1º Concurso de Poesias

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Jean Sartief 1ยบ Lugar

(R)EXISTร NCIA AGONIA PROFUNDO DE TUDO MEUS PULSOS

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Jean Sartief

(R)EXISTÊNCIA Pari todos os sóis e meus apurados olhos ainda gritam. Tenho a fortaleza dos que só esperam, a fraqueza dos que mentem e a lucidez dos que cospem fogo. Cheguei ao jardim com mãos inteiras em mar e queimado e cego ainda resisto... com estrelas nos dedos.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Jean Sartief

AGONIA Depois que se foi você se tornou imenso e não cabe no papel nem na razão.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Jean Sartief

PROFUNDO Marcas que nunca quis diante do mar que sempre foi meu. Descansei meus olhos. Entreguei nas tuas mãos sacos vazios de conchas. Tudo guardado para ser eterno. Tudo mofado. Tudo passado. Agora, sigo em desequilíbrio e risos Criando naufrágios em aquários.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Jean Sartief

DE TUDO Essa metade que alcanço. O corpo que ainda sente. Não me acostumo, não me acho com mapas. Ainda tenho os vícios do sangue. Ainda tenho os vícios dos sonhos. Ainda espero respostas.

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Jean Sartief

MEUS PULSOS Corte os pulsos. Já não estarei aqui. Fui emendar todos os pedaços. Fui me encontrar espalhado e seco depois de todo aquele mar. Tudo jogado pra fora. Todos embora. Até o gato fugiu... Todas as dores aqui no meu olhar; no meu silêncio. Nesse peso imenso que cobre esse peito de qualquer cor. Dessa mesma dor que você agora tem nas mãos.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Edileide Pimentel 2ツコ Lugar

MORFEU Vテ,UO CERTEZAS MONALISA ORGIA

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Edileide Pimentel

MORFEU Inexistência tua Ora aparece-me vestida de sangue Ora, de risos nefastos Ironia infausta Bebe-me na sexta feira à noite Regogita-me aos sábados De corpo para a ceia

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Edileide Pimentel

VÁCUO Viário, terminal das ilusões Corpos sentados Corpos pedintes Corpos flutuantes Múmias ocas Despidas de ponto a ponto Olhos interrogantes Andróides que voam de costas Adestinados, sobem, descem, vão e vem...apenas

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Edileide Pimentel

CERTEZAS Do inacabado Do incerto Do duvidoso Das contas que vão vencer no fim do mês Da hipocrisia Da perene ignorância humana

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Edileide Pimentel

MONALISA Não tenho filhos Tenho amante Hipocrisias à parte Ironias urgentes Tire do armário o espartilho rosa de barbatanas Lençol branco basta Homens...mulheres... Cartas de amor Verbos rasgados, molhados de lágrimas Dêem descargas A cama basta Procusto não! Higéia jamais. Afrodite numa madrugada, você sim, é o que basta.

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Edileide Pimentel

ORGIA O gosto do bom gosto Faz de você um desgosto A racionalidade lhe corrompe A insensibilidade lhe esvazia Sua fome lhe inclui nos padrões sociais Seu capitalismo lhe petrifica De você, só o corpo para a ceia

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Rachel Gomes de Souza 3º Lugar

ECOCARDIOGRAMA DO AMOR PERCUSSÃO DE PÃO E MEL POR QUE DRENARAM MEUS PULMÕES?

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Rachel Gomes de Souza

ECOCARDIOGRAMA quando o tempo fala o coração ( de lata) reverbera sou gérberas sou víboras plural gardênia salamandra cobra coral quando o tempo canta o coração (de cano) ecoa sou leoa lontra singular anêmona

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Rachel Gomes de Souza

DO AMOR cheiro de manga de pitomba cheiro de carne no mercado velho meu velho e os cachorros correndo atrรกs da cachorra cheiro de jambo e de pitanga meu velho e os cachorros correndo atrรกs cheiro de milho meu velho e os cachorros cheiro

meu velho

e as cadelas

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Rachel Gomes de Souza

PERCUSSÃO nem pandeiro nem reco-reco se a morte vem chega sem surpresa igual a meu tio minha avó meu bom amigo que eu nem espero nem desejo nem reco-reco e se a morte vem me pega tamborim tambor e prato pranto! que eu sempre soube que viver é ser só agogô e atabaque tá no sangue e no gogó gongo, meu bem!

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Rachel Gomes de Souza

DE PÃO E MEL comi tuas orelhinhas com pão e mel assim me tornei tua catita hoje, fico horas e horas farejando as sombras tu me escutas de longe em longe e foges com medo que eu te encontre e roa os teus cílios tens medo de não mais dormires e ficas acordado ouvindo meus passos miúdos e aquele barulhinho insuportável dos meus dentes roendo roendo destruindo aos pouquinhos tua caixa de fotografias.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Rachel Gomes de Souza

POR QUE DRENARAM MEUS PULMÕES? q

u

a

n

d

o

m e r g u l h não f e ri a água i mantive os olhos abertos tudo, tudo era tão deslumbrante azul cristalino completo tudo estava ali música luz ... não havia nada a fazer respirar respirar ressumar ... pulmão turquesa hidrófilo por que drenaram meus pulmões? porque drenaram meus pulmões vivo clorídrico ácido ido

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Ademar Macêdo Menção Honrosa

ISSO É MESMO QUE ESTÁ VENDO / PAISAGENS DO MEU SERTÃO. O QUE EU GOSTO, E O QUE NÃO GOSTO DE FAZER!... - SAUDADES DE MINHA MÃE ( No dia de Finados ) A POESIA QUE VEM DE DEUS! SIMPLESMENTE, MAMEDE... 53


Ademar Macêdo

ISSO É MESMO QUE ESTÁ VENDO / PAISAGENS DO MEU SERTÃO. A matuta na janela esperando o namorado, uma corrida de gado a novena na capela; a coalhada na tigela a panela no fogão as galinhas no oitão, ciscando tudo e comendo, isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

Um forró numa latada numa plena Sexta-feira, um bebo no meio da feira topando em toda calçada; uma velha na almofada com um birro em cada mão, prestando muita atenção naquilo que vai fazendo; isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

Um jumento carregado com uma carga de lenha, uma novilhota prenha e um boi manso castrado; um "véi" plantando roçado com arroz, milho e feijão, um touro preso ao morão bufando e se estremecendo; isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

Um forró de chão batido numa noite enluarada, embaixo de uma latada dança mulher com marido; um café quente e fervido lá na boca do fogão, lamparina e lampião e a barra do sol nascendo; isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

Uma lamparina acesa na desbulha de feijão, uma apanha de algodão um gato em cima da mesa, uma linda camponesa numa festa de São João, a taboca e o foguetão subindo aos céus e descendo; isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

Uma velha rezadeira um "véi" fazendo cigarro, um pote velho de barro a nega velha parteira; um chá de erva cidreira pra qualquer inflamação, o relâmpago e o trovão e a tarde toda chovendo; isso é mesmo que está vendo paisagens do meu sertão.

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Ademar Macêdo

O QUE EU GOSTO, E O QUE NÃO GOSTO DE FAZER!... Passar a noite escutando violão participar de um grande recital, passear pelas praias de Natal e escutar o rei Luiz tocar baião; tomar banho de chuva no sertão escutando o trovão estremecer, repartir com o pobre o meu comer; namorar numa noite enluarada, dar um cheiro no cangote da amada são as coisas que mais gosto de fazer.

Ter que medir a pressão a todo instante, beber cana num dia muito quente, todo dia acordar com dor de dente toda noite encontrar com assaltante; dialogar com pessoa ignorante e passar mais de um mês sem namorar, armar rede para outro se deitar dar carinho para quem não me afaga; e vender o meu CD a quem não paga são essas coisas que eu faço sem gostar.

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Ademar Macêdo

- SAUDADES DE MINHA MÃE (No dia de Finados ) Meu pai me deixou bem pequenino, a minha mãe foi embora eu já rapaz; não consigo esquecê-la nunca mais visitar seu túmulo é meu destino; e quando rezo ali pro Deus divino sinto a força de Deus e seu mistério, pois naquele lugar triste e funéreo eu vi marcas no pedestal da cruz, tenho visto as pegadas de Jesus junto a cova de mãe, no cemitério!...

Mamãe deixou um rosário de saudade pendurado por cima do meu peito, as orações não rezei nem a metade pois rezar pra saudade não dar jeito; quando eu vejo o rosário, vejo ela a saudade que hoje eu sinto dela é para mim uma dor e um mistério; toda vez que eu visito a sua cruz vejo sempre as pegadas de Jesus junto a cova de mãe no cemitério!...

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Ademar Macêdo

A POESIA QUE VEM DE DEUS! A minha poesia é santa porque é Deus quem projeta, pois ele mesmo é quem planta no coração do poeta; e todos os versos meus vem lá da mansão de Deus como se fosse uma luz; são escritos com emoção pela minha própria mão, mas o autor, é Jesus!...

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Ademar Macêdo

SIMPLESMENTE, MAMEDE ... Grande Deus onipotente, este poeta vos pede; que a minha inspiração de mim, hoje, não se arrede, para que eu possa falar dessa, "quase Potiguar" Zila da Costa Mamede! Para eu falar em Mamede, digo quando ela nasceu; esta grande poetiza que o estado conheceu, neste meu verso eu relembro foi dia dez de setembro na mesma data que eu. Muita coisa ela escreveu: e o fez com muita alegria, o "Exercício da Palavra" ela escreveu em poesia; muitos livros publicou e o "Corpo a Corpo" entrou numa grande "Antologia". Fez um "Arado", em poesia "Rosa de Pedra" e "Salinas", "Navegos", até suponho ela escreveu nas matinas; naquela mesma constância deixou "Marés de Infância" pros meninos... pras meninas... Ela era uma heroína que só a vida concede, Deus lhe deu muito talento e talento não se mede; essa grande redentora poetiza e escritora, foi, Simplesmente Mamede!... 1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Bárbara Romeika Menção Honrosa

LIQUIDANDO TUA LIQUIDEZ, MEU DESEJO FLUENTE DA TUA FLUIDEZ AR MA-TE ANTEPONTO POR ESSAS COISAS TODAS VEZES ECA VEZES OBA SOBRE CACTOS E GIRAFAS 65


Bárbara Romeika

LIQUIDANDO TUA LIQUIDEZ, MEU DESEJO FLUENTE DA TUA FLUIDEZ Pelos teus poros, Aos percursos, A água que revela o gozo Carne trêmula amparada Fluente; É o seu rio que mais quero. E mesmo quando escorrem, Liqui dando, seus líquidos por mim, aí me sei: sua. querendo-te plenamente em águas. Suor, lágrimas. Quando teu corpo extravasa a maior vontade: Gozo. te quero em líquidos. Para quando teu corpo deixar escapar o grito, Fluidos E tuas glândulas se derramarem em torpor Eu, foz, em dizer: quero-te fortemente, correnteza.

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Bรกrbara Romeika

AR MA-TE Terra - te ร gua - te Fogo - te Ar - te

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Bárbara Romeika

ANTEPONTO Tudo ia reticêncio naquele dia As pra lá e pra cá naquela festa consoante Era tanta seqüência, tanta lestrôsa regalia Que até possibilidade de eira em beira se avistava adiante Casa com farda Farda com traça Traça com lama Lama com brasa De tudo num tudo se tinha: até chuva caiu bonde passou raio torou tempo ruiu Só em nome de convocação da reticênçaria. Muitas idas e vindas Marias e Ticas Compondo com três pontos histórias de vida. ... gritando criando andando muitos verbos e orgias ... Era mesmo muita festa: poesia Foi quando um ponto, dês compondo Quis cantar de lá em si Dizendo-se farto de tanto a Firmou-se, encucado com os bês dês zês do mundaréu letrôso A vírgula logo intercedeu Achando tudo muito precipitado Queria a festa em termos balanceados Mediando as discussões De leve pausando os desviados O danado nem quis saber de trégua Pondo-se no meio da dinastia Acabou com farra e gritaria. Quando pensou imperioso que tudo estava resolvido Nos maiores silêncios imaginados Estava lá um pós-escritos: 1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Dos fragmentos, tantos Da festa, da lepra, da zebra Só esse ponto. A contra gosto, finalizando Inho, tonto. Ponto com pondo ponto GRANDE SILÊNCIO

E pronto?


Bárbara Romeika

POR ESSAS COISAS TODAS VEZES ECA VEZES OBA As inconstâncias me ronda, sonsas, feito bala perdida procurando corpo Mas que dorso? Que mesma sei sempre-quase Que a dor é a alegria com sinal de menos Salvo-me um pouco, Meio Assim Feito a palavra, torto

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Bárbara Romeika

SOBRE•CACTOS•E•GIRAFAS O mundo é grande mas cabe no mundo Um ponto só sabe emudecer brusco. Uma palavra, pequena, vai fundindo: Eis tudo.

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Bianor Paulino da Costa Menção Honrosa

POEZILA O PESCADOR SAGA XADREZ PASSAGEM

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Bianor Paulino da Costa

POEZILA Entre A constante nostalgia: poezila De busca desconhecida Pedras, Sonhos, Musgos, Salinas. Infinitas rosas geradas em moinhos de pedra/ Dor/flor/cor. Passaram bandeiras Saudosa de ilhas inabitadas. Imaginadas. Sondadas. Orfante de céus. Passaram bandeiras Arado.Xique-xique. Cacto Redemoinhos em terra distante/avante Resignação. Canção. Atomização. Pão/vinho Bar. Rua. Resignação. Contra-mão. Procissão Entre a constante nostalgia : poezila A palavra acima de tudo a palavra/lavra. Louva. Sensação. Ação. Signo. Navalha. Versos. Agulha. Linha. Elaboradamente forma. Arte. Anti-forma. Verbo. Entre A constante nostalgia : poezila Multilação do real/irreal de ser Novo nascer: ver. O rio. O mar. Amar. Intensivo transito. Pedra. Musgo. Sal. Rima. No mar o sonho Amar. Perspectiva Navego Navega Corpo a corpo Herança Exercícios das ondas do mar Amar Poe(zila) de Ma (r) mede (o). 1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Bianor Paulino da Costa

O PESCADOR O mar A onda Vai vem O barco O homem O sonho O coração Pum pum pum Pum pum pum Bate vela sela Costura joga rede Pesca corais e estrelas Sereias e sonhos Pulsação Navego Do ego de ser sensação Navego navego Navega Sargaços vidros verdes Do sol azul domar.

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Bianor Paulino da Costa

SAGA A musa Cavalga Girassóis da memória Cicatriz épica Sonho, suor e Cerveja Da Travessia do bardo Talvez O estigma do outro Se acene Ao longe No silêncio Dos becos de Ática.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Bianor Paulino da Costa

XADREZ Poema Sela Face Do silêncio Cruci-fixado Do operário Da palavra (Re) arma inventada do fato do ré mi fá Solado Do fado da odisséia do bardo.

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Bianor Paulino da Costa

PASSAGEM O trajeto Do teu olhar busca Infinito fugaz do instante Habitando Gesto infante Perdido semblante em Java Captando Corpos cortantes/inconstantes De um mar sem barco Desvendando Constante canto de Argonauta Antiga imagem Da íris-sonho do arco

Do grito De Argos Do mito Do mar Trajeto do teu olhar instante Atômico presente

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Geilson Pereira da Silva Menção Honrosa

CANSADO COTIDIANO NATAL OVELHA DO MAR VENERA 4

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Geilson Pereira da Silva

CANSADO Eu estou cansado Muito cansado O meu corpo, a minha alma Estรก cansada Cansada de procurar Palavras Que expressem O quanto ela estรก Cansada Cansada como se carregasse nas costas Toneladas de pedras Pesadas Quero ser poeta Mas como ser poeta se eu estou cansado Cansado de tudo Do mundo Das pessoas E das palavras?

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Geilson Pereira da Silva

COTIDIANO Atravesso A avenida Prudente de Morais Compro pão Leio jornais O céu é azul As nuvens são claras As pessoas passam apressadas Sabendo que vão morrer Volto pra casa Abro a gaveta Papel, revólver, caneta Qual deles devo escolher?

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Geilson Pereira da Silva

NATAL Que cidade é esta? Que lugar é este? O que estou fazendo aqui com estas velhas perguntas? Nestas ruas, praças, becos e avenidas? Com este coração transbordando de luzes? Que mão, que vômito me expeliu sob este olho furioso de deus? Entre o mar e as dores humanas Entre a luz e as sombras de tudo Entre o calor insuportável e a lembrança das chuvas? Quem deu corda a esta cidade? Quem fecundou este útero que a cada dia fecunda a si mesmo? E como será a tua face, cidade do sol Quando eu não mais pisar o teu rosto de menina Quando nem sequer o pó dos meus ossos participe da tua história nordestina? Quem se lembrará de mim comovido ante este mar azul Ante estas pessoas bronzeadas Que como eu fazem a tua história A história desta cidade Cheia de alegrias e derrotas Perdas e vitórias? Em todos os bares, shoppings e cabarés Em todos os extremos do teu corpo, ó prostituta tropical Eu deixarei as marcas dos meus pés Os ecos das minhas palavras E um silêncio que desde agora já se faz presente

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Geilson Pereira da Silva

OVELHA•DO•MAR Como pude sair de casa Sem um lenço para dizer adeus? Sem um papel para escrever amor? Sem uma flor para jogar ao mar? Como fui estúpido a ponto de esquecer o cobertor Para me proteger das tempestades Será necessário arrancar minha pele Esticá-la em mastros Para encontrar meu porto? Ou seria melhor alimentar as feras Com este mar de quimeras Que é o meu corpo?

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Geilson Pereira da Silva

VENERA•4 Se eu fosse mulher Usaria longos vestidos claros Uma linda flor no cabelo E dançaria no inverno a canção do sol Beberia da fonte mais cálida A água morna que me molharia os seios E esperaria o amor de topless Sem receios

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Jackson Garrido de Lima Menção Honrosa

BRILHO SEM CULPA VISÃO ONÍRICA A DANÇA DAS SOMBRAS KIZOMBARIA TURISMO INTERNACIONAL

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Jackson Garrido de Lima

BRILHO SEM CULPA Respeitável público! Sem vergonha e sem dinheiro. Não conseguiria romper o lacre da juventude errante, nem contemplaria os entardeceres andinos, não mudaria de cor mina cara pálida, não somaria junto com vocês o pudor alheio. Entraria túnel adentro sem a certeza de encontrar a luz. Aborreceria-me ao acordar e voltar a monotonia do dia-a-dia fúnebre. Estou prestes a brilhar no universo iluminado, sem dó, sem dor, nem a piedade do perdão que nunca tive. Nos encontraremos a seguir...na caminhada que é dura...

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Jackson Garrido de Lima

VISÃO ONÍRICA Já tivemos no passado devaneios, pesadelos melódicos, pensamentos sólidos, como as conchas e corais orquestrais. Hoje estamos em atrito com os próprios onirismos mentais. O nosso amor que era um imenso paradigma, transformou-se em ruínas. Desencantado...entrei em curto-circuito. Minha cabeça decepou-se na terra dos canaviais, em amarguras rupestres. As sondas que bombeavam meus órgãos vitais, emferrujaram. Por todos esses motivos e atropelos, me dirijo ao mausoléu da solidão...

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Jackson Garrido de Lima

A DANÇA DAS SOMBRAS As sombras dançam solitárias na escuridão Vejo-as...mas, não ouço meus pulsos. Entro na dança das almas sem ser percebido, tento controlar os batimentos. O silêncio é profundo! Meus pés gelam, as mãos tremem! E elas lá...dançando aflitas. Tento aproximar-me da mais displicente, muito bela e sensual, o sorriso estampado nos lábios. ...e jaz...caindo na relva, amanhecendo com os seios pontiagudos a enfeitar o seu corpo Caliente...

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Jackson Garrido de Lima

KIZOMBARIA Um fecho de luz, me recorre a um mal-estar... Veja o meu filho de bunda no assoalho! Perece anjo ou demônio? Parece gente ou extra, fogo ou água? Ele, sorrí...sorrí...como uma matraca ambulante. Com a cara de quem não passará dos trinta se não pairar aos dois. E a sua mãe? Kenga de primeiro mundo! Preparando o sumo efervescente nas narinas. Jamais se perturba ao ouvir o primeiro sinal. Dança, rodopia, tudo isso num só dia. Não perturbe, não se iluda, Ainda não escalei a primeira trilha do everest. Só dancei como um bamba na contra-mão.

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Jackson Garrido de Lima

TURISMO INTERNACIONAL Vendo o que a nobreza nem a igreja conseuiram surrupiar... Acompanha; a inalienável paciência do meu vizinho Esquizofrênico de guerra. Empresto minha adega empaturrada de vinhos e perfumos Franceses, no seu mais alto grau de pureza, tenho como suporte; duzentas caixas de puros cubanos, para alegrar as noites Maldormidas dos ébrios convidados. Dou a cozinha experimental récem-construida e seu cardápio internacional para saciar a fome e o desejo sexual dos hospedados, incluindo na sobremesa em agregado gelado ou quente da fruta dos deuses (mangostão). Para o relax posterior; uma piscina de águas minerais em suas paredes incandescentes e teto dourado.

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Janduhi Medeiros Menção Honrosa

VINHO, POESIA E IMAGINAÇÃO CÉU DE DELÍCIAS VAQUEIRO E CHÃO CIDADE DO SOL CÁLICE DA VIDA

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Janduhi Medeiros

VINHO, POESIA E IMAGINAÇÃO Dos mistérios que o imaginário ergue, Assustado por muralhas e castelos humanos, A poesia persegue os soterrados na alma da ternura, Voando nos devaneios das taças e no trinar do vinho. Do cálice, uma ideia degusta os segredos da safra, A cor da uva, a delicadeza do cristal, o gosto do trigo. A poesia busca noutro tinto, outro cálice, Brindando o afeto como os olhos à pétala da flor. Os versos navegam na toalha verde da pauta, Atracam no sal do sentimento, no porto do queijo, Beliscando no mar do apetite âncoras de lirismo; A poesia mergulha na inocência do azeite, Cruza os oceanos do paladar nas fatias das sílabas E resiste ao tempo como templários da imaginação.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Janduhi Medeiros

CÉU DE DELÍCIAS Foi úmida a noite, Milho era o sabor, A festa brilhava mais que vitral de igreja E no olhar queimante, lábios firmes, Desejo abrasador, luzia prazer de ternura Num amargo de cereja. Enlaçaste a dança De neblina delirante, Frio que o calor do peito Acalentou e aqueceu, no seio agreste, Molhado pela chuva ladrilhante, Que no fogo da afeição errante O âmago bateu. Passos juninos, Vestido na cor da música; Corpo alegre como delírio de sanfona; As mãos abraçavam o cravo do perfume E o brilho dos olhos. E mais, Para ampliar a constelação da alegria, Ofereceu-me a luz do rosto no sorriso, A imensidão do amor num céu de delícias.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Janduhi Medeiros

VAQUEIRO E CHÃO Sertão, Tantos caminhos sem sombra, Que a luz do sol é espinho até o frescor de uma oiticica! Descem os rios tristes nas ribeiras sem espuma. Nas raízes expostas, As areias exibem a ferida. Porém O homem e a terra é caso de paixão permanente, Permanência com início no machado Ao arco da montanha; Permanência de verão, De fruto do barro, de castanha, Com o fim no chão, no amor permanente. Imaginar que no lodo da pedra O homem encontrou as águas Que brotaram na cacimba da areia morta; Imaginar que no galão da dor, sem mágoas, O homem e a terra carregam a vida atados Como rosário da manhã No frio da névoa; Como amor de orvalho no pasto derramado.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Janduhi Medeiros

CIDADE DO SOL O sagrado verão de Pirangi Nasce sobre a primavera como uma enseada de ramalhetes E bronze tropical; A brisa sacode suas copas verdejantes E o cajueiro, a vida segue a orla até as praias de Búzios, Pelas veredas do litoral. Repouso solar, Ofereça-me em sua bandeja O fruto doce daquela sombra, O azul do mar como cortina de janela, A prosa desejada no aperitivo do alpendre. As ondas das espumas Cantam a sonata da manhã, Outras vidas derramam seus rastos No frescor da areia, aumenta o verde da palmeira Quando cresce o calor E o domingo vai bronzeando suas tardes ensolaradas Com encanto, caju, conversas, Muitas conversas, paçoca fresca, Uma rede, vendedores de tapioca E o sol de Natal.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Janduhi Medeiros

CÁLICE DA VIDA A consciência busca, brandamente, Acordar o beija-flor que invade o amanhecer... Despertar um sonho divino, encantador, Na esperança da soberana Caatinga sobreviver. Nada é feito na campina Para combater a desertificação que abate o juremal... A fumaça da olaria que tisna as nuvens do entardecer, Alegra o forno do egoísmo com flores de funeral. Por que será Que o semi-árido é degredado? O homem selvagem não tem sensibilidade De passarinho, Não voa pelas copas da alegria Nem pensa na felicidade da floresta. Floresta que oferta o vinho à vida No orvalho que adoça o cálice da flor, Onde o beija-flor degusta a natureza divina.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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José de Souza Xavier Menção Honrosa

A ROSA CHINESA IMPRESSÕES ELEGIA A ZILA MAMEDE REVOLUÇÕES SEGREDOS DOMÉSTICOS

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José de Souza Xavier

A ROSA CHINESA O mundo fala em Hiroshima com sua triste sina, mas se esquece das meninas que moravam na China, quando, por lá em chacina, o Japão com sua cortina de vermelho-escarlatina promovia carnificinas, massacrava nas esquinas, se apossava da carne feminina e transformava em fedentina o que antes era colombina.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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José de Souza Xavier

IMPRESSÕES Quando eu era menino sonhava escondido te possuir como adulto. Hoje homem crescido queria te possuir como menino na velhice dos meus sonhos.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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José de Souza Xavier

ELEGIA A ZILA MAMEDE Eu quero condenar aquele mar que tentou carregar a minha diva para aprisioná-la, ainda viva, com todo seu poema secular no mais profundo abismo colossal, e quis o conteúdo do seu verso, em imprudente intento mineral, retê-lo para sempre e sem reverso. Ele tramou levar da potiguar mais que o cotidiano privilégio de ter o braço amado, forte e régio daquela que na vida soube dar a plena devoção sobre o papel, e fez a tradução que um escultor faz com a sua mão e seu cinzel para ritmar a voz de um orador. Ao ver no vento o verde feito Apolo ou ora tal qual onda esplendorosa se espraiando a agitar a gloriosa superfície da cana presa ao solo, a nova palmeirense perguntou: "Meu pai, isso é o mar?" E um pronto: "Não, é um canavial", lhe reportou. Porém, não lhe causou desilusão. Ela fundia ao corpo o azul imenso, cantava da maré toda pujança e, junto com seu mundo de criança, dava também ao campo amor intenso. Daquele dualismo de paixão, a Netuno mais perto quis estar, mas sem nunca esperar qualquer traição qual foi a ingratidão de lhe ceifar.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Eu quero condenar aquele mar e não posso prendê-lo. Sou pequeno. Mas o que me consola o meu cantar é poder relembrar que aquele aceno só deixou solidão ao seu algoz, que não tem mais nas tardes sua musa, pois Zila com seu verso em minha voz sempre em mim viverá mesmo reclusa.


José de Souza Xavier

REVOLUÇÕES Orgasmo era profanação na era de minha avó, obrigação na era de minha mãe, devassidão na era em que namorei, precaução na era em que noivei, repetição na era em que casei, diversão na era em que me separei.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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José de Souza Xavier

SEGREDOS DOMÉSTICOS Conheço as cores dos teus lençóis, de todos os que guardas nas gavetas eu sei o cheiro. Já dormi quase morto após as orgias das noites em tua cama como teu rei. Sei onde tudo está em cada recanto do quarto, em cada cantinho das gavetas da cômoda como se fosse o teu corpo. Mas o que me consome é saber o teu nome, a que hora deitas e levantas, o teu grito ou silêncio no gozo e não saber o que escondes dentro do teu coração.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lisbeth Lima Menテァテ」o Honrosa

CANTADEIRA LIGEIRO SINO MOTIVO CORDテグ ENCARNADO

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Lisbeth Lima

CANTADEIRA Se ela canta, canta lindo, mas eu me espanto. Porque ela nรฃo canta de felicidade! Quando ela canta, disfarรงa com doรงura o que sente: foi com seu canto que ela aprendeu a acalentar a alma que chora.

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lisbeth Lima

LIGEIRO Ainda no pé, depois de madura, a goiaba, desfalcada de sua carne vermelho-polpuda, mostra seu lado mais secreto: as sementes elegantemente arranjadas umas sobre as outras. Admiro a disposição dos grãos e encontro a natureza e sua origem. Mas, apesar de me ser permitido testemunhar tal espetáculo, invejo o pássaro que chegou antes de mim.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lisbeth Lima

SINO Quando ela abriu a janela e acendeu a luz do sol no seu quarto, e, mais do que a luz do sol, acendeu o dia nela, reparou quão sombria estava sua vida, mofada, sem luz. Há muito já não se benzia. Mas foi em Deus que pensou, espalhando no rosto uma cruz. E o seu gesto mirrado garantiu tocar mais um dia com a força de quem toca sinos.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lisbeth Lima

MOTIVO Tinha nas mĂŁos o sumo de tangerinas que acabara de descascar. Os gomos, postos sobre a mesa, eram consumidos com avidez. Na cesta, outras frutas esperavam o momento de se decomporem para se transformarem, de fato, em natureza morta.

1Âş Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lisbeth Lima

CORDÃO ENCARNADO O que sobrou de azul, daquela tarde de verão, foi o céu. O resto foi vermelho de pura paixão. Mas, no final da tarde, o céu também avermelhou. Na dobradinha do azul e vermelho, lembrou do seu pastoril da infância.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lívio Oliveira Menção Honrosa

LUZINDO HORAS VERMELHAS SENDAS PINTURA DO TEMPO BRINDE À LUA NO RIO

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Lívio Oliveira

LUZINDO Um ser azul passeia sob o poste de luz que mantém, visível, a vereda da insônia, tal qual a agulha que segura sua veia hirta. Os cálculos de sua vida são feitos, rapidamente, para que se dê tempo à lua de cobrar as horas perdidas em aliciamento inútil de louco. Os louros cabelos, esvoaçam, sob a luz que projeta aura branca de santa.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lívio Oliveira

HORAS VERMELHAS Fumo picado colmata buracos da minha alma. A barragem, no entanto, não evita o jorro. A queda abissal do meu sangue curtido banha cenário árido a que pertenço, sangria do meu tempo.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lívio Oliveira

SENDAS Arrume a mala. Ponha-na na última diligência, caminho para o salto no desfiladeiro do México. Teus pés, mantenha-nos na estrada, mesmo que empoeirada, mesmo que na aspereza do solo pedregoso. No pó, mistura de lama e alma, assume as rédeas e rumos novos, porque um tempo novo está plantado, está nascendo na palma de tua mão.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lívio Oliveira

PINTURA DO TEMPO Pedra de fogo que se esfarela ao tom da voz longínqua da dama nua na estrada. A porção humana, em mim tentada, transforma-se em novo medo de menino. O segredo que me trazes do deserto é a senha que me tenta a saltar, sem o tempo que eu tive para o sonho. Resto ancorado no oceano extremo de mil contos vividos. Sou o arquétipo do além e do ninguém, no mundo que restou da chuva.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Lívio Oliveira

BRINDE À LUA NO RIO O brilho verde é de serpente em rio virgem. À passagem do barco, espreita-me, mas antes é cúmplice, não-adversa. Saúda-me a memória em que vejo minha costela no arco de seus dentes, dissolvida em bom veneno.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Bezerra Júnior Menção Honrosa

SUÍTE POÉTICA EM CINCO MOVIMENTOS MANIFESTO DO LIVRE PENSAR POÉTICO PRAS BANDAS DA SAUDADE CÂNTICO DE TRANSFIGURAÇÃO VITROLA 161


Manoel Bezerra Júnior

SUÍTE POÉTICA EM CINCO MOVIMENTOS I Brando colo, gema rara; Flutuo em teu seio, um sonho. Ávido a sorver-te me ponho; Porção mágica que sara. II Teu cheiro que me desperta, Me acende a chama mais pura; Conduz-me à livre aventura, Nua paisagem aberta. III Avassaladora sanha Em mim, córregos percorre; Néctar do vértice escorre, Vôo suave me abocanha. IV Densa chuva mata adentro, Saga da fertilidade. Frui-me intensa liberdade, Quando em ti, eu saio e entro. V Borboletas no jardim, Abelhas sugando flores. Arco-íris, leque de cores, E o teu lasso corpo em mim.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Bezerra Júnior

MANIFESTO DO LIVRE PENSAR POÉTICO Calorosa discussão de adversos, Quanto à construção dos versos: Poema de três versos, Alguém de estro duvidoso, Sarcástico argumentou: - Não é poesia! Um outro, declarou Veementemente: - Poesia, só rimada E na métrica encaixada! Hermética argumentação, Tanto quanto a antecedente. - Poética com política revolucionária! Brecht, Maiakovski e Whitman, exaltados. Futebol, só para crônicas! Retruca um (dis) torcedor de verdades, Que desconhece até Drummond. Quando os versos livres, Em arroubos de retórica antropofágica, Gritaram sua redenção poética, Encarceraram o soneto No mais frio calabouço. Reles teses anacrônicas, Sucumbem ao tempo soberano. Enquanto isso, Nos páramos poéticos, Almas libertas de rancores estéticos, Enlevadas e evoluídas, Celebram em harmonia divina, A Poesia em liberdade eterna. 1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Bezerra Júnior

PRAS BANDAS DA SAUDADE Quando o tempo Dobrava a ferro A liberdade vigiada Nos ásperos tempos idos, Eu dobrava as esquinas Com dobrados à trompa, Em esquiva às grades da escola.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Bezerra Júnior

CÂNTICO DE TRANSFIGURAÇÃO Eu não quero amor Que instila o sabor De acerba ilusão. Nem mais bela flor, Que no espinho é dor, Transfiguração. Fuga e sofrimento, Sorve o pensamento De quem ama em vão. A temeridade À efemeridade Da voraz paixão.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Bezerra Júnior

VITROLA Silente no canto da sala, Uma Vitrola Zenith modelo Villa Rica. Outrora, galante crooner, Atriz principal. Anfitriã de bailes e saraus Nas madrugadas orvalhadas. Agulha afinada, Girava soberana na rotação vigente Do refinado reino do vinil. Resistiu com soberba galhardia Ao surgimento da grã vedete, A fita cassete. Mas, no epílogo de uma tempestade sonora, Sucumbiu heroicamente Atingida por um raio; Um portentoso raio; O raio laser.

Hoje, status de decoração, Ainda desperta glamour Em nostálgicas audições, Ao relembrar sussurros através dos chiados, Quando as batidas de um coração apaixonado, Se confundiam com a chegada do disco ao fim.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Wilson Palá Menção Honrosa

HÁ UMA PRIMAVERA O GOSTO DO PERFUME FUMADO VENDO-SE NUM PÉ-DE-PLANTA

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Manoel Wilson Palá

HÁ UMA PRIMAVERA Senti, cansei, cantei pra viver sem dor. Interdições: Chegado o verão Nada feito nada escrito, nada visto tudo em vão. Depois na razão Perseguição, intimação, a solidão, senti. Ilusões: No outono aprendi Dividi, subtraí, interagi, busquei. E nada se fez pra cantar, pra celebrar, pra animar, cansei. Alusões: No inverno, porém... Tudo molha, tudo muda, tudo enxuga eu sei. Começam outra vez as intrigas, das antigas, novas brigas; cantei. Repetições: E na primavera... Era bela como as pétalas, tão complexas, de uma flor. Voltava o fervor renascer, pra crescer, pra viver sem dor. Nas quatro estações Interdições, ilusões, alusões, repetições, eu vi. Chegado o verão... 1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Wilson Palá

O GOSTO DO PERFUME FUMADO O tom se mistura às cores brilhantes do cheiro da malícia. Do desejo que exala do cigarro tragado com um som perfumado. O sexo, anexo ao gozo do gosto do perfume fumado; Devora a carne da alma degustando o cheiro gozado. Que fede, que cheira a gozo na car lambida de beijos molhados. Com perfume do cigarro a cara, a boca, o dedo enraizado. As costas expostas, pedintes. O sexo, sem medo, de formas perfeitas. A gula, a fúria no gozo do gosto do perfume fumado. Devora a carne da alma, degustando o cheiro gozado. Do desejo que exala do cigarro tragado com um som perfumado.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Manoel Wilson Palá

VENDO-SE NUM PÉ-DE-PLANTA Através de um coqueiro a estrela é distante. Sorrisos brilhantes refletem no mar. No meu pé-de-coco transpassa uma luz; Demais me seduz e me faz perguntar: Estrelas cadentes, cadentes de onde? Cadentes pra onde? Cadentes por que? Do meu pé-de-coco eu fiz um pedido Um pouco aturdido soou um lamento. Se, pede um coco lá no meu coqueiro. Se, pé-de-dinheiro, se pede sustento. Estrela cadente se pede paixão. Se, pé-de-feijão, se pede comida. Se, pede nos carros, se perde nos bares. Se, pede nos lares, se perde na vida.

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Vera Rocha Menção Honrosa

UM LUGAR TEMPO AMBIGÜIDADE IMOBILIDADE RASGO

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Vera Rocha

UM LUGAR a lua surgindo acesa ao acender das estrelas regaço de dunas que impudicamente recolhe o Sol abraço de ondas afagos de espumas carícias da brisa ao longo do mar

1º Concurso de Poesia Zila Mamede

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Vera Rocha

TEMPO uma estrela aninhou-se em meus cabelos por isso seus fios sรฃo de prata e abraรงo o anoitecer

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Vera Rocha

AMBIGร IDADE vazio espaรงo aberto e fechado vago na procura de preencher meu vazio vagando preencho espaรงos de meu vago e vazio momento

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Vera Rocha

IMOBILIDADE o tempo uma esteira sobre a qual corro corro corro sem sair do lugar

1ยบ Concurso de Poesia Zila Mamede

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Vera Rocha

RASGO goteja meu sangue como o gole do vinho que sorvo cada amargura uma gota um gole tracei meu caminho mapeado em sonhos que não eram meus dilacero meu pulso como meus sonhos foram lentamente cinicamente dilacerados lentamente minha vida esvai vinho sangue se misturam num ritual por mim traçado sorvendo vinho esvaindo vida esvaindo esvai indo

1Âş Concurso de Poesia Zila Mamede

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