Revista Primeira · 005 · Agosto / 2013

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Por Regina Pundek*

ESPECIAL IDIOMAS

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A comunicação humana e suas linguagens

ão há dúvidas sobre a importância de conhecer e dominar diversas formas de expressão. Foi-se o tempo em que falar uma segunda língua era visto somente como um ponto a mais no currículo de um candidato a uma colocação profissional. Atualmente a comunicação tem ferramentas facilitadoras que permitem que as pessoas se relacionem independente do local, do contexto sociocultural ou da língua que falam. De nada serviriam essas ferramentas se o uso dessas linguagens se limitasse à língua-mãe, ou à língua verbal. A juventude usa e abusa da tecnologia e de idiomas distintos especialmente em busca de entretenimento, mas também de relacionamentos e de informações. O desejo de comunicar-se provoca a busca pelo conhecimento, favorecendo dessa forma uma aprendizagem significativa. Muitas pessoas, ao se tornarem pais, questionam: quando oferecer o desafio da aprendizagem de uma segunda língua para seus filhos? Há risco de prejudicá-los quando o contexto bilíngue é precoce? Não existe uma idade certa, mas sim uma prática adequada, ou seja, a naturalidade e o respeito ao indivíduo aprendiz. Para que haja qualquer aprendizagem, é necessário haver equilíbrio emocional e vínculo afetivo, o que deve ser garantido às crianças através da língua-mãe, do aconchego e de estímulos positivos para o enfrentamento dos desafios. É um grande equívoco pensar que a criança pequena, que ainda não tem domínio da língua-mãe, não tenha vantagens ao frequentar uma escola bilíngue. O simples fato de ser exposta rotineiramente provoca sinapses que beneficiam todo o desenvolvimento neurológico. Aquilo que é tão difícil para um adulto é simples e natural para a criança. Toda a preparação biológica do aparato cerebral espera encontrar um ambiente em que ao menos uma língua seja falada, para que então essa capacidade de comunicação exclusivamente humana se desenvolva. A prontidão biológica para aprender a língua materna também facilita a aprendizagem de uma segunda língua pela criança, porque são utilizados os mesmos circuitos e funções cerebrais. A aprendizagem das línguas é considerada de extrema importância, pois afeta diversos aspectos do desenvolvimento do indivíduo, como, por exemplo, o desenvolvimento linguístico, neuropsicológico, cognitivo e sociocultural. De acordo com a idade de aquisição da segunda língua, dá-se o bilinguismo infantil, adolescente ou adulto. No infantil, o desenvolvimento do bilinguismo ocorre simultaneamente ao desenvolvimento cognitivo, podendo consequentemente influenciálo positivamente. O bilinguismo infantil pode ser ou simultâneo ou consecutivo. No simultâneo, a criança adquire as duas línguas ao mesmo tempo, sendo exposta às mesmas desde o nascimento. Por sua vez, no consecutivo, a criança adquire a segunda língua ainda na infância, mas após ter adquirido as bases linguísticas da língua-mãe. A maior facilidade de aprendizagem acontece de acordo com a presença ou não de indivíduos

falantes da segunda língua no ambiente social da criança que está adquirindo essa língua. No caso de pais que falam línguas distintas, a criança tem a oportunidade de aprender simultaneamente e de maneira nativa as duas línguas com grande vantagem sobre os indivíduos monolíngues. Há também a oportunidade de tornar-se bicultural além de bilíngue, o que enriquece significativamente a comunidade, pois cada vez mais se compreende que o planeta precisa de pessoas que tenham uma visão tolerante e de maior amorosidade perante as diferentes culturas. Neste caso estamos falando de indivíduos bilíngues e também biculturais. Deve-se tomar o cuidado para não desvalorizar a primeira língua em detrimento da segunda, assim como a cultura a elas associada. O indivíduo bicultural se identifica positivamente com os dois grupos culturais e é reconhecido por eles. Também há casos de indivíduos bilíngues, fluentes nas duas línguas, mas que se mantêm monoculturais porque, de alguma forma, o entorno desvaloriza uma das duas culturas. A importância do reconhecimento de identidades culturais pelas crianças faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano tanto cognitiva como afetiva e socialmente. Por meio da compreensão ampla sobre o desenvolvimento do bilinguismo, de suas relações com o desenvolvimento cognitivo e também das condições sociais, econômicas, históricas e psicológicas que envolvem a questão, vem ocorrendo uma desmistificação da educação bilíngue, esclarecendo, assim, as diversas possibilidades existentes e suas possíveis consequências. Num mundo em que o respeito à diversidade é meta para atingir a tão sonhada paz, há que se aprender o jeito do outro se expressar sem, contudo, dirimir o valor de nossa própria cultura e forma de comunicar. * Escritora, Professora da Educação Infantil, Diretora Pedagógica de Escola Infantil Bilingue Kid’s Home, Psicopedagoga, Engenheira Civil, Educadora apaixonada pelo respeito ao Ser Humano

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