Metrópole Magazine - Janeiro de 2017 / Edição 23

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Janeiro de 2017 – Ano 2 – nº 23 – Distribuição gratuita

Violência obstétrica Uma a cada quatro mulheres já foi vítima de algum tipo de violência antes, durante ou depois do parto

CIAO, BRASIL!

A cada ano aumenta o número de brasileiros que buscam obter a cidadania italiana pág. 44

ENTREVISTA

Geovanna Tominaga: a japinha de São José sempre soube que queria ser artista pág. 18


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6 | Revista Metrópole – Edição 23

EDITORIAL

Uma proposta de reflexão para 2017: Sua empresa vai bem? Você é cliente do seu cliente? No início do ano é natural fazermos reflexões sobre o que passou e o que virá. No final de 2016, a Metrópole Magazine observou os empresários desanimados e ansiosos em decorrência da política e economia do país, indagando-se sobre o rumo de seus negócios. Neste momento importante, nós convidamos você, leitor, a um olhar de autocrítica, não com o objetivo de se culpar ou se penalizar, mas buscando nessa interiorização, quais as atitudes que você, de fato, adota para fazer da nossa região um ambiente próspero. A economia depende de giro. Esta circulação do dinheiro não ocorrerá se o empresário que atua na comercialização de imóveis aproveitar a viagem ao exterior para comprar computadores, celulares, roupas para toda a família e brinquedos para os sobrinhos. Porque o “seu cliente”, que também é empresário e atua na comercialização de aparelhos eletrônicos, não terá o lucro que poderia e, em consequência, não irá comprar o apartamento que a família planejou. Da mesma forma, se você, empresária que possui uma loja de grife ou com grifes famosas, opta por realizar o seu jantar de aniversário em um belo restaurante em São Paulo, pode estar preterindo a sua cliente que gerencia um restaurante de alto padrão e a atenderia com a mesma competência, mas com a vantagem da personalização. Saia da zona de conforto para prestigiar o seu cliente e não apenas esperar que ele o prestigie. Ainda que o supermercado esteja estabelecido em região oposta à sua e o preço final de suas compras seja relativamente superior ao que você pagaria em uma grande rede de supermercados. Reflita se você é cliente do seu cliente. Fomente a economia sobre a qual tanto se reclama. Já se disse que a vida é matemática. Se você for cliente do seu cliente, por mais que as coisas possam parecer difíceis, você estabelecerá um relacionamento que tornará seu cliente um eterno parceiro nos negócios e o resultado o surpreenderá. Que não se fale mais em crise, livremo-nos do estigma das palavras negativas. Boa leitura. Regina Laranjeira Baumann


metr pole magazine www.meon.com.br/revista Diretora-executiva

Regina Laranjeira Baumann

Editor-chefe

Eduardo Pandeló

Repórteres

Henrique Macedo Moisés Rosa Laís Vieira Laryssa Prado Murilo Cunha Rodrigo Machado

Revisão

Henrique Macedo

Departamento Comercial

Alyne Proa Fabiana Domingos Gilberto Marques

Diagramação

José Linhares

NHECE, CONHECE BDO

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Idelter Xavier

Colaboradores

Marcus Alvarenga João Pedro Teles Pedro Ivo Prates (fotógrafo)

Arte

Giuliano Siqueira

Mídias Sociais

Moisés Rosa Marcus Alvarenga

Departamento Administrativo

Gabriela Oliveira Souza Larissa Oliveira Maria José Souza Roseli Laranjeira Tiragem auditada por:

262 m.br Meon Comunicação Ltda Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 Jardim Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 PABX (12) 3204-3333 Email: metropolemagazine@meon.com.br

A revista Metrópole Magazine é um produto do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição gratuita


8 | Revista Metrópole – Edição 23

ECONOMIA Mercado em crescimento: a disputa territorial entre as grandes redes de farmácias e drogarias.

54

Arquivo pessoal

18

ENTREVISTA Geovanna Tominaga, declara seu amor por São José e nos conta um pouco da história de sua vida e carreira na televisão.

CULTURA Artistas da região buscam no empreendedorismo uma forma de realizar os próprios sonhos.

Pedro Ivo Prates

ESPORTES Herói de dois continentes, Marcus Vinícius conta as histórias de sua carreira no futebol brasileiro e japonês .

32

ESCLEROSE MÚLTIPLA Milhares de pessoas lidam com essa doença que assusta mas tem cura.

40

Metrópole Magazine traz reportagem especial sobre um crime praticado contra mulheres antes, durante e após o parto e que vem aumentando em hospitais públicos e particulares.

Espaço do Leitor Aconteceu& Frases& Cultura&

CIAO BRASIL De olho na União Europeia, aumenta número de brasileiros que buscam a cidadania italiana.

22

Murilo Cunha

Matéria de Capa

10 14 16 52

Sumário

Pedro Ivo Prates

Divulgação

58 48

26

62 66 68 74

Pedro Ivo Prates

TURISMO É possível aprender e se divertir muito nos acampamentos de férias da região.

44

POLÍTICA Prefeitos das três maiores cidades da região já sabem quais os gargalos e os desafios que terão que enfrentar.

Gastronomia& Social& Arquitetura& Crônicas&Poesia


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10 | Revista Metrópole – Edição 23

Espaço do Leitor Edição 22 – Novembro de 2016 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Feedback

Dezembro de 2016 – Ano 2 – nº 22 – Distribuição gratuita

E-commerce Comércio digital faz empresários da região investirem em plataformas de vendas online

ENTREVISTA

PAPAI NOEL EXISTE?

pág. 18

pág. 46

Aos 85 anos e em plena atividade, Ozires Silva relembra o passado e projeta São José do futuro

Desvendamos o imaginário infantil sobre o bom velhinho

Em dezembro, o assunto do mês foi comércio digital, que é a ‘carta na manga’ de empresários da região. A matéria sobre e-commerce mostrou como as plataformas de vendas virtuais estão em alta e as mudanças no comportamento do consumidor. Outro destaque é a matéria sobre o bom velhinho. Em clima natalino, os leitores da Metrópole Magazine puderam ver as crenças das crianças e tudo relacionado ao universo infantil e a magia do Natal. A matéria sobre as boas vibrações para o ano de 2017 mostrou também como elaborar um plano para a virada

São José dos Campos, dezembro de 2016 | 19

18 | Revista Metrópole – Edição 22

ENTREVISTA

O longo voo de Ozires Silva

Empreendedor e visionário, mentor da Embraer pensa a São José de 2030 Henrique Macedo SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O

engenheiro Ozires Silva é um homem de grandes realizações. Nascido em Bauru, em 1931, Ozires foi o principal mentor da Embraer, terceira maior fabricante de jatos do mundo. Formado pelo ITA (Instituto Tecnológico Aeroespacial) é coronel da Aeronáutica. Também ocupou importantes cargos no governo federal e na Petrobras. Aos 85 anos, mantém uma agenda lotada, fazendo palestras por todo o Brasil. Entre um trabalho e outro, Ozires respondeu as perguntas enviadas pela revista Metrópole Magazine.

Como era a Embraer nos primeiros anos, até a década de 80? A empresa foi criada em 1969, fruto dos três atributos que você colocou em sua primeira pergunta - sonho, visão empreendedora e muita sorte -, construída após muitos anos e luta de convencimento de pessoas e entidades que pudessem nos ajudar, acreditando nas metas que a Embraer mostra hoje: aviões brasileiros,

O senhor pode relembrar a sua passagem pela Petrobras, entre 1986 a 1989? Como foi esse período? Foi um período difícil o de sair do espaço e ir para as profundezas do solo, em busca do petróleo que o país precisava - e precisa - para, como fonte de energia

“Todas as empresas do mundo, infelizmente, estão sujeitas às mesmas ameaças, ao participar de vendas a governos, os mais diferentes” sobre a corrupção na Embraer primária, colocar à disposição dos consumidores as condições de desenvolverem seus negócios, contribuindo para a geração de empregos e de riquezas. Diferentemente da Embraer, que era

uma empresa em que eu pessoalmente tinha participado da criação, gerando suas vocações e futuro, não foi fácil encontrar uma empresa consolidada, com crenças e processos gerenciais, absolutamente diferentes da nossa fábrica de aviões! No entanto, tive sorte, pois fui bem recebido e continuamos o que tinha sido feito no passado, buscando novos caminhos, certamente existentes no mercado internacional. Infelizmente, a internacionalização da empresa não foi conseguida, por prudência ou zelo do acionista controlador, o governo brasileiro. Uma pena, pois, se isso tivesse sido autorizado na época, possivelmente os problemas que a empresa enfrenta hoje não existiriam! Em 1990, o senhor assumiu o cargo de ministro da Infraestrutura no governo de Fernando Collor. Como foi essa experiência? Aceitei o convite do presidente, pois sempre fui crítico sobre a enorme interferência do governo sobre os negócios no país, o que, na época (e ainda hoje) é um dos impedimentos, entre outros menos importantes, no insuficiente desenvolvimento do Brasil. E não achava correto que, tendo uma oportunidade de mudar, fugisse do desafio. Mas não gostei do mundo político e, com pouco mais de um ano, deixei o ministério, após algumas realizações muito menores do que as que desejava. Vi que o governo, como instituição, mantinha um sistema gerencial no qual as decisões não eram tomadas... elas aconteciam! Não descobri como! Tudo difícil e complexo, com a interferência correta ou não de outros órgãos que nada tinham a ver com o problema.

Hoje, a Embraer é a terceira empresa do setor aeroespacial no competitivo mercado mundial. O que o senhor sente ao ver os jatos produzidos no Brasil voando em todos os continentes? Creio que não somente eu, mas todos da valorosa equipe de trabalho da empresa bem como o povo brasileiro, sentem orgulho de voar em produtos complexos e sofisticados como os aviões, até em outros países, contribuindo para a mobilidade e pela agilidade dos negócios, gerando riquezas e empregos nos cinco continentes.

meios legais para se defender. A Embraer tem feito isso e, até hoje, não foi legalmente reconhecida como culpada. Assim, usando o princípio mundial de “presunção de inocência”, não concordo em colocar nossa empresa no banco de réus, sem decisão passada em julgado em qualquer país! O senhor é um dos mentores do São José 2030. Qual é o objetivo desse projeto? Sempre insisto que não é possível prever o que acontecerá no futuro, mas podemos trabalhar agora para construir algo que poderá atingir resultados muito positivos para uma empresa ou instituição, uma cidade, região ou país. Esse é o princípio fundamental

que nos levou a criar um Projeto que chamamos de São José dos Campos 2030. Ou seja, promover atualmente investimentos que possam florescer, se desenvolver e produzir resultados em 2030 ou mais tarde. Para isso, convidamos líderes locais e a população em geral a produzir ideias agora, gerar interesse de empreendedores que levem ao sucesso de suas iniciativas, como acontece normalmente com qualquer empreendimento. O senhor fez gestões junto à Prefeitura de São José dos Campos a fim de trazer o WTC para uma área na região do Jardim Aquarius. Na época, parte da população e entidades da cidade se manifestaram contrárias e o projeto

Foto: Pedro Ivo Prates

O senhor é um dos responsáveis por colocar o Brasil entre os maiores fabricantes de aviões do mundo. Isso é fruto de uma visão empreendedora, de um sonho ou de muita sorte? Sim, é fruto de tudo um pouco, como acontece em nossas vidas. Acalentamos sonhos e pode-se cultivar ideias e iniciativas, transformando-as em empreendimentos pessoais ou para terceiros. Prosseguindo, insistindo e mantendo as crenças principais, podemos até ter sorte.

dos mais variados tipos, voando em praticamente todos os países do mundo. Em 1980 já era uma empresa robusta, caminhando firmemente na estrada construída por suas estratégias iniciais: as da construção de uma empresa global, conservando desde o início uma vocação de produzir aviões de marcas brasileiras, tecnologias nacionais e resultado de projetos de sucesso identificados nos mercados nacional e mundial.

Em 1991, o senhor retornou ao comando da Embraer, onde ficou até a privatização da empresa em 1994. Qual a sua avaliação sobre essa medida ? Meu retorno à Embraer ainda foi durante o governo do presidente Collor, que teve a grandeza de não guardar ressalvas sobre minha permanência como seu ministro. Posteriormente, continuei a presidir a empresa durante o mandato do presidente Itamar Franco, até meu pedido de demissão em maio de 1994, após o longo e exaustivo processo de privatização da empresa. Quanto à privatização, ela foi um grande sucesso, como hoje está mais do que demonstrado. Sob o controle da iniciativa privada cresceu, pode investir em novos produtos, conquistar muito mais espaço no mercado internacional, graças à competência técnica e gerencial de sua equipe e à dinâmica possibilidade de gerenciar de forma bem melhor do que é possível a uma empresa do Estado, como resultado de uma legislação antiquada e restritiva, que precisa ser revogada.

Sobre as denúncias de corrupção envolvendo funcionários da Embraer. É uma decepção? Todas as empresas do mundo, infelizmente, estão sujeitas às mesmas ameaças ao participar de vendas a governos, os mais diferentes. Uma vez existindo o problema, cabe à empresa usar todos os

do ano com metas. A edição nº 22 da Metrópole Magazine entrevistou Ozires Silva, o empreendedor visionário, responsável pela criação da Embraer. A novidade da edição foi o Guia de Compras, com ótimas dicas de presentes para os leitores, que tem sua versão online e que pode ser acessada por meio de QR Code. E para garantir minutos de entretenimento e descontração, o Passatempo, com Caçapalavras e outros testes. A primeira edição do ano também está repleta de novidades. Divirta-se.

Saudade Sou de São José e estou morando em Fortaleza há 5 meses. Parabéns pelas matérias e informações jornalísticas, acompanho as notícias da minha querida cidade por vocês também. André Correia

Admiração

Fã Parabéns pela reportagem com o coronel Ozires Silva, isso que me fez levar a revista para casa, trabalhei com ele na Embraer e sei que continua sendo a mesma pessoa simples e maravilhosa, indiferente ao fato de ser um vulto da história do Brasil. Amo de paixão!

Cumprimento pela esclarecedora, elucidativa e importante entrevista com o jornalista Luiz Paulo Costa. Tem minha admiração e afeto pela história viva da política e da cultura de São José dos Campos.

Maria Angélica de Moura Miranda

Paulo de Tarso Moreira Marques

ERRATA: Na reportagem Sem época de provas, veiculada na edição passada da Metrópole Magazine, o nome da escola citada está incorreto. Onde se lê Dr. José Antônio Balbi, leia-se Dr. José Alfredo Balbi.

Envie email contendo: nome, idade e profissão para metropolemagazine@meon.com.br ou por correio para av. São João, 2375 - sl 2010 - Jardim Colinas - São José dos Campos - SP - CEP: 12.242-000. Em função de espaço, as mensagens poderão ser resumidas.

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12 | Revista Metrópole – Edição 23

Artigo&

Nada é por acaso shutterstock

C

aro leitor, é claro que as doenças não acontecem por acaso e nem de repente. Assim como a queda de um avião depende de uma série de equívocos, assim também a perda de nossa saúde. O conhecimento atual nos permite ter atitudes que beneficiam o nosso bem-estar, tais como a alimentação correta, exercícios aeróbicos, uso de protetor solar, vacinação, etc., que englobam o que chamamos de prevenção primária. São medidas de promoção de saúde destinadas a evitar a exposição a situações de risco para o desenvolvimento de doenças. Todos deveríamos adotá-las. Quando a doença é provável, procuramos detectá-la precocemente, reduzindo seus impactos. A isso se chama prevenção secundária, que pode ser feita com o indivíduo sadio (rastreamentos, screenings) ou no período bem inicial de uma doença, evitando suas consequências. Há uma outra fase, a prevenção terciária, que se confunde com o termo reabilitação, que busca reduzir as consequências funcionais da doença instalada. Como você pode perceber, o mais importante é priorizar a prevenção primária através de campanhas educativas, esportes, lazer, etc. É barato, agradável e eficiente. Já a prevenção secundária, mostra-se limitada na redução da mortalidade e da morbidade e tem um custo bastante elevado para a sociedade, mas é necessária ao conseguir antecipar problemas de saúde por meio de rastreamentos (para a detecção de problemas antes mesmo que eles existam) ou através de diagnósticos precoces de problemas reais e com possibilidade de progredir.

O rastreamento é consagrado em algumas doenças e seu valor é questionado em outras. Uma frase célebre do Muir Gray, ex-diretor do Comitê Nacional de Rastreamento do Reino Unido, afirmou que “todos os rastreamentos causam danos, alguns também produzem benefícios e alguns poucos produzem mais benefícios que malefícios a um custo razoável”. Um dos problemas causados pelo rastreamento é o sobrediagnóstico e o sobretratamento. O sobrediagnóstico é uma “doença” clinicamente insignificante que não teria causado problemas ao paciente, caso não tivesse sido detectada. Não é um falso positivo; é um positivo sem significado clínico. Claro que isso é extremamente controverso, mas não é só isso. O processo de diagnóstico não é isento de riscos e a ele se segue um tratamento, também arriscado. Por exemplo, um achado de um tumor numa tomografia, feita por outro motivo, pode gerar uma cirurgia, com todo o stress e risco decorrentes dessa atitude talvez

desnecessária. Os rastreamentos hoje considerados inquestionáveis são o do câncer de mama, com mamografia bianual para mulheres entre 50 e 74 anos (apesar da radiação e dos falso-positivos), do câncer de colo de útero, com exame de Papanicolau a cada 3 anos dos 21 aos 65 anos e do câncer coloretal, com exame de sangue oculto nas fezes anualmente ou retossigmoidoscopia flexível a cada 5 anos ou colonoscopia a cada 10 anos. Em outros tumores, há discussões calorosas, mas ainda não há um consenso e mesmo nesses três, as sociedades de especialistas diferem em suas diretrizes que têm que ser revistas de tempos em tempos. Além dos tumores, várias outras doenças merecem essa mesma abordagem, assunto para o próximo artigo. Não perca! Roberto Schoueri Jr Médico geriatra em São José dos Campos, trabalha no Hospital REGER e se interessa pelas questões mais comuns que ocorrem na velhice.


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14 | Revista Metrópole – Edição 23

Aconteceu& Divulgação

Cantor preso

O cantor sertanejo Thiago Servo, ex-integrante da dupla ‘Thaeme e Thiago”, foi preso em Jacareí ao chegar para se apresentar em uma casa noturna, no dia 10 de dezembro. O músico ficou três dias na carceragem do 3ºDP pelo atraso no pagamento de R$ 500 mil da pensão alimentícia de sua filha. Após mobilização da família e fãs, que conseguiram pagar parte do valor, o cantor foi liberado na manhã do dia 14 de dezembro. 

Divulgação

Tragédia no Esporte O mês de dezembro começou com o país em luto após a queda do avião que transportava os jogadores do time da Chapecoense, a equipe técnica e jornalistas, no dia 29 de novembro. O último mês de 2016 foi de despedidas e homenagens aos 76 mortos e 5 sobreviventes. O portal Meon notificou que dois atletas que atuaram na região, no time do Guaratinguetá, estavam entre os mortos: o zagueiro Filipe Machado, que jogou a série B do Brasileirão em 2012, e o volante Gil, que defendeu a equipe em 2009 no Campeonato Paulista. 

Divulgação

Despedida sem aplausos Dezembro era para ser a despedida de Carlinhos Almeida (PT) da Prefeitura de São José dos Campos, mas 2016 ainda traria notícias negativas envolvendo o ex-prefeito e o portal Meon acompanhou tudo. Em 9 de dezembro, Carlinhos foi citado na delação premiada de Cláudio Melo, ex-responsável pela área de Relações Institucionais da Odebrecht, que apontou um pagamento de R$ 50 mil para ajudar na campanha a prefeito, em 2011, quando ele era deputado federal. No dia 12 o Ministério Público apontou o ex-prefeito como réu do processo de fraude para favorecimento na compra dos kits escolares para a rede municipal no ano letivo de 2014. 

Rodolfo Moreira

Final feliz para o Pinheirinho Os ex-moradores do Pinheirinho receberam, as chaves das casas do novo residencial construído especialmente para eles, o Pinheirinho dos Palmares. A entrega foi feita pela prefeitura de São José em parceria com a Caixa Econômica Federal, o Governo do Estado e o Ministério das Cidades. Ao todo, 1.461 residências foram entregues. O acampamento do Pinheirinho foi desocupado em 2012, após uma extensa batalha judicial. De lá para cá, as famílias contaram com um auxílio aluguel de R$ 500. Com as casas entregues, eles passam a pagar parcelas mensais que variam entre R$ 25 e R$ 80. 


São José dos Campos, janeiro de 2017 | 15

Divulgação

‘Beijo do Gordo’

O ‘Programa do Jô’ teve a sua última exibição na Rede Globo no dia 16 de dezembro, encerrando 16 anos a frente da programação nas madrugadas da emissora. O programa teve a participação especial do músico Rafinha Gasparin, de Taubaté, que foi convidado para apresentar uma canção em homenagem ao apresentador Jô Soares, que se despediu com um “Até logo!”. 

Divulgação

Uber X Táxi Após um mês da chegada do Uber em São José dos Campos, os taxistas se manifestaram contra a atividade do aplicativo na cidade com um protesto em frente à Secretaria de Transportes, no dia 13 de dezembro. O portal Meon também noticiou que nas redes sociais vários internautas se manifestaram a favor do Uber. Entretanto, dois dias depois, os vereadores aprovaram a lei que regulamenta a atividade do serviço. 

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Homofobia na Aeronáutica O engenheiro Talles de Oliveira Faria, de 24 anos, dominou os sites e redes sociais de todo o país após denunciar casos de homofobia e preconceito dentro do ITA (Instituto de Tecnologia Aeronáutica) durante a formatura no dia 17 de dezembro. O ex-estudante recebeu o diploma de salto alto e vestido. A roupa trazia mensagens criticando o ITA. O caso tomou repercussão nacional e abriu uma discussão sobre os direitos e deveres dentro das atividades militares. Confira o vídeo no portal Meon. 


16 | Revista Metrópole – Edição 23

Frases& Divulgação

Para mim esse ano de 2016 foi maravilhoso, campeão brasileiro, campeão invicto, vai ficar marcado para o resto da minha vida. Ano que vem a Deus pertence. Eu vivo cada momento com calma Jailson Marcelino dos Santos, goleiro do Palmeiras, durante o 35º Prêmio José Friggi

Eu desejo que este ano continue exatamente como foi 2016. O negócio é espalhar cada vez mais alegria e só atrair coisas boas Ana Aragão, empresária e comunicadora, sobre suas expectativas para 2017

Estou trabalhando em projetos de longo prazo com parceiros em Los Angeles, e diretores do Brasil e República Dominicana a respeito de longas-metragens que serão possivelmente filmados no começo do ano

Leandro Moura, cineasta joseense sobre as perspectivas de 2017

Queremos transformar o sonho das pessoas através da arte e poder viver disso

Cristina Cará, empresária e bailarina, sobre a chegada do curso de teatro musical em São José

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” ”


São José dos Campos, janeiro de 2017 | 17

Divulgação

Aqui nós abrimos portas para as pessoas que querem ajudar e doar o seu trabalho e tempo para que a sociedade e as pessoas tenham uma acolhida melhor antes do trabalho da Polícia Civil Delegada Ana Paula Medeiros Monteiro de Barros, durante a inauguração da Ludoteca na Delegacia da Defesa da Mulher de São José dos Campos.

A cultura sempre tem problemas de financiamento, então é muito importante que exista essa possibilidade de reverter o Imposto de Renda devido

Ângela Tornelli, diretora da Associação Joseense para o Fomento da Arte e da Cultura, sobre as doações da Lei Federal de Incentivo à Cultura

Divulgação

A Orquestra é como uma praça, um momento para as pessoas se encontrarem e descobrirem coisas novas

Marcello Stasi, maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica de São José dos Campos durante o Piquenique Sinfônico no Parque Vicentina Aranha


18 | Revista Metrópole – Edição 23

ENTREVISTA

Geovanna Tominaga: a japinha de São José

‘Estar sem um contrato fixo me permitiu fazer coisas que não conseguiria antes’, diz a apresentadora Moisés Rosa SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

la sempre soube que queria ser artista. Desde criança, a desenvoltura em frente às câmeras e o carisma transformaram Geovanna Tominaga, 36 anos, em uma figura querida entre os famosos. Desde os doze anos, quando iniciou na televisão, a apresentadora e atriz que nasceu em São José dos Campos já sabia que queria estar no mundo artístico. Ela já foi assistente de palco da apresentadora Angélica, passou por diversos programas como o Vídeo Show e Mais Você, participou de novelas e peças teatrais. A carreira foi alavancada após comandar um programa infantil na Rede Globo, onde ganhou projeção nacional. A japinha estudou balé clássico, formou-se em Jornalismo e possui passagens pelos principais canais de TV. Na região, a joseense esteve à frente do programa Vanguarda Mix, entre 2004 e 2009, ao lado do apresentador Tiago Leifert. Com um currículo extenso, um fato inusitado marcou a trajetória de Geovanna, quando, ao entrevistar Susana Vieira, a atriz disparou: “Não tenho paciência para quem está começando”. A frase virou ‘meme’ na web. Ela relembra esse fato e esclarece um possível mal entendido. Em entrevista à Metrópole Magazine, Geovanna fala sobre a sua ligação com o Vale do Paraíba, trajetória e os projetos da carreira.

Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em televisão? Você fez algum tipo de teste? Antes de trabalhar na TV, eu cantava e fazia shows pelo Brasil com uma caravana infantil. Levei meu trabalho para apresentar em um quadro musical do programa “Clube da Criança”, na TV Manchete. Eu tinha 12 anos. Em vez de cantar, o diretor me convidou pra fazer um teste para assistente de palco da apresentadora Angélica. Eu aceitei e acabei cantando pra ela como uma surpresa em um especial de Natal. Quais foram as suas participações e como era a sua rotina? Depois de trabalhar na TV Manchete, segui para o SBT e depois para a Rede Globo no programa da Angélica. Após o término do programa, fiz duas temporadas de “Malhação”, algumas participações em novelas da casa até começar a apresentar a TV Globinho em 2002, um programa infantil matinal, onde fiquei por sete anos. Em 2004, fui chamada para testes na TV Vanguarda e em poucos meses estreamos o “Vanguarda Mix”. Ficava dividida entre o Rio de Janeiro e São José dos Campos durante todos os anos do Mix. Tinha duas casas, mas vivia na estrada. Quando a TV Globinho saiu da grade de programação, o Boninho me chamou para fazer testes para ser repórter

do Vídeo Show e estreamos em 2009. Eu fazia matérias e os links fora do estúdio com os convidados. Era tudo ao vivo! Uma semana depois [do programa estrear] eu já estava apresentando o programa no estúdio com meus colegas da época: André Marques, Luigi Baricelli e Fiorella Mattheis. Consegui conciliar o programa ao vivo de segunda a sexta no Rio de Janeiro e as gravações do Vanguarda Mix, nos fins de semana, durante um ano. Era muito cansativo. Nessa época, eu morava mesmo na via Dutra e tive que optar. Deixei o Mix em 2010 e segui no Vídeo Show por cinco anos. Em busca de novos desafios, em 2012 entrei para a equipe de Jornalismo do Mais Você. Sempre gostou dessa área? Como foi sua saída da TV Globo? Sim, sempre gostei. A cada trabalho que fazia tinha mais certeza de que minha paixão era a Comunicação. Trabalhei com profissionais incríveis na TV Globo. Em todos os programas que trabalhei - Angélica, Mix, TV Globinho, Vídeo Show, Hipertensão e Mais Você - eu aprendi muito. Participava de todos os processos, da pauta à edição. Expressei minha vontade de voltar a apresentar e, quando meu contrato acabou, fui buscar novas oportunidades no mercado. Estar sem um contrato fixo me permitiu fazer coisas que não conseguiria antes.


São José dos Campos, janeiro de 2017 | 19

“Moro no Rio de Janeiro e volto sempre pra São José porque minha família toda está aí. Amo a minha cidade! Me sinto mesmo “em casa”. Se existe possibilidade de voltar a trabalhar em São José? Claro que sim!”

Fotos: Arquivo pessoal


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Após esse processo, apresentei um reality na BYU Internacional, uma TV americana que está no ar agora em toda América Latina. Viajei o Brasil rodando um documentário sobre cultura e gastronomia regional com a [produtora] Sete Personagens para a TV Brasil chamado “Marcados”. Visitamos 13 mercados municipais nas principais capitais nacionais. Foi uma experiência incrível! O caso com a atriz Susana Vieira te deixou chateada? Como ocorreu? Não me deixou chateada. O trabalho de um repórter é saber tudo sobre o entrevistado e não ao contrário. Minha maior preocupação era entregar o link no tempo certo para o estúdio. No final deu tudo certo! Estávamos ao vivo e me rendeu boas risadas internas. Susu é Susu. Ela pode tudo! Como era a sua relação com o Boninho? Houve algum problema de relacionamento com alguém do Núcleo que era dirigido por ele? Minha relação com o ‘Boss’ é ótima! Nem preciso falar que ele é um excelente profissional. Sempre o respeitei e confiei muito nas decisões dele. Nunca tive

problemas com os colegas de trabalho. Aliás, me orgulho muito de só ter deixado amigos em todos os lugares em que trabalhei. Atualmente o que está fazendo? Está focada em quais projetos? Acabei de assinar com o PrimeTube

“Sou bichinho da Comunicação e acho que não temos que nos limitar. O bom mesmo é poder passear por todos os caminhos. Afinal, existem várias formas de contar uma história. E posso fazer isso como jornalista, como atriz ou como escritora.”

e vou disponibilizar meu canal de viagens, o Dois a Bordo, nessa nova plataforma de entretenimento online que está chegando com força no mercado. Muita coisa bacana está acontecendo e ainda estou desenvolvendo outros projetos com produtoras parceiras. Além de mim, o Márcio Garcia estará com um canal de nutrição, o Ricardo dos Anjos com um canal de make e outros cantores vão disponibilizar os seus conteúdos. Este ano entrei também para o Criativo Sete Personagens onde trabalho como roteirista e estou terminando minha Pós-Graduação em Mídias Digitais. O que me move são os desafios! Gosto de sentir que estou aprendendo sempre e evoluindo. As boas ideias me ganham, projetos que me inspiram também. E não tem nada melhor do que trabalhar com profissionais que você respeita e admira. No ano passado me chamaram pra fazer um personagem pequeno em Totalmente Demais e foi uma experiência muito bacana. A Marisa [personagem] era uma diretora de marketing da Bastile e eu contracenava com o Humberto Martins, Hélio de La Peña e Juliana Paes. Foi um desafio voltar a atuar, mas achei que seria divertido e aceitei o convite. Sou bichinho da Comunicação e acho que não temos que nos limitar. O bom


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mesmo é poder passear por todos os caminhos. Afinal, existem várias formas de contar uma história. E posso fazer isso como jornalista, como atriz ou como escritora. Recebeu ou há convites para retornar para os canais abertos? Recebi alguns convites, sim. Só não estavam alinhados com os meus objetivos profissionais. Pretende voltar para São José dos Campos se receber alguma proposta? Hoje moro no Rio de Janeiro e volto sempre pra São José porque minha família toda está aí. Amo a minha cidade! Me sinto mesmo “em casa”. Se existe possibilidade de voltar a trabalhar em São José? Claro que sim! Se o projeto for bacana, por que não? Como eu disse, tenho que acreditar no que faço e me sentir inspirada diariamente. 

“Este ano entrei também para o Criativo Sete Personagens onde trabalho como roteirista e estou terminando minha Pós-Graduação em Mídias Digitais. O que me move são os desafios! Gosto de sentir que estou aprendendo sempre e evoluindo. As boas ideias me ganham, projetos que me inspiram também.”


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NOTÍCIAS POLÍTICA

Gargalos e desafios das cidades na RMVale

Prefeitos eleitos terão que realizar mudanças profundas e executar projetos concretos São José dos Campos Luiz Gustavo de Oliveira, 24 anos, desempregado

“ É preciso uma atenção especial para a Mobilidade Urbana e em relação à fiscalização das vagas para deficientes físicos. Muitas pessoas não respeitam e ocupam os locais sem as credenciais exigidas. ”

Fotos: Idelter Xavier e Pedro Ivo Prates

Sandra Oliveira, de 43 anos, auxiliar administrativo

“ O trânsito está um caos na cidade e ainda não nos demos conta. É preciso um olhar mais atento e verdadeiras mudanças. A gente tem que ter paciência para transitar pelas avenidas São João e Nove de Julho. Precisamos de mais políticos ligados às questões de mobilidade urbana. O transporte público não uso, mas tenho colegas e pessoas conhecidas que descrevem como lotados, sempre. ”


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Moisés Rosa e Rodrigo Machado RMVALE

E

ntre a crise econômica e a instabilidade política, os prefeitos das três maiores cidades da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba) e Litoral Norte - São José dos Campos, Jacareí e Taubaté - terão uma missão durante este mandato: governar com orçamento mais enxuto e reconquistar a credibilidade junto à população. Nos últimos meses, a política sofreu forte desgaste e a sociedade clamou por mudanças, o que se refletiu nas urnas e renovação também no Legislativo. O cenário nos próximos quatro anos promete ser desafiador. Dos três prefeitos, os de São José dos Campos e Jacareí são novatos à frente do Executivo. Em Taubaté, Ortiz Junior segue para o segundo mandato. A Metrópole Magazine foi às ruas para ouvir moradores e eles apontaram os setores e os gargalos das cidades que necessitam de mudanças emergenciais e nova postura dos gestores públicos. Em São José, o prefeito Felicio Ramuth (PSDB) tem lição de casa para fazer nos primeiros dias de seu governo e dar o pontapé para soluções aos principais gargalos nas áreas da mobilidade urbana, saúde e segurança pública. Apesar dos investimentos feitos pela administração petista, como a duplicação do viaduto Kanebo, a expansão de ciclovias e mudanças nos principais corredores viários como

as avenidas São José, Nove de Julho e Adhemar de Barros, ainda faltam muitas melhorias no sistema viário, segundo a população. A principal queixa é o trânsito intenso, não só nos horários de picos nas avenidas do Centro, mas também em corredores importantes como a Estrada Velha Rio-São Paulo e as avenidas Andrômeda, Pedro Friggi, Tancredo Neves e Jorge Zarur. O BRT (Transporte Rápido por Ônibus) é outro desafio para Ramuth. O ex-prefeito Carlinhos Almeida (PT) prorrogou em quatro meses o contrato com a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) para a realização de estudos sobre o modelo. Segundo Ramuth, a recém-criada Secretaria de Mobilidade Urbana coordenará a gestão e análise de mobilidade de pessoas, carros e ciclistas, além da segurança viária. A nova pasta contará com um departamento de Obras que coordenará implantação de soluções viárias, como a expansão de ciclovias e da malha viária. “É uma das prioridades da nova gestão”, disse Ramuth. Tão importante quanto mobilidade é o serviço oferecido à população na área da saúde. O prefeito contou que esse é o primeiro problema na lista de ações. “Nós precisamos de um empenho, por isso o vice-prefeito (Ricardo Nakagawa), que também é médico, vai se empenhar em ajudar o nosso secretário (Oswaldo Kenzo Huruta), para conseguir resultados na área da saúde. É o primeiro ponto”, disse.

Ramuth: mobilidade e saúde

Segurança também é assunto em destaque logo no início do governo. São José é a cidade mais violenta da RMVale. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, de janeiro a outubro deste ano foram registrados 66 assassinatos, 15,78% a mais se comparado com o mesmo período em 2015, quando contabilizou 57 casos. Felicio contou que pretende desenvolver políticas públicas para a segurança e criar o Novo COI (Centro de Operações Integradas). “A Atividade Delegada faz parte do nosso programa de gestão e vamos colocar mais policiais nas ruas por meio de parcerias. Taubaté tem mais de 200 policiais no programa e muitos desses policiais são de São José”, disse. “O COI já foi modelo, mas ficou ultrapassado. Está na hora de transformá-lo num centro modelo não só pela tecnologia, mas pela forma de operação”, completou.

Marcos Roberto Pereira, 39 anos, empacotador

“ Saúde. Faltam muitas coisas. O atendimento ainda é ruim e demora muito. O novo prefeito tem que olhar para isso. ”


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Jacareí Léia Chaves da Silva Santos, 50 anos, diarista

“ A Saúde precisa melhorar muito. Já fiquei esperando por dois anos por um ortopedista. O problema é que demora muito para passar por uma especialidade. ” Antônio Carlos, 50 anos, técnico químico A área de transporte precisa de mudanças. “A construção de um anel viário na entrada da

cidade será o ideal para desafogar o tráfego. Implantaram um semáforo na Siqueira Campos, onde o trânsito fica totalmente parado. ” Vizinha Em Jacareí, o prefeito Izaias Santana (PSDB) terá o desafio de equilibrar as contas públicas e mostrar resultados nas áreas da Saúde e da Mobilidade Urbana. Ambas são consideradas os principais gargalos no município. De acordo com Santana, o maior problema nos primeiros meses será na Saúde. “A maior dificuldade será a reposição da equipe médica. Há problemas estruturais e a remuneração não é atrativa. Ou você contrata OS [Organização Social] ou abre contratação para servidor efetivo, mas é preciso ter um salário compatível”, disse. Ele propõe uma readequação no atendimento e afirma que irá implantar três UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento), para amenizar a demanda na Santa Casa. Para os atendimentos primários, Izaias pretende dar preferência aos profissionais concursados para repor a equipe médica. “Vamos fazer atendimento primário em UBS [Unidade Básica de Saúde] e PSF [Programa Saúde da Família] e dar preferência aos concursados. E na emergência, iremos trabalhar com o processo de contratação de OS. Com isso, conseguimos substituir. Se o vínculo é com a administração, fica difícil repor. Com a OS, ela é responsável por repor o quadro de funcionários”. Segundo o prefeito, o atual quadro chega a 170 médicos. “Perdemos 50 nos

últimos oito anos, houve reposição com a Saúde da Família. Vamos fazer atuação com os profissionais do município e plantão noturno com profissionais contratados”. Sobre a Santa Casa, Izaias conta que a gestão passada prorrogou por mais um ano a intervenção no hospital. O destino da unidade ainda será definido. “O problema é jurídico fiscal. Ela [Santa Casa] não tem condições de contratar, pois não tem a certidão negativa. A intervenção foi prorrogada por este ano. É preciso resolver o problema financeiro primeiramente. Há um contrato para a construção de um hospital e que será analisado. Ou será um hospital assumido pela prefeitura ou um hospital contratado pelo Poder Público”, explicou. Outro ponto que considera deficitário é a questão da Mobilidade Urbana. Ele destacou a aplicação de multas na Santana: Saúde e mobilidade urbana

cidade como uma problemática que precisa ser resolvida. Vamos eliminar as pegadinhas e as velocidades diversificadas. Onde há a convivência com o pedestre, o limite máximo será em 40 Km/h. Nas vias de acesso em 60 Km/h. O problema é a multa por sinalização inadequada para o usuário”. Na pasta, o projeto prioritário do governo de Santana é a construção de interligações. “Pretendemos fazer duas aberturas laterais, interligando o Jardim Santa Maria ao Flórida. Depois, uma interligação do Cidade Jardim ao Campo Grande com uma outra ponte. Com isso, conseguimos aliviar o tráfego no Centro. Além disso, pretendemos construir uma passarela para a passagem de ciclista e pedestre na ponte do São João. Com isso, dá para aliviar a região do São João e melhorar o congestionamento nos horários de pico”, destacou.

Taubaté O governo tem como desafio zerar o déficit no berçário e aplicar medidas para melhorar o trânsito em Taubaté. À Metrópole Magazine, o prefeito Ortiz Junior avaliou que a crise econômica afetará os próximos anos do seu mandato. “A crise econômica e a queda na arrecadação, sem dúvida, são pontos a serem superados em 2017. A chegada de novas empresas na cidade — nós temos exemplos concretos e recentes como a Leroy Merlin e a Telha Norte — são cruciais para a criação de novos postos de trabalho. Ortiz ressaltou que a administração terá condições de enfrentar as possíveis barreiras. “O ponto importante foi que conquistamos um equilíbrio nas contas públicas que nos permite projetar um futuro. Teremos condições de enfrentar os problemas com uma prefeitura economicamente viável, financeiramente equilibrada”. Na Educação, a proposta de Ortiz é abrir vagas para o berçário e estimular as atividades esportivas na cidade. Segundo ele, o ensino integral será ampliado. “Na educação, vamos zerar o déficit de vagas no berçário — ainda temos 1.500 vagas para criar. O combate à violência por meio


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Taubaté Fernando Dias, 47 anos

“ Na minha opinião, dois graves problemas assombram Taubaté. A conexão entre as partes baixas e altas, que são cortadas pela rodovia, e os pontos de comércio de drogas ilícitas em diversos pontos da cidade. Esperamos que medidas efetivas sejam tomadas. ” Alex Cunha, 33 anos Há a necessidade de um plano diretor mais bem fundamentado “e pensado na questão comercial, industrial e que favoreça de fato

a população. Enquanto atuante nos transportes, eu vejo que há a necessidade de uma malha viária mais adequada, a criação de novas entradas e saídas para a cidade e ampliação de viadutos. ” de investimentos na educação, cultura e esporte, que já avançou muito no primeiro mandato, é outro ponto em que não vamos medir esforços para continuar avançando. Para se ter uma ideia, a cidade tem hoje cerca de 16 mil pessoas praticando atividades esportivas de forma coordenada pela Prefeitura. Quando assumimos eram apenas mil. Vamos ampliar o ensino integral para atingir 20 mil crianças. Tentar criar condições para que a gente diminua sucessivamente a violência. Agora é por meio da educação e do esporte que a gente vai dar esse salto”. Para a Mobilidade Urbana, o tucano tentará viabilizar o empréstimo do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) para a realização de obras no município. “Na mobilidade urbana, onde reestruturamos o trânsito da cidade, vamos nos concentrar no empréstimo do CAF que vai revolucionar o município. São oito licitações de obras viárias que já estão com contrato assinado, e que a Prefeitura aguarda somente a liberação do crédito por parte do Tesouro Nacional para o início dos serviços. Entre as principais obras, o pacote inclui a duplicação da Estrada do Barreiro e o prolongamento da Estrada do Pinhão. São duplicações, ampliações de avenidas, avenidas novas, uma recomposição do pavimento asfáltico em 700 ruas e avenidas”, afirmou.

Ortiz: Educação e mobilidade

Avaliação Para Marcelo Weiss, diretor da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos no Brasil, os parlamentares terão que aplicar medidas emergenciais para gerenciar os principais problemas. Ele aponta algumas medidas que podem ser implantadas pelos políticos. “Na Saúde, há soluções na média complexidade que estão ao alcance dos prefeitos. Em alguns casos, é preciso gerenciar e é um primeiro passo que toda gestão precisa se preocupar. Essa pasta precisa ser preenchida tecnicamente. Uma das queixas dos médicos é que o Poder Público fica apenas no gabinete e esquece de conversar com o profissional que está à frente. Se o secretário de Saúde se propuser a conversar, ele poderá perceber que consegue solucionar alguns pontos”. No quesito de marcação de consultas, um ponto criticado pelos moradores de diversas cidades, o consultor cita uma possível solução que acompanhou em alguns

municípios. “Há um estudo em que o próprio clínico-geral pode encurtar o processo do encaminhamento para o paciente. Ele mesmo pede o exame e é retornado para análise”, acrescentou. Uma alternativa para a Mobilidade Urbana é a integração. Weiss ressaltou que os bilhetes integrados podem ser implantados nas cidades sem que o valor seja repassado para o usuário. “O custo no transporte sobe pouco. A integração é um benefício para o morador e as prefeituras podem fazer estudos para unificar os transportes e as pessoas não sejam penalizadas”. Para a área de Segurança Pública e gerenciamento do orçamento, o consultor destacou a importância do cumprimento de certos parâmetros por parte dos gestores. “A implantação da Guarda Municipal pode ser criada pelas administrações e resolvida de forma política entre os governos. A segurança não é só a gestão e sim a gestão política. Precisa cumprir certos parâmetros. Já com o orçamento reduzido, os prefeitos terão anos difíceis. Serão anos de pouco dinheiro e muitos problemas. É necessário também manter uma comunicação muito aberta com a população e não adianta ficar no gabinete. O prefeito tocador de obra é algo do passado, o que a população quer é uma boa prestação de serviço”, conclui. 


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NOTÍCIAS ECONOMIA

Fotos: Pedro Ivo Prates

Redes de farmácias entram em disputa territorial Mercado movimentou R$ 32,5 bilhões entre janeiro e outubro do ano passado e deve crescer 9% em 2017


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O inimigo mora ao lado: drogarias disputam as esquinas da cidade

Rodrigo Machado RMVALE E LITORAL NORTE

A

pesar da crise econômica que o país enfrenta ter causado prejuízos como perda de investimentos, paralisação de produção em diversos setores e provocado o aumento da taxa de desemprego para 11,3%, existe um mercado que não foi afetado pela onda de pessimismo: o das redes de farmácias e drogarias. E são os números que mostram essa realidade. As redes de farmácias e drogarias venderam R$ 32,5 bilhões de janeiro a outubro de 2016, aumento de 11,57% se comparado com o mesmo período do ano anterior (R$ 29,1 bilhões), segundo a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias). Somente em outubro do ano passado o faturamento total com as vendas foi de R$ 3,3 bilhões. Cada vez mais o consumidor tem uma drogaria perto de casa, do trabalho ou onde estiver. Nos primeiros 10 meses deste ano foram abertas 566 farmácias e drogarias, apontam os dados da associação, que mostram expansão dos grupos que comandam Drogasil, Droga Raia e Drogaria São Paulo. Em 2015, foram abertas 224 novas unidades. Ao lado delas, têm destaque empresas que foram criadas na Região Metropolitana do Vale do Paraíba como a Drogaquinze, que nasceu em Tremembé

em 1962, e a Farma Conde, criada em Ubatuba no início da década de 90. A expansão das redes acontece num ritmo acelerado e mostra uma disputa

“Fiquei impressionada com a quantidade de farmácias no bairro. Eu gosto de ter opções e escolho onde comprar depois de pesquisar preço e atendimento. Com tantos estabelecimentos perto de casa, quem sai ganhando é a gente” Teresa Pinheiro, TERAPEUTA

territorial, marcando presença e ampliando leques de ofertas aos clientes – não é de hoje que as redes não vendem apenas medicamentos. As vendas de outros produtos totalizaram mais de R$ 11 bilhões no ano passado. A disputa territorial lembra a concorrência entre os gigantes Walmart e Carrefour. Onde um se instalava, o outro seguia o mesmo caminho. Em menos de um ano, o bairro Jardim Aquarius, na zona oeste de São José dos Campos, recebeu a instalação de pelo menos quatro farmácias. Na avenida Salmão, por exemplo, moradores podem escolher entre três opções: Farma Conde, Drogasil e Drogaria São Paulo. As duas primeiras, por exemplo, estão a uma distância de oito metros. Quem ganha com isso são os consumidores como a terapeuta ocupacional Teresa Pinheiro, de 34 anos. Ela deixou São Bernardo do Campo, região do ABC, há três meses e mudou-se para a cidade. Ao lado do marido Leandro e o filho Benjamim, Teresa escolheu o Jardim Aquarius para morar. “Fiquei impressionada com a quantidade de farmácias no bairro. Eu gosto de ter opções e escolho onde comprar depois de pesquisar preço e atendimento. Com tantos estabelecimentos perto de casa, quem sai ganhando é a gente”, disse Teresa. “E ter essas facilidades para ajudar na qualidade de vida foi um dos pontos que fez a gente se mudar para a cidade”, completou.


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Na Vila Ema, também em São José, duas farmácias – Farma Conde e a Droga Raia, estão frente à frente para disputar a preferência e o ‘dinheiro’ do cliente. “Isso mostra que a crise não existe para esse mercado. Remédios e produtos de higiene são essenciais. Com duas farmácias tão pertinho uma da outra, a gente que sai ganhando. É bom que o preço fica melhor, o atendimento fica melhor e o bolso agradece. Antigamente era uma ali e só”, disse a manicure Luciana Souza, de 40 anos, que trabalha no bairro há 12 anos.

Diversificação

Na Vila Ema, a Droga Raia e a Farma Conde disputam a preferência dos moradores

As vendas de outros produtos como os de higiene e beleza, suplementos alimentares e bebidas, etc, foram responsáveis pelo faturamento de R$ 10,5 bilhões em 2015 (de janeiro a outubro). “As grandes redes continuaram a adotar a mesma estratégia que vinham desenvolvendo antes da crise: inaugurando lojas, ampliando as existentes, diversificando a oferta de produtos nos pontos de venda e incorporando o conceito de drugstores, que já está consagrado em países desenvolvidos como os Estados Unidos e em outros mercados mais modernos na Europa e na Ásia”, disse o presidente executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto. Na contramão da instabilidade econômica costumeira do país, as grandes redes do varejo farmacêutico colecionam, há pelo menos duas décadas, índices de expansão acima de dois dígitos, segundo a entidade. Em entrevista à Metrópole Magazine, ele explicou que um cenário econômico e político estável poderia incentivar ainda mais a continuidade da ampliação do número de lojas em todo o país, gerando riqueza e movimentando a economia. “Ao longo destes 25 anos, as 27 redes associadas à Abrafarma aumentaram mais de 14 vezes o faturamento e ganharam expressividade, representando,


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hoje, quase a metade do mercado de vendas de medicamentos”, contou. Além de aproveitar fatores como envelhecimento da população e maior renda per capita, ajustando o mix de produtos para atender a essa demanda, o processo de gestão das grandes redes é um componente importante no crescimento acima de dois dígitos. “Há um investimento constante em sistemas e abertura de novos centros de distribuição próprios para evitar rupturas (falta de estoque). Em 2016, movimentaram quase R$ 40 bilhões e ampliaram suas lojas, chegando próximo de sete mil unidades espalhadas por 660 municípios brasileiros”, disse. “Chegamos a este êxito perseguindo incansavelmente o aperfeiçoamento da experiência de compra e do modelo de gestão, baseado nas tendências do varejo internacional”, completou. Neste setor, se a farmácia não tiver todos os itens de uma prescrição médica, o cliente simplesmente vai comprar em outro lugar. Assim, melhorar o nível de serviço com oferta de produtos correta ao longo do tempo é o desafio constante das grandes redes. “Somente uma de nossas empresas associadas tem nada menos que oito centros de distribuição instalados em todo o país, para facilitar sua logística de abastecimento. Assim, essas empresas não dependem tanto dos estoques dos fabricantes ou mesmo dos grandes

atacadistas”, explicou. O novo ano (2017) seguirá com seu modelo de expansão física, com abertura de novas lojas, com índice de crescimento de 8% a 9% sobre 2016, o que provavelmente nos levará a um crescimento próximo de 12%”, concluiu.

Expansão

“Somente uma de nossas empresas associadas tem nada menos que oito centros de distribuição instalados em todo o país, para facilitar sua logística de abastecimento. Assim, essas empresas não dependem tanto dos estoques dos fabricantes ou mesmo dos grandes atacadistas” Sérgio Mena Barreto, EXECUTIVO DA ABRAFARMA

De Ubatuba para outras cidades da RMVale e interior de São Paulo. No início dos anos 90, o empresário Manoel Conde Neto, de 47 anos, resolveu abrir a primeira unidade da rede Farma Conde, em Ubatuba, junto com a mulher, a médica Ana Claudia Conde. Na época, Conde trabalhava como delegado de polícia. “Ela comentava que era difícil o acesso a medicamentos na cidade e muitas vezes era necessário buscar remédios em Taubaté. A intenção foi facilitar o acesso da população às questões ligadas à saúde. Hoje, estamos presentes em mais de 80 municípios, lembrando que São José recebeu a segunda unidade Farma Conde”, disse. Em 2016 foram inauguradas 50 farmácias da rede no Estado de São Paulo. “Existem planos para a expansão para cidades mineiras e no Rio de Janeiro, além do projeto de criar franquias a partir deste ano. Hoje, nós temos 180 unidades e estamos preparando para inaugurar outras 262, que estão em processo de abertura como aluguel de pontos”, disse.


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Multo além dos remédios, redes diversificam produtos

Genéricos em alta

“Isso mostra que a crise não existe para esse mercado. Remédios e produtos de higiene são essenciais. Com duas farmácias tão pertinho uma da outra, a gente que sai ganhando. Antigamente era uma ali e só” Luciana Souza, MANICURE

Sobre a disputa territorial, ele explicou que é uma tendência do mercado. “As nossas lojas sempre estão próximas às Drogaria São Paulo, Drogasil e Drogaquinze. Eu acho que vai gerando um polo de drogarias, abre uma e as concorrentes vão e abrem outras. Às vezes o empresário abre o estabelecimento parede com parede”, disse. “O crescimento do setor mostra que as pessoas estão procurando pagar mais barato pelo medicamento. A concorrência é saudável para o mercado e para o bolso e saúde dos pacientes”, concluiu. A reportagem entrou em contato com as empresas Drogasil, Droga Raia, Drogaria São Paulo e Drogaquinze. A assessoria de imprensa dos grupos Drogasil e Droga Raia informou que não poderia divulgar os dados sobre a expansão das unidades. A Drogaria São Paulo não retornou os contatos e a assessoria da Drogaquinze informou que a gerência geral das lojas não permitiu conceder entrevista. 

Há 17 anos os medicamentos genéricos chegavam ao mercado brasileiro para fazer história. Hoje, eles correspondem à 30% dos remédios comercializados no país e são fundamentais para a população ter acesso ao produto com preços mais acessíveis. Com quase 219 milhões de unidades vendidas, os genéricos cresceram mais de 13% e contribuíram para o desempenho das grandes redes nos três primeiros trimestres de 2016. A venda desses medicamentos totalizou R$ 3,4 bilhões entre as 27 redes associadas. A quantidade de unidades de medicamentos genéricos vendida em outubro do ano passado (novembro e dezembro ainda não foram contabilizados) superou em 5,9% o volume do mesmo mês de 2015, segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos. Uma pesquisa feita pelo Procon de São Paulo mostra que os genéricos são em média 57% mais baratos que os remédios de marca. Uma caixa de anti-inflamatório chega a ser até 80% mais barata. A associação informou que os medicamentos genéricos têm influenciado o resultado do setor em razão do aumento de preços e da menor renda da população diante da retração econômica.



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NOTÍCIAS SAÚDE

Esclerose Múltipla A realidade de milhões de pessoas em todo mundo que, além de enfrentar a doença, lidam com o preconceito Idelter Xavier RMVALE

U

ma doença crônica, autoimune, que ataca o sistema nervoso central e ainda sem cura. A princípio parece algo assustador, mas essa é a realidade de 2,3 milhões de pessoas em todo o planeta, portadoras de Esclerose Múltipla, de acordo com o último levantamento realizado pela MSIF (Federação Internacional de Esclerose Múltipla), em 2013. Apesar de atingir este grande número de pessoas em todo o mundo,

Foto: Unitau

Dr. Ronaldo Abraham, 64 anos, de Taubaté, formado em medicina pela UFRJ, com mestrado e doutorado pela USP

a Esclerose Múltipla ainda é uma doença pouco conhecida pela população, e assusta os pacientes que são diagnosticados. Além disso, a desinformação gera também o preconceito das pessoas, que atribuem a doença a pessoas velhas e esquecidas. Provavelmente você já ouviu alguma frase do tipo: “Tal pessoa não lembra direito das coisas, está ficando uma velha esclerosada”. O esquecimento realmente é um dos sintomas da Esclerose Múltipla, mas não o único. “Os sintomas da doença são bastante variáveis e nem sempre específicos, como dificuldades motoras, dificuldade no esvaziamento da bexiga, perda da visão, dormência no rosto ou extremidades, desequilíbrio, duplicação de imagens e fadiga. Não é raro pensar-se em outra doença na apresentação inicial dos sintomas”, afirma o neurologista Ronaldo Abraham, 64 anos, de Taubaté, formado em medicina pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com mestrado e doutorado pela USP (Universidade de São Paulo). A Esclerose Múltipla é uma doença inflamatória crônica que acomete diferentes locais do sistema nervoso central em diferentes ocasiões de evolução. Em outras palavras, o sistema imunológico do corpo confunde células saudáveis com outras, como vírus e bactérias, atacando assim a medula espinhal e o cérebro. “Um ou mais fatores ambientais e genéticos acabam determinando uma agressão à capa protetora dos axônios centrais, a chamada bainha de mielina. Os diferentes

tipos de sintomas ainda são importantes para o diagnóstico da doença, que deve ser fundamentado por exames complementares, especialmente a ressonância magnética do encéfalo e medula e o exame do líquido cefalorraquiano”, explica Abraham. Os portadores de Esclerose Múltipla têm consciência de que a doença não possui cura, mas que pode ser controlada por meio de medicamentos, evitando assim os surtos, que são sintomas que, dependendo de sua intensidade, podem deixar sequelas. “A Esclerose Múltipla é uma doença que pode ter uma evolução progressiva, mas em mais de 80% dos casos ela evolui com surtos e remissões”, explica Ronaldo. “Define-se surto como qualquer sintoma neurológico com duração maior que 24 horas, que pode ser extremamente variável de um indivíduo para outro ou num mesmo indivíduo, como fraqueza nas pernas ou perda temporária de visão. Chamamos de remissão a resolução, parcial ou total, dos sintomas causados pelo surto. Portanto, a resolução do surto nem sempre é completa, podendo deixar sequelas, que podem ser cumulativas ao longo dos anos da doença”, completa o especialista. Em relação ao tratamento da doença, ele geralmente é dividido em duas partes. “Na fase aguda de aparecimento de surto, utilizamos corticosteroides, que são potentes antiinflamatórios, e existe um consenso na sua utilização. Num segundo momento, depois de debelados os sintomas do


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surto, a preocupação se volta para a prevenção de novos surtos. Diversos medicamentos têm sido utilizados com esta finalidade, especialmente substâncias imunomoduladoras ou imunossupressoras. A escolha depende da gravidade da doença e da tolerabilidade do paciente a estas substâncias”, finaliza Abraham.

Faixa Etária Apesar de a grande maioria das pessoas associar a Esclerose Múltipla a uma doença de idosos, a ciência mostra que os sintomas podem ser evidentes muito antes da terceira idade. Devido à dificuldade de se diagnosticar a enfermidade, por conta dos sintomas que são parecidos com os de outras doenças, em alguns casos o paciente só descobre após adulto. Porém,é possível haver diagnóstico ainda criança. “Em aproximadamente 70% dos casos a doença se inicia entre os 20 e 40 anos de idade, e em torno de 60% dos casos os indivíduos afetados são mulheres. Existe uma base hereditária nesta doença, mas que não é o fator exclusivo na sua origem. São genes que aumentam a possibilidade da doença se expressar, mas não obrigatoriamente esta ocorrerá”, afirma Abraham. Este é o caso da Raquel Costa, publicitária de 26 anos, natural de São Bento do Sapucaí, que foi diagnosticada com Esclerose Múltipla ainda jovem. “Eu descobri a doença recentemente, no início de 2016, com 26 anos. Eu senti um embaçamento no meio nas duas visões, que foi piorando com os dias. Primeiramente procurei o pronto-socorro, mas não constataram nada. Pediram para eu procurar um oftalmo e esperei o feriado do Carnaval passar para marcar a consulta. No total foram uns 10 dias até procurar o médico”, disse. “Fiquei bem assustada e com medo, justamente pelo desconhecimento da doença. Mas depois comecei a consultar sites especializados e ver vídeos de profissionais, então fui me acalmando.

Fui internada com urgência e fiz um tratamento de cinco dias tomando fortes medicamentos para que minha visão voltasse ao normal. Atualmente faço tratamento com um medicamento relativamente novo no Brasil, chamado Tecfidera. É o único da primeira linha em forma de comprimidos e não injeção, como os demais medicamentos. Ele já foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas ainda não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde)”, diz Raquel. “O laboratório que fabrica o medicamento manda algumas amostras para a minha médica e ela me fornece. Cada paciente deve entrar com recurso no Ministério Público para poder começar a receber pelo SUS, mas o processo

“Eu descobri a doença recentemente, no início de 2016, com 26 anos. Eu senti um embaçamento no meio nas duas visões, que foi piorando com os dias. Primeiramente procurei o pronto-socorro, mas não constataram nada” Raquel Costa, PUBLICITÁRIA


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pode ser demorado. Senti melhoras significativas após o tratamento. Antes dele havia tido quatro surtos consecutivos, que é considerado algo bem preocupante. Agora estou completando seis meses de tratamento e sem surtos nesse período”, explica Raquel. Já no caso da empresária Valéria da Silva Carvalho, de 50 anos, moradora de Pindamonhangaba, a doença foi descoberta quando ela tinha 39 anos, já casada e com filhos. “Eu tenho um restaurante há 20 anos e na época que descobri a esclerose eu trabalhava como cozinheira. Comecei a perceber que eu me queimava e não sentia dor, conseguia pegar coisas muito quentes. Fui descobrindo amortecimentos, visão dupla, até que eu tive a perda de visão temporária um dia e meu médico deu o diagnóstico de Esclerose Múltipla. Eu vinha fazendo diversas consultas com médicos para tentar descobrir o que era, mas como é uma doença que pode ser confundida com muitas outras, foram necessários dois surtos para concluir que eu estava com a doença”, informa. “Automaticamente eu já comecei o tratamento. O remédio que eu tomo é via injeção, uma vez por semana, e eu mesma aplico. São 11 anos de tratamento e eu nunca deixei de tomar uma injeção sequer. A medicação é totalmente disponibilizada pelo SUS e se eu fosse comprar com meu dinheiro gastaria, em média, R$ 13 mil por mês. Tive cinco surtos graves desde que fui diagnosticada. Levando em conta que são 11 anos com a doença, é considerado um número bem baixo. O fato de eu conseguir viver bem foi devido ao diagnóstico rápido do médico e também do tratamento ser sempre levado a sério”, diz Valéria. “É importante o paciente saber que ele vai conseguir levar uma vida normal tendo Esclerose Múltipla. Lógico que existe uma tensão, porque você nunca sabe quando vai acontecer um surto e que tipo de surto vai ser, mas a vida segue. Você tem que ir se conhecendo, descobrindo suas limitações,

como qualquer outra pessoa, e aprender a sempre respeitar seus limites. Eu, por exemplo, pratico crossfit normalmente, é algo que me faz bem”, finaliza a empresária.

Somos todos esquecidos Após sentir na pele e conhecer mais sobre a Esclerose Múltipla, Raquel

“Lógico que existe uma tensão, porque você nunca sabe quando vai acontecer um surto e que tipo de surto vai ser, mas a vida segue. Você tem que ir se conhecendo, descobrindo suas limitações, como qualquer outra pessoa, e aprender a sempre respeitar seus limites. Eu, por exemplo, pratico crossfit normalmente, é algo que me faz bem” Valéria da Silva Carvalho EMPRESÁRIA

resolveu tomar uma atitude: criar o projeto “Somos Todos Esquecidos”. A publicitária criou uma página no Facebook onde faz postagens periodicamente de relatos de pessoas que não possuem a doença e mesmo assim esquecem das coisas, além de textos e vídeos contendo informações importantes para portadores da doença. “O projeto tem a intenção de informar e conscientizar sobre a doença neurológica Esclerose Múltipla. A ideia do projeto surgiu, primeiramente, para mostrar que qualquer pessoa pode ter esquecimentos, sendo portador ou não da doença. Mesmo que a doença possa trazer algumas alterações cognitivas, a pessoa consegue se adaptar e fazer as suas atividades normalmente. O objetivo é mostrar que o que pode deixar as pessoas esquecidas é a rotina de estresse, pressão, alimentação ruim, noite mal dormida e coisas do tipo. Isso sim pode interferir na concentração, produtividade e energia”, diz Raquel. “Sempre deixo claro que Esclerose Múltipla não tem nada a ver com o termo ‘esclerosado’, usado antigamente para referir a pessoas com declínio de capacidade cognitivas e pensamento. O termo era usado no sentido de demência, o que não tem nenhuma relação com a doença. Nós, portadores de Esclerose Múltipla, temos uma vida extremamente normal. Muitos trabalham, são casados, têm filhos, viajam, se divertem, têm vida social ativa, ou seja, vivem”, diz a publicitária. “Talvez esse seja o maior preconceito enfrentado pelos portadores de Esclerose Múltipla e precisamos ajudar a desmistificar isso. Porque, se parar para pensar no outro sentido desse termo, ‘Somos Todos Esquecidos’ pode significar o desamparo por parte da sociedade, quando julgam que o portador de alguma doença não é mais útil, sofrendo exclusão social”, finaliza. 



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NOTÍCIAS EDUCAÇÃO

Fotos: Murilo Cunha

Ano Novo, Escola Nova

Educadores dão dicas para ajudar na escolha da escola para as crianças Murilo Cunha TAUBATÉ

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ma das grandes preocupações dos pais é a escolha de uma escola para os filhos. Seja para fazer a primeira matrícula ou para trocar a criança de instituição, a variedade de opções disponíveis pode “dar um nó” na cabeça da família. A primeira dica dos especialistas é não se ater apenas aos valores das escolas - apesar de a questão financeira ser importante, principalmente em tempos de crise. “Quando os pais nos procuram, muitas vezes estão desorientados e só perguntam sobre os valores, se esquecendo da parte pedagógica: o que a escola oferece, quais as disciplinas de núcleo comum, se tem cursos extracurriculares, qual a filosofia da escola… às vezes, por serem leigos, eles acabam pensando que é tudo a mesma coisa”, explica a educadora e colunista do portal Meon, Carla Guandalini Rezende Picone. Quando tiveram de trocar a escola da pequena Maria Fernanda, os pais Fernando e Ana Paula, buscaram, além desses fatores, uma estrutura física que parecesse adequada para o convívio infantil. “A localização é boa para nós, mas a escola em si me atraiu. Achei uma escola colorida e, principalmente, aberta. Aqui, uma sala tem vista para a outra, um professor olha para o outro, não tem aquela coisa de sala fechada, que você não sabe o que acontece ao redor”, explica Ana Paula. “E também, para os pequenos, as salas ficam na parte térrea. Em outra escola que visitamos, eles ficavam lá em cima, tinham que usar as escadas.

Criança vive correndo, então se for tudo térreo já é mais seguro”, completa o pai, Fernando. O colégio escolhido oferece várias atividades, como aulas de artes marciais, idiomas, informática e música. Ana Paula conta que foi um “amor à primeira vista”, mas o processo envolveu uma série de visitas frustradas a outras instituições. “Tivemos muitas impressões negativas em outros lugares. Cheguei a deixá-la em um, e quando fui buscar, uma professora gritava absurdamente com os alunos. Outra escola era muito escura, outra eu achei que controlava em excesso tudo o que a criança faz… em outra era o contrário, as crianças tinham liberdade demais. Aqui, na visita, ela [a filha] já gostou. Mas eu já tinha vindo umas três ou quatro vezes antes de trazê-la”, afirma a mãe. Naturalmente, cabe aos pais dar a palavra final na hora de fazer a matrícula, mas a participação dos filhos é apontada como um fator essencial, já que é ela quem vai passar todo o tempo no local. C o orde n ador a do Colégio Tableau

de Taubaté, a pedagoga Renata de Arruda Fernandes Groh explica que a inclusão no processo ajuda a diminuir a ansiedade da criança em relação ao novo ambiente. “É importante que a criança também participe, após os pais entrarem em consenso, do que foi decidido para ela. Isso faz com que a criança se torne mais tranquila com o começo de ano. No caso de uma mudança para uma nova escola, vale a mesma regra: primeiro tem que ser colocado para a criança o motivo que está levando a essa troca”, explica Renata. Foi o que fez a comerciante Juliana da Silva Motta, de Jacareí, mãe da Júlia Maria, de 6 anos. “Ela estudava em uma escola que eu gosto muito, mas vai fechar. Visitei quatro escolas antes de escolher a nova, e a Júlia veio conhecer depois. Gosto muito do sistema de ensino deles, pois são bem rígidos, e a minha pequena precisa de um pouquinho de disciplina, de alguém que pegue no pé”. Psicopedagoga e colunista do Meon, Carla Guandalini Rezende Picone, dá algumas dicas para ajudar os pais de primeira viagem na escolha. Confira: “Quando os pais nos procuram, muitas vezes estão desorientados e só perguntam sobre os valores, se esquecendo da parte pedagógica: o que a escola


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CHEGOU UMA NOVIDADE A PINDA COM QUASE 60 ANOS DE EXPERIÊNCIA Fotos: Fernando Noronha

oferece, quais as disciplinas de núcleo comum, se tem cursos extracurriculares, qual a filosofia da escola… Às vezes, por serem leigos, eles acabam pensando que é tudo a mesma coisa. Ele tem que entrar, conhecer os departamentos da escola, sala de aula, biblioteca, se tem cozinha experimental, se a sala é grande, como é o pátio, quantas pessoas vão cuidar da criança na hora do recreio, se a saída é controlada, se tem segurança… tudo para o bem estar e a qualidade da prestação do serviço que vai ser dado ao seu filho.”

A Faculdade Bíblica das Assembleias de Deus está de portas abertas para receber você! A instituição de ensino está amparada nos quase 60 anos de excelência e tradição do seu mantenedor IBAD e nasce com o compromisso de contribuir para o desenvolvimento educacional, cristão, científico e social dos seus alunos e professores e da comunidade.

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“Na escolha da escola, é importante que se opte por um colégio que tenha a ver com o seu filho e o estilo da família. Procure uma instituição que também ensine valores e estimule o desenvolvimento cognitivo, físico e social além das diferentes habilidades e talentos”

/FaculdadeFABAD

www.fabad.edu.br

Renata Fernandes de Arruda Groh, PEDAGOGA

Rua São João Bosco, 1.114 | Santana | Pindamonhangaba – SP | 12403-010


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• O mais importante para a criança é a sensação de encantamento com o local, que vai funcionar como um segundo lar. Por menor que a criança seja, se houver essa sensação, ela vai gostar, vai querer ficar no parquinho, com a pessoa que está acompanhando a visita… Tem que haver empatia entre ela e o ambiente. • Do maternal ao quinto ano, eles fazem uma avaliação diagnóstica, tipo uma provinha, com questões básicas de português e matemática pra saber como a criança está vindo, qual o embasamento dela de conhecimento até então. Para os menores, seria só uma atividade mais básica, bem lúdica, como pintura. • Os maiores acham que estão pagando mico ao ir junto com o pai e a mãe. Eles também têm a parte do encantamento, mas é diferenciado, porque eles são grandes. O que o adolescente leva em conta é se ele foi bem recebido, se a pessoa que conversou com ele foi gentil e o ambiente da escola. • No caso de uma troca de escola, tem que ser feito um trabalho adiantado de conversa, com calma, principalmente para as crianças, pois os maiores conseguem entender melhor a situação. Para os pequenos é ir convencendo: “Olha, nós vamos pra um lugar mais bacana, pra um lugar legal, vai ter gente nova, atividades novas”. Lógico que vai ser difícil, mas tem que ir trabalhando. Se deixar para a última hora e dizer “a partir de agora, é aqui que você vai ficar”, o negócio pega fogo. Ele pode vir a aceitar bem ou não, o que é o mais provável. Vai chorar, não vai querer entrar, não vai querer participar das atividades. • A análise da proposta pedagógica é como uma leitura de bula: o leigo lê e não vai entender nada. O funcionário que vai atendê-lo tem que ser uma pessoa capacitada para tirar as dúvidas que ele possa ter.

• O que ele vai ver em primeiro lugar? As matérias do núcleo comum, que são aquelas obrigatórias. Português, matemática, ciências, história, geografia.. Depois vai ver se tem educação física, espanhol, inglês, se tem cursos extras e se eles tem pagamento diferenciado ou não. • Você pode ficar atento à classificação dos alunos da escola no Enem. Procurar conversar com a coordenação pedagógica para tentar falar com a professora do ano em que o seu filho vai ser inserido, verificar os trabalhos já feitos pelos alunos, ver e, quais atividades a família pode participar, se o sistema é de avaliação bimestral ou semestral… Tudo isso pode ser levantado na visita. • Se a criança já faz algum tipo de atividade, é bom ficar atento ao número de atividades oferecidas pela escola. “Ah, ele faz judô, natação, informática, aula disso, aula daquilo, escolinha de futebol…”. Se a criança já faz um monte de coisas fora, e o colégio coloca mais um monte, ela não aguenta, é preciso dosar. • Ainda tem muitos mais pais que acham que a educação é função apenas da instituição de ensino. Não é. Educação vem de casa, o principal tem que vir do berço. 

A pedagoga Renata Groh e os pais Ana Paula Rios e Fernando Marques dos Santos. Entrosamento entre familia e escola é fundamental para sucesso no ensino.

Foto: Arquivo pessoal

Pedro Henrique, 6, e Maria Fernanda, 12, estudam em um colégio em Taubaté. Escolha foi feita após visitas frustradas a outras instituições.



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NOTÍCIAS ESPECIAL

Foto: Pedro Ivo Prates

Violência Obstétrica Como, quando, onde e porque acontece

Laryssa Prado SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

s mulheres têm conquistado direitos que há muito lhes são negados, entre eles o da maternidade, que deixou de ser uma obrigação e passou a ser uma escolha. A decisão de ser mãe torna a gestação um momento de realização, onde cada nova fase do desenvolvimento do bebê é motivo de alegria e ansiedade por sua vinda. Mas e quando, ao contrário do esperado, a gravidez, e também o parto, acabam sendo um momento de violência? Segundo a pesquisa “Mulheres brasileiras e gêneros nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro brasileiras já sofreu violência obstétrica. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo a define como a “apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres

pelos profissionais de saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicação e patologização dos processos naturais, causando a perda da capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida destas mulheres”. Na prática, esse tipo de violência se manifesta em cortes desnecessários no canal vaginal, privação da escolha do tipo de parto, aceleração das contrações sem consentimento da gestante, insultos, entre outros fatores. Em outros termos, é o que aconteceu com Priscila, Stela, Érika, Denise, Gabriela e Kathleen, todas moradoras de cidades da RMVale.

Os casos Priscila Ferreira, 23 anos, mudou-se para São José dos Campos em 2016, já grávida de Noah. Em uma nova cidade, ela e o marido procuraram ajuda em grupos de doulas e de gestantes. O casal optou pelo

parto normal em um hospital público. “Quando eu passei pelo primeiro exame de toque a obstetra já me machucou bastante. Assim que eu entrei na sala do pré-parto, uma enfermeira me aplicou a ocitocina (hormônio produzido pelo próprio corpo e que promove contrações uterinas), não perguntou nem meu nome nem se eu queria. Como a dor se intensificou muito, eles resolveram estourar a minha bolsa, mesmo eu pedindo que o procedimento não fosse feito”, conta Priscila. Depois que o bebê nasceu, a enfermeira responsável tentou remover a placenta, que acabou se rompendo durante o procedimento. “Meu marido foi retirado da sala do parto e ela disse que ia costurar o que rasgou, o pique que tinha sido feito sem minha autorização”, conta. Depois de três tentativas mal sucedidas de costura, a enfermeira chamou um obstetra. “Levei mais de 20 pontos. E a placenta só foi removida após a costura. Me deram muitos


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antibióticos, eu demorei pra conseguir pegar meu neném”, diz. Assim como Priscila, o parto de Stela Veloso, 28 anos, começou muito antes de sua filha Laura nascer. “Fiz uma pesquisa detalhada sobre os tipos de parto. E quanto mais eu lia e conversava com outras mulheres, mais eu queria fazer um parto normal”, conta. Encaminhada para um hospital público de Taubaté, Stela também passou por procedimentos como a aplicação de ocitocina, rompimento artificial da bolsa e falta de acompanhante no pré-parto, todos sem o seu consentimento. Após três horas de internação e 9 cm de dilatação, o médico disse que o bebê não estava em uma boa posição, e que era necessário fazer uma cesárea. “Eu disse que não, que esperaria ela encaixar. Ele ficou estarrecido com meu atrevimento, mas aceitou fazer o parto normal. Após a episiotomia (incisão efetuada na região do períneo - área muscular entre a vagina e o ânus - para ampliar o canal de parto) e mais alguns empurrões, o doutor resolveu fazer a manobra de Kristeller”, diz. A manobra de Kristeller consiste na aplicação de pressão na parte superior do útero com objetivo de facilitar a saída do bebê e é condenada pelo Ministério da Saúde e entidades da área de ginecologia e obstetrícia, devido à sua ineficácia e riscos. Apesar disso, uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, realizada em 2014, revela que 37% das gestantes pertencentes ao grupo de risco obstétrico habitual foram submetidas à manobra no Brasil. Depois do parto, Stela só conseguiu ver a filha após três horas. “Segundo os profissionais, faltava maqueiro para me encaminhar até a maternidade”, conta. Em Pindamonhangaba, Gabriela Guimarães, 27 anos, teve o primeiro filho aos 19, e optou pelo serviço perticular por meio do convênio. O parto foi normal, mas não como ela queria. Assim como Stela, ela passou pela manobra de Kristeller.

“Era anestesista subindo em cima da minha barriga para puxar o bebê para baixo, era a médica brigando dizendo que eu não estava fazendo força o suficiente. Foi traumatizante!”, conta. “Eu nunca tinha visto alguém precisar subir em cima de uma grávida para que ela tivesse um filho, mas ao mesmo tempo eu não sabia como denunciar, como agir, o que eu teria que fazer. Então eu só reclamei com a médica, reclamei no plano de saúde quanto ao atendimento dela, mas não deu em nada”, conta. A episiotomia também foi

ou não?’. Aí você não tem mais reação nenhuma”. Denise também passou por uma episiotomia. “Perguntei para a enfermeira se ela tinha feito o corte e ela respondeu que era lógico que sim. E eu não precisava! Já estava com 11 cm de dilatação! Mas ela disse que era procedimento”. Além da ocitocina, da anestesia e da violência psicológica, Denise também sofreu com a falta de estrutura do hospital. “Nos dias seguintes eu fiquei em um quarto com quinze mulheres que haviam feito parto, com um banheiro para todas nós. A porta não fechava e faziam a limpeza uma vez ao dia. Eu não podia abaixar por causa dos pontos, não conseguia sentar porque tinha medo de pegar alguma doença. Em horário de visita não tinha como tomar banho porque a porta ficava aberta, e eu tinha medo de tomar sozinha porque não queria deixar meu filho”, conta.

Violência Obstétrica é crime?

“o judiciário vem tratando essas questões com muita seriedade” Paulo André Pedrosa ADVOGADO

realizada. “A enfermeira fez o pique e só me avisou depois”, diz Gabriela. Em Taubaté, Denise Maciel, 34 anos, enfrentou problemas similares ao de Stela e Gabriela. “Além do obstetra, outras cinco pessoas, que nem sei quem eram, fizeram o toque em mim”, conta. A doula que havia sido contratada não conseguiu entrar na sala de parto. “Eu disse que não queria nenhum procedimento, nem ocitocina, nem anestesia. E mesmo assim eles aplicaram. A enfermeira olhou pra mim como quem diz ‘quem é você para dizer o que você quer

No Estado de São Paulo, a Lei nº 15.759, de 25 de março de 2015, que se apresenta como uma diretriz, traz uma série de procedimentos que devem ser evitados pela equipe de parto, mas não aborda a punição. “Ela só diz que você não pode interferir na vontade da mãe, mas não mede consequências”, relata o advogado Paulo André Pedrosa. Do ponto de vista jurídico é difícil conceituar esses casos, já que a legislação não prevê nada específico sobre a questão. O que é possível, de acordo com o advogado, é que se use de outros conceitos legais para punir tais condutas. “Por exemplo, se é praticado um procedimento médico, como é o caso da episiotomia, contra a vontade da mãe ou de forma desnecessária, é possível caracterizar uma lesão corporal. Se a mãe é ofendida, trataremos isso como danos morais, ou injúria”, conta Pedrosa. Ele também faz um alerta. “É importante que a mulher conheça esses direitos para poder identificar quando eles forem violados. E em geral o que se recomenda é


Foto: Murilo Cunha

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Priscila Ferreira sofreu violência em um hospital público em São José dos Campos

que ela faça um boletim de ocorrência e ato contínuo, procure a defensoria pública, ou advogado particular”, diz. O advogado explica que a denúncia tem duplo caráter: vai tanto indenizar a mãe pela violação, quanto punir o hospital ou o médico para que aquela conduta não ocorra novamente. “Tivemos diversos casos em que a episiotomia teve consequências tanto criminais quanto cíveis, por exemplo. É muito comum que isso aconteça, e o judiciário vem tratando essas questões com muita seriedade”, conta.

Parto humanizado Kethleen teve o primeiro parto natural com o acompanhamento de doula em um hospital de Pindamonhangaba. Seu relato de violência começou já no pré-natal. “O obstetra não era humanizado e parece não ter gostado quando eu disse que teria uma doula. Ele mal me deixava ouvir o coração do bebê. Fiz poucos exames, mas ele disse que tava tudo certo, que não era necessário”, conta. No momento do parto, ela foi questionada sobre a falta de documentos. Depois de 12 horas em trabalho de parto, Kethleen já estava muito cansada. Foi aí que a doula Milena Fondello sugeriu que ela pedisse a anestesia para tentar aguentar as dores e não precisar fazer uma cesárea. “E eu queria muito. Ela foi atrás

para saber e eles recusaram, disseram que quem era do SUS não tinha direito, a não ser que fosse pago desde o começo. Independente de ser público ou particular, eu poderia até ter pagado à parte, era um direito meu. Mas me negaram”, conta. As fortes contrações levaram Kethleen a uma histerectomia (remoção de parte ou da totalidade do útero). “Meu útero acabou se cansando. Se tivesse sido normal, se eu tivesse recebido a anestesia, isso tudo não teria acontecido”, diz. Adepta do parto humanizado, e também acompanhada por uma doula, Érika Araújo, 31 anos, saiu de Cachoeira Paulista e procurou um hospital em Jacareí. A primeira obstetra que a atendeu sugeriu que a bolsa fosse estourada e que fosse aplicada a ocitocina. Já cansada do trabalho de parto, Érika aceitou os procedimentos. “Mas eu sabia que uma intervenção sempre chama a outra, e sabia que estava correndo o risco de não chegar até o fim”, conta. Logo em seguida, outra médica entrou no quarto. “Sem cerimônia nenhuma, ela abriu a porta falando alto, acendeu as luzes e acabou com toda a minha preparação com meu marido e a doula, que até então tinha sido ótima”, diz. “Ela disse: ‘E esse soro aqui? Não tem nada nele, é só soro? Não colocaram ocitocina?’. E aí aumentou a dose sem me perguntar nada. E

aí as dores ficaram insuportáveis”, diz. Depois disso, a médica fez outro procedimento. “Ela falou que ia fazer força pra cima e que quando eu sentisse a contração eu deveria empurrar. A sensação que eu tive é que ela tinha colocado a mão dela inteira dentro de mim. Não foi por muito tempo, mas foi muito doloroso, e eu gritava muito. E aí eu saí de mim. A dor me descontrolou, a atitude da médica me descontrolou”. Érika acabou pedindo uma cesárea. Assim como Kethleen, ela tentou receber a anestesia para tentar aguentar a dor um pouco mais e ter o parto normal, mas o procedimento foi negado pela médica. Depois do parto, Érika ficou separada da filha por uma hora. Nem ela, nem o marido sabem até hoje onde a criança estava. “Depois de voltar da anestesia é que eu comecei a pensar, relembrar todo o processo que eu passei. Aí veio a decepção, eu me sentia fraca, eu não tinha conseguido ter um parto como eu queria”, diz. Ela ainda completa “Doeu muito, e eu fiquei muito tempo com essa dor. Chorei uma semana inteira, o tempo todo. Eu tinha certeza que eu podia ter chegado lá. E eu ainda carrego um pouco de culpa”, relata. Sobre a denúncia, Érika afirma que faltam provas. “Eu tenho certeza que a médica induziu a cesárea, que a iniciativa de sugerir não poderia partir dela pelo hospital carregar a bandeira da humanização, então ela me levou ao meu limite para que eu pedisse isso”. Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, divulgada em 2014, mais de 70% das gestantes da rede pública queriam parto normal quando engravidaram, mas 52% passaram pela cirurgia. Na rede particular, um terço queria parto normal, mas 89,9% acabaram em cesáreas. “Ficou fácil fazer a cesárea. Ela evoluiu muito por dois motivos: primeiro, o médico brasileiro é muito mal remunerado. Se eu for para um hospital, ficar esperando a mulher entrar em trabalho de parto, eu ganho muito pouco, é inacreditável. Como a mulher pode escolher, muitos médicos passaram a induzir as pacientes, eles falam que se ela quiser


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cesárea ele faz o parto, se não, não”, relata o diretor regional da SOGESP (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) Regional Vale do Paraíba, Dr. Lauro Mascarenhas Pinto (CRM 43257). Para tentar fugir do que alguns chamam de ‘indústria da cesárea’, muitas mulheres têm procurado profissionais humanizados. A obstetra Rosana Fontes é adepta e ativista da causa na RMVale. “Há dois anos e meio eu estava bem desgostosa com o modo de atendimento que tinha aprendido na faculdade, quase desistindo da medicina. Então, visualizar esse novo modo de trabalho e ver os partos dessa forma me ajudaram a estruturar uma nova rotina”, diz. Hoje a obstetra só atende partos hospitalares em Jacareí. Rosana já procurou a administração de vários hospitais levando documentos e propostas de mudanças no atendimento, além de promover rodas de gestantes em São José dos Campos, Jacareí e Taubaté. De acordo com a médica, atualmente muitas intervenções são realizadas sem necessidade em partos que não têm risco. “O foco continua sendo unicamente no obstetra, que se torna mais protagonista que a gestante em si”, diz. No parto humanizado a gestante tem mais liberdade, pode se movimentar, e até comer. “Usamos bola, banheira, massagens e não medicamentos como primeiras opções para o alívio da dor”, conta. Sobre procedimentos como a cesárea, Rosana esclarece que só são indicados quando há situações de urgência como descolamento de placenta, prolapso de cordão Foto: Arquivo pessoal

Stela Veloso passou pela manobra de Kristeller condenada pelo Ministério da Saúde

e sofrimento fetal. Sobre a episiotomia, a médica diz ter realizado mais de 300 partos sem o uso do procedimento, e sem nenhuma laceração (tipo de ferida provocada por um corte ou rasgo). “A verdade é que o períneo é elástico e, sendo o período de expulsão do bebê lento e gradual, ele consegue se adaptar geralmente sem nenhuma laceração mais grave”, diz. De acordo com Rosana, a prática da episiotomia é algo com que os obstetras se acostumaram. “Todos os profissionais deveriam ser treinados para esperar com tranquilidade o período de saída do bebê sem que precisassem fazer cortes, mas muitas vezes é difícil para eles porque foram ensinados a acompanhar os partos com a episiotomia desde a faculdade”, diz.

O obstetra Dr. Lauro Mascarenhas Pinto ressalta que o parto normal está suscetível à violência bem como a cesárea. “Tem muita gente que não sabe se metendo a fazer. Nós estamos recebendo doula com neném na mão, mas a mulher toda rasgada, com a placenta sem tirar. O parto humanizado tem que ter acompanhamento do médico, pediatra, de uma equipe de enfermagem e da doula”, diz. Sobre as denúncias, o obstetra alega que os maus profissionais estão em todos os lugares. “Hoje todos os hospitais têm a possibilidade do paciente avaliar como foi o atendimento. O hospital é uma firma, precisa treinar ou adequar seu pessoal, e dispensar aqueles que são desajustados. Mas as pessoas precisam reclamar. Eu tenho muitas pacientes que chegam aqui, fazem alguma queixa, e eu pergunto quem foi e elas não sabem, não lembram o nome”, conta. O médico também ressalta que é preciso entender a necessidade de cada procedimento para saber o que é ou não necessário. “A ocitocina, por exemplo, é um hormônio que o próprio corpo produz, que estimula as contrações. Se você tem uma paciente que tem contrações fracas descoordenadas, ela vai ficar em trabalho de parto de 24 a 40 horas e vai sofrer demais. Mas se for desnecessário, é um

pecado!”, aponta. Sobre a episiotomia, ele diz que a realização depende do tamanho e do peso do bebê. Outro ponto importante segundo o obstetra, e que a mulher deve ter ciência, é que o plano de parto realizado com o obstetra no pré-natal só pode ser realizado se esse mesmo médico fizer o parto. “Uma coisa é você me chamar para eu fazer seu parto, estou lá para te dar atenção. Agora, em um plantão em que passam 20 pessoas por hora não dá tempo de ficar fazendo minúcias, você faz o geral, que é o básico e o protocolo daquele hospital”, conta.

A doula No dia 28 de novembro de 2016, a Câmara de Taubaté aprovou um projeto de lei que obriga todas as maternidades do município a autorizar a presença de doulas. A iniciativa é pioneira na RMVale. O texto prevê que elas sejam autorizadas a entrar nas maternidades utilizando os instrumentos de trabalho. Em caso de descumprimento, as unidades de saúde poderão receber uma multa de R$ 400 a R$ 2.000. Caso se trate de um órgão público, o dirigente estará sujeito a afastamento. Atualmente as doulas só podem assistir o parto se forem acompanhantes. A doula não tem nenhuma função técnica e não pode interferir nos procedimentos realizados pela equipe médica. Ela dá suporte físico e emocional, antes, durante e depois do parto. “Nós somos mais uma figura dentro da sala de parto e por isso podemos ajudar a lutar contra a violência obstétrica, até mesmo dando informações, porque muitas mulheres não têm noção das tantas formas que a violência obstétrica se manifesta, às vezes são violências veladas. Nós trabalhamos a cabeça da mulher para saber que quem vai fazer o parto dela é ela, não tem que empurrar, cortar, obrigar a deitar, a protagonista do momento é ela e quando ela entende isso ela não aceita mais esse tipo de violência”, conta Milena Fondello, doula em Pindamonhangaba. 


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NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Ciao, Brasil!

Foto: Renato Manente

A cada ano aumenta o número de brasileiros que buscam obter a cidadania italiana

Henrique Macedo SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Q

ue tal viajar para 144 países sem burocracia, sem precisar solicitar visto de entrada, evitando aquelas filas enormes? Ou até mesmo morar, estudar e ter benefícios nos 27 países da União Europeia? Isso tudo é possível para milhões de brasileiros que são descendentes de italianos, portugueses e espanhóis e que têm direito à dupla cidadania. Muitos também vão atrás de suas raízes para encontrar parentes distantes. Destino de imigrantes europeus que chegaram ao país no século XIX, o Brasil acolheu levas de italianos, alemães, portugueses e espanhóis em busca de melhores condições de vida. A maior parte destes imigrantes acabou em plantações de café nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e regiões rurais do sul do país. Desde a década de 90, muitos descendentes começaram a procurar as

embaixadas, principalmente a da Itália em São Paulo, para adquirir a cidadania. Mauro Stangorlini atua nesse segmento há 10 anos. Ao lado da esposa Carla, que trabalha como tradutora juramentada, ele tem uma consultoria especializada em cidadania italiana em São José dos Campos. “A minha esposa Carla foi nomeada tradutora pública no ano de 2000 e a partir daí, com o nome divulgado na internet, as pessoas começaram a procurar. Muitos queriam saber como conseguir a cidadania italiana. Como eu já estava atrás disso desde o final dos anos 80, já tinha um conhecimento razoável do assunto, então passei a responder as perguntas dessas pessoas, tirar dúvidas à noite e aos fins de semana. E o que era hobby passou a ser profissão. Eu mesmo estou na fila de espera, desde 2007, para ter a minha cidadania italiana reconhecida. Levei muitos anos para descobrir qual era o meu sobrenome correto, que não é esse com o qual fui registrado. Eu

não conseguia achar onde meu avô nasceu na Itália, demorou uns 13 anos para descobrir. Isso me deu um conhecimento muito interessante de pesquisa de registros civis italianos”, disse. Entre as vantagens de obter a cidadania italiana, Mauro cita a possibilidade de trabalhar e estudar de forma legal na Europa. “Ser cidadão italiano é ser cidadão da União Europeia. Tem vários fatores positivos. Por exemplo, o jovem tem um mercado de trabalho mais amplo ou pode estudar a um custo muito menor do que no Brasil. Entrar numa universidade pública italiana é muito mais fácil do que entrar numa daqui do Brasil, pelo menos no sudeste. E o livre trânsito, seja para turismo, trabalhar para estudar, é muito facilitado para quem está na Europa. Para viajar para os Estados Unidos não há necessidade de visto. É só acessar o site de um órgão público americano e preencher um formulário on-line. Paga-se uma taxa de US$ 14 e pronto”, explica.


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Para aqueles que pretendem mudar-se para os Estados Unidos a fim de montar um negócio também há benefícios. Alguns estados, como a Flórida, acenam com a possibilidade de um visto americano para investidores, o que permite que empreendedores cujos países fazem parte da lista de países do Tratado de Comércio com os Estados Unidos se estabeleçam no país para realizar investimentos com capital inicial bem mais baixo do que é exigido dos brasileiros. Mas nem tudo é fácil. Para o médico Paulo Gaia e sua esposa, Ana Paula, dentista, a saga para conseguir a cidadania italiana durou anos. Por ironia, Gaia não tem descendência italiana, mas adquiriu tanto conhecimento durante a epopeia para obter a cidadania da esposa e filho que se tornou um especialista no assunto. “Minha esposa tem direito à cidadania italiana porque ela tinha bisavós italianos. Por causa do nosso filho, eu resolvi correr atrás disso, porque é bastante interessante ter a dupla cidadania em termos de futuro, de estudo, ainda mais com essa crise no Brasil. Eu comecei a pesquisar pela internet, no site do consulado e acompanhando pessoas que já fazem esse trabalho. E eu mesmo fiz tudo:

desde a procura de documentos na Itália, parentes distantes lá e aqui no Brasil. Depois, fomos para a Itália para tirar a cidadania por lá. Foi mais fácil, porque um amigo italiano me ajudou lá na cidade de Carrara. Amigos nos receberam, nos levaram até a prefeitura para darmos entrada no processo. Eu não precisei fazer muitas coisas que os brasileiros necessitam. Porque, normalmente, o brasileiro que vai para a Itália precisa contratar um advogado lá para dar andamento ao processo. O nosso saiu muito rápido porque tivemos a ajuda de pessoas que moram lá. Os brasileiros que estão tentando tirar a cidadania na Itália estão levando até seis meses”, contou. Para Ana Paula, a cidadania foi uma forma de buscar as raízes da família e abrir horizontes para o filho. “Você abre várias portas, tanto para mim como para o meu filho, e a gente não sabe o dia de amanhã. E para o nosso filho também é interessante, caso ele queira fazer uma pós-graduação”. Mas quem pode requerer a cidadania italiana? Mauro explica. “Toda pessoa que pode provar por meio de documentos que é descendente de um cidadão italiano tem o direito, não há limite de gerações como Foto: Pedro Ivo Prates

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Mauro e Carla trabalham com consultoria para cidadania italiana há 10 anos


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acontece com a maioria dos países. A Itália é muito tolerante quanto a isso, então um trineto pode, um tataraneto pode, com poucas limitações. (veja box) Porém, a fila no Consulado da Itália em São Paulo pode desencorajar. “Nesse momento, o processo de cidadania está demorando 11 anos. Os últimos chamados foram de pessoas cujos requerimentos chegaram ao consulado em março de 2005. Existe uma outra possibilidade: a lei italiana diz que o descendente pode pedir o reconhecimento da cidadania perante a autoridade do seu local de residência. Então, se a pessoa estiver morando, por exemplo, em Toronto, no Canadá, essa autoridade é o Consulado da Itália em Toronto. Ou se estiver morando em qualquer cidade italiana, a autoridade é a prefeitura de onde a pessoa estiver residindo legalmente. Alguns têm optado em ir para Itália e passar alguns meses lá para fazer esse processo, alugam um imóvel e se cadastram na polícia como moradores daquela cidade. A partir do momento que têm esse status de residentes já configurado, se dirigem à prefeitura com todos os documentos para iniciar o processo de cidadania”. De acordo com a tradutora Carla, a procura tem aumentado bastante. “Em

2016 a maior procura foi por pessoas que perderam o emprego, jovens que não estão conseguindo se colocar no mercado de trabalho ou que querem estudar, evoluir nos seus estudos. O jovem não tem medo, não tem família estabelecida, então ele vai”, observa.

Família A advogada Rosana Ferro, de São José dos Campos, resolveu começar o processo de cidadania italiana em 2015. Ela tem parentes em Castellabate, na região da Campânia. “Eu queria a cidadania para o meu pai, pra mim, meus três filhos e dois netos. Comecei todo o processo aqui no Brasil e depois de pronto fomos para a Itália, pra terminar lá. Deu muito trabalho, porque tive que fazer a retificação dos nomes. Meu avô, quando chegou ao Brasil teve os nomes trocados, como a maioria dos imigrantes, o que demorou bastante, mas valeu a pena”. Depois de fazer todo o processo no tempo recorde de quatro meses, Rosana fez contato com uma prima, que mora em Castellabate. “Ela conhece muita gente na prefeitura da cidade, o que facilitou bastante”. Rosana gostou tanto de toda a pesquisa que também está trabalhando com consultoria para pessoas que querem obter a cidadania. “Como eu fiz todo o Foto: Arquivo pessoal

Família Ferro comemora cidadania italiana em Castellabate

processo, aprendi como dar andamento na papelada no Brasil e também na Itália. Tenho parentes que orientam os clientes em Castellabate”, conta. “Também tenho sido procurada por pessoas que querem ir pra lá pra fazer o processo e que não gostam de viajar sozinhas. Dessa forma, faço o acompanhamento desde o Brasil até a entrega dos documentos”.

Portugal O médico Luiz Antonio Nogueira é casado com Célia Nogueira, que é filha de portugueses. Há alguns anos, as duas filhas do casal conseguiram a cidadania portuguesa. Como Jéssica, de 17 anos, pretende estudar fora do Brasil, Luiz fez uma pesquisa em universidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa. “Nos Estados Unidos, uma boa universidade pode custar de US$ 40 mil a US$ 50 mil por ano, ao passo que na Europa a situação é diferente. Para um não europeu, o valor é na casa dos US$ 20 mil a US$ 25 mil e para um membro da UE por volta de US$ 10 mil a US$ 15 mil”, conta. Ele e a filha pretendem ir à Holanda em janeiro para conhecer a Erasmus University, em Rotterdam, que tem tarifas diferenciadas para estudantes de países da União Europeia.

Custos Os custos para iniciar o processo de cidadania variam de R$ 4 a R$ 5 mil, se os documentos estiverem corretos, se não precisarem de retificações (correções), e se não houver erros graves de nome, sobrenome, datas, idades e locais. Com os documentos em mãos, pode-se e dar início ao processo junto ao consulado. Se a pessoa vai para a Itália, o aumento é significativo. Os interessados costumam gastar de R$ 20 mil a R$ 30 mil, por conta dos custos com hospedagem e documentação.  Dicas sobre cidadania italiana na internet: Mauro e Carla: goo.gl/ZGkwKb Fabio Barbiero: www.minhasaga.org


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Foto: Renato Manente

Itália

Espanha

Portugal

Tem direito de requerer a nacionalidade italiana: Todos que forem descendentes de italianos têm direito à cidadania. Há limitações quanto à transmissão pela linha materna – apenas os nascidos após 1948 têm o direito. Filhos fora do casamento, casos de reconhecimento de paternidade ou maternidade durante a minoridade do filho e adoção estão inclusos no direito de cidadania. Casamentos de mulheres com descendentes de italianos também dão à mulher o direito a cidadania. Já os homens não poderão ter a dupla-cidadania reconhecida se casarem-se com italianas ou descendentes de italianos(as), somente os filhos deste casal poderão ter o reconhecimento. Os homens, neste caso, podem requerer a naturalização italiana. Filhos de italianos naturalizados brasileiros – A naturalização brasileira do ascendente italiano não impede que seus descendentes tenham a cidadania italiana, desde que sua naturalização tenha ocorrido depois do nascimento dos filhos.

Veja quem tem direito de requerer a nacionalidade espanhola: Por descendência – a nacionalidade espanhola é transmitida de pais para filhos sem saltar gerações. Filhos e netos de espanhóis podem requerer a cidadania. Porém, os netos podem requerê-la apenas até os 18 anos, se um dos pais já tiver o direito reconhecido. Após 18 anos completados, os netos só poderão requerer a cidadania após um ano de residência legal na Espanha. Derivada por aquisição – também podem adquirir a cidadania brasileiros que residem na Espanha por mais de dois anos, brasileiros casados com um espanhol e que residam no país por mais de um ano.

Podem requerer a nacionalidade portuguesa: - Os filhos de cidadãos portugueses, netos, cônjuges e companheiros destes e descendentes de judeus sefarditas portugueses. - Cidadãos nascidos nas ex-colônias e aqueles que, por algum motivo tenham perdido a nacionalidade portuguesa.

Fonte: Consulado da Itália

Foto: Pedro Ivo Prates

Fonte: Consulado da Espanha.

Fonte: Consulado de Portugal.

O médico Paulo Gaia conseguiu a cidadania italiana para esposa e filho


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NOTÍCIAS CULTURA

Artistas buscam no empreendimento o ofício dos sonhos Caminho para realização de projetos é árduo, mas vale a pena

Fotos: Divulgação


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João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

S

abe aquele sonho engavetado da infância? Ou algum talento nato que, devido ao atropelo dos afazeres cotidianos, fica reservado apenas àquelas minguadas horas de folga? Pois bem, resgatar do limbo essas antigas aspirações não só é possível como também pode ser a chave para mudar de vida e viver do que gosta. Data emblemática para os recomeços, o início do ano pode ser uma boa época de começar a desempoeirar antigos projetos. Uma realidade sem chefe e de trabalho prazeroso depende basicamente, de muita força de vontade e de planejamento para conseguir chegar lá. É o caso de Lucca Viery, joseense que atualmente mora em Jacareí. Fascinado pela mágica desde a infância, o profissional aposta em seu próprio talento para viver de elaborar seus truques e encantar plateias. Após ser laureado quatro vezes em eventos

do Congresso Brasileiro de Mágica, Viery notou que suas reconhecidas habilidades poderiam lhe render um bom ganha-pão. Formado em Publicidade e Propaganda, área da qual também acumula um curso de tecnólogo, o mágico incorporou os conhecimentos de marketing, comunicação e vendas adquiridos no curso ao seu talento como mágico. Foi assim que surgiu a ideia de tornar-se um palestrante motivacional, que utiliza-se da mágica como um importante diferencial. “No meu trabalho de conclusão de curso da faculdade abordei a mágica como instrumento para transmitir conceitos. Me formei em 2011 e é nisso que eu venho trabalhando desde então. Nas palestras que faço, falo sobre técnicas de vendas e sobre a importância de investir nos seus sonhos. Para isso aposto num formato lúdico, elaborando histórias, usando do humor, interatividade e, claro, muita mágica”, afirma o profissional.


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Para incrementar a faceta empreendedora de sua atividade, há pouco mais de oito meses o mágico integra o time da Incubadora de Empresas de Jacareí. Em um ambiente onde prevalecem os projetos voltados à soluções tecnológicas e inovações, a proposta do mágico destaca-se pelo inusitado. Atualmente o mágico chega a receber R$ 2.500 por palestra e realiza uma média de seis eventos por mês. De acordo com ele, a experiência na incubadora tem afiado a prática em conceitos que, antes da parceria, ele ainda não havia elaborado. “Essa acolhida foi super importante. Eles acreditaram no poder empreendedor do meu projeto e, desde que estou lá, venho aperfeiçoando diversas técnicas. A mudança mais significativa está ligada ao que acontece fora do evento. Desde o contato com os contratantes, até o feedback após

Adriana Marques, Vander Palma, Ana Cristina Freitas e Wallace Puosso formam o Teatro D’Aldeia

as palestras. Tudo ficou mais profissional”, afirma.

Teatro A visão empreendedora também foi o caminho para que os atores Vander Palma, Adriana Barja, Wallace Puosso e Ana Cristina Freitas passassem a gerir o seu próprio negócio, o Teatro D’Aldeia, em São José dos Campos. O espaço para as artes foi criado há pouco menos de dois anos e é o local onde os atores exibem as peças produzidas pela Cia, oferecem aulas de teatro e inclusive serviços de coaching. Vander explica que a profissionalização foi o caminho encontrado para concretizar tudo aquilo que os atores sempre tiveram em mente. De acordo com ele, trata-se de um ponto importante para a classe artística, que, a partir desta mudança de paradigma, pode empoderar-se de suas próprias atividades e alcançar o sonho de viver de arte.

“Os artistas precisam se dedicar não só ao seu trabalho artístico, mas também em como este trabalho vai chegar até seu público, como viabilizar a produção, como pagar os profissionais envolvidos, etc. Assim como qualquer empreendedor ele investe tempo, estudo, dinheiro e trabalha para que este investimento dê retorno. Precisa lidar com as frustrações e as dificuldades, precisa planejar, convencer apoiadores, além de necessitar de uma boa dose de criatividade para driblar as dificuldades extras de se trabalhar neste ramo”, explica. Para o ator, esta veia empreendedora faz parte do amadurecimento não só do artista, mas também da sociedade, ao entender e valorizar a importância dos trabalhos artísticos. “Penso que há um movimento que demanda novos pensamentos sobre o que é o sucesso e que busca formas de se viver. Na medida em que a sociedade compreende a


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importância da arte na vida, mais artistas vão assumindo seu ofício e encontrando maneiras de viver dela. Neste sentido, há sim um terreno mais fértil para a profissionalização”, afirma.

Estratégias Psicóloga e coaching de carreira, a profissional Renata Bueno, de São José dos Campos garante que qualquer pessoa pode sim abandonar a rotina atual para viver de seu sonho engavetado. Entretanto, ela alerta: a trajetória não é nada fácil. É preciso uma boa dose de perseverança para lidar com os percalços que certamente irão ocorrer durante este percurso. Estar atento às exigências do mercado, disposto a trabalhar duro (às vezes virando madrugadas), conciliar ações e boas ideias, além de traçar um objetivo claro são as competências para quem deseja entrar nessa.

“Muita gente que me procura está cansado da zona de conforto no trabalho, ou está em crise vocacional, em algum campo de atuação do qual não sente nenhuma identificação. Essas situações são muito mais comuns do que pensamos. Essa insatisfação leva a pessoa a lembrar-se daquelas velhos projetos que não foram para frente. Mas não basta apenas idealizar o ofício dos sonhos, é preciso ter metas, planos de ação e persistência”, explica. Primeiro é preciso identificar o que não está legal na carreira. Quais os problemas enfrentados no emprego e o que pode ser melhorado para que aquele ofício torne-se mais gratificante para o funcionário. Se essa etapa de melhoria dentro do próprio ambiente profissional ainda não for suficiente, é hora de buscar outras coisas. “Uma boa dica para quem tem um

emprego fixo e quer se arriscar no que realmente gosta é ir mantendo uma atividade paralela ao trabalho oficial. Aos poucos esse profissional vai solidificando esta segunda atividade até que ele sinta-se seguro para desvencilhar-se do antigo emprego para tocar de vez o trabalho dos sonhos”, diz. Para terminar, a psicóloga afirma que o importante é não dar saltos no escuro. O conhecimento da área e as conversas com pessoas que já realizaram movimentos profissionais semelhantes é fundamental para garantir o sucesso da nova empreitada. “Conversar com pessoas que já empreenderam ajuda bastante a evitar alguns percalços no caminho. Essas referências podem oferecer dicas preciosas. Mas nunca é um pacote prontinho, cada um encontrará suas próprias soluções!, conclui. 

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Cultura& O sambista de São José

Marcinho Moreira leva o nome e a música da RMVale para todo o Brasil Marcus Alvarenga SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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sambista Marcio de Andrade Moreira Cunha, 33 anos, natural de São José dos Campos, conhecido no cenário musical como Marcinho Moreira, entra em 2017 com grandes projetos para a sua carreira artística. A maior expectativa é a gravação do 4º disco da carreira do cantor, em sua cidade natal. 2016 foi de muito trabalho e dedicação para o sambista. Marcinho encerrou o ano com chave de ouro ao conquistar o

1º lugar no festival Exposamba e fechar contrato com a TV Cultura para a programação deste ano. O sambista traz em sua bagagem experiências ao lado de grandes nomes do samba de raiz, como Chapinha, Mestre Dadinho, Tiãozinho da Mocidade e Sombrinha, um dos fundadores do grupo Fundo de Quintal. “Me tornar parceiro e amigo de grandes ídolos torna especial a minha trajetória, até mesmo pela forma que aconteceu”, conta Marcinho Moreira. Além de cantar, Marcinho também toca cavaquinho e banjo. Tudo começou na década de 90, quando ele teve o

primeiro contato com o cavaquinho por meio de um programa de TV. Porém, o gosto pela música surgiu dentro de casa, por influência do pai e avô, que eram músicos casuais, além do contato com a sonoridade do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu a sua mãe. O som de Marcinho pode ser conferido em sua roda de samba em São José, que acontece todo primeiro domingo do mês com convidados especiais. Em 2017, o nome do joseense vai estar na tela da televisão com o novo samba “A Chama que se Chama amor”, que será lançado no primeiro semestre. 

Foto: Arquivo pessoal

Joseense é destaque no cenário musical

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CINEMA& Divulgação

O gênero musical costuma dividir o público: muitos amam e outros tantos odeiam. Como inovar nessa área e evitar as já famosas frases que se transformam em cantorias intermináveis? O diretor do incrível Whiplash Damien Chazelle - encarou o desafio e parece ter feito um ótimo trabalho. La La Land mostra as aventuras e desventuras

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do pianista de jazz Sebastian (interpretado por Ryan Gosling) e da aspirante a atriz Mia ( Emma Stone, arrasando). A trajetória da dupla em busca da fama tem como pano de fundo as belezas de Los Angeles - especialmente Hollywood. O filme tem grandes chances de premiação no Globo de Outro e no Oscar 2017.


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NOTÍCIAS ESPORTES

De volta aos estádios Veterano da Águia do Vale, Marcus Vinícius alça novos voos como técnico de futebol

Fotos: Murilo Cunha

Estrela do Albirex Niigata em 2002 e 2003, Marcus ostenta pôster da equipe. Sala da presidência do clube mantem um igual até hoje.

Murilo Cunha SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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le começou a carreira no futebol aos 13 anos, no infantil do São José. Fez história no Rio Grande do Sul e tornou-se ídolo no Japão. Agora, de volta à terra natal, o ex-atacante Marcus Vinícius se prepara para uma nova carreira como treinador.

Experiência ele tem de sobra: com passagens por 16 clubes no Brasil e no exterior, Marcus detém o recorde de maior goleador da história do Campeonato Gaúcho, com 28 gols em uma única temporada, e deixou a sua marca na Terra do Sol Nascente, onde passou por alguns dos principais clubes japoneses. A carreira como profissional começou em um jogo treino pelo juniores da

Águia do Vale, Marcus Vinícius aproveitou uma oportunidade e conquistou uma vaga no time profissional, ele mesmo não esquece cada detalhe daquele dia. “O Ademir Mello, técnico do São José, levou o time de juniores pra assistir o coletivo numa terça de manhã. Faltava um jogador para completar o time reserva pro treino, e ele pediu um meia direita. Eu levantei a mão na hora. No primeiro tempo do treino, o time


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reserva fez 1 a 0, com um gol meu. No segundo tempo eu voltei no time titular, na mesma posição, e fiz mais dois gols. O coletivo acabou em 2 a 1, com três gols meus. No dia seguinte já entrei em campo contra o Ferroviário. Ganhamos de dois a zero, com um gol meu aos 5 minutos de jogo. Não voltei mais pro Juniores”, conta. Marcus jogou no São José entre 92 e 96, com passagens intercaladas pelo Aimoré e pelo Clube Esportivo Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Ele chegou a ter uma passagem pela Colômbia, mas optou por voltar ao Brasil o quanto antes. “Em 1996 a Colômbia passava por um clima meio de guerra. Eu morava em um apê e, no caminho de casa para o Centro de Treinamento do clube, eu passava por muitos militares, tinha um com uma metralhadora em cada esquina. Eu não me adaptei. O futebol de lá é tranquilo, o clima no dia a dia é que era tenso. Naquela época, o time tinha seis jogadores da seleção colombiana, era um grupo unido, mas eu não quis ficar. Vim para o Brasil passar as festas de ano dizendo que voltaria, mas acabei preferindo ficar por aqui mesmo”.

Conquistando o sol nascente De volta ao Brasil, o atacante fechou contrato com o Guarani de Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, na época, comandado pelo então iniciante Mano Menezes. No clube, ele realizou um dos maiores feitos de sua carreira ao se tornar o artilheiro do campeonato gaúcho, com 28 gols na temporada - recorde que ele detém até hoje. A nova passagem pelo Sul abriu caminho para a realização de um sonho antigo: jogar no Japão. A estreia foi pelo Honda F.C., que na época disputava a 2ª divisão. O futebol japonês passava por um processo de reestruturação, com reformas nos estádios e novas contratações em todo o país a fim de impulsionar o esporte. Mais uma vez, Marcus foi o artilheiro em dois dos três campeonatos que

disputou pelo clube. Ele também teve uma passagem heróica pelo Albirex Niigata, em que se tornou ídolo após garantir o acesso do clube à primeira divisão em 2003 - a sala da presidência tem, até hoje, um quadro dele. O apoio da esposa foi fundamental para o sucesso em um país tão diferente. “Os vinte primeiros dias ela passou sem falar com ninguém, e sem assistir televisão, porque não entendia nada. Ela me disse “depois te tudo isso, agora você vai embora? Não vai. A gente vai ficar até o fim”. Na minha primeira pré-temporada eu encontrei um treinador gente boa, parecia até brasileiro. Ele chegou a jogar na seleção japonesa, mas já tinha encerrado a carreira e estava como treinador. Ele me disse: “vou fazer algumas coisas para você, mas é para te ajudar. Nunca vou fazer nada para te sacanear, e se eu achar que você não tem condição, serei o primeiro a te mandar embora. Em primeiro lugar, essa semana você ainda pode comer a sua comida e usar garfo e faca. Na próxima, você vai fazer como os outros”. Isso me ajudou bastante, porque eu não tinha regalias, tive que buscar me

adaptar da melhor maneira possível. Nós passamos 20 dias num hotel, e eu não podia nem sair para comprar um McDonald’s, comia o que tinha”.

Futuro do esporte O veterano não vê com bons olhos os rumos que o esporte tomou no país. Crítico da falta de talento dos jogadores atuais, ele aponta as mudanças no mercado da bola como culpadas pelo baixo nível do futebol brasileiro. “Naquela época você tinha que jogar, mostrar serviço dentro de campo se quisesse ser contratado, que alguém olhasse pra você. Hoje o futebol está num nível muito baixo. A gente sabe que tem muito jogador de empresário, são poucos os que saem do Juniores e despontam no profissional dos grandes times. 2016 foi um dos anos de nível mais baixo. Você via um Corinthians com Rincón, Edilson, Marcelinho Carioca e Luizão... Quem está em destaque hoje, nos grandes clubes e na seleção? O que a gente quer é trabalhar para que o atleta suba, prove que quer ser jogador. É diferente de chegar um empresário, falar direto com o dirigente, mostrar um dvd e colocar o cara no time”. Coleção conta com camisas dos 16 clubes, além de presentes de amigos


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Segundo Marcus a falta de incentivo das empresas e de preparo dos dirigentes também prejudica times menores, como o São José e o Taubaté. “Eu joguei no Rio Branco de Americana e era uma das melhores estruturas que tinha no interior. Hoje em dia, você vê o quê? Com a nossa economia como está, os clubes não tem mais dinheiro para montar bons times. Acabou, os jogadores não vêm mais se não houver apoio. Você pega um Taubaté, o São José Esporte Clube… Cidades deste porte não ter um time capaz de disputar um campeonato de primeira divisão? A gente fica até com dó.” Em sua última passagem pelo São José Marcus Vinícius trabalhou pela primeira vez como técnico e sentiu as dificuldades de estar do lado de fora das quatro linhas. “Em 2015 eu ajudei como treinador e não recebi nada. Eu fui como um ex-atleta que queria aprender como treinador, mas lá dentro você vê a dificuldade que é para arranjar um patrocínio de camisa, de material esportivo… A Federação até ajuda as equipes, mas não é o suficiente” conta. Vinícius também critica o amadorismo dos clubes de futebol, “vemos

pessoas que simplesmente não estão preparadas para dirigir uma equipe de futebol com seriedade. Perto da gente há tantas indústrias que podem ajudar, mas elas pensam “será que eu

se eu botar o dinheiro no São José, no Taubaté ou no Jacareí, ele vai ser bem usado? Vão montar um time bom?” Então podem até colocar dinheiro uma vez, mas depois não colocam mais. A tendência é essa mesmo”.

Recomeçando fora das quatro linhas

“É muito gostoso você passar por um lugar e estar todo mundo te apoiando, abraçando… Você vê o reconhecimento do seu trabalho, e o japonês reconhece mesmo” Marcus Vinícius, EX JOGADOR

Marcus exibe troféus de Jogador Revelação e Artilheiro do Campeonado Gaúcho de 97

Em 2009, Marcus Vinícius decidiu pendurar as chuteiras, após uma nova passagem pela Águia. Com 35 anos, ele já tinha interesse em se aposentar e começar uma nova carreira como treinador. Atualmente sem clube, o ex-atleta se prepara para obter uma “Licença A” pela Confederação Brasileira de Futebol, que o habilita a treinar times profissionais dentro e fora do país. “A minha intenção é voltar para o Japão como treinador. É um desejo a conquistar mais pra frente”, afirma. 

Ficha Técnica Nome: Marcus Vinícius de Morais Nascimento: 25/02/1974 Altura: 1.77m Posição: Atacante Histórico: 1992/1993 - São José E.C. 1994 - C.E. Aimoré 1995 - C.E. Bento Gonçalves São José E.C. 1996 - São José E.C. 1997/1999 - Honda F.C. 2000 - Rio Branco E.C | Guarani F.C. 2001 - Rio Branco E.C. | São José E.C. E.C. Bahia 2002 - América F.C. Albirex Niigata 2003 - Albirex Niigata 2004/2005 - Kawasaki Frontale 2006 - Kawasaki Frontale Tokyo Verdy 2007 - Yokohama Marinos | E.C. Vitória 2008 - C.A. Juventus | São José E.C. 2009 - S.E.R. Caxias do Sul São José E.C.


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Lá e de volta outra vez: tanto a estreia como jogador quanto como treinador foram na Águia do Vale

Disciplina Samurai “Eu tenho uma lembrança ruim do Japão, mas que, ao mesmo tempo, me ajudou bastante a crescer. Em 2002, quando eu cheguei ao Niigata, em um jogo o treinador me colocou para bater um escanteio. Eu bati e a bola passou por todo mundo, veio o lateral direito, chutou, e a bola bateu na zaga e acabou sobrando. Um dos caras saiu correndo lá do primeiro pau e virou o jogo. O auxiliar técnico achava que eu deveria ter corrido atrás dele, mas como a gente já tinha o pessoal da nossa zaga, eu achei que não precisava… no fim, saiu o gol. Logo em seguida, o juíz sinalizou a minha substituição, com 10 minutos de jogo. O meu sangue subiu e eu saí correndo pra pegar o treinador. Pra minha sorte, o intérprete veio e me agarrou, não me deixou fazer nada. No outro dia o treinador me chamou, disse que talvez tivesse se precipitado ao me tirar tão cedo e que acabou acatando a sugestão do auxiliar de fazer a substituição. A gente se desculpou e, dali pra frente, eu amadureci muito. Acho que Deus entrou no meu caminho e disse “Não faça isso”. No fim, fui campeão em 2003 por esse mesmo time e, além de ter sido o artilheiro do campeonato, ainda levamos o clube para a primeira divisão. Naquele momento, o time já tinha o maior número de torcedores no país e foi um momento muito bom, de muita alegria. O restante foi só coisa boa. O Japão é maravilhoso para quem se adapta ao ritmo de vida, ao jeito de ser e de tratar das pessoas. É uma cultura que te faz virar uma pessoa mais responsável, eu diria. Ao contrário do nosso Brasil que, infelizmente, é um país avacalhado.

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NOTÍCIAS TURISMO

Fotos: Divulgação/NR2/Paiol Grande

Acampantes durante atividades ao ar-livre e em equipe

Diversão e educação nas férias Acampamentos de verão promovem brincadeiras, atividades educativas e segurança para as crianças durante as férias escolares Marcus Alvarenga RMVALE E LITORAL NORTE

A

decisão do destino da viagem durante as férias de janeiro muitas vezes fica dividida entre ir para a praia ou ficar em casa, pois para algumas famílias apenas as crianças estão de férias. Porém, existe uma opção diferente, divertida e educativa: os acampamentos de férias. Existe experiência melhor para uma criança ou adolescente do que criar independência, aprender novos hobbies, fazer novas amizades, tudo isso se divertindo, aproveitando os dias longe da escola e em um ambiente diferente? Lucas Moliterno, estudante de 16

anos, desde os nove separa uma semana de suas férias para ir ao acampamento Nosso Recanto, mais conhecido como NR. Ele conta que o local tem uma magia que faz você voltar. “Lá nós vivemos o tempo real. Você olha no olho, esquece da internet, interage no quarto, nas atividades e em todo momento. As coisas lá têm magia e não queremos ir para outro lugar”, diz. O NR, que completa 66 anos em 2017, surgiu da pergunta do fundador, o professor Affonso Vívolo, sobre se “a educação continuava existindo durante as férias?”. Desde o início, o empreendimento é dirigido pela família, que agora tem à frente o neto Kito Vívolo, que teve experiências como acampante,

funcionário e agora é diretor das duas unidades do acampamento. “A cada ano as atividades se adaptam de acordo com os novos interesses dos jovens e das crianças. O objetivo do nosso trabalho é fazê-los felizes e ainda ajudar no desenvolvimento de cada um. Dentro do NR, eles podem descobrir ou desenvolver uma nova habilidade”, explica Kito. A diversão pode se tornar profissão. Alguns ex-acampantes não conseguem se desligar tão fácil da experiência que tiveram quando crianças e voltam agora como monitores. Esse é o caso de Gabriel Durães, de Belo Horizonte, que esteve pela primeira vez em 2013 no Acampamento Paiol Grande, em São


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Adolescentes durante a festa das cores

Bento do Sapucaí. Reconhecido como o primeiro acampamento de férias do Brasil, foi fundado em 1946 por Luiz Dumont Villares. “No dia da minha viagem eu estava inseguro de vir sozinho, mas chegando, os monitores me integraram, e ajudaram a conversar com os outros. Eu admirava muito o trabalho deles, eles conseguiam fazer com que pessoas tímidas saíssem do canto e estivessem com toda a galera, conversavam muito e ajudavam em tudo que precisávamos. Agora estou aqui pegando experiência e me esforçando para fazer o mesmo, além de servir como bagagem para minha vida pessoal e profissional”, relata Durães. Os destinos vão além de apenas um lugar de brincadeiras durante as férias. Um acampamento promove a socialização, trabalho em equipe, percepção de novos conhecimento e talentos, respeito pelo próximo e independência familiar. “Aqui é outra coisa, o clima,

Trilhas, gastronomia, teatro e mini-zoológico nos acampamentos de férias


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as brincadeiras, as pessoas. Você cria um mundo muito maior do que ficar em casa jogando videogame. Essa é a principal diferença, você sai da sua zona de conforto para uma coisa diferente, coisas que não vivemos no dia a dia”, descreve Durães, que participou de quatro temporadas de férias no Paiol Grande.

Produtos Além de um destino interativo e divertido, as empresas também oferecem segmentos e propostas diferentes. O Nosso Recanto possui duas unidades, o NR1, para crianças de 5 a 10 anos; e o NR2, de 11 a 17 anos. Ambos estão localizados em Sapucaí Mirim, no sul de Minas Gerais, Serra da Mantiqueira. Nesse destino, o pacote de férias oferece transporte de ida e volta a partir de São Paulo, cinco refeições diárias, lavanderia, assistência médica, hospedagem em chalés separados por idade e sexo e acompanhamento de monitores Os valores vão de R$ 1800 a R$ 5.100, de acordo com a quantidade de semanas e com a temática de acampamento escolhida. Para a temporada de janeiro de 2017 estão programados seis temas.

Em janeiro, o acampamento ‘Teens’ acontece do dia 9 ao 22 no NR2e o ‘Kids vai de 9 a 15 e do dia 16 ao 22 no NR1. Entre os temáticos, acontece entre os dias 23 e 29 o ‘Circuito Broadway Camp’, com apresentação do espetáculo de encerramento no NR2. Já o ‘Juventus Camp Brazil’ terá a presença dos técnicos da base do time da Itália no NR1. As novidades são o ‘E-Camp Madcode & NR’, de 16 a 22 de janeiro, com palestra do Facebook e outras aulas específicas; e o ‘FitCamp’, do dia 23 ao 27, com a presença dos coaches do Mahamudra, a youtuber Gabriela Pugliesi, o modelo Erasmo Viana e a nutricionista Mariana Ferri. Ambos no NR2. O Acampamento Paiol Grande, localizado logo abaixo da Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, apresenta um cenário que conquista a todos, pois é possível apreciar a beleza do Complexo do Baú, composto ainda pelas pedras do Bauzinho e Ana Chata. Durante as férias, os acampantes podem fazer uma trilha pelo complexo e os adolescentes mais experientes são levados até a pedra mais alta, onde dormem em barracas, passando uma noite especial ao ar livre em uma área reservada.

Trabalho em equipe fortalece as amizades e prepara as crianças para o convívio social

O pacote ainda oferece cinco refeições diárias, acomodação em chalés divididos por gênero e faixa etária com supervisão 24 horas de monitores, assistência médica e o transporte de ida e volta a partir de São Paulo e cidades do trajeto. Para acampantes do Rio de Janeiro e Belo Horizonte o transporte tem acréscimo de R$ 240. O valor sofre alterações de acordo com o período e idade das crianças, podendo ir de R$ 1.555 a R$ 3.571. O Paiol Grande tem o diferencial de ser uma instituição sem fins lucrativos, direcionando parte do valor arrecadado para entidades sociais parceiras, escolhidas após um processo seletivo, e outra parte para manutenção da unidade. A temporada de verão 2017 traz a temática da viagem no tempo com o nome “Jogo das virtudes - A Outra Dimensão”, promovendo uma busca a 7 tesouros perdidos pela sociedade de 2087 que voltam para 2017 e precisam da ajuda dos acampantes. A diversão fica ainda mais interessante pela presença de dois ajudantes, os youtubers Malena0202 e Pyong Lee, que junto com as crianças vão em busca das tradições e memórias perdidas no futuro. 



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Gastronomia&

Fotos: Pedro Ivo Prates

Doces portugueses: em cena, o ovo

Chef Marcelo Nogueira apresenta doces portugueses


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Laís Vieira SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

mais evidente marca da colonização portuguesa no Brasil é a língua. Falamos o mesmo idioma e apesar dos sotaques, nos entendemos muito bem. Além disso, muitas tradições portuguesas foram especialmente recebidas pelos brasileiros, como a literatura, pintura, escultura, música, arquitetura e artes decorativas. Agora em São José dos Campos, a culinária portuguesa é o destaque. O tradicional bacalhau português, os pescados e os frutos do mar já estão na mesa de muitos brasileiros. A novidade são os doces, todos à base de ovos. Curioso, já que não temos muitas opções brasileiras de doces que levam esse ingrediente. As sobremesas vindas da terrinha têm receitas simples e ingredientes de fácil acesso. O chef Marcelo Nogueira, de 38 anos, trabalha com doçaria portuguesa desde 2006 e conta que o apreço pela tradição portuguesa está crescendo na região. Ele é chef em uma loja especializada em doçaria portuguesa em um shopping da cidade. Ele conta que a história começou nos conventos com as freiras, que engomavam as roupas com a clara e, para não desperdiçar as gemas, as reutilizavam em doces e sobremesas. Marcelo explica que são utilizados mil ovos por semana para oferecer aos clientes os mais de 20 tipos de doces. O público está recebendo muito bem. “Os joseenses estão abertos às mudanças, para descobrir e saborear novas experiências gastronômicas”. A ideia é que as pessoas que estão circulando no shopping parem para tomar um café e apreciar as sobremesas, para aguçar o paladar para algo completamente diferente do tradicional.

Encharcada

“A doceria surgiu de uma demanda dos fãs dos doces portugueses, que optam por harmonizá-los com café em uma pausa do seu dia, de uma reunião de negócios mais informal ou até mesmo em um encontro com amigas. Ainda é possível harmonizar a sobremesa com vinho do Porto ou espumante. A doceria do Cassiano é um novo formato de negócio que o Grupo Colinas acredita e aposta.” COMENTA Priscilla Levinsohn, PROPRIETÁRIA DA LOJA.

Bolo de nozes


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A doceria oferece mais de 20 tipos de sobremesas portuguesas, como Siricaia, Encharcada, Pastel de Santa Clara, Pastel de Natas, Barriga de Freira, Rabanada com Vinho do Porto, Estrogonofe de Nozes, Salame de Chocolate, Travesseiro de Sintra (massa folhada recheada com doce de amêndoas), entre outras. “A Siricaia é um doce que quem come uma vez, não deixa de comer novamente, ela aguça o paladar e você fica querendo comer mais”, conta o chef Marcelo. O doce é feito com gemas, leite condensado, leite, manteiga e açúcar, tudo delicadamente preparado. Os nomes dos doces são tradicionais, ‘importados’ com fidelidade das terras lusitanas. Assim como o sabor, que são experiências indescritíveis. Na culinária portuguesa não há tanta preocupação com a apresentação dos pratos, já que o paladar supera qualquer análise visual.

Rocambole de laranja

Siricaia

Rocambole de chocolate com baba de moça


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Ao degustar os doces portugueses, surge a dúvida sobre o porquê dessas delícias ainda não fazerem parte das nossas sobremesas a mais tempo. O chef Marcelo explica que, ao contrário do conhecimento popular, o sabor do doce não está associado à quantidade de vezes que a gema é batida. “Isso é um mito. Se você bate muito as gemas, você quebra as ligas e ela perde a cor”. E continua. “Todos os doces são muito carregados em ovos, algumas pessoas ainda têm um pouquinho de rejeição. Mas o gosto não é tão forte. O preparo, apesar de simples, requer

alguns cuidados, desde a escolha de bons produtos, como um ovo caipira de boa qualidade, até o processo delicado de retirar a película da gema na hora da produção”, explica. 

Mais opções... Também é possível degustar doces mais tradicionais, como Pudim de Doce de Leite, Rocambole de Laranja, Rocambole de Chocolate com Baba de Moça, Mousse de Maracujá, Mousse de Goiaba, Mousse de Chocolate, Bolo de Nozes e outros.

Pastel de Santa Clara

Pastel de Nata


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Social& por Laís Vieira Jogo Solidário amigos do surfista Gabriel Medina, com placar final de 5 a 4. Entre as estrelas que participaram estavam Isaquias Queiroz dos Santos (medalhista olímpico), os jogadores Amaral, Aloísio Chulapa, Léo Jabá (revelação do Corinthians), Gilmar, o ex-jogador Washington, que jogou no São José e no Palmeiras, Rogerinho (da seleção brasileira de amputados), além de

Foto: Idelter Xavier

O Estádio Martins Pereira em São José dos Campos foi ponto de encontro de astros do esporte, da música e da televisão em um jogo beneficente, organizado pelo empresário Leonardo Morais, no dia 23 de dezembro. Quem levou a melhor na 3ª edição do Jogo Solidário foram os amigos do craque do Bayern de Munique, Douglas Costa, que enfrentaram o time formado por

Kayky Brito, Alê Oliveira (ESPN), Mc Biel, Mc Bin Laden, o árbitro Margarida e Pedrinho (ex-Programa Pânico). O piloto da Stockcar Thiago Camilo e o surfista Miguel Pupo também participaram da festa. A renda obtida com a venda dos ingressos vai ser destinada ao Fundo Social da Solidariedade de São José dos Campos.

Acesse as fotos no Portal Meon por meio do QR Code:

Casa Viva

Fo to : Fra n cin e Fa r fun

Um evento para apresentar um empreendimento imobiliário inovador na cidade de São José dos Campos aconteceu no Teatro Colinas. O CEO do Grupo Colinas, Emerson Marietto, abriu o evento falando que se trata de um sonho, mas que não é algo distante de nós. “O empreendimento Casa Viva é um novo modelo de casa para inspirar o futuro”, diz Marietto. A arquiteta Patrícia O’Reilly, do Atelier O’Reilly Architecture&Partners, explicou quais serão os detalhes da primeira ‘residência do futuro’, projeto que envolve luxo, conforto, tecnologia e responsabilidade. Diversos investidores puderam ver detalhes do projeto que pretende revolucionar o conceito de casa sustentável na região. O projeto será implementado no condomínio Jardim do Golfe, na área mais nobre da cidade.


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Fotos: Gilberto Freitas

Prêmio Profissionais do ano na arquitetura

Carlos Vilhena e Vinícius Marchese O jantar dos associados à AEA (Associação de Arquitetos e Engenheiros) de São José dos Campos, que aconteceu no Clube de Campo

Luso Brasileiro, teve como objetivo confraternizar e premiar os profissionais que se destacaram em 2016, divididos nas categorias Jovem

Talento, destinado a formandos, e Profissional do Ano. Três jovens finalizaram o ano com o privilégio de terem sido escolhidos entre diversos projetos inscritos. O primeiro lugar ficou para Philip de Oliveira Alves, com o projeto cemitérios verticais, com a orientação da professora Ana Priscila, da UNIP. “Escolhi um tema exótico que exigiu muito trabalho e muita pesquisa, mas me apaixonei pelo tema desafiador”, comenta Philip. Também foi homenageado o presidente do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo), o engenheiro de telecomunicações Vinícius Marchese Marinelli.

Campos. Em dois dias de shows, concorreram pelas primeiras filas, muitos fãs, empresários, políticos e famílias joseenses. As apresentações aconteceram nos dias 9 e 10 de dezembro, com espaço para 3,5 mil pessoas sentadas por dia. Os VIPS das primeiras filas viram o rei enquanto apreciavam

taças de espumante durante o show. Não faltaram ‘Emoções’, ‘Detalhes’, ‘Como é grande o meu amor por você’, entre outras. Na primeira fila, os casais Edissa Bonafe e Marcos Hartkamp, Eduardo Cury e Rosana Dalla Torre conferiram as clássicas canções românticas do repertório de Roberto bem de perto.

Philip de Oliveira Alves

O fim de ano foi muito movimentado nas cidades da RMVale. Grandes espetáculos, shows e, como são comuns no mês de dezembro, as confraternizações. Destaque para o grande show do rei Roberto Carlos, que reuniu milhares de pessoas em uma estrutura montada no estacionamento de um shopping de São José dos

Fotos: Gilberto Freitas

São tantas emoções


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Arquitetura&

Arquiteta utilizou madeiras de reflorestamento


Reflorestamento em um projeto especial

Fotos: Arquivo pessoal

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Arquiteta utiliza conceito eco-chic; residência fica em Ubatuba Moisés Rosa UBATUBA

U

ma nova fase da vida e um desejo de ter uma casa no Litoral Norte de São Paulo. Com a ideia lançada, a arquiteta Beth Berlato (foto) teve o desafio de projetar uma residência em Ubatuba. O local escolhido foi a praia Dura, a 27 km do centro, que concentra um tipo de areia preta ou monazítica, que possui concentração natural de minerais pesados e algumas pessoas utilizam para fins terapêuticos, em casos de artrites e inflamações. A praia também é procurada por quem busca mais sossego. Segundo a arquiteta, a proposta contempla o desejo do casal de ter uma residência de praia em uma nova fase da vida, onde eles terão mais tempo para usufruir. O diferencial do projeto é o conceito eco-chic, que utiliza materiais de madeira de reflorestamento. A re sidê nc i a possui três suítes no

pavimento térreo, lavabo, salas integradas de tv, estar e jantar, cozinha, área de serviços, além da varanda com área gastronômica com churrasqueira e forno de pizza. A piscina e o amplo jardim foram planejados com paisagismo tropical. “Fui contratada para realizar esse projeto utilizando conceitos de arquitetura eco-chic. As cores usadas nos acabamentos são claras e suaves, em contraste com os elementos de decoração de tons fortes e marcantes, alegrando e compondo o ambiente com descontração”, disse Beth à Metrópole Magazine. Para compor o paisagismo, foram utilizadas espécies tropicais que, por conta da baixa manutenção, se desenvolvem com facilidade durante o ano todo. “A casa foi projetada para que a família passe suas férias e finais de semana prolongados, recebendo amigos e valorizando o convívio com eventos informais e gastronômicos”, conta. Beth Berlato é formada em arquitetura e urbanismo pela Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em 2007. Atua nas áreas de arquitetura, design de interiores e paisagismo, incluindo projetos de adequação de residências para idosos e pessoas com dificuldade de locomoção. 


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Foram usadas cores com tons fortes; residência foi projetada para casal que recebe amigos e familiares nas férias e aos finais de semana

Amplo jardim e piscina são destaques no projeto da residência; foram usadas espécies tropicais para compor o paisagismo



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tirinha

ATIVIDADES

POR


Encontre na cena abaixo os objetos em destaque

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Vida gourmet

Por Alexandre Corrêa Lima Juro que me surpreendi com a variedade e o exotismo dos recheios: salmão defumado com cream cheese e cebola roxa, queijo brie com amêndoas torradas e geleia de damasco e mais um monte de combinação que mal saberia descrever. E não era nenhum sofisticado restaurante europeu. Estava no meio de um evento de rua e o restaurante era um caminhão adaptado, o famoso food truck. Sou da época que tapioca era consumida com manteiga derretendo ou no máximo um queijo mussarela. Não sei se é efeito dessa febre de reality shows de cozinheiros, mas parece que o mundo todo virou gourmet. Tudo agora tem a versão gourmet para rivalizar com a versão tradicional. Tapioca gourmet, açaí gourmet, água gourmet, feijoada gourmet, hot dog gourmet. Simplicidade gourmet. O ruim dessa onda é que junto com as invencionices os preços disparam. Tomar um cafezinho custava 1,50. Mas o mocaccino macchiato caramelizado custa 18 pratas. Até a água está virando gourmet. Diz a lenda que na França já existem boutiques de água,

o que eu sinceramente não entendo, já que sempre aprendi que a água perfeita é aquela que não tem nenhum diferencial: insípida, incolor e inodora. Conheço algumas pessoas que aderiram à moda das cervejas artesanais. Existe até clube virtual, no qual você paga uma mensalidade quase igual à escola dos meus filhos, e em troca recebe regularmente por correio amostras de exóticas cervejas gourmet do mundo. Marcas desconhecidas com composições ininteligíveis (pelo menos para este ignorante que vos escreve), com embalagens deslumbrantes e vindas dos mais diferentes cantos do planeta: País de Gales, Austrália, Bélgica, Estônia ou Petrópolis. Dia desses vi num aeroporto o preço de uma cachaça premium e achei que estivesse bêbado. O que fizeram com o preço da popular caninha? Mas o pior é que a gourmetização da vida está extrapolando as raias da culinária. Tenho um amigo que anda viciado em pedalar, arrumou uma turma faz pouco tempo mas está super empolgado. Aí ele me falou das bikes que a turma usa e quase caí do cavalo. A mais

barata devia custar uns três mil, as mais incrementadas dezenas de milhares de dinaris. Se eu vender o meu carro talvez não seja suficiente pra comprar uma dessas bikes gourmet. Eu sempre morri de medo de virar um profundo “conhecedor” dos bons vinhos, ofício que deu origem a palavra francesa gourmet. Atualmente é tão fácil agradar meu paladar inculto com uma garrafa de 17 reais, que me aterrorizo ante a possibilidade de só saciar milhas papilas pedantes com vinhos de safras nobres. Os taninos podem ser tiranos quando desvendados. Estamos ficando uma espécie cada dia mais exigente e sofisticada e eu devo admitir que adorei a tapioca com queijo brie, amêndoas torradas e geleia de damasco. Mas como as finanças não andam assim tão gourmet, vou vivendo feliz com minha velha bicicleta de alumínio, minha água mineral de galão e meu vinho de 17 mangos.  Alexandre Corrêa Lima é administrador de marketing e pesquisas, palestrante e escritor diletante. Escreve semanalmente para o portal Meon.


PODE COMPARAR, NENHUMA OUTRA RÁDIO TOCA TANTA MÚSICA COMO A ANTENA 1.



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