claudio

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II.

A analogia fidei ou a unidade da Escritura, expressa também por Irineu. Segundo este critério, o sentido da Sagrada Escritura aparece no seu todo e nenhuma passagem deveria ser interpretada isoladamente.

III.

O exercício da caridade, critério que remonta a Agostinho. Se a finalidade última do estudo da Sagrada Escritura é o amor, segue que toda boa interpretação deve conduzir à maior fraternidade entre os povos, ou, dito negativamente, não será veraz qualquer interpretação que produza divisões entre as pessoas e entre os povos.

2. Métodos de interpretação bíblica Como acabamos de mencionar, no momento atual, existe uma pluralidade de métodos de interpretação bíblica, todos eles apresentando vantagens e desvantagens. Em 1993, a Pontifícia Comissão Bíblica publicou o documento chamado A interpretação da Bíblia na Igreja, no qual apresenta diversos métodos de interpretação da Sagrada Escritura. O primeiro método a ser apresentado e aquele que é tratado com maior destaque é o método histórico-crítico. Assim o Documento começa sua apresentação deste método: "O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos antigos. Como a Sagrada Escritura, enquanto “Palavra de Deus em linguagem humana”, foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, sua justa compreensão não só admite como legítimo, mas pede a utilização deste método”.18

O método histórico-crítico investiga o contexto histórico no qual um texto surgiu: quando foi escrito, se existe uma pré-história do texto e uma história redacional. Um texto pode ter sido criado quando foi escrito, ou pode ter uma pré-história: uma tradição oral que o precede. Há algum tempo atrás, dava-se uma importância muito grande à tradição oral. Hoje, percebe-se melhor que muitos textos nasceram já como obras literárias escritas e não remontam, necessariamente, a uma tradição oral anterior. Por outro lado, também é certo que no Oriente Antigo, como em muitos povos em que a escrita é o privilégio de uma elite, a transmissão oral desempenhou um papel significativo na transmissão da cultura. Uma tradição oral, por sua vez, pode remontar a um acontecimento histórico e ou a lendas. O mais provável é que ela misture tudo. No decurso da transmissão oral a própria tradição vai sendo reelaborada. Detalhes podem desaparecer, nomes de personagens e de localidades podem sumir ou serem transformados, novas chaves interpretativas podem ser introduzidas. Uma vez posto por escrito, um texto começa a se fixar, mas ainda pode ser retrabalhado. Na Antigüidade, o processo redacional mais comum era o de fazer acréscimos, o que, de certa forma, é o oposto do que ocorre na transmissão oral. Outro processo comum era o de formar coleções juntando peças que antes tiveram uma existência separada, podendo acontecer que, ao serem juntadas, estas peças adquiram um novo sentido. Os livros dos Salmos e dos Provérbios ilustram muito bem a formação destas coleções. Mas também outros escritos como o livro de Isaías ou o Pentateuco se formaram a partir deste processo, passando pelas mãos hábeis de editores que deram unidade a textos que antes existiram separadamente. O método histórico-crítico também procura estudar o ambiente no qual uma determinada tradição surgiu e foi preservada e transmitida. Alguns ambientes aparecem 18

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA , A Interpretação da Bíblia na Igreja (Petrópolis, Vozes, 1994), 30.

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