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Brasil: preço de combustíveis acima da paridade internacional

De volta à paridade

Após ter mantido os preços dos combustíveis abaixo da média internacional por vários meses, na segunda quinzena de novembro o Brasil “mudou a chave”

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OBrasil “virou a chave” em relação à paridade internacional dos preços de combustíveis em novembro de 2021, e isso foi bom para o mercado interno. A avaliação é dos consultores em mercado de combustíveis e sócios da Nortear Petro, Geraldo Lucena e Nélio Wanderley.

Depois de vários meses praticando preços abaixo daqueles do mercado internacional, na segunda quinzena de novembro a Petrobras adotou cotação acima da do mercado internacional. Em 1º de dezembro, por exemplo, segundo a consultoria, o diesel S10 era cotado R$ 0,21 acima do praticado no exterior, e a gasolina, R$ 0,32.

A empresa vinha ofertando preços abaixo daqueles do mercado externo – o chamado “gap” – por vários fatores, entre os quais a paralisação dos caminhoneiros. Em outubro e início de novembro, a Petrobras deixou de atender a todo o vo-

Marcos Peron / Agência Petrobras

Em outubro e início de novembro, a Petrobras deixou de atender a todo o volume pedido pelas distribuidoras

lume pedido pelas distribuidoras. “Com o preço abaixo do praticado lá fora e os grandes players – que são as grandes distribuidoras que representam 70% do mercado brasileiro (Raízen/Shell, Ipiranga e BR) – podendo comprar mais barato e segurar o produto importado deles, por que não fazê-lo?”, analisa Lucena.

Segundo Nélio Wanderley, pela primeira vez na história a petrolífera reconheceu que não tem capacidade de atender ao mercado nacional e formalizou um pedido de importação às demais companhias. “Isso sinalizou que o mercado vai flutuar não só em relação ao preço Petrobras, ou seja, vai ser o preço dela mais o preço internacional. Tanto é que, apesar de a petroleira brasileira não ter anunciado aumento, o preço subiu em virtude da internacionalização, desse produto mais caro”, acrescenta o consultor.

Foi a partir da segunda quinzena de novembro, ainda de acordo com Lucena, que a Petrobras inverteu o jogo. O que aconteceu lá fora? O preço do petróleo despencou por causa de uma disputa dos países consumidores com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e surgiu uma nova cepa do coronavírus – a variante ômicron. No dia 1º de dezembro, a Petrobras praticava valores acima do preço internacional devido a esses dois fatores, principalmente. Os países consumidores começaram a usar suas reservas estratégicas de combustíveis ao mesmo tempo em que eram confirmados casos da nova variante da Covid-19.

“Hoje (dia 1º de dezembro), o mercado está muito nebuloso. A Petrobras bateu, em média, acima do mercado internacional de R$ 0,15 a R$ 0,30 no diesel. Está oscilando muito. Na gasolina, o preço está batendo de R$ 0,25 a R$ 0,40. Isso é uma situação momentânea”, ressalta.

DEMANDA

Os especialistas explicam que a Petrobras tinha capacidade de suprir a demanda, porém, com a venda das refinarias – determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – o cenário está se modificando. A empresa já sinalizou que o mercado é livre e comprará fora se for mais interessante. A análise feita por Wanderley é que, quanto mais liberdade o país tiver, mais capacidade de negociação, mais players no mercado, mais refinarias terceirizadas – participando com as mesmas regras para todos, como, por exemplo, equiparação de tributos –, melhor. “O que desorganiza o mercado é muita intervenção política, benefícios fiscais para uns e, para outros, não. A deslealdade competitiva é o que atrasa o mercado”, avalia.

Em novembro e dezembro, a petrolífera confirmou que a demanda tanto para o diesel quanto para a gasolina havia sido atípica – 20% a mais para o primeiro e 10% a mais para o segundo item. Wanderley esclarece que na primeira quinzena de novembro chegou a faltar produto em várias regiões do país, especialmente diesel S10 e, pontualmente, gasolina. “Postos de marca própria tiveram que pagar preços até mais caros pela falta de produtos. Foi aí que as importações cresceram e as companhias subiram os preços. Elas já haviam até comprado, e os produtos estavam nos portos para o desembaraço aduaneiro”, confirma ele. O Paraná, forte no agronegócio, chegou a considerar que faltaria produto. Houve faltas pontuais, conforme o especialista, mas elas foram solucionadas.

Em nota à Revista Minaspetro, a ANP afirmou que faz o acompanhamento junto aos agentes regulados, em especial as distribuidoras e os postos revendedores, e que, em 1º de dezembro, não havia indicação de falta de combustível. “Caso os dados de comercialização indiquem elevação dos riscos, a ANP adotará as medidas cabíveis para minimizar os eventuais impactos no abastecimento.”

O QUE ESPERAR PARA 2022

Wanderley e Lucena não arriscam um prognóstico para o mercado de combustíveis no início de 2022. “É preciso que alguns cenários permitam sinalizar alguma coisa. Importante, no entanto, é saber quanto a nova variante do coronavírus vai agitar o mercado, que trabalha com especulação. Não tem jeito”, aponta Lucena.

Em dezembro, o mercado de commodities internacionais, não somente o petróleo, era afetado pela possibilidade da volta do lockdown. “Esse temor está fazendo com que os investidores se retraiam, mas é necessário esperar para ver o que acontece”, completa Wanderley.

“Importante, no entanto, é saber quanto a nova variante do coronavírus vai agitar o mercado, que trabalha com especulação. Não tem jeito”

GERALDO LUCENA CONSULTOR EM MERCADO DE COMBUSTÍVEIS