Metrópole Magazine - Junho de 2017 / Edição 28

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Junho de 2017 – Ano 3 – nº 28

Transparência

OPACA Lei federal em vigor há cinco anos democratizou o acesso a informações públicas. Pena que, na região, quase ninguém cumpre. Saiba quais são os seus direitos

RETROGAMERS

Na era dos jogos ultrarrealistas, uma comunidade cada vez mais numerosa na região se reúne para cultuar games clássicos pág. 38

ENTREVISTA

Novo fenômeno da Igreja, padre Rodrigo Natal fala sobre fé, política e o sucesso como músico e escritor pág. 14




metr pole magazine

EDITORIAL

www.meon.com.br/revista Diretora-executiva Regina Laranjeira Baumann

Metrópole reforça seu compromisso com um jornalismo plural e apartidário Há momentos em que a comparação entre o Brasil e países desenvolvidos provoca um misto de descrença e frustração. Mas é da natureza humana acreditar e continuar diariamente a busca pela evolução. Assim é que a legislação que exige transparência das contas públicas mostra-se um importante instrumento que, entretanto, não vem sendo devidamente utilizado pela ausência de informações claras. A Metrópole Magazine de junho, sob o título ‘Transparência Opaca’, mostra como cidades da RMVale precisam atentar mais ao dever de informar e o cidadão, de cobrar total transparência sempre que envolver recursos públicos.

Editor-chefe Max Ramon Repórteres Eliane Mendonça Felipe Kyoshy João Pedro Teles Marcus Alvarenga Rodrigo Fernandes Fotografia Pedro Ivo Prates Diagramação Adelson Gomes Colaboradores Tânia Campelo Yasmin Faria Arte Giuliano Siqueira

QUEM CONHECE, CONHECE BDO Marketing

A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, ampla, Uma das Big 5

próspera e que inspirou a idealização do Grupo Meon de ComuniLíder no middle market cação, vai se delineando com a integração das cidades. O esporte é 21 escritórios no Brasil | Advisory um instrumento de aproximação dos povos e aquiAudit não| éTaxdiferente.

A cidade de Taubaté agora se destaca, dando orgulho à sua gente. Os católicos também têm motivos para comemorar, com a ascensão de um padre que reúne multidões de fiéis, louvando com alegria, no ritmo de grandes eventos musicais.

Paloma Perlira

Executivos de Negócios Eduardo Pandeló Dimas Ferreira Greyce Kelly Juliane Silveira Norival Silva Departamento Administrativo Gabriela Oliveira Souza Larissa Oliveira Maria José Souza Roseli Laranjeira

A Metrópole Magazine é a única revista jornalística da região, com 15 mil exemplares circulando em 10 cidades da RMVale, apuran-

Tiragem auditada por:

Visite nosso site

(55 12) 3941 4262 do notícias com rigor e o olhar voltado a mostrar Tel à região todo o seu www.bdobrazil.com.br

potencial. Distribuída gratuitamente até o mês de maio deste ano, a partir de agora passa a ser uma cortesia aos nossos leitores e trará

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novidades já no próximo mês de julho, que marca o aniversário de

Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 Jardim Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 PABX (12) 3204-3333 Email: metropolemagazine@meon.com.br

250 anos de São José dos Campos. Aproveitem as matérias elaboradas com cuidado minucioso e a responsabilidade de estar nas mãos de pessoas que buscam informação de qualidade. Boa leitura. Regina Laranjeira Baumann

A revista Metrópole Magazine é um produto do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares



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SUMÁRIO Pedro Ivo Prates

Matéria de Capa

20 Em vigor há cinco anos, Lei de Acesso à Informação democratizou os dados públicos. Pena que, na região, quase ninguém cumpre. Saiba quais são os seus direitos e exerça sua cidadania

ESPECIAL 14 ENTREVISTA 38 Em tempos de games ultrarreaEle é músico, escritor e chega a

Pedro Ivo Prates

Pedro Ivo Prates

dade: a transição da moda.

SAÚDE 48Equipes multidisciplinares levam conforto e acolhimento a pacientes com doenças graves.

ECONOMIA Chegada do Uber à região mudou hábitos da população e criou uma concorrência inédita no mercado de transporte individual.

8 10 12

ras Mentiras’, poetisa Mariana Teixeira, de São José, entrega, aos golinhos, o seu universo íntimo.

42 DeCOMPORTAMENTO ideais estéticos para a diversi-

Pedro Ivo Prates

32

58 EmCULTURA ‘Breves Verdades e OutDivulgação

policiais da região a elucidar crimes e estabelecer um contato cada vez mais direto com a comunidade.

mágico’ transforma aulas de matemática na Etec em Jacareí.

listas, conheça uma turma cada vez mais numerosa que se reúne para cultuar jogos clássicos.

reunir mais de 10 mil pessoas nas missas que celebra em Taubaté. Conheça o padre Rodrigo Natal.

26 SEGURANÇA Mídias digitais ajudam as forças

EDUCAÇÃO 54 Símbolo dos anos 80, ‘cubo

Espaço do Leitor Aconteceu& Frases&

70 72 74

ESPORTES 60 Com expressivos resultados no

vôlei e no handebol, Taubaté desbancam São José dos Campos como ‘capital’ dos esportes de alto rendimento na região.

Social& Arquitetura& Crônicas&Poesia


A Câmara quer que você participe da vida da cidade

Acompanhe o trabalho dos 21 vereadores em São José dos Campos nas sessões plenárias, todas as terças e quintas-feiras às 17h30. Nas sessões de terça-feira são votados requerimentos e indicações. Nas sessões de quinta-feira são apresentados projetos de lei, emendas, leis complementares e decretos. Visite a Câmara ou, se preferir, acompanhe pela TV, internet ou redes sociais. Canal 7 da NET e 9 da VIVO TV www.camarasjc.sp.gov.br /camarasjc

/camara_sjc /camarasjc /camarasjc

CÂMARA MUNICIPAL SÃO JOSÉ DOS CAMPOS A vida da cidade passa por aqui


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Espaço do Leitor Edição 27 – Maio de 2017 RMVALE

Feedback

A edição de maio da Metrópole Magazine mostrou o bom momento das startups na região. Com pouco dinheiro e muitas ideias, jovens empreendedores estão sacudindo o mercado da inovação. Outro destaque foi a reportagem especial que mostrou como as redes sociais estão influenciando o debate político. Nunca se leu e se discutiu tanto sobre o tema --para o bem e para o mal. A edição de maio trouxe também um

perfil do humorista Junior Guimarães, mente criativa por trás do canal ‘Tapa Olho Experimental’, que faz sucesso na internet com vídeos bem-humorados sobre os costumes dos habitantes da região. As novas tendências no universo dos casamentos, a popularização dos cursos de teatro musical inspirados na Broadway e sugestões de roteiros turísticos para quem quer curtir o inverno longe da badalação também tiveram destaque.

O Rei da Web Além de nos presentear com tiradas engraçadíssimas na internet, Junior Guimarães nos mostra que é possível levar a vida com mais leveza. Sua história é um exemplo para todos. Ana Maria Abreu

Zoneamento Com relação à entrevista do presidente da Aconvap, quero parabenizar a Metrópole pelas perguntas, bem diretas aos pontos que são importantes para São José. Graças a elas, foram obtidas respostas que confirmam que os empresários da construção no Brasil continuam os mesmos. Arlindo Ramos Envie email contendo: nome, idade e profissão para metropolemagazine@meon.com.br ou por correio para av. São João, 2375 - sl 2010 - Jardim Colinas - São José dos Campos - SP - CEP: 12.242-000. Em função de espaço, as mensagens poderão ser resumidas.

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Aconteceu& Pedro Ivo Prates/meon

Volkswagen inicia exportações do novo Up!, produzido em Taubaté A Volkswagen exportou 3.000 unidades do novo Up!, que é fabricado exclusivamente na fábrica de Taubaté, para a América Latina. Os carros foram enviados para Argentina, Peru e Uruguai, que são considerados os principais mercados da América Latina depois do Brasil. Em breve, o modelo também deverá chegar a México, Colômbia e Curaçao. A montadora começou a produção do novo Up! em janeiro. De acordo com a Volkswagen, foram investidos R$ 21,5 milhões na unidade do Vale do Paraíba para a produção do modelo --a unidade também fabrica o Gol e o Voyage. O novo Up! 2018 foi lançado no mercado em abril deste ano e tem versões a partir de R$ 37.990.

Foto: Meon

Delação premiada da JBS cita repasses a 16 políticos da região Pelo menos 16 políticos da região foram citados em planilhas da delação premiada do grupo JBS. Todos receberam recursos do grupo em 2014. A delação premiada da JBS já foi homologadas pelo Supremo Tribunal Federal, medida que dá validade jurídica ao acordo e permite, a partir de agora, que a Procuradoria Geral da República peça novas investigações. Entre os políticos citados estão o deputado federal Flavinho (PSB), o deputado estadual Padre Afonso Lobato (PV), o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSB), e os vereadores Valdir Alvarenga (SD), Graça (PSD) e João Vidal (PSB) --o primeiro de São José e os dois últimos, de Taubaté. Todos eles alegam que nunca mantiveram contatos com a JBS e que os recursos foram captados por seus partidos. Os repasses foram feitos por meio de doações de campanha e declarados à Justiça Eleitoral.

Um médico de 44 anos foi preso acusado de encomendar a morte da ex-mulher por R$ 7.000 em São José dos Campos. A vítima, a vendedora Jaqueline Barros Vanderlei, foi executada com dois tiros dentro da loja de móveis onde trabalhava, localizada na avenida São João, área nobre da cidade. Segundo a DIG (Delegacia de Investigações Gerais), o acusado e a ex-mulher passaram por um turbulento processo de separação --ela movia uma ação na Justiça contra o médico por uma dívida de R$ 40 mil em pensões. A defesa do ex-marido contesta as acusações e diz que o médico não tinha mais qualquer contato com a Jaqueline. Alega ainda que a Polícia Civil desconsiderou informações sobre ameaças que seu cliente estaria sofrendo.

Estadão

Médico é preso acusado de encomendar a morte da ex-mulher


Pedro Ivo Prates/meon

Jacareí transfere gestão de unidades de saúde para organizações sociais Os futuros contratos de gestão da UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Parque Meia Lua e do SIM (Serviço Integrado de Medicina), em Jacareí, somarão mais de R$ 20 milhões por ano. A prefeitura anunciou em maio que vai transferir a administração dessas unidades para Organizações Sociais até julho. Segundo o governo Izaias Santana (PSDB), o novo modelo ampliará a oferta de serviços à população, além de contemplar melhorias como a reforma das unidades e a compra de novos equipamentos. A contratação de organizações sociais para a gestão das duas unidades reproduz modelo adotado na nova UPA Infantil da cidade, inaugurada no início de abril sob a gestão da Sociedade Beneficente Caminho de Damasco. O contrato foi fixado em R$ 13,6 milhões por ano.

Divulgação

Lançado ao espaço satélite desenvolvido pela Visiona Foi lançado em maio, no Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, o primeiro satélite geoestacionário brasileiro para defesa e comunicações estratégicas. Maior investimento do programa espacial brasileiro na década, o satélite foi desenvolvido pela Visiona, joint-venture da Embraer com sede em São José. Ele ficará posicionado a uma distância de 36 mil quilômetros da superfície da Terra, cobrindo todo o território brasileiro e o Oceano Atlântico. A capacidade de operação do satélite é de 18 anos. Segundo o governo federal, o lançamento do satélite integra o Plano Nacional de Banda Larga, que tem o objetivo de oferecer serviços de internet a 100% do Brasil, além de criar um meio seguro e soberano para as comunicações estratégicas do país.

Foto: Meon

‘Grávida de Taubaté’ vira jogo para celulares Cinco anos depois de ganhar o noticiário do país e até do exterior, a ‘Grávida de Taubaté’ continua rendendo. No mês de maio, o humorista Junior Guimarães, mente criativa por trás do projeto Tapa Olho Experimental, lançou um jogo para celulares inspirado na história: ‘Grávida de Taubaté - The Game’, disponibilizado gratuitamente para download. O objetivo do jogo é conduzir a grávida por um percurso pegando o maior número possível de bolas que mantenham sua barriga com volume e fugindo da viatura da polícia. Para acumular pontos, a grávida deve dar entrevistas aos repórteres e arrecadar doações de fraldas das pessoas que encontrar pelo caminho. O jogo já teve até um campeonato oficial, realizado na Vale Expocomics, em Taubaté.


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Divulgação

Frases&

A solução para a crise está dentro da própria universidade, bastando apenas resolver os graves problemas de gestão que ao longo dos anos estão comprometendo um dos mais importantes patrimônios públicos de Taubaté

Loreny (PPS), vereadora em Taubaté, em audiência pública de prestação de contas da Unitau. Na ocasião, a universidade reconheceu que fechará 2017 com uma arrecadação menor que a prevista

Deu tudo certo, queria muito isso. Agora estou me sentindo diferente, por que agora estou casada

No depoimento, ela alegou ter ouvido vozes que diziam o que fazer

Luís Geraldo Ferreira, delegado de Campos do Jordão, sobre a mulher de 61 anos que atropelou um grupo de turistas na cachoeira Ducha de Prata, um dos cartões postais da cidade. Uma das vítimas morreu

Divulgação

Benedita Raimunda, a Dona Dita, moradora de um asilo de Lagoinha, que realizou aos 69 anos o sonho de se casar de papel passado com o companheiro Antônio Corrêa Martins, 68. Os dois estão juntos há 30 anos.

Nunca enxerguei a música como uma carreira profissional. Mas, hoje, já penso diferente e quero sim fazer cursos e me aperfeiçoar cada vez mais

Roberta Maciel da Cruz, 39 anos, gari de São José dos Campos que se inscreveu para a seletiva do Campeonato Mundial de Karaokê. Inscrição de R$ 60 foi paga pelos colegas de trabalho


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Esses truques urbanos, é fato, têm a função de manter à distância os moradores de rua e pessoas desocupadas. Ao criar um mobiliário urbano desconfortável, é possível manter a área livre desses inconvenientes

Maninho Cem Por Cento (PTB), vereador de São José, sobre seu projeto de lei que previa a instalação de bancos ‘antimendigo’ na cidade

Se a pessoa está ali, é porque precisa. Não podemos só pensar na cidade mais bonita e sacrificar o ser humano

Luiz Alberto Barbosa, presidente do Conselho Metropolitano da Sociedade São Vicente de Paulo, sobre a lei do banco ‘antimendigo’. O projeto acabou arquivado

O custo médio de um processo judicial é de R$ 1.848, sendo que o valor do salame não chegava a R$ 20. Além do custo do processo, houve também o custo do encarceramento do réu, que ficou quase quatro meses preso

Livia Correa Tinoco, defensora pública, que conseguiu no Superior Tribunal de Justiça o arquivamento de uma ação penal contra um morador de São José acusado de furtar uma peça de salame de R$ 18,11

Wallace, oposto do Taubaté, sobre o vice-campeonato na Superliga. A equipe foi derrotada por 3 sets a 1 pelo Cruzeiro, em partida disputada no ginásio do Mineirinho

Divulgação

Para nós, valeu a experiência. Essa foi a primeira final da equipe e serve de experiência. Quando voltarmos a uma final, saberemos como nos comportar


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ENTREVISTA

A nova cara da Igreja

Ele é músico, escritor e chega a reunir mais de 10 mil pessoas nas missas que celebra em uma modesta paróquia de Taubaté. Conheça Rodrigo Natal, o padre que arrasta multidões por onde passa Max Ramon TAUBATÉ

R

odrigo Natal Perrucini, ou simplesmente Rodrigo Natal, é um nome em ascensão na Igreja. Em apenas seis anos, transformou a humilde paróquia São Sebastião, em Taubaté, em uma das mais importantes da região, com missas que chegam a atrair mais de 10.000 pessoas – gente de todas as partes que busca as mensagens de fé e de esperança do jovem padre. Hoje, o sacerdote arrebanha multidões por onde passa. “Posso afirmar categoricamente que encontrei o meu lugar. Acho que estou no lugar certo, fazendo a coisa certa. Faço com muita verdade, com muita entrega, com muita vontade. Acho que as pessoas sentem isso e acabam se envolvendo com esse sentimento”, diz. Paralelamente ao sacerdócio, padre Rodrigo engatou trabalhos como cantor (com três CDs lançados) e escritor (com cinco livros que já venderam mais de 300 mil exemplares), além de participações em programas de TV e rádio. “Meu desejo é que a palavra continue chegando às pessoas, que elas continuem experimentando aquilo que eu experimentei e que me fez bem”, resume o padre, que completou 12 anos de sacerdócio em maio. Entre um compromisso e outro, Rodrigo Natal recebeu a Metrópole Magazine para um bate-papo sobre fé, os rumos da Igreja e seus novos projetos. Confira os principais trechos:

Quando decidiu se tornar padre? Venho de um berço muito religioso. Avós, pais. Então, isso acabou me introduzindo nas coisas da Igreja. Mas foi participando de alguns encontros religiosos, encontros de jovens que aconteciam na Canção Nova lá na década de 90, que senti o desejo de aprofundar, de me entregar mais. Fui vendo essa linguagem mais atual da Igreja, tudo

Foi participando de alguns encontros de jovens que aconteciam na Canção Nova lá na década de 90 que senti o desejo de me aprofundar, de me entregar mais. Fui vendo essa linguagem mais atual da Igreja, tudo muito cantado, mais alegre. Isso mexeu com o meu coração”

muito cantado, celebrado, mais alegre. Isso mexeu com o meu coração. Mas a fé sempre esteve muito presente em minha família. A propósito, me chamo Rodrigo Natal porque nasci no Natal de 1978, em Cachoeira Paulista, e os meus pais decidiram fazer uma homenagem à data. Alguma pessoa, em especial, inspirou essa decisão? Sair de uma experiência familiar para uma experiência pessoal é realmente algo muito significativo. Quem me inspirou muito foi o padre [hoje monsenhor] Jonas Abib, fundador da Canção Nova, por todo o seu dinamismo, a maneira de organizar e vivenciar as coisas da fé junto aos jovens. Como disse, a música foi muito significativa na minha conversão. Acho que até por isso nós a utilizamos aqui na paróquia de forma muito marcante. Antes disso, trabalhei muito na Igreja em Caçapava, onde morei até os meus 19 anos. Trabalhei em uma rádio comunitária que existe até hoje, chamada Santo Antonio FM, e participava de muitas atividades na paróquia São Pio 10º, na igreja São Benedito. Naquela época, fizemos um trabalho junto aos presidiários, uma experiência marcante. Cheguei até a cantar na cadeia. Toda sexta-feira a gente tinha uma celebração lá, só com leigos. Vim para Taubaté aos 19 anos, já para os meus estudos, para a minha preparação para a vida sacerdotal. Inicialmente, morei ali ao lado do Idesa e, depois, na antiga Casa do Menor.


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Depois, quando fui ordenado, atuei na igreja do Rosário, época em que também fui diretor da Rádio Cultura AM [administrada pela Igreja]. Há seis anos estou na Paróquia São Sebastião. O sacerdócio é visto como uma vida de privações. Como a família e os amigos reagiram a isso? É tudo uma opção. Escolhi isso para minha vida. Então, a partir do momento que foi uma escolha pessoal, que eu fiz, não tem peso. Às vezes, as pessoas tocam nessa questão da renúncia, mas toda vida é feita de renúncias. Quando você escolhe uma profissão, está renunciando a outras. Se você faz a opção de se casar e viver com uma pessoa, está renunciando a outras. Quando a gente tem essa maturidade, as opções não são pesadas. Elas acontecem de uma maneira muito tranquila. No meu caso, foi aquilo que eu percebi que me fazia feliz, me realizava. Então, foi por ali que fui norteando. Você representa uma nova geração de padres, com um trabalho de evangelização muito alicerçado em músicas e em uma linguagem mais informal. Acredita que esse é um caminho sem volta para a Igreja? A missa que eu celebro é a missa que é celebrada em qualquer lugar da Terra. Sigo o missal romano, que é o nosso livro de celebrações, assim como todos os outros sacerdotes da Igreja Católica. A palavra de Deus é intocável. A questão é a maneira como passamos isso. Sempre valorizei muito a linguagem da proximidade, o estar junto. Essa é a minha linguagem, que não agride em nada aquilo que a Igreja nos ensina. É o mesmo conteúdo, mas com uma linguagem que as pessoas conseguem entender mais facilmente. Elas conseguem sair daqui [da paróquia] levando uma mensagem. Sempre digo: “A gente tem que sair daqui melhor”. O mundo precisa de seres humanos melhores.

“Toda vida é feita de renúncias. Quando você escolhe uma profissão, por exemplo, está renunciando a outras. Quando a gente tem essa maturidade, as opções não são pesadas”

Como manter a fé diante de tantas notícias de violência e corrupção que inundam todos os dias o noticiário? Madre Tereza de Calcutá foi questionada certa vez por um jornalista sobre qual o significado da obra dela diante dessa realidade. Ela respondeu que entendia que o seu trabalho era muito pequeno, mas que, se não fizesse, era uma gota a menos no oceano. Essa mensagem é muito cara ao meu coração. Às vezes, nos menosprezamos. A gente acha que a transformação acontece em esferas superiores, e não é. A transformação acontece a partir do indivíduo. Se eu não sou melhor, é uma gota a menos no oceano. Se eu


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Foto: Divulgação

Rodrigo Natal durante uma de suas missas na paróquia São Sebastião, em Taubaté

faço a opção de ser melhor, já é uma gota a mais. Sempre prego que precisamos ser melhores. Papa Francisco pontua que a corrupção é um estado de insensibilidade ao pecado. Você a comete quando já se conformou, já não se incomoda mais. Temos que tomar cuidado para não nos habituarmos com comportamentos que vão contra a convivência humana. Se a gente não se vigia, se a gente vai se acomodando, seremos nós amanhã também [fazendo a mesma coisa]. Costumo dizer que a gente sai de duas maneiras das dificuldades da vida: ou melhor, ou revoltado. O fato de termos fé não quer dizer que ficaremos livres de conflitos e dificuldades. Mas quando nos alimentamos de fé, ela nos ajuda a

A missa que eu celebro é a missa que é celebrada em qualquer lugar da Terra. A palavra de Deus é intocável. A questão é a maneira como passamos isso. Sempre valorizei muito a proximidade, o estar junto”

sair melhores dessas situações. Penso que, diante de tudo isso que estamos vivendo, temos que tirar algo bom. Repensar os nossos posicionamentos. Não é tempo para a gente perder nada, pelo contrário. É tempo de ganhar. Estamos sendo provados. É um tempo muito oportuno para a gente se reavaliar. A melhora do coletivo acontece a partir do indivíduo. Precisamos ser pessoas melhores. As pessoas não estão sabendo lidar com o que a vida oferece? Acredito que a fé ilumina muito a realidade humana, para a gente se equilibrar, não criar expectativas que gerem frustração. Ela acaba trazendo essa contribuição, para eu não querer aquilo


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que não é meu, para eu não me tornar uma pessoa ambiciosa. São sínteses das tentações enfrentadas por Jesus Cristo no deserto. Quando a gente procura a força do alto, a gente acaba vivendo melhor. Vejo isso, testemunho isso. Você completou 12 anos de sacerdócio em maio, uma história ainda muito recente. Mesmo assim, esse trabalho já tem números que impressionam: missas que chegam a reunir mais de 10.000 pessoas, como as do Cerco de Jericó, cinco livros que já venderam mais de 300 mil exemplares e três CDs. A que você atribui essa proporção que o seu trabalho conquistou? Meu primeiro CD foi ‘O melhor virá’, em 2012. O segundo se chama ‘Encontro de Misericórdia’. Ele traz duas músicas e o Terço da Misericórdia, uma oração bem difundida entre os católicos. Isso foi em 2014. No ano seguinte, lancei o terceiro. Foi quando completei dez anos de sacerdócio. Ele se chama ‘A vitória é nossa’ [lançado pela gravadora Canção Nova]. Esse foi o meu primeiro CD que ganhou uma projeção nacional. Os dois primeiros foram independentes. Tenho também três livros devocionais, de oração, que lancei em 2008, 2009 e 2010. Depois, lancei outros dois: um em 2015 e o último agora, em 2017 [365 dias com a Divina Misericórdia]. Esses dois livros dessa minha fase mais recente são de reflexões. Posso afirmar categoricamente que encontrei o meu lugar. Acho que estou no lugar certo, fazendo a coisa certa. Faço com muita verdade, com muita entrega, com muita vontade. Acho que as pessoas sentem isso e acabam se envolvendo com esse sentimento. Como você tem administrado todos esses compromissos e, principalmente, o assédio das pessoas? As pessoas me chamam bastante para outros Cercos de Jericó que acontecem


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quintas-feiras, sábados e domingos. Encaro tudo isso de forma muito tranquila, até porque meu papel está muito claro. Quando a gente sabe qual é a nossa missão, a gente não se confunde. As pessoas procuram em mim, através do meu ministério, esse equilíbrio, essa ajuda. Elas vêm aqui por aquilo que eu represento. Quando a gente se torna padre, a vida já é do coletivo. Ser padre é isso, é para o outro. Minha alegria é ver o outro realizado, mais tranquilo, superando os seus desafios.

Quais são seus próximos projetos? Acredito que até o fim do ano lançarei um novo CD com músicas inéditas. Já estamos em fase de produção. Ainda não está decidido se será ao vivo ou gravado em estúdio. Estamos definindo tudo isso. Aonde você pretende chegar com todo esse trabalho? Meu desejo é que a palavra continue chegando às pessoas, que elas continuem experimentando aquilo que eu experimentei e que me fez bem. 

O padre e parte da sua obra; já são cinco livros publicados com mais de 300 mil exemplares vendidos e, até o final do ano, ele lançará o seu quarto CD

Foto: Pedro Ivo Prates

por todo o Brasil. Nessas celebrações, acabo cantando, prego a partir dos meus escritos. Paralelamente, há ainda o trabalho com o Grupo Canthares, criado aqui na paróquia, e as participações na rádio e na TV Canção Nova. Na TV, participo com frequência de programas, missas, pregações, encontros. Sempre estou lá. Semana sim, semana não. Às vezes, duas vezes na mesma semana. Também faço algumas participações na rádio Canção Nova e continuo com minhas missas aqui na paróquia, às


Informe Publicitário

PREFEITURA MUNICIPAL DE JACAREÍ

Jacareí, conhecida como uma cidade berço da cultura e do progresso, conta com rico patrimônio cultural e uma formação que se mistura com a própria história do Brasil. Situada em local estratégico, entre a Serra da Mantiqueira e o litoral, e às margens do Rio Paraíba do Sul, no início era conhecida apenas como uma pousada colonial de tropeiros que iam sentido às “Minas Gerais” em busca de ouro. Das antigas pousadas tropeiras às grandes fazendas de café que se instalaram posteriormente, a alma rural sempre esteve enraizada ao longo da história da cidade. Um pouco mais tarde, Jacareí também passou a abraçar a chegada de imigrantes que foram fundamentais para o seu desenvolvimento. Os japoneses revolucionaram a agricultura; os sírio-libaneses impulsionaram a indústria e o comércio; e os italianos adicionaram o seu tempero à cultura da cidade por meio de seus habilidosos ofícios, como fotógrafos, alfaiates, sapateiros, entre outros. Porém, mesmo com todas essas valorosas contribuições, costumes sertanejos como a moda de viola na praça, as compras aos sábados no Mercado Municipal, as quermesses, realizadas principalmente em junho nas comunidades religiosas, e a própria culinária caipira tornaram-se marcos do povo de Jacareí. O Bolinho Caipira, prato gastronômico tombado como Patrimônio Cultural de Jacareí, é um desses marcos culturais, com receita originária da cidade, e já ganhou dimensão em todo Vale do Paraíba. E sempre com o intuito de valorizar a riqueza cultural e regional da nossa cidade, a Prefeitura de Jacareí, através da Fundação Cultural de Jacarehy, apresenta em sua agenda cultural de junho a 6ª Feira Regional do Bolinho Caipira de Jacareí, além de diversas atrações, como música sertaneja, teatro, festas juninas e muito mais.


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NOTÍCIAS POLÍTICA

Transparência opaca Lei federal em vigor há cinco anos democratizou o acesso a informações públicas. Pena que, na região, quase ninguém cumpre. Saiba quais são os seus direitos e exerça sua cidadania

Em São José, prefeitura descumpre até o próprio decreto municipal que regulamentou a Lei de Acesso à Informação

Fotos: Pedro Ivo Prates


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Tânia Campelo RMVALE

E

m vigor há cinco anos, a Lei de Acesso à Informação (LAI) ampliou a transparência e o volume de informações disponibilizadas pelos municípios da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. No entanto, a maioria das prefeituras e Câmaras da região ainda não cumpre integralmente a legislação. Desde que foi instituída, em maio de 2012, a LAI garante a todo cidadão o direito de ter acesso a qualquer tipo de informação produzida, mesmo que indiretamente, por órgãos públicos --são raros os casos de exceção. A lei define também as regras para publicação dos dados nos portais de transparência e para o atendimento de pedidos de informação encaminhados por pessoas, entidades ou empresas. Apesar da obrigatoriedade prevista na Lei de Acesso à Informação, muitos portais municipais não orientam o cidadão sobre os prazos legais para resposta e sobre a possibilidade de recursos no caso de descumprimento; publicam informações de forma complexa e em formatos que dificultam o acesso e compreensão dos dados, e algumas nem possuem o e-SIC (Serviço de Informação ao Cidadão), online e físico. “A gente observa que, mesmo após cinco anos, os municípios de uma forma geral estão em um nível bem baixo no cumprimento da LAI. Ter o e-SIC, por exemplo, é essencial para o cidadão saber exatamente como encaminhar e acompanhar sua solicitação”, disse Marina Atoji, gerente executiva da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

O Portal de Transparência da Prefeitura de São José dos Campos deixa de cumprir não apenas a legislação federal, como o próprio decreto municipal nº 17.251/16, que regulamentou a Lei de Acesso à Informação (12.517/11).

Pela metade Um dos problemas encontrados no portal é a área referente a informações sobre repasses para o Terceiro Setor, que deveria ser atualizada todos os meses, já que as transferências são feitas mensalmente pelo município às entidades sem fins lucrativos. Até o dia 31 de maio, porém, o governo Felicio Ramuth (PSDB) ainda não havia publicado nesta área específica nenhum dos repasses feitos durante os cinco primeiros meses do ano. Após contato da Metrópole Magazine com a assessoria de imprensa da

“A gente observa que, mesmo após cinco anos, os municípios de uma forma geral estão em um nível bem baixo no cumprimento da LAI. Ter o e-SIC, por exemplo, é essencial para o cidadão saber exatamente como encaminhar e acompanhar sua solicitação” Mariana Atoji

GERENTE EXECUTIVA DA ABRAJI


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Foto: Pedro Ivo Prates

Willian (à esquerda) e Paulo, fundadores do SJC Digital; grupo desenvolve projetos para democratizar o acesso a dados de órgãos públicos municipais

PERSONAGEM ‘Ativistas digitais’ democratizam acesso a dados Há mais de sete anos, um grupo de jovens ligados à área de TI (Tecnologia da Informação) vem trabalhado para tornar mais acessíveis e úteis as informações geradas pela Prefeitura de São José. “Nosso objetivo é conectar o poder público à população”, disse o programador Paulo Luan, um dos fundadores do SJC Digital ao lado dos amigos Pedro Henrique de Oliveira e Willian Siqueira. O embrião do SJC Digital surgiu pouco antes das eleições de 2010, quando os três eram estudantes da

Fatec e criaram uma ferramenta para acesso a dados sobre partidos e candidatos. Mas foi a partir de 2012, com a Lei de Acesso à Informação, que o grupo passou a desenvolver mais projetos para democratização de dados públicos, com apoio de outros jovens. Entre as iniciativas do grupo estão os projetos “Dados abertos no parque”, para conscientizar a população sobre a importância dos dados abertos; o “Repasse”, que cruza o volume de verbas repassadas ao município e sua relação com a qualidade de vida da população; e o “Monitor Legislativo”, que

organiza por temas as leis criadas em São José desde 1947. Para ampliar o trabalho com dados públicos e viabilizar a captação de recursos para os projetos, Paulo criou a Organização Cultural Ubuntu, entidade sem fins lucrativos que hoje é responsável pelo SJC Digital. “Já estamos conversando com algumas instituições e órgãos públicos que estão interessados em nossa proposta. Também estamos tentando conquistar um espaço para nossa sede”, disse Paulo.


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prefeitura, a administração municipal atualizou a plataforma, disponibilizando as informações no dia 1º de junho. Outra falha do Portal de Transparência da Prefeitura de São José é a ausência de orientações ao cidadão sobre procedimentos para solicitação de informações e prazos de recursos, entre outras. Para piorar, não há links para a LAI, nem para o decreto municipal publicado no dia 21 de outubro passado --só há direcionamento para leis federais que tratam da gestão e das finanças públicas. Passados cinco meses de governo, a prefeitura também não criou a Comissão Municipal de Acesso à Informação, que, entre suas competências, deveria analisar os recursos impetrados por cidadãos não satisfeitos com as respostas do SIC. A criação desta comissão está prevista no decreto municipal. De acordo com a Secretaria de Governança de São José, o site da prefeitura está sendo reformulado e a proposta inclui um Portal da Transparência atualizado, para atender o que a legislação determina (veja box).

Cooperação O prefeito de Jacareí, Izaias Santana (PSDB), criou em março a Diretoria de Governança e Transparência, que fica responsável pela ouvidoria, auditoria interna, correição e controladoria, incluindo Portal da Transparência, que

também não cumpre integralmente a LAI. Entre as falhas do portal, estão a falta de SIC e de orientações ao cidadão sobre acesso e prazos. “Estamos dispostos a abrir todas as portas relacionadas ao controle social, mas isso demanda um pouco de tempo para se estruturar. Para ter uma ideia desta abertura, nós chamamos o Observatório Social para fecharmos um acordo de cooperação, para que esta questão da LAI seja ampliada, inclusive, fazer um evento de educação fiscal”, disse a diretora de Transparência e Governança Barbara Krysttal. Apesar de graficamente poluído e filtros que não funcionam, o Portal de Transparência da Prefeitura de Taubaté

Escala Brasil Transparente Redenção da Serra 0,00 Lavrinhas 1,94 Arapeí 2,50 Piquete 2,50 Guaratinguetá 5,55 Roseira 6,66 Cunha 6,94 Caraguatatuba 7,36 Lorena 7,36 Silveiras 8,47

publica informações que vão além do rol exigido pela LAI. O site também informa como encaminhar pedidos baseados na Lei de Acesso à Informação por meio do portal e presencialmente. Porém, a reportagem não encontrou informação sobre os prazos legais para resposta e recursos. Um ano após a LAI entrar em vigor, a Prefeitura de Taubaté regulamentou a lei federal por meio do decreto nº 13.076, que também criou o Núcleo de Gerenciamento e Acesso à Informação Pública, responsável pela Transparência no município. “Nosso Portal está em constante evolução. Ainda não é o ideal, mas já está bem próximo”, disse o presidente do núcleo, por Walter Thaumaturgo Neto, por meio de nota.

Ranking regional O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União realiza anualmente o ranking Escala Brasil Transparente, que é uma avaliação anual dos portais das prefeituras de todo o Brasil. As três maiores cidades da região --São José dos Campos, Taubaté e Jacareí-- ainda não aderiram ao programa. Dos dez municípios que aceitaram passar pelo crivo da CGU, Silveiras foi o que apresentou a maior nota: 8,47. Na sequência do ranking regional aparecem Caraguatatuba e Lorena,


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ambas com 7,36. A pior avaliada foi Redenção da Serra, que ficou com nota zero (veja o ranking no quadro). “Estamos conversando com a empresa de informática que é responsável pelo portal e também pelo sistema fiscal e tributário da prefeitura. Nosso objetivo é disponibilizar os dados em tempo real”, disse Ricardo Romera Neto, secretário de Administração e Fazenda de Caraguá.

Fiscalização Para Juliana Sakai, coordenadora de projetos da ONG Transparência Brasil, para garantir a implementação da LAI em todos os municípios brasileiros é preciso que haja fiscalização e punição dos servidores que descumprirem a lei. “Primeiro precisamos capacitar os servidores que vão receber as solicitações. Percebemos que falta preparação, a maioria não sabe o que é a Lei de Acesso. Muitas prefeituras nem designaram quais os servidores responsáveis por este trabalho. Além disso, precisamos criar um ente federal para fiscalizar e punir os responsáveis pelo descumprimento da lei, civil e criminalmente”, disse Juliana. Marina Atoji, da Abraji, ressalta também que não basta os órgãos públicos publicarem as informações nos portais para garantir que haja um controle social dos dados. “Muitos portais adotam o que chamo de ‘transparência opaca: cumprem a LAI no sentido de divulgação, mas descumprem em sua finalidade, que é de servir ao controle social. As informações estão lá no portal, mas o cidadão não consegue extrair conhecimento”, disse a gerente da Abraji. Controle social é o poder adquirido pelo cidadão que o capacita a fiscalizar, avaliar e interferir na gestão pública.

Avanços Jualina Sakai e Marina Atoja ressaltam também a necessidade de melhorias na Lei de Acesso, como garantir o

“A maioria desconhece a lei. Muitas prefeituras nem designaram os servidores responsáveis por esse trabalho” Juliana Sakai

ONG TRANSPARÊNCIA BRASIL

direito de anonimato à pessoa que solicita informações. “Defendemos o anonimato porque em muitas cidades, até mesmo em capitais, existe risco à segurança de pessoas que solicitam informações por meio da LAI, principalmente em áreas onde ainda predomina uma cultura de falta de transparência, como a de segurança pública”, afirmou Juliana Sakai. Apesar do descumprimento da lei na maioria dos municípios brasileiros, conforme apontam estudos realizados pela CGU e por ONGs, as Especialistas destacam os avanços conquistados nos últimos cinco anos. “A lei nos garantiu um mecanismo de pressão. Temos como exigir transparência, temos como exigir informações de qualquer órgão público ou instituição que receba verba pública”, disse Marina. 

REFORMULAÇÃO São José promete aprimorar plataforma e abrir mais dados De acordo com a Secretaria de Governança de São José dos Campos, o site da prefeitura está sendo reformulado e dentro da nova proposta está previsto um Portal da Transparência atualizado, para atender o que a legislação determina. A atualização, acompanhamento e publicação dos dados no portal será responsabilidade do Departamento de Controle Interno e Transparência, criado pelo prefeito Felicio Ramuth. Com relação à Comissão Municipal de Acesso à Informação, a assessoria de imprensa informou que a gestão anterior elaborou o decreto 17.251/16,

mas não publicou portaria com a nomeação dos membros. O atual governo pretende fazer uma reavaliação do decreto para depois nomear essa comissão. Sobre a inexistência do e-SIC, a prefeitura informou ainda que os pedidos fundamentados na LAI podem ser encaminhados pelos canais de atendimento e endereços disponíveis no site, telefone 156 e protocolos da prefeitura e demais órgãos municipais. As orientações sobre procedimentos e prazos devem ser incluídos com a reforma do Portal da Transparência.



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NOTÍCIAS SEGURANÇA

Muito além de ‘likes’ e compartilhamentos Mídias digitais ajudam as forças policiais da região a elucidar crimes e estabelecer um contato cada vez mais direto com a comunidade Marcus Alvarenga RMVALE

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ão 13h08. A Divisão de Homicídios da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de São José dos Campos publica em sua página no Facebook um vídeo mostrando três pessoas suspeitas de participação no assassinato da vendedora

Jaqueline Barros Vanderlei, 28 anos, morta com dois tiros dentro da loja de móveis de alto padrão onde trabalhava, no Jardim Esplanada. A mensagem, que pedia a ajuda da população para identificar o trio, obteve centenas de compartilhamentos em poucos minutos, além de centenas de comentários e um alcance estratégico para as investigações da Polícia Civil. Menos de uma semana após a

publicação, os investigadores já haviam identificados os suspeitos e decretado a prisão das mulheres com apoio das denúncias anônimas. O perfil da DIG no Facebook é um case de sucesso, com quase 100 mil seguidores e uma frequência diária de publicações, todas com grande alcance orgânico (sem fazer uso de posts patrocinados na rede). “A rede social foi um ‘boom’. Todos Foto: Pedro Ivo Prates

Comunicação vertical: policiail militar monitora página mantida no Facebook pelo comando regional da corporação


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os segmentos da sociedade têm, e a polícia não ia ser diferente. Buscamos trazer o máximo de pessoas para perto da gente, para nos auxiliar. A rede social se encaixa como uma luva em nosso trabalho”, comenta o investigador chefe da DIG, Alexandre Silva.

Sem barreiras O avanço das mídias digitais nos últimos anos mudou a forma como nos relacionamos. Os órgãos de segurança não deixaram de acompanhar essa tendência e atualmente usam as redes para elucidar crimes e estabelecer um contato mais direto com a população. Para a especialista em comunicação e marketing digital Talita Ribas, da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), as mídias virtuais aproximaram as polícias e a população de uma maneira inédita. “Quando a polícia da sua cidade tem uma página na internet para mostrar o trabalho, se torna mais fácil para que as pessoas saibam o que está acontecendo.

“A rede social foi um ‘boom’. Todos os segmentos da sociedade têm, e a polícia não ia ser diferente. Buscamos trazer o máximo de pessoas para perto da gente, para nos auxiliar. A rede social se encaixa como uma luva em nosso trabalho” Alexandre Silva INVESTIGADOR DA DIG (DELEGACIA DE INVESTIGAÇÕES GERAIS) DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Isso é um canal direto, porque sabemos da inibição local que existem na presença da polícia e de uma viatura, mas o ambiente virtual consegue fazer com que a pessoa se sinta mais confortável e existe uma identificação. Ela consegue falar com mais liberdade”, explica a professora. Além da DIG, outras unidades da polícias Civil e Militar da região também fazem uso do Facebook. Essa presença massiva das páginas oficiais de segurança nas redes sociais também gera um caminho inverso, onde as equipes de investigação também seguem acompanhando a rotina de internautas, podendo auxiliar na conclusão e descoberta de casos. “Em mídias sociais tem um engajamento muito grande da população que ajuda como uma ferramenta da segurança. A movimentação de criminosos e a ostentação deles nesses espaços é pública. Isso ajuda a polícia, que, através de um comportamento de frequência de um usuário, consegue identificar o que Foto: Pedro Ivo Prates

Centro de operações da PM monitora protestos organizados pelas redes sociais


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Em tempo real: tablets instalados nas viaturas permitem o acesso instantâneo a informações sobre suspeitos e veículos

Foto: Pedro Ivo Prates

ele expõe e no que pode estar envolvido”, afirma a especialista. Dessa forma, o Facebook, Instagram, Twitter e mídias digitais se tornaram via de investigação e acesso a informações sobre criminosos para os investigadores da Polícia Civil da região. “Todos os casos têm um pouco da ajuda da internet. Quando a gente investiga um suspeito, rastreia os perfis dele nas redes sociais. Além disso, a população nos ajuda muito quando pedimos denúncias sobre algum criminoso”, conta o investigador da DIG.

No celular A Polícia Militar aposta alto no aplicativo de mensagens WhatsApp, que nos últimos dois anos se tornou uma ferramenta de contato direto entre a corporação e mais de 29 mil moradores

de oito cidades da RMVale dentro do programa Vizinhança Solidária. Somente em São José dos Campos, 5.301 casas e comércios e 14.758 pessoas fazem parte dos grupos monitorados pela PM. A cidade com o segundo maior número de adesões é Ubatuba, com 4.950 pessoas e 1.650 casas e comércios integrados ao programa. “Como o Wahtsapp é popular e disseminado, é comum que quem participa queira utilizá-lo como uma forma de se comunicar com todos. E como todo mundo tem relação com a PM, ela acabou aderindo a esse desejo e utiliza hoje o aplicativo para se comunicar com a comunidade”, comenta o capitão Arlindo Albergaria Junior, chefe da seção de Comunicação Social do CPI-1 (Comando de Policiamento do Interior), o comando regional da PM.

Com programa, moradores das regiões monitoradas são organizados em grupos no aplicativo, onde trocam informações sobre ocorrências ou movimentações suspeitas na região. Cada grupo tem a participação de pelo menos um policial militar.

Monitoramento Segundo capitão Junior, a Polícia Militar segue um processo de evolução da sociedade, aderindo a todas as mudanças que sejam necessárias para melhorar seu trabalho. “Assim que as redes sociais surgiram com força, a PM aderiu a essa novidade. Temos o pioneirismo como umas nossas marcas, e várias coisas que a Polícia Militar do Estado de São Paulo viraram exemplo para o país. Procuramos estar atentos a tudo o que acontece na


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comunidade para trazer sempre essas inovações”, comenta o chefe de comunicação do CPI-1. Outro uso das mídias digitais pela Polícia Militar é para acompanhar o comportamento de grupos de massas, como durante as manifestações políticas que aconteceram recentemente por todo o país. Equipes de inteligência da PM monitoraram a mobilização em torno desses eventos pelas redes sociais. “Procuramos estar atentos a tudo que acontece, como uma forma de nos relacionarmos com a comunidade pela rede social. São canais de mão dupla onde ficamos sabendo que a passeata está sendo organizada, por exemplo. Assim que percebida, ela é utilizada no planejamento das nossas ações. Mesmo que o organizador não tenha nos procurado oficialmente, nós o procuramos”, explica o capitão da PM. A especialista Talita Rebouças lembra ainda de outros usos das mídias digitais feitos nos últimos tempos pelas forças de segurança, como na identificação de acusasos de pedofilia. “Na internet, qualquer ação que você faz não tem anonimato. Até uns 10% a pessoa pode camuflar através de um perfil falso, mas isso é mais fácil de rastrear que uma linha telefônica. A inteligência da polícia, seguindo por uma página padrão, tem ajudado na solução de casos de pedofilia, onde os policiais são treinados para identificar nas redes de internet essas pessoas”, comenta a especialista Talita Ribas.

Atendimento O desenvolvimento tecnológico vai além do que temos acesso principal: a internet e redes sociais. A evolução tecnológica trouxe novos mecanismos de trabalho para todas as áreas, incluindo as equipes policiais, que hoje dispõem de recursos mais modernos para prestar seus serviços à população. “A cada dia que passa, o policial está tendo mais ferramentas para o serviço


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Foto: Reprodução

Segundo a DIG, mídias digitais tiveram um importante papel na investigação da morte da vendedora Jaqueline Barros Vanderlei

A região tem sido um bom exemplo desses usos. Onde há mais tecnologia, há melhores resultados.” Para o investigador-chefe da DIG, o policial também deve ter consciência do que publica na internet. “Eu vejo as mídias sociais como um amplificador da vida cotidiana. Se antes eu tinha que tomar cuidado para me expressar em público, hoje ainda mais. Quando você faz isso em uma mídia social, ganha uma repercussão maior e mais rápida. Mas o fundamento é o mesmo: você tem que preservar os direitos fundamentais das pessoas e tomar cuidado com o que posta, por termos que nos responsabilizar por essas coisas”, comenta Silva. Essa acessibilidade, para a equipe da Polícia Civil, coloca o smartphone como importante aliado das investigações. “O aparelho de celular deixou de ser telefone para ser smartphone, que hoje engloba a maioria das coisas que usamos na investigação”, destaca.

Conhecimento dele, seja na consulta da placa de um veículo, do número de um RG, uma CNH. São ferramentas que dão maior agilidade ao trabalho”, comenta o tenente Fábio José Santo, chefe do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) da RMVale. “O trabalho nosso, às vezes, é incômodo para a população. Nós não temos como saber quem é a pessoa no momento da abordagem. Toda a rapidez nessa base de dados dá mais segurança para a própria pessoa que está sendo abordada, tendo os seus dados verificados, bem como para o policial que faz essa abordagem e para a sociedade como um todo, que tem o policial mais tempo disponível nas áreas de maior interesse de segurança pública.”

Fiscalização A mudança de comportamento da população e dos órgãos de segurança

com o desenvolvimento das mídias digitais está refletindo diretamente no relacionamento entre os dois lados. Para o especialista em segurança pública, o ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, a tecnologia criou novos fiscais do trabalho dos agentes de segurança. “A polícia está cada vez mais fiscalizada pelos cidadãos, que fotografam as ações e colocam esse conteúdo nas mídias virtuais. Isso chega até a Corregedoria e facilita o trabalho de fiscalização pela supervisão dos policiais. Com base nisso, é possível não apenas aplicar punições, em casos de abusos, como também identificar pontos do trabalho da corporação que podem ser aprimorados”, explica. “O uso dessas tecnologias melhora o ambiente, a gestão e a própria prestação de contas das forças de segurança.

Saber manusear e utilizar de forma eficiente esseas ferramentas exige uma atualização constante do conhecimento. “Hoje em dia, a internet trouxe essa democratização da informação. Então, se você tiver um aparato intelectual bom, você consegue fazer uma investigação bem feita. Os equipamentos são muito acessíveis. O que você precisa ter é conhecimento para usar, e esse é o pilar da nossa equipe”, comenta o chefe da investigação da DIG, Alexandre Silva. Talita Ribas alerta que os criminosos também estão atentos a essa movimentação. “Com as mídias digitais, as informações circulam em uma velocidade muito maior. O ponto negativo é que os criminosos também tem usado isso a seu favor, criando mensagens em nome da polícia. Na dúvida, o cidadão dev e procurar sempre os perfis oficiais dos órgãos de segurança.” 



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NOTÍCIAS ECONOMIA

Fotos: Pedro Ivo Prates

Economia disruptiva

Chegada do Uber à região mudou hábitos da população e criou uma concorrência no mercado de transporte individual João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

I

novação desruptiva, já ouviu falar? Pois é, o termo é complicado, mas acredite: as duas palavrinhas anunciam uma revolução no cotidiano de todos. Tratam-se de tecnologias novas que oferecem alternativas mais práticas e baratas para serviços tradicionais. Elas entram na nossa vida quando fazemos uma ligação pelo Whatsapp ao invés de gastar créditos com uma chamada tradicional. Ou, ainda, ao procurar uma hospedagem mais barata pelo Airbnb em vez de reservar um hotel.

Cliente de um bar na zona oeste de São José dos Campos recorre a aplicativo para voltar para casa

Há pouco mais de seis meses, os moradores da região também podem optar pelos serviços do Uber, além do táxi e do transporte coletivo. Os preços mais baratos fizeram com que o serviço caísse rapidamente no gosto dos usuários. A nova forma de se locomover é considerada uma revolução pelo mestre em urbanismo e professor da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) Marcus Vinicius Ignácio. Ele afirma que a mudança é irreversível e que, agora, cabe ao poder público adequar a legislação tanto para regulamentar os serviços, quanto para evitar uma concorrência desleal com taxistas, classe mais prejudicada com a chegada do Uber.

“É uma revolução na mobilidade individual e um serviço que quebra paradigmas, assim como outros aplicativos. Mas as facilidades do sistema ainda esbarram na ineficiência do poder público e de uma legislação inflexível. É preciso adequar as leis para os dias de hoje e oferecer uma condição igualitária para taxistas e motoristas do Uber. Quem ganha com a concorrência são os usuários”, explica. Para o especialista, depois da consolidação do serviço nas grandes cidades, os próximos passos são regulamentar e ordenar o trabalho desses motoristas, já que, segundo ele, a tendência é de que exista uma concorrência cada


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vez maior de empresas especializadas no mesmo formato de transporte de passageiros. “Eu defendo que seja criada uma espécie de cartilha para definir bem os direitos e deveres dessas empresas, já que a partir de agora é assim que as pessoas vão se locomover nas cidades. Por exemplo, se conversarmos informalmente com usuários já percebemos que tem havido um relaxamento por parte do Uber nas cidades onde a empresa atua há mais tempo. Uma lei mais moderna pode criar mecanismos de autuação da empresa em caso de piora dos serviços”, afirma.

Embate político Das três maiores cidades da região, Jacareí é a única onde a presença do Uber ainda não foi motivo de batalhas pela regulamentação dos serviços oferecidos pelo Uber. São José dos Campos foi, até agora, a que viveu mais intensamente esta realidade. Após a prefeitura cassar a liminar que permitia a atividade dos motoristas e até apreender um veículo do Uber, houve finalmente um entendimento entre as partes. No dia 19 de maio, o governo Felicio Ramuth (PSDB) cedeu e flexibilizou termos do decreto que regulariza a atividade no município. A flexibilização da prefeitura selou o acordo entre empresa e o poder público. A prefeitura recuou em itens vistos como fundamentais para Uber, como, por exemplo, a taxa mensal de R$ 100 para cada motorista. Na nova resolução, os aplicativos deverão colher 1% do valor total das viagens aos cofres da cidade. À época do acordo, o Uber publicou uma nota parabenizando a prefeitura pela decisão. Segundo a empresa, os fatos reforçam “o espírito inovador da cidade”, a primeira cidade do interior de São Paulo a “criar uma regularização moderna para intermediação digital e compartilhamento de carros por meio da tecnologia.” A empresa ainda reafirma um compromisso com a cidade. “A


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Uber segue com sua missão de oferecer, ao simples toque de um botão, uma opção de mobilidade acessível e eficiente para seus usuários ao mesmo tempo em que oferece uma oportunidade de geração de renda para milhares de motoristas profissionais.” Já em Taubaté, a história ainda não tem previsão para terminar. De acordo o secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Guilherme Perez, a prefeitura aguarda o julgamento em segunda instância sobre uma ação que contesta a operação do Uber. “Fizemos um recurso em primeira instância e agora estamos aguardando o julgamento em segunda para regulamentar aqui na cidade. Não iremos propor nada no momento, justamente para não contrapor futuramente à lei que virá do governo federal. Atualmente, não há fiscalização contra os motoristas, que atuam por uma liminar”, diz.

E os táxis? Com a tendência de regularização dos serviços, os taxistas já se preparam para uma concorrência ferrenha com aplicativos de transporte. Em São

José, os motoristas criaram seu próprio aplicativo, o TaxiVale. Com mais de 100 carros cadastrados, ele oferece 30% de desconto em todas as corridas. De acordo com o presidente do sindicato da categoria, Carlos Avelar de Moura, a medida é uma resposta à concorrência. O motorista explica que é preciso criar mais facilidades para que as pessoas não passem a ver os táxis como um modal ultrapassado. “A gente precisa dar uma mexida. O jeito é ir criando alternativas. No aplicativo que criamos, por exemplo, o usuário já pode visualizar qual carro vai busca-lo, qual é o motorista e o valor da corrida. Isso oferece mais segurança e comodidade”, afirma. Além disso, a exemplo do que já acontece no Uber, os taxistas atualmente já começam a abastecer os carros com itens como balas e copinhos de água para agradar os usuários. “Isso tudo é bom para o público, mas a gente não pode se esquecer que a lei precisa ser igual para todo mundo. Nós temos muito mais exigências, a fiscalização é pesada, principalmente na renovação do alvará, que é muito

minuciosa com os taxistas. As multas são altas e há muito mais dificuldades para o nosso trabalho”, diz.

Mudança de comportamento A entrada do Uber na região foi responsável por uma mudança de comportamento dos usuários. Com os preços bastante reduzidos, pegar uma condução particular para ir ao trabalho, sair à noite ou voltar para casa deixou de ser uma atividade tão onerosa. Dividir um Uber entre os amigos para baratear os passeios e até pequenas viagens é um dos novos hábitos que se tornaram populares com a chegada do serviço. Para a estudante Jade Ribeiro, de 21 anos, por exemplo, ir para shows e baladas ficou muito mais vantajoso com a divisão dos gastos. “É difícil agora ter algum evento que eu não vá de Uber. Normalmente eu divido a corrida com outras pessoas e o preço fica ainda mais barato. Fora que a gente não precisa se preocupar com o fato de beber e pagar o carro depois”, diz a estudante. Entretanto, de acordo com Jade, em grandes eventos o serviço pode não ser


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a melhor opção. Quando há um acúmulo de demanda, a tendência é que o aplicativo aplique um preço mais caro e que o serviço fique mais demorado. “Quando fui ao Lollapalooza [festival de música realizado em São Paulo], por exemplo, a gente sofreu para voltar de Uber. Estávamos numa casa e, por causa do grande número de pessoas nos pedindo, o preço subiu muito e a gente esperou um tempão para pegar o Uber. No dia seguinte, fomos de carro e acabou sendo mais rápido”, conta. A jovem ainda afirma que, principalmente para as mulheres, o Uber parece ser uma opção mais segura. “As meninas que eu conheço preferem também pela segurança. A gente, por poder ver antes o motorista que vêm nos buscar e a nota que os outros usuários deram para ele, fica mais segura principalmente de madrugada”, conta.

Histórias e networking Se para os usuários o Uber significa pagar menos para se locomover pela cidade, para os motoristas, a questão é econômica. Quem utiliza o serviço com frequência já deve colecionado boas

“O jeito é ir criando alternativas. No aplicativo que criamos, por exemplo, o usuário já pode visualizar qual carro vai busca-lo, qual é o motorista e o valor da corrida. Isso oferece mais segurança e comodidade” Carlos Avelar de Moura

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS TATIXSTAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

histórias dos ‘ubers’ joseenses. Na cidade, há quem já trabalhou como executivo em multinacionais e, depois de tocar projetos em países da Europa, agora trabalha como motorista de Uber. Alunos universitários, aposentados, atletas. O leque de histórias é extenso e variado. No caso de Moacyr Santos, 44 anos, o Uber foi a saída encontrada para ter uma nova renda após ser demitido do cargo de gerente de TI em uma empresa grande empresa em São José dos Campos. Menos de 20 dias após o baque da demissão, o profissional já estava circulando como motorista. “Eu tinha uma renda mensal de aproximadamente R$ 7mil. Com o Uber, passei a ganhar, sem os descontos, R$ 4 mil mensais. Mas, contando os descontos, o que me sobra são R$ 2 mil. Como complemento de renda é uma boa pedida, até porque também tenho outros trabalhos como freelancer”, explica. O freelancer em questão foi acordado justamente com um dos passageiros de Moacyr. Executivo de uma empresa de saúde, o passageiro se interessou pela Foto: Pedro Ivo Prates

Clima tenso: taxistas recorreram à Justiça contra o decreto municipal que regulamentou a atuação do Uber em São José. Briga parece estar longe do fim


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Ex-gerente de uma grande empresa de TI, Moacyr Santos virou motorista do Uber em São José. Com o trabalho, acabou retomando contatos com executivos e garantiu trabalhos como freelance

história. Com interesse em contratar uma empresa de TI, o executivo entrou em contato com o motorista e o negócio acabou sendo fechado. “É um contrato de 24 meses. Com a renda dessa prestação de serviço, mais o que eu ganho no Uber, já consegui equiparar minha renda ao que eu ganhava antes de trabalhar com o aplicativo. Os motoristas estão descobrindo que o Uber é uma boa ferramenta de networking. Eu mesmo completei a marca de 1.100 passageiros”, comenta. Além de conseguir uma recolocação no mercado, o motorista é uma espécie de conselheiro para os novos ‘ubers’ ou aqueles que pretendem ingressar na empreitada. Com ótimas dicas de planejamento de negócios e investimentos futuros, o profissional ajuda a evitar as ‘roubadas’ da atividade. “Nunca, em hipótese alguma, a

“O que é para ser uma resposta para a mobilidade urbana não pode ser o responsável por causar mais transtornos. É preciso prever efeitos colaterais negativos”

pessoa deve financiar ou alugar um carro só para usar o Uber. Outra coisa: em São José também não vale muito a pena investir em carrões caros. Eles gastam mais e, como a cidade não tem o serviço de Uber Black [que oferece veículos maiores e mais confortáveis por um valor mais alto], acaba que um carro confortável, mas econômico, ajuda bastante”, avalia. “Você tem que fechar uma conta muito precisa. Vale a pena adaptar o veículo para GNV. Isso representa uma economia de 30% com o combustível, mas o investimento é recuperado em mais ou menos 15 meses, o que exige uma previsão de longo prazo no serviço”, completa.

Hugo Repolho

Futuro

ESPECIALISTA EM LOGÍSTICA E TRANSPORTES DA PUC

Com o serviço consolidado nas grandes cidades, o futuro de aplicativos como o Uber e da mobilidade


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Foto: Pedro Ivo Prates

individual urbana passa a ser o centro das atenções para os especialistas na área. O pós-doutor em engenharia civil, com especialização em transportes e logística, o professor Hugo Repolho , da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, explica que este é um caminho sem retorno. De acordo com o professor, esta adaptação está acontecendo em todos os países onde o Uber e outros aplicativos já atuam. Mas, segundo ele, o Brasil tem um fator atenuante: o fato da qualidade dos serviços oferecidos pelo Uber surgirem como um diferencial em relação aos táxis. “Pois esta é uma preocupação para o futuro. O Uber, por exemplo, chegou como um serviço melhor e mais barato ao usuário. Hoje uma das criticas mais veementes é de queda da qualidade, de que antes os condutores eram

treinados, mais educados e que, no interior dos carros, já não há aquelas opções de água e de bala, como sempre foi a marca do serviço. O consumidor não pode comprar uma coisa e ser servida outra. Por isso é importante que haja concorrência para evitar o monopólio”, pondera o especialista. De qualquer forma, a tendência deste meio de se locomover é crescer e, devido às proporções que os aplicativos tomaram, é impossível conter seus avanços. No âmbito legislativo, o desafio, de acordo com Repolho, é incluir os serviços prestados por aplicativos de transporte individual no planejamento da malha viária das cidades, evitando ações prejudiciais para o município. “O que é para ser uma resposta para a mobilidade urbana não pode ser o responsável por causar mais transtornos. É preciso prever alguns efeitos colaterais negativos como o fato dos aplicativos contribuírem para os congestionamentos. As leis que regulamentam este serviço não podem tirar o foco de melhorar as condições de mobilidade da população”, comenta.

Carro voador? Em abril, o Uber anunciou que, junto com a Embraer, está investindo nos estudos para construir o protótipo de um carro voador. Para o especialista, a notícia, que atiçou o imaginário de muita gente, deve ser considerada como um prelúdio do que podemos ter num futuro não tão distante assim. “Hoje, qualquer pessoa que ainda achar que essas tecnologias são coisas de ficção científica estará correndo o risco de cometer um grande erro. Esses conglomerados de tecnologia estão, sim, investindo para ampliar seus serviços e revolucionar também o setor de transportes. O Google, por exemplo, já conta com estudos avançados na criação de um carro sem condutor.” É esperar para ver. 


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NOTÍCIAS ESPECIAL

Uma brincadeira de gente grande! Em tempos de games ultrarrealistas, conheça uma turma com cada vez mais adeptos na região que se reúne para cultuar jogos clássicos Rodrigo Fernandes RMVALE

J

á foi o tempo em que videogame era ‘coisa de criança’. Cada vez mais adultos se unem com esse gosto em comum, em um hobby que, com o passar dos anos, vai se transformando em algo mais sério para muitos. Em meio a diversos jogos eletrônicos cada vez mais tecnológicos e realistas, surgem comunidades que buscam a experiência dos games mais clássicos. São os chamados retrogamers. Se tentarmos definir o significado da palavra ‘retrogamer’, irão surgir inúmeras explicações, mas a principal

delas associa o termo aos verdadeiros apaixonados por jogos clássicos, como Pac-Man, River Raid e Enduro. Eles não apenas curtem jogar, mas possuem um conhecimento bem vasto sobre consoles e jogos que marcaram época. A resolução da imagem desses games mais antigos não é tão boa e, em alguns casos, até precisa daquela velha e tradicional ‘assopradinha’ no cartucho para que rode o jogo. Mas vai perguntar se algum retrogamer se desfaria de algum item da coleção...

Consoles raros O título de maior colecionador de consoles no Brasil é do Alex Mamed, de São José do Rio Preto (SP). O número

impressiona. Segundo informações registradas no ‘RankBrasil’, Alex possui 385 itens únicos, além de 60 repetidos. Aqui na região, o recordista é o Alexandre Bastos, de Pindamonhangaba. Mais conhecido por “Alê”, o comerciante de 42 anos possui a maior coleção de videogames da região, mas não gosta muito de ostentar esse título. “Tem muitos que não falam e reúnem coleções muito maiores que a minha”, explica o comerciante, que atualmente possui mais de 90 consoles e já perdeu a conta do número de itens que vai adquirindo, como controles e jogos. “Parei de contar já há um tempinho”, revela, bem-humorado. São 20 anos colecionando os mais Foto: Pedro Ivo Prates

Fãs de games antigos se reúnem mensalmente para trocar artigos, conversar e, claro, jogar


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Foto: Pedro Ivo Prates

Foto: Pedro Ivo Prates

Alê Bastos exibe o seu Vectrex, considerado um dos consoles mais raros do mercado variados títulos que Alexandre reúne em prateleiras reservadas, compradas pela esposa dele. “Ela não gosta muito de videogame, mas ela me apoia”, explica Alexandre que garante conseguir equilibrar o tempo entre família, trabalho e a paixão pelo videogame. “Eu sei quando estou exagerando, tenho essa sensibilidade”, completa. O primeiro item da coleção, Alê se lembra muito bem. Trata-se de um Dynavision, fabricado pela Dynacom no final dos anos 80. “Foi um presente que os meus irmãos ganharam e eu fiquei fascinado, mas o console que me motivou mesmo a colecionar foi um 3DO da Panasonic”. O “3DO” foi o primeiro videogame caseiro de 32 Bits lançado no mercado, mas que não conseguiu se manter diante da base sólida de fãs do “Mega Drive” e o “Super Nintendo” na época. “Foi no finalzinho dos anos 90 e eles estavam começando a parar com a produção quando eu consegui ter um”, detalha o colecionador. Porém, a “galinha dos ovos de ouro” da coleção do Alê está em um item bem raro de se encontrar, um console “Vectrex” fabricado em 1981.

“Ele é difícil de conseguir aqui no Brasil por ser bem frágil. Eu consegui através de outro colecionador que já tinha há algum tempo e me passou”, explica Alê. O “Vectrex” possui uma característica bem comum a ele, que é o fato de possuir gráficos vetoriais. As imagens formadas na tela eram feitas de linhas retas. Não havia cor ou nenhum preenchimento nos jogos. O console precisava de uma tela que, ao ser acoplada ao videogame, transmitia a sensação de cor ao jogo. O curto período de tempo no mercado – ficou apenas dois anos – é justificável diante da popularidade que o Atari possuía na época, mas foi suficiente para que o console ganhasse status de aparelho Cult anos mais tarde. “Eu peguei uma época que era fácil colecionar, fora a ajuda que tinha de amigos. Hoje em dia tudo é muito caro e requer mais dificuldade”, diz Alê.

De pai para filho “Atari”, “Master System”, “Mega Drive”, “Nintendinho”... Palavras que estão no vocabulário do Alexandre e tantos outros e que acabam revelando a paixão em comum por esse universo


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dos jogos eletrônicos. A maioria cresceu nos anos da década de 80 e 90 e o saudosismo bate mais forte, porém há um público mais jovem que também têm interesse em conhecer os “avôs” dessa nova geração de videogames. O filho do Alexandre, Matheus de Melo, tem 18 anos e já pegou a fase mais nova dos consoles, com “Playstation” e “Xbox”, mas ainda assim se interessa pelos videogames mais antigos. “Meu filho participa das conversas e até me acompanha nos encontros.” Atualmente, Matheus faz um curso de modelagem em 3D e já pensa em seguir carreira nesse universo dos games. “Um dos caminhos que ele quer seguir é na programação de games. Ele já até está desenvolvendo um jogo”, diz Alê.

Do virtual para o real Entre uma conversa e outra, eis que surge a ideia de se criar um grupo no aplicativo WhatsApp, porém o espaço limitado ao celular não foi suficiente. “Sentimos a necessidade de nos encontrarmos pessoalmente, organizar encontros para trocar experiências e eis que surgiram as reuniões mensais”, explica Fábio Baptista, fundador do grupo ‘Retrogamers Vale do Paraíba’. Mensalmente, amantes de games se reúnem no Centro da Juventude em São José dos Campos. “O encontro tem a proposta de reunir os amigos e familiares. Juntamos a galera para compartilhar experiências, trocar videogames e nos divertimos”, explica Fábio. Fábio explica que a experiência acabou resultando em ações sociais e, atualmente, o grupo conta com constantes campanhas de doação de brinquedos e agasalhos para entidades carentes. “Juntamos uma galera e tivemos a ideia de arrecadar brinquedos, parte foi para uma creche e outra para uma ONG que escolhemos ajudar”, explica o fundador do grupo que, atualmente, organiza uma campanha do agasalho. No auditório do Centro da Juventude,

local aonde os encontros mensais ocorrem, histórias interessantes e curiosas surgem; como a do Jefferson Silva, 28 anos, mais conhecido por Jeff. Jefferson, que é comerciante, possui vários consoles em sua casa, mas um Jeff cuida com carinho: um “Master System”. “Tinha meu irmão mais velho, quando eu era pequeno, que sempre jogava no ‘Master System’ e eu nunca conseguia jogar. Era sempre deixado de lado por ele e os amiguinhos dele”, recorda Jeff, com bom humor. “Agora

“O encontro tem a proposta de reunir os amigos e familiares. Juntamos a galera para compartilhar experiências, trocar videogames e nos divertimos” Fábio Baptista

FUNDADOR DO GRUPO RETROGAMERS

quero ter tudo o que não tive na época.” Dos consoles que ele reúne em sua casa, Jeff destaca um item específico na sua coleção. Na prateleira está um “Nintendo Gamecube”. “Não é tão raro assim, mas eu não tive contato com ele, quando eu era criança ele custava muito caro. Diante disso tudo, eu tenho uma admiração mais especial por ele”, revela o comerciante. Lançado inicialmente para competir com o popular “PlayStation”, produzido pela Sony, a fabricante Nintendo lançou esse console por volta de 2001. Na época, ele chegava a custar cerca de R$ 700 no Brasil; o que convertido para os tempos de hoje, sairia em torno de R$ 2.200 --com esse valor, você pode comprar um novo console Xbox One, por exemplo. “Claro que tem o valor sentimental que acaba pesando”, diz. O endereço na internet para conhecer o trabalho do grupo e conhecer a agenda de encontros é o www.facebook.com/retrogamersvp. Há também conteúdos em vídeo dessa turma no canal Club 16-BIT (www. youtube.com/club16bit), mantido por Pedro Ivo Prates, repórter-fotográfico da Metrópole Magazine. “Eu registro a minha experiência como pai, mostrando como o videogame chega até o meu filho e também matérias com colecionadores, outros gamers”, explica o criador do canal.  Foto: Divulgação

Pedro Ivo Prates, criador do Club 16-BIT, que traz tudo sobre games



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NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Sempre na moda Da esquerda para a direita, Walderez Marchi, Elaine Ramalho, Rose Moreira Cesar e Regita Turci

Quebrando os padrões da moda A transição de ‘ideais estéticos’ para a valorização da diversidade no mundo fashion

Yasmin Faria RMVALE

M

oda é uma linguagem que se cria em roupas para interpretar a realidade. A frase enfática do renomado estilista Karl Lagerfeld, um dos maiores ícones do mundo da moda, sugere que, por trás dos investimentos milionários,

Foto: Pedro Ivo Prates

do glamour e do ‘mainstream’, a função desta indústria é, essencialmente, uma só: comunicar-se com o mundo. O ato de vestir-se é particularmente comunicativo. Transmitimos todos os dias, por meio da roupa que usamos, não só os sentimentos que trazemos, mas a própria situação da sociedade contemporânea e seus anseios – e como isso tudo ecoa dentro de nós. As roupas são espelhos de quem as criou e de


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Autoestima na melhor idade Você já ouviu a expressão ‘esta roupa é para jovem’? Pois bem. Ainda

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quem as está usando. Este é um tema fundamental no processo que antecede a chegada de uma coleção aos desfiles de moda. Antes das peças ganharem os flashes e aplausos de quem acompanha de perto este universo, os especialistas estudam tendências a fundo para conseguirem transmitir aos produtos uma boa dose de criatividade e sabedoria. Se a moda, como toda a expressão artística, existe num terreno de ilimitada inventividade, cabe também a ela a ruptura de padrões estabelecidos, veja só, em grande parte pela própria indústria. E, atualmente, os antigos padrões físicos estão na alça de mira de um novo jeito de se pensar a moda. Quando pensamos em modelos de passarelas e capas de revistas, remetemos à imagem de pessoas altas, magras, com as medidas ‘perfeitas’. Fica claro aí a existência de uma ‘padronização’ entre marcas e desfiles específicos. De fato, esta é a impressão que temos de grandes desfiles e grandes trabalhos de moda. A indústria fashion sempre desempenhou um papel importante na construção do ideal estético. Porém, há uma equação que nunca fechou: o corpo das passarelas não é o da maioria das pessoas. Por que, então, a diversidade das ruas não está exposta nas passarelas? O mundo digital, onde as discussões sobre moda se aproximam muito do consumidor final, esta discussão está fervendo. Novos conceitos de beleza, empoderamento feminino e a aceitação do próprio corpo são assuntos recorrentes em posts de blogs especializados e vídeos do Youtube. Neste contexto, as influenciadoras digitais desempenham um papel muito importante na vida de seus seguidores ao abordar temáticas que estimulam as pessoas a se amarem e ter mais confiança em si.

Em um dos planos fechando o pacote trimestral Válido at


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existe um preconceito imposto que define estilos de roupas para jovens, adultos e idosos. Na contramão do movimento contra a padronização e imposição de determinados estilos, algumas pessoas ainda acreditam que a partir de certa idade não é certo usar alguns estilos de roupas, estampas e cores. Contrariando esse pensamento, a empresária Rose Moreira Cesar trabalha há mais de 30 anos com rejuvenescimento e autoestima por meio da moda para mulheres que passaram a barreira dos 60 anos em São José dos Campos. Apaixonada por moda, a empresária resolveu usar o seu conhecimento para auxiliar mulheres que já não se sentiam mais confortáveis com a aparência. Em um ambiente descontraído, muito bem decorado e com aquele aconchego de casa, Rose recebe suas clientes para a personalização de estilo. De

“Tem mulheres que chegam tristes, com roupas largas, infelizes com sua aparência. Me sinto realizada quando elas saem daqui melhores, mais alegres e confiantes” Rose Moreira Cesar EMPRESÁRIA

Foto: Pedro Ivo Prates

acordo com a empresária, seu trabalho vale a pena quando uma mulher se olha no espelho e se sente bonita. “A moda levanta a autoestima das minhas amigas e clientes. É uma verdadeira terapia. Tem mulheres que chegam até mim tristes, com roupas largas, tons sóbrios e infelizes com sua aparência. Eu vou trabalhando a autoestima e aceitação com roupas alegres, elegantes, com conselhos e elogios. Me sinto realizada quando elas saem daqui melhores, mais alegres e confiantes”, afirmou Rose Moreira. A empresária conhece o estilo de cada cliente. Segundo ela, as roupas são escolhidas especialmente para cada uma delas, além de também fazer a personalização de cada peça de acordo como gosto de suas amigas. Rose cuida de cada detalhe dos looks e afirma que seu trabalho com a confiança das mulheres é sua motivação de vida. “Quando vou escolher as roupas para comprar, já imagino quem irá vestir. Eu personalizo as peças com o estilo e personalidade de cada uma. Elas confiam tanto em mim que chegam a comprar até por telefone. Amo deixa-las mais confiantes. Pra mim, isso é tudo, eu vivo meu trabalho, não sei fazer outra coisa. Toda mulher é linda, a beleza está em todas as idades”, finaliza a empresária.

Tempos de mudança

Há mais de 30 anos, Rose Moreira usa a moda para elevar a autoestima de mulheres que passaram dos 60 anos

A nova geração da moda também já respira estes novos ares. Para a estudante de moda da Univap (Universidade do Vale do Paraíba) Nadja D’Amo, 26 anos, o tempo é de mudança. Os padrões estão se extinguindo e a indústria está se adaptando aos poucos a esta abundância de cores, estilos, formatos e corpos. “A indústria ainda está se adaptando. Foram anos com a mesma ideia de que corpos esguios são o ideal de beleza e que determinada cor de pele é a ideal. Essa mudança está ocorrendo e temos como exemplo marcas que


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Foto: Ingrid Hervatin

Nadja D’Amo, estudante do curso de Design de Moda da Univap


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deixaram de lado o corpo ‘ideal’ para abordar o corpo real de cada mulher. Esta adaptação da indústria com o fora do ‘padrão’ vai demorar um pouco, mas acredito que um dia isso vai ser deixado de lado para que o real apareça de uma vez por todas”, explica a estudante. A autoestima é a consequência da aceitação. Conhecer e saber respeitar o seu corpo, pele, cabelo e estilo é o início da transformação de autoestima. Afinal, cada pessoa é um ser único e a beleza vive, principalmente, nas diferenças. “O primeiro passo é tentar se aceitar. Sua ‘imperfeição’ tem que ser linda para você em primeiro lugar. A partir do momento em que há essa aceitação do próprio indivíduo, fica mais fácil combater o preconceito da sociedade de peito aberto. E a partir desse momento, podemos exigir que todos aceitem que ninguém é igual a ninguém e que está tudo bem”, complementou Nadja. A moda nos últimos anos mudou seus ideais em alguns pontos. Ainda de acordo com a estudante, alguns desfiles

Foto: Pedro Kira

Maíra Ribeiro fala sobre moda e beleza em seu blog e no Youtube

Foto: Pedro Ivo Prates

A dentista Regita Turci, de São José, não descuida do visual


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renomados já estão quebrando os padrões com estilos de roupas e modelos. “Se você pegar desfiles do São Paulo Fashion Week, houve uma quebra do padrão quando o estilista colocou na passarela modelos plus size usando roupas em que eles se sentissem confortáveis, e não com o intuito só de cobrir as ‘imperfeiçoes’, que são tão lindas. Devemos concordar que o caminho para a aceitação dentro das semanas de moda e das araras é longo, mas com o tempo isso se corrige, afinal todos são lindos ao seu jeito”, disse.

É sobre gente O tema da diversidade está sendo abordado em diversos meios, até mesmo em sala de aula. A turma de Nadja, que está no terceiro ano do curso Design de Moda, promove neste mês um desfile com o tema ‘É sobre gente’. Segundo a estudante, a ideia foi muito bem acolhida por todas as alunas da sala, que pretendem representar a diversidade do ser humano. “Em todo desfile é preciso de um planejamento na escolha do tema, cartela de cores e tecidos. No caso da sala, todas abraçaram a ideia, tornando muito fácil a escolha do tema. A ideia inicial do desfile é a quebra de alguns padrões presentes na sociedade, seja por preconceito com o peso ou por falta de inclusão”, disse Nadja D’Amo. Ainda de acordo com a estudante, o uso da internet facilitou a transição da padronização para a diversidade. Ela ainda afirma que a aceitação é o ponto de partida do combate a preconceitos estabelecidos pelos padrões. “Não faz muito tempo que essa transição começou a ocorrer. A troca de informações principalmente pelo uso da internet ajudou bastante essa transição. Acredito que o principal ponto para ocorrer esta mudança é a pessoa se aceitar e conseguir encontrar coisas que te agradem e que não agridam sua autoestima e saúde”, explicou. 


Foto: Pedro Ivo Prates

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NOTÍCIAS SAÚDE

Fotos: Pedro Ivo Prates

Medicina do afeto Equipe que atua no Hospital Municipal de São José leva conforto e acolhimento a pacientes quando a cura não é mais uma possibilidade Eliane Mendonça SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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m fevereiro de 2014, o aposentado João Alves de Souza Sobrinho, 63 anos, chegou ao Hospital Municipal de São José dos Campos levado pela família, por conta de uma grave dificuldade respiratória. Atendido na emergência, foi direto para a UTI de onde não saiu mais até a sua morte, sete meses depois. Contando assim, de forma tão resumida, parece apenas uma história triste

e comum, de mais um entre tantos pacientes que morrem nos hospitais todos os dias. Mas não. O seu João e toda a sua família foram atendidos pela equipe de cuidados paliativos do hospital, um grupo multidisciplinar que foi formado e pensado para atuar nas situações mais delicadas: quando a cura já não é uma possibilidade. O objetivo é acolher e cuidar dos pacientes com doenças terminais ou quadros progressivos e degenerativos e seus familiares. Chamada pelo sugestivo nome de Amae (Atendimento Multiprofissional para Acolhimento Especial), a equipe

inclui médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas e até um capelão. A coordenadora do grupo, a médica Susana Miyahira, explica que o ponto de partida para a equipe entrar em ação é sempre quando há uma indicação médica. “Num primeiro momento, todos os esforços são empreendidos para curar o paciente. Mas chega um ponto em que não existem mais medidas farmacológicas, terapêuticas ou fitoterápicas que possam curar ou modificar a evolução da doença. É nesse momento que


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a nossa equipe entra em ação, com o objetivo de prover alívio dos sintomas físicos e não físicos, além de ampliar os cuidados com a família e com o luto”, disse a médica. Ela rejeita a ideia de que os pacientes de cuidados paliativos sejam aqueles casos em que não há mais nada para fazer. “Isso não é verdade. Há muito o que fazer. Dá pra tratar a dor, a náusea , o vômito, a falta de ar. E também tratar de sintomas de outra ordem, não físicos, mas que podem ser psíquicos, familiares, espirituais, sociais e até profissionais. Nosso trabalho é dar conforto, minimizar e aliviar todo e qualquer tipo de sofrimento, até a hora da morte.”

Qualidade de vida O trabalho é necessário e melhora a qualidade de vida dos pacientes atendidos porque, segundo ela, na fase avançada de uma doença, não são só as dores físicas que causam sofrimento. “Nesses anos de trabalho da nossa equipe pudemos constatar que, para um paciente que está num estágio avançado de uma doença, as questões emocionais, familiares, econômicas e espirituais podem ser fonte de muito sofrimento e desconforto. Nosso trabalho é detectar quais são essas questões e tentar ajudar o paciente no que for possível, até o final da sua vida”, disse. Segundo Susana, os pacientes são estimulados e incentivados a fazer, dentro dos limites de cada um, todas as coisas que lhes dão prazer. E os pedidos já recebidos até hoje, foram muitos. Vão desde um simples copo de coca-cola, um chocolate ou uma macarronada, até passear ao ar livre, tomar um copo de cerveja ou encontrar um familiar que não vê há muito tempo. “A regra é não medir esforços para que os pacientes se sintam mais confortáveis e serenos, dentro das limitações clínicas de cada um. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para minimizar a dor. E toda a experiência


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acumulada nesses anos já nos ensinou muito e nos trouxe lições de vida, que vamos levar conosco para sempre. Vale muito a pena”, disse.

Nos sentimos abraçados Andréia Alves da Silva, 38 anos, filha do seu João, o protagonista da história do início dessa reportagem, conta que antes de ter sido atendida nunca tinha ouvido falar de cuidados paliativos, nem que isso existisse em algum hospital. “Foi uma boa surpresa que chegou no momento que a gente mais precisava. Foi uma época muito difícil. Sabíamos que precisávamos ser fortes e queríamos ajudá-lo, mas no começo não sabíamos como lidar. Ficamos meio perdidos”, disse. O pai era portador de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), que herdou dos anos de fumante e com a qual já convivia havia algum tempo. Mas, desta vez, a situação estava mais grave. Ela conta que quando a família foi chamada para a primeira reunião com a equipe de cuidados paliativos, ficaram em pânico. “A gente não sabia direito o que era esse grupo. A primeira coisa que veio à cabeça, quando nos chamaram pra uma sala com vários profissionais, era que iam falar que o meu pai não tinha mais jeito. Mas não foi nada disso. Foi um alívio. Eles nos tranquilizaram e nos deram orientações que nos ajudaram a enfrentar toda a fase difícil.” Andreia conta que graças ao trabalho dessa equipe, o sofrimento foi amenizado e os dias se tornaram mais leves. “Posso afirmar com toda a certeza que meu pai se sentiu acolhido e querido durante todo o tempo da sua internação. E nós também nos sentimos assim. Fomos acompanhados por psicólogos até meses depois da morte dele. A equipe toda nos ouvia em tudo que precisávamos. Pareciam parte da família.” Entre as lembranças que ela guarda com carinho estão fotos e vídeos da época da internação. “Um dos primeiros

pedidos que fizemos a eles era que o meu pai queria muito ver os dois netos, que tinham cerca de dois anos na época. Sabíamos das restrições para entrada de crianças na UTI e que isso seria difícil de ser atendido. Mas eles deram um jeito”, disse. A equipe então se mobilizou para tirar seu pai da UTI. O colocaram em uma cadeira de rodas, acoplaram os equipamentos e o levaram até o corredor, para que ele pudesse ver e abraçar as crianças. “Me lembro até hoje da alegria

dele. Foi um dia muito emocionante. Um enfermeiro ficou do lado, o tempo todo, monitorando batimentos cardíacos e respirador, preocupado que ele pudesse passar mal com tamanha emoção. Foram muito cuidadosos e atenciosos conosco e nos proporcionaram um momento que nunca vamos esquecer. Isso não tem preço”, disse Andréia.

Futebol Ouro episódio que ela recorda com carinho foi na Copa do Mundo. O pai, Foto: Pedro Ivo Prates

A paciente Nadia Maria Santos recebe o carinho de Tatiana Dantas (esquerda), Ariane Moraes (centro) e Caroline Prado (direita), integrantes da equipe de cuidados paliativos


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Divulgação

louco por futebol, estava nervoso e ansioso por não poder ver os jogos. Então, a família pediu e autorizaram que levassem uma televisão na UTI. “Ele assistiu a todos os jogos. Foi uma alegria só. Nos dias de jogo do Brasil, ele ainda se caracterizava de verde e amarelo.” Segundo ela, a família sempre percebia o carinho da equipe com ele. “Um dia ele queria comer macarrão e a nutricionista providenciou. Outro dia, chocolate, aí deixaram que a gente levasse. E, no seu aniversário de 64 anos, autorizaram levarmos um bolo na UTI.” Ela conta que o último pedido do pai, após mais de seis meses internado e já bastante debilitado, foi algo inusitado. “Ele disse que o que mais queria era poder pisar na terra e sentir o sol. Sabíamos que era praticamente impossível, mas ele foi atendido. Eles se mobilizaram e praticamente transportaram parte da UTI para a área verde dentro do hospital. Ele pisou no chão, sentiu o sol e ainda brincou de bola com o neto. Foi um dia feliz”, disse. Andréia conta que esse foi um dos últimos dias que viu o pai lúcido. Depois, suas condições pioraram e ele passou a ser mantido sob sedação. Morreu cerca de 15 dias depois.

Hora do perdão O caso do seu João não é o único. Nos cinco anos de atividade, a equipe de cuidados paliativos do Hospital

Conceito de cuidados paliativos foi desenvolvido na década de 60 pela médica inglesa Cicely Saunders; no Brasil, tema ainda engatinha

Municipal já atendeu mais de 350 pacientes, dos mais variados perfis: bebês, crianças, jovens, idosos, homens e mulheres. Junto deles, foram também atendidos 1.271 familiares. A equipe ainda se emociona quando se lembra de casos mais emblemáticos. Dentre os quais um caso recente, de um homem jovem que tinha Aids e um tumor ósseo. As duas doenças já em estágio bastante avançado. Ele já tinha cumprido pena em uma penitenciária, por homicídio. Mas, apesar disso, vivia atormentado. Nos atendimentos, a equipe sempre insistia para que ele pedisse algo que quisesse, algo que pudessem fazer por ele. Um dia, já bastante debilitado, ele

disse que a única coisa que ainda queria era pedir perdão à família da pessoa que ele tinha tirado a vida. “Foi uma situação que ainda não tínhamos enfrentado. Mas conseguimos localizar a família e a mãe da vítima disse que já tinha o perdoado. Insistimos e ela veio ao hospital. O paciente teve a oportunidade de ouvir o perdão dela. A visita aconteceu no final de semana e ele morreu dias depois”, disse. Para o psicólogo William Ribeiro, que integra a equipe de cuidados paliativos do hospital, em geral as pessoas esperam resolver as pendências da vida para que possam ir embora. Por isso o trabalho de cuidados paliativos, trabalhando também questões psicológicas e


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espirituais, é tão importante. “É difícil de mensurar, mas vemos isso acontecer na prática, todos os dias. Assim que um paciente resolve uma pendência que o atormentava, ele consegue partir com serenidade”, disse. E a tal pendência, segundo ele, é uma questão muito pessoal. Varia de pessoa pra pessoa. “Criar um ambiente propício para que o paciente tenha a confiança de nos falar o que o aflige faz parte do trabalho”, disse. Um outro caso que, segundo ele, exemplifica a questão da necessidade de solução de pendências é de um paciente atendido em 2015. Era um jovem que tinha um tumor gravíssimo. Ele havia passado boa parte da vida como dependente químico e se dizia arrependido por algumas escolhas que fez. “Em uma das sessões, ele me falou que tinha deixado muitas coisas por fazer. Mas tinha uma, em especial, que ainda queria realizar se tivesse tempo: ser batizado”, contou. O paciente era de uma família católica. A equipe de cuidados paliativos conseguiu acionar a Igreja e, em poucos dias, o batismo foi realizado dentro do hospital. “No dia seguinte, ele morreu.” Outro caso lembrado pela equipe é de um paciente de 67 anos que ficou dois meses internado por conta de um câncer de próstata com metástase (quando o tumor já se alastrou por outros órgãos). Ele já não conseguia andar, nem comer direito. No entanto, estava lúcido. E o fato de nunca receber visitas incomodava a todos. Foi então que a equipe entrou em ação. Uma irmã que ele não encontrava havia mais de dez anos foi localizada e o visitou no hospital. No dia seguinte, o filho também apareceu. “Era nítida a alegria e o alívio do paciente. Nessa mesma noite ele morreu”, disse Suzana.

Atenção à família O psicólogo explica que o trabalho do núcleo de cuidados paliativos é

Divulgação

Equipes de cuidados paliativos também oferecem apoio aos familiares dos pacientes

“É difícil mensurar, mas vemos isso acontecer na prática, todos os dias. Assim que um paciente resolve uma pendência que o atormentava, ele consegue partir com serenidade” William Ribeiro PSICÓLOGO

sempre estendido aos familiares. E não é à toa. “Na grande maioria das vezes, a situação é mais difícil para a família do que para o paciente”, disse. Ele explica que para os familiares de um paciente terminal, por exemplo, um dos objetivos do atendimento é o desenvolvimento do que os psicólogos chamam de luto antecipatório. “Estudos apontam que quando as pessoas conseguem fazer o luto antes

da partida da pessoa, isso ajuda a lidar melhor com a partida, propriamente dita. Pode evitar que a pessoa desenvolva sentimentos de culpa e até uma depressão”, contou. Esse atendimento, segundo ele, não se limita aos familiares. “Pode incluir amigos, vizinhos, enteados. Já aconteceu até de atendermos um cuidador, contratado pela família, que já estava havia tanto tempo com o paciente que tinha estabelecido um vínculo.”

Referência Famílias e pacientes durante muito tempo ouviram de médicos e profissionais de saúde a frase “Não há mais nada a fazer”. A médica inglesa Cicely Saunders, criadora do conceito de cuidados paliativos, sempre refutava essa frase e dizia: “Ainda há muito a fazer”. Em 1967, ela fundou o St. Christopher’s Hospice, na Inglaterra, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o St. Christopher’s é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Medicina Paliativa. No Brasil, o conceito ainda engatinha. Prova disso é que, na região, o Hospital Municipal é o único onde


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a Metrópole Magazine encontrou uma equipe em atividade. No Hospital Regional de Taubaté, a informação é que a unidade tem uma equipe que está passando por reformulações.

Alívio O trabalho da equipe de cuidados paliativos não se resume apenas aos pacientes terminais. Pacientes com condições clínicas irreversíveis, como doenças genéticas crônicas e degenerativas, também se enquadram. É o caso da paciente Nádia Maria de Souza Santos, 58 anos, que está internada no hospital desde novembro. Portadora de distrofia muscular, uma doença hereditária e progressiva, ela convive com as limitações desde criança. “Eu tinha dificuldades em atividades motoras por conta da fraqueza

muscular. Não conseguia andar de bicicleta, nem correr. Depois, já adulta, as limitações foram se acentuando e passei a ter dificuldades para subir no ônibus e até para fazer algumas tarefas domésticas”, contou. No ano passado, ela sentiu a situação piorar consideravelmente. Uma crise de falta de ar, causada pela doença, a levou ao hospital. Mas, antes da consulta, ela parou para comer um salgadinho. “Foi uma mordida só. Não consegui engolir e acabei tendo uma broncoaspiração. A sorte é que eu já estava aqui na frente do hospital, senão não sei o que teria acontecido.” Atendida na emergência, já no primeiro dia foi traqueostomizada (abertura feita no pescoço para colocação de um tubo, para garantir a respiração por meio de ventilação mecânica).

Hoje ela está estabilizada mas, por depender da ventilação mecânica, ainda é mantida no hospital, sem previsão de alta. Por conta disso, é atendida pela equipe de cuidados paliativos. “Ficar no hospital é ruim, mas eles são ótimos e fazem de tudo para que eu me sinta melhor. Pedi pra tomar banho de chuveiro ao invés do banho de leito e me atenderam. Foi um alívio”, disse. Outro benefício que ela conseguiu foi a válvula da fala. Pacientes com traqueostomia não conseguem falar porque o ar não chega nas pregas vocais. Como a equipe identificou que esse era um ponto que causava muita ansiedade na paciente, foi providenciada a válvula, uma peça de plástico que, quando acoplada ao equipamento, possibilita a comunicação. “Foi uma alegria poder voltar a falar com a família”, disse. 


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NOTÍCIAS EDUCAÇÃO

Não é mágica, é matemática

Cubo mágico transforma rotina de alunos da Etec em Jacareí, melhorando a concentração e o raciocínio lógico João Pedro Teles RMVALE

U

m quebra-cabeça tridimensional em formato de cubo. Cada uma de suas seis faces está dividida em nove partes. No total, 26 peças se articulam entre si, conectadas por uma peça central, fixa, que fica oculta dentro do cubo. Tudo vem embaralhado. O desafio é organizar as peças de forma que cada uma

das seis faces do cubo seja preenchida com peças da mesma cor. Complicado, né? Mas acredite, o Cubo Mágico é um dos brinquedos mais populares do mundo. São mais de 900 milhões de unidades vendidas desde a sua criação, em 1974, quando ainda era conhecido como Cubo de Rubik, nome que faz menção ao criador do quebra-cabeças, o húngaro Ernõ Rubik. Mas o que torna um brinquedo tão desafiador num fenômeno de popularidade, que resiste até mesmo aos

estímulos eletrônicos, tão presentes em nosso cotidiano contemporâneo? Para os alunos da Etec (Escola Técnica Estadual) Cônego José Bento, em Jacareí, a resposta é simples: o desafio e a concentração. Na instituição, as turmas foram apresentadas aos desafios do quebra-cabeças durante as aulas de matemática. E o que era para ser uma introdução aos conceitos matemáticos se transformou em motivo de orgulho para a cidade. Em maio, os estudantes trouxeram Foto: Pedro Ivo Prates

Criado há mais de 40 anos, o cubo mágico se popularizou em todo o mundo na década de 80


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para Jacareí o título de um campeonato estadual, promovido pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) e disputado na capital, com dez escolas de diferentes cidades. A equipe, formada por dez alunos, montou 50 cubos no tempo de três minutos e seis segundos. Resultado considerado excelente pelo professor de matemática Fábio Aparecido, 44 anos, responsável por introduzir o exercício durante as aulas. “Disputamos campeonatos em três anos consecutivos. No primeiro levamos uma medalha de bronze, depois de prata e, agora, conquistamos o título”, comemora. O professor, que também é fanático pelos cubos mágicos, utiliza o jogo em suas aulas há nove anos. Embora a participação nos campeonatos motive os alunos para se desenvolver na prática, o objetivo do professor não é treinar competidores, mas se utilizar das características desenvolvidas pelo jogo para melhorar o desempenho dos alunos em uma das disciplinas mais temidas pelos estudantes. “O cubo consegue fazer esse canal entre os alunos e a matemática. A leitura das situações que envolvem pensamento lógico, a concentração dos estudantes durante as aulas e o aumento de interesse pelo tema são notórios depois que eles começam a pegar gosto pela atividade”, afirma. De acordo com ele, além dos

“O cubo consegue fazer esse canal entre os alunos e a matemática. A leitura das situações que envolvem pensamento lógico e a concentração durante as aulas são notórias depois que começam a pegar gosto pela atividade” Fábio Aparecido

PROFESSOR DE MATEMÁTICA

olimpíadas de matemática os resultados também surpreendem. Em novembro de 2016, três alunos da escola estiveram em Lucknow, na Índia, para disputa das finais da Olimpíada Internacional de Matemática sem Fronteiras. “O mais legal é que esses resultados que aparecem fora da escola são fruto de uma verdadeira transformação dos alunos. Alguns deles, por exemplo, sequer faziam os exercícios que a gente colocava na lousa. Uns por vergonha e outros por desinteresse mesmo. A matemática é uma disciplina que assusta um pouco, mas acredito que esse tipo de iniciativa abre portas para o pensamento lógico que rege a matemática”, explica. “Assim fica muito mais fácil para entrar no universo matemático, que é maravilhoso”, completa.

Raciocínio turbinado resultados nas competições que envolvem a montagem de cubos mágicos, os alunos também vem apresentando ótimo rendimento em vestibulares e olimpíadas de matemática pelo Brasil. O professor destaca a nota da escola na disciplina de matemática desta edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Com média de 632 pontos, a escola, teve a maior pontuação na cidade de Jacareí e ficou entre as dez instituições mais bem pontuadas na disciplina em todo o Estado. Além disso, nas

Aos poucos, a prática com os cubinhos vai ‘turbinando’ o raciocínio dos alunos. Quem já montou – ou tentou montar – um cubo mágico sabe que o início é nada menos do que desesperador. Para quem ainda não teve sucesso na empreitada, cabe uma animadora ressalva: o próprio criador do jogo, Ernõ Rubik em pessoa, demorou nada menos do que três meses para concluir, pela primeira vez, o quebra-cabeças tridimensional que ele mesmo montou. Pois se o início parece desmotivador, existem técnicas que ajudam a enxergar


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um naco de ordem no caos multicolorido que é um cubo mágico prestes a ser montado. Os algorítimos, como o professor chama a sequência de movimentos para resolver o desafio, vão evoluindo conforme a experiência de quem maneja o quebra-cabeças. “As sequências para iniciantes são mais simples, mas demandam um tempo maior para a solução do quebra-cabeças. As mais avançadas demandam um pensamento ainda mais rápido. À medida que a pessoa vai avançando, e aprendendo as sequências mais difíceis, os alunos vão exercitando o cérebro. É igual ao que acontece com exercícios de ginástica mesmo”, diz.

Adeus timidez Uma das integrantes do time campeão em São Paulo, a aluna do 3º ano do Ensino Médio, Vitória Gabrielle Souza Cardoso, de 16 anos, explica que a prática do cubo mágico lhe trouxe um inesperado efeito colateral: perder a vergonha que sempre teve de falar em público ou sequer conversar muito com pessoas com as quais não tinha muita intimidade. A aluna iniciou os trabalhos há dois anos e, desde então, sente-se mais

segura para expressar suas opiniões. “A prática me deu mais assunto em comum com as pessoas com quem eu não tinha muita intimidade. Aos poucos, fui me sentindo mais confiante para me expressar e conseguir trabalhar em equipe. Essa característica, aliás, foi outra questão que me ajudou demais a perder a timidez. Confiar nos companheiros de time, trocar experiências, traçar estratégias”, comenta a estudante, que atualmente monta um cubo mágico em menos de um minuto. E isso porque, acredite, a matemática era uma das disciplinas que mais amedrontava Vitória. A aluna nunca foi lá muito fã dos números e do raciocínio lógico. Mais chegada aos conhecimentos biológicos, não por coincidência biologia sempre foi sua matéria favorita, a estudante passou a ver a matemática de uma maneira diferente desde que começou a se aperfeiçoar nos movimentos para resolver o quebra-cabeças. “Nunca gostei muito de matemática, mas essa prática foi como um universo que se abriu na minha cabeça. Foi ficando mais simples raciocinar durante as contas e aí as coisas começaram a fazer muito mais sentido na hora de

resolver as questões e aprender os temas”, afirma.

Concentração Entre os ‘efeitos colaterais’ da prática de resolver os cubos mágicos, o que mais fez bem ao aluno Pedro Henrique Rolim Regenis, de 19 anos, foi a concentração nas atividades do cotidiano. Em plena época dos estímulos eletrônicos, o aluno ressalta que dificilmente tem perdido o foco nas atividades escolares. “Ajuda muito nas leituras, na hora de relaxar a mente para prestar atenção nos exercícios e para resolver os problemas na sala. A atenção dobra e o resultado acaba aparecendo nas notas.” Pedro treina há quatro anos e, de acordo com ele, o segredo para aumentar o desempenho é ter sempre uma estratégia na ponta dos dedos e não se desesperar perante às situações adversas. “O básico tem que estar muito bem ensaiado. Não dá para errar. É tudo uma questão de ir melhorando do básico para o mais complicado. Quando você treina bastante em situações diferentes, não fica desesperado quando aparece qualquer situação um pouco diferente do comum”, diz.  Fotos: Pedro Ivo Prates

O professor Fábio Aparecido entre os alunos Gabriel Faria (à esquerda) e Alec Rodrigues


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Cultura& A linguagem sugestiva de Mariana Teixeira Em ‘Breves Verdades e Outras Mentiras’, poetisa de São José entrega, aos golinhos, seu universo íntimo Fotos: Divulgação

João Pedro Teles

Redatora publicitária, Mariana afirma que experiência na profissão ajudou a se tornar uma escritora melhor

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Q

uando se acaba de ouvir um trecho de Mozart, o silêncio que o segue ainda é dele. A frase é atribuída ao ator Sacha Guitry, erradicado na França, mas define o after tasting presente na obra da poeta Mariana Teixeira, ex-moradora de São José dos Campos. Em maio, a escritora de 32 anos lançou seu terceiro livro de poesias, ‘breves verdades e outras mentiras’ (Editora Patuá) em São José dos Campos, após evento de lançamento em São Paulo, cidade onde reside, no final de abril. Os mais de 90 poemas impressos na obra são curtinhos, mas nada breves. Como pequenos goles de um vinho cujo gosto resiste na boca. É assim, aos poucos, tateando silêncios, que Mariana revela, aos sensíveis, seu universo íntimo. E inquieto. Mariana, a autora, e Mariana, ela mesma, são pessoas distintas. Mas se parecem e até se confundem. Justamente dessa tangência de personalidades nasceu a ideia para o título do livro. “Nos poemas, há muita coisa que não é minha, mas trago para o meu universo. Refleti um pouco sobre essa questão de verdades e mentiras, o que é nosso e o que parece, mas não é. E é legal que os textos deixem essa dúvida no

ar. Todo mundo têm um pouco de verdade e um pouco de mentira”, diz. Depois de dois livros publicados, ‘Inversos Paralelos’ (JAC Editora, 2013) e ‘O que tirei da mala’ (Editora Patuá, 2015), entre outras participações em antologias, Mariana explica que desta vez o processo criativo foi diferente. “A construção mudou. Fui apenas produzindo. Quando parei para ler o que eu tinha de material, notei que, mesmo falando sobre assuntos diferentes, todos os poemas eram enxutos e existiam mais nas entrelinhas do que no que estava escrito”, conta.

‘Vida própria’ O processo criativo da autora, aliás, tem ‘vida própria’. Geridos quase que espontaneamente, os versos não se demoram a exigir atenção imediata.

“Eu gostaria de ter uma escrita disciplinada. Mas minha mente está sempre escrevendo. Quando acordo de madrugada, quando estou no ônibus. Sou um instrumento da literatura: ela fala, eu produzo”, explica. Assim como todo o escritor contemporâneo, Mariana também precisou aprender a conversar com as novas mídias. Hoje, a escritora é ativa nas redes sociais. Mantém um blog (www. correndocomosdedos.blogspot.com. br) e publica regularmente poemas no Facebook. E acha bom. “Qualquer resistência a esse novo panorama é um atraso. São coisas que andam juntas. Acho que hoje o mercado é mais competitivo por causa desta realidade. Mas é competitivo de um jeito bom, democrático. Para a literatura e para os leitores”, conclui. 


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NOTÍCIAS ESPORTES

É Taubaté!

A nova capital do esporte

Com vôlei e handebol em alta, cidade desbanca São José como polo regional de modalidades de alto rendimento

Ginásio do Abaeté lotado em partida do Taubaté pela Superliga de Vôlei

Fotos: Divulgação

Felipe Kyoshy TAUBATÉ

G

inásios lotados, jogadores de seleção, títulos... Taubaté no esporte tem sido sinônimo de sucesso pelo menos nos quatro últimos anos. Com investimentos grandes, as equipes de vôlei e de handebol masculino viraram referência no Brasil e na América do Sul. Em consequência disso, a cidade tem desbancado São José dos Campos, que até então,

era tido como “potência” nos esportes na RMVale. Isso começou a mudar em 2013, quando a prefeitura começou a investir mais em esporte. Primeiro foi com o handebol, com a contratação de jogadores de seleção. Em seguida, foi a vez do vôlei. A Funvic (Fundação Universitária Cristã), principal mantenedora do projeto, deixou Pindamonhangaba e acertou com Taubaté. A modalidade, então, viria ser a principal vitrine do esporte na cidade. Mas para quem está no comando do esporte na cidade, mais do

que uma forma de propaganda, o investimento implica na melhoria da qualidade de vida da população . “Taubaté vive um momento favorável no esporte por alguns fatores. Primeiro é a vontade política e o prefeito entender que o esporte realiza transformações sociais na cidade, o esporte não é despesa é investimento a médio e longo prazo e isso reflete em uma geração que está chegando através do esporte. É economia comprovada em saúde pública, investimento em educação e pensando assim, devemos investir”,


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afirmou o secretário de esportes da cidade, Cláudio Brazão, o Macaé. A primeira grande contratação do vôlei foi Giba. O campeão olímpico foi trazido para alavancar o time, no entanto, pouco atuou com a camisa taubateana. Com o passar do tempo, outros medalhões passaram pelo Abaeté: Dante (campeão olímpico em 2004), Sidão (medalha de prata nas Olimpíadas de 2004), Lipe (campeão olímpico em 2016), Lorena, entre outros. Durante o período, até uma parceria com o São Paulo foi firmada, mas o principal investidor desistiu e o acordo foi desfeito em menos de cinco meses. Com o tempo, a galeria de títulos das duas principais equipes foi crescendo. O handebol é tetracampeão pan-americano (2013, 2014, 2015 e 2016), bicampeão nacional (2013 e 2014) e campeão paulista em 2015. Acumula quatro participações consecutivas no Super Globe, o Mundial de Clubes da modalidade. Já o Vôlei Taubaté levantou duas vezes o caneco da Copa Brasil (2015 e 2017) e três do Campeonato Paulista (2014, 2015 e 2016) e um vice do sul-americano. Nessa temporada, chegou pela primeira vez na final da Superliga, mas caiu diante do Cruzeiro. Conquistar torneio, aliás, é tido como o principal objetivo da equipe. “Acredito que não tenha muito

segredo. O que precisa ter é ter uma gestão bem organizada. Saber contratar e passar as responsabilidades aos atletas. Passar que é a função deles, porque quando se joga em uma cidade, é preciso ter uma postura diferente de quando se joga em um clube, por exemplo. Tem que despertar o interesse das pessoas, vira uma referência para as crianças. Tem que fazer uma gestão com responsabilidade”, diz Ricardo Navajas, supervisor do Vôlei Taubaté.

Custo

“Acredito que não tenha muito segredo. O que precisa ter é ter uma gestão bem organizada. Saber contratar e passar as responsabilidades aos atletas. Quando se joga em uma cidade, é preciso ter uma postura diferente.” Ricardo Navajas

SUPERVISOR DO VÔLEI TAUBATÉ

No entanto, os custos para manter duas equipes de pontas são altos. O teto para pagamentos de bolsa para os atletas são de R$ 12 mil. Este valor é pago somente para atletas que tenham passagem pela seleção brasileira. De acordo com Macaé, dos R$ 17,9 milhões da pasta do esporte por ano, o vôlei e o handebol consomem R$ 1,5 milhão somente com salários. Os outros R$ 8,9 milhões são destinados a outras modalidades e projetos sociais. O restante, em torno de R$ 7,5 milhões, fica com a folha de pagamento de funcionários. Mas, a garantia é que os dois projetos não são bancados apenas com verba pública. No vôlei, 21 empresas estão destacadas no site oficial do time como patrocinadores. Ricardo Navajas explicou que o modelo de gestão é italiano,


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em que as empresas que se comprometem com patrocínio pagam um valor que cabe a elas. O handebol conta com oito apoiadores e mais a Força Aérea Brasileira, que complementa os vencimentos de nove jogadores. A FAB desembolsa R$ 34,7 mil por mês com a equipe. “Vôlei e handebol têm projetos aprovados na secretaria de esportes, disponibilizamos entre as duas equipes, em torno de R$ 1,5 milhão de bolsa-auxílio e não é repassado nenhum valor às instituições e é diretamente depositado aos atletas, assim como é feito no governo federal e estadual. E em função disso os dois têm parceria e fazem a gestão dos patrocínios, que são muitos. Se não fossem eles, o poder público não teria condições”, diz Macaé.

Outras modalidades Não é só vôlei e handebol que tem se destacado nos últimos anos na cidade. O futsal, ainda com investimento abaixo de rivais, foi vice-campeão da Copa Paulista em 2016. O futebol feminino, que joga com a camisa do Esporte Clube Taubaté e as categorias de base do Burro da Central também recebe apoio. O Burrinho chegou pela primeira vez em sua história nas quartas de final do Paulista sub-17. Outras atletas também recebem apoio. Entre os principais, o paratleta André Rocha, que já ganhou medalhas em Campeonatos Mundiais. De acordo com a secretaria de esportes, são apoiadas 36 modalidade. Ao todo, 436 atletas (base e adulto) recebem bolsa. As essas bolsas saem do FADAT (Fundo de Apoio ao Desporto Amador de Taubaté). A prefeitura destaca também que há 15 projetos sociais na cidade, em 87 locais de atendimento diferentes. Ao todo, mais de 16 mil pessoas participam das atividades.

Legado E o que ficará desse período para o futuro do esporte de Taubaté? O projeto das equipes de vôlei e handebol será

Fotos: Divulgação

O oposto Wallace, um dos destaques do time vicecampeão da Superliga

duradouro? Existem exemplos que times que alcançaram seu auge, mas que foram perdendo fôlego até fecharem as portas. Isso tem sido recorrente e aconteceu com Florianópolis e Rio de Janeiro, que faturaram a Superliga. E o Vôlei Futuro, de Araçatuba, que foi vice nacional. “Para que seja duradouros, primeiro ele tem que estar embasado em planejamento. Em competência de quem administra e ao mesmo tempo estar junto com associações esportivas da cidade, que desenvolvem um trabalho a muito tempo. Nós temos aprovado em lei um

projeto de bolsa-auxílio através do fundo de esporte amador da cidade. E mais importante de tudo isso é buscarmos parceiros da iniciativa privada, que se for bem administrado, não só municipal como regional e dando retorno, como vem dando, com o handebol e vôlei, com títulos. Então, se tiver uma boa participação das entidades esportivas da cidade, dificilmente iremos parar esse projeto. É evidente que é preciso ter vontade política, mas enquanto tivermos administrando o esporte da cidade, nós vamos trabalhar dessa forma”, diz Cláudio Brazão. “Temos uma visão pública esportiva muito avançada e administração pública sabe fazer a gestão de pessoas. Isso não é só em esporte. Depende muito da sucessão política também. Vai da visão de cada prefeito. Infelizmente isso acontece não só com o vôlei, mas no esporte como um todo no Brasil hoje” acredita Navajs.

Nova casa? Os ginásios e locais de competições vão acompanhar o crescimento das equipes de Taubaté? Ano passado, por exemplo, o futsal chegou à final da Copa Paulista, mas por falta de estrutura do ginásio da Vila Aparecida, teve que decidir o título longe de casa. E o pior: teve que jogar em São José dos Campos, contra o São José, seu maior Fotos: Divulgação

Time de handebol de Taubaté conquistou quatro títulos consecutivos do Panamericano


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Após inédita final da Superliga, Taubaté vai atrás do título na próxima temporada Fotos: Divulgação

rival. O secretário admite a necessidade de uma nova arena. Segundo ele, as negociações para a construção de um novo ginásio já começaram. “Estamos pensando em desenvolver uma arena em Taubaté, temos uma tratativa no Ministério do Esporte para liberação de R$ 19,5 milhões, e se isso sair, nós vamos construir a arena em Taubaté. Além disso, estamos buscando em cima da iniciativa privada, a possibilidade para que dê nome a essa arena (naming right), que provavelmente seria à beira da Dutra e isso é possível. Estamos com uma empresa buscando esses parceiros e se tudo der certo, ano que vem podemos começar a construir essa arena, e quem sabe, para 2019, tenhamos uma nova casa. Esse é um projeto que não envolve somente recurso

público, não depende só da receita da prefeitura, pois seria inviável esse valor e estamos buscando esse valor. Esperamos que isso possa sair do papel e se tornar uma realidade”, ressalta Macaé.

Superando São José E com a dominância de Taubaté nos esportes nos últimos anos, os taubateanos têm tomado o posto de potência nos esportes no Vale do Paraíba de São José dos Campos. Os joseenses tiveram recentemente equipes profissionais competitivas. O basquete foi bicampeão paulista (2012 e 2015) e vice do Novo Basquete Brasil, em 2012. O futebol feminino faturou o Mundial de Clubes, em 2014 e é tri da Libertadores. Também teve o vôlei, que ganhou a Superliga B, em 2014.

Entretanto, o basquete e o vôlei acabaram por falta de dinheiro. O futebol feminino não chegou encerrar, mas sofreu um desmanche e ainda tiveram que lidar com uma queda no investimento em relação a temporadas anteriores. De acordo com secretário de esportes, Paulo Sávio, o foco da nova gestão de São José é outra. “O nosso momento agora é outro, agora em São José estamos evidenciando o esporte comunitário e que acontece nos centros esportivos, nós temos uma atuação que garante atender 28 mil pessoas, de 52 unidades espalhadas para a cidade e isso garante para que leve a comunidade em geral a oportunidade de fazer esporte e fazendo esporte que tenha a sua condição de saúde, mantenha a sua qualidade de vida e a formação através do esporte”, comenta. Segundo o secretário a pasta trabalha com R$ 17 milhões. Condiciona o retorno das equipes de alto rendimento para investimentos da iniciativa privada. “Não está fácil, o cenário não está produtivo para incentivo próprio, para você ter isso agora e a partir desse momento temos que planejar 2018. Dificilmente alguém vai dar algum recurso, mas já estamos nos organizando, fazendo as tratativas com as empresas da região e participar de competições e com condições de ganhar”, afirma Paulo Sávio. 


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Gastronomia&

Fotos: Pedro Ivo Prates

A coxinha emergente Saída dos botecos, iguaria ganha ambientes gourmets e ingredientes de primeira

João Pedro Teles RMVALE

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lheias à instabilidade econômica, recessão e fogo cruzado político, as coxinhas são iguarias que andam por aí ostentando sua ascensão de classe. Para uma nova geração desses salgados, os dias de botecos da ‘baixa gastronomia’ e estufas de padaria de bairro ficaram no passado. ‘Gourmetizados’, os petiscos agora são habitués em requintados espaços de gastronomia na região.

“Uma de nossas novidades é a coxinha de jaca. A textura da fruta se assemelha à do frango” Valéria Venosi

DONA DO KRSNA RESTAURANTE

Casas especializadas dão aos ingredientes tradicionais ares de sofisticação. A receita original, inclusive, é, agora, uma entre uma variável de possibilidades. Combinações harmônicas agradam os paladares mais requintados: filé mignon com gorgonzola e três queijos (empanada no parmesão) são algumas delas. Na Coxinharia Surreal Flavor, em São José dos Campos, são mais de 30 combinações à disposição. As coxinhas são servidas doces e salgadas, em diferentes tamanhos. Tem até coxinha com hambúrguer e coxinha com


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mortadela – que poderia selar uma simbólica aliança de paz entre os eleitores brasileiros. Brincadeiras à parte, o fato é que o movimento na casa não para de crescer. Quem quiser experimentar uma coxinha de churros, por exemplo, provavelmente vai precisar encarar uma fila de espera, recorrente no local. “A loja é uma franquia de um estabelecimento que eu visitei em Itajubá (MG). Fiquei encantada com os produtos e resolvi trazer para cá. É a primeira franquia deles. Tinha certeza que o público em São José iria gostar da novidade”, explica a proprietária Paula Pereira Bonifazi. O ambiente da coxinharia foi arquitetado para proporcionar uma experiência gastronômica sofisticada. A ideia é que o ambiente seja o mais aconchegante possível para reunir amigos depois do trabalho e até promover um happy hour. “A preferida é a tradicional mesmo, mas a de três queijos e a de costela são as campeãs de venda. É uma preocupação nossa, que as pessoas não venham, comprem a coxinha e saiam. O legal é disfrutar do ambiente entre os amigos e familiares. É uma nova proposta mesmo”, afirma a proprietária, que diz vender mais de 1.200 coxinhas por semana.

Sem culpa Há pouquíssimos casos onde se recusa uma coxinha. O mais comum entre eles é a famigerada dieta. Mas, para a sorte da galera fitness, a onda da ‘gourmetização’ também está de olho nos frequentadores de academias – para a alegria de quem está de dieta. Em São José, as coxinhas fitness estão entre os produtos preferidos da casa Vida Leve, especializada em alimentação saudável. As iguarias são assadas, envoltas em farinha de linhaça e levam batata doce na composição da massa. “Uma delas, inclusive, é uma


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“A preferida é a tradicional mesmo, mas a de três queijos e a de costela também são campeãs de venda”

Vegana

Paula Bonifazi

Uma iguaria com o nome de coxinha, que remete a uma das partes mais suculentas do frango, pode ser feita sem o uso de ingredientes derivados de animais? Evidente que sim, responderia a amiga vegana.

PROPRIETÁRIA DA COXINHARIA SURREAL FLAVOR, DE S. JOSÉ

A criatividade é uma ferramenta poderosa para quem evita carne e derivados de animais. Pois é com muita criatividade, paciência e apuro no tempero, que a jaca se transforma numa opção saborosa para o recheio de frango. A emblemática iguaria, conhecida por quem frequenta a fazenda Hare Krishna Nova Gokula, em Pinda, é também especialidade no Krsna Restaurante, em São José dos Campos. A coxinha é oferecida há dois anos no estabelecimento. “A jaca tem que ser colhida verde. Passa por um cozimento que é demorado. Até duas horas na panela de pressão. Depois disso, a textura da fruta se assemelha a do frango. Usamos bastante especiarias para temprerar”, afirma Valéria Venosi, proprietária do restaurante. E os veganos não formam o único público interessado nas coxinhas de jaca. A leveza da receita e os sabores das especiarias atraem também quem leva uma dieta com carne. “A coxinha une todo mundo”, brinca, Valéria.  Fotos: Pedro Ivo Prates

coxinha diferente, com frango, requeijão light e farinha de linhaça, sem massa. Também há a coxinha com massa de batata doce e a novidade da loja: uma coxinha de shimeji”, comenta a gerente Renata Taveira Santos. Como não poderia ser diferente, os frequentadores são pessoas que estão mudando hábitos de alimentação e, agora, descobriram que não é preciso necessariamente se privar das coxinhas para seguir à risca a dieta. “Abrimos em novembro e, desde então, a média é de 600 coxinhas por mês. Ainda trabalhamos com outras opções, como marmita light e outros salgados. Mas a coxinha tem feito bastante sucesso. O segredo para compensar a falta de ingredientes gordurosos é caprichar no tempero”, diz.

Coxinhas gourmetizadas trazem opções para os mais variados paladares


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CampeĂŁ de vendas, coxinha de costela ĂŠ uma das novidades do mercado gourmet


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Social&

Foto: Pedro Ivo Prates

Campos do Jordão se prepara para a temporada de inverno Ao que tudo indica, esta deve ser uma das temporadas mais badaladas dos últimos tempos em Campos do Jordão. A ‘Suíça Brasileira’ está pronta para receber um número recorde de turistas, que visitam a cidade em busca do friozinho da serra e das atrações da alta temporada. O motivo para tanta empolgação? Acredite, a alta do dólar e a crise econômica. Não que a notícia seja para se comemorar, mas para o turismo de uma das cidades mais charmosas do país, até mesmo os tempos de crise podem ser refletidos em aumento de turistas. Explica-se: com a alta do dólar e a estagnação da economia, a procura por viagens ao exterior nesse meio de ano diminuiu consideravelmente. O temor da economia faz com que as pessoas

cortem os gastos mais altos, como aqueles com as viagens pra fora do país. Destinos nacionais, então, ganham a preferência deste público. E dentre esses destinos, Campos é um dos preferidos dos turistas. Esta lógica está estampada nos números de visitantes que a cidade recebe nos últimos anos. De acordo com a prefeitura, entre 2013 a 2016, o fluxo turístico saltou de 2,5 milhões para 3,9 milhões de turistas por ano, um aumento de 56%. Para o prefeito da estância turística, Fred Guidoni (PSDB), o aumento no número de turistas em Campos reflete diretamente na arrecadação do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza). A julgar pelo mês de abril, com seus feriados em semanas consecutivas, o movimento a estância vai

mesmo ‘bombar’ em 2017. “Tivemos uma movimentação muito acima do normal naquele mês e isso serve como um termômetro para o restante da temporada. Isso certamente reflete de forma muito positiva na economia local, gerando empregos e renda para a população”, afirma.

Festival de Inverno Ponto alto da programação da alta temporada, o Festival de Inverno acontece, neste ano, de 1 a 30 de julho. Serão mais de 80 concertos em Campos e na capital. Assim como já acontece tradicionalmente, os pontos turísticos da cidade serão palco para atrações nacionais e internacionais que representam o que há de melhor na música erudita. Este ano, 205 bolsistas formam a


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Ilhabela: a capital nacional da vela A pouco mais de um mês do início da 44ª Semana de Vela de Ilhabela, o prefeito de Ilhabela, Márcio Tenório (PMDB), está animado com as perspectivas para o turismo na ilha. O evento mais tradicional do esporte no país e maior competição de vela da América Latina acontece tem início no dia 8 de julho e vai até 15 do mesmo mês. Nesta edição, a administração municipal conta com a parceria com clube YCI (Yacht Club Ilhabela). O clube oferece sua experiência na gestão de eventos do gênero para, de acordo com o prefeito, manter a Semana de Vela como um dos grandes campeonatos mundiais da modalidade. O evento contempla oito categorias do esporte: Bico de Proa, Carabelli 30, Clássicos, Hpe 25, Hpe 30, IRC, ORC e RGS. Para o comodoro José Yunes, a parceria com o YCI deixa o evento ainda maior e, com esse crescimento, quem ganha é o turismo. No evento de lançamento, ele destacou a importância do campeonato para o aumento das receitas de turismo do município --quanto maiores as dimensões do evento, afirma, maiores as oportunidades para empresários e trabalhadores do comércio.

Fora da água Se dentro da água, alguns dos melhores atletas do país disputarão os primeiros lugares das regatas. Fora dela, o público contará com espaços para diversão e lazer. O secretário de Turismo, Ricardo Fazzini, destaca, justamente, as ações que acontecerão para promover o evento entre os turistas que estiverem na ilha para acompanhar a Semana de Vela. O centro da cidade será palco para o “Race Village”, local que proporciona atividades como cinema e visitas de estandes dos patrocinadores e apoiadores. O espaço será aberto para visitantes e velejadores que participam das competições e também contará com transmissão ao vivo das regatas. Foto: Pedro Ivo Prates

orquestra do festival, que fará quatro concertos: dois regidos por Neil Thomsom, da Filarmônica de Goiás, e dois por Alexander Liebreich, da Orquestra da Radio Nacional Polonesa. Para o público, o destaque fica por conta do conjunto Ensemble Modern, de Berlim, na Alemanha. Os músicos, que são destaque do festival, farão três concertos e, além disso, também irão ministrar um seminário. O festival é o maior evento de música clássica do país e a maioria dos concertos acontece gratuitamente. Entre os prestigiados artistas nacionais e internacionais que integram a programação, também estão músicos de câmara. Nesta modalidade, destaque para o Cellos da Festival, que faz estreia da Suíte Mata Atlântica (com cinco canções de Tom Jobim), o Quarteto Carlos Gomes e o Quarteto Camargo Guarnieri, tocando com o violonecelista Santiago Sabino de Carvalho, integrante da Filarmônica de Londres. Vai perder?


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Arquitetura&

Fotos: Divulgação

Composição hi-tech Moderno edifício comercial de São José conquista ‘Oscar da Arquitetura’ na Itália por design contemporâneo e arrojado Marcus Alvarenga RMVALE

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edifico Infinity Trinity Tower, de São José dos Campos, ganhou o prêmio A’Design Awards, um dos mais importantes do mundo, entregue na Itália. Pelas mãos e ideias do engenheiro Marco Aurélio Vituzzo e da arquiteta Denise Campoy, o recente espaço comercial de dez andares tem notoriedade por suas linhas contemporâneas, o designer futurista e um projeto inteligente e sustentável. Foram quatro anos desde a compra do terreno no bairro Jardim Aquarius, liberação da obra, construção, decoração e entrega do empreendimento. “A ideia de um edifício comercial surgiu em 2012. Buscamos fazer um design inovador, porque mesmo com um porte menor ele precisava ser diferenciado e que tivesse um valor agregado equivalente para a região. As obras acontecerem em 30 meses e ele ficou pronto no começo de 2016”, conta Vituzzo. A obra apresenta características que saem do comum entre os edifícios vizinhos, cumprindo a proposta de ser uma edificação de grande impacto, mesmo sendo menor. O diferencial precisava ir além do que já havia sido feito pela dupla de arquitetos. Assim, Vituzzo e Denise decidiram refletir a cidade. “São José é uma cidade conhecia pela tecnologia em todo o mundo, era preciso que tivesse uma cara ‘hi-tech’. Primeiro deixamos ele todo espelhado,

para refletir toda a cidade. Depois fizemos o escalonamento de sacadas crescendo horizontalmente. Isso dá um dinamismo interessante e uma impressão de infinito, qual leva também no seu nome. E, para diferenciar mesmo, construímos a cobertura de 513m² com pé direito duplo”, conta o engenheiro.

Dimensões O edifício com uma fachada de 40 metros de altura composta por vidros com mais de 20 dimensões diferentes. O empreendimento tem 8.886m² de área construída, com 104 salas comerciais, uma loja de 311m² no térreo e a cobertura duplex. “O prédio tem três subsolos, térreo e mais nove andares com salas. O décimo andar é o mezanino da

cobertura. Tem a capacidade de comportar cerca de 450 a 500 pessoas ao mesmo tempo, entre os que trabalham e visitantes”, detalha. Segundo Vituzzo, o Infinity Trinity Tower tem um diferencial até na sua construção, tendo como base apenas quatro pilares de sustentação, oferecendo um novo estilo de estrutura. “O edifício tem uma estrutura nervurada. Seria uma laje que não é reta, mas onde você tem grandes vãos entre os pilares, tanto nos subsolos, quanto nas salas. Caso queira comprar o andar inteiro e ter uma grande sala, você terá só quatro pilares. Isso possibilita uma liberdade de montagem de layout conforme a necessidade. Fica apto para uma empresa de grande porte e para uma sala menor também”, descreve.

Sustentabilidade

“São José é uma cidade conhecia pela tecnologia e era preciso que o empreendimento tivesse uma cara inovadora. Por isso, deixamos a fachada espelhada, para refletir toda a cidade” Marco Aurélio Vituzzo ENGENHEIRO CIVIL

Para os idealizadores, essa versatilidade do ambiente torna o empreendimento moderno tanto por fora, quanto por dentro, fazendo dele um projeto atemporal e duradouro. O conceito inovador não pode- ria deixar de fora conceitos de sustentabilidade. “Ele tem selo de sustentabilidade Procel, um certificação de eficiência do Inmetro e possui nota máxima neste quesito. Isso representa um prédio ecológico, com grande economia de recuso naturais. Poupa a natureza e gera baixo valor de condomínio”, conta. Um dos itens que uniram o viés ecológico e o design moderno foi a própria fachada do edifício, utilizando uma textura cinza, vidros azuis reflexivos


Junho de 2017 |73

laminados de alto desempenho e aço inox. “São vidros especiais que deixam entrar luz, sendo necessário o uso de pouca energia”, conta. A construção foi o primeiro projeto contemporâneo da construtora MVituzzo Empreendimentos. “É gratificante pegar um terreno, ter um desafio e no final ver esse resultado”, relata Vituzzo.

Perfis Marco Vituzzo tem 35 anos e é formado em arquitetura pela Unicamp. É o CEO da construtora e foi responsável pela concepção do edifício, projetado pela arquiteta Denise Campoy. A projetista esta no ramo da arquitetura há mais de 30 anos, com formação pela Universidade Belas Artes de São Paulo, com especialização de decoração pela Espade (Escola Paulista de Arte e Decoração).  dfsfsdfdsjjjj Prédio imponente kdjfksdksddfjksdjfksd foi construído em jshfjdshfjsllllllllllllllllllllllllllll uma área de 1.500 jkjlkjkllllllllkkkkkkkkkkk metros quadrados ooooooooooooooo no Jardim Aquarius


74 | Revista Metrópole – Edição 28

Crônicas & Poesia

Sonhos de liberdade A deslumbrante vista do Mediterrâneo se descortina majestosa em mil tons de esmeralda, enquanto os raios oblíquos de maio fazem reluzir os sedutores tons metálicos do carro serpenteando a costa Amalfitana. Imagens idílicas que se impregnam no nosso cérebro feito fumaça de óleo diesel. Acostumamo-nos a associar o automóvel com sonhos de liberdade em estradas sinuosas e estreitas onde abaixo de nós derramam-se mil formas de paraísos (nunca o precipício). “É no silêncio de um Chevrolet que meu coração bate mais forte”, dizia um clássico jingle. Nos convencemos que o melhor lugar para o amor de nossas vidas é no banco do carona, que a vida é mais feliz com o vento que sopra da estrada, e que liberdade é poder ir pra lá e pra cá, bebendo gasolina e mastigando asfalto. O carro é parte indissociável da cultura do século 20, não há como negar. Mas muita coisa mudou nos últimos anos. As cidades ficaram entupidas dessas caixas de aço, as pessoas defumadas em monóxido de carbono e o direito de ir e vir se transformou no dever de permanecer. Permanecer parado num trânsito que não transita, em marginais que não nos levam a lugar algum. O carro de deixou de ser coadjuvante do sonho para se tornar protagonista do pesadelo. Em pouco mais de uma década, o Brasil quase dobrou o tamanho da sua frota. São quase vinte milhões a mais de veículos. Em princípio isso é bom: é mais dinheiro em circulação, mais empregos, mais impostos. Mas não apenas. O trânsito desordenado também entope as cidades, diminui a produtividade, aumenta os custos da economia, polui a atmosfera e deixa as pessoas neuróticas e infelizes. A frota de carros dobrou, mas as ruas continuam do mesmo tamanho.

Divulgação

A culpa não é dos carros nem dos motoristas, talvez do poder público, que não sabe o significado de planejamento ou de transporte público eficiente. Os Estados Unidos, símbolo maior do culto ao carro, recentemente assistiu a um fenômeno raro: a redução no número de jovens que tiram carta de motorista. Por lá, ter um carro já não é tanto sinônimo de status, nem tampouco de liberdade. Melhor chamar um Uber, sem ter que se preocupar com seguro, estacionamento, bicos injetores, rebimboca da parafuseta, IPVA ou bafômetro. Seja pela crise econômica que se abateu sobre o mundo desenvolvido na última década ou por uma mudança de estilo de vida, o fato é que a nova geração prefere adquirir experiências (viagens, esportes radicais, criar negócios inovadores) do que acumular bens. É possível alugar carros e apartamentos. Num mundo cada vez mais virtual, parece que grandes patrimônios físicos dão mais despesas e dor de cabeça que prazer. É um mundo em profunda mutação. Serpentear por estradas fotogênicas e ir pra onde quiser a hora que der na telha é uma experiência única. Mas é também improvável que tudo permaneça como

está. Em muitas sociedades, carro já é mais sinônimo de estorvo do que de ferramenta, é mais imobilidade que mobilidade. Não é a toa que Google e Apple (os novos donos do mundo) estão na corrida para lançar um carro autodirigível e não param de surgir ideias de compartilhamento de carros mundo afora. Diversas cidades também têm bloqueado áreas antes destinadas aos automóveis para o lazer dos pedestres. Nova York parece o exemplo mais óbvio e no Brasil começam a sugir tímidas experiências nesse sentido, como o fechamento de avenidas importantes aos domingos nas duas principais capitais do país. Não creio que o carro se transforme no cigarro do futuro, mas tenho alguns amigos que alardeiam a liberdade de não usar mais carro e flanar felizes por aí, com suas mochilas, fones de mp3 e aplicativos de taxis. Nao passa pela minha cabeça ficar sem carro, mas dia desses, levando o meu para a oficina, logo antes de pagar o IPVA, juro que bateu uma invejinha deles. Alexandre Corrêa Lima é administrador de marketing e pesquisas, palestrante e escritor diletante.




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