das pessoas que te rodeiam, de modo que te sintam o halito ou sejam alvejadas por algum perdigoto. 110  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 3. Evita contrahir os labios, enrugar a fronte, mostrar os dentes, fazer tregeitos ou gestos exagerados. Foge a affectação na pronuncia e na toada da voz, o habito de gaguejar, de truncar as palavras ou syllabas, cousas estas que causam enfado aos ouvintes. 4. Não fales muito alto de modo que tuas palavras degenerem em gritos, nem por demais baixo que não te possam ouvir todos. A voz deve ser modulada segundo os logares, o assumpto e o numero de ouvintes. 5. Evita falar fanhoso, cantarolar, declamar, repetir muitas vezes a mesma palavra por sestro. Não abuses das palavras exageradas e hyperbolicas, como: magnífico, esplendido, extraordinário, maravilho, etc. como também das palavra extrangeiras, o que além de tudo, indica ostentação. Sê parco no uso dos superlativos. Ao bello chamarás bello e não perfeito; ao feio chamarás feio e não horrivel. A exageração faz com que muitas pessoas deixem de ser acreditadas. 6. Evita as expressões pouco honestas e decentes e as palavras offensivas. O habito de dizer certas cousas, taes quaes são, abertamente e sem véo, não se allia á correcção dos costumes e á caridade. 7. Por assumpto das tuas conversas, nunca tomes cousas triviaes e frívolas ou demasiado conhecidas, nem tão pouco sublimes e pindaricas ou melancolicas e tristes. Deves evitar, quanto é possivel, falar de ti mesmo e, sendo necessário, faze-o em poucas palavras e ás pressas. O eu nas conversações é um estribilho muito desagradavel ao ouvido. Guarda-te sobretudo de mostrar desejos que te louvem, o que poderia produzir o effeito opposto. 8. Não comeces a contar cousas que não conheces bem, para não te arriscares a ter que interromper no meio a tua narração. 9. A satyra é com razão chamada uma das sete armas do demonio. Ella não convém á conversação na qual tudo deve ser amizade. Um satyrico será temido, mas nunca amado. Peior ainda acontece com os maldizentes e detractores e com os que os applaudem. 10. É louvavel entremear na conversa algum gracejo que mantenha alegre a companhia, quando isso se fizer com espontaneidade, graça e innocencia. 11. Não arremedes a voz e as maneiras d´este ou d´aquelle, nem ridicularises os outros. Os gracejos e ditos chistosos são permitidos com os familiares e inferiores, mas no justo limite. Se o companheiro a quem são dirigidos os gracejos, se resentir, será necessario truncal-os immediatamente; caçoadas que desagradam e offendem ao proximo são contrarias á caridade. 12. Percebendo que tua narração redunda em murmuração, é teu dever truncal-a, fosse embora attrahente. Si ouvires algum companheiro criticar as acções de outrem, embora ausente, procura com bons modos advertil-o. 14. Si estiveres em numerosa companhia, não deverás falar a um só ou de cousas que interessem a ti e a elle. Procura falar a todos e de cousas que a todos agradem. Não fales das afflições pessoaes ou das dôres da família, sem seres interrogado. Os choramingas são de peso aos outros. É preciso sabermos supportar a nossa cruz como fortes e só confiarmos nossas magoas aos que nos são caros. 15. Para que a conversação se torne amena e corrente, não é mistér contar muitas cousas a um tempo, fazer muitos preambulos e digressões; a confusão cança e aborrece. 16. Procura evitar os sestros, isto é, o habito de repetir certos gestos e principalmente certas palavras, como: não é? Sabe? Já viu? supponhamos, etc. O que tiver taes sestros difficilmente os percebe, não assim os ouvintes que se sentem logo maçados. 17. Evita os litígios. Si alguem te contradisser ou mesmo te offender, reprime teus impetos e sê generoso. Palavras pesadas não convencem o adversario, antes o exasperam, prejudicam a tua reputação perante os outros, e fazem-lhes perder o gosto pela conversação. 18. Se houver alterações em tua presença, não procures atirar tambem tu a tua pedra; procura ao envez dar novo rumo á conversa. 19. As discussões, embora fôra para desejar que não as houvesse, todavia têm não raro as suas vantagens. Acostumam a usar mais exactidão nas expressões, a communicarem-se reciprocamente as luzes intellectuaes; dão vida e movimento á sociedade. Cumpre porém evitar toda a questão religiosa e politica. Taes gêneros de discussão têm em geral como resultado scenas desagradaveis. 111  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 20. Se alguém em tua presença sustentar uma opinião que não te parecer exacta, ou mesmo tiveres provas de que é erronea, não lhe dirás: não é verdade – é mentira etc. mas procurarás adoçar a contradicção: perdoe-me se não sou do seu parecer – julgo que não é exacto – talvez o senhor não esteja bem informado etc. 21. É molesto quem teima na propria opinião, como se a verdade lhe fosse previlegio pessoal. A firmeza nas próprias convicções é virtude; não assim a obstinação em querer ter razão a todo custo. Pretender impor as próprias opiniões, enfurecendo-se e vociferando, é proprio dos loucos. Ordinariamente quem tem menos razão é quem mais grita, procurando suppir d´este modo á insufficiencia dos seus argumentos. As palavras offensivas então, nunca foram nem serão argumento convincente. 22. Os jovens não devem discutir com os mais velhos nem os inferiores com os superiores, a não ser que recebem para isto auctorisação; ainda assim devem apresentar escusas. 23. Seja tua conversação delicada e conscienciosa. Deus te guarde de falares contra a Egreja e suas instituições, contra o Papa, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos, etc. 24. Não mutiles nem adultéres o sentido dos textos sagrados. Evita tambem exclamar a todo instante: Meu Deus! Virgem Maria! Valha-me Deus! Jesus! Etc., o que é proibido pelo próprio Deus no mandamento: “Não pronnuciarás o nome de Deus em vão.” 25. Foge e abomina os discursos immoraes ou mesmo só inconvenientes, que poderiam ferir um ouvido innocente e puro e despertar-lhe sentimentos e imagens perigosas. Um jovem christão nunca será por demais mortificado. Longe de ti pois, toda a palavra obscena ou ambigua, toda a historia ou anedocta escandalosa e qualquer referencia leviana a pessôas de diverso sexo. Tudo isto denota corrupção e produz ás vezes notaveis damnos moraes. 26. As imprecações e as expressões que se lhes assemelham, como: Diabo!, co´os demonios!; mal raios te partam! etc. são cousas que nem gracejando se permitem. 27. As expressões baixas e triviaes que se referem ás necessidades naturaes do homem e cousas semelhantes, jamais se deveriam ouvir da bocca de pessôas que se prézam. Todavia é ridiculo o extremo opposto, isto é, fazer rodeios e mais rodeios para dizer uma cousa aliás simples, que, com a devida licença dos ouvintes e sendo necessario, poder-se-ia dizer sem temor. 28. Teu falar seja discreto e prudente: estas são qualidades de um coração bem formado. Não revéles os segredos que te foram confiados, a não ser que o devas fazer por motivo de consciencia. Não recordes antecedentes desagradáveis da vida de algum dos presentes, como seria uma falta, um engano, um parecer etc. 29. Sê ainda mais prudente e retrahido com pessôas desconhecidas, doutra sorte poderias comprometer-te, offender a alguem e grangear inimizades. 30. Não se prézes de saber muitos segredos fazendo disto ostentação; sei muita cousa ... se eu quizesse falar ... não é esta a occasião propria, se não ...; taes expressões offendem aos presentes, mostrando-lhes desconfiança. 31. Não faças perguntas indiscretas para saber segredos de outrem. Não peças a qualquer pessôa noticias de uma familia, dos seus bens, da sua vida etc. o que poderia offender gravemente. 32. Não procures escutar o que outros dizem em vóz baixa, seria até bom afastar-te. Não refiras a outrem o que ouviste d´elle em conversa, a não ser que se tratasse de cousa de pouca importancia ou de impedir a offensa de Deus, ou outro grave inconveniente. 33. Finalmente sê reservado na conversação ou, em outros termos, não fales demais. Alguns ha que querem sempre ter a palavra, como si fossem oradores officiaes; a conversa d´estes palradores torna-se enfadonha. A Sagrada Escriptura diz que no muito falar nunca falta o pecado. O grande tragico Racine revelou um dia a seu filho o segredo do attractivo da sua conversação: Eu não falo muito e procuro fazer sobresahir mais o espirito dos outros do que o meu. Deu-nos o Senhor dois ouvidos e uma só bôcca, para que falassemos pouco e ouvissemos muito. 112  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 34. Tampouco deves ficar mudo ou amuado quando todos falam. Teu silencio poderia ser tido por orgulho, antipathia ou desconfiança. 35. Alguns ha que sempre falam de si, das suas façanhas da sua casa etc. e nunca se cançam de narrar o que viram, o que fizeram e o que pretendem fazer e ver. Este genero de vaidade affasta a sympathia dos ouvintes; e no entanto, quantos ha que se acham atacados por esta doença! Não sejas desse numero. 36. Evita falar dos defeitos physicos, da cor, do semblante, dos cabellos, da pronuncia, do andar, numa palavra, do exterior do proximo. Evita sobretudo ridicularizar-lhe o nome, a familia, a profissão, a patria etc. Todos, em geral, somos por demais sensiveis nestes assumptos e não podemos admittir que nos toquem nessas fibras. Assim também nunca deves falar de uma corporação relígiosa, de um Estado, de uma familia, e especialmente dos finados. 37. Ha pessôas, e infelizmente não poucas, que não percebem a parte boa e louvavel de uma cousa e os dotes estimaveis de uma pessôa, ao passo que nada de reprovavel e defeituoso lhes escapa. Procurando com arte diabolica evidenciar os defeitos embora minimos. Esses assemelham-se ao gallo da fabula, que habituado a ciscar nos monturos e alimentar-se de immundicies, não soube apreciar as perolas. 38. Esta mania de criticar mostra não só a falta de educação, mas sentimentos ignobeis e caracter baixo. Lembrem-n´o especialmente os inferiores e estudantes, habituados a censurar e pôr em ridiculo tudo quanto dizem ou fazem os seus superiores! A insolencia delles offende a caridade, corrompe o animo dos ouvintes, fomenta a rebellião e amargura-lhes a existencia. 39. Sejam prudentes os que devem corrigir ou admoestar. Sua primeira qualidade é o imperio de si mesmos; não admoestem nem castiguem emquanto estiverem alterados, e não o façam em presença de outrem, a não ser que se trate de falta grave commetida publicamente. Na calma a voz da razão é mais facilmente escutada. A moderação no corrigir é signal de muito dominio de si mesmo. As pilulas adoçam-se para mais facilmente se puderem engulir, assim á correcção cumpre acrescentar sempre uma palavra de affecto e benevolencia. 40. Passando agora das palvras ás acções procura não fazer em companhia de outrem cousa alguma menos decente e civil. Por isso evita: a) Cortar ou roer as unhas, coçar-te, metter os dedos na bocca, no nariz, nos ouvidos etc. b) Tossir e espirrar em frente dos outros, cuspir, assobiar, cantarolar, esfregar corpos ásperos. c) Falar ao ouvido de alguem sem pedir licença aos presentes, avizinhar-te dos que falam em voz baixa ou contam dinheiro, voltar as costas ou passar por deante de alguem sem te desculpares. d) Abraçar, fazer cócegas nos outros, chamar alguem de longe; quando fôr preciso falar a uma pessoa que estiver longe, pedirás licença aos presentes. e) É mau costume chamar uma pessoa pelo nome onde se acha muita gente, como nas ruas, nas estações etc. Póde não ser conveniente tornar o outro conhecido. f) Espreguiçar-te, estalar os dedos, inchar as bochechas e soprar, esfregar as mãos e bater a cada passo com os pés. g) Deves tambem evitar de bocejar, o que indica aborrecimento; quando não puderes conter o bocejo, ampara a boca com o lenço ou com a mão aberta, boceja sem rumor e interrompe-te se estavas falando. h) Quando não puderes reter o espirro procura valer-te do lenço ou, quando não haja tempo, da mão, voltando o rosto para o lado. Cahiu em dedesuso saudar ao espirro de alguem, estando banidas as expressões: Saúde, Deus o ajude etc. i) Rir muito e por cousa de nada, como fazem os tolos, dar gargalhadas estrondosas que interrompam os outros e os enfadem. Não só o riso deve ser moderado, mas tambem os outros signaes de alegria, de desprazer, de maravilha etc. 41. Requer a cortezia que quando alguem fala, sigas com interesse a conversa e não te occupes em outras cousas, como ler, escrever, esfolhear livros, olhar o relogio, trocar signaes, rir, gracejar, interromper quem fala com outros, introduzindo outros assumptos. Em alguns casos porém é licito e até necessario, com a devida permissão, interromper quem fala, para fazer alguma observação ou 113  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho uma aprovação ou perguntar alguma cousa que se não comprehendeu bem. Para truncar um discurso indecente ou impio, o superior, e na falta deste, qualquer pessoa, está obrigada a interompel-o. 42. Quando numa conversação se tiver que entregar alguma cousa a um dos presentes, não se estenda a mão por deante dos outros, mas entregue-se por detrás. Se houver algum impedimento então se pedirá licença antes de passal-o pela frente. 43. Estando de pé, conserva o corpo direito; sentado, não estires ou cruzes as pernas. Balançar-se, estirar-se, apoiar-se aos cotovelos são modos inconvenientes. Quando te levantares não te espreguices, não suspires, nem soltes exclamações que indiquem cançaço. 44. Lembra-te emfim que da conversação depende a estima ou o desamor que te dispensarão os companheiros. XII Ainda sobre a conversação Guarda-te de: 1. Emquanto estiveres falando ou ouvindo qualquer pessôa, brincar com a cadeia do relogio. Este costume, alías muito vulgar, é de gôsto duvidoso. 2. Mostrar arrogancia aos inferiores e humildade e adulação aos superiores. Com estes últimos devemos ser dignos, com os primeiros devemos ter em consideração os seus sentimentos, por ínfima que seja a sua categoria. 3. Apresentar senhoras a homens; os homens, por mais elevada que seja a sua posição, devem sêr sempre apresentados ás senhoras. Os homens novos apresentam-se aos de idade; com as senhoras sugere-se o mesmo systema. 4. Mexer nas pessôas quando fallamos com ellas, agarrar-lhes nos braços e nos hombros, ou sacudi-las, para lhes chamar a attenção. 5. Falar mais alto do que os outros, ou tentar monopolizar a conversa. 6. Falar com uma pessôa, tendo outra de permeio. 7. Repetir os escandalos ou historias maliciosas que andam em voga. 8. Discutir pessôas de reputação equivoca, ou tocar em assumptos de discutivel decoro. 9. Quando expuzeres qualquer facto, exagerar até á mentira. Falar a verdade é uma questão de habito. Se poucas pessoas mentem por má intenção, a maior parte da gente torna-se falsa pela mania do exagero. 10. Estar sempre á espreita de ocasião para dizer facécias. Principalmente os homens tornam-se muito ridiculos com a mania de dizer chalaças que incommodam quem as ouve. 11. Quando perguntarem qual é a tua opinião a respeiro de alguem, dal-a com precipitação, sem medir as consequencias que podem resultar, caso repitam a essa pessoa o que disseres. 12. Se tiveres habilidade para imitações, estares sempre pronto para as exhibir em sociedade. Poucas pessoas gostam de ver os seus defeitos ridicularizados; e, mesmo que essas pessoas não estejam presentes, ha sempre um amigo mal intencionado, que lhes faz chegar aos ouvidos que fulano fez um admirável arremedo da sua pessoa, em tal jantar, ou reunião. 13. Responder por monossilabos a qualquer observação que nos fazem. 14. Ouvir com indiferença ou impaciencia o que os outros dizem. Devemos ouvir delicadamente toda a gente; é este um sinal de boa educação, que é necessario cultivar. 15. Estares sempre disposto a depreciar os outros ou a achal-os em falta constantemente. Se os elogios contínuos aborrecem, a censura a todos os actos alheios é igualmente muito irritante. 114  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 16. Não seres atenciosos com as pessoas de idade. A gente nova muitas vezes desdenha escandalosamente dos velhos, especialmente se são surdos ou padecem de qualquer outra enfermidade. Não ha nada mais delicado e que melhor mostre a bondade de um coração, do que as solicitas atenções, que se prodigalizam ás pessoas idosas. 17. Ralhar com as crianças ou com criados, deante de outras pessôas. 18. Como dono ou dona de casa, dares as ordens de uma maneira autoritária. Se as dermos com brandura, abedecer-nos-ao de melhor vontade. 19. Aborrecer as outras pessoas, dando-lhes parte das tuas sensaborias domesticas , como questões com criados, ou queixas do mesmo jaez. 20. Atormentar crianças, gatos e cães com brincadeiras grosseiras, que são sómente prova de pouco siso, e aborrecem a quem está presente. 21. Dizer mal de alguem que concorra contigo na mesma profissão ou no mesmo negocio. Devemos ter o orgulho e o respeito de nós mesmos suficiente para apreciar os meritos de um rival, em logar de os depreciar. 22. Julgar que, porque somos idosos nos é permitido usar uma linguagem menos delicada, ou fazer insinuações que causam embaraço ás pessoas novas. O espirito, assim como o bom vinho, deve até tornar-se mais puro e refinado com a idade. 23. Orgulhar-te por falares com demasiada franqueza, o que quasi sempre equivale a grosseria. 24. Fazer muitas perguntas a seguir, e insistir quando percebemos uma certa relutancia na resposta. Pode, por motivos desconhecidos para nós, sêr penoso ou desagradavel ao nosso interlocutor falar nesse assumpto. XIII Dos recreios O recreio é tão necessário ao descanço do corpo como ao allivio do espirito. Homens os mais austeros e virtuosos não só o permitiram, mas o recomendaram. Nos institutos de educação os jogos e exercicios ao ar livre são de verdadeira necessidade; nestes jogos é que deve consistir o recreio de taes institutos. Para maior vantagem, porém, destes recreios cumpre conhecer e observar algumas regras. 1. A recreação não seja demasiado longa nem breve demais; no primeiro caso, tornar-se-ia damnosa moralmente, no segundo, physicamente prejudicial. 2. Deve sempre ser alegre e tranquilla. Por isso evita, com a máxima cautella, os litigios, as brigas, as grosserias, os gritos e algazarras, as desordens de qualquer genero, como tambem a tristeza, a melancolia e o afastamento dos outros. 3. Prefere os brinquedos em que entre em jogo o movimento e abandona os em que seja preciso ficar parado, usar indelicadamente das mãos ou qualquer outra cousa contraria á bôa educação. 4. Seja qual fôr o brinquedo, não te mostres tão apegado a elle de modo a não quereres ceder o logar o outro, quando convier, nem tão reservado que não queiras tomar parte nelle, embora te convidem. 5. Não te excites demais no jogo por capricho ou ancia de ganhar; nem tampouco estejas distrahido e desinteressado, causando assim tédio aos companheiros. 6. É mau costume o zangar-se quando se perde, queixar-se dos collegas, attribuir-lhes o malogro, repetindo a cada momento os erros commettidos; quando muito, é permittido advertil-os com bons modos e quasi sorrindo. 7. Não mostres alegria pueril nem te gabes si sahires vencedor; a modéstia, mesmo nos jogos é signal de coração bem formado. 8. Trapacear no jogo é cousa reprovavel por ser contrária á civilidade e á caridade. Quem não é leal nos brinquedos, difficilmente o será em outras cousas. 115  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 9. Quem assiste ao brinquedo não se deve mostrar partidario, dar apartes ou, peior ainda, caçoar dos que brincam mal. Isto incommoda aos jogadores e ás vezes origina rixas. 10. Em caso de discussão, expõe com bons modos a tua opinião ou as tuas razões. Si o adversario não quizer reconhecer o teu direito, será melhor ceder, para que não se offenda a caridade. 11. Não faças da discussão uma rixa vergonhosa usando palavras de monospreso, como besta, estupido, animal, etc.; mostrar-te-ias com tal proceder summamente grosseiro e incivil. Quem emprega as mãos como argumento decisido, mostra-se peior que os brutos, que não possuem razão. 12. Pôr as mãos encima dos companheiros, estar abraçados ou de mãos dadas, atirar pedras ou agua, dar murros e pontapés como os garotos da rua, e outras cousas que não convem enmumerar, são actos da maior grosseria. 13. É diabolico o costume de provocar ira dos outros, quer com palavras pungentes, apellidos e zombarias, quer com actos contra a caridade. Peior ainda seria chamar outros para gosarem da exasperação dos companheiros. Taes modos são tão incivís que não quadram nem na classe mais vil e abjecta. 14. Si por ventura fores tu o alvo de taes grosserias, não sejas propenso a queixar-te e procurar vingança. Interpreta-as benignamente e procura soffrer estes pequenos desgostos, ou então rebatel-os com palavras amaveis, que ás vezes para melhor effeito poderão ter o seu quê de chistosas. 15. As conversações que se mantém durante o recreio, devem ser communs; por isso será grande falta de cortesia excluir quem quer que seja, dando á conversa apparencia de segredo. 16. Não freqüentes sempre os mesmos companheiros formando grupinhos em que muito facil será descambar a conversa para a murmuração, leviandade e até mesmo para a immoralidade. É esta sem duvida uma das peiores pragas dos collegios. 17. Parar a conversação, ou mudar de assumpto ao aproximar-se o superior equivale a condemnarse por si mesmo, fazendo crer que se diz em cousas que não se deveriam dizer. 18. Procurar companheiro doutras divisões, fugir a presença dos superiores, aproveitar-se de suas distracções, illudir-lhes a vigilância, sahir do logar de recreio sem a devida permissão, são cousas que suscitam juizos desfavoraveis a respeito de quem as commette e dão logar a justas suspeitas e consequencias graves. 19. Procedem mal os que se reunem para fazer algazarra, dar gritos prolongados á maneira de vaia; estes tomam pouco a pouco os instinctos do vulgacho e tendem a ser cidadãos insolentes e revoltósos. 20. Si algum superior jogar comtigo e tu venceres a partida, usa a delicadeza de não te exaltares, attribuindo-o antes a uma casualidade; e seja isso em signal de respeito e estima par com quem se faz pequeno contigo. 21. Seja onde fôr o recreio, procura que não haja estragos de especie alguma por tua parte. Portanto se fôr dentro de casa, não arrastes as cadeiras e as mezas, não quebres louças, não batas com as janellas e portas; se no jardim, repeita as flores, as plantas, as ferramentas etc.; se no pateo, não estragues paredes, portas, arvores, mettendo pregos, riscando, arranhando, escrevendo, etc. Usa especial cuidado em não enxovalhares a roupa dos teus companheiros e tua propria. XIV Do proceder fora de casa Nos passeios e em geral fora de casa, exige-se um comportamento mais correcto e civil do que no seio da família ou do collegio. Assim é que teu modo de vestir e de andar, tuas palavras e teus actos 116  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho devem revestir mais seriedade e attenção; os proprios companheiros devem ser convenientes á tua condição. 1. Teu traje seja adaptado á tua edade, aceiado e bem arranjado. 2.Teu traje seja moderado e correcto. Agitar os braços ou cruzal-os ao peito, inclinar a cabeça para frente ou para os lados, empinar o peito, requebrar-se, andar aos pulinhos, pôr as mãos nos quadrís ou nos bolsos, encarar as pessoas e os edificios, voltar-se para traz etc., são actos que parecem muito mal numa pessoa que se preza de bem educada. 3. Não deves correr pelas ruas, mórmante si forem muito freqüentadas, mas tão pouco andes muito devagar. Não batas com os pés no chão nem os arrastes á maneira de velhos e rheumaticos. 4. Levando bengala ou guarda-sól não o ponhas ás costas como faz o soldado com a carabina, não os faças girar, não apontes com elle, nem batas em tudo o que encontrares. 5. São incivís os que assobiam ou cantam pelas ruas, atiram pedras, tocam as campainhas das casas, param a observar-lhes o interior, dão encontrões nos que passam etc. 6. Devendo falar com alguem, não pares no meio da rua mas sim proximo á parede e por pouco tempo. Não incommodes nenhum dos transeuntes e si o fizeres sem perceber, pede-lhe desculpa; si fores tu o incommodado, guarda-te de fazer questão e segue o teu caminho. 7. Quando alguem vier na tua direcção, cede-lhe o passo pela esquerda retirando-te para a direita; si porem o outro não conhecer esta regra e não fizér outro tanto, deixa-o passar por onde quizer e evita questões. Nas esquinas procura evitar qualquer encontrão. Quem caminha na rua rente ás paredes das casas, tendo-as á mão direita, conserva a sua direcção; os que vêm em direcção opposta é que se devem desviar. Quando sahires em companhia de algum superior, ou pessoa distincta, dá-lhe sempre a direira, menos quando andares pelos passeios ou calçadas junto ás paredes, caso em que lhes deves dar o lado da parede, embora fiques tu á direira. A razão desta regra é que, sendo lado da parede mais resguardado de encontrões, salpicos de lama dos vehiculos etc. consedera-se como mais nobre e preferivel. 8. Evita os ajuntamentos, donde em geral se sahe maltratado. Achando-te cercado procura abrir caminho gentilmente. Não é civil deter-se a ver charlatães e a tomar parte nas diversões do vulgo. 9. Se te encontares em logares lamacentos, não imites a estravagancia dos que, de proposito, mettem os pés na agua. Procura o mais possível não enxovalhar a roupa e o calçado. 10. Caminhando com algum companheiro, não te apóies a elle nem lhe dês econtrões. Em conversa não fales demasiado alto de forma que te ouçam os estranhos; portanto evita a todo o custo as dicussões e, uma vez surgidas, interrompe-as promptamente. Não te rias exageradamente, que poderias ser tido por maluco ou bebado. 11. Passeando em numero de tres, darás o centro á pessoa mais digna. Quando houver mais de tres , a practica mostrará o critério a seguir. Devem porém, sempre occupar os logares do centro as pessoas mais dignas. 12. Não sejas avaro de saudações, mas tira o chapéo a quem t´o tira, e tira-o por primeiro aos superiores. Saúda tambem aos que saudarem os teus companheiros. 13. Se um estranho te pedir alguma informação, satisfaze-o gentilmente, deixando-lhe além da gratidão, uma impressão agradável, e de modo especial se fôr um estranho. 14. Se o teu companheiro se detiver a falar com outrem de assumpto que não te diz respeito, afasta-te um tanto para não te mostrares curioso. Isto farás sempre e em qualquer logar. 15. Fitar uma pessôa, especialmente se fôr desconhecida; observar-lhe os gestos, os passos, o vestuario e adornos, são actos reprovaveis, principalmente nos jovens, que devem ser espelhos de modestia. 16. Malcreado e immerecedor da estima universal se mostraria quem ousasse proferir graçolas indecentes ou contrarias á religião. 17. Nunca te recuses ao passeio prescripto, pois que este é um exercício utilissimo á saude. Procura achar-te prompto á hora da sahida sem te fazeres esperar.

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Fundação Luiz Almeida Marins Filho 18. Tem cuidado em sahir de casa bem asseiado e com as botinas engraxadas. Vê que te não falte a gravata e o collarinho. Obedece de bom grado ao guia do passeio e mostra-te satisfeito do logar para onde elle se dirigir. 19. Por toda parte encontram-te os olhares dos transeuntes; é preciso, pois, para edificação delles, que sejas reservado nos olhares, nas palavras e nas acções, composto na pessôa, grave no andar. O descuido, a negligencia neste ponto poderia trazer vergonha aos que te acompanham. 20. Guarda a devida distancia entre os companheiro, a qual não deve ser demasiado grande para que não se interponham ou atravessem pessôas extranhas, nem por demais pequena que corras perigo de pisar os companheiros. 21. Lembrem-se todos que o passeio não é uma corrida; todavia guardem-se de cahir no extremo opposto. Seria louvavel uniformares o passo, ao menos com os que tiveres ao lado. 22. Não dirijas a palavra aos da outra fila, nem caminhes tão distraido e absorto que vas de encontro aos que que passam e ás arvores, ou cáias em algum fosso. 23. Si todos falarem em altas vozes a comitiva parecerá um bando de papagaios. 24. Evita com todo o cuidado deter-te a examinar os objectos nas vitrinas, as figuras, os reclames etc. Emfim não chames a attenção dos companheiro para taes cousas, tanto menos apontando-lhes com o dedo. XV Ainda sobre o procedimento fóra de casa Guarda-te de: 1. Roçar-te pelas outras pessoas, acotovelal-as, ou mostrar de algum modo que lhe não dás consideração. 2. Não pedir desculpa, todas as vezes que pisares alguem, ou com alguem tropeçares, ou por qualquer fórma incomodares os outros. 3. Apontar para pessoas ou objectos. 4. Trazer a bengala ou guarda-chuva em posição horizontal. Este mau habito tem causado já accidentes bem serios, especialmente ás crianças, cujos olhos ficam á altura da ponteira. 5. Ficares parado nas esquinas ou nas portas das lojas, a olhar para quem passa. É um habito insolente e frívolo. 6. Fazer parar as pessoas conhecidas no meio dos passeios, impedindo o transito aos outros. Quando succede encontrarmo-nos com alguem, a quem desejamos falar, devemos desviar-nos para um dos lados do passeio. 7. Parar nas plataformas dos carros publicos ou ás portas dos vagões dos caminhos de ferro, nas estações, estorvando, assim, a entrada ou sahida dos outros passageiros. Lembremo-nos sempre dos direitos e conveniencias alheias. 8. Fazeres parar as senhoras, tuas conhecidas, na rua, quando lhes desejar falar. Devemos seguir um momento á direita dellas, e, ao despedirmo-nos, tirar sempre o chapéu. 9. Da pressa em fazeres apresentações. Devemos primeiro certificar-nos se as pessoas desejam ser apresentadas umas ás outras. 10. Durante um passeio, apresentar a pessoa que te acompanha a todas as pessoas do teu conhecimento, que encontrares na rua. As apresentações, feitas na rua, raras vezes tem consequencias. 11. Fazer parar uma pessoa conhecida, que anda a tratar dos seus negocios, excepto se tiveres qualquer outra cousa importante a comunicar-lhe. 12. Para alcançar logar num carro ou divertimento publico qualquer, empurrares as mulheres e as crianças, os homens mais idosos ou mais fracos. Se numa ocasião dessas, em consequencia duma 118  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho delicada concessão, um homem perder o seu logar, deve ficar com a consolação de valer mais que os outros. 13. Ocupar mais espaço do que o permitido num carro publico, ou vagão de caminho de ferro. 14. Mentir, asseverando que não ha logar, com o proposito de desviar a concorrencia dos outros e de ficar mais á vontade. 15. Entrar num theatro ou concerto depois do espectaculo estar começado e desse modo incommodar os outros. Devemos chegar cedo e sentar-nos a tempo nos nossos logares. 16. Falar quando se executa o programa. É indicio de má educação impedir que os ouros gozem do espectaculo. 17. Sahir de um theatro enquanto se representa; esperemos pelo intervallo para o fazer. As pessoas que tem este habito, e que egoisticamente incommodam os outros, offendem ao mesmo tempo os artistas e o auditorio. 18. Quando visitamos uma exposição de arte, passar por deante de outras pessoas que estão examinando qualquer das obras expostas. 19. Affectar conhecimentos artisticos ou technicos. Se realmente os possuimos, não devemos fazer delles alarde. XVI Das visitas As visitas tem grande importancia na vida da sociedade. Fazem-se visitas de parabens, de agradecimento, de augúrios de pezames, de recommendação, de amizade etc. As visitas conciliam os animos, desfazem as asperezas do caracter, habituam a maneiras delicadas e a um procedimento correcto; estreitam relações de amizade, subministram conhecimentos uteis, resolvem as dificuldades nas famílias, afastam os imfortunios ou pelo menos minoram-lhes o peso. Quantas vezes uma visita reconciliou animos desde longa data separados pelo rancor. Ninguem pois deve ignorar as regras que presidem ás visitas. 1. Visitarás teus superiores e os collegas com os quaes estiveres em relação. 2. Farás visita de agradecimento a um parente, a um amigo ou bemfeitor, depois de um favor recebido. 3. Farás visita de parabens aos amigos e conhecidos, por alguma prosperidade que lhes tocou, por uma condecoração, por uma promoção etc. Nos acontecimentos tristes far-lhes-ás visitas de pezames. 4. Onde houver costume, farás visita de felicitações aos superiores, parentes e amigos, no dia do seu anniversario ou onomástico, nas festas do Natal e Anno Bom etc. 5. É um habito louvavel para os estudantes, visitar durante as ferias os seus superiores e mestres, mostrando assim o reconhecimento devido a quem tanto se interessou pelo bem delles. 6. Maior é o dever que te incumbe de visitar os amigos ou conhecidos gravemente enfermos. Estes, apenas restabelecidos, devem retribuir com as suas as primeiras visitas áquelles que se interessaram por elles. 7. Rebribuir em geral as visitas é cousa indispensavel e deve-se fazer possivelmente no prazo de oito dias. Quando, por justos motivos, te vires impedido de retribuir uma visita, procura apresentar tuas desculpas para não passares por mal educado e para não offenderes talvez a quem te visitou. 8. Desta regra se exemptam as visitas dos amigos, que, sendo ás vezes innumeras, nem sempre é preciso retribuir; egualmente os superiores não estão obrigados a isso para com os seus inferiores, mas sempre que o fizerem, darão prova de bondade e grandeze dalma. 9. O desejo immoderado de fazer e receber visitas é indicio de vaidade; por outra parte negligenciar fazer as que são impostas pelo dever ou pelo uso denota preguiça e grosseria. 10. Para as visitas deves procurar as horas mais oportunas para quem as recebe; pos isso nem muito pela manha nem muito de noite, nem durante as refeições, nem nas horas de descanço ou de funcções religiosas nos dias santos. 119  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho Informa-te dos costumes da família a quem te apresentas para não te tornares importuno. 11. Si por ventura fizeres alguma visita intespetiva, procura desculpar-te antes e depois. 12. Não entrarás na casa e tanto menos nos aposentos alheios, sem prévia licença; por isso toca delicadamente a campainha, e, na falta desta, bate de leve á porta e espera que te venham abrir ou te mandem entrar. 13. Á entrada e á sahida, deves fechar a porta, a não ser que haja alguem incunbido disso. 14. Ao entrar faze o devido cumprimento ás pessôas que se te apresentarem, de cabeça descoberta e levemente inclinado. 15. O chapéo, o guarda-sol ou bengala e o sobretudo deixam-se ordinariamente na ante-sala; quando não a houver, conservarás os mencioados objectos na mão até seres convidado a depol-os. 16. As visitas de cumprimento, de felicitações e outras semelhantes devem ser breves especialmente si quem as recebe está muito ocupado. 17. Na casa alheia não quadra bem examinar os objectos quando não forem de exposição, tanto peior tocal-os. 18. Introduzido em logar onde se estiver comendo, é grasseria passear os olhos sobre a comida ou os commensaes. 19. Durante a visita observa com escrúpulo todas as regras de civilidade expostas para a conservação e, ao despedir-te, renovas os protestos de estima e as saudações. Se te quizerem seguir, insiste para que não tenham esse incommodo; se não obstante isso, te seguirem, renova a inclinação á porta. 20. Se durante a visita perceberes que os visitados têm pressa de se desocuparem, procura despedir-te logo. 21. Quando fores tu o visitado, não faças esperar muito o visitante. Se fôr um personagem notavel, vae-lhe ao encontro na ante-sala ou na porta da rua, convida-o a depor o chapéo, o capote etc. Ao partir restitui-lhe esses objectos, acompanha-o até á porta e não te retires emquanto não se tiver afastado. 22. Quando chegar á tua casa um forasteiro, conduze-o a resfrescar-se um pouco, ajuda-o a escovar a roupa, manda-lhe dar agua e tolha para lavar as mãos etc. Se deve ficar como hospede em tua casa, designa-lhe um quarto bem arrumado, informa-o do horario, não te esquecendo de indicarlhe os logares privados; cerca-o emfim de todo o carinho e gentileza com que tu proprio quizéras ser tratado. 23. Os meninos, ao fazerem visitas, devem ser acompanhados dos paes, ou ter ao menos sua permissão. Não te movas jamais para visitar pessôas de moralidade duvidosa; não é sufficiente não ter noticias más, e preciso tel-as bôas e de fonte certa, do contrario andarás ás cégas com manifesto perigo da tua virtude. 24. Sobre visitas observa mais as seguintes regras. Parece mal: a) Por menos tempo que um homem tencione demorar-se numa visita, entrar na sala com o sobretudo vestido. É igualmente de mau gôsto e deselegante trazer guarda-chuva fóra do caso de necessidade; o uso é levar na mão o chapéu e a bengala. b) Tentar apertar a mão a todas as pessôas presentes quando sejam em grande numero. Basta que o façamos ao dono e á dona da casa; um cumprimento é suficiente para os outros. c) Estender a mão a uma senhora, sem que dela provenha a iniciativa. Em regra, nunca devemos estender a mão a pessôas de mais idade e maior categoria, caso ellas nos não anime, estendendo-a primeiro. d) Como dona de casa, insistir com um visitante para lhe tirar das mãos o chapéu e a bengala. e) Tirar as luvas quando fazemos uma visita de ceremónia. f) Precipitarmo-nos para uma cadeira. É melhor esperar sempre que a dona da casa offereça para nos sentarmos, e nunca o fazermos antes disso. 120  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho g) Mostrar frieza e enfado, assim como tambem sêr efusivo e falador demais. h) Reparar na mobília, quadros, ou noutros objectos, como se, mentalmente, estivéssemos a avaliálos. i) Fitar os olhos com insistencia nas pessôas presentes. j) Não nos levantarmos todas as vezes que entra na sala uma senhora ou pessoa de respeito. k) Reclinarmo-nos no sofá ou nas poltronas. Só no nosso quarto, bem á vontade, nos é permitida essa exagerada comodidade. l) Cruzar as pernas quando estamos sentados. Quasi todos os homens têm êsse costume, que não é de bom gosto. m) Apoiarmo-nos apenas nos pés traseiros das cadeiras. n) Fazer movimentos com os pés, redemoinhos com os dedos polegares, manejos com a corrente do relógio, castão da bengala, botões, etc. o) Falar só em assumptos que nos dizem respeito. A verdadeira educação, diz um escritor espirituoso, consiste em ouvir contar cousas, que nós sabemos perfeitamente, por pessôas que as ignoram. p) quando nos convidam para tocar ou cantar, recusar, sem termos firme tenção de persistir na recusa. É uma intoleravel exibição de vaidade e capricho fazermos que a dona da casa teime comnosco, para, por fim, consentirmos em acceder aos seus rogos. q) Uma dona de casa insistir com uma pessôa para cantar ou tocar, quando essa pessôa já se escusou duas vezes. A primeira escusa póde passar por acanhamento ou modestia; mas, á segunda, deve cessar a insistencia. r) Falar em segredo deante de gente. Quando o que temos a dizer não póde ser dito em voz alta reservemos a confidencia para occasião mais opportuna. s) Numa sala, falar com uma pessôa sobre negocios que só dizem respeito a essa pessôa e a nós proprios, ou que não pódem ser comprehendidos pelos outros. t) Falar nas nossas doenças ou nos nossos desgostos de qualquer especie. u) Falar de pessôas desconhecidas das que estão presentes. v) Fazer espirito á custa dos outros, ou ridicularizar alguem. x) Insistir em falar na belleza de pessoas que estão presentes, na riqueza das casas de outras pessôas, no brilho de diversões alheias, ou na superioridade de alguem. O louvor excessivo de pessôas ou cousas ausentes póde descontentar as pessôas presentes. y) Depois de ouvir cantar ou tocar qualquer instrumento, referir-se elogiosamente a outras pessôas, que cantaram ou executaram o mesmo trecho. z) Levar a conversa para o lado da religião ou da política. As discussões sobre estes assumptos são freqüentemente causa de irritação; por esse motivo vale mais evital-as. a´) Interromper uma pessôa que está contando qualquer anecdota ou historia . É imperdoável esta falta, na sociedade. b´) Contradizer alguem. As divergencias de opiniões offendem, mas a contradição immediata a qualquer cousa que se diz é de pessimo effeito. c´) Questionar com as pessôas. Quando se conversa, é até interessante o vaivém continuo de replicas, mas nunca devemos cahir em discussões muito acaloradas. Quando tal succeda, os donos da casa devem intervir, e habilmente desviar a conversação para outro assumpto. d´) Quando contamos qualquer caso, pormenorizarmos todas as minúcias e fazermos pausas a cada palavra; devemos ser claros e prontos na nossa exposição, de fórma a chegar ao fim o mais depressa possivel. e´) Falar de um unico assumpto, ou sôbre cousas que não interessa as outras pessôas. f´) Repetir graças já sabidas ou histórias também muito ouvidas. h´) Repetir as conversações que ouvimos; de boca em boca as palavras perdem o sabor, e simples ditos, assim repetidos, podem causar desgosto. i´) Contar anecdotas e referir reminiscencias sobre parentes e amigos, que não são das relações dos presentes, que estes nem sequer conhecem de ouvido, e por quem se não interessam. 121  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho j´) Mostrarmos vaidade de nossos conhecimentos, ou falarmos de nosso talento sobre qualquér matéria. k´) Tornarmo-nos heroes das nossas próprias histórias. l´) Se por acaso temos viajado, estar constantemente a falar dos sitios onde estivemos, ou das aventuras que nos sucederam; tambem não devemos considerar os nossos compatriotas inferiores aos estrangeiros, pela razão de serem differentes os seus costumes nacionais. m´) Amuar porque nos imaginamos esquecidos. Pensemos, antes, em nos tornar agradáveis e acabaremos por nos divertir. n´) Mostrar aborrecimento, mesmo com um importuno. É boa educação fazermos boa cara ás várias maçadas, inerentes á vida social. o´) Á mesa de jogo, humedecer os dedos na bôca para passar as cartas. p´) Mostrar mau humor quando o jogo é contra nós. Devemos pensar sempre que jogamos para nos entreter e não para mostrar a nossa pericia, e ianda menos para augmentar os nossos haveres. q´) Deante de gente, abrir um livro e ler. Se estamos aborrecidos, é melhor irmo-nos embora; se o não estamos, devemos prestar atenção aos outros. r´) Colocarmo-nos no sitio mais cómodo, com prejuizo das outras pessôas. Nunca nos devemos esquecer de que o egoismo é o peior de todos os defeitos. s´) Quando um homem entra ou sai de uma casa, acompanhado de senhoras, passar adeante delas. As senhoras teem sempre a precedência. t´) Olhar constantemente para o relogio como se estivessemos impacientes de ver passar o tempo. u´) Demorarmo-nos tempo demais numa visita, ou sairmos precipitadamente, fazendo que as outras pessôas tambem sáiam. Basta um bocadinho de observação e bom senso, para calcularmos a occasião própria para nos despedirmos. XVII Das reuniões, theatros, academias etc. D. Bosco, o grande apostolo da juventude, dizia que o theatro deve ser destinado a cultivar o coração e que portanto jamais poderá ser causa da minima offensa de Deus. Foge pois d´aquelles espetaculos publicos onde como quer que seja se acha em risco a tua virtude, e procura tirar vantagem das diversões innocentes, que se costumam dar nos institutos de educação catholica. Para taes diversões observa as seguintes regras: 1. Quando se te conceder tomar parte num espectaculo, academia etc., sê grato para com os superiores, que com sacrificio a promovem, não dando signaes de inquietação, quando tiveres que esperar ou se representassem cousas que não fossem do teu agrado. 2. Não te precipites, não passes na frente dos outros, não tomes o melhor logar; conserva-te de cabeça descoberta, no teu logar marcado e não de pé, para que os outros possam ver livremente. 3. Não grites, não assobies, não faças signaes immoderados de alegria, e evita tudo quanto deve evitar um menino bem educado. 4. Apenas começado o entretimento ou levantado o panno, se for theatro, déves logo ficar em silencio. Si houver na tua frente alguem que te tire a vista, avisa-o com bons modos e não com maneiras bruscas. 5. Nunca desprezes e ridicularises o companheiro ou os companheiros que não representam bem, nem sequer dês signal de desaprovação. Ao cahir o panno, ou ao terminar o canto ou declamação, applaudirás sempre, embora não tivesse sahido a teu gosto. 6. Deves a todo custo evitar o mau costume de tossir e assoar-te a cada instante, ou perturbar como quer que seja a declamação, e, peior ainda, imitar os gestos ou a vóz do personagem. Não é 122  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho sem duvida este o modo de recompensar a quem faz todo o possivel para te recrear, á custa talvez de grande sacrificio. 7. Os que se deverem apresentar em publico, estejam bem preparados, para não fazerem figura ridicula e aborrecerem aos presentes que, si têm deveres, têm outrosim direitos. Quizera que me entendessem bem aquelles que, ou por deficiencia de preparação, ou por fraqueza de vóz ou por mesquinhez de materia, ou por falta de habilidade ou por qualquer outro motivo, tornam-se importunos, ou antes, insupportaveis ao auditorio. Optima e sapientissima cousa seria que esses oradores, apenas percebem o descontentamento geral, (e não é difficil perceber o sussuro e o bulicio dos ouvintes, os seus freqüentes e prolongados applausos, na realidade pouco merecidos), pruzessem termo aos seus arrazoados. Isto não seria culpavel mas cousa muito louvavel, ao passo que a obstinação seria fructo de orguho e má educação. 8. Sahindo do theatro guarda a devida ordem e não te abalroes na porta. Como em geral a temperatura de fora é mais fria, procura agasalhar-te bem ao sahir, para não apanhares resfriados. XVIII Do asseio 1. O asseio do corpo é dever principalissimo d´uma pessôa bem educada. Deves tomal-o muito a peito, porque a limpeza exterior revela, geralmente, a ordem e a pureza da alma, capta a sympathia e contribue para a saude do corpo. 2. Não te esqueças de tomar banho todas as semanas ou mais amiúde. Ao despertares pela manhã lava o rosto, as mãos e o pescoço e as orelhas fazendo uso de sabonete. Ficou celebre este dito dum historiador: “Eu meço a civilidade de um paiz, pelos kilogramas de sabão que consome.” 3. Vê que as tuas unhas nunca estejam crescidas ou orladas de preto. Apára-as ao menos semanalmente com a tesoura, não com os dentes e nunca em presença de outrem; não as cortes demais que seria prejudicial. 4. Os dentes devem-se lavar e escovar todos os dias. O asseio mantem-n´os, preserva-os da carie, e impede o mau halito. 5. Todas as manhãs deves pentear o cabello, o qual, para poder conservar-se asseiado e arranjado, não deve ser demasiado longo; uma cabelleira desgrenhada e empoeirada dá á pessôa um aspecto selvagem. Guarda-te porém de toda a efeminação e vaidade para fazeres bonita figura; não uses ungüentos e essencias perfumadas que amesquinham o caracter. Até os pagãos censuravam o cuidado exagerado do cabello. 6. Os pés devem ser lavados com frequencia, para não causarem damno á saúde e incommodo aos visinhos. Inqualificavel grosseria é a d´aquelles que tiram as botinas em presença de outrem. 7. Não imites os que coçam a cabeça, enxugam o suor com a manga do paletot ou com a mão, levam as mãos á bocca, aos olhos, ao nariz, e ás orelhas. Para taes necessidades é que temos lenço. 8. Não deves tossir ou espirrar com força ou proximo ás pessôas ou alimentos, flores etc. Procura pois voltar-te um pouco e levar o lenço á boca. 9. Grosseria crassa é a de escarrar e cuspinhar a cada momento, mais por habito do que por necessiade; cumulo de incivilidade seria cuspir por alto e com estrépito. Quando verdadeira necessidade o exigir, procura a escarradeira de modo que ninguem o perceba. Estando dentro de casa, jamais cuspas no chão. 10. Assoando-te, não deves fazer rumor como som de trombeta, nem usar ambas as mãos. A acção deve ser feita com a máxima desenvoltura, sem olhar depois para o lenço, nem metter os dedos nas narinas, como para completar a limpeza. O lenço depois de uzado não deve ser dobrado mas guardado de qualquer modo e com a maxima presteza. 11. Troca freqüentemente de lenço; não o ponhas sobre a meza. Si alguem deixar cahir ou esquecer o lenço em tua presença, advertil-o-as educadamente, mas nunca o apanharás tu mesmo.

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Fundação Luiz Almeida Marins Filho 12. Uzem grande attenção e empenho, neste particular, todos os que fazem uso de rapé. Estejam sempre premunidos de lenços e empreguem-n´os freqüentemente, procurando previnir a necessidade. 13. Quanto ao escarrar, venço a grande repugnancia que sinto e digo que não ha no vocabulario adjectivo para estigmatizar a incivilidade d´aquelles que arrancam dos pulmões os escarros, para cuspil-os ou engulil-os, produzindo um rumor desagradável, e grande nausea aos presentes. 14. É igualmente contrario ao asseio dizer ou fazer qualquer cousa inconveniente por si mesma ou que traga á memoria cousas nojentas e nauseantes. 15. Não offereças a outrem para cheirar, cousas que cheiram mal, como tambem jamais dês para provar cousas de mau sabor ou chames a attenção para o que é nojento. 16. Acontecendo alguma cousa de que resultasse para alguem confusão e vergonha, não faças caso e procura distrahir a atenção dos mais; si esse alguem fores tu e perceberes que os outros te observam pede-lhes desculpa em poucas palavras. 17. Á limpeza da pessoa é inherente o asseio da roupa, dos objectos do proprio uso, dos quartos que se habitam etc. 18. Para o asseio e conservação da roupa procurem os meninos não se sentar no chão, não se encostar ás paredes, não freqüentar brinquedos ou companheiros que os façam enxovalhar ou rasgar a roupa. 19. Escova tua roupa diariamente, de modo particular pelas costas para tirar a caspa, indicio de negligencia. Tem cuidado de não te sujares de sopa, café, vinho ou molho, de não te sentares em logares molhados e de não enxugares as mezas ou bancos com as mangas do teu casaco. 20. A roupa não deve servir de toalha nem de lenço. Ha muitos, especialmente entre os meninos, que para enxugar o rosto do suór e limpar os labios, empregam uma banda do paletot ou uma das mangas; outros há que enxugam as mãos nas calças; outros emfim, ao terminarem de escrever, passa a penna na camisa, no casaco, cabello etc. Todos esses mostram grande atrazo nas regras de civilidade. 21. Grande desleixo e desasseio mostram tambem os que trazem desamarrados os sapatos, ou o casaco; as calças abotoadas só pela metade, os bolsos cheios, o pescoço a apparecer, a gravata sôlta, os punhos da camisa cahidos etc. 22. As ceroulas não devem apparecer nem acima da cintura nem por baixo, junto das botinas, e sobretudo devem-se conservar sempre atacadas de modo que não lhes appareçam os cadarços. 23. Quem usa cinta não a conserve muito abaixo da cintura. É incivil tirar a cinta na presença de outrem, para arranjar as calças, ou usar d´ella como d´um brinquedo, girando-a, ou batendo nos outros. 24. Quando por ventura se descóse ou se rasga a roupa, é preciso mudal-a; o mesmo se observe quando estivér demasiado apertada. 25. Dormir com a roupa com que se passou o dia é proprio do preguiçoso, isto estraga a roupa, prejudica a saúde, impedindo a livre circulação do sangue e a transpiração. Deve-se usar camisa de dormir. 26. Vestindo-se e despindo-se é preciso ter cuidado com a roupa. Não imites pois aquelles meninos mal acostumados, que desabotoam d´um só golpe toda a roupa, arrebentam os cordões, rasgam e atiram as peças em desordem, vestem a roupa ás avéssas, calçam trochadas as botinas etc. 27. Vestir-se e despir-se são actos que se devem fazer sem auxilio de ninguem e com toda a decencia, não deixando descoberta, tanto quanto for possível, nenhuma parte do corpo. 28. Usa muita limpeza no leito, arruma-o com cuidado todas as manhãs, estende bem os lençóes de modo que não pendam mais dum lado que do outro. Deitar-se na cama fóra de horas de descanço é preguiça e molleza. 124  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 29. Ama e conserva a limpeza em tudo; nas salas, nos armarios nos bahús, na roupa, nos livros e cadernos etc. A ordem e a limpeza facilitam o trabalho, poupam dinheiro e agradam a todos. 30. Não atires por terra restos de fructas, pedaços de papel, farrapos, phosphoros usados etc., mas põe-n´os em logar apropriado. 31. Não sujes nem risques os bancos, as portas, as janellas, as paredes etc.: isto indica falta de educação e causa ás vezes damnos consideráveis. 32. A todos cabe o dever de zelar pela limpeza das privadas, porque d´outro modo tornam-se fóco de doenças. Não se escrevam sentenças, nem se façam garatujas de nenhuma especie. Do estado desse logares se pode argumentar a educação dos que os usam. 33. Permitta-se-me aqui reprovar o prodecer d´aquelles que ao sahirem de taes logares continuam a vestir-se e abotoar-se fóra, dando prova patente da sua má educação. 34. Emfim procura não levar para casa a lama dos caminhos; antes de entrar limpa as botinas no ferro, malha ou capacho que em geral se acha á porta ou na calçada. XIX Do vestuario, porte e habitos pessoaes No vestir, mais do que em outras cousas, deve-se guardar um razoavel meio termo entre os excessos, os quaes denotam vaidade ou negligencia. 1. A negligencia no vestir revela falta de attenção e respeito devidos ás pessôas com que se convive e ás vezes denota consciencia perturbada. 2. Deves, porém, evitar o luxo e a vaidade que consiste em ir atrás de todas as modas; ornar-se e adornar-se para attrahir os olhares, e vestir-se como um manequim. Estes modos effeminados dão provas de insensatez, de mesquinhez de caracter e de affectos, de instrucção superficial, e quiçá de desejos desordenados. Neste assumpto, como em tudo mais, deve predominar a simplicidade. Não deixes que teu corpo domine e escravize o teu espirito, o que seria a maior das degradações. 3. Teu vestuario seja commodo, decente e conforme á tua edade, á tua condicção, aos logares, tempo e costumes. O sentimento christão exige que tambem por meio do vestuario se distingam os dias sanctificados dos dias de trabalho. 4. O desalinho e descuido no vestir repellem a sympathia, pela característica de desordem que dão á pessoa. Não tolleres rasgões nas roupas e no calçado; nunca te falte um botão. 5. A correção e asseio exteriores reflectem de algum modo a honestidade interior. Na roupa, quanto fôr possivel, não deves deixar manchas ou nodoas de oleo, de tinta etc. A roupa de sahida seja escovada com freqüência. 6. O chapéo deve ser bem collocado na cabeça; desabal-o para a frente ou pendel-o sobre as orelhas são modos de garotos da rua; enterrado na cabeça indica rusticidade e cahido sobre a nuca revela leviandade. 7. As botinas devem ser commodas e bem limpas. Os chinellos ou sandalias só se usam á noite; não é permittido descer ao refeitorio, á egreja e muito menos sahir á rua, de chinellos. 8. Nas occasiões de funeraes e tambem nas procissões, baptizados etc. usa-se roupa preta. Assim tambem deve-se trajar de preto, ou ao menos pôr um fumo no braço esquerdo, em signal de lucto, após a morte de algum parente. 9. O porte da pessoa indica em geral a educação que ella recebe, a sociedade que freqüenta, a estima em que é tida, o dominio que exerce sobre si mesma e a consideração que usa para com as pessôas que a cercam. É cousa importantissima habituar-se a um porte nobre; para o conseguir devem os jovens empregar as suas energias ainda robustas: enthusiasmo do espirito e docilidade do corpo. 10. Seja teu porte natural, erecto, franco e desenvôlto. Não assenta num jovem andar curvo ou penso d´um lado como si lhe faltassem ossos. Abandonar o corpo a qualquer posição é indicio de preguiça, de fraqueza de vonttade ou de indifferença e desprezo para com os presentes, quando 125  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho não denota indolencia e ignorância. Tampouco deves andar teso e de peito estufado, ou ter um porte militar. 11. A cabeça deve estar sempre erguida, não atirada com indolencia para traz ou para os lados. Não a gires a cada passo como uma ventoinha nem a conserves tesa como uma coluna. Da posição habitual da cabeça alguns argumentam o caracter duma pessôa. 12. A expressão do rosto deve ser amavel e digna; um rosto carregado e nublado, refletindo um enfado habitual, só grangeia antipathia e desconfiança. 13. Teu olhar seja sereno e franco, tua fronte sem rugas, teus labios não se crispem bruscamente, mas conservem um leve sorriso. Não deixes que teu olhar vagueie cá e acolá, signal de leviandade e immortificação; não gires os olhos nas orbitas, o que dá ao aspecto um quê de austéro e selvagem; não fixes demais o olhar em pessôa ou cousa alguma para não passares por incivil. 14. É mais hygienico respirar pelo nariz que pela bocca; deve-se por isso conservar a bocca sempre fechada. Os tregeitos dos labios durante a conversação indicam trivialidade. 15. Tambem pertence á nobreza do porte, não resmungar, não fungar, não contarolar, não rir desordenadamente. O estulto, diz a Escriptura, levanta a voz quando ri, mas o sabio apenas sorri. Assobiar, mesmo estando sósinho, revela educação vulgar. 16. As mãos exercem papel importante no porte duma pessôa; não se devem metter nos bolsos, cruzar sobre a cabeça, pôr nos quadris, esfregar a cada momento etc. Tambem é reprovavel, como se disse atraz, estalar os dedos, espreguiçar-se, passar a mão continuamente pelo rosto, metter os dedos na bocca, no nariz, etc. bem como tocar tambor sobre as mesas ou nas vidraças. 17. Conserva as mãos no seu logar, isto é, não toque nas pessôas com quem falas, não as tomes pela mão ou pelo braço, não batas nas costas dos outros, não lhes faças cócegas. – Evita estes e outros actos descorttezes e não permittas que se usem para contigo. 18. É licito gesticular com as mãos enquanto se fala, par dar mais efficacia e energia ao discurso; porém, sejam esses gestos moderados. 19. Estando de pé, conserva o corpo aprumado; não lhe abandones o peso sobre uma perna, dobrando a outra, não te encostes, quanto for possivel, ás paredes, ás arvores etc. 20. Sentado, apóia as mãos sobre os joelhos ou sobre a mesa, quando houver; não cruzes as pernas, não te sentes dando a frente ou um dos lados para o espaldar da cadeira, nem neste estejas a balouçar-te. Em companhia não te sentarás, se os demais estiverem de pé ou vice-versa. Procura emfim não te sentares mais do que o necessario, para não envelheceres precocemente. 21. O andar adápta-se á edade e ao estado de cada um. O andar desanimado lento é signal de fraquesa e indolencia; o andar precipitado indica estouvamento e leviandade e expõe a não poucos perigos. A préssa no andar póde, porém, ser justificada, como por exemplo, por um negocio urgente, por uma desgraça, por motivo de chuva etc. 22. Quando andas deves olhar para o chão, para veres os obstaculos que tens á frente e não dares encontrões nos transeuntes ou nas arvores; os braços não se devem agitar demasiado como badalos de sino, nem se devem bater os pés como para enterrar as pedras. 23. Emfim empenhem-se todos por adquirir um porte nobre e conserval-o hatibualmente, tanto sós como em companhia, certos de que não captivarão jamais a benevolencia e sympathia, usando maneiras bruscas e indolentes. Ainda a respeito de vestuario e habitos pessoaes guarda-te de: a) Usar roupa branca enxovalhada. Devemos ser especialmente escrupulosos neste ponto. b) Não ligar importancia a certos promenores de toilette. Muitas pessoas , asseadas noutras particularidaes, descuidam, por exemplo, o arranjo das unhas, trazendo-as pouco cuidadas. c) Deixar crescer pelos dentro das ventas, ou das orelhas, minúcias de toilette, das quaes muitas vezes não fazemos caso. 126  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho d) Limpar os ouvidos, o nariz, polir ou limpar as unhas deante de gente. O asseio e a elegancia em todas as cousas que dizem respeito á toilette são indispensaveis, mas todos esses arranjos se devem fazer longe das vistas dos outros. e) Usar nos fatos côres berrantes. f) Usar qualquer cousa no vestuario, que seja amaneirada. É preferivel escolher côres comedidas, e não adoptar qualquer feitio que torne a figura caricata. g) Usar alfinetes, anéis ou qualquer jóia, que dê muito na vista. Botões de camisa, alfinetes de gravata, corrente de relógio, etc. são artigos necessários; estes mesmos objectos, quanto mais simples, mais apropriados são á toilette masculina. h) Assobiar na rua, nos carros, em reuniões públicas, emfim em todos os sítios onde isso possa incommodar. É mesmo mais delicado nunca assobiar. i) Rir com estrondo. Faz gôsto ouvir rir naturalmente, mas não ouvir gargalhadas estridentes que irritam os nervos e são impróprias de pessôas educadas. j) Sorrir ou fazer trejeitos a propósito de qualquér cousa. O sorriso ou o riso devem vir em ocasião apropriada, pois rir constantemente e sem motivo é signal de pouco siso. k) Bocejar, soluçar ou espirrar deante de gente. Quando receamos que isso succeda, devemos deixar de respirar um instante, e os soluços ou espirros desapparecerão. l) Assoar-te ruidosamente. Quanto menos barulho fizermos, melhór. m) Têr o hábito de deixar descaír o labio inferior, e conservar a bôca aberta; mesmo quando dormimos, a bôca deve conservar-se sempre fechada. É indício de fraqueza de carácter, e até nocivo para os dentes e para o estado geral, o mau hábito da bôca aberta. n) Levar constantemente as mãos á cara, com o pretexto de torcer os bigodes, arranjar o cabêlo, etc. o) Irromper pelo quarto de outra pessôa sem pedir licença. É sempre costume bater á porta e esperar que respondam, antes de se entrar. Por maior que seja a nossa intimidade, nunca devemos esquecer este pormenór. p) Não tirar o chapéu (evidentemente referimo-nos ao sexo masculino) em qualquer aposento particular. q) Entrar em casa alheia a fumar. r) Mexer em cartas, contas, ou cousas de carácter particular, que se encontrem em cima da secretária de outra pessôa. s) Olhar por cima do hombro de alguém que está lendo ou escrevendo. Devemo-nos conservar um tanto apartados. t) Têr as pernas em tremor nervoso, oscilar ou bates com os pés, abanar com o corpo. u) Ao fechar as portas, bater com elas, e esquecermo-nos de as fechar, quando entramos ou saímos de qualquer aposento. v) Beber vinho ou qualquer bebida alcoólica em jejum. O melhor é não beber vinho, senão às refeições. Não haja vergonha em recusar qualquer bebida que nos ofereçam. Quem se escandalizar coma recusa, mostra que não é nosso amigo, nem digno da nossa amizade. XX Da Saudação 1. Desde jovem, habitua-te a saudar devidamente as pessôas com quem te encontrares. A saudação é um reflexo do amor do proximo; ella inflúe no animo de quem a recebe de tal modo que faz logo conceder juízo favoravel da pessôa que a faz. 2. A saudação num encontro faz-se com um aperto de mãos entre amigos, tirando levemente o chapéo e fazendo ao mesmo tempo uma inclinação com os superiores. Nunca extendas a mão por primeiro a um superior; se este a offerecer, tocal-a-ás levemente. 3. O chapéo tira-se por completo. É ridiculo erguer-lhe simplesmente a aba ou tiral-o e conserval-o suspenso sobre a cabeça. A saudação militar é reservada exclusivamente aos militares. 127  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 4. A falta de desenvoltura e a indecisão no saudar indica que o individuo ainda não tem o habito de cortezia. 5. Quando se avistam de longe amigos ou superiores, tem-se obrigação de saudal-os o melhor possivel , isto é, tirando o chapéo, e inclinando-se amavelmente. 6. Quem tiver na bocca um cigarro, deverá tiral-o com a esquerda e descobrir-se com a direita. 7. Se o personagem que se encontra é notavel, como um bispo, um ministro etc. é necessario deterse um pouco em attitude de respeitosa reverencia e ficar descoberto até que elle se afaste. A expressão do rosto deve ter diversos tons, conforme o estado e condição de quem saúda; grave a respeitosa para com os superiores, cordial e alegre com os eguaes, amavel e benigna pra com os inferiores. 8. Pelo caminho saudarás: a) as pessôas que te saudarem, - b) as pessôas que saudarem quem te acompanha ou sejam por elle saudadas, - c) os superiores, mestres, patrões, bemfeitores, conhecidos e amigos, - d) todos os personagens disctintos civis e ecclesiasticos, embora desconhecidos. O soldado tem o dever de cumprimentar os seus officiaes, quer os conheça quer não; ora, os sacerdotes são os officiaes da milicia catholica. 9. Passando por diante de uma egreja ou capella onde se conserve o Santissimo, deves saudar a Jesus Christo, descobrindo a cabeça. O mesmo farás ante as imagens e os altares. 10. Encontrando uma procissão ou um funeral tirarás egualmente o chapéo, e te conservarás em posição respeitosa até que o prestito tenha passado. Se encontráres o Santissimo quer em procissão, quer como viatico, ajoelhar-te-ás com ambos os joelhos até que se tenha afastado. 11. Desviar o olhar de uma pessôa conhecida é mais do que grosseria: é vileza; não saudar as pessôas com quem se teve alguma desavença, denota sentimento antichristão; não saudar uma pessôa porque é de condição huminde é orgulho manifesto. 12. O aperto de mãos é signal de amizade e intimidade. Quem dá a mão deve fazel-o com garbo, apresentando toda a mão, não um ou dois dedos só; o outro deve apertal-a delicadamente sem a sacudir. 13. Os abraços são permittidos entre amigos, depois de uma ausencia ou quando se separam por algum tempo; abraçar-se, porém, em plena rua não seria muito conveniente, sem um motivo razoavel, por attrahir demasiado os olhares. Os superiores usam ás vezes este signal de benevolencia para com os inferiores, mas estes nunca devem ser os primeiros, exceptuados raríssimos casos. 14. Os beijos só são permitidos entre parentes intimos, como : pae, mãe, irmãos – Dão-se por occasião de separação ou de volta, após longa ausencia, e só pertencem á intimidade domestica. 15. Os filhos, á primeira vez que vêm seus paes, pela manhã, e á noite, antes de se deitarem, devem tomar-lhes a bençam. 16. Entre amigos e conhecidos costuma-se acompanhar a saudação com alguma phrase, como : Bom dia, bôa tarde, bôa noite! ou como vae?, como tem passado? etc. a que se responde,vou bem, obrigado, e o senhor? Quando se continúa a conversar e se está na presença de algum superior, conserva-se a cabeça descoberta até se receber convite para pôr o chapéo. XXI Do proceder nas viagens Todos sentem prazer ao verem-se nas viagens, rodeados de companheiros cortezes e civis. É portanto de summa utilidade saber como se deve viajar. 1. Nas viagens dever trajar, se não como nos dias de festa, ao menos com decencia e asseio; é este um dever não só para com as pessôas com quem viajas ou com quem te podes encontrar, como é 128  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho tambem um dever para contigo mesmo, porque nas viagens estás exposto a mil olhares e a mil juizos. 2. Para as viagens de trem dão-se as seguintes normas: a) Cada um é livre de procurar a propria commodidade, sem todavia lesar a caridade e a cortezia. É conforme a civilidade deixar, ou antes offerecer os logares mais commodos ás pessôas respeitaveis e idosas e aos superiores. Taes attenções são uma recommendação da nossa pessôa aos companheiros de viagem. b) A pessôa educada não se atropela nos vagões, não empurra os ouros para tomar os logares melhores, não occupa mais logar do que o necessario, não estira as pernas sobre os assentos, etc. c) Nas viagens, deve-se antes de tudo apprender a calar. Assim como não se deve falar muito, tambem não se deve falar alto de maneira a perturbar a conversa ou a leitura dos outros. Nunca é demasiada a reserva, sobretudo com extranhos; portanto não fales das tuas cousas intimas e familiares ou de cousas de cuja revelação te possas arrepender. Quantas vezes a loquacidade por demais ingenua nas viagens foi causa de grandes males e lutas sangrentas! d) Evite-se tudo quando póde produzir nojo ou incommodo nos outros, como fumar próximo de outros viajantes, fazer rumor ou cantar, etc. Si se perceber que uma janella aberta incommoda alguem, deve-se fechar immediatamente por mais agradavel que nos seja o ar. e) Procure-se, quanto possível, não comer no trem, si todavia não se puder fazer diversamente, uzem-se alimentos asseiados e não muito cheios de molho. É permittido offerecer aos companheiros de viagem mais proximos, fructas e doces; outros alimentos só a pessôas intimas se podem offerecer. f) Descendo de trem usa os devidos reparos, afim de não incommodares aos outros. Portanto, não te precipites para seres o primeiro, não dês encontrões nas pessôas, procura não esquecer nada etc. Saúda cortezmente os companheiros de viagem com expressões delicadas. g) Os avisos da companhia ferroviaria devem-se observar á risca para evitar abusos, estragos e desastres. 3. O mesmo que se disse para os trens, diga-se para os bondes, observando que nos bondes não se póde comer e só se pode fumar nos bancos em que isso é permitido. 4. No hotel o viajante tem uma relativa liberdade, a qual, porém, não o dispensa das regras de conveniencia. a) Conserva um aspecto modesto e cortez; não faças actos triviaes, não sejas austero, exigente, imperioso para com os criados. Occorrendo queixar-te, faça-se isso com as devidas considerações. b) Ás refeições recorda as regras já expostas para tal fim. Não dês motivos a juizos desfavoraveis sobre a tua probidade. c) Ao despedir-te paga a conta sem longo questionar e dá de bom grado um gorgêta aos criados. 5. Se visitares uma egreja, um instituto, um museu etc. poderás ver tudo, mas em nada deverás tocar sem permissão. Os antigos diziam que os nomes dos estultos são escriptos em toda a parte, por isso guarda-te de escreveres o teu nome em qualquer dos logares a que fizeres visita. XXII Do proceder como hospede A hospitalidade muito contribue para estreitar e solidificar a amizade. Convem pois apontar aqui alguns deveres tanto de quem offerece hospitalidade como de quem a recebe. 1. Quem convida alguem á sua casa deve: a) Subministrar ao hospede quando fôr necessario para a sua permanencia. b) Ir esperal-o á estação se puder, ou mandar alguem da familia e, só em ultimo caso, o criado. c) Depois dos primeiros cumprimentos, acompanhal-o ao aposento que lhe foi destinado, dizendolhe que póde fazer de conta que está em sua casa, que não faça cerimonias etc. etc. d) Acompanhando-o deve revistar o quarto para ver que nada falte. 129  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho e) Tratal-o com toda a amabilidade, leval-o a algum passeio para ver as maravilhas da cidade ou do logar etc. f) Não lhe dar suspeitas de que por sua causa algum membro da familia teve que se incommodar, dormir fóra, ou que a sua presença trouxe desarranjo ao andamento da casa etc. 2. Pode-se acceitar hospitalidade: a) Quando se conhecer que a offerta é feita de coração e não, como ás vezes succede por pura formalidade. b) Quando quem a offerecer tiver o direito de o fazer. Cabe aos paes convidar aos amigos e companheiros de seus filhos. Quem fosse a uma casa sem ter sido convidado se exporia a uma repulsa ou a uma má recepção. c) Quando quem convida tem meios para a manutenção do hospede. Se percebermos que a nossa visita traz incommodos ou que a nossa presença causa certo enfado a alguem, melhor e mais prudente será não acceitarmos. 3. Sem algum motivo não convem ir visitar senão parentes muito chegados ou amigos intimos. Chegando d´uma viagem, melhor é que se vá a um hotel. Mas se um amigo ou conhecido convida instante e sinceramente, recusa-se no principio cortezmente, mas depois pode-se acceitar. 4. O hospede tem deveres para com a familia que o recebe: a) Mostre-se satisfeito e alegre do tratamento, não censure a habitação, a comida, a criadagem etc., ao contrário, use todos os signaes de approvação e reconhecimento. b) Evite tudo quanto possa ser molesto. Não se intrometta em tudo, não reviste todos os logares da casa, não mostre muita curiosidade de saber dos interesses da familia etc. c) Não esqueça que é geralmente bem recebido aquelle hospede que permanece pouco tempo; portanto despeça-se logo que puder, para não se tornar enfadonho. d) Seja generoso e ao partir dê alguma gorgeta aos criados pelos seviços recebidos. e) Tenha em vista a grande obrigação do segredo sobre os negocios da familia. Quem convive por muito tempo com uma familia , chega a ter noticias sobre os haveres, interesses, liames e mil outros particulares que não devem de modo algum ser divulgados. Preceitos geraes Guarda-te de: 1. Pedir livros emprestados e não os devolver promptamente. Tambem os não devemos estragar, dobrar as lombadas ou as páginas, nem escrever nas margens ou enchel-as de nódoas. Todo o cuidado é pouco com objectos emprestados. 2. Tocar, em excesso, violino, piano, ou qualquer instrumento músical. Os vizinhos têm nervos, e não os devemos maçar constantemente. Se pudéssemos conseguir tocar somente um instrumento depois de o conhecermos perfeitamente, seria um ideal, principalmente para os que nos ouvem. 3. Ser egoista. 4. Não ser pontual. 5. Irritar-te, se as cousas não te correm bem. 6. Estar carrancudo e silencioso. 7. Ser rabujento; não existe paz numa casa, onde haja uma pessoa com esse deploravel defeito. 8. Incomodar de algum modo os teus vizinhos. 9. Se praticares alguma boa acção, falares nella depois. 10. Servir-te com frequencia das tuas relações, para lhes pedires favores. 11. Lêr cartas que não te são dirigidas, sem permissão do destinatario, por mais familiar que te seja o nome que as subscreve. 12. Dar promptamente conselhos sobre o viver domestico ou economico de qualquer pessoa. 130  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 13. Suppor que qualquer excentricidade, como usar o cabelo comprido de mais (referimo-nos ao sexo masculino), trazer as unhas muito crescidas ou o fato com um córte especial, etc., são signaes de genio artistico ou poético.

Na casa alheia Guarda-te de: 1. Quando fores ao campo visitar alguem, demorares-te, se não tiveres grande intimidade com as pessoas que te convidam e ellas não insistem para o fazeres. 2. Tomares demasiado á letra o convite dos donos da casa “ para estares tanto á vontade em casa delles como na tua propria.” 3. Quando estiveres hospedado em qualquer casa, deixar de seguir os costumes dessa casa, como levantares-te ou deitares-te tarde ou cedo de mais, fumar nos quartos, lêr na cama, etc. 4. Esqueceres-te de vir previnido com papel de cartas, sellos, navalhas de barba, escovas de dentes etc. Nunca devemos pedir emprestados estes objectos. 5. Quando estiveres hospedado em casa de algum amigo, visitar uma pessoa, com quem o dono a casa tem relações cortadas, embora essa pessôa seja muito da tua intimidade. Para as crianças Muitas das instruções, que damos neste livro, são tão aplicáveis ás crianças como ás pessôas crescidas; no entanto algumas há especialmente dedicadas á infância. Neste capitulo repetimos, contudo, alguns dos preceitos que temos dado nos precedentes, afim de bem se fixarem nos espiritos infantis. Para os rapazes Guardem-se de: 1. Diminuir a polidez e a consideração que a todos se deve, com a idéia falsa de pareceres affectado ou effeminado. Os rapazes querem-se vigorosos e varonis, o que não quér dizer que não possam juntar a essas qualidades uma excelente educação social. Convém que os usos um pouco livres de certos esportes não prejudiquem as boas maneiras, essenciaes na sociedade; estas devem cultivarse com afinco, de modo que á força de hábito se tornem uma segunda natureza. 2. Esquecerem-se de dar os bons dias todas as manhãs á familia, e, ao deitar, as boas-noites. Quando um rapaz entra na aula, deve tambem cumprimentar logo o professor, assim como quando sai. 3. Quando se encontram na rua senhoras conhecidas, não lhes tirar o chapéu: o mesmo se deve sempre fazer aos homens mais idosos. 4. Não se levantarem, quando entra alguma visita. 5. Entrar precipitadamente mum quarto, sejam quaes forem as circunstancias, sem pedir licença, e quando entrarem, não cumprimentar delicadamente todas as pessoas presentes. Quando se apresentarem não devem tocar na mão de pessôa alguma, sem que ella o faça primeiro. 6. Interromper qualquer pessoa quando fala. Não é mesmo de bôa educação os rapazes meteremse na conversação das pessoas adultas. 7. Assobiar deante de pessoas de respeito, tamborilar numa cadeira ou na parede, bater com os pés no chão, finalmente fazer qualquér barulho desnecessario e incomodo, deante de gente. 8. Gritarem quando falam, dentro ou fóra de casa. 9. Esquecer todas as instruções que no primeiro capitulo deste livro se referem á maneira de estar á mesa. 10. Sentarem-se antes das outras pessoas. 131  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 11. Tamborilar na mesa ou fazer barulho durante as refeições. 12. Brincar com o talhér ou com qualquer objecto. 13. Debruçarem-se sobre a mesa ou pôr sobre ella os cotovelos; podemos apenas apoiar as mãos ou os pulsos. 14. Gorgolejar quando se come a sopa. 15. Estender a cabeça por cima do prato, como se nunca tivessem visto a iguaria servida, ou tivessem mêdo de que alguém a roubasse. 16. Afastar muito os cotovelos do corpo. 17. Comer com a faca. Só se levam á bocca a colhér ou o garfo. 18. Engulir grandes bocados. 19. Fazer ruído com a bocca, quando comem ou bebem. 20. Sêr menos respeitosos com o professor ou pouco applicados ao estudo. 21. Maçar os condiscipulos com partidas. 22. Apoquentar os irmãos ou os companheiros de brinquedo. Não ha nada mais aborrecido do que uma criança rabugenta. 23. Esquecerem-se das attenções que deve ás pessoas mais velhas. São ellas, a um tempo, prova de delicadeza de sentimentos e de maneiras. 24. Praticar actos, que depois os possam envergonhar. 25. Deixar de dizer a verdade em todas as circunstancias. Sejamos sempre francos, cordeaes e honestos. 26. Trazes as mãos ou as unhas sujas, e descuidar a limpeza dos dentes, ouvidos, etc. Os rapazes bem arranjados e asseados, tornam-se simpáticos a toda a gente. Para as meninas Quasi tudo o que já dissemos acerca dos rapazes deve ser igualmente applicado ás meninas. Guardem-se as meninas de: 1. Tratar sem consideração as pessoas que nos são inferiores. É desagradavel ouvir uma menina ralhar com os criados, ou dar quaesquer ordens de uma maneira autoritaria. O bom tratamento para com os inferiores é indicio de polidez e tambem de uma alma bem formada. 2. Não cumprimentar amavelmente todas as pessoas da familia, pela manhã. 3. Amuar, quando os nossos irmãos as metem em ridiculo. Da parte dos manos, não é isso bom costume; no entanto, quando tal succede, nada há como levar o caso de brincadeira e não lhe ligar importancia alguma. 4. Ser egoistas. Para sermos verdadeiramente bem educadas, devemos sempre pensar nas conveniências do outros, antes de pensar nas nossas. 5. Occupar o melhor logar em qualquer sitio onde haja pessoas adultas. 6. Tagarelar com as companheiras, quando as pessoas adultas estão conversando. 7. Dizer segredos diante de gente, e continuar a lêr quando alguem entra na sala onde estamos. 8. Ser desmazeladas. 9. Sentarem-se com as pernas cruzadas. 10. Roer as unhas, brincar com os caixos ou madeixas, apontar com o dedo, remexer-se na cadeira. 11. Meter na bocca lapis, canetas, borrachas e outros objectos semelhantes. É um habito que se contrai facilmente, mas que se perde com um pouco de boa vontade. 12. Comer guloseimas em excesso. 13. Quando estiverem na Egreja, olharem á roda, ou pasmarem para quem entra. 14. Não chegar a horas a qualquer reunião, que as tenha marcadas. Não ha nada mais incomodo e menos polido do que a falta de pontualidade. 132  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho 15. Esquecerem-se de agradecer, quando alguem presta qualquer serviço ou faz algum favor. 16. Apontar para as pessoas que vemos na rua, e deixar de corresponder ás que nos cumprimentam. 17. Falar em tom de voz muito alto ou estridente. 18. Ser afectadas na maneira de falar. Devemos sêr simples e naturaes. 19. Ter modos petulantes. 20. Dizer cousas desagradaveis ás companheiras de brinquedo, e mostrar inveja de vestidos ou chapéos usados por outras meninas. É impossível termos tudo quanto desejamos, e é doidice ter um grande desgosto por vermos as outras mais bem vestidas que nós. 21. Empregar palavras triviaes quando falam. Nada há que faça peior effeito, que ouvir sair da bocca de uma menina termos usados por gente ordinaria. 22. Não obedecer aos paes e professores, não mostrar obediencia a todas as pessoas de respeito, não ser bondosas para as companheiras e criadas, não ter consideração pelos desejos e sentimentos dos outros, não ser modestas no porte, e finalmente, não observar as pequenas regras, que constituem a boa educação de uma menina.

APPENDICE Do modo de escrever cartas 1. As cartas são um meio pelo qual podemos manifestar os nossos pensamentos e affectos aos que se acham distantes, assim como de viva voz fazemos com os presentes. 2. Diversas são as especies de cartas: politicas, scientificas, artisticas, didaticas, consoante tiverem relação com a politica, as sciencias, as artes, o estudo, etc. Chamam-se familiares quando versam sobre assumptos de familia: a esta categoria pertence o maior numero de cartas que se escrevem. 3. Caracter proprio das cartas familiares é a simplicidade e despreocupação do estylo. Uma linguagem abstrusa repugna á espontaneidade que devem ter taes cartas. 4. Quando pedires por carta algum favor, não te percas em protestos e promessas exageradas que seriam contraproducentes; procura expôr o teu pedido com simplicidade e singeleza, qualidades que impressionam a todos os corações. 5. As sentenças, os proverbios, as maximas, e alguns chistes, dão graça e vida ás cartas. Devem, comtudo, ser usados com moderação; a demasia é affectação, assim como a abstenção completa de taes cousas é rusticidade. 6. Devem-se evitar, quanto possivel, as perguntas a superiores; sendo, porém o caso, usar-se-ão estas e semelhantes phrases: “permita-me a liberdade de lhe perguntar – desculpe-me o atrevimento, a ousadia de” – Aos superiores tambem não se deve dar encargo de transmitir saudações ou recados. 7. Para com eguaes permitte-se essa liberdade; não se dispensa, porem o adoçar um pouco estes pedidos por exemplo: Queira ter a bondade de transmitir minhas saudações a Fulano, 8. Quando se faz menção d´uma pessoa, antecipa-se sempre algum adjectivo ou palavra: senhor; por exemplo: O Snr. Professor Fulano, o illustre senador Cicrano, o senhor Director etc. 9. Três são as partes essenciaes d´uma carta: a introducção, o argumento e a saudação. A introducção ou exordio é, por assim dizer, uma explanação do caminho de modo adaptado ao assumpto de que se vae tratar. É, em geral, brevissimo e ás vezes pode-se até omitir. Quando, porem, a carte é de resposta, especialmente a pessôas notaveis, deve-se sempre accusar a data e o argumento da carta a que se responde. 10. O argumento ou o corpo da carta, comprehende tudo quanto se pretende dizer, seja pergunta, seja pedido, convite etc. 11. Sob o nome de saudação, entende-se em geral os augurios, os cumprimentos, os protestos de reverencia e amizade com que nos costumamos despedir da pessoa a quem escrevemos. As cartas 133  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho escriptas aos superiores poderão terminar com expressões mais ou menos como estas: Com a mais alta estima – com o mais sincero respeito – com a mais profunda veneração – me professo de V. Excia, servo humilde e obrigado. A simples amigos e conhecidos : amigos sempre ás ordens. Renovo os protestos da minha amizade etc; nas de agradecimentos : Com a mais viva gratidão, com o mais sincero reconhecimento etc. E assim nos diversos casos, devem-se usar sentimentos e expressões adequadas. 12. Permitem-se ás vezes os “post escriptum”, (P.S.) para acrescentar no fim da carta alguma cousa ao que ficou dito; mas como isso revela em geral esquecimento e distracção, deve-se esse uso limitar ás cartas entre pessoas intimas. 13. Terminando a carta, deves dar o conhecer que não és pagão, por isso accrescente sempre algum pensamento christão, se já não o fizeste no decurso da carta. 14. O papel da carta deve ser limpo e inteiro; para os parentes íntimos e amigos poderá servir uma folha simples, ás pessoas gradas escreva-se sempre em papel duplo. 15. A calligraphia deve ser nitida e esmerada. É incivil mandar uma cara com borrões ou emendas. Deixe-se sempre no papel alguma margem á esquerda. 16. Procura nunca omitires a data, o titulo da pessoa a quem escreves, o qual não deve ser abreviado, a tua assignatura no fim da carta e o endereço. 17. Antes de começar a carta é preciso deixar duas ou tres linhas em branco si se escreve a pessoa de importancia. Ao findar a pagina deve-se continuar na folha seguinte á altura do titulo; isto, porém, no caso de a carta ter apenas duas paginas. Nas cartas intimas permitte-se escrever em ambos os lados da folha. 18. A data deve indicar o logar, o dia, o mez e o anno em que se escreve. Está prevalecendo o uso de datar as cartas logo no principio, mesmo escrevendo a superiores. 19. A assignatura ou o nome de quem escreve, occupa o ultimo logar, á direita, e separado do corpo da carta. Por exemplo: De V. Senhoria Att° criado e admirador Fulano de Tal 20. O endereço consta do nome e sobrenome da pessoa a quem se escreve, precedidos dos respectivos titulos; da indicação da rua, do numero da casa, (e tambem, si fôr preciso, da província e do paiz) e por fim da cidade, villa ou localidade. 21. O sobrescripto deve-se revestir de toda a exactidação e clareza possiveis. O titulo geral (p.ex: Ill° Snr.), occupa o primeiro logar no alto do envelope e um pouco á esquerda. Segue-se-lhe, na outra linha, o nome e o sobrenome junctamente com o titulo honorifico (p. ex: DD. Prefeito Municipal) – Na linha immediata escreve-se o nome da rua e o respectivo numero, no fim as demais indicações, sendo que a cidade ou logar occupa o ultimo logar á direita. 22. Nas cartas que se mandam por intermédio d´uma terceira pessoa, em vez de nome da rua etc, costuma-se pôr simplesmente : por especial favor ou abreviadamente P. E. F. 23. Quanto á frequencia em escrever, evitem-se os excessos: alguns escrevem a todos, a cada passo e por qualquer ninharia; outros nem siquer respondem ás cartas recebidas ou o fazem após longo tempo. Use-se um razoavel meio termo, como já se observou falando das visitas. 24. Os titulos mais conhecidos são: Ao Papa: Sua Santidade A um Rei: Sua Magestade Ao Snr. Presidente da Republica, Ministros de Estado, Senadores, Deputados e em geral a pessoas de grande distinção: Sua Excellencia, Ill° Ex.° Snr. 134  www.fundacaolamf.org.br contato@fundacaolamf.org.br


Fundação Luiz Almeida Marins Filho Aos Cardeais: Sua Eminência, Em.° Aos Bispos: Sua Excellencia Reverendissima, Ex.cia , Rev.ma. Aos Sacerdotes: Reverendissimo Aos Cidadãos: Illustrissimo ou Excellentissimo Snr. Quanto a cartas, observa mais as seguintes regras: Guarda-te de: 25. Abusar dos bilhetes postaes para correspondencia particular. Para recados insignificantes servem perfeitamente; mas para qualquer comunicação de maior importancia, não se deve usar, pois é offensivo para a pessoa com quem nos correspondemos. 26. Escrever cartas em papel ordinário, ou que não seja proprio para esse effeito. É de bom gosto usar as nossas iniciais ou o nosso monograma no papel em que escrevemos, sem mais nenhuma decoração. O papel deve ser tambem simples, mas de boa qualidade. 27. Humedecer o sobrescripto, levando-o á bocca para esse fim. Este costume é vulgarissimo e difícil de acabar, pela simples razão de não termos, muitas vezes, á mão outra maneira de pôr uma estampilha ou fechar um sobrescripto. O melhor systema é molhar o dedo em agua e humedecer em seguida a goma. Assim devemos fazer, sempre que seja possivel. Este habito, além de podido, é summamente higiénico. 29. Usar nas cartas um estylo muito empolado. Deixemo-nos de affectações e usemos sempre um estylo simples e comprehensivel. 29. Esquecer-te de agradecer todos os convites que te dirijam, quer sejam aceitos quer não, e deixares tambem de responder ás cartas que receberes. 30. Enviar cartas sem franquia, obrigando por esta forma os destinatarios a pagar multa. 31. Quando escreveres a uma senhora, por no alto da pagina: Minha senhora, em vez de Exma. Snra. 32. Fazer entrelinhas e cruzar as linhas, quando escreveres uma carta. 33. Numa carta comprida, não collocar as folhas por ordem, afim de não embaraçar a pessoa que a recebe. Quando as paginas são muitas, o melhor é numera-las. 34. Tanto na escripta como na conversação, empregar palavras extrangeiras, o que só mostra affectação. Devemos, sobretudo, evita-las, caso a pessoa, a quem nos dirigimos, não conheça a língua a que ellas pertencem. 35. Escrever cartas de apresentação levianamente, sem attendermos se as pessoas a quem as dirigimos, terão gôsto em conhecer as que lhes apresentamos. 36. Fechar o sobrescripto de uma carta de apresentação, quando vai por mão do proprio apresentado. 37. Mencionar nomes em bilhetes postaes quando se tratarem de assumptos importantes ou melindrosos : estes, aliás, nunca se deveriam tratar em bilhetes postaes.

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Coleção: Ensinando a Aprender (kit com 3 DVDs): http://bit.ly/1qGED4h

Livro: Superdicas para Ensinar a Aprender: http://bit.ly/1mbJHfK

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A Editora Saraiva editou um livro “Superdicas para Ensinar a Aprender” escrito por 15 renomados autores brasileiros. O livro se encontra à venda nas Livrarias SARAIVA e nas melhores livrarias do Brasil. Os direitos autorias foram doados pelos autores à Fundação LAMF.

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