Revista Extensão V.4 N1

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131 Introdução

Em todas as famílias, cria-se a expectativa de qual será a primeira palavra dita pelo filho. Uns dizem que será “mamãe”, enquanto o pai torce para ser “papai”, e para aquelas famílias com os avós presentes, surge à possibilidade de ser “vovó” ou “vovô”. Contudo, não é possível predizer qual será a palavra inicial dita pela criança. Depende muito de qual é a influência sobre a criança e/ou algo que foi marcante na sua pequena trajetória de vida. Essa mesma expectativa surge para o professor ou a professora do primeiro ano do I Ciclo da Educação Fundamental, o “antigo Pré”, quando seu aluno lê a primeira palavra. Tal satisfação, aliada a felicidade da criança, são motivos que permeiam a leitura e suas aplicações. A partir desse momento, a criança quer mostrar para todos que aprendeu a ler e começa a ler diversas palavras em diferentes situações como: no mercado, andando na rua, em uma revista, na embalagem do chocolate, dentre outras. Os pais nesse momento se sentem orgulhosos e com certeza devem pensar “meu filho já sabe ler”. No entanto, os mais críticos dirão que esta criança não sabe ler, mas sabe apenas decodificar grafias. Esta decodificação está aliada à palavra, sem se preocupar com o contexto e/ou significado da palavra. Assim sendo, qual será a diferença entre ler e decodificar grafias? Quando a leitura é concebida apenas como o inverso da escrita, a língua é tomada como simples articulação entre fonemas e grafemas. A pessoa utiliza das regras para descobrir como se fala determinada palavra, mas não reflete sobre o que foi lido. A leitura, no entanto, deve ir além da simples decodificação, proporcionando não apenas a leitura única da palavra, mas trazendo a chamada leitura de mundo e a partir dela, reescrever e transformar o próprio mundo. Tal concepção é evidenciada pelas palavras de Paulo Freire (2006), em que: [...] a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. [...] este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida da leitura do mundo mas por uma certa forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo numa prática consciente. (Freire, 2006, p. 20)


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