Metrópole Magazine - Maio de 2016 / Edição 15

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São José dos Campos, maio de 2016 | 1

www.meon.com.br

Maio de 2016 – Ano 2 – nº 15 – Distribuição gratuita*

Mulheres do tráfico

Nos últimos quinze anos a população carcerária feminina aumentou 567%, a maioria destas prisões relacionadas ao tráfico de drogas

POLÍTICA

ENTREVISTA

A professora Ana Abreu (PSB) fala sobre seu projeto de governo para Jacareí

Com uma participação ativa nas redes sociais, padre Fábio de Melo se transforma em um fenômeno na internet

pág. 14

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4 | Revista Metrópole – Edição 15

metr pole magazine

EDITORIAL

UM RETRATO COMPLETO

Diretora-executiva

Regina Laranjeira Baumann

Editor-chefe interino

Eduardo Pandeló

Editor

Adriano Pereira

Revisão

Luiza Paiva

Diretora Comercial

Denise Santos

Departamento Comercial

Alyne Proa Andresa Oliveira Carol Matos Fabiana Domingos Fabiana Silva Gabriela Agostini Tamara Carvalho

Henrique Macedo

Repórteres

Moisés Rosa

A Metrópole Magazine traz nesta edição um relato desenfeitado Rodrigo Ribeiro do que significa o extraordinário aumento no número de mulheres “víLuiza Paiva timas” do tráfico de drogas. Como adolescentes românticas se tornam Adriano Pereira Diagramação presidiárias que abandonam filhos a favor do amor bandido, que as QUEM CONHECE, CONHECE BDO Idelter Xavier conduz ao inferno dos presídios e da vida sem esperança. Uma das Big 5 Líder no middle market Deixar o mundo do crime depende de uma atitude. Ainda assim 21 escritórios no Brasil será difícil ver na vida pós-presídio uma alternativa digna, mesmo Audit | Tax | Advisory quando entidades se preocupam em apoiar essa difícil iniciativa,

como ocorre com o Conselho da Mulher Empreendedora que as acompanha desde quando ainda estão detidas, oferecendo suporte para superar o recomeço. O comportamento humano com olhar no coletivo, aliás, é um dos expoentes do novo século, diante da conscientização de que o Estado não é capaz de atender a demanda das necessidades às quais se propôs, nem mesmo nos principais setores.

Colaboradores

Marcus Alvarenga

Pedro Ivo Prates

Arte

Gabriel Gaia

Mídias Sociais

LP Virtual

Departamento Administrativo

Elzeane da Rocha Gabriela Oliveira Souza Maria José Souza Larissa Oliveira Roseli Laranjeira Tiragem auditada por:

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Tel (55 12) 3941 4262

www.bdobrazil.com.br Na busca de soluções práticas e efetivas, a troca de serviços ganha espaço entre pessoas que buscam experiências e alternativas nas transações comerciais, como mostra a matéria que aborda o “toma lá dá cá”, que está se alastrando pela região.

A importância de desvendar as atitudes e práticas dos moradores da RMVale encontra beleza nos esportes radicais e no sonho concretizado do engenheiro que ama aviões. Assuntos que retratam e engrandecem nossa região.

Metrópole Magazine Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 Jardim das Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 PABX (12) 3204-3333 Email: metropolemagazine@meon.com.br

A revista Metrópole Magazine é um produto do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição gratuita * Permitida venda em bancas por R$ 3,00

Boa leitura. Regina Laranjeira Baumann

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TURISMO A região tem destinos especiais para quem gosta de aventura.

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Sumário

ECONOMIA Em busca de aperfeiçoamento, profissionais da região buscam cursos fora do Brasil.

Divulgação

46

A Virada Cultural Paulista saiu de São José e foi para Taubaté. Confira a programação.

COMPORTAMENTO Sem usar dinheiro, grupo de São José cria uma rede colaborativa para a troca de serviços.

ENTREVISTA A professora Ana Abreu é a pré-candidata do PSB à Prefeitura de Jacareí. Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios de administrar a cidade.

MERCADO Profissionais liberais apostam na flexibilidade das regras de trabalho.

32 Pedro Ivo Prates

Drogas S/A Dados mostram que a população carcerária feminina aumentou 567% nos últimos 15 anos. A maioria das prisões está relacionada ao tráfico de drogas. Fomos ouvir dessas mulheres o que as levou para o crime.

7 10 12 50

26

Pedro Ivo Prates

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Pedro Ivo Prates

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CULTURA

18 Espaço do Leitor Aconteceu& Frases& Cultura&

64 68 70 74

PERFIL Padre Fábio de Melo conta como é ser um fenômeno nas redes sociais.

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POLÍTICA Divulgação

A Metrópole Magazine faz um balanço das promessas que não serão cumpridas pelos prefeitos das cidades da região. Desta vez, Jacareí é nossa fonte.

Gastronomia& Social& Arquitetura& Crônicas&Poesia


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Espaço do Leitor Edição 14 – Abril de 2016 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Feedback A edição de abril da Metrópole Magazine trouxe na capa um problema que afeta todo mundo sem deixar rastros. Ou melhor, nossos rastros na internet servem para empresas bem e mal intencionadas usarem comercialmente de uma forma quase invisível. Parece ficção científica, mas não é. Seus passos na internet valem dinheiro para empresas que querem vender produtos que possam te interessar. É nessa toada que seus dados são analisados e às vezes até vendidos para que você seja

transformado em um alvo publicitário. Mas a edição não se limitou ao assunto. Um dos destaques foi a visita da nossa editoria de cultura aos locais que resolveram se transformar em nichos de produção cultural independente. O cliente paga quanto e se quiser. Curioso é que na atual edição, conseguimos histórias que usam o mesmo conceito aplicado em áreas profissionais, ou seja, o mercado percebe que precisa mudar. Se você ficou curioso, não espere mais, aproveite a Metrópole Magazine deste mês.

Qualidade

Política

Cumprimento-os pela excelente qualidade e conteúdo das reportagens no nº 14 da Metrópole Magazine. Jornalismo de qualidade é o que o país mais precisa neste momento de turbulências. Vamos tocando em frente.

Caros amigos, fiquei muito satisfeito de saber que há profissionais como o Sr.Sebastião Cavali, que participarão da próxima corrida eleitoral para prefeito de São José. Motivado e entusiasmado, a reportagem voltou a me dar esperanças em ter a frente de nosso executivo um exemplo de profissional da mais alta competencia!

Nivaldo Marangoni, 63 anos, professor

Benedito Luiz Nogueira, 62 anos, aposentado

Envie email contendo: nome, idade e profissão para metropolemagazine@meon.com.br ou por correio para av. São João, 2375 - sl 2010 - Jardim das Colinas - São José dos Campos - SP - CEP: 12.242-000. Em função de espaço, as mensagens poderão ser resumidas.

facebook.com/portalmeon

metropolemagazine@meon.com.br

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Artigo& Divulgação

É hora de prevenir

C

aro leitor, neste artigo vamos falar sobre cuidados preventivos. Prevenir o que, se a morte é certa? Tem sentido pensar em viver sadio e morrer sadio? Sim, é claro. Há hábitos de risco, insensatos, que apressam o aparecimento da doença, da incapacidade, da dependência e outros que retardam seu aparecimento. A resultante desses cuidados é um aumento da possibilidade de usufruir cada fase da vida em sua plenitude. Não estou falando de ser jovem aos 80 anos, não, afinal aos 80 anos muitas reservas já se foram, mas se aos 80 anos eu puder viver minha vida com total independência e autonomia, já me dou por satisfeito. Alguns cuidados estão consagrados outros estão no campo da especulação, não dispõem de comprovação científica séria até o presente. •Alimentar-se bem, pouca quantidade, muita qualidade, com uma dieta rica em vegetais, colorida, bonita. Proteína animal na quantidade adequada para a fase da vida – mais na juventude, menos na velhice. •Exercícios físicos contra resistência, buscando a manutenção da força muscular •Atividade aeróbica por pelo menos 30 minutos por dia, como uma caminhada ou natação (leia ArchIntern Med2012 Sep 24; 172:1333) •Sono regular •Não fumar, se beber, que seja com moderação e, caso se exponha ao sol, use protetor solar.

Até aqui, garantimos o básico. Acontece que nosso conhecimento foi além e nos ensinou a tratar de questões que encurtariam nossa vida por motivos genéticos. Então, controlar a pressão arterial, a glicemia, o colesterol e o peso fazem uma grande diferença, ao reduzir complicações, principalmente no sistema cardiocirculatório. A definição de quais atividades preventivas são adequadas para você, e qual a frequência que devem ser monitoradas, é assunto para sua consulta periódica com seu médico. Quem faz esse trabalho, em geral é o ginecologista, para as mulheres em fase reprodutiva, o cardiologista, o urologista ou o clínico geral, para o homem e o clínico geral ou o geriatra, para o idoso. Outras questões que frequentemente vêm à baila quando falamos em prevenção são as terapias antioxidantes, as vitaminas, a reposição hormonal (estrógeno para as mulheres, testosterona para os homens), etc. Quanto aos antioxidantes, é disso que falamos quando orientamos em relação à alimentação, exercícios físicos, sono ou exposição solar. A reposição de antioxidantes com remédios, vitaminas e minerais, porém, não se justifica. Quanto aos hormônios, a reposição de estrógeno na mulher só é recomendada se o quadro vasomotor for demasiadamente intenso. Num estudo extenso (Women’s health initiative - WHI), observou-se que a reposição de estrógeno e progesterona conseguiu reduzir algumas doenças (fraturas,

câncer de cólon), mas aumentou outras (infarto do miocárdio, derrames, câncer de mama), aumentando a mortalidade geral. O estrógeno sem a progesterona também não conseguiu se justificar – há formas menos arriscadas de se evitar fraturas. No homem, discute-se se há justificativa para repor a testosterona se os níveis séricos forem baixos e as queixas principais do paciente forem relacionadas a essa deficiência hormonal (queixa de queda da libido, fraqueza muscular e fadiga). O consenso, por ora, é que essa reposição causa mais mal do que bem. Também não se recomenda a terapêutica hormonal para tratar depressão, baixa energia ou sintomas decorrentes do envelhecimento. A dihidroepiandrosterona (DHEA) vai pelo mesmo caminho, sem indicação para “tratar” o envelhecimento (leia N Engl J Med 2006 Oct 19; 355:1647-59). Como você vê, em saúde não adianta inventar moda. No próximo artigo, vamos falar um pouco mais sobre o WHI – imperdível. Até lá. Roberto Schoueri Jr é médico geriatra em São José dos Campos, trabalha no Hospital REGER e se interessa pelas questões mais comuns que ocorrem na velhice



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Aconteceu& Divulgação

Caminhos do impeachment

Divulgação

Mais uma vez o Meon acompanhou de perto o noticiário nacional atento aos acontecimentos que levaram ao início do processo de impeachmente da presidente Dilma Roussef (PT). A Câmara dos Deputados aprovou em 17 de abril o prosseguimento (admissibilidade) do processo de impeachment no Congresso. A vitória da oposição, que atingiu os 342 votos favoráveis, dimensiona o isolamento político da petista. Apesar de ter oferecido cargos em troca de vo-

tos, Dilma não conseguiu reunir os 172 apoios para travar o impedimento na Casa. A vitória da oposição foi comemorada nas cidades da região e nas ruas das principais capitais brasileiras logo após o plenário da Câmara dos Deputados ter referendado o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que recomendou o julgamento de Dilma no Senado pelo crime de responsabilidade. A sessão foi presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta das investigações da Operação Lava Jato. O processo foi recebido por Renan Calheiros

(PMDB) e está sendo analisado pelos senadores. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) já articula, junto de aliados, nomes para compor seu ministério em um eventual governo. Conforme decidiu o STF, Temer só assumirá o cargo após o Senado considerar a denúncia admissível e decidir que a presidente precisa ser afastada por até 180 dias, período no qual acontecerá o julgamento final da presidente pelos 81 senadores. A previsão é de que essa etapa do processo aconteça ainda este mês. O leitor do portal Meon terá as informações dia a dia em tempo real.

Vírus da gripe O mês de abril foi um mês de muita preocupação para a população das cidades da RMVale, Com a alta demanda de atendimentos referentes ao vírus da Gripe A H1N1, o governo do Estado de São Paulo redistribui o medicamento Tamiflu, usado no tratamento da doença, para as cidades do Vale do Paraíba. Com o surto do vírus as prefeituras adotaram o uso de máscaras respiratórias para os pacientes nas unidades hospitalares. A região está com mais de 60 casos suspeitos da doença e um caso confirmado. As igrejas da Diocese de São José dos Campos e Taubaté também entraram na campanha e estão orientando os fiéis a cuidarem da saúde. Religiosos de mais seis cidades adotaram medidas preventivas durante as missas para evitar o contato entre as pessoas e diminuir o risco de contaminação. A grande procura da população pela vacina contra a gripe fez com que os estoques se esgotassem em várias clínicas e hospitais particulares da região. Até a última semana de abril São José dos Campos reunia o maior número de casos da doença. Na região foram registradas mortes, causadas pelo vírus da gripe, nas cidades de Pindamonhangaba, Taubaté, Jacareí e Caçapava.


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Batalha cultural

Conquista A Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo notificou a FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo) de São José dos Campos para que desocupasse os prédios utilizados pelo órgão na antiga Tecelagem Parahyba, dentro do Parque da Cidade. O Estado é proprietário do complexo de prédios que compõem o imóvel da antiga tecelagem. Mas a mobilização da classe artística e da sociedade causou uma grande comoção, a informação se disseminou na internet. Uma semana depois da notificação uma conversa por telefone entre o prefeito Carlinhos Almeida e o governador Geraldo Alckmin, além das manifestações da população, fez com que o Governo do Estado voltasse atrás da decisão. A Tecelagem Parahyba agora é de São José dos Campos.

Curtas • As vendas do período de Páscoa registraram os piores índices em São José dos Campos. De acordo com balanço dos últimos relatórios da ACI (Associação Comercial e Industrial), os três últimos anos foram de quedas para os lojistas. Entre os produtos “encalhados” os tradicionais ovos de páscoa. • Uma menina rescém-nascida foi abandonada no dia 12 de abril no interior da igreja matriz de Santa Branca, na região central da cidade. A criança foi encontrada pelo diácono Paulo Pereira próximo ao altar. O bebê ainda estava com o cordão umbilical. • A internet definitivamente é palco para reações de posicionamentos políticos e ideológicos. No dia 20 de abril uma reportagem sobre a Marcela Temer, esposa do atual vice-presidente Michel Temer, publicado pela revista Veja, gerou uma grande repercussão nas redes sociais. O Meon acompanhou e repercussão na região e publicou uma galeria de fotos postadas por mulheres da região. Divulgação

A cultura da região sofreu vários ataques em abril, artistas, políticos e membros da sociedade travaram batalhas importantes, mas no final a arte saiu vitoriosa, o portal Meon acompanhou todos os fatos de perto. Literatura Autores e escritores da região assumiram a organização do “Festival da Mantiqueira”. O evento, que foi cancelado pelo Governo Estadual, ocorrerá neste ano entre os dias 17 e 19 de junho e foi rebatizado com o nome de “Festival da Mantiqueira - Literatura em Foco”. Diversidade Cultural Depois de muita polêmica e discussão, a Câmara de São José dos Campos aprovou o texto original do projeto que institui o Sistema Municipal de Cultura no Município com votação apertada, 11 votos favoráveis e 9 votos contrários.

Divulgação

Sem ampliação Divulgação

A Justiça federal anulou a licença concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para ampliação do Porto de São Sebastião, no litoral norte paulista. A decisão, publicada no Diário Eletrônico da Justiça Federal da 3ª Região, resulta de uma ação civil pública movida por Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público do Estado de São Paulo contra o Ibama e a Companhia Docas de São Sebastião, empresa estatal que administra o porto. A licença prévia para ampliação das instalações foi concedida pela agência ambiental federal em dezembro de 2013. Logo questionada judicialmente, a Companhia Docas de São Sebastião disse que vai recorrer da decisão e “reforça sua convicção quanto à qualidade e precisão do processo de licenciamento ambiental que envolveu o projeto.

• Morreu na madrugada do dia 21 de abril em São José dos Campos, o professor, historiador, radialista, cronista esportivo e jornalista Alberto de Souza Simões. O belenense estava internado desde 2012. Simões foi sepultado no Cemitério Municipal Padre Rodolfo Komorek.

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Frases&

Não concordo com o uso de dinheiro público para patrocinar uma caminhada gay

Vereador Luiz Mota (PSC), vereador de São José dos Campos sobre o termo “diversidade cultural” no plano municipal de cultura

Cantamos mais de 20 anos juntos. Ele desde os oito e eu desde os 12. Nunca me imaginei sem o Davy. Sonhos juntos, 24 horas por dia de convivência e somente coisas boas e momentos especiais para nós dois

Netho Alves, cantor, sobre o irmão Davy Alves, que foi encontrado morto no dia 13 de abril em Jacareí

A vida paralela, no mundo digital, não pode tomar conta da gente. Tem que saber dividir certinho o tempo Mariana Ferri d’Avila, nutricionista, sobre seu sucesso nas redes sociais


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Fotos: Divulgação

...nem o presidente e nenhum outro membro da casa vai levar essas cadeiras embora

Shakespeare Carvalho (PRB), vereador sobre a compra de novas cadeiras pela Câmara Municipal de São José dos Campos

Adriano Pereira

Cumprindo minha obrigação de fiscalizar, eu acolho a denúncia. Também fazendo julgamento político, não é o melhor governo. Espero também que o processo contra Cunha progrida

Deputado Flavinho (PSB) durante a votação do processo do Impeachment da presidente Dilma (PT)

No parque pode-se pisar na grama, dar milho para as galinhas, ouvir o ensaio da Orquestra e saborear acerolas deliciosas

Ângela Tornelli, 61 anos, Diretora Geral da AJFAC - sobre o Parque Vicentina Aranha


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ENTREVISTA

Contrariando a lógica Em Jacareí, professora Ana Abreu (PSB) confirma pré-candidatura Eduardo Pandeló SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Fotos: Pedro Ivo Prates

A

professora Ana Abreu e sua irmã Cláudia nos receberam na entrada da casa no Jardim Terras de Santa Helena, em Jacareí. Simpática, Ana Abreu estava descontraída e ao mesmo tempo confiante. A ampla residência cedida pela irmã ofereceu um ambiente acolhedor e familiar para a única mulher pré-candidata à Prefeitura de Jacareí. A família estava presente e foi tema que iniciou a conversa, antes da entrevista começar. Ana Abreu, 45 anos,

natural de Barra do Piraí (RJ), veio para Jacareí com um ano de idade. Ela é casada, mãe de três filhas, professora, pesquisadora, gestora pública e líder de movimentos pela qualidade da educação pública. Ex-subsecretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado de São Paulo, Ana é presidente do PSB de Jacareí e foi candidata a deputada estadual em 2014. Nessa entrevista à Metrópole Magazine, afirmou acreditar que as mulheres vão ocupar seu lugar na política, mesmo contra a lógica dos homens. É contra essa lógica que a Professora Ana Abreu (PSB) garante que vai disputar a eleição para Prefeitura de Jacareí, e nos conta o que pensa sobre os desafios da cidade. Como você entrou na política? O que me colocou na política foram meus ideais de mais de 25 anos na educação, colaborando com projetos de gestão, com grandes políticas públicas, mas na hora da deliberação do fazer, você não está. Então decidi disputar as eleições. Nunca militei partidariamente, me filei ao PSB em 2012 e me candidatei pela primeira vez à deputada estadual em 2014. Sou da carreira acadêmica e dentro da Universidade Federal em que atuo, vários colegas demoraram a acreditar que eu sairia candidata. Eu disse a eles: se é lá que se decide, nós precisamos ir pra lá. Assim, com conteúdo e com ideias interessantes, recebi o apoio do Márcio (França, vice-governador) que acompanhou essa campanha muito de perto,


São José dos Campos, maio de 2016 | 15

colaborando o tempo todo. Você nunca havia exercido um cargo público e se candidatou à deputada. Há espaço para novas candidaturas nas eleições? Foi um a campanha muito diferente. Eu gosto de contar não porque foi frágil, mas para mostrar que uma campanha nova tem espaço na sociedade. Fiz um investimento pessoal de três mil reais e nossa campanha totalizou trinta e cinco mil reais, mais o apoio do partido. Eu andei mais de 120 bairros de Jacareí e foi uma movimentação tão grande que eu tinha muita gente na rua, todos voluntários, não paguei ninguém para panfletar e fomos pra rua. E quando totalizamos 13.455 votos, foi uma grande surpresa, mas ao mesmo tempo uma confirmação. Fui a mais votada da oposição e não andei ao lado de outros políticos nem de lideranças consolidadas do Vale do Paraíba. Andei com donas de casa, comerciantes, professores, engenheiros e pessoas do cotidiano me credenciando nos bairros. Você assumiu uma pasta no governo do Estado. Como foi essa experiência? Depois das eleições, o Márcio França (PSB) me chamou e me convidou para assumir a subsecretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para mim foi um convite importante, um desafio ir para uma política macro estadual. Eu sempre disse que fazia parte da equipe do vice-governador, porque tenho críticas ao governador e ao PSDB, mas deixei muito claro que era o fortalecimento de um projeto do PSB e também uma experiência importante para uma gestora com intenção de ser candidata a prefeita no futuro. Foi uma experiência fantástica, porque a pasta (ciência e tecnologia) é vinculada a todas as universidades, parques tecnológicos, incubadoras e Fatecs, um universo que me emocionou muito. Sabe aquela vontade de gritar “gol” ao ver o quanto o brasileiro é bom, a tecnologia que ele faz,

Alckmin. Ele sabe de todos os movimentos políticos de Jacareí, primeiro porque tem minha interlocução, e eu tenho o privilégio de discutir com ele tudo isso.

“Os conservadores ousam dizer que uma mulher que não deu certo em não sei onde, não vai dar certo aqui. Essa é uma fala machista, porque toda vez que um homem não deu certo, ninguém disse que não ia mais votar em homem” as pesquisas etc? Isso não chega até a população, porque são conhecimentos que precisam de tempo para amadurecer. Dizem que você não sai candidata em função do acordo entre o PSB e o PSDB. Isso já está resolvido? O Márcio nunca falou comigo de qualquer possibilidade de definirem no governo o que vai acontecer em Jacareí. Mesmo assim eu perguntei. Disse a ele que nós temos um projeto, temos um grupo muito grande que é oposição ao PSDB e a condição para chegarem até mim era o fim da polarização, pois esse grupo não quer o PT e não quer o PSDB. Eu tenho que ser clara com esse grupo, porque se isso fosse mudar, seria prejudicial ao projeto. Então o Márcio me disse o seguinte: “Ana, você só não será candidata a prefeita se você não quiser.” O compromisso dele é com o governador e não com o PSDB, e se ele tiver que escolher, ele quer candidatos em todas as cidades que puder, porque o Márcio França (PSB) será candidato ao Governo do Estado. Ouso dizer que ele pensa muito mais em Jacareí do que o

Porque sempre a colocam nessa situação de coadjuvante na disputa eleitoral? Os conservadores ousam dizer que uma mulher que não deu certo em não sei onde, não vai dar certo aqui. Essa é uma fala machista, porque toda vez que um homem não deu certo, ninguém disse que não ia mais votar em homem. Enfim, ao mesmo tempo, tem uma filosofia da política tradicional diminuindo nossa pré-candidatura dizendo “ela vem de vice” e todos os outros pré-candidatos falaram de maneira unilateral, na perspectiva deles, que eu poderia ser a vice em uma chapa com eles. Começam a achar argumentos, talvez por eu ser mulher, talvez por não ter sido eleita antes, talvez por representar essa inovação que as urnas mostraram. Eu tenho ouvido muito assim também: “Ana, não é a sua vez. A vez é de quem começou em 2012”. Já pensou se eu tivesse que ir para algo desde que alguém me credencie dizendo: é a sua vez? Eu não teria feito mestrado e doutorado. Isso também é um movimento de opressão. Eu sei que também é o preço por eu ser uma candidata feminina. Jacareí não tem segundo turno. Muitos partidos falam em unir a oposição em torno de um candidato, porque isso é tão difícil? Eu conversei com quase todos os presidentes de partido e disse: vamos nos unir, vamos discutir Jacareí, e o mais forte sai majoritário na próxima eleição. Vieram conosco partidos menores, como PPS, PTC e PTN que não têm majoritário. O que vai unir a oposição não é uma pessoa, é um projeto. Se a gente tem um projeto comum, fica mais fácil. Ninguém, nenhum partido, me chamou


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muito mal. Então, um profissional que lida com conhecimento, em seu próprio plano, não tem uma gratificação para estudar? É o plano de carreira mais incoerente do Brasil. Sou especialista nisso e nunca vi uma coisa dessa. Se eu tiver que apontar, a primeira questão que vamos mexer é certamente a valorização dos profissionais da educação. É a primeira porque é ela a maior responsável pela qualidade do processo.

para construir esse projeto. Eu não quero sair candidata porque eu acho que tenho que ser prefeita, mas como eu posso me aliar a outro pré-candidato, se eu não sei qual é o projeto? Eu não posso ficar ao lado de uma pessoa que não vai construir o projeto que eu acredito, pessoas que não abrem diálogo, que tentam evidenciar algo menor em relação a uma mulher, pois que é isso que eu represento: uma mulher, uma professora, uma mãe, simplesmente pelo fato de se achar mais preparado. Hoje eu sou maior do que fui em 2014 porque continuamos a ir para rua, tivemos visibilidade. O Márcio me colocou numa vitrine importante, meu nome se tornou mais conhecido, mas em nenhum momento eu evitei a construção de um projeto. O que não vou permitir enquanto líder, é me sujeitar a entrar num grupo que tem um projeto que eu não acredito. Não seria ético!

Como professora, como pretende administrar a educação em Jacareí ? Eu tenho mais experiência em gestão do que em docência. A municipalização em Jacareí no final da década de 90 foi eu que liderei com um grupo bastante progressista. Tínhamos cerca de 100 unidades, as creches eram referência, não eram terceirizadas, nós tínhamos um padrão de qualidade altíssimo. A verba da educação é significativa são 25 % da arrecadação e precisa ser bem administrada. A prefeitura está muito ligada a essa gestão, que precisa de um olhar não só administrativo, mas orçamentário, humano e de materiais, e eu creio que tenho essa habilidade. Uma ação política que precisa ser realizada é o plano de carreira dos professores. Nós não temos, por exemplo, um incentivo para que o professor faça uma pós-graduação, e um professor ganha

E a questão das creches? Jacareí tem um problema de creches. Temos uma demanda maior do que a oferta. Precisamos de um plano diretor, que não temos, e que dê capacidade de dizer onde estão as crianças para gestar núcleos pequenos. Precisamos com urgência estabelecer integração e diálogo entre as escolas municipais e estaduais, que não existe em função de uma política segregada. A gente precisa, e eu tenho uma meta aí, inaugurar muitas creches e vamos usar de todos os recursos administrativos: terceirizadas podem contribuir criando viabilidade administrativa, então vamos rever os contratos e garantir a qualidade. Vamos implantar o modelo de creche comunitária, que é muito importante já que responsabiliza a comunidade para que ela possa fazer parte do cuidado de suas próprias crianças e com a participação das mães. Não houve avanços? E os Educamais devem continuar? O diálogo não existe. O Plano de Carreira é embrionário, o Plano Municipal de Educação é frágil, com ações ligadas à tecnologia. Por exemplo, os professores ganharam notebook que não funciona, existe uma plataforma de conteúdo e na maioria das escolas não tem acesso à internet. É necessário reconhecer a importância do conhecimento e do movimento virtual entre as escolas e criar um grande centro de informações


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que possa gestar o desenvolvimento dos alunos. O Educamais é ótimo. Enquanto prédio, é interessante, mas precisa estar interligado com a educação básica que não comporta atividades soltas. Isso para mim é um problema jurídico, pois a prefeitura comprou vários clubes, utilizando verba que era da educação básica e oferece atividades semanais. Precisamos de um trabalho de aprofundamento no desenvolvimento com as crianças. Agora, quando a prefeitura fatia e dá 50 minutos de atividades por semana, fragiliza a qualidade e age de forma eleitoreira porque tem um alcance de número de pessoas atendidas muito maior. Eu acredito na escola de tempo integral. Transformar o Educamais em um projeto de estudo em período integral é uma ideia que precisa ser discutida com a sociedade. As políticas de distribuição de uniformes e kits escolares, devem continuar? Sou a favor, é importante. Só não acho importante a metodologia da entrega, onde se mostra o oprimido e o opressor. O uniforme é como lápis, quem tem que entregar é a professora. Não tem que ter ritual para mostrar a classe desfavorecida que precisa de um uniforme. Então, todas as condições são importantes: o transporte, a merenda, o uniforme, o material, as condições e o espaço físico ventilado, limpo e iluminado. Um político não tem que ir à escola para entregar nada porque, na realidade, isso quem está comprando é a população. Precisamos mudar essa coisa de mostrar o que estou dando, porque ninguém dá nada. É uma contribuição que a população já pagou. Isso me incomoda profundamente: o uso da criança, da emoção e dos pais dos alunos para fazer política eleitoreira. A saúde em Jacareí ainda precisa de investimentos. Como resolver a questão? A saúde é cara, com investimento de 15%

“Eu tenho ouvido muito assim também: ‘Ana, não é a sua vez. A vez é de quem começou em 2012’. Já pensou se eu tivesse que ir para algo desde que alguém me credencie dizendo: é a sua vez? Eu não teria feito mestrado e doutorado. Isso também é um movimento de opressão. Eu sei que é o preço por eu ser uma candidata”feminina” do orçamento e ainda assim é sempre menor do que o necessário. Mas temos um problema de gestão, o desafio é pontuar e resolver os problemas para se aproximar do modelo ideal de saúde pública. Jacareí foi criando um distanciamento, a Santa Casa recebeu uma intervenção no ano 2000, a prefeitura pegou a gestão e a coisa ficou pior. Só que a prefeitura não devolve e não dá conta de administrar. Depois de tanto tempo, a soma da dívida chegou a 40 milhões. Hoje temos uma Santa Casa com todos os problemas de gestão, compra-se o lençol e o lençol some, compra-se um colchão e ele some. Todas as camas são enferrujadas, os equipamentos velhos não funcionam, há um descontrole total. Eu tenho no meu grupo pessoas com bastante capacidade de gestão hospitalar e acredito que o prefeito pode até não saber tudo, mas precisa estar cercado de pessoas que saibam tudo. Penso que um plano para a saúde de Jacareí precisa ter uma interlocução

com os profissionais de saúde. Perdemos muitos médicos de grande qualidade que saíram porque não conseguiram ser ouvidos pela administração municipal. Precisamos ouvir os médicos e descentralizar a saúde. A saúde da família é uma saída, porque ela é preventiva, circula os bairros, chega onde tem que chegar, porém ela não tem núcleos em todos os lugares de Jacareí, nós vamos potencializar o PSF. A saúde passa por dificuldades e não só em Jacareí. O SUS é um ganho para o Brasil, mas é algo que demanda um investimento de longo prazo. Tenho conversado muito com o Márcio e disse a ele que é indigna hoje a situação causada pela falta de responsabilidade da administração municipal. O vicegovernador nos apontou que será uma prioridade dele contribuir com Jacareí na construção de um hospital municipal de 220 leitos, que é o mínimo exigido pela lei. Porque você quer ser prefeita de Jacareí? Eu quero ser prefeita porque me sinto capaz de contribuir e transformar a vida de muitas pessoas. Me sinto capaz de deixar uma cidade mais amorosa e mais cuidada. O que me coloca na política é a vontade de melhorar a vida das pessoas. É poético, mas é duro ao mesmo tempo, porque melhorar a vida é dar dignidade dentro da Santa Casa, dar as mesmas condições para um aluno da rede pública dadas a um aluno da rede particular. Eu quero e tenho certeza que minha gestão será um marco em Jacareí. Uma mulher à frente da prefeitura. Uma mulher cuidadora e preparada, até porque eu não pego nada que eu não dê conta. Tenho amor por essa terra, aqui tem pessoas que merecem meu respeito. Não é fácil virar vitrine de invasões e opiniões, quando penso nisso vejo que meu amor por Jacareí me trouxe até aqui. Não é paixão, porque paixão passa, é amor mesm0. 


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NOTÍCIAS POLÍTICA

Sem recurso para cumprir promessas Veja o que ainda poderá ser entregue e o que não será cumprido pelo prefeito Hamilton Motta (PT) em Jacareí Eduardo Pandeló SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

G

overnantes eleitos são reféns das promessas de campanha expressas nos Planos de Governo. Propostas que não cabem no orçamento acabam abandonadas ou esquecidas pelos prefeitos e resultam em

frustração para a população. Por outro lado, a clareza com os dilemas e as restrições existentes garantiria mais tranquilidade para o enfrentamento dos desafios causados pela queda na arrecadação dos municípios. Não podemos desprezar a dificuldade que os prefeitos enfrentaram ao longo dos últimos dois anos, causados pela deterioração da economia, fator que será

tema nas eleições pois impõe para os próximos prefeitos situação ainda mais difícil, porém não podemos esquecer que foram as promessas de campanha que influenciaram a decisão dos eleitores. A escolha por negar as restrições do orçamento e rechear a proposta de governo com promessas inexequíveis no prazo de um mandato é comum nas prefeituras das cidades da RMVale. A Metrópole


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As promessas de melhorias no sistema viário seriam as soluçõe para os problemas de trânsito em Jacareí

Magazine segue na avaliação dos Planos de Governo para mostrar o que não vai sair do papel na cidade de Jacareí O então prefeito Hamilton Ribeiro Mota, em busca da reeleição, registrou seu Programa de Governo e fez ampla divulgação com impressos que foram distribuídos entre os eleitores durante a campanha eleitoral de 2012. O programa possui 110 itens divididos em diversas áreas, com propostas para Saúde, Educação, Assistência Social e Cidadania, Infraestrutura, Meio Ambiente, Saneamento, Cultura, Esportes e Recreação, Desenvolvimento Econômico e Habitação. A proposta prometia várias obras com construções, reformas e ampliações, sem detalhar de onde viriam os recursos, deixando a entender que a prefeitura de Jacareí teria capacidade de realizar todas as obras durante o novo mandato. Da lista de propostas do prefeito de

Jacareí, apresentamos as que não serão cumpridas totalmente até o final do ano.

Saúde Entre as diversas promessas para o setor de saúde, a construção do pronto-socorro municipal é a principal delas. Em obras, a prefeitura garante que a inauguração ocorrerá ainda este ano, mas não definiu uma data. A questão é se os primeiros atendimentos à população ocorrerão ainda este ano. Neste caso, a complexidade da obra até pode ser uma justificativa para que não seja entregue à população, entretanto, a promessa da Implantação da Central de Imunização e Centro de Controle de Vetores espera há quatro anos para sair do papel. Questionada por nossa reportagem, a prefeitura informou que a Central só será implantada após a inauguração do pronto-socorro municipal e, na resposta, a justificativa foi a seguinte:

“pretendemos adequar parte do prédio da UPA Infantil, na região central da cidade, para ser a Central de Imunização”. A construção do Caps I - Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil, expressa na proposta do prefeito Hamilton (PT), não se concretizou. A comunicação da prefeitura não informou o motivo para a desistência desse projeto. Ao invés de construir uma unidade para o Caps I, a administração decidiu alugar um prédio, mas não informou o endereço da unidade. O Programa Saúde da Família (PSF) é uma importante ação para prevenção de doenças e tem papel importante na saúde de Jacareí. Segundo a prefeitura, são 43 equipes e 16 unidades de atendimento básico, atingindo cerca de 70% da população do município. Cada equipe é formada por um médico generalista, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde. As UMSF-Unidades Municipais de Saúde da


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Família dão suporte a esse atendimento. A promessa de campanha era implementar essas unidades nos bairros do Parque Imperial, do Rio Comprido e do Jardim Emília, Jardim Flórida, Terras da Conceição e Vila Machado. Segundo informações da prefeitura, todos esses bairros, exceto o Jardim Flórida, “já são contemplados com o Programa Saúde da Família”. Mas, a promessa era implementar as UMSFs e, no site da prefeitura, não encontramos as unidades dos bairros Jardim Flórida, Terras da Conceição e Vila Machado.

Prédio do Educamais abriga o Centro de Convivência do Idoso

Mobilidade As promessas de melhorias no sistema viário seriam a solução para os problemas de trânsito em Jacareí, porém as principais obras sequer foram iniciadas e entram para a lista como a principal decepção para os eleitores do prefeito. Isso porque o município não têm recursos próprios para efetivar o compromisso assumido. A prefeitura admite que depende da obtenção de recursos financeiros ou de liberação de verbas do Governo Federal. O fato é que essas obras definitivamente não serão entregues à população até o final desse mandato. Obras importantes que estão “aguardando a obtenção de recursos”, como a continuação da avenida Davi Lino até o Parque Meia-Lua, fazendo a interligação até o Jardim Limoeiro, em São José dos Campos, e do outro lado da região do Campo Grande, em direção à rodovia Carvalho Pinto, e a construção da terceira ponte sobre o Rio Paraíba, fazendo a ligação da avenida Malek Assad com a Castelo Branco, são promessas que não serão cumpridas. Também não serão entregues até 31 de dezembro as obras de recapeamento, drenagem e paisagismo nas avenidas Lucas Nogueira Garcez e Humberto de Alencar Castello Branco – com implantação de ciclovias. A prefeitura informou que está licitando o recapeamento

do trecho entre a Sta. Cruz dos Lázaros e EducaMais Esperança, mas destacou em sua resposta que “o início do serviço está condicionado à liberação de recursos do Governo Federal”. A prefeitura fechou parceria com uma empresa privada para fazer a ligação da avenida Pensilvânia com a avenida Lucas Nogueira Garcez, no sentido Via Dutra, na região do Esperança, mas a construção de marginais na via Dutra entre os km 158 e 162 - Parque Meia-Lua e a estrada Biagino Chieffi - ainda dependem de negociação com a concessionária da rodovia federal. Somente parte das obras da Biagino Chieffi foram executadas em parceria com o governo estadual.

Assistência Social O Programa de Governo do prefeito Hamilton Mota (PT) também trazia promessas de mais investimentos na descentralização da prestação de serviços sociais com a construção de novas unidades do CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), uma na região sul no

bairro do Santo Antonio da Boa Vista, e outro na região oeste no Igarapés. Para a região sul, a prefeitura mudou de planos. Ao invés de construir no Santo Antonio da Boa Vista, executou a construção de um prédio às margens da rodovia Nilo Máximo, no bairro Novo Amanhecer, que atenderá toda a região e está em obras. A nova promessa da administração municipal diz que “a previsão é que seja concluída em outubro deste ano”, segundo resposta da Secretaria de Comunicação. Já a região oeste da cidade ficará a ver navios. A construção do CRAS do Igarapés está adiada por tempo indeterminado, pois segundo a prefeitura, também está aguardando obtenção de recursos, mais uma ação do Programa de Governo que não será cumprido pelo prefeito. Dois outros serviços essenciais para a população jacareiense atingem diretamente crianças, idosos e adolescentes: a promessa de ampliação e melhoria do atendimento no abrigo para crianças ainda não se tornou realidade depois de três


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anos e meio de mandato. Em reposta a nossa reportagem, a prefeitura, através da secretaria de comunicação, informou que o abrigo mudará de espaço neste mês*, mas não informou onde será o novo local e nem quais serão as melhorias. A mensagem destacava apenas que a mudança ocorre “para atender melhor à demanda”. Também a ampliação e descentralização dos serviços e atividades oferecidos ao idoso (Viva Vida) e aos jovens (Centro da Juventude) nas regiões Oeste, Leste e Sul foi adaptada. Sem especificar de que forma pretendia ampliar os serviços nas três regiões e para conseguir cumprir, em parte, a promessa de campanha, a Prefeitura utilizou de outros meios. O atendimento a pessoas com mais de 60 anos foi transferido para o EducaMais Jacareí, no Centro de Convivência do Idoso. Já o atendimento a jovens foi descentralizado e atualmente é feito no Ceju (Centro da Juventude) e nos CRAS.

Meio Ambiente As questões ambientais também ganharam destaque no Plano de Governo e, entre as promessas, temas de suma importância para a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente, questões ligadas ao tratamento do lixo e a reciclagem ganharam destaque. Na proposta é citada a construção do Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTR), uma unidade que incluiria a reciclagem, o tratamento e destinação adequada para cada tipo de lixo do hospitalar ao eletrônico. O CTR ainda não foi entregue e, segundo a administração municipal, “está em implantação”, fruto de um contrato de concessão assinado em janeiro de 2010 e válido por 20 anos. Eles garantiriam investimentos de mais de R$ 38 milhões por parte da concessionária, inclusive a implantação do CTR. Ainda segundo a prefeitura, a Usina de Reciclagem e o tratamento do lixo hospitalar estão implantados. Os parques lineares que seriam criados para a formação dos corredores

ecológicos, também ficam para a próxima gestão, tendo em vista a restrição orçamentária do município. Os parques lineares visam ampliar progressivamente as áreas verdes das cidades, além de oferecerem espaços de lazer para a comunidade do entorno. Sem verbas para transformar tudo isso em realidade, restou à administração adaptar o projeto. A proposta do Plano de Governo previa a criação desses parques no leito dos trilhos da estrada de ferro, no Campo Grande, ao redor do Turi, na altura do Jardim Paraíso, às margens do córrego do Tanquinho, no Parque Imperial, nas áreas verdes do Santa Marina, às margens do rio Paraíba e no Jardim Paraíba ao longo do córrego do Guatinga e do rio Comprido, na divisa com São José dos Campos. Segundo a informações enviadas pela prefeitura, o Parque Linear do Campo Grande está com o projeto executado e licitado, porém as obras não foram iniciadas por restrição orçamentária. “No Parque Imperial, a área foi reurbanizada. As demais áreas passaram por intervenção como limpeza e manutenção regular”.

Juízo Final O prefeito é o administrador direto da cidade, ele tem deveres e restrições, porém seu Plano de Governo, apresentado ainda na época das eleições, não pode trazer propostas baseadas em recursos que não existem no orçamento da cidade. O cidadão precisa estar atento e a sociedade tem o direito de cobrar do prefeito o cumprimento das promessas e propostas apresentadas quando ele era apenas candidato ao cargo. Sabemos que as propostas de um Plano de Governo são muitas e variadas e até podem ser modificadas. Se nos programas de governo constam soluções para todos os problemas, caberá somente ao eleitor ajuizar se o que foi realizado pode superar aquilo que não será entregue ao final do mandato. 


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NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Go vegan! Muito mais que uma dieta, o veganismo é uma ideologia de vida que ganha mais adeptos Idelter Xavier SÃO JOSÉ DO0S CAMPOS

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ada vez mais se ouve falar dos veganos, pessoas que além de não comerem nenhum tipo de carne, também não consomem ovos e derivados do leite. O que poucos sabem é que o veganismo vai muito além de uma dieta vegetariana, ele é considerado uma cultura, uma verdadeira ideologia de vida. Os adeptos do veganismo, além de não comerem carne de nenhum tipo ou cor, também não consomem leites,

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queijos, ovos, mel, banha, manteiga e nenhum outro alimento proveniente de animais. Porém, o estilo de vida vegano não abrange apenas a dieta da pessoa, mas também seu vestuário, os tipos de cosméticos que compra, os produtos de limpeza que utiliza em sua casa e até os locais que frequenta. Um vegano não utiliza roupas de couro, seda ou lã. Ele não usa nenhum tipo de xampu, sabonete, maquiagem ou produtos de limpeza que sejam testados em animais ou que contenha alguma substância proveniente deles, como a glicerina animal ou cera de abelha.

Além disso, não frequenta nem apoia nenhum estabelecimento que utiliza animais como entretenimento, como rodeios, touradas, circos, aquários, zoológicos e outros. “O veganismo é uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade com animais, seja para alimentação, vestuário ou qualquer outra finalidade”. Essa é a definição dada pela The Vegan Society, instituição que criou o termo ‘Vegan’, fundada em 1944, no Reino Unido. Para a taubateana Maria Luiza Hirai Simões, técnica em química, de 22 anos, o veganismo é uma realidade em sua vida há seis anos. A escolha aconteceu pouco mais de um ano após se tornar vegetariana, em fevereiro de 2009. “Depois de adotar uma dieta vegetariana, pesquisei muito sobre exploração animal. Assisti muitos documentários, como ‘A Carne


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é Fraca’, ‘Não Matarás’ e ‘Uma Verdade Mais que Inconveniente’. Depois de ler, ver e escutar alguns amigos, decidi adotar esse estilo de vida”, afirma. Apesar da dieta alimentar de um vegano ser restrita, Maria afirma que só após virar adepta da ideologia vegana que ela começou a se preocupar de verdade com sua alimentação e que isso teve um impacto positivo em sua saúde e em sua vida de forma geral. “Além de ter uma vida mais saudável, eu me tornei uma pessoa que gosta de estudar, buscar respostas, entender como funcionam as coisas. Eu digo isso, pois é necessário pesquisar muito e estar sempre atento a novidades sobre nutrição. Na verdade, recomendaria isso a todos, sendo veganos ou onívoros”, diz Maria. No caso da joseense, designer e instrutora de línguas Carolina Maia de Souza Almeida, de 27 anos, a iniciativa de virar vegetariana começou ainda criança. “Quando criança eu nunca fui

muito fã de carne, elas todas pareciam crescer muito na minha boca, como uma esponja, não conseguia mastigar, e vez ou outra acabava cuspindo. Quando eu tinha nove anos minha mãe ainda era vegetariana e foi quando tomei consciência de que ela não comia carne, então resolvi que também não queria mais, com o pretexto de que se ela não comia, não devia ser assim tão importante quanto dizem”, afirma. “Mas, como toda criança, eu adorava nuggets, hambúrgueres e todas essas ‘porcarias’ a base de carne. Dos nove aos 13 anos comia apenas embutidos e outras coisas do tipo. Aos 13, com uma consciência um pouco melhor em relação a origem da carne, deixei de consumir - como costumo brincar - tudo que tem ou já teve olhos um dia”, diz Carolina. Apesar de não comer carnes, Carolina afirma que nunca deixou de consumir ovos, leite e seus derivados, como queijo

e iogurte, mesmo sabendo que muitas empresas exploram muito os animais no processo de extração dos produtos. “Nunca fui vegana e nunca tive a intenção de ser. Acho um movimento sensacional, mas não tenho força de vontade o suficiente, ou seja lá como queira chamar, pra isso. Acho até um certo egoísmo da minha parte dizer que não consigo parar de beber leite ou comer queijo, mas não me alimento tão bem e esses alimentos são uma grande fonte de proteínas pra mim, além de gostar bastante. Agora, em relação a produtos, procuro sempre me informar e usar marcas que não testem em animais, não desmatem e toda essa coisa politicamente correta que dou muito valor”, afirma a designer.

Exploração animal A ideologia vegana considera que as pessoas que decidem apenas não comer mais nenhum tipo de carne, acreditando estar salvando os animais, cometem um


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Pedro Ivo Prates

grande equívoco. Tendo em vista a grande exploração dos animais na indústria, eles já nascem predestinados à morte, tendo suas energias exaustivamente sugadas por toda a vida. Uma vaca leiteira, por exemplo, é inseminada artificialmente a sua vida inteira, pois quando não há filhotes não há leite. Os bezerros são levados para longe da mãe logo após o parto e abatidos com três meses de idade, para serem comercializados como ‘baby beef’. Além disso, após oito ou dez anos a vaca é morta pelo simples fato de não render mais tantos litros de leite como uma mais nova. No caso das galinhas, que naturalmente botam ovos, a exploração é ainda maior. Assim que nascem elas têm seus bicos arrancados sem anestesia, para não se bicarem em casos de extremo estresse, algo que já é previsível que passarão em suas vidas. Previsível, pois elas passam toda sua existência dividindo gaiolas de 0,2 m² com até oito aves dentro, sem poder caminhar ou ver a luz do sol.

Saúde A grande dúvida que assola tanto o vegetarianismo como o veganismo é a questão de conseguir manter uma alimentação saudável. Afinal de contas, é possível um vegano levar uma vida com a mesma saúde e disposição de uma pessoa que se alimenta de carne e dos derivados do leite e do ovo? De acordo com a nutricionista Sheila Maria Costa e Castro, de São José dos Campos, é possível manter uma dieta equilibrada sendo vegano. “De uma maneira geral, a dieta que melhor atende às necessidades humanas é aquela que inclui todos os alimentos naturais. A razão disso é que nossa demanda de nutrientes é muito ampla, requerendo uma maior diversidade de alimentos, para que todos os processos corporais sejam atendidos”, afirma. “Com planejamento e um adequado

Maria Luiza é vegana há seis anos e esbanja saúde, disputando campeonatos de muay thai e kickboxing

conhecimento a respeito das nossas necessidades nutricionais, é perfeitamente possível manter o equilíbrio da dieta, mesmo sem a inclusão de alimentos de origem animal. Os maiores desafios para uma pessoa que decide tornar-se vegana dizem respeito ao conteúdo de proteínas, vitamina B12 e ferro, mas que podem ser superados com alguns cuidados básicos. As carnes, ovos e laticínios, tão citados como ótimas fontes de proteínas, podem ser substituídos por leguminosas, que são os grãos que dão em vagens, como feijão, ervilha, lentilha, soja e grão de bico”, diz a nutricionista. Apesar de possível, é sempre importante se informar bem antes de adotar qualquer tipo de dieta. “Adotar uma dieta vegana antes de conhecer as suas peculiaridades, certamente pode trazer prejuízos à saúde. Doenças como

anemia por deficiência de ferro ou vitamina B12 e a insuficiente ingestão de proteínas de alto valor biológico, podem abalar a saúde como um todo. Porém, com o necessário conhecimento sobre os alimentos e orientação de um nutricionista, é perfeitamente possível eliminar do cardápio os alimentos de origem animal, mantendo boa saúde por toda a vida”, conclui Sheila. Com relação à disposição e energia, Maria Luiza deixa bem claro que pratica esportes e leva uma vida muito ativa, como qualquer outra pessoa. “Hoje eu pratico duas modalidades de luta, o muay thai e o kickboxing. Já competi três vezes e levo com orgulho a bandeira vegana. É bom mostrar para as pessoas que não se alimentar de animais e seus derivados não é sinônimo de fraqueza, ao contrário, somos muito mais fortes do que parece”, conclui. 



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NOTÍCIAS ECONOMIA

‘Bater cartão’ nunca mais! Brasileiros querem mais flexibilidade nas relações trabalhistas mesmo sem ‘registro’ Rodrigo Ribeiro SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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or que tenho que ter um horário definido ou estar na empresa para trabalhar? Esses são alguns dos desejos de boa parte dos brasileiros que não querem mais “bater o cartão”, segundo uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). De acordo com o levantamento, divulgado em março deste ano, os trabalhadores querem ter mais opções para a rotina e, para isso, estão sujeitos até mesmo a uma flexibilização em regras trabalhistas. Neste cenário, aparecem as opções de home office - quando o trabalhador atua na própria residência - e locais como os de coworking - espaço compartilhado por profissionais de diferentes áreas. Das 2.008 pessoas entrevistadas, em 140 cidades, 71% delas gostariam de adequar o horário de trabalho às próprias necessidades. Claro que essa possibilidade, assim como as outras destacadas na pesquisa, tende a acontecer mais com determinadas profissões, ramos de atuação e de acordo com o vínculo empregatício. Segundo a pesquisa, apenas 38% dos trabalhadores do mercado formal, aqueles que têm carteira assinada, afirmam ter essa flexibilidade nos horários,

contra 76% dos trabalhadores em atividades informais. De acordo com o levantamento, 73% dos entrevistados desejam trabalhar em home office ou num ambiente alternativo à sede da empresa. No entanto, esse desejo atualmente, também é usufruído mais pelos autônomos ou prestadores de serviços (74%). Apenas 42% dos empregados do mercado formal possuem essa possibilidade. O joseense Gabriel de Siqueira Domingues, de 26 anos, possui carteira assinada e trabalha em casa. “Foi um acordo de ambas as partes, vimos que eu não tinha a necessidade de ir ao escritório. Quando precisamos nos falar, marcamos uma reunião presencial ou fazemos por videoconferência”, conta o publicitário. “Funciona como se eu estivesse trabalhando na empresa. Todos os dias sigo um cronograma do que tenho que fazer, como algumas artes, responder alguns e-mails dos clientes, marcar reuniões e programar as viagens para a realização dos eventos”, completa Domingues, que atua no setor de marketing e produção de eventos de uma empresa. O publicitário garante que trabalha melhor em casa e que prefere essa opção. “Consigo sim [cumprir as obrigações trabalhando em casa] e, para falar a verdade, meu dia rende bem mais. Não gosto de ter uma rotina, isso foi o que mais me atrapalhou quando trabalhava em


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Fotos: Pedro Ivo Prates

Os coworkings são uma alternativa à sede da empresa e, em alguns casos, mais dinâmicos que o home office

outras empresas”, comenta Domingues. Também em março e um pouco antes da pesquisa ser divulgada, o TCESP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) regulamentou o home office em caráter experimental por 90 dias. A Corte já trata a opção como uma modalidade de trabalho, que será implantada como projeto piloto pela presidência do órgão, que irá acompanhar as atividades e resultados obtidos. De acordo com o TCESP, os servidores que possuem mais de três anos de efetivo exercício poderão desempenhar suas atividades à distância. Além do home office, a presença do coworking também vem aumentando. O local é outra alternativa para quem deseja mais flexibilidade no emprego e, em alguns casos, possui um ambiente mais dinâmico se comparado ao trabalho em casa. Na RMVale existem três locais do tipo, em São José dos Campos - o primeiro da região -, Taubaté e Jacareí. “Também há locais que são ocupados por diferentes profissionais e empresas, mas que possuem divisórias e salas separadas, o que não se enquadra em coworking”, explica a arquiteta e responsável pelo projeto de São José, Daniela Asdente. Segundo Daniela, o novo modelo de local de trabalho precisou quebrar paradigmas para dar certo. “Criamos há dois anos e no começo foi difícil, a pessoa quer ver uma placa do negócio dela na fachada e isso não existe no coworking. Foi uma mudança cultural, no primeiro ano o negócio não se pagava, mas neste ano já está sustentável”, conta. No local, o cliente pode usar desde uma diária, que custa R$ 15 a hora, ou fechar um pacote mensal, que para uma estação custa a partir de R$ 790 - podendo diminuir o valor se mais pessoas aderirem - e para uma sala, normalmente usada por empresas, para até oito pessoas, de R$ 2.500 a R$ 4 mil. Também há possibilidade de usar o coworking para


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tempo. Mas esta flexibilidade já vem da empresa que trabalho. Em nossa matriz, os funcionários que moram longe têm flexibilidade de horário e ajuda bastante, principalmente para evitar horários de pico no trânsito”, conta Bastos, revelando uma ação que também apareceu na pesquisa da CNI. De acordo com o levantamento, 58% dos entrevistados gostariam de reduzir o intervalo de almoço e sair mais cedo para, por exemplo, evitar o horário de pico no trânsito. Outros 63% aceitam trabalhar mais horas por dia para poder tirar folgas.

Daniela Asdente, arquiteta e responsável pelo coworking de São José

Outros dados

reuniões e eventos. “Nesses valores já estão inclusos a limpeza, internet, café, secretária etc. O cliente ainda pode usar o nosso endereço como sendo o do negócio dele. Aqui é pré-pago, você paga e usa”, completa Daniela. De acordo com a arquiteta, o modelo é uma tendência. “As empresas querem flexibilidade e têm interesse pela área de inovação. Num coworking elas ‘veem’ o que as outras empresas e profissionais estão planejando, pensando etc”, diz. De acordo com Daniela, flexibilidade, networking, custo benefício e complementos de habilidades, são as palavras-chave do coworking. “Temos aqui empresas, advogados, profissionais do setor da economia criativa e logística, produtor de conteúdo, jornalista, engenheiro, programador, representantes de empresa, etc. Um engravatado senta ao lado de um designer todo tatuado e fazem parcerias”, afirma.

Obviamente, a arquiteta prefere o coworking ao home office. “Tem a questão social do autônomo. No home office a pessoa não interage, o ambiente não favorece e há o preconceito por se trabalhar em casa. Aqui é mais respeitado socialmente”, conclui Daniela. Atualmente, em São Paulo, por exemplo, existem cerca de 270 coworkings. O morador de São José, Rodrigo Bastos, de 36 anos, possui carteira assinada e utiliza o local. “A empresa que escolheu. No começo foi home office, depois optamos por esse modelo pra ser mais formal, ter um endereço”, conta o executivo de contas de uma empresa que tem sede em São Paulo. “A vantagem é ter uma opção com mais tranquilidade para trabalhar e fazer uma reunião. Quem trabalha home office é difícil marcar um lugar para isso. Uma padaria, por exemplo, nem sempre é propício para o negócio”, completa. “Hoje, faço a administração do meu

Segundo a pesquisa, 53% dos trabalhadores gostariam de poder dividir as férias em mais de dois períodos, 62% prefeririam receber o vale transporte diretamente em dinheiro e 43% aceitariam reduzir a jornada e salário em períodos de crise. Para a CNI, as relações do trabalho no país precisam ser modernizadas e desburocratizadas urgentemente. “Datada da década de 1940, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) trouxe um conjunto importante de proteções ao trabalhador, mas não acompanhou o avanço econômico e social do país, nem a diversificação e a modernização de sua estrutura produtiva. Não prevê, por exemplo, as novas formas de trabalho, com horários e rotinas flexíveis, o como o home office e o emprego à distância, em vez do cartão de ponto e o trabalho presencial”, informa em nota. Para a gerente-executiva de Relações do Trabalho da CNI, Sylvia Lorena, é preciso fomentar a negociação entre empregados e empregadores. “A consequência da manutenção de normas antigas é o aumento de conflitos e a incapacidade de atender as novas formas e necessidades do trabalho e da produção, o que não atende os interesses dos trabalhadores e das empresas”, afirma. 



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NOTÍCIAS ECONOMIA

Em busca de crescimento Procura por intercâmbio profissional tem crescido na região Rodrigo Ribeiro SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

F

oi um ano maravilhoso na minha vida, me redescobri totalmente”; “Uns trocados em Euro, atualmente não é nada mal mediante a crise do nosso país”; “É um passo muito importante na minha vida e carreira pessoal”. Essas são algumas das frases de moradores de São José dos Campos que fizeram intercâmbio, estão em outro país atualmente ou que ainda embarcarão em breve para uma nova experiência. Além dos intercâmbios para estudo e turismo, a procura por viagens mais longas, com foco no desenvolvimento profissional, tem aumentado. Pelo menos é o que afirma Camila do Amaral Lhoret, que administra duas agências, em Taubaté e São José. “Antes era por menor tempo, ficar um mês para melhorar o idioma. Atualmente, a pessoa perde o emprego e com a crise no país não consegue nada. Então, acaba indo para fora do país qualificar o currículo e voltar”, comenta Camila. O morador de São José, Felipe Poças, de 24 anos, embarcou em março deste ano para a Irlanda. Apesar da obrigatoriedade de fazer um curso, Poças não mente, a ideia é conseguir um emprego no país e ficar mais tempo que o previsto. “Vim com o foco em trabalhar e juntar dinheiro para abrir um negócio próprio. Aqui o estudante vive com 500 Euros por mês, se você tiver focado, consegue guardar uns trocados, e hoje uns trocados em Euro não é nada mal mediante a crise do

nosso país”, afirma Poças. Segundo Poças, a possibilidade de trabalhar legalmente foi um dos motivos que o fez escolher o país. “Escolhi a Irlanda pelo custo benefício. Um visto de oitos meses renováveis por mais duas vezes se tiver boa frequência na escola e principalmente por dar a oportunidade de poder trabalhar legalmente”, conta Poças, que está há pouco mais de um mês em Dublin. A joseense Natane Guimarães Fialho, de 24 anos, interrompeu a faculdade para ir aos Estados Unidos. “Acabei sendo contemplada com um curso de inglês de um mês, mas como as passagens e hospedagem eram muito caras mesmo que por um

período pequeno, optei por trancar a faculdade e investir em uma viagem mais longa, de um ano. Assim, tive a chance de realizar alguns trabalhos que me ajudaram a custear o período que fiquei fora”, conta Natane. No país, a joseense morou com uma família americana na Pensilvânia e além do curso de inglês, estudou Relações Públicas em uma universidade local. “Para ajudar nos custos da viagem, trabalhei como nanny (babá) e motorista”, comenta. “Foi um ano maravilhoso na minha vida, me redescobri totalmente. Me apaixonei por viagens e culturas diferentes. Cresci e amadureci muito. De início, buscava desenvolvimento


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profissional, mas acabei conquistando um crescimento pessoal que não poderia imaginar”, recorda Natane. A viagem rendeu bons frutos à joseense. “Fiz amigos que levarei para a vida toda, visitei mais de 20 cidades, tenho uma família fora do meu país e ainda ganhei um namorado”, conta Natane, que atualmente trabalha em uma agência de comunicação corporativa, em São José. “Acabei de iniciar um blog onde pretendo contar minhas experiências como mochileira e falar de viagens em geral”, completa. Segundo Camila Lhoret, esses são os benefícios de um intercâmbio. “No geral, as pessoas buscam o melhoramento do idioma, mas isso acaba sendo consequência. Intercâmbio é mais que isso, a pessoa adquire experiências na vida pessoal e profissional”, diz. A publicitária de São José, Fernanda de Oliveira Santos, de 24 anos, embarca neste mês para fazer Au Pair – programa direcionado a mulheres que viverão com uma família americana e cuidarão de crianças

- nos Estados Unidos. “O foco desse tipo de intercâmbio realmente é trabalhar, mas claro que no tempo livre você pode viajar, conhecer lugares etc”, conta. “Pretendo ficar um ano, com a possibilidade de estender por mais um. Espero que essa viagem traga boas experiências, além de amadurecimento e crescimento pessoal. É um passo muito importante na minha vida e carreira. Pretendo conseguir um emprego bacana na minha área quando voltar para o Brasil”, diz Fernanda.

Opções de intercâmbio Segundo Camila Lhoret, há várias opções de intercâmbio, entre elas, o de trabalho nos Estados Unidos para universitários durante o período de férias escolares no Brasil e outro focado em cursos de uma duração maior, com a possibilidade de trabalhar nos países. “O programa de trabalho para universitários são de três meses, podendo chegar a quatro, e precisa-se ter um bom nível de inglês. O aluno já vai com

o emprego garantido, sabendo quanto vai ganhar, o que irá fazer etc”, conta Camila. O programa custa em média R$ 6 mil e é direcionado para estudantes de 18 a 28 anos. “O aluno acaba restituindo o que investiu”, completa. Já o programa de estudo, com possibilidade para trabalhar, custa em média R$ 15 mil para um período de seis meses. “Neste caso é para a Irlanda, Austrália e Nova Zelândia, podendo prorrogar a viagem dependendo de cada país. Neste, o nível exigido no inglês é menor. Tem gente que vai com básico e escolas que aceitam a partir do iniciante”, explica Camila. Esta opção pode ser feita em qualquer época do ano, mas o interessado com mais de 35 anos pode ter dificuldades na hora de tirar o visto. “É aberto para qualquer idade, mas a partir dos 35 anos fica um pouco mais restrito, pela aplicação do visto. Não há uma regra, um parâmetro. Tem pessoas com idade acima que conseguem o visto e outras com 35 anos que não”, explica Camila.  Arquivo pessoal

A joseense Natane Fialho trancou a faculdade de jornalismo para ficar um ano nos Estados Unidos


32 | Revista Metrópole – Edição 15

NOTÍCIAS ESPECIAL

Mulheres do tráfico Nos últimos quinze anos, a população carcerária feminina aumentou 567% e a maioria destas prisões estão relacionadas ao tráfico de drogas Adriano Pereira SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

S

ão 13h de um dia quente na zona sul de São José dos Campos. A senhora de rosto marcado pelo tempo está sentada numa cadeira na calçada da birosca fétida que ela toma conta. Nas prateleiras apenas algumas garrafas de cachaça e salgadinhos de marcas baratas. Estamos esperando pela sua neta, Amanda*, de 23 anos, enquanto ela corta abobrinhas para o almoço das crianças que estão chegando da escola. São três, todos seus bisnetos. Cada filho de Amanda é de um pai diferente, todos presos. Seu irmão, seu tio e o atual marido - pai do mais novo - também estão presos por tráfico de drogas. Herdou algumas funções da biqueira (ponto de venda de drogas) do irmão que comanda as negociações de dentro da cadeia por meio de celulares. Ela ficou incumbida de seguir as ordens e manter o negócio funcionando. “Quando ela some, às vezes fica cinco dias fora. Nem me preocupo mais”, diz a avó. Esperamos por Amanda por mais uma hora e ela não apareceu. Ela já fez parte durante quase dois anos de um grupo formado por 37.380 mulheres, a quinta maior população carcerária feminina do mundo. Destas, 68% foram presas por tráfico de drogas, assim como Amanda, detida em 2010 com 24 pedras de crack.

Nos últimos quinze anos, o número de mulheres presas no Brasil cresceu 567%, segundo levantamento do Ministério da Justiça. A taxa de mulheres presas no país é superior ao crescimento geral da população carcerária, que teve aumento de 119% no mesmo período. O estudo também revelou que a maioria das mulheres presas no país (68%) é negra, enquanto 31% são brancas e 1%, amarela. No Acre, 100% das detentas eram negras em junho de 2014. O segundo Estado com o maior percentual é o Ceará, com 94%, seguido da Bahia, com 92% de presas negras. O número de indígenas não chega a 1% da população carcerária feminina nacional. À época da pesquisa, só existiam presas indígenas nos Estados de Roraima, Amapá, Mato Grosso do Sul e Tocantins. No Centro de Ressocialização Feminino, em São José dos Campos, a pele negra de Mara*, 28 anos, sente falta de um abraço. Nascida em Campo Grande (MS), foi morar com a avó aos cinco anos, em Praia Grande, na Baixada Santista. A mãe se casou novamente e preferia os bailes e forrós da cidade ao cuidar dela e do irmão. Com essa idade, Mara já fazia o papel de mãe. Aos 10 anos, começou a ter as vontades naturais da idade. Queria sair com as amigas, mas a avó não deixava. Decidiu ir morar com a mãe. Aos 12 anos, com o corpo formado, começou a chamar a atenção do padrasto. Mara

Mara, Luciana e Cláudia*, as três engrossam as estatísticas sobre mulheres presas


São José dos Campos, maio de 2016 | 33

Fotos: Pedro Ivo Prates

percebeu e fugiu de casa. Na época, um namoro bobo foi seu porto seguro. Ele era mais velho, experiente, usuário de drogas e traficante. “Me casei com ele e fiquei do lado dele até os 19 anos. Nos três primeiros anos era tudo lindo, depois apanhei todos os dias. Nunca bebi e nem usei drogas. Cuidava de uma barraca na praia, mas não tinha condições de me manter sozinha. Então resolvi roubar uma carga para comprar uma casa e me livrar dele”, conta. O roubo deu certo e com ele veio outro marido com uma ficha mais extensa. Logo depois de se casarem, ele foi preso. No mundo do crime, um casamento é um contrato machista. A mulher é propriedade e, enquanto o homem der dinheiro para sua sobrevivência, ela lhe deve praticamente a vida. Mara carregava um filho e uma sentença imposta pelas regras desse mundo paralelo. Numa das visitas ao marido, a “portadora” - termo usado para as mulheres que carregam drogas para dentro dos presídios - não havia trazido a encomenda. Mara se dispôs a buscar na cidade, afinal, era para seu marido preso. Um dever. Ao chegar no local, a polícia já a esperava. Foi presa. O marido nunca mais deu notícia. “Eu sei que tenho culpa, tenho ciência do que estava fazendo. Mas para provar que ama, no mundo do crime tem que aceitar tudo”, diz. Condenada a oito anos, Mara sente falta de muita coisa dentro na cadeia. Entretanto, a ótica particular da privação dá uma noção bastante única para a jovem. “Minha prisão na justiça dos homens foi minha libertação perante a justiça de Deus. Na rua, eu era mais presa do que aqui”, revela. “Aqui a gente conhece profundamente o ser humano, consegue dividir uma bolacha em dez pedaços, um copo de


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refrigerante sem gás deixa a gente feliz, mas um abraço faz falta”.

Idade O estudo do Ministério da Justiça, pela primeira vez, abordou também outras características da população carcerária feminina. Quanto à faixa etária, por exemplo, cerca de 50% das mulheres encarceradas têm entre 18 e 29 anos; 18%, entre 30 e 34 anos; 21%, entre 35 e 45 anos; 10% estão na faixa etária entre 46 e 60; e 1%, tem idade entre 61 e 70 anos. Segundo o levantamento, em junho do ano passado não haviam presas com idade acima dos 70 anos. Aos 27 anos, a paulistana Luciana* faz parte dessa maioria jovem que lota os presídios femininos. Filha de pais evangélicos, aos 15 anos ela só queria ser como as amigas: poder cortar o cabelo e usar uma calça. Um dia foi conhecer uma balada, dançar e se divertir no mundo das amigas. Conheceu também um rapaz. Em oito meses de namoro, estava grávida de um traficante que foi preso antes do relacionamento completar um ano. Os pais não queriam mais saber dela. “Mas eu fiquei louca ao conhecer o mundo dele, de vida boa. Comprava tudo que queria, tinha dinheiro sobrando. Durante os sete anos que ele ficou preso, visitei sempre e ele continuou a me dar essa vida”, conta. O que Luciana não contava é que junto com a vida boa e o casamento com o crime, viriam 12 anos de prisão para ela. “A família dele era toda do crime, então comecei a cortar e embalar as drogas como favor. Aprendi a refinar cocaína e comecei a trabalhar com isso”. Quando o marido saiu da cadeia, a vida boa se transformou em surras e submissão. Foi obrigada a trabalhar diretamente com o refino da droga, até o dia em que a Polícia Militar invadiu o laboratório. Sem chances de defesa, perdeu a liberdade, o marido e a convivência com

o filho. “Nas minhas escolhas, cheguei ao fundo do poço”, lamenta.

Educação Quando o assunto é escolaridade, o estudo do Ministério da Justiça revela que apenas 11% das mulheres presas concluíram o ensino médio e o número de concluintes do ensino superior ficou abaixo de 1%. Metade das detentas possui o ensino fundamental incompleto, 50%, e 4% são analfabetas. A joseense Cláudia*, de 34 anos, aprendeu a ler e escrever na cadeia. Essa é a terceira vez que ela está presa, segundo ela, a última. Desde os 18 anos, ela passou mais tempo atrás das grades do

que na rua. Cresceu na favela Santa Cruz, sob os olhares de todo mundo, menos dos pais usuários e traficantes de drogas. Aos 12 teve sua primeira experiência com cocaína. “Sabia onde meu pai guardava, fui e peguei. A sensação de euforia era ótima e eu achava aquilo tudo muito normal, afinal, meu pai e minha mãe usavam”, conta. Aos 14 experimentou crack e daí em diante a vida só tinha uma finalidade: conseguir dinheiro para comprar mais pedras. Logo que completou 18 anos, Cláudia decidiu fazer um assalto na saída de um banco, a famosa “saidinha”. Foi presa pela primeira vez e quando chegou na cadeia era tratada como “pilantra’ pelas


São José dos Campos, maio de 2016 | 35

A população carcerária feminina cresceu mais do que o número total de prisões no Brasil

outras presas. “Aqui na cadeia, quem usa crack é discriminado porque costuma roubar qualquer um para manter o vício. Mas eu não me achava pilantra, então decidi parar com o crack e ficar só usando cocaína”, diz. Saiu da primeira passagem pelo sistema penitenciário depois de um ano. Voltou para a rotina de uso, dessa vez junto com os pais. Fugiu de casa, foi traficar e veio a segunda sentença: mais quatro anos por tráfico. “Quando saí pela segunda vez, já me ofereceram uma biqueira para ser gerente. Vendia um quilo de crack, três quilos de cocaína e dois de maconha a cada 15 dias. Tinha todo tipo de cliente, de

Do lado de fora Uma das maiores dificuldades de todas as pessoas que passam pelo sistema prisional é conseguir levar uma vida profissional inserida na sociedade após os anos detenção. Para as mulheres a situação é mais complexa ainda. “Elas saem das cadeias tendo que cuidar dos filhos no dia seguinte”, diz Janaína Dias, diretora do Conselho da Mulher Empreendedora. A entidade tem um trabalho em São José dos Campos de ressocialização destas mulheres. Dentro do presídio, o Conselho atua com psicólogas que tentam mostrar alternativas que levem essas mulheres para longe do crime. “O mercado de trabalho é bastante resistente para essa população”, revela Janaína. O serviço extrapola as celas do CRF e também tenta conscientizar a classe empresarial que a chance de recuperação não depende só das detentas. “Nosso trabalho dá resultados, tanto que dentro do Conselho, atualmente, temos integrantes que são ex-detentas”, finaliza.

mendigo a gente engravatada”, revela. Um desses clientes marcou a vida de Cláudia. “Havia um rapaz que aparecia com carro chique, pegava 50 gramas de cocaína por vez para uso próprio. Daí ele começou a fumar crack e desapareceu. Numa saidinha (saída temporária) minha, encontrei com ele perto da rodoviária, vivendo na rua, como um mendigo. Me senti culpada”, diz. A biqueira foi invadida pela polícia e ela foi condenada a 17 anos de prisão. Hoje, pensa em ter outra vida, cursar enfermagem e viver longe do crime. “Quero ver minha filha que hoje tem 18 anos. Perdi muito tempo da minha vida. Eu, ela e meu neto, é tudo que eu quero”.

Maior desejo Na zona sul de São José dos Campos vive Ermínia*, de 59 anos. Sua vida foi marcada pela necessidade, trabalhando em troca de comida até que descobriu em 2002 que poderia ganhar dinheiro agenciando um esquema de entrega de drogas dentro do sistema prisional. “Tinha um sapateiro que fazia um trabalho de esconder a droga dentro do salto dos sapatos”, revela. Cada remessa lhe rendia o sustento e o trabalho era apenas entregar a droga para alguma “portadora”. Até que em 2004, percebeu que vender nas ruas poderia dar mais dinheiro. “Vendia um quilo de maconha a cada quatro dias. Quando mexia com coisa errada, nunca me faltou nada. A geladeira vivia cheia, os netos tinham Danone, fruta, sobrava tudo”. Ermínia foi surpreendida pela Polícia Civil no dia 26 de junho de 2006. No fogão estavam escondidas 300 gramas de maconha que seriam entregues para um dos “funcionários” dela. Ainda teve tempo e perspicácia de pedir para tomar um banho antes de ser levada pelos policiais. Aproveitou e jogou outro tanto de maconha na privada. “Não fui maltratada na cadeia, as pessoas me respeitaram. Mas dormia no chão, perto da grade, peguei pneumonia, bronquite e passei a ter pressão alta”. Depois de quase quatro anos presa, durante uma semana não conseguia se adaptar ao colchão, sentia medo de andar na rua, não se sentia segura. Com o tempo isso foi mudando, mas a necessidade ainda bate na porta da sua casa. “Meu maior desejo hoje seria ganhar uma cesta básica. Tenho meio pacote de arroz para dar para todo mundo em casa no almoço”, conta. Mesmo passando por essa dificuldade, Ermínia não pensa em voltar para o tráfico de drogas. “A liberdade e o nosso nome são as coisas mais importantes da vida, daqui a pouco vou na biqueira


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e peço um dinheiro para os ‘meninos’. Eles me ajudam quando preciso”.

De volta Amanda* levou quinze dias para finalmente se encontrar com nossa reportagem. Foram várias tentativas até que nossa equipe resolveu aparecer de surpresa na casa dela, dessa vez, pouco antes do horário do almoço. Seu rosto ainda guarda o olhar vibrante de uma jovem da sua idade, mas também os resquícios do último (ou primeiro) cigarro de maconha do dia. Os três filhos estão ao seu lado. A mais velha senta na calçada se entretendo com o celular, o do meio reclama que não quer ir para a escola e a mais nova quer mamar. Ela tinha uma vida considerada normal pela sociedade até os 16 anos, quando por curiosidade resolveu experimentar

maconha com a molecada que pulava o muro para dentro da escola com o objetivo de fumar a droga. “Eram meus amigos. Na verdade, eu tinha curiosidade sobre tudo naquele mundo”, conta. Dali para a esquina mais movimentada do bairro, não levou semanas. Amanda passou a frequentar a biqueira e conheceu o primeiro marido. Os dois levavam dois quilos de cocaína semanalmente de São José dos Campos para Aparecida. “Sempre tive noção que estava cometendo um crime”. O namoro não deu certo e logo depois conheceu o pai do segundo filho. Com ele era diferente, Amanda não podia traficar. Três meses foram suficientes para engravidar e ser presa quando, segundo ela, a polícia forjou um flagrante com 24 pedras de crack na casa onde vivia. Sem liberdade e também sem marido,

conheceu o terceiro homem da sua vida. Os dois se casaram dentro da cadeia e a filha caçula veio ao mundo. Ela foi solta depois de um ano e oito meses e ele continua preso. Sua vida hoje se resume a preparar a droga da semana para as portadoras levarem para dentro dos presídios. Um carregamento de 300 gramas de cocaína rende R$600 para quem entrega e se transforma em R$3 mil dentro da cadeia. O movimento é contínuo em dias de visitas. “Não quero mais traficar. Quando ele sair, ele que faça e me banque. Mas te digo, não me arrependo de nada”. Quando perguntamos o que ela pensa do futuro, a resposta é simples: “ainda é muito cedo para você me perguntar isso”. No caso dela, pode ser tarde demais.  * As identidades foram preservadas com nomes fictícios

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40 | Revista Metrópole – Edição 14

ESPECIAL COMPORTAMENTO

Toma lá, dá cá Em tempos de crise, plataforma de troca de serviços ganha espaço em São José dos Campos João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

T

odas as terças e sextas-feiras o engenheiro e instrutor de ioga Eduardo Pereira, de São José dos Campos, dedica uma hora de seu tempo livre para ministrar aulas de ioga em parques municipais. São cerca de cinco alunos por aula, que acontecem ora no Vicentina Aranha, ora no Santos Dumont. O que Eduardo ganha com isso? Nem um real. Porém, diferente do que parece, não se trata de um trabalho voluntário, mas sim de uma aula inserida no contexto da economia colaborativa. O “pagamento” do instrutor de ioga é feito em horas que ele pode gastar em outros serviços que integram uma rede colaborativa de troca de tempo da qual ele e seus alunos participam, a Bliive (bliive.com). Criada no Brasil, a start-up é a mais importante brasileira no ramo da economia colaborativa. A rede social já conta com mais de 100 mil usuários no país e 90 mil serviços oferecidos. Funciona assim: o usuário se cadastra e pode contribuir com alguma coisa que sabe fazer: aulas de violão, reforço de matemática, sessões de acupuntura, noções de culinária, entre muitos outras. Cada hora oferecida a outro usuário vale um “Time Money”, unidade de valor adotada pela plataforma. É esse “montante” que vai garantir ao membro da rede o valor de troca por outros serviços disponíveis.

Neste panorama, as aulas do instrutor de ioga são pra lá de “luc r a t i v a s ”. Em uma semana de vacas gordas, Edua rdo Pereira chega a ganhar dez horas para trocar por outros serviços da rede colaborativa. As unidades de tempo são creditadas na conta do instrutor assim que os alunos terminam as aulas. Com todo esse Time Money no bolso, Pereira não gasta mais um real nas sessões de acupuntura e massagem pelas quais costumava pagar com dinheiro. “São sessões que eu sempre gostei de fazer e que, agora, consigo pagar por meio dessa rede colaborativa. Apesar da economia ser boa, acredito que a principal razão para eu estar


São José dos Campos, abril de 2016 | 41

atuando neste cenário é o fato de acreditar muito no potencial transformador da plataforma. A troca de experiências que ela proporciona é uma alternativa mais humana e igualitária de estabelecer transações comerciais”, explica.

Ocupações Apesar de já contar com um cadastro na rede de troca de serviços há cerca de dois anos, foi depois de atuar como colaborador durante o episódio das ocupações das escolas estaduais, em novembro de 2015, que passou a utilizar de fato. À época, Eduardo ofereceu aulas de yoga aos estudantes da escola Major Miguel Naked, em São José dos Campos. “Foi essa experiência nas escolas que abriu os horizontes para que eu me interessasse mais por essas plataformas colaborativas. Vem dando certo, já que o interesse pelo ioga é bem grande entre os usuários”, comenta. As aulas ao ar livre funcionam também como uma forma de divulgar a ideia da economia compartilhada. A

reunião dos alunos atrai curiosos interessados na prática. “Quando a gente conversa sobre a forma de ‘pagamento’ das aulas, normalmente as pessoas se interessam bastante. É uma maneira de difundir o conceito”, diz.

Aulas e consultoria Para bancar as aulas de ioga, a estudante de engenharia ambiental Poliana Aldaires oferece aulas particulares de física, química e matemática. A estudante começou a oferecer o reforço nas disciplinas no final de 2015. Em geral, as aulas são contratadas pelos pais dos alunos, que usam suas economias na plataforma para garantir que os filhos contem com um empurrãozinho no desempenho escolar. “São matérias que os alunos normalmente não gostam muito, então os pais, que utilizam a mesma plataforma, me procuram relatando essa dificuldade. Acredito que esse seja um caminho que dá acesso a esse serviço às pessoas que talvez não teriam condições de arcar com os gastos. Ou seja, ao invés de envolver dinheiro, todos contribuem dividindo experiências”, comenta. A estudante também é consultora de low poo, uma técnica de tratamento capilar com produtos com menos substâncias nocivas do que os xampus comerciais. “Disponibilizei esse serviço há pouco tempo e já percebo que a procura está muito grande”, explica.

Consciência Uma ligeira busca pelos serviços oferecidos pela plataforma já dá mostra de que o perfil dos adeptos da economia colaborativa é formado por pessoas envolvidas com questões ligadas à consciência ambiental, terapias alternativas e relações humanas. Massagens, aulas de meditação e até troca de cartas destacam-se entre as ofertas. Serviços mais ligados à prática do cotidiano também constam na lista, como


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Pedro Ivo Prates

aulas de inglês, orientação para o uso de programas específicos, aulas de fotografia, coach, entre outros. De acordo com o economista e professor da Unitau (Universidade do Vale do Paraíba) Edson Trajano, as inovações tecnológicas, aliadas a ideias que criam novas oportunidades comerciais, vêm costurando uma nova relação econômica entre as pessoas. O professor cita os casos de aplicativos como o Uber ou o Airbnb como exemplos bem-sucedidos desse conceito. “Você pode compartilhar seu carro, por exemplo, caso não o utilize alguns dias da semana. Da mesma forma, pode compartilhar sua casa em um período que estiver viajando, ou trabalhar em regime de coworking, onde diferentes profissionais compartilham o mesmo escritório. Ou seja, as possibilidades

Aula de ioga no parque Vicentina Aranha, serviço prestado no sistema de troca

A Orquestra Sinfônica de São José dos Campos (OSSJC), sob regência do maestro Marcello Stasi, oferece uma programação de concertos periódicos de excelente qualidade. Desde 2012 vem formando nova e signicativa plateia para a música erudita. Referência na região metropolitana do Vale, a OSSJC participa há cinco anos do Festival Internacional de Inverno de Campos de Jordão. Também tem sido convidada para compor a programação da melhor sala de concertos da América Latina, a Sala São Paulo, onde apresentou-se mais de uma vez com estreias mundiais e lotação máxima. Além das apresentações em teatros, auditórios e capelas, a Orquestra está presente nas cidades com os Concertos ao Ar Livre, aproximando milhares de pessoas da música erudita. A Temporada Artística de 2016 está dividida em estações do ano.

www.orquestrasjc.org.br facebook.com//orquestrasjc

Corealização:

Vem aí a Série Inverno das Vozes, aguarde!


com o avanço tecnológico, que possibilita a interação maior entre as pessoas, é enorme”, comenta. O professor, no entanto, alerta para a falta de regulamentação dessas atividades e um potencial dano a alguma das partes envolvidas. De acordo com o acadêmico, apesar de haver um amadurecimento na sociedade, esta modalidade da economia ainda encontrará algumas barreiras no Brasil. “Ainda não há uma base legal que regulamente isso no Brasil, esses sistemas de troca de serviços não constam na legislação. É aí que mora a principal questão a ser resolvida: se não houver regulamentação, algumas pessoas poderão ser lesadas e não terão muito como recorrer, mas se burocratizar demais, o modelo perde sua razão de existir”, conclui. 


44 | Revista Metrópole – Edição 15

Neils Andreas / Divulgação

NOTÍCIAS PERFIL

O senhor avião

Joseph Kovács é pai dos projetos mais importantes na aviação brasileira Henrique Macedo SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

le tem uma vida inteira dedicada à aviação. Nascido Joseph Kovács, na Hungria, em 1926, o Zé, como amigos e os próprios filhos o chamam, tem muitas histórias para contar. Ele e sua esposa, Terezinha, me receberam para um bate-papo na casa onde moram num condomínio de São José dos Campos. Kovács é “pai” de projetos consagrados da indústria aeronáutica brasileira. Foi ele que projetou o Regente, o Universal, o Tucano e tantos outros aviões que marcaram a história da aviação brasileira. Ao todo, ele projetou, sozinho ou em equipe, 56 aviões e planadores. A ligação com São José dos Campos começou em 1954, depois de viver alguns anos na capital paulista. Graduado engenheiro mecânico em Budapeste, chegou a São Paulo em 1948, vindo de uma Europa dilacerada pela guerra.

“Eu tinha obsessão por avião desde pequeno. Fiz aeromodelo, maquetes, projetos de planador. Não tinha muita chance de desenvolver fora dos estudos. Quando vim pra São Paulo, conheci uma turma no Campo de Marte, no CPP (Aeroclube Politécnico de Planadores). Conheci muita gente ligada à aviação. Fui convidado para trabalhar no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Fiz um projeto de planador, na época, que era para ser acrobático. Acrobacia sempre foi uma coisa que mexia com a minha imaginação”. Apesar de não ter autorização, Kovács também já pilotava. “Comecei a voar, mas não podia, tinha que esperar não sei quanto tempo para a documentação, mas eu pilotava. E pensava: ‘estou no melhor lugar do mundo’.” Dois anos depois, notou que precisava mudar. “Eu percebi que a história do IPT estava para minguar. Dali a pouco ia acabar. Já havia algumas coisas em São José dos Campos e, naturalmente, a

cidade virou a meca da aviação”. Kovács mudou-se para a cidade em 1954, quando surgiam o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), os pilares da futura indústria aeronáutica brasileira e da pesquisa aeroespacial. “Era uma cidade meio perdida, mas já tinha o pessoal do aeroclube. Nunca vi uma cidade que cresceu de maneira tão rápida como São José. Vim direto para o CTA já havia prédios de apartamentos, laboratórios, grandes planos já estavam acontecendo. Trabalhei no ITA algum tempo, tinha muitas famílias estrangeiras vindo para a cidade. No CTA já tinha cinema, teatro, piscinas, alguns professores tomavam aula de voo a vela comigo. Estava fazendo alguns projetos e me casei em 1956. Projetei um planador chamado Periquito, fizemos algumas unidades no CTA. O modelo participou de alguns campeonatos no Brasil”. No CTA, Kovács trabalhou como primeiro assistente de Henrich Focke, chefe


São José dos Campos, maio de 2016 | 45

Neiva Ente 1960 e 1973, Kovács foi sócio e diretor-técnico da Aeronáutica Neiva, onde projetou a aeronave Regente, um monomotor de quatro lugares que ajudou a empresa a se destacar. Depois, criou o avião que formou centenas de pilotos no país: o Universal T-25. O treinador foi vendido para a FAB e alguns países vizinhos. Foram encomendados 150 modelos pela Aeronáutica, o que viabilizou a produção. Ainda hoje o avião serve aos cadetes que fazem instrução na AFA (Academia da Força Aérea). Foram produzidas 178 aeronaves. “O T-25 trouxe inovações para os aviões de treinamento usados no Brasil. Na época, os modelos em operação, como o T-6, não faziam voo invertido”, conta o engenheiro.

Embraer Depois de trabalhar na Neiva, o engenheiro foi contratado pela Embraer em 1973, onde ficou 17 anos. Na empresa, foi responsável pelo projeto e desenvolvimento da aeronave EMB 312 Tucano, avião considerado inovador e que revolucionou

o projeto de aeronaves de treinamento. Entre as novidades, Kovács propôs o uso de um motor turbo-hélice frente aos motores a pistão utilizados na época. “O Tucano era um projeto de treinador militar. Eu queria fazer um avião realmente bom, que tivesse qualidades bastante convincentes. O projeto saiu rapidamente, porque a Embraer já tinha um grande efetivo de pessoal e muita força. Aí o protótipo voou, fiquei emocionado. Antes, em todos os projetos que eu participava, eu mesmo voava os protótipos, para assumir quaisquer riscos. Mas como a Embraer já era grande, com estrutura, não podia. Tinha os procedimentos, não deixaram, tinha que ter um seguro muito rigoroso”. Sucesso na área militar, o Tucano foi vendido para 18 países e teve 800 unidades produzidas pela Embraer. Há 30 anos, o governo britânico escolheu o modelo para ser o avião de treinamento da lendária RAF (Royal Air Force), numa concorrência muito disputada. Depois de diversas modificações, o avião foi produzido sob licença pela Shorts Brothers PLC, da Irlanda no Norte. Até 2014, o incansável Kovács ainda

estava na ativa, como consultor técnico de projetos de desenvolvimento na Novaer, empresa sediada em São José dos Campos. Lá, ele acompanhou o desenvolvimento do T-Xc, aeronave baseada no seu projeto K-51, um avião com características acrobáticas e aerodinâmica excepcional. “O K-51 tem uma asa mais avançada e moderna que o Tucano”, diz com orgulho. O T-Xc usa materiais como fibra de carbono e tecnologia de última geração

Paixão O projetista lembra, com orgulho, dos feitos que conquistou em campeonatos de voo a vela. “O planador é a minha paixão inicial, é o voo puro, o que mais apaixona a gente. Voei muito em São José e em Bauru, uma região ótima para voar. Naquela época, eu fiz dois diamantes (maior trecho em distância) em Bauru”. Todos esses anos dedicados à aviação foram minuciosamente registrados em diários, principalmente o período na Neiva e Embraer. Kovács conta que a sua autobiografia está sendo organizada pelo filho, Otávio. “Já são mais de 400 páginas, tem muitas anotações. É uma vida dedicada à minha paixão: a aviação”  EMB 312 Tucano, projeto inovador e reconhecido no mundo todo

Divulgação

do centro e fundador da famosa fábrica de aviões Focke Wulf Flugzeugbau Gmb.


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Virada à Taubaté

A cantora Karina Buhr está na programação de Taubaté

Terra de Mazzaropi e Monteiro Lobato traz tempero especial ao maior evento cultural de São Paulo

João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

pós nove anos acontecendo em São José dos Campos, a sede valeparaibana da Virada Cultural Paulista se estabelece, nesta edição, na cidade de Taubaté. A mudança de endereço aconteceu após a prefeitura de São José, em contingência

de gastos, enviar um ofício à Secretaria Estadual de Cultura pedindo para ficar de fora do evento este ano. A desistência joseense foi a oportunidade para que a prefeitura da cidade vizinha pudesse, após pleitear durante anos seguidos, finalmente receber uma edição da festa. As atrações da edição taubateana da virada transcorrerá em tradicionais palcos da cidade: Avenida do Povo e o Teatro Metrópole serão os

principais endereços. Entretanto, a festa também contará com opções em pontos espalhados pelo município (até o fechamento desta edição a programação completa ainda não havia sido divulgada pela prefeitura). Os principais shows se concentram no palco que será montado na Avenida do Povo. No dia 14, a música começa às 19h30 com o Coletivo de Música Taubateana, grupo capitaneado por

Fotos: Divulgação

Fotos: Pedro Ivo Prates

NOTÍCIAS CULTURA


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SE APRENDE DESDE CEDO.

PROGRAMA DE VISITA DE ESCOLAS. É A CÂMARA DE PORTAS ABERTAS PARA OS NOSSOS ESTUDANTES. Através do Programa de Visita de Escolas, os estudantes podem conhecer o funcionamento da Câmara de São José dos Campos, as funções do Poder Legislativo Municipal e o trabalho dos Vereadores. São 50 minutos que incluem visita às dependências da Câmara, Plenário e Memorial Legislativo. Também são apresentados dois vídeos institucionais sobre a história da cidade e as atividades da Câmara, incluindo uma conversa com os Vereadores. As visitas são abertas às escolas públicas e particulares. Para agendar, ligue: 3925-6573 ou 3925-6567.


48 | Revista Metrópole – Edição 15

Renato Teixeira e que conta com novos talentos musicais da cidade. Às 21h sobem ao palco os Demônios da Garoa e, às 22h30, é a vez da pernambucana Karina Buhr se apresentar. A noite termina ao som de Cidade Negra, cuja apresentação está prevista para as 23h59. Ainda na avenida, a programação do dia 15 começa às 15h30 com a banda Kabelo. Logo depois, quem sobe ao palco é A Banda Mais Bonita da Cidade, às 17h. Toquinho fecha a programação da festa às 18h30. A programação ainda conta com musical do Sítio do Picapau Amarelo, espetáculo com o humorista Marcelo Masfield, apresentações de hip hop e de ballet clássico, de acordo com a agenda enviada pela Secretaria Estadual de Cultura.

Cidade Negra fecha a Virada em Taubaté

Marco De acordo com a secretária de Cultura de Taubaté, Martha Maria de Carvalho, a vinda do evento à cidade representa um marco para a cultura no município. Martha afirma que a solicitação para entrar no mapa da Virada acontece desde de que assumiu a pasta. Ao contrário do que pensa o presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, de São José dos Campos, a secretária afirma que o evento, que demanda grande estrutura e envolvimento de equipes em pontos espalhados pela cidade, cabe no orçamento. Martha calcula um gasto de R$ 200 mil durante o fim de semana. “Não se trata de um evento caro tendo em vista o tamanho dos benefícios que ele oferece para movimentar a cultura na cidade. A variedade será a principal marca desta nossa primeira edição, teremos eventos que vão da MPB à zumba, do hip hop ao erudito. Tudo oferecido gratuitamente”, afirma. As negociações com a Secretaria Estadual começaram logo após São José ter anunciado que não participaria

do evento este ano, o que aconteceu já no início do ano. “Em mais ou menos duas semanas, já tivemos uma visita técnica da Secretaria aqui em Taubaté para fecharmos uma área externa e outra interna para que as apresentações pudessem acontecer. Quanto à programação, os nomes de peso no cenário nacional foram definidos pelo Estado, a partir daí montamos nossa programação com artistas aqui da cidade. Como poderíamos escolher uma

atração de Taubaté para o palco principal, optamos pelo Coletivo, a fim de contemplar o máximo de músicos da cidade”, explica.

Litoral Caraguatatuba é a outra cidade da região que receberá a Virada Cultural Paulista. Na estância, entretanto, o evento acontece no fim de semana dos dias 28 e 29 de maio, último fim de semana do mês. Os principais eventos


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acontecem na Praça de Eventos, no centro da cidade. No dia 28, a festa começa às 19h30, com a Banda Cintra. Às 21h é hora do rapper Dexter subir ao palco. O evento prossegue com apresentação do filho de Cassia Eller, Chico Chico, que acontece às 22h30. O pernambucano Otto fecha o dia de apresentações às 23h59. Já no dia 29, os eventos começam às 15h30, com show de Alceu Valença. Mais tarde, às 17h, Barbara Eugênia sobe ao palco. Fecha o evento, às 18h30, os forrozeiros da banda Dona Zaíra. Todas as atrações são gratuitas, entretanto, a entrada nos espetáculos de teatros e outros palcos internos acontece por ordem de chegada. No ano passado, a Virada Cultural Paulista aconteceu em 24 cidades e reuniu um público de 1,1 milhão de pessoas. 

Banda Mais Bonita da Cidade também está na programação


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Fotos: divulgação

Cultura& Última chance Redação SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

É

o começo do fim. A turnê de despedida do Black Sabbath “The End”, está confirmada no Brasil. Três anos após a memorável passagem de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler pelo país, a maior banda de heavy metal de todos os tempos retornará com a apresentação da derradeira turnê, a maior produção já feita pelo grupo. Os últimos shows da história do Black Sabbath no Brasil acontecerão em Curitiba (Pedreira Paulo Leminski) no dia 30 de novembro, no Rio de Janeiro (Praça da Apoteose) em 2 de dezembro, e São Paulo (Estádio do Morumbi) no dia 4 de dezembro. Os fãs vão presenciar três apresentações históricas, com clássicos de toda trajetória da banda. O grupo americano Rival Sons é convidado especial da turnê. Ingressos estão disponíveis desde 0 dia 18 de abril pela internet (www.ticketsforfun. com.br). Mas para quem tem um pouco mais de dinheiro e quer algo exclusivo, a empresa internacional VIP Nation, gerenciadora dos pacotes especiais, dispõe diversas opções para os shows do Black Sabbath na América do Sul. Por um valor que vai de R$ 1.750,00 a R$ 5.300,00, aceitos no site somente em dólares americanos. Em alguns dos pacotes oferecidos, os fãs poderão tirar fotos com o vocalista Ozzy Osbourne e cia., em outros poderão ganhar presentes, dependendo de seus itens oferecidos.


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Rollin Stones Let’s Spend the Night Together

DVD&

Preço: R$55,90

A banda dispensa apresentações. A turma mais suja do comportado rock inglês no início dos 60 ainda está na ativa e lotando estádios no mundo inteiro. Este DVD traz o registro de um show histórico e que traz o melhor já produzido por essa “rapaziada”. Se não deu para ver ao vivo no Brasil, pelo menos dá para ter um gostinho com o lançamento.

CINEMA&

LITERATURA&

X-Men: Apocalipse

A Cara do Rio Ricardo Amaral

Preço: R$55,90

Esse é daqueles filmes que causam frenesi quando chegam aos cinemas. Parece que todo adulto vira criança e toda criança cresce para entender a luta entre mutantes e humanos. “X-Men: Apocalipse” é a continuação de “Dias de um Futuro Esquecido”. O filme, que se passará em 1983, mostrará a origem dos mutantes e incluirá novos e

antigos personagens na trama. Nos quadrinhos, games e séries animadas dos mutantes, Apocalipse é presença constante desde que surgiu em X-Factor #6. Considerado o mutante mais velho, surgido no Egito Antigo, o vilão tem o poder de reorganizar a estrutura do próprio corpo. Ao ter acesso a tecnologia alienígena, Apocalipse também conseguiu prolongar sua vida.

Com humor e um texto saboroso, Ricardo Amaral, com a ajuda de Raquel Oguri, reconta o que já é conhecido e resgata pequenas grandes histórias que andavam perdidas em esquinas, ruelas e sebos. E constrói, assim, um inusitado painel, mostrando a cara do Rio de Janeiro. Um olhar afetuoso, alegre e crítico e um resgate da memória de cada carioca que está escrita pelas ruas da cidade.

SOM&

The Lumineers Cleopatra (Universal Music)

Preço: R$29,90

Depois de explodir no mundo inteiro com seu monstruoso single, o irresistível “Ho Hey”, e sua sequência, “Stubborn Love”’, os Lumineers passaram três anos em turnê por seis dos sete continentes. Durante esse tempo, a banda recebeu um par de indicações ao Grammy (Melhor Artista Revelação, Melhor Álbum Americano), contribuíram com dois singles para a série de filmes The Hunger Games (Jogos Vorazes). Agora o trio de Denver está de volta com seu aguardado segundo álbum “Cleopatra” – na sequência de seu autointitulado álbum de estreia.

Tritono Blues Plays Ray Charles

(Radar Records) Preço: R$19,90

Em 2016 a banda lança o seu terceiro trabalho: “Tritono Blues Plays Ray Charles”, uma homenagem com versões exclusivas a esse gênio da música e grande influência do Tritono Blues. Para citar algumas músicas, ‘I Can’t Stop Loving You’ ganha uma levada New Orleans com Acordeon. ‘Unchain My Heart’, ‘Georgia On My Mind’ e ‘Sweet Memories’ também são revisitadas. O disco traz participações de grandes nomes do cenário blues como o saxofonista Denilson “big D” Martins, o baterista Humberto Zigler e o guitarrista Igor Prado, indicado ao Blues Music Awards 2016.


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NOTÍCIAS BATE-PAPO

Padre pop e conectado Fábio de Melo é um fenômeno nas redes sociais com postagens engraçadas e interação com fãs Henrique Macedo SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

U

Entre um show e outro, viajando pelo Brasil ou pelo mundo, padre Fábio de Melo é uma figura pública midiática. Ele transita pela TV, faz shows, participa de eventos e está sempre nas redes sociais. Achar uma brecha entre tantos compromissos é uma tarefa complicada. Quando achava que iria conseguir entrevistá-lo no sítio onde mora, em Taubaté, descobri que estava embarcando para a Turquia. Enviei as perguntas por e-mail e divido as respostas com os leitores da Metrópole Magazine.

Tem repercutido bastante a sua atuação nas redes sociais, com milhares de seguidores no Snapchat e Twitter. Como você encara essas ferramentas? Como oportunidades que tenho de quebrar distâncias e estabelecer vínculos. As redes sociais me oportunizam falar com os que não parariam para ouvir um padre. Muitas pessoas, principalmente os mais jovens, têm hoje uma intensa interação virtual, seja por celular, computador ou outras plataformas digitais. O que acha desse momento em que parece estar havendo um certo distanciamento das relações presenciais? Tudo na vida é dialético. O mundo virtual não está fora desta regra. Ele oferece vantagens, mas também desvantagens. Mas a própria natureza humana

se encarrega de gritar seus estatutos. Em última instância, nós precisamos de pessoas de verdade. Que dividam a vida, os sentimentos e os pensamentos. A facilidade do contato virtual nunca superará o conforto da presença, o prazer do abraço. O atual cenário político e econômico do Brasil é turbulento. Como um dos religiosos mais conhecidos do Brasil, como analisa esse momento? Com preocupação. A crise política agrava diariamente a crise econômica. Lamento ver o país perder o ritmo de crescimento, aumentando o desemprego, retrocedendo nas conquistas sociais. Por outro lado, vejo com esperança. Precisamos enfrentar a corrupção sistêmica que temos nas estruturas do país. A começar pelo odioso ‘jeitinho brasileiro’, código de artimanhas que temos registrado na consciência, pequenos delitos sobre os quais não nos acusamos. O momento nos permite pensar o Brasil a partir de nós. As grandes transformações só são viáveis quando a gente se dispõe às pequenas mudanças. Como encara a vaidade? Pensar o cuidado pessoal como vaidade é um equívoco medieval que hipocritamente continuamos usando. Eu já me desvencilhei disso há anos. Estar bem comigo, sem incorrer nos exageros que me exporia


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de forma banal, ajuda-me a desenvolver bem a missão que tenho. Anunciar a “saúde integral” que o evangelho propõe, estando na busca por uma vida saudável, reforça o meu testemunho. Quando era mais jovem, pensou em ser cantor? Por que seguiu a carreira religiosa? Já nasci querendo ser padre, mas a arte sempre fez parte da minha vida. Vivo conciliando os dois ofícios. Não é problema, afinal, o contexto das coisas belas é um lugar privilegiado para a manifestação divina. Como é sua rotina de shows? Há previsão de lançamento de algum novo CD ou DVD? Estou lançando agora o DVD “Deus no esconderijo do verso”, gravado ao vivo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 

Divulgação


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NOTÍCIAS SAÚDE

Luta contra o tabagismo Lei Antifumo completa cinco anos no Brasil e registra bons resultados Fotos: Pedro Ivo Prates

Mais de 70% dos brasileiros consideram o fumo perigoso

Marcus Alvarenga SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Q

uem consegue imaginar ir a uma consulta médica e encontrar uma pessoa fumando na sala de espera? Ou ir a um restaurante em um jantar romântico e a fumaça da mesa do lado atrapalhar o clima? Atualmente essas cenas não são comuns, mas há sete anos a realidade era totalmente diferente.

Em meados de 2008, a população começou a interrogar os governos estadual e federal sobre ações de prevenção a doenças que podem causar a morte, como as respiratórias, câncer e outras. Durante os debates, surgiu o questionamento sobre o fumo ser um dos principais fatores de agravamento dos casos. O Estado de São Paulo, que participou de diversos encontros que traziam o tema do tabagismo relacionado à saúde pública, se tornou em 2009 o pioneiro da aprovação da Lei Antifumo, com apoio da

maior parte da população e de diversos grupos da sociedade. O projeto de lei nº 13.542, de 7 de maio de 2009, apresentava a seguinte mudança para os paulistas e paulistanos. “Artigo 2º - Fica proibido no território do Estado de São Paulo, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco”. A proibição entrou em vigor no dia 7 de agosto do mesmo ano, possibilitando três


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GRIPE

Causada pelo vírus Influenza Dura de 7 a 10 dias Febre alta Tosse, muita dor muscular e forte dor de cabeça Dor de garganta, nos olhos e nariz escorrendo

X RESFRIADO Causado pelo Rhinovirus ou outros semelhantes Dura de 2 a 4 dias Febre baixa ou sem febre Tosse, alguma dor muscular e uma leve dor de cabeça Mal-estar, nariz escorrendo e pode haver rouquidão

O Laboratório Quaglia/Grupo Sabin disponibiliza teste rápido que indica com exatidão se o seu estado é de gripe ou resfriado. É o teste para o VSR e Influenza A e B que possibilita um diagnóstico mais preciso do seu quadro viral. Com esse resultado em mãos, seu médico poderá cuidar ainda melhor da sua saúde, indicando o tratamento adequado. Faça o teste rápido e, para esclarecer suas dúvidas, lembre-se de consultar sempre o seu médico.

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CONHEÇA AS DIFERENÇAS

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meses de adaptação dos estabelecimentos mídia, sindicatos e a população em geral também afirmavam que seria mais uma e da população, com o fim do fumo em que trouxe para as rodas de amigos e as lei que não iria pegar, pela cultura do recintos de uso coletivo, total ou parcial- conversas de ônibus a questão da impor- fumo livre no Brasil. mente fechados. tância da restrição do uso de cigarros. Mas diferentemente do esperado por Nesse mesmo período, o governo criou Os que concordavam, apresentavam muitos, a lei “pegou” e se disseminou um novo grupo dentro da Vigilância os malefícios a saúde como um dos prin- por todos os Estados do país, levando o Sanitária do Estado, com representantes cipais fatores para a implantação da lei, Congresso Nacional sancionar, em 2011, a em todas as cidades e regiões para realiza- prevenindo os causadores de agravamen- Lei Antifumo nº 12.546/2011. A adaptação rem as fiscalizações. to às doenças diretamente relacionadas dos brasileiros e o treinamento das equiOs estabelecimentos diretamente afe- com pulmão e o sistema respiratório. pes de fiscalização em todo o território tados e fiscalizados são locais de trabaUm dado relevante dessa preocupação nacional duraram três anos, entrando em lho; ambientes comuns de pousadas, é uma pesquisa do Instituto Datafolha vigor o novo decreto somente em dezemcondomínios e hotéis; escolas e universi- de 2013 (novembro) que entrevistou 2.571 bro de 2014. dades; hospitais; shoppings, centros co- pessoas com mais de 16 anos e apresentou merciais e praças de alimentação; e, por que 75% (+/- 2%) dos brasileiros acredi- Fiscalização fim, as casas noturnas, bares e restauran- tam que o fumo é o principal fator de risco No Vale do Paraíba e Litoral Norte, os agentes fiscalizadores da Secretaria de Saúde tes. Estes últimos, no período de votação para o câncer. da lei, se tornaram a maior preocupação Os contrários a lei na época, se ma- estão divididos em três regiões: Taubaté, com o possível impacto direto na econo- nifestavam no grande impacto econô- São José dos Campos e Caraguatatuba. mia, afastando clientes. mico que bares, restaurantes e casas Cada polo representa todas as cidades viAF_QUA 0030-16 ANÚNCIO GRIPE X RESFRIADO – QUAGLIA-SABIN_20x13,2cm.pdf 1 27/04/16 17:46 O debate sobre os fatores favoráveis e noturnas sofreriam com a proibição do zinhas que também são visitadas diariacontrários alcançaram o envolvimento da fumo dentro dos estabelecimentos, e mente pela equipe do Governo do Estado


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e das prefeituras. “O sucesso da lei está ligado principalmente à aceitação de toda a sociedade, inclusive dos fumantes, em questão de administrar o uso. Todo ano é refeito o treinamento de cerca de 500 agentes, que andam pelas cidades do Estado não apenas com a função de fiscalizar, mas conscientizar as pessoas da importância à saúde pública”, explica Luiz Sérgio Ozório Valentim, diretor técnico do Meio Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária da Secretária de Saúde do Estado de São Paulo. Desde a aprovação da lei, em 2009, até o dia 13 de abril de 2016, os agentes fiscalizadores já haviam realizado 1.511.986 inspeções em todo o Estado. Na região do Vale e Litoral Norte, chegaram a 120.244 mil fiscalizações, constando 8% de todo o Estado. “A presença do governo nos estabelecimentos é necessária e positiva. Porém, o que me surpreende e é gratificante de ver é que o número de autuações é menor que 1% em relação às inspeções. Isso mostra que a lei foi aprovada por fumantes e não fumantes, não apenas pelos governistas”, relata Valentim. Na região da RMVale foram realizadas 269 autuações por fumo em locais proibidos, esse número é 7,6% das 3.507 autuações em todo o Estado de São Paulo. Os estabelecimentos, quando autuados pela primeira vez, recebem uma multa e uma orientação da equipe de vigilância. Caso chegue à terceira autuação, o local pode ser interditado de 48 horas até 30 dias, dependendo da gravidade do descumprimento da lei. As casas noturnas, restaurantes, shoppings e demais locais fechados tiveram que se adaptar a essa mudança de cultura, que desde o início do século XIX se apresentava como um ato de elegância e sociabilização. O fumar passou de uma representatividade de poder, para um problema de toda a sociedade. O Vale Sul Shopping, que é uma opção

Bares foram os mais afetados pela legislação de lazer e compras para São José e região desde 1994, acredita que a lei Antifumo trouxe uma nova cultura voltada para a saúde coletiva e individual. “Modificar uma cultura sempre é traumático, mas, considerando que as grandes capitais saíram na frente e que houve campanhas educativas, esse impacto foi abrandado”, afirma o gerente de segurança do Vale Sul Shopping, Sidnei Sanches. O complexo sofreu diversas alterações desde a sua inauguração, mas nenhuma ocorreu diretamente para atender as regulamentações da lei, apenas a colocação das placas sinalizadoras em locais proibidos. “Acreditamos que haja apenas pontos

positivos, já que a saúde da maioria das pessoas (não fumantes) vinha sendo exposta por inalarem fumaça de tabaco na condição de fumantes passivos. Mesmo os próprios fumantes passaram a fumar menos, já que devem procurar um local aberto e nem sempre eles conseguem fazer isso. Dessa forma, têm uma menor exposição aos malefícios do fumo”, completa Sanches.

Dados Os pesquisadores, médicos e representantes do governo têm, há alguns anos, buscado soluções para reduzir o tabagismo entre os brasileiros. O Ministério da Saúde, em uma das suas primeiras ações,


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determinou, em 2002, a ilustração das embalagens de produtos com tabaco com os perigos provocados pelo fumo. Na época, 76% dos brasileiros com mais de 18 anos eram favoráveis à inclusão das imagens que serviam como uma contrapropaganda ao fumo. Em todos esses anos, a população fumante estava sendo acompanhada e apresentou uma queda de mais de 20%. Somente na cidade de São Paulo, de acordo com o Datafolha, em 2013, 21% dos paulistas se declarava fumantes, uma redução em relação aos 40% dos moradores da capital paulista em 1983. Essa mudança pode ser comparada com os 24% de ex-fumantes, entre os 79% paulistas não fumantes. O último dado divulgado pelo Ministério da Saúde apresenta uma expressiva redução do percentual de fumantes no país. Segundo o estudo apresentado pelo

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feita em parceria com o INCA (Instituto Nacional do Câncer “José Alencar Gomes da Silva”), em 2008, 22,8% dos homens e 13,8% das mulheres fumavam. Em 2013, em todo o Brasil esse número teria caído para 18,7% dos homens e 10,8% das mulheres.

Outros riscos A atual luta e foco de pesquisas das secretárias de saúde de todos os Estados e atenção do Ministério da Saúde é o uso de narguilés. Segundo a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), mais 212 mil brasileiros afirmam usar essa opção de fumo. A maior preocupação é entre os jovens de 18 e 29 anos, que representam 63% dos fumantes diários do narguilé. Os especialistas e médicos afirmam que o uso desse tipo de cachimbo pode ser uma opção de iniciação ao cigarro e outros produtos.

Os números desta mesma pesquisa do PNS apresentaram o risco da influência do tabagismo e a importância da Lei Antifumo. Em 2013, entre os adolescentes brasileiros de 13 a 15 anos, 7.6% deles já fumaram cigarro e algum produto com tabaco, prejudicando o organismo ainda em desenvolvimento. O representante da Secretária de Saúde do Estado de São Paulo, Valentim, acredita que ainda estamos em um período de mudança, mesmo após uma grande aceitação da população. “Nós costumamos dialogar com as pessoas das regiões centrais, periferias e todas as áreas da cidade. É fundamental que essa ação preventiva se dissemine entre amigos e familiares. A intenção da lei não é autuar, mas prevenir e trabalhar pela saúde pública da população”, finaliza o diretor do meio ambiente da vigilância sanitária. 


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NOTÍCIAS SAÚDE

Luva que se comunica Projeto desenvolvido em São José transforma sinais em movimentos

Moisés Rosa SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

T

er a sensibilidade utilizando uma prótese. Parece algo pouco provável, mas especialistas do Núcleo de Neuroengenharia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) de São José dos Campos estão estudando e desenvolvendo um projeto que pretende transformar sinais em movimentos. Envolvidos diretamente no projeto, o professor Jean Faber e o aluno Mateus Franco estão há um ano elaborando a proposta, que está em sua primeira fase. Eles criaram uma luva que capta sinais e transmite para outro dispositivo com sensores que recebe a vibração. A proposta envolve basicamente uma luva e sensores que associam um gesto a um estímulo tátil. Funciona assim: a luva possui vários sensores e é conectada a um outro dispositivo que recebe a captura dos movimentos. Tudo isso é transmitido pelo

sistema wireless (rede sem fio). Os sensores “traduzem” esses sinais (11 códigos baseados em gestos de Libras, língua brasileira de sinais) e a pessoa transforma em movimento instintivamente. Os sinais são basicamente para os comandos para trás, para frente, para os lados, para o centro e para baixo. “Cada movimento é um símbolo. A luva traduz o gesto e o sistema traduz o símbolo em uma vibração. Essa é a primeira parte do projeto que consiste em criar dispositivo que gere padrão de comunicação indireto que estimula os movimentos”, explica o professor Jean Faber. De acordo com Faber, o projeto está avançado e inicialmente já pode ser utilizado para “guiar” pessoas que não conseguem falar ou se movimentar. “Com o código, conseguimos guiar para onde a pessoa irá. Tudo isso a distância”. Mateus Franco, aluno que está participando da pesquisa, conta que a utilização do dispositivo será muito fácil. Com um

“alfabeto”, os movimentos serão efetuados. “A pessoa coloca no corpo um colete, bracelete e uma faixa na perna. É bem intuitivo. Se sinalizo para a esquerda, os sensores do centro e da esquerda vibram. Estamos refinando o ‘alfabeto’, com 11 códigos/símbolos”. Hoje, o projeto permite a captura dos movimentos nos dedos e de amplitude. Isso é possível com a ajuda de dois dispositivos: o flexômetro (que mede a diferença na angulação) e do acelerômetro (sensor que mede a relação da altura). Com isso, são captados os movimentos através dos sensores. “Transforma a informação em vibração (códigos). Atualmente, o projeto conta com seis motores que fazem o trabalho de vibração”, diz o professor. Esses motores são similares ao já utilizados em celulares, aqueles de vibracall, que recebem energia da bateria para o acionamento do motor de vibração. Ao final do projeto, serão 30

Pedro Ivo Prates

Aluno demonstra protótipo da luva desenvolvida em laboratório da Unifesp São José


São José dos Campos, maio de 2016 | 59

motores distribuídos entre a luva, bracelete e colete.

Expansão Nos próximos três meses, o Núcleo de Neuroengenharia projeta a finalização da impressão de uma prótese escolhida para os testes. A intenção é de testar os dispositivos em uma prótese e analisar a apropriação do objeto. Para esta etapa, que consiste na montagem de um braço, professor e aluno optaram pela confecção do braço em uma impressora 3D, no laboratório do Núcleo. “Optamos por um braço robótico que é bem completo e complexo, bem similar à movimentação real. Cada uma das articulações será montada. É um braço inteiro”. Com o braço robótico, será possível fazer a aplicação dos testes. “A finalidade é de criar um dispositivo que origina códigos e transforma em estímulo vibratório. Assim, cria um padrão de comunicação, com movimento e sensibilidade tátil. O projeto é fazer uma prospecção da prótese. Conforme a prótese movimenta, eu sinto o movimento por meio dos motores, com estímulo direto”, destaca Faber. O aluno de Engenharia da Computação explica que grande parte do índice de rejeição de quem utiliza uma prótese é por falta da sensibilidade. “Esse é um dos motivos pela falta da apropriação. A pessoa fica sem a noção de amplitude e movimento. O que queremos é que a pessoa incorpore a prática tátil e crie o padrão”, diz. O professor cita como exemplo a utilização de uma guitarra, “É como se fossemos tocar uma guitarra. A pessoa já tem em sua mente o que precisa fazer e quais os pontos. Ela já tem guardado um mapa neural da guitarra e é isso que queremos estimular com a luva na prótese. Queremos que a pessoa tenha sensibilidade da prótese”. No laboratório, uma impressora já está produzindo todos os detalhes do braço robótico. Com esta etapa, os envolvidos no projeto contam que será provável a

utilização da luva em outras ações, como em operações de grupo antibomba, controlar câmeras e até mesmo em cirurgias. “Vamos poder controlar um braço, robôs e outros objetos, tudo isso a distância, com estímulo tátil, e controlando a pressão que será empregada”, afirma Jean Faber. Com esta etapa, daqui a três meses, o Núcleo deve iniciar o teste. “Vamos testar em pessoas que perderam os movimentos dos membros superiores. Iremos analisar os testes e avaliar a apropriação”, acrescenta o orientador.

Aparatos Com o projeto em andamento, o coordenador do Núcleo diz que a montagem será reestruturada. Hoje, fios, baterias e fitas de velcro dividem o espaço na hora dos testes. A proposta é incorporar uma nova vestimenta. Um novo colete será adquirido e a estrutura será remanejada. “Ainda está um pouco confusa e embolada toda essa estrutura, mas iremos refinar e deixar ainda mais usável, para que as pessoas possam utilizar”.

Verba O projeto que teve verba de R$ 5 mil, destinada pelo CNPQ para a compra dos aparelhos, agora se expande e outro aporte deve ser liberado pelo conselho, totalizando R$ 45 mil. Com a verba extra, será possível comprar outros equipamentos. Com os testes realizados e a finalização dos dispositivos até o fim do ano, os estudiosos também querem verificar outra forma de captação dos sinais para a aplicação do sistema. “Vamos verificar a captação dos sinais nos músculos. Serão verificados os sinais elétricos nos músculos e assim vamos identificar o tipo de movimento. Como cada movimento corresponde a determinado estímulo. A ideia é entregar os sensores e ter uma resposta de interpretação mais sofisticada e sem falhas”, completa o professor à Metrópole Magazine. 


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NOTÍCIAS TURISMO

Vale da aventura

O destino certo para os turistas que buscam adrenalina Divulgação

Marcus Alvarenga SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

R

espiração ofegante, batimento acelerado, sentidos apurados e no final um prazer relaxante e que traz uma sensação inexplicável, mas duplamente atrativa para uma nova experiência. Esse é o relato para muitos dos aventureiros que desbravam o turismo à flor da pele nas cidades da região e em todos os lugares do mundo. O Vale do Paraíba e Litoral Norte são

atrativos por sua beleza, cultura e calmaria de interior, mas basta termos um olhar mais apurado e curioso para encontrarmos ótimas opções de conciliar o turismo com a diversão e sentir a adrenalina correndo pelo corpo. O fundo do mar, as clareiras na mata, as corredeiras das nascentes, o alto das pedras e o céu infinito são os cenários dos destinos procurados pelos viajantes do pouco conhecido turismo de aventura. Destinos para os mais medrosos e para os loucos por experiências mais radicais. O turista pode vir do alto ao chão

ou ao contrário, mas o cenário do céu azul e a visão do mundo um pouco menor que o habitual estão presentes nestas experiências. Em diversas cidades da região, a pratica do voo livre é comum, como em Caraguatatuba e Santo Antônio do Pinhal, já o paraquedismo acontece em Pindamonhangaba. Para aqueles que desejam voar como pássaros, o paraglider e o parapente são os que mais se aproximam da realidade. Na região, o turista pode escolher entre ver de cima as cidades da Serra da Mantiqueira, saindo do Pico Agudo, em Santo Antônio do Pinhal, ou planar


São José dos Campos, maio de 2016 | 61

Fotos: Divulgação

Caraguá é um dos destinos para quem gosta de voo livre

sobre as praias de Caraguatatuba, decolando do morro do Santo Antônio. O viajante vai desembolsar cerca de R$ 150, mas pode custar um pouco mais com a filmagem e fotografia do voo pela empresa que oferece o serviço. Em ambos os pontos da região, é obrigatório o voo duplo, em que o passageiro esteja com calçado fechado, leve uma roupa de frio e não se esqueça da coragem para saltar de uma altura de cerca 400 metros, equivalente a um prédio de aproximadamente 100 andares. Para quem acha que ainda continua baixa essa brincadeira, basta

pegar a rodovia Presidente Dutra até Pindamonhangaba para ter a experiência de alcançar uma distância a mais de três quilômetros do chão. A única cidade da região que oferece o salto de paraquedas é Pinda, com um investimento de R$ 650. A aventura alcança os 220 km/hora, com cerca de 30 segundos de queda livre e mais cinco minutos de navegação pelo céu até o pouso. Mas, não se esqueça de agendar com antecedência e ficar atento à meteorologia, porque se o vento estiver um pouco mais forte, oferecendo riscos à segurança, o salto é adiado.


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Na terra e na água Basta alcançar a terra firme que as opções se multiplicam. Uma delas é o rafting pelas águas do rio Paraibuna, entre as cidades de São Luiz do Paraitinga e Natividade da Serra. A navegação pode ser bem calma, com uma descida nível I de dificuldade, até a experiência mais radical no nível IV+. O destino, além de buscar o seu lado aventureiro, ensina a valorizar o meio ambiente, a importância da preservação e o trabalho em equipe. O passeio é realizado em um bote inflável para cinco pessoas mais o condutor e o desempenho de todos é essencial para um percurso perfeito. A diversão para um dia de sol e calor custa em torno de R$ 160, para um passeio de três horas. A empresa Cia. Rafting oferece outros pacotes com duração maior e que têm um aumento de preço proporcional, podendo chegar a uma expedição com dois dias, acampando no percurso, por um valor de R$ 1.600. Existem os turistas que não se contentam em apenas ficar na superfície da água e querem conhecer mais profundamente o cenário de diversão. Os mergulhadores podem apostar nas cidades do Litoral Norte para estarem próximos da natureza marinha e aproveitar uma praia. A Ilha das Cabras, em Ilhabela, é um destino muito procurado pelos turistas, pela beleza acima e abaixo do nível do mar. Devemos lembrar que o mergulho é somente para as pessoas que já possuem a certificação, mas, para aqueles que não têm o curso básico, a atividade também é acessível e disponibilizada na região. O passeio mais básico, com o aluguel de dois cilindros de ar, tem o valor de aproximadamente R$ 250, dependendo da empresa que o turista contratar para assessorar o mergulho. As cidades de Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião também possuem belas praias, ilhas e ilhotas com opções de

Corredeiras do Rio Paraitinga atraem os aventureiros

mergulho em alto mar. A viagem pelas cidades do vale e do litoral não precisam ficar na mesmice e na calmaria típica de quando pensamos em algum destino no interior do país. A aventura está por todos os lados, entre as árvores, nas trilhas ecológicas, por dentro

do mar ou por cima da superfície da terra. O turismo de aventura é uma vertente de viagem que está cada vez sendo mais procurada pelos turistas que buscam a adrenalina, viagens saudáveis e ecológicas ou ainda querem o diferente como uma experiência única e inesquecível. 


PODE COMPARAR, NENHUMA OUTRA RÁDIO TOCA TANTA MÚSICA COMO A ANTENA 1.


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Gastronomia&

Pedro Ivo Prates

A picanha ainda é a preferida do brasileiro, mas tem que saber escolher a peça

No ponto certo Fomos ouvir especialistas para saber como fazer um churrasco perfeito Adriano Pereira SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

C

hega o final de semana, você já convidou todo mundo, a grelha já está limpa e só falta a cerveja gelar. Diz o ditado que de médico e louco, todo mundo tem um pouco, mas no Brasil, poderíamos acrescentar a função de churrasqueiro. Todo mundo tem um jeitinho particular para tudo, aquele famoso segredo que na verdade nem é tão secreto assim. Para acabar com as dúvidas e você fazer bonito no próximo fim de semana, visitamos o Mr. Moo, casa especializada em cortes nobres, para ouvir de quem entende de verdade do assunto. “São coisas simples e fáceis que podem fazer seu churrasco ficar melhor. Muita gente chega

aqui com dúvidas sobre como assar, grelhar, cortar e até acender a churrasqueira. São dúvidas básicas que causam muita diferença”, diz Bruno Alvarenga, um dos proprietários da casa. Então vamos do início. A primeira coisa é escolher a peça de carne. Nós decidimos falar dos três cortes mais vendidos no Mr. Moo, ou seja, os preferidos dos churrasqueiros amadores. A picanha continua certeira no cardápio, mas o brasileiro descobriu dois cortes do contrafilé que são muito comuns na Argentina como queridinhos: o ancho e o chorizo. Em todos eles, é essencial analisar a coloração da carne. “Ela tem que estar avermelhada, com um aspecto sadio. Além disso, as pessoas costumam achar que carne maturada é pior do que fresca. Isso é um engano, a maturação

é necessária para as enzimas corroerem os tecidos conjuntivos, o que faz a carne ficar mais macia e saborosa”, explica Alvarenga. Na picanha, a gordura tem que ser linear, firme e ter entre 1 e 1,5 cm de espessura e não deve ser maior nem menor do que 2 ou 3 vezes a porção de carne. Para entender melhor, quando você fatiar a peça, a parte de carne deve ter três dedos e a de gordura apenas um. Picanhas nacionais não devem passar de 1,2 quilos, além desse peso você estará comendo coxão duro. No caso das peças importadas, vale a regra sobre o tamanho do animal. Um boi abatido com 800 quilos terá uma picanha maior. Os dois cortes distintos do contrafilé também merecem atenção. O ancho é a parte dianteira da peça, muito mais macia e saborosa, tem mais gordura entremeada nas fibras do que o corte do lado oposto, que é o chorizo. Neste último, o ideal é procurar uma gordura lateral cuja altura deve ficar entre 1,5 e 2 cm.

Faca A maneira de cortar também influencia no sabor. O correto é ter uma faca boa o suficiente para fatiar uma picanha com


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Adriano Pereira

duas passadas apenas. Segundo Bruno Alvarenga, o correto é inclinar um pouco a faca, apoiando o dedo indicador no cabo, passar uma vez indo e outra vindo. Isso já deve ser o suficiente. Se você salgar antes de acender o fogo, o sal vai deixar a carne seca. Então, deixe as peças descansarem um pouco e parta para o carvão. Sabe quando você abre o saco e dá de cara com aquelas pedronas? Deixe-as como estão, afinal você não quer fogo, quer brasa. Dessa forma, os pedaçõs grandes de carvão vão queimar mais lentamente, fazendo com que o calor seja mais uniforme. Para acender, nada de óleo, pão encharcado de álcool e aqueles “truques” de família que incluem dar três pulinhos e invocar algum santo. A tecnologia está aí pra isso. Acendedores em gel são baratos, fáceis de serem encontrados e dão conta do recado sem deixar cheiro nem gosto. “Uma dica legal é deixar as cinzas do churrasco anterior no cantinho da churrasqueira. Quando o fogo aumentar, você joga essas cinzas por cima, assim não precisa jogar água e fazer aquela bagunça com a fuligem”, explica Alvarenga.

Grelha Se você é daqueles que improvisa a grelha com a prateleira da geladeira, está na hora de investir em um equipamento decente. As melhores grelhas são as que têm calhas, dessa forma a gordura fica concentrada na grelha e não pinga no carvão, levantando o fogo. Além disso, pincelar a carne com essa gordura é garantia de mais sabor. Bom, fogo aceso, grelha certa, vamos salgar nossas carnes. Se você não sabia, existem vários tipos de sal grosso no que diz respeito à espessura das pedras. A relação é óbvia: peças grandes, pedras grandes. Com fatias de picanha, chorizo ou ancho, o ideal é usar sal grosso triturado em moedores. Para peças como uma costela, existe o sal grosso tamanho 4, que é uma pedra grande de sal. Chega a hora de colocar para assar ou

Carnes mais próximas de ossos, como o carré, ficam melhores mal passadas

grelhar. A diferença entre as duas maneiras está diretamente relacionada ao tamanho das carnes. Você vai grelhar numa distância de 15 cm do fogo peças pequenas e assar numa distância de 40 a 60 cm, as maiores que demandam mais tempo. Se tem um assunto que dá tanta margem para discussão quanto o ar-condicionado do escritório é o ponto da carne. A mãe gosta ao ponto, o pai gosta mugindo e a tia que veio do interior quer um toco de carvão no prato. Bom, sem entrar no campo do gosto pessoal, é bom entender que nem a melhor carne do mundo vai ficar macia, suculenta e saborosa se passar do ponto. Isso também não significa que você seja obrigado a comer a carne crua. Cortes que ficam próximos aos ossos tendem a ficar melhores mal passadas. Mas é uma regra que pode te confundir, já que a costela demanda um tempo bem maior. Nesse caso, use o bom senso e a dica sobre o tamanho das peças. Os bifes maiores devem ficar no fundo da grelha, onde o calor se concentra. Bom, nesse ponto a cerveja já deve estar gelada, o pessoal está chegando e o que falta é ser feliz e impressionar seus camaradas com essas dicas. Tudo bem, pode fingir que você sempre soube disso. 



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Social& Fotos: Divulgação

por Luiza Paiva 2

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Premiação

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Uma noite de muito requinte e luxo foi o cenário que marcou a festa de premiação da Arquitetura do Vale, no dia 6 de abril, em São José dos Campos. A grande ganhadora da noite foi Carolina Scarpelli, que ganhou uma bolsa da Chanel e um carro modelo Lancer da Mitsubishi.

4

5

6

Lançamento O coquetel de lançamento realizado pela loja Oscar Calçados do Shopping Colinas, SJC, no dia 19 de abril, foi um grande sucesso, reunindo dezenas de personalidades de toda região, incluindo socialites, blogueiros e empresários.

1 1 - Carol Scarpelli. 2 - Fabiana Venzo e Carlos Eduardo Bigarella. 3 - Patrícia Johansson . 4 - Rose, Oscar e Sonia Constantino. 5 - Gisele Catanho e Andreia Schmitz. 6 - As gêmeas Thayane e Tahynara; no centro Juliana Friggi


São José dos Campos, maio de 2016 | 69

Negócios& Mães empresárias Cuidar dos filhos, do trabalho e da casa ao mesmo tempo não é fácil, mas ainda assim todas garantem que os filhos são as melhores coisas da vida! Algumas mães da região sabem bem como é administrar essa rotina de mãe e empresária. Veja só: Rogéria Córdoba, 52 anos, é a mãe de uma das famílias mais conhecidas de São José dos Campos, responsáveis pelo Bar do Coronel. Seus filhos, Rogério e João Paulo, assumiram suas funções no bar naturalmente, de acordo com a aptidão de cada um. “É sempre tão bom ter os filhos com a gente o tempo todo. A sensação é de que eles nunca saíram debaixo das minhas asa”, diz A empresária Bel Zanella, 38 anos, é mãe de Valentina, de oito anos, e Lorenzo, de cinco. Ela é embaixadora do Food Revolution! e dona do Quiosque Philosophy em São José. Em meio à correria, ela encontrou nos hábitos saudáveis uma forma de unir a família. “Cuidar do jardim ou ir ao sítio colher abacate, por exemplo, são momentos que temos para ficarmos juntos. As crianças vivem conosco este estilo de vida”, diz. Célia Moscardi, diretora do grupo Conexão FGV, viu seus filhos crescerem junto com a empresa. Hoje, seu filho Rafael dirige três áreas da empresa e a filha Priscila coordena a Conexão T&D. “Eles fazem o que gostam e a parte boa é essa continuidade da missão, visão e valores da nossa empresa. Como mãe, isso me dá uma realização e orgulho muito grande”, diz.

De cima para baixo, a empresária Célia Moscardi, Rogéria Córdoba com os filhos João e Rogério e ao lado Bel Zanella com os filhos


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Arquitetura& Por Adriano Pereira

Projetando Sonhos Integração com o ambiente no qual o projeto está inserido é primordial para um bom projeto

P

rojetar uma residência é algo bastante peculiar na arquitetura. Alguns arquitetos, por exemplo, são mais lembrados por algumas casas que projetaram do que por grandes obras. A “Casa da Cascata”, de Frank Loyd Wright chega a competir com Museu Guggenheim de Nova York quando o assunto é notoriedade. “Numa residência é necessário atender todas perspectivas do habitar, elaborando espaços adequados para tudo”, explica o arquiteto Francisco Petracco. Mas quando o assunto é uma casa de praia, o projeto deve estar muito mais ligado aos sonhos dos proprietários do que às necessidades. Petracco é um dos especialistas em transformar esses sonhos em obras que se integram às paisagens. Autor de projetos como o Museu da Arquitetura, a Escola de Cinema de São Paulo, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o Palácio de Justiça de Florianópolis, entre outros, é projetando residências que sua imaginação percorre mais curvas. “Nestes três projetos de casas de praia existe um ponto em comum: uma grande laje com forma que se harmoniza ao relevo existente”,

explica o arquiteto. De fato, uma das características apontadas por Petracco como necessárias para um projeto de casa de praia é a harmonia com o ambiente. “O mar, a topografia, a vegetação, enfim, a harmonia é a grande protagonista de um bom projeto”, diz. A casa de Ilhabela é um exemplo dessa integração. Principalmente no que diz respeito à vegetação. Mas logo de cara existia um desafio que não se relacionava com nenhuma impossibilidade técnica. “Existe uma crendice na Ilha que não se deve construir casas sem telhado. Mas não abriríamos mão de usar a tecnologia disponível “, conta. O recorte na fachada acompanha o terreno com inclinação e acaba sendo uma metáfora da orla e do mar que bate na costa. A integração com o meio fica bastante clara. Na casa de Ubatuba, o espaço era quase a outra ponta: um terreno amplo e plano bem próximo ao mar. Entretanto, as curvas da Serra do Mar ao fundo são projetadas na fachada da casa, que também lembra as asas das gaivotas que são frequentes na região.

Recorte no telhado acompanha a costa da Ilhabela


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Fotos: Arquivo pessoal


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Em Ubatuba, o terreno amplo permitiu um projeto que acompanhasse as montanhas e aproveitasse o espaço

Janelas amplas para aproveitar a vista no projeto de Ilhabela

É comum ver arquitetos estrangeiros deslumbrados com a capacidade que o brasileiro tem de aproveitar o meio ambiente em que constrói. É uma característica clara em nomes como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi e João Filgueiras Lima. Haja vista também a parceria profícua entre o paisagismo de Burle Marx e alguns dos nomes citados. Francisco Petracco é desta escola, a que não abre mão das influências europeias, nem da tecnologia, mas ao mesmo tempo respeita e tenta agredir o mínimo possível a paisagem existente. Quando alcança o objetivo, essa arquitetura além de não agredir, complementa a paisagem e, mais do que isso, agrada aos olhos. 



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Crônicas & Poesia

Razão do cliente

por Alexandre Corrêa Lima Brilhava o sol de maio sobre os penhascos que enfrentavam bravamente o mar, na charmosa e pequena Cefalù na Sicília. O restaurante, com vista para o verde infinito do Mar Tirreno, poderia servir aos seus clientes simplesmente isso, a vista, que já sairíamos saciados. Não foi difícil escolher o prato. Muitos restaurantes europeus oferecem um menu relativamente limitado, pois valorizam a tradição e acreditam que ilimitado deve ser o sabor, não as invencionices. Então não espere encontrar no cardápio um penne com mussarela de búfala, frango desfiado, picanha, catupiry, couve flor e ovo de codorna, porque você não está no Spoletto. Um menu limitado, mas executado à perfeição. Escolhi o linguini al mare. Massa com frutos do mar, num restaurante italiano em frente ao mar, não poderia dar errado. Antes que finalizasse a primeira taça de vinho, chegou o prato, exalando cores, vapores, odores, sabores e todos os ores que meu léxico foi capaz de nominar. Pedi ao garçom mais uma taça de vinho e que me trouxesse um pouco de queijo ralado também. Veio a segunda taça de vinho, mas não o queijo. Pedi novamente, o garçom emitiu um resmungo incompreensível e se foi. Passados mais alguns minutos eu pedi o queijo novamente ao mesmo garçom, que com os dedos juntos e o típico gesto expansivo que caracteriza os italianos berrou (grifo no ‘berrou’) frases absolutamente incompreensíveis para a minha diminuta capacidade de decifrar o vernáculo de Michelangelo. Minha mãe, na mesma mesa, deduziu que ele

teria dito que não se mistura queijo com frutos do mar. Pela testa franzida, mãos trêmulas e voz indignada, suponho que ele tenha dito muito mais que isso. Acho que ouvi uns cazzos, stronzos e outros fonemas que até hoje não tive coragem de pesquisar no Google. Fiquei tão atônito que não consegui reagir. Muito pela surpresa e um pouco por estar na Sicília. Vai saber em que família foi parido aquele garçom infeliz? Lembrei-me de uma cena do Poderoso Chefão em que um mafioso assassina um cliente no meio do jantar, e resolvi engolir a indignação junto com mais uma garfada do linguini, que aliás estava divino, mesmo sem o queijo. Nunca saberei o que aquele italiano queixudo me falou, mas deduzo que minha mãe estivesse certa. Durante um bom tempo eu enxerguei aquele episódio como um gesto de rudeza injustificável com um cliente. Ademais, estava pagando, e o cliente tem sempre razão. Mas nada como o tempo. Julgar requer conhecimento das coisas e principalmente do contexto. As raízes da culinária italiana remontam ao século quarto antes de Cristo, a partir de influências gregas, bizantinas e etruscas. Dois mil anos antes do primeiro cara pálida pisar em solo brasileiro os sicilianos já apreciavam a arte da mesa. Há registros de que o poeta grego Archestratus, residente na mesma Sicília em que comi, tenha recitado em versos os segredos dos bons ingredientes e da boa cozinha. Achei aquele garçom tão rude quanto ignorante, mas demorou para assimilar a minha própria ignorância. Ignorei pelo menos 2 milênios de tradição culinária. Ignorei que aquilo não era simplesmente

mais uma refeição, e sim uma arte, pacientemente aperfeiçoada ao longo dos séculos, e que eu, com minha pressa fast-food e minha mentalidade orientada pela lógica das relações hierarquizadas do dinheiro (pago, logo, exijo) não conseguia compreender. Misturar queijo com frutos do mar, para aquele garçom era uma heresia que ele simplesmente não se permitia pactuar. Ele não podia colocar queijo naquele prato, assim como João Gilberto não permitiria colocar uma guitarra elétrica na música “chega de saudade”. Simples assim, cáspita! O cliente é a coisa mais importante em qualquer negócio, mas há situações em que ele não tem razão, tem apenas o dinheiro e a senha do cartão de crédito. Como eu, naquela ensolarada tarde de maio de 2001. Hoje eu dou risada daquele faniquitico à la italiana, e agradeço não ter recebido o famigerado queijo ralado, que teria estragado o melhor linguine al mare que já comi em toda a minha vida Alexandre Corrêa Lima é administrador de marketing e pesquisas, palestrante e escritor diletante




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