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Sobe & desce

27 de Abril de 2012 |

Sede do Motoclube

Finanças autárquicas

Anos e mais anos para conseguir um terreno para a sede, o motoclube de Faro vai inaugurar a nova casa sem um tostão de dinheiro público na construção (Ler pág. 16).

Pobres estão as Câmaras e com menos 5% das receitas de IMI o caminho é simples e claro, paupérrimas é o destino final (Ler pág. 2)

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OPINIÃO

Na cama com a celulite e outros estereótipos

O postal alterou o e-mail da redacção: jornalpostal@gmail.com FICHA TÉCNICA

Sede: Rua Dr. Silvestre Falcão, n.º 13 C - 8800-412 Tavira - Algarve Tel: 281 320 900 | Fax: 281 320 909 E-mail: jornalpostal@gmail.com Director: Henrique Dias (CP 3259). Director Comercial: Basílio Pires Editor: Ricardo Claro (CP 9238). Redacção: Cristina Mendonça (CP 3258), Geraldo de Jesus (CO 630), Helga Simão. Design: Profissional Gráfica. Colaboradores fotográficos: José A. N. Encarnação “MIRA” Colaboradores: Beja Santos (defesa do consumidor), Nelson Pires (CO76). Departamento Comercial, Publicidade e Assinaturas: Anabela Gonçalves, José Francisco. Propriedade do título: Henrique Manuel Dias Freire, inscrito sob o nº 211 612 no Registo das Empresas Jornalísticas. Edição: Postal do Algarve - Publicações e Editores, Lda. Contribuinte nº 502 597 917. Depósito Legal: nº 20779/88. Registo do Título (dgcs): nº 111 613. Impressão: Imprejornal, SA Distribuição: Banca - Logista, à sexta-feira com o Público/ VASP - Sociedade de Transportes e Distribuição, Lda e CTT. Membro: APCT - Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação; API - Associação Portuguesa de Imprensa.

Tiragem desta edição:

8.686 exemplares

Selma Arau Terapeuta Sexual Autora do livro ‘Boa de Cama Uma abordagem sobre a sexualidade’ www.selmaarau.com

O que é fundamental para que o momento de intimidade seja muito prazeiroso? Para sentir prazer sexual é necessário ter um peso determinado? Ter o corpo igual ao do Brad Pitt e Rita Pereira? Contar com a juventude dos vinte anos e do dinheiro do Belmiro de Azevedo? Quantos mililitros de silicone nos seios, glúteos, barriga das pernas? E a celulite e os bíceps trabalhados, qual é a importância deles durante a relação íntima? Acredita-se, ainda, na existência de um perfil de pessoas que se dão bem ou mandam bem na cama e sempre com enfoque no padrão corporal, idade, status social, bem como, na quantidade de sexo por semana ou num grande número de parceiros como termómetro

para diagnosticar se uma relação usufrui do prazer e revela juventude. Ou seja, por trás disto, está também a crença de que “gente velha não faz sexo”. Recordo-me do que disse o meu professor, Dr. Ricardo Cavalcanti – CESEX (Centro de Sexologia de Brasília-DF - Brasil), para quem “depois de certa idade, diminui-se a quantidade de actividade sexual, mas aumenta-se a intensidade”. Ou seja, a natureza concede e retira em qualquer fase da vida. Se jovem, a frequência pode até ser maior, mas o usufruto em profundidade do sexo vem com a maturidade. O melhor de tudo é que em qualquer fase se extrai algo novo e significativo. Adeus estereótipos! Muitas mulheres colocam a balança no quarto e pesam-se antes de irem para a cama e já se sabe o que acontece: se o peso estiver irregular, a cabeça fixa-se nos 376 gramas excedentes e deixa passar a oportunidade de curtir o abraço sexual, isto, quando a celulite detectada, às vezes com o uso

D.R.

de uma lupa, não se torna maior do que o desejo de sentir prazer. Sentem-se fora do padrão. Mas também os outdoors insistem em dar nota da importância de ser magra como a Angelina Jolie ou ter os seios da Soraia Chaves! Muito presentes as amarras sexuais disfarçadas de estereótipos. Assim, quem está fora do peso, cheia de celulite (mesmo a imaginária), sem dinheiro, peito caído, tórax flácido, sem alguma especialidade, sem olhos azuis, “barriga de barril”, pénis pequeno, cabe-

los crespos (o meu, por exemplo), botox atrasado, não pode deliciar-se durante o encontro amoroso? Obviamente que o cuidado é sempre bem-vindo, para além dos benefícios que traz, revela amor-próprio. Não se deixa de amar alguém porque a barriga cresceu ou os pneuzinhos aumentaram, mas ver a pessoa amada cuidando-se e melhorando o próprio corpo, sem seguir modismo, é motivo de alegria, além de torná-la mais atraente. E quem cuida bem de si mesmo faz isso com o

outro. Entretanto, para sentir, dar prazer e satisfação na cama (ou em outro lugar), depende muito mais de ser saudável, da capacidade de entrega e da permissão interna para isso do que de qualquer outra coisa. Há pois quem ‘faz e acontece’ sexualmente, mas é incapaz de sentir. Usa recursos ousados, muda o corpo para atrair os olhares, contudo, internamente, esconde o medo do prazer e dele foge. No entanto, passa a mensagem para o outro de máxima satisfação. Aja a seu favor esmerandose em gozar o momento de intimidade do jeito que você é. Daí abrir-se-ão possibilidades de perceber que o prazer poderá ocorrer em todas as áreas da vida, como manutenção do peso desejado, ter um corpo mais esculpido, celulite e finanças sob controle, cuidados especiais para a idade, aceitação do órgão sexual, pois, afinal, “todo o cesto tem a sua tampa”. Aceite o seu corpo, cultive e extraia dele toda a vitalidade prazeirosa sem depender de rótulos e propaganda enganosa.

José do Canto e os Açores no século XIX Beja Santos Acessor do Instituto de Defesa do Consumidor e consultor do Postal

José do Canto foi um “gentlemanfarmer” singular no Portugal do século XIX: liberal, progressista, culto (possuidor de uma vastíssima biblioteca), agricultor moderno, marido terno, devotado à família e aos interesses açorianos. Percebese como uma historiadora se tenha deixado fascinar por essa figura que nasceu no ano da revolução liberal (1820) e que acompanhou as vicissitudes do século XIX, contribuindo a seu modo para o desenvolvimento da região açoriana.

Não é uma biografia, se bem que o José do Canto seja a figura dominante do estudo. É a história de uma pessoa imbrincada na sua família, na sua região e no seu país; uma história que é iluminada pelos grandes acontecimentos do século XIX e a preocupação em se manter atenta às grandes mudanças do mundo civilizado, nomeadamente na agricultura. O resultado aqui está: uma investigação excelente, uma escrita arrebatante, um título justo para o conteúdo do estudo: “Os Cantos, a tragédia de uma família açoriana”, por Maria Filomena Mónica, Alêtheia Editores, 2010. O que havia de tão especial em José do Canto? Nascido em Ponta Delgada,

filho de um morgado próspero, teve a educação própria do seu tempo: educado por uma mestra, depois por um padre, cedo conheceu o Latim e a Lógica. Aos dez anos já lia o Catão, de Almeida Garrett. Filomena Mónica, em paralelo com os acontecimentos da família Canto, vai descrevendo as grandes mudanças políticas registadas em Portugal e como as mesmas conformaram a vida açoriana. Implanta-se o liberalismo, José do Canto é preparado para a importância da modernização agrícola. Aos 23 anos reúne em sua casa um grupo de parentes e amigos e funda a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense. Estamos na época da prosperidade assente na laranja exportada predominantemen-

te para Inglaterra. O grande obstáculo era a falta de um cais decente, pelo qual José do Canto irá fazer um dos pleitos da sua vida. José do Canto tem 17 anos quando o morgado José Caetano, seu pai, embarca para uma longa viagem na Europa. Fascinado pelo que viu, forjou um plano: mandar o filho para o estrangeiro. Em 1838, José foi internado num colégio em Paris e leva consigo um segredo: tinha-se apaixonado por uma menina de 12 anos, Maria Guilhermina Taveira Brum da Silveira. Não pode ainda saber, será a paixão da sua vida. De regresso a S. Miguel, o pai manda-o estudar para Coimbra, vive-se uma época de tumultuo, José aproveita para escrever uma memória sobre o cais de Ponta Delga-

da. É na ilha que ele se sente bem. Os acontecimentos imprevistos vão bafejá-lo. O seu irmão mais velho não aceita casar com Maria Guilhermina, a menina é-lhe proposta em casamento. Maior felicidade não podia haver. Casase com 21 anos e não imagina o que a vida lhe reserva. Está permanentemente activo, é um agricultor atento, adora a botânica, sonha que surja à sua volta uma aristocracia como a inglesa. Promoverá debates sobre culturas com futuro para a região: tabaco, ananás, chá. Um estudo profundo, de referência, redigido com simplicidade admirável, um José do Canto bem enquadrado no seu ambiente e em todo o Portugal do século XIX.


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