Metrópole Magazine - Agosto de 2017 / Edição 30

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Agosto de 2017 – Ano 3 – nº 30

SÃO JOSÉ na rota do Estado Islâmico

Joseense é condenado a 6 anos e 5 meses de prisão por promover grupo terrorista no Brasil ESPORTE

O calvário da 4ª divisão. Times da região sonham com dias melhores e buscam apoio pág. 52

ESPECIAL

Megaprojetos de defesa, nova família de aviões comerciais e até parceria com a Uber estão entre os desafios da Embraer pág. 24




metr pole magazine

4 | Revista Metrópole – Edição 30

meon.com.br/revista

EDITORIAL

Diretora Executiva Regina Aparecida Laranjeira Baumann Editor-chefe Fernando Antunes

Extremismo religioso em nossa região

Repórteres Eliane Mendonça Felipe Kyoshy Gabi Riemma João Pedro Teles Marcus Alvarenga Lucas Ananias

Tornou-se comum a relação entre o islamismo, muçulmanos e o terrorismo. A grande maioria das notícias envolvendo crimes ao redor do mundo tem algum tipo de ligação entre associações terroristas e religião. A matéria de capa desta edição da Metrópole Magazine é sobre um jo-

Colaboradores Tânia Campelo Otávio Baldim Fotografia Pedro Ivo Prates Mídias Sociais Fernanda Melo

seense que se interessou pelo Estado Islâmico, um dos grupos mais bár-

Diagramação José Linhares

baros e criminosos que atuam em todo o mundo, ressaltando, entretan-

Arte Giuliano Siqueira

to, a discrepância que fica evidente ao conversar com o responsável pela mesquita de São José dos Campos, não deixando dúvidas de que a tra-

Marketing Paloma Perlira

Diretor Comercial QUEM CONHECE, CONHECE BDO Pablo Bavuso

dicional religião não guarda qualquer relação com o grupo sanguinário. Uma das Big 5

No mês de aniversário da Embraer, importante empresa São José Líder de no middle market 21 na escritórios Brasil dos Campos, cujo idealizador nos brindou com um artigo última no ediAudit | Tax | Advisory

ção da Metrópole Magazine, não poderíamos deixar de mostrar os projetos de futuro, que mantêm esta gigante entre as maiores do mundo. Destaque também internacional. Nossa reportagem navega pela reper-

cussão de um projeto de escola pública em Ubatuba e a vitória do agora campeão mundial paraolímpico no Lançamento de Discos. As belezas de Ilhabela que se somam ao igualmente belo ensaio fotográfico incentivan-

Executivos de Negócios Ana Florez Dimas Ferreira Greice Kelly Zilma Cardoso Fabiana Domingos Diretor de Relações Institucionais Eduardo Pandeló Departamento Administrativo Gabriela Oliveira Souza Larissa Oliveira Maria José Souza Roseli Laranjeira João Carlos da Silva

Tiragem auditada por:

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do a amamentação em público.

Tel (55 12) 3941 4262 www.bdobrazil.com.br

Complementando o trabalho desenvolvido pelo portal Meon, que, 24 horas por dia, todos os dias da semana, informa os internautas sobre o que acontece por aqui, como nos outros meses, esta edição está repleta de assuntos de interesse da RMVale, região que se destaca pela criatividade, beleza e prosperidade.

Meon Comunicação Ltda Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 Jardim Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 PABX (12) 3204-3333 Email: metropolemagazine@meon.com.br

A revista Metrópole Magazine é um produto do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares

Boa leitura.

Regina Laranjeira Baumann Diretora Executiva



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SUMÁRIO Arquivo

Matéria de Capa

18 SÃO JOSÉ na rota do Estado Islâmico. Luís Gustavo de Oliveira está preso desde agosto do ano passado após ser pego pela Operação Hashtag

cado, Alexandre Corrêa, 46 anos, fundou a Mind Pesquisas há 24 anos, quando iniciou a sua trajetória no setor de opinião pública.

Campos cria ambientes personificados para cada tipo de cliente.

multilinguagens da literatura em sua 4ª edição. Pedro Ivo Prates

34 EDUCAÇÃO De Ubatuba para o espaço. Alunos de escola pública ganham repercussão mundial após lançamento de satélite feito pelos estudantes.

10 12

ARQUITETURA 60 Paisagista de São José dos

CULTURA 48 Além dos livros. Flim celebra as

família de aviões comerciais e até uma parceria com a Uber estão entre os desafios da Embraer.

8

‘Bezinha’, São José e Manthiqueira sonham com dias melhores; outros clubes da região buscam apoio para recomeçar . Pedro Ivo Prates

Pediatra explica os benefícios e o processo durante os primeiros meses do bebê. Fotógrafo faz ensaio para incentivar o ato em público . David Sá

Divulgação

ESPECIAL 24 Megaprojetos de defesa, nova

52 OESPORTES calvário da 4ª divisão. Na

40 OsSAÚDE frutos da amamentação.

14 ENTREVISTA Especialista em pesquisa de mer-

Espaço do Leitor Aconteceu& Frases&

66 74 78

70 EmTURISMO ilhabela, no Litoral Norte, praias de difícil acesso desafiam o fôlego dos turistas e são um mergulho na cultura dos moradores locais.

Comportamento& Gastronomia& Crônicas&Poesia


Microcrédito é solução para empreendedores driblarem a crise Informe Publicitário PREFEITURA MUNICIPAL DE JACAREÍ

Em tempos de recessão econômica, os micro e pequenos empreendimentos têm um papel fundamental na geração de emprego e renda. Contudo, um levantamento realizado pelo SEBRAE aponta que mais de 60% dos empreendimentos não sobrevivem por mais de dois anos após sua abertura. Isso se dá principalmente pela falta de conhecimento em gestão e pela falta de capital de giro e investimento. O fácil acesso ao capital de giro ou a possibilidade de investir e modernizar o próprio negócio são diferenciais na hora de fidelizar a clientela. Segundo pesquisa de 2016 do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), o acesso a recursos financeiros contribui – e muito – na manutenção de novos negócios. Neste cenário, o microcrédito ganhou destaque. Em Jacareí, por exemplo, o Banco do Povo vem conquistando cada vez mais adeptos, com juros muito abaixo dos aplicados pelos bancos e pouca burocracia. Só este ano, a instituição já apoiou 86 empreendedores com empréstimos que ultrapassam os R$ 500 mil. Leandro Araujo, proprietário de uma lanchonete em Jacareí, é cliente fiel e indica o crédito. “O Banco do Povo me ajudou muito, desde o início, em tudo. Já fiz seis empréstimos, sempre com agilidade e pouca burocracia. Sem ele, minha empresa não teria como crescer”, comentou. Com microcréditos para pessoa física e jurídica, o Banco do Povo oferece valores progressivos, que podem aumentar a cada novo empréstimo de acordo com cada quitação. Para quem vai solicitar pela primeira vez, os valores variam entre R$ 200 e R$ 3 mil para pessoa física e de R$ 200 a R$ 7.500 para pessoa jurídica. Para os empreendedores que estejam em busca deste auxílio, o Banco do Povo está sediado na Rua Barão de Jacareí, 839 e funciona das 8h às 17h. A lista completa de documentos necessários pode ser encontrada no site da Prefeitura de Jacareí, www.jacarei.sp.gov.br/banco-do-povo.


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Espaço do Leitor Edição 29 – Julho de 2017 RMVALE

Julho de 2017 – Ano 3 – nº 29

Feedback

A Metrópole Magazine de julho trouxe uma edição especial em homenagem ao aniversário de 250 anos de São José dos Campos, comemorados no dia 27. O material especial aborda dez reportagens especiais que contam um pouquinho sobre histórias, personagens, paisagens e desafios para a Capital da Tecnologia. Além disso, a edição também apresentou uma entrevista com a publicitária Gil Castillo. Profissional com experiência em campanhas políticas no Brasil e no exterior. A revista ainda levou o leitor para as belíssimas paisagens dos roteiros do turismo rural do Vale do Paraíba. Lavandários em Cunha, passeios a cavalo em São

Francisco Xavier, café da roça e noites ao luar em Paraibuna. Parte da riqueza do nosso vale passa pelos caminhos trilhados pela reportagem. Nossa equipe foi ao restaurante mais antigo de São José descobrir os segredos de uma receita que conquista paladares há meio século: o pintado na brasa da Vila Velha. Para terminar, a publicação ainda destaca um artigo do engenheiro Ozires Silva, um dos criadores da Embraer, e figura que representa o espírito empreendedor de São José dos Campos. O texto fala sobre a cidade que foi transformada pela educação e traça expectativas para um futuro de revoluções tecnológicas.

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Aconteceu& Divulgação

Padrasto é preso após confessar agressão que matou adolescente

Divulgação

O padrasto do adolescente de 14 anos que morreu após ter sido agredido, no dia 25 de julho, confessou, em depoimento à Polícia Civil, que foi o autor da agressão. Ele foi preso e vai responder por homicídio triplamente qualificado. O adolescente foi levado ao Hospital Municipal com várias fraturas, no tórax e abdômen. Ele sofreu duas paradas cardíacas e foi reanimado. Mas, durante uma cirurgia para conter uma hemorragia no fígado, ele sofreu uma terceira parada e não resistiu. A mãe do garoto e o padrasto foram levados pela polícia durante o velório. Segundo a delegada da Delegacia de Defesa da Mulher, Vânia Idalera Zacaro de Oliveira, a polícia recebeu a denúncia do próprio hospital após ter desconfiado dos ferimentos do adolescente. 

Homem foge algemado da base da PRF na Via Dutra, em São José

Estupros no Litoral Norte aumentam 23% no 1º semestre deste ano O número de casos de estupro nas cidades do Litoral Norte aumentaram 23% no primeiro semestre de 2017, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública. Em 2016, foram 40 ocorrências registradas nas quatro cidades de janeiro a junho. Neste ano, o número saltou para 52. A cidade que teve o maior número de casos de estupro foi Caraguatatuba. Foram registrados 24 casos este ano, um aumento de 34% em relação a 2016, quando ocorreram 16 casos. A única cidade que apresentou queda foi São Sebastião. Em 2016, foram registradas oito ocorrências de estupro nos seis primeiros meses. Neste ano, foi registrado um caso a menos, sete. 

Pedro Ivo Prates

Um homem de 26 anos de idade que havia sido detido momentos antes por suspeita de falsificação de documentos, fugiu algemado da base da Polícia Rodoviária Federal, no início deste mês. Segundo a PRF, ele teria se aproveitado de um acidente ocorrido momentos depois na rodovia Presidente Dutra e percebeu o desvio de foco dos policiais para sair correndo. Ele fugiu a pé pela passarela, próxima à base da PRF, em direção ao bairro Chácaras Reunidas, na zona sul de São José dos Campos. Ele não foi localizado após a fuga. A polícia suspeita que ele faça parte de uma quadrilha especializada em falsificação de documentos. 


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Ronaldo Casarin

André Rocha é campeão mundial paraolímpico no lançamento de disco

Parque Alberto Simões é reaberto e tem diversas atrações para a população Espaço para modalidades esportivas e de também lazer, o parque, que fica em São José dos Campos e leva o nome do cronista esportivo Alberto Simões, foi reaberto no dia 21 de julho. Com o retorno das atividades, os frequentadores têm academia ao ar livre, inclusive com equipamentos diferenciados para pessoas com deficiência. O funcionamento é de terça-feira a domingo, das 6h às 20h, para as atividades livres dos frequentadores, como pista de caminhada e academia ao ar livre. Aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h, funcionarão os esportes radicais, como tirolesa e escalada, com orientação de monitores. 

Polícia Federal cumpre mandado de apreensão contra produção de cigarros A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na manhã do dia 18 de julho, em São José dos Campos, durante a operação “Ex-Fumo”, deflagrada para investigar fraudes de R$ 2,3 bilhões na produção de cigarros e sonegação fiscal. A ação também teve a participação do Ministério Público Federal e da Receita Federal. De acordo com a PF, foi expedido um mandado na cidade, onde foram recolhidos documentos. O local onde foram feitas as apreensões não foi divulgado. A operação cumpriu 20 mandados judiciais de busca e apreensão e quatro mandados de prisão temporária em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Investigações da PF apontam suspeitas de sonegação fiscal de empresas do setor cigarreiro. Nestes casos, os valores tributáveis não eram repassados aos cofres públicos. 

Pedro Ivo Prates

Pedro Ivo Prates

O taubateano André Rocha foi campeão mundial paraolímpico, no dia 18 de julho, em sua primeira participação no mundial, realizada em Londres. Ele bateu recorde mundial no Lançamento de Disco, na classe F52, com marca de 23,80m. A prata foi para o letão Aigars Apinis (21,95m) e o bronze para o croata Velimir Sandor (17,95m). Em 2005, o então Policial Militar André Rocha perseguiu um assaltante que tentava escapar após cometer um crime. André foi atrás, mas caiu de um muro. Ao tentar se levantar para seguir atrás do bandido, ele não conseguiu. Suas pernas não se movimentavam. Ele sofreu uma lesão na coluna e ficou paraplégico. A depressão chegou e o esporte, ele diz, o salvou. “As pessoas não fazem ideia do que esse título significa para mim. Para quem chegou a cogitar abandonar o esporte ou até ir para outra modalidade, alcançar algo como esse ouro não tem preço. Foi muita luta, suor e fé em Deus”, disse André. 


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Frases& Pedro Ivo Prates

O mais importante para mim é que tenho a consciência tranquila porque não fiz nada de errado e por isso mesmo nunca temi qualquer tipo de apuração

Carlinhos Almeida ex-prefeito de São José dos Campos, sobre citação do nome dele na delação da Odebrecht

Eu até senti um pouco de medo, mas como a mãe fazia tempo que não o via, decidi dar um crédito. Não acreditava que poderia voltar a acontecer algo de grave. Talvez eu tenha errado em deixá-lo ir

Jefferson Rodrigo de Moura , pai do adolescente de 14 anos morto pelo padrasto e que vivia com a mãe

Fico feliz em poder participar desse dia importante para São José. É uma cidade pela qual tenho muita gratidão e sempre me deu muito carinho durante toda a minha carreira Divulgação

Wanessa Camargo, cantora, em entrevista ao Portal Meon durante show de aniversário de São José dos Campos


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Divulgação

O carro só ficou ali para não atrapalhar o trânsito da rua. É uma prática comum naquele trecho justamente pelo fluxo de veículos

Milton Vieira (PRB), Deputado Estadual, ao ser flagrado com carro oficial estacionado em cima da calçada, no Jardim Aquárius, em São José dos Campos

André Rocha, medalha de ouro no lançamento de disco no Mundial Paraolímpico de Londres

Divulgação

Estou muito feliz e espero que o meu exemplo sirva para muita gente. Que as crianças se espelhem nisso, que outros deficientes procurem o esporte paraolímpico. O esporte é fantástico. É uma ferramenta de interação e o maior legado que a gente pode deixar para a sociedade


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ENTREVISTA

Interpretando a sociedade por meio das Pesquisas Alexandre Corrêa, 46 anos, fundou a Mind Pesquisas há 24 anos e iniciou a sua trajetória no mercado de opinião pública Marcus Alvarenga SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

lexandre Corrêa, 46 anos, nasceu em Curitiba e reside em Cruzeiro desde a década de 1980. Há 24 anos fundou a Mind Pesquisas, quando iniciou a sua trajetória no mercado de opinião pública. Professor de pós-graduação e MBA na FGV de São José dos Campos, colocou toda sua experiência em um livro, onde explica como funcionam as pesquisas, principalmente as que têm como foco a política. Nesta entrevista, o autor fala sobre o perfil de candidato que as pesquisas apontam para a eleição de 2018 e da credibilidade das pesquisas eleitorais. Como surgiu a ideia de produzir o livro com casos da sua trajetória no ramo das pesquisas? Eu já tenho mais de 20 anos de experiência no mercado de pesquisas e já nutria este desejo de escrever um livro. Uma vez conversando com os amigos, eles falaram: “vai lá, escreve”. E acabei tomando a iniciativa de escrever. A ideia era que eu escrevesse em um ano e meio as 150 páginas, mas levei quase quatro anos e deu cerca de 900 páginas. Levei seis meses realizando bibliografia, depois mais dois escrevendo e por fim a questão do contrato com editora

e o envio para a revisão. É um projeto bastante trabalhoso, mas fiquei feliz por poder ter escrito o livro. Ele é fruto da minha experiência, por ter feito milhares de pesquisas, além de todo o apoio teórico da minha experiência em sala de aula, tanto como professor quanto aluno. Como você recebe a repercussão dos leitores? O livro não é um romance que todos possam comprar. Então, naturalmente, ele é mais segmentado para pessoas interessadas em sociologia, psicologia, marketing, jornalistas, ciência polícia. É público mais restrito. Eu recebo relatos da minha editora que o

“ Vai ser uma eleição muito diferente e a tendência é que haja uma demanda por novos nomes e tipos diferentes de fazer a política, de um jeito mais transparente e verdadeiro”

livro está vendendo muito bem. Ele é um dos mais vendidos na sua categoria. Há o E-book e a versão impressa. Em algumas livrarias a editora está repondo o estoque. O que os leitores podem esperar de informação e novidade no livro? Apesar de o título ser sobre pesquisa de opinião pública, ele não se restringe só a este tema. Falo sobre a era da informação em que vivemos, das transformações proporcionadas pelas redes sociais, como são medidos e analisados os valores de uma sociedade ao longo do tempo, como que ela lida com a sustentabilidade, homossexualidade, economia, política, democracia e outros temas. Enfim, o livro trafega por uma gama de assuntos e não fica só no que é opinião pública e como é feita uma pesquisa eleitoral. Tem muito disso, mas é um livro bem abrangente. As pesquisas de intenção de voto estão com os dias contados? Na realidade, a grande maioria das pesquisas acerta o resultado. Cerca de 95% das pesquisas retrata o que acontece. Mas uma minoria dá errado. Existe pesquisa que erra, mas não tanto quanto as pessoas pensam. Na última eleição, por exemplo, o Ibope falou que a Dilma teria 51% e poderia ganhar no primeiro turno, porque tem a margem de erro. Ai no fim ela teve 47%. Errou, até acima


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tratar com uma técnica melhor porque a pessoa pode, eventualmente, omitir a verdadeira opinião por ser um tema mais delicado.

da margem, mas não que eles falaram que seria 50% e teve 11%. Isso não existe. Como os partidos no Brasil são muito frágeis e não têm um conteúdo programático, além da política no Brasil estar sem credibilidade, a opinião de voto flutua ao longo da eleição. Uma margem muito grande de pessoas decide na última hora. Muitas vezes uma pesquisa feita 10 dias antes não é um retrato do dia final da eleição, justamente porque tem aquela parcela que diz que vai votar, mas não está convicta. São os chamados indecisos. Há erros de interpretação também. Uma coisa é lidar com reagente químico, mas quando eu lido com gente, a opinião é volátil. O que falta é justamente ter a humildade de assumir que a pesquisa pode falhar. Os erros acontecem, mas está cada vez mais difícil de ocorrer. Só é preciso entender o papel e os limites. O eleitor brasileiro tem medo de assumir a sua verdadeira opinião? Geralmente as pessoas respondem com sinceridade. Há uma taxa de mentira pequena, mas sempre tem temas mais sensíveis, como consumo de drogas, comportamento sexual ou renda familiar. Tem certos temas que você precisa

Os profissionais e institutos de pesquisa estão preparados para atender este mercado? O Brasil tem uma indústria de pesquisas muito boa e sólida. Somos um dos países mais antigos na área. O começo foi na década de 1940, o que para América é considerado muito cedo. E o Brasil é um País muito complexo. O instituto vive da credibilidade que ele tem e da capacidade de mostrar ao mercado que ele consegue acertar. A eleição é apenas a cada dois anos. Nós vivemos da pesquisa de mercado, de audiência, de outras pesquisas. Qual será o papel da pesquisa na eleição de 2018? O Brasil está numa fase de transição muito aguda. O planeta vive um momento de transição muito forte. O mundo está se questionando em tudo e o Brasil vive isso ao cubo. Acho que vai

Divulgação

“ Você entrevistou centenas de pessoas e saber o que milhões pensam não é uma coisa que faça sentido para as pessoas. Então elas têm uma desconfiança”

ser uma eleição muito diferente e a tendência é que haja uma demanda por novos nomes e tipos diferentes de fazer a política, de um jeito mais transparente e verdadeiro. Acho que ficará mais complexo o nosso trabalho, pois o mundo está mais fragmentado. Antigamente era tudo meio Fla x Flu, Corinthians e Palmeiras. Hoje, com a Internet, é muito fragmentado. Estamos com uma pauta mais pulverizada e complexa.


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Foto: Pedro Ivo Prates

Desconfiança da população com as pesquisas de opnião é um dos assuntos tratados por Alexandre Correa em seu livro. Interpretar a sociedade em ebulição é um desafio. As águas estão muito turbulentas, mas este é o desafio de quem trabalha com isso. Essas mudanças e transições podem se estender para toda a sociedade e também ao mercado. Vivemos um momento de transformação. São tempos desafiadores, mas fascinantes. Quais casos do seu livro que podem ser citados neste mercado? Eu falo que a gente vive a era da Informação. Os estatísticos de uma loja americana ou de uma rede varejista criam um algoritmo e preveem, pelo padrão de comportamento de uma gestante, o que ela pode comprar. Com isso, começam a mandar promoções segmentadas. E, curiosamente,

Referência em análise de mercado na RMVale, pesquisador lança livro sobre estudos de opinião pública

acertam em 90% dos casos. O livro é cheio de casos assim. Qual a confiança da população em pesquisas eleitorais? Eu acho que não é muito alto. Primeiro, porque é contra o intuitivo. Pesquisa não parece fazer sentido. Você entrevistar centenas de pessoas e saber o que milhões pensam não é uma coisa que faça sentido para as pessoas. Eu acredito que para o público a pesquisa é sempre vista com desconfiança. Ela é uma técnica que não é conhecida por todo mundo. O sistema de amostragem é um pouco contra intuitivo. E tudo o que diz respeito aos assuntos políticos é associado a confusão e polêmica. Com temas de mercado, mais técnicos, você tem mais credibilidade. 



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NOTÍCIAS ESPECIAL

SÃO JOSÉ na rota do Estado Islâmico Luís Gustavo de Oliveira está preso desde agosto do ano passado após ser pego pela Operação Hashtag

Foto: Arquivo


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Tânia Campelo SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O

terror visto pela televisão e a guerra sanguinária mostrada, muitas vezes, ao vivo para todo o mundo, não está tão longe da realidade do dia a dia da nossa região. Há um ano, agentes da Polícia Federal prendiam em uma casa da zona norte de São José dos Campos, um jovem suspeito de integrar uma célula terrorista do Estado Islâmico. Luís Gustavo de Oliveira, então com 27 anos, era membro de uma comunidade virtual que planejava ataques aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que foi desmantelada pela Operação Hashtag. Levado no dia 11 de agosto do ano passado para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), Luís Gustavo não voltou mais para a sua casa, na Vila São Geraldo. Ficou em prisão preventiva até maio deste ano, quando foi condenado a seis anos e cinco meses de prisão por associação criminosa e promoção de grupo terrorista. Outros sete réus da Operação Hashtag foram condenados em maio e seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal no último dia 26 de junho. Em conversas realizadas em aplicativos como Whatsapp e Telegram, além de grupos no Facebook, os réus cogitaram fazer ataques terroristas. Entre as intenções estava contaminar a estação de abastecimento de água da Cidade Olímpica, no Rio, e esfaquear homossexuais em São Paulo. Eles também postaram fotos de execuções e de atentados praticados pelo Estado Islâmico em vários países, além de trocarem informações sobre o juramento de lealdade ao grupo terrorista. Nas redes sociais, Luís Gustavo se identificava como Nur Al Din, nome que adotou após se tornar muçulmano. Entre as mensagens postadas por ele, uma chama atenção. Ele ensina a fabricar uma bomba caseira. Além de

mostrar um passo a passo da produção do explosivo, o joseense sugere misturar cacos de vidro à pólvora, para causar maior dor aos kuffar (infiéis). A Polícia Federal não obteve provas de contatos pessoais entre Luís Gustavo e os demais investigados, mas comprovou as autorias das mensagens trocadas nas redes sociais. Apesar de os réus condenados não terem executado nenhum atentado, a Justiça considerou que as mensagens publicadas por eles caracterizariam ato preparatório de ações terroristas e promoção do grupo Estado Islâmico, configurando crimes previstos na Lei Antiterrorismo, sancionada em março de 2016. Para o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal, em Curitiba, o conteúdo colhido durante a Operação Hashtag foi suficiente para revelar as intenções e o potencial risco à segurança dos declarados alvos da comunidade virtual. “O conteúdo se situa entre a exaltação e celebração de atos terroristas já realizados em todo mundo, passando pela postagem de vídeos e fotos de execuções públicas de pessoas pelo Estado Islâmico, chegando a orientações de como realizar o juramento ao líder do grupo (‘bayat’), e atingindo a discussão sobre possíveis alvos de ataques que eles poderiam realizar no Brasil (estrangeiros durante os Jogos Olímpicos, homossexuais, muçulmanos xiitas e judeus), com a orientação sobre a fabricação de bombas caseiras, a utilização de armas brancas e aquisição de armas de fogo para conseguir esse objetivo”, disse o juiz, na sentença.

Só uma brincadeira Em seu depoimento à Justiça Federal, em dezembro do ano passado, Luís Gustavo disse que as mensagens postadas foram “uma brincadeira de mau gosto” e que nunca teve intenção de praticar atos terroristas ou outro crime. O joseense ainda negou a intenção de fazer propaganda do grupo terrorista


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Estado Islâmico no Brasil. Ele disse que chegou às comunidades virtuais que faziam apologia ao Estado Islâmico por curiosidade, pois queria entender os conflitos existentes entre os próprios muçulmanos. A defensora pública da União, Rita Cristina de Oliveira, que faz a defesa de Luís Gustavo e outros seis condenados da Operação Hashtag, recorreu da sentença. Ela considera que as provas apresentadas pelo Ministério Público Federal contra Luís Gustavo são inconsistentes. No final do ano passado, Rita Cristina conseguiu revogar a prisão preventiva de quatro réus da Operação Hashtag, que agora, mesmo condenados, aguardam recurso em liberdade. Porém, o juiz Marcos Josegrei negou o benefício para Luís Gustavo e aos demais réus. A defensora aponta abusos durante a investigação e também questiona os crimes imputados ao jovem joseense, pois, segundo ela, as provas não fundamentariam associação criminosa ou promoção do Estado Islâmico. “Com relação aos direitos processuais, houve violação dos direitos de comunicação. Ele ficou sob custódia da polícia, sem direito à comunicação externa e nem um telefonema para advogado ou para a família. Foram interrogados sem a presença de defensor e sem a ciência efetiva do que estavam sendo acusados”, disse Rita Cristina. Para ela, Luís Gustavo não tem perfil violento e teria feito as postagens por ingenuidade e curiosidade religiosa, sem intenção de praticar os atos terroristas. No entanto, o juiz afirma, em sentença, que a tese da defesa de que “as postagens e diálogos dos acusados de conteúdo extremista não passavam de expressão de curiosidade religiosa ou meras bravatas” não podem ser “aceitas como justificativas aptas a excluir a tipicidade ou culpabilidade das ações”. Segundo ele, “há elementos indicativos fortes de que [os réus] estavam

associados com sentimento de permanência para, não fosse a intervenção policial, o cometimento de crimes”.

Em busca de um hábito Luís Gustavo pertenceu à Igreja Católica durante quase toda a vida. Converteu-se ao islamismo em 2013.

“Eu só queria entender os conflitos entre as religiões. Na Mesquita isso é um tabu e fui procurar na Internet. Comecei a ler e compartilhei, mas só para entender o porquê acontecia isso” Luís Gustavo de Oliveira, EM DEPOIMENTO

“Fui franciscano dos meus 14 aos meus 21 anos. Mas essa ordem religiosa não ordenava padre e eu queria me tornar padre. Daí eu saí, fui para os cartuxos, os monges do silêncio. Uma ordem linda, monástica, a coisa mais

linda que já vi. Só que o monge falou pra mim: ‘aqui você vai viver sua vida toda de contemplação a Deus. Então vai conhecer o mundo, namorar, quando você achar que vai entrar pra não sair, você vem”, relatou Luís Gustavo à Justiça. O jovem joseense contou que decidiu seguir a orientação do monge. “Eu saí e conheci várias religiões. Conheci os evangélicos, Umbanda, Candomblé e outras igrejas, como Batista e Congregação Cristã. Dai eu conheci o Islã. Eu me apaixonei pelo Islamismo porque tudo o que eu tinha na vida religiosa eu tinha no Islã. Eu podia vestir o hábito religioso e ter minhas cinco orações. O Islã une a vida religiosa e a monástica com a vida secular. Eu me apaixonei por isso”, contou o réu ao juiz federal Marcos Josegrei, em dezembro do ano passado. Já o interesse pelo grupo terrorista Estado Islâmico teria surgido por curiosidade, no final de 2015. “Eu só queria entender os conflitos entre as religiões. Na Mesquita isso é um tabu e fui procurar na Internet. Comecei a ler e compartilhei, mas só para entender o porquê acontecia isso. Só para entrosamento, brincadeira de mau gosto. Eu nunca quis fazer um atentado. Eu tenho família”, relatou à Justiça. Um ano após se converter ao Arquivo


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islamismo, o jovem joseense, até então solteiro, conheceu uma muçulmana pela Internet, com quem vivia em um imóvel anexo à casa de seus pais, junto com dois enteados. Segundo afirmou no depoimento, a mulher nasceu no Egito e veio órfã para o Brasil, onde foi adotada por uma família no Rio de Janeiro.

Franciscanos Por quase três anos ininterruptos, Luís Augusto permaneceu afastado de sua família e dedicou sua vida exclusivamente à comunidade franciscana. “Ele ajudava nas tarefas, participava da espiritualidade com toda dedicação, mas um dia, há cerca de sete anos, ele abandonou tudo. Foi embora sem falar nada, nem deu satisfação”, disse Reinaldo Fernandes Leite, coordenador da Casas de Assis, em São José dos Campos. Luís Gustavo era responsável por umas das casas, mas não usou o hábito dos franciscanos, pois não chegou até a última fase de preparação espiritual. “Depois que saiu da nossa Obra, ele procurou muitas ordens religiosas, inclusive chegou a ir ao Sul do país, nos Cartuxos. Eu fiquei preocupado porque ele não foi aceito. Após muito tempo sem contato, me surpreendi quando o encontrei na rua usando

uma vestimenta árabe. Estranhei ele passar de cristão, tão dedicado, para se tornar muçulmano”, disse. Procurado pela reportagem, o pai de Luís Gustavo, que se identificou apenas como Silvio, disse que o filho nunca fez comentários sobre o Estado Islâmico e sua prisão surpreendeu toda a família. “Luís Gustavo sempre foi um bom menino. Ele se deixou levar por essas conversas na Internet, mas nunca ele atiraria uma bomba para matar uma pessoa. No depoimento dá pra ver que ele é uma pessoa ingênua, tranquila”, disse.

FBI identifica célula Uma investigação do FBI (Federal Bureau of Investigation) levou a Polícia Federal a identificar os primeiros suspeitos da Operação Hashtag, deflagrada em julho do ano passado, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos do Rio. Após a Justiça autorizar a quebra do sigilo de dados telemáticos e telefônicos dos suspeitos, a PF rastreou redes sociais, e-mails, sites acessados e mensagens trocadas em aplicativos de conversa. Ao longo da investigação, foram cumpridos 74 mandados judiciais, sendo 40 prisões temporárias e preventivas, 26 de busca e apreensão e oito conduções coercitivas. Dos suspeitos, Arquivo

oito foram denunciados em setembro do ano passado e condenados em maio deste ano. Outros seis foram denunciados no último dia 26 de junho. O MPF não informou quantos perfis suspeitos foram indicados pelo FBI, mas pelo menos três dos réus condenados foram monitorados pelo órgão norte-americano. Desde 2005, os serviços de inteligência contra o terrorismo começaram a dar mais atenção aos ‘terroristas caseiros”. Um exemplo desse tipo de ameaça é o atentado que matou cinco pessoas e deixou mais de 40 pessoas feridas, em março deste ano, em Londres. O ataque foi praticado por Khalid Masood, que nasceu no Reino Unido e já havia sido investigado em razão de comportamentos extremistas. Além das provas obtidas de redes sociais e aplicativos de bate-papo, também foram anexados à denúncia vídeo, fotos e áudios encontrados pela perícia em um celular de Luís Gustavo. De acordo com o relatório de análise da perícia, emitido no dia 5 de janeiro deste ano, havia conteúdo extremista jihadista no celular, como um exemplar eletrônico da Revista Inspire, dedicada à confecção de bombas para ataques terroristas, e também de um discurso do representante do Estado Islâmico.

Arquivo


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O outro lado do Islã

Recrutamento

O presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana de São José dos Campos, Hamze Youssef Taha, alerta que nenhum grupo terrorista segue as leis do Islã. “Não existe muçulmano de dois tipos. Muçulmano é um só, aqui, na Rússia ou em qualquer lugar. O Islã nunca incentiva a matança ou manda matar irmão. O Islã fala de paz e harmonia entre as pessoas”, disse Hamze. Segundo ele, a comunidade islâmica joseense conta com cerca de 200 pessoas, sendo que menos de 40 são brasileiros convertidos. Os demais são imigrantes egípcios, libaneses e sírios, entre outros. Luís Gustavo de Oliveira, condenado na Operação Hashtag, é um dos convertidos que frequentava a Mesquita Al-Huda, única na cidade de São José dos Campos. Sobre o depoimento do jovem, onde afirmou à Justiça que era tabu falar sobre Estado Islâmico dentro da Mesquita, o xeique Ashrf Abdelazim, que está no comando da Mesquita há cerca de dois anos, disse que Luís Gustavo nunca o procurou para pedir qualquer tipo de orientação e que todos os sábados a Mesquita recebe muçulmanos e não-muçulmanos, que vão estudar árabe ou conhecer melhor o Islã. “Meses após a minha chegada aconteceu isso [prisão de Luís Gustavo]. Eu o vi umas quatro ou cinco vezes. Mas ele vinha, rezava e ia embora”, disse o xeque.

O grupo terrorista tem como principal alvo jovens muçulmanos recém convertidos, que vasculham a internet em busca de informações. Dados do Centro Nacional de Contra-terrorismo dos EUA, divulgados em 2015, identificaram 46 mil contas de apoiadores ou militantes do Estado Islâmico, que não seriam usadas somente para comunicação com os convertidos, mas para propagar e também atrair curiosos e pessoas com perfil extremista. A psicóloga Marcela Ondei, de São José dos Campos, afirma que os grupos criminosos como o Estado Islâmico, vasculham a Internet a procura de jovens vulneráveis, que se colocam como presas fáceis. “Os jovens buscam reconhecimento, um local que os acolha, um sentido de pertencimento. Quando identifica um jovem vulnerável, esses grupos usam um discurso que ele quer ouvir. É assim também no caso daquele jogo Baleia Azul”, disse a psicóloga. Segundo Marcela, os pais e amigos devem ficar atentos a jovens que se isolam na internet, que apresentem mudança de comportamento. “Os pais devem conversar com os filhos. O diálogo é o melhor caminho. Mas, caso tenha dificuldade, devem buscar orientação ou encaminhar o filho para um psicólogo profissional de confiança”. 

“O Islã nunca incentiva a matança ou manda matar irmão. O Islã fala de paz e harmonia entre as pessoas” Hamze Youssef Taha,

Pedro Ivo Prates

PRESIDENTE DA SOCIEDADE BENEFICENTE MUÇULMANA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Pedro Ivo Prates

Mesquita Al-Huda é a única de São José dos Campos e era frequentada por Luiz Gustavo de Oliveira



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NOTÍCIAS ESPECIAL

Foto: Divulgação

Embraer celebra 48 anos e projeta novos voos

Megaprojetos de defesa, nova família de aviões comerciais e até uma parceria com a Uber estão entre os desafios da empresa para o futuro

Eliane Mendonça SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

Embraer celebra neste mês 48 anos de existência. Trajetória repleta de desafios, superação e inúmeras conquistas de sucesso. Para o futuro, novos rumos e projeções de voos empresariais cada vez maiores. No horizonte, uma nova família de aviões comerciais ganhará vida a partir do próximo ano, junto com megaprojetos da FAB (Força Aérea Brasileira), como o cargueiro KC-390 e os caças Grippen, e projetos futurísticos e de inovação, que começam a ser desenhados de olho nos desafios do mercado aéreo do futuro, como o voo autônomo e de propulsão elétrica,

tecnologias que serão aplicadas, por exemplo, no projeto de veículos elétricos que a empresa realiza em parceria com a Uber. No passado, uma história que enche de orgulho os brasileiros e, sobretudo,

Quase 28% da população de São José dependem financeiramente da Embraer. São 48 mil empregos diretos e indiretos na cidade.

os joseenses. Afinal, a empresa, que nasceu em São José dos Campos, coleciona números impressionantes. É considerada a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, já produziu mais de 8 mil aeronaves, tem mais de 100 clientes espalhados pelo planeta e seus aviões estão pelos ares de mais de 60 países. Atualmente, emprega diretamente 17,5 mil pessoas. Só em São José dos Campos são quase 12 mil empregos diretos e 36 mil indiretos. Considerando o contexto familiar de quatro pessoas, o exército de dependentes da Embraer gira em torno de 190 mil pessoas na cidade, direta ou indiretamente, ou seja, aproximadamente 28% da população. Quando falamos em cifras, os números também são grandiosos. Em 2016,


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a Embraer fechou o ano com um lucro líquido de R$ 585,4 milhões, o que corresponde a uma alta de 142,3% em comparação ao ano anterior, quando atingiu R$ 241,6 milhões. Além disso, a receita subiu 5,6% e atingiu R$ 21,436 bilhões.

Receita Para 2017, a estimativa da empresa é de redução. A companhia prevê que suas receitas totais fiquem entre R$ 18,24 bilhões e R$ 19,52 bilhões neste ano. Deste total, a maior parte das receitas vem da aviação comercial (56%), seguida pela aviação executiva (28%), defesa e segurança (15%) e outros negócios (1%). Para o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico de

São José dos Campos, Alberto Alves Marques Filho, é fácil entender os motivos que levam os joseenses a esbanjarem orgulho pela empresa. “A Embraer é fruto de um investimento acertado, feito lá atrás, em Educação de alto nível. Isso, aliado ao espírito empreendedor,

R$ 19,52 bilhões é a receita estimada pela Embraer para 2017 que sempre foi uma marca registrada da nossa população, fez com que a empresa crescesse e se tornasse esta

potência, que é uma grande geradora de recursos para o Orçamento do município e leva o nome da cidade para fora do País”, disse. Para o diretor da regional joseense do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Almir Fernandes, a Embraer é importante por desenvolver produtos que exigem alta tecnologia, alto valor agregado e que mobiliza mão-de-obra extremamente qualificada. “Com certeza a Embraer é a indústria que toda a cidade queria, mas só São José dos Campos tem a sorte de tê-la”, disse.

Desafios futuros Para o vice-presidente executivo de operações da Embraer, Mauro Kern, a


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Embraer está muito bem estruturada nos seus negócios atuais, seja na aviação comercial, executiva, projetos de defesa e segurança e serviços. Na aviação comercial, o grande desafio é a nova família E2 que, segundo ele, entra em serviço a partir do ano que vem. “Desenvolvemos uma família de produtos de novíssima geração, tecnologia de ponta. Nosso trabalho é consolidar esta família neste ambiente altamente competitivo, que tem sempre novos competidores entrando, como os japoneses, chineses, além, é claro, dos canadenses, que são nossos concorrentes mais tradicionais. Esse ambiente acirrado demanda da empresa produtos e serviços de qualidade ainda mais fortes”, disse o vice-presidente. No mercado de aviação executiva, Kern observa uma transformação em andamento. “O que a gente vê para o futuro é uma demanda crescente de

voos executivos como serviço. Ou seja, não necessariamente as empresas comprarão aviões, mas usarão serviços de companhias operadoras. Esse é um risco da transformação no negócio e nosso desafio será posicionar a empresa de maneira forte, para que a Embraer seja um grande ator deste mercado em transformação”, disse. Na área de defesa e segurança, o vice-presidente destaca dois produtos: o cargueiro KC-390 e o Super Tucano. Segundo ele, o desafio é a penetração desses aviões no mercado internacional, além da venda para a FAB (Força Aérea Brasileira). “São produtos que têm chamado muito a atenção dos clientes internacionais e ambos têm enorme potencial. Sabemos como é difícil vender neste ambiente de defesa. Envolve as questões de relacionamento bilateral ou multilateral com os países. É sempre uma compra que tem um componente político”, disse.

Tecnologia e Inovação Comprovando seu perfil inovador, a Embraer anunciou, em abril deste ano, um acordo com a Uber para o desenvolvimento e implantação de pequenos veículos elétricos com decolagem e aterrissagem vertical para deslocamentos curtos no espaço urbano. De acordo com a empresa, a parceria preliminar é um projeto gerado pelo Centro de Inovação de Negócios da Embraer, com sede em Melbourne, no estado americano da Flórida. Na ocasião, executivos da Uber chegaram a dizer que a aviação urbana é um próximo passo natural, como solução de mobilidade no futuro para regiões congestionadas. A ideia é que os testes iniciais sejam realizados a partir de 2020 e o serviço esteja disponível para usuários em 2023. “Essa parceria com a Uber reúne duas tecnologias importantes que devem estar nas inovações pela qual o


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mercado aéreo vai ter no futuro, que são os voos autônomos e propulsão elétrica”, informou a empresa. Segundo a Embraer, o projeto traz uma perspectiva interessante para a questão da mobilidade dos grandes centros. “A gente olhou pra isso como uma oportunidade que pode ser muito boa, do ponto de vista de negócios, lá para o futuro, e também como uma oportunidade de desenvolvimento de tecnologia que está muito alinhada com o que a gente vai precisar de qualquer forma. Ainda está no estágio inicial e temos ainda vários passos pela frente”, finaliza.

27ANOS

Há 27 anos prestando Serviços de Qualidade com Resultados de Confiança Desde agosto de 1990, a De Biasi presta serviços de excelência nas áreas de auditoria, consultoria e Outsourcing, propondo soluções inovadoras e respostas ágeis, construindo relações de parceria, agregando valor à gestão das empresas. A De Biasi foi uma das primeiras empresas de auditoria do Brasil a receber a certificação ISO 9001:2015, outorgada pela BSI e, desde 1999, é listada na Comissão de Valores Mobiliários. A equipe da De Biasi é composta por profissionais multidisciplinares, com vasta experiência acumulada na prestação de serviços para centenas de empresas nacionais e multinacionais de diversos seguimentos.

“O que a gente vê para o futuro é uma demanda crescente de voos executivos. Ou seja, não necessariamente as empresas comprarão aviões, mas usarão serviços de companhias operadoras.” Mauro Kern,

VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DE OPERAÇÕES DA EMBRAER

Para tanto, a De Biasi tem como prioridades o investimento permanente na atualização e aperfeiçoamento de seus profissionais, tendo como pilares a ética o respeito e a satisfação de seus clientes. Com uma estrutura tecnológica de servidores compartilhados baseada no conceito de “Cloud Computing”, a De Biasi possui uma atuação nacional ágil, eficaz e segura. DE BIASI INOVANDO SEMPRE PARA MELHOR ATENDER São José dos Campos - SP Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 255 - Ed. Le Classique, 14° andar - Jardim Aquarius Tel: +55 (12) 2138.6000

Taubaté - SP Rua Irmã Maria Rita de Moura, 50 - Vila Jaboticabeira - Tel: +55 (12) 3411.6255 São Paulo - SP Av. Paulista 1.636 – 7º andar - Conj. 706 – Bela Vista - Tel: +55 (11) 3197.4565

debiasi.com.br


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O sonho que gerou bilhões

“É muito bom saber que milhares de novos empregos tenham sido gerados e que os resultados daquela aventura, que começamos lá atrás, tenham contribuído para colocar o Brasil entre os grandes fabricantes mundiais de aviões” Ozires Silva,

UM DOS FUNDADORES DA EMBRAER

Dos pensamentos de Ozires Silva, hoje com 81 anos, surgiu uma das maiores empresas do mundo. Ele é um dos fundadores da Embraer e explica como surgiu a ideia que hoje é um dos grandes símbolos da cidade e de toda a RMVale. “Muitos brasileiros tentaram fabricar aviões, desde o voo de Santos Dumont, em Paris, em 1906. No entanto, apesar de inúmeras tentativas, até 1950, não se tinha grandes sucessos. Mas uma sequência de coincidências ajudou. ”, disse à Metrópole Magazine. Segundo ele, uma dessas “coincidências” foi a criação do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos. “A chegada do Instituto fez uma enorme diferença. A cidade passou a formar engenheiros aeronáuticos e proporcionou ao Brasil o privilégio de ter especialistas formados aqui. Os primeiros engenheiros formados pelo ITA já começaram a criar muitas empresas e produzir aviões. Mas, parecia que faltava algo”, disse. “A grande diferença da Embraer foi inventar o Transporte Aéreo Regional enquanto os

grandes fabricantes mundiais somente pensavam nos grandes aviões para operar em grandes aeroportos”, disse. Assim, surgiu o Bandeirante, um avião de transporte concebido para ser menor e atender as cidades menores, abrangendo uma necessidade do mercado naquele momento e entrando no setor internacional. “Isso nos animou e trabalhamos muito para tornar real tudo o que tínhamos na cabeça. Demorou um bocado, mas deu certo, embora jamais tivéssemos pensado que se poderia chegar à Embraer de hoje, com seus aviões, atendendo diferentes compradores e voando em dezenas de países do mundo”, disse. Ele conta que fica feliz em ter acompanhado o crescimento da empresa e poder ver a potência na qual se tornou. “É muito bom saber que milhares de novos empregos tenham sido gerados e que os resultados daquela aventura, que começamos lá atrás, tenham contribuído para colocar o Brasil entre os grandes fabricantes mundiais de aviões. Nossos sonhos da juventude valeram a pena”, disse.


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Embraer jรก produziu mais de 8 mil aeronaves e tem mais de 100 clientes espalhados pelo mundo


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Cultura empresarial A cultura empresarial da Embraer passa por três pilares: superação, criatividade e determinação. De acordo com Kern, a superação veio dos inúmeros desafios enfrentados ao longo dos anos. “Desde sua fundação a Embraer luta para sobreviver em um cenário extremamente competitivo, com empresas muito fortes, mais tradicionais e instaladas em países desenvolvidos. E, para sobreviver nesse ambiente, a empresa teve de se reinventar várias vezes. Este é um sentimento que foi compartilhado com todos os nossos funcionários, que sempre se envolveram e se engajaram em cada conquista da empresa”, disse Kern. O segundo aspecto é a necessidade constante de criatividade e inovação. “Estar sempre desenvolvendo soluções inovadoras, tanto de produtos quanto de processos para atender a esse mercado competitivo, sempre foi uma meta que perseguimos”, disse. E, por último, o fator que, segundo ele, já existe desde antes da

privatização: a determinação de cuidar bem dos clientes. “A preocupação com a excelência dos nossos serviços é, foi e vai ser uma das marcas da Embraer, sempre”, disse.

Outro lado

“Desde sua fundação a Embraer luta para sobreviver em um cenário extremamente competitivo, com empresas muito fortes, mais tradicionais e instaladas em países desenvolvidos” Mauro Kern,

VICE PRESIDENTE DE OPERAÇÕES DA EMBRAER

Ilusão. É desta forma que o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Herbert Claros, classifica a contribuição da Embraer com a cidade. “Além de a empresa fazer demissões constantes e abrir PDVs (Programas de Demissões Voluntárias), a Embraer já não contribui com o desenvolvimento da cidade. Afinal o que ela tem feito é uma desnacionalização da produção”, disse. Segundo ele, a produção de aviação executiva da empresa e de aeronaves que foram criadas e projetadas aqui, com dinheiro do BNDES, está indo para a unidade da empresa em Melbourne, nos Estados Unidos. “Qual país a empresa está ajudando com isso? Não é o Brasil”, disse. Para ele, a empresa não contribui


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A nova linha E2 composto por três aeronaves, é uma evolução da atual família Embraer 170/190 que já domina o mercado de aviação regional global


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mais em desenvolvimento tecnológico e econômico com a cidade como contribuía no passado. “Hoje, várias peças usadas em sua cadeia produtiva são fabricadas fora do País”, disse. Outra forma de valorizar mais a cidade, de acordo com o Sindicato, seria com relação aos salários dos trabalhadores. “Não temos aumento real de salário desde 2014. De lá pra cá, todos os dissídios coletivos tiveram de ser decididos na Justiça. Outro fator que gera insatisfação é o valor da PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que é uma das menores. Fabricamos aviões, mas nossa última PLR foi de R$ 1,6 mil enquanto da General Motors foi de quase R$ 14 mil. O valor recebido pelos trabalhadores da Embraer é equiparado ao valor pago por empresas muito menores, como a Bundy ou a Hitachi, por exemplo”, disse. A Embraer afirma que não há qualquer processo de desnacionalização do setor aeronáutico em curso. “A realidade do setor aeronáutico, em âmbito

Sindicato considera como ilusória a contribuição da empresa com São José dos Campos

“Os trabalhadores não têm aumento real de salário desde 2014. De lá pra cá, todos os dissídios coletivos tiveram de ser decididos na Justiça” Herbert Claros,

VICE PRESIDENTE DO SINDICATO

mundial, exige produtos no estado da arte da tecnologia para que as empresas possam se manter competitivas e gerando empregos. Poucos fornecedores em todo o mundo estão aptos a prover muitos dos componentes e peças com as especificações necessárias para tais produtos, o que faz com que as cadeias sejam globalizadas”, afirma a empresa. De acordo com a empresa, a instalação de unidades industriais fora do Brasil, como a linha de montagem final de parte dos jatos executivos nos Estados Unidos, obedece a aspectos estratégicos. “O mercado norte-americano respondeu por mais de 70% das vendas de jatos executivos da Embraer no ano passado, e isso só é possível estando próximo do mercado consumidor, onde os concorrentes da empresa também estão instalados. Além disso, para cada emprego na montagem final, outros cinco são mantidos em outras etapas da produção”, finaliza a Embraer, por meio de nota. 



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NOTÍCIAS EDUCAÇÃO

Foto: Freepik

De Ubatuba para o espaço Escola pública ganha repercussão mundial após lançamento de satélite feito pelos estudantes João Pedro Teles UBATUBA

N

o vocabulário popular, dizer que um projeto foi para o espaço é o mesmo de decretar o insucesso da empreitada. A expressão é prima de outras como ‘a vaca foi para o brejo’ ou ‘o gato subiu no telhado’. Todas, sinal de que não vem coisa boa por aí. Mas isso até os alunos da Escola Municipal Presidente Tancredo de Almeida Neves, em Ubatuba, inverterem por completo a lógica da expressão com o projeto Ubatubasat. No caso dos estudantes do ensino fundamental da cidade do Litoral Norte, o projeto foi literalmente para o espaço: um satélite totalmente feito

por eles entrou em órbita. A história, que parece enredo de cinema, partiu de um sonho nada modesto do professor de matemática, Cândido Osvaldo de Moura. Após ler uma reportagem sobre uma empresa que produz uma espécie de kit para montar um satélite de pequena proporção, o professor pensou em iniciar um projeto para tornar as aulas mais atrativas aos alunos. A ideia começou a sair do papel em 2010, quando Cândido acionou contatos na área da física e conseguiu incentivos para comprar o material da empresa norte-americana. A partir daí, as aulas de física do colégio nunca mais foram as mesmas. Os alunos montaram um time empenhado em entender o funcionamento do pequeno satélite e se entregar aos desafios da montagem.

Aos poucos, o projeto foi ganhando corpo. Logo, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) se interessou pela empreitada e passou a oferecer uma consultoria ao professor e aos jovens estudantes. Desde o início, o projeto foi acompanhado de perto pelos pesquisadores do instituto. “Eles se empolgaram bastante com a ideia e, a partir daí, a gente começou a contar com a consultoria de especialistas da área, o que nos ajudou bastante a tornar o sonho realidade. Com a parceria do INPE, conseguimos, inclusive, encontrar imperfeições no projeto norte-americano e superar vários desafios que surgiram durante a caminhada”, afirma o professor.


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Mobilização

A história mobilizou toda a escola, que, direta ou indiretamente, participava do projeto. A história incentivou os alunos em diferentes níveis e culminou numa participação em grupos de estudo de matemática e física, que passaram se proliferar pelo colégio. Por isso, o professor não consegue precisar ao certo o número de participantes. De acordo com ele, todas essas ações criadas em torno do projeto principal fazem parte do programa. “Não sei precisar quantas pessoas participaram porque tudo o que tem acontecido na escola nestes sete anos fazem parte do programa Ubatubasat. Há um envolvimento dos estudantes que não existiria caso não fosse o projeto. Talvez essa seja uma das principais conquistas dessa empreitada”, explica o professor.

Além da mobilização da escola, a história também chamou a atenção da mídia nacional e internacional. Durante estes sete anos, o professor perdeu as contas de quantas entrevistas já concedeu aos veículos de comunicação de todos os lugares do mundo. “Saímos até na Al Jazeera, do Oriente Médio. Os alunos se transformaram em celebridades e a gente conseguiu divulgação em todos os cantos do mundo. Isso foi importante tanto para a autoestima dos alunos quanto para que o nosso projeto pudesse ganhar mais projeção e ainda mais incentivo”, afirma.

Da sala para as telas

Não demorou muito e o projeto inclusive virou filme. O documentário


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‘Ubatubasat – Uma Jornada de Conhecimento’ fez parte da seleção oficial do Festival de Cinema Infantil de Chicago.

O documentário conta toda a trajetória dos alunos, com depoimentos de diretores do INPE, do ministro da Educação à época, Aloísio Mercadante, além do depoimento de professores e estudantes envolvidos com a empreitada. Os alunos que participaram do projeto tiveram a oportunidade de ir ao

Japão e aos Estados Unidos, onde defenderam o Ubatubasat em congressos internacionais e, inclusive, conheceram a NASA. “No 8º ano, a primeira turma do projeto escreveu um artigo e o submeteu ao congresso aeroespacial do Japão. Trata-se do principal evento do gênero no país. Com o documento aceito, 12 alunos embarcaram pra lá. A viagem foi patrocinada pela UNESCO”, explica o professor. Uma dessas alunas que foram até o Japão junto com o grupo, Nathalia

Ubatubasat é o primeiro satélite totalmente desenvolvido no Brasil a funcionar em órbita

Foto: Explore Mídia


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38 | Revista Metrópole – Edição 30 Foto: Explore Mídia

Alunos que participaram do projeto tiveram a oportunidade de ir ao Japão

Martins da Costa tinha apenas 11 anos na época. Hoje, a jovem, já com 17, escolheu o curso de Engenharia Eletrônica e está interessada em fazer universidade. De acordo com ela, ir ao outro lado do mundo para defender o projeto foi uma experiência inesquecível e enriquecedora. “A viagem mudou minha vida porque me ajudou a escolher a área na qual quero seguir carreira. Fui me interessando pela eletrônica e vou fazer uma faculdade voltada para essa área”, afirma a ex-aluna.

Lançamento Após praticamente sete anos de pesquisas com os alunos, em dezembro de 2016 o Ubatubasat finalmente foi ao espaço. O lançamento aconteceu no

dia 9 de dezembro, no Centro Espacial Tanegashima, no Japão. A ação foi bem sucedida e, após ir para a Estação Espacial Internacional, o Ubatubasat foi finalmente colocado em órbita. A empreitada contou com uma parceria entre o INPE e a AEB (Agência Espacial Brasileira), que, inclusive, arcou com os custos dos testes, do voo do satélite à estação espacial e ainda incluiu os alunos em um programa chamado Satélites Universitários, que fomenta o desenvolvimento de satélites nas universidades nacionais. O lançamento foi acompanhado do INPE pelos alunos do projeto. A transmissão aconteceu pela web e, atualmente, os estudantes acompanham os dados que o satélite envia para os centros de transmissão.

O Ubatubasat é o primeiro satélite totalmente desenvolvido no Brasil a funcionar em órbita. De acordo com o professor Cândido, ele registra a distância de sondas espaciais, detectando formação de bolhas no espaço e também transmite mensagens gravadas pelos estudantes.

Volume dois Após sete anos de trabalho, de virar filme, ganhar repercussão internacional e enviar o projeto para o espaço, o professor Cândido quer novos desafios e sonha com o Ubatubasat 2. “Será um projeto ainda maior do que o primeiro, envolvendo mais pessoas e um satélite com mais funcionalidades”, explica. É bom não duvidar. 



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NOTÍCIAS SAÚDE

Fotos: David Sá

Eduarda Germano foi uma das mães clicadas pela lente do fotógrafo David Sá

Os frutos da amamentação

Pediatra explica os benefícios e o processo durante os primeiros meses do bebê. Fotógrafo faz ensaio para incentivar o ato em público Gabi Riemma RMVALE

O

nascimento de uma criança é sempre um momento especial na vida das famílias. Além da alegria com a chegada do bebê, vem junto o desejo de que o filho cresça feliz e saudável. Para o bom

desenvolvimento da criança, existe a necessidade de muitos cuidados, principalmente nos primeiros meses de vida. É exatamente neste período em que os bebês são totalmente dependentes dos pais, que o papel da mãe se torna fundamental na hora de alimentar e nutrir o filho com leite materno. “Está comprovado que os bebês que se alimentam

exclusivamente de leite materno nos primeiros seis meses de vida vivem mais e melhor”, diz a médica pediatra Monica Cotta, de São José dos Campos. Segundo a médica, o leite materno é o único alimento que o recém-nascido está apto a receber, pois, mesmo depois do nascimento, os órgãos internos ainda estão em desenvolvimento.


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“O mais importante é a função de defesa que o leite materno tem para o bebê. Os que mamam no peito ficam menos doentes e a chance de ter diarreia, dores de ouvido, pneumonia e infecções nas vias aéreas diminuem consideravelmente”, explica Monica. De acordo com a pediatra, nada substitui o leite materno. “Existem muitas marcas de leite em pó que são caras e prometem fórmulas fantásticas, mas não passam de uma tentativa de transformar o leite de vaca com inclusão de nutrientes para imitar o leite materno. Muitas mães chegam ao consultório e alegam que seu leite é fraco, mas não existe isso, todo leite que sai do peito da mãe é ideal para o filho, a natureza é perfeita”, explica. A médica cita que à medida que a mãe vai amamentando, há uma modificação na aparência do leite que sai da mama.

“Logo nos primeiros dias, após o nascimento, o fluído é mais amarelado e concentrado, pois é o período que o bebê mais precisa de anticorpos para sobreviver fora do útero. Depois de uns dias, a produção de leite aumenta e o líquido fica com outra aparência, mais branco e mais fluído” diz.

Fases A orientação dos especialistas é que logo nos primeiros meses de vida, os bebês tenham uma amamentação chamada de livre demanda, ou seja, mamem quanto e quando sentirem necessidade. Depois dos dois ou três meses de vida, os bebês já começam a ter um ciclo de horários, e as mamadas passam a ter um intervalo de duas a três horas. Só quando as crianças completam seis C

M

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Kátia Oliveira


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meses é que a alimentação deixa de ser exclusiva com leite materno e passa a ser complementada com papinha e frutas. A médica ressalta que até os seis meses, nem ingestão de água os bebês necessitam. “O leite materno é completo, previne a desidratação, que em recémnascidos pode levar ao óbito. Com um ano, a criança já pode comer a comida usual da família e a mãe pode continuar amamentando, se necessário, até os dois anos”, diz Mônica. Monica explica que é normal as mães sentirem dificuldade em amamentar no

primeiro contato com os filhos. “O bebê não mama direito se ele não tiver o que chamamos de ‘pega’. A boca da criança não pode ficar apenas no bico do seio, ela tem que envolver toda a auréola para facilitar a sucção”, afirma. A médica orienta que as mães procurem ajuda profissional se tiverem dúvidas sobre amamentação. “É importante aprender a melhor maneira de segurar o filho na hora de amamentar”. Em São José dos Campos, as mulheres podem buscar ajuda gratuita no Projeto Casulo. O local dá assistência à gestante desde o pré-natal e possui

“Muitas mães chegam ao consultório e alegam que seu leite é fraco, mas não existe isso, todo leite que sai do peito da mãe é ideal para o filho. A natureza é perfeita” Mônica Cotta, PEDIATRA

Tatiane Silva, 21 anos

programas de incentivo ao aleitamento materno, com diversas orientações para as mães no centro de lactação. Também são atendidos os recém-nascidos que tiveram o teste do pezinho alterado. O objetivo é reduzir a mortalidade materno-infantil.

Banco de Leite Em São José, outra possibilidade para as mães que querem aprender a amamentar corretamente os filhos é procurar o Banco de Leite, onde são orientadas sobre a amamentação.

As mães que possuem fissuras, mastite, mamas ingurgitadas ou leite empedrado também encontram soluções para esses problemas que dificultam o processo de amamentação. Além do atendimento, o banco de leite recebe doações de leite materno para recém-nascidos prematuros internados em hospitais com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal. Os estoques fornecem leite para seis hospitais da região, incluindo um de Caçapava e outro de Jacareí. Segundo a responsável técnica do Banco de Leite de São José dos Campos, Luciana Cunha, o estoque de leite doado supre, em média, 38 pacientes por mês. Recebem o leite doado todos os bebês recém-nascidos que estão internados e não têm condições de mamar em suas mães. Luciana explica que graças à campanha feita na televisão, no início do ano, os estoques de leite chegaram a 80 litros no começo de agosto. Essa quantia, segundo ela, é o suficiente para atender à demanda da cidade. O mesmo não acontece no banco de leite de Taubaté. Segundo Fernanda Moassab Fernandes, enfermeira responsável, o leite armazenado está muito abaixo da demanda, suprindo apenas 20% das crianças internadas na cidade. O estoque no começo de agosto contava com apenas 10 litros de leite. Fernanda explica que o banco de leite de Taubaté é o único do Brasil que não está ligado a uma instituição hospitalar e sobrevive com recursos da ONG (Organização Não-Governamental) serviço de Proteção à Criança.

Gesto de amor A empresária de Taubaté, Sandra Boffi, 39 anos, teve sua primeira filha, Adele, há um ano. Desde então, ela doa cerca de um litro de leite por semana ao banco da cidade. “No começo não foi fácil fazer a minha filha mamar. Ela demorou uma semana para aprender e tive que dar leite



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em pó, mas com muita persistência, consegui amamentar”, conta Sandra. Ao perceber a importância do leite materno para o desenvolvimento de sua filha, Sandra faz questão de fazer as doações de leite aos bebês que mais precisam. “É um sonho realizado. Uma alegria. Doar leite é doar vida, um ato de amor. Eu faço com muito carinho”, conta. Sandra amamenta a filha três vezes ao dia e complementa a alimentação com papinha. “Na hora do almoço minha filha não mama e eu aproveito para extrair o leite para doação. Leva 15 minutos. É fácil e muito rápido”, conta.

Como doar Para doar leite ao banco é necessário que a mãe esteja em período de amamentação e com sobra de leite. As

Banco de Leite de Taubaté está com estoque baixo e supre apenas 20% das crianças internadas na cidade

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doadoras não podem estar na fase de desmama do filho, pois a doação estimula a produção de leite. As mães também não podem ser fumantes, usuárias de drogas ou ingerir bebidas alcóolicas. O uso de alguns medicamentos também possuem restrições para doações.

“Doar leite é doar vida, um ato de amor. Eu faço com muito carinho” Sandra Bofi, EMPRESÁRIA E MÃE DA ADELE, DE 1 ANO.

Há um cadastro prévio e as mães precisam fazer alguns exames de sangue para atestar que estão saudáveis, como exames de VDRL, HIV e Hepatite B negativos. Após a triagem, elas são orientadas de como devem higienizar a mama antes da extração do leite e os cuidados com o armazenamento. Uma vez por semana o banco de leite envia um motorista para retirar os frascos, que ficam armazenados no congelador. A cada entrega, frascos vazios são enviados para extração do leite. Depois de passar pelo processo de pasteurização no banco de leite, o leite congelado tem duração de seis meses.

Agosto Dourado Para reforçar a importância da amamentação, o Congresso Nacional sancionou uma lei, no início de 2017, que instituiu agosto como o mês do aleitamento materno no Brasil, conhecido como Agosto Dourado.

ISO 9001: 2008


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“Dourado porque o leite materno é a alimentação padrão ouro. É o que a mãe pode oferecer de melhor para nutrir o bebê”, diz Monica. Os benefícios não são apenas para a criança. “A mãe que amamenta diminuí os riscos de ter câncer de mama e ovário”, afirma a médica.

Ensaio O fotógrafo joseense David Sá desenvolveu junto com um grupo de amigos um ensaio fotográfico intitulado de “Amamentar é Amar”. Segundo ele, o objetivo é incentivar a amamentação quando as mães estão em público. “O projeto nasceu em 2016, quando surgiu a polêmica baseada em uma lei que iria proibir as mães de amamentarem em púbico. Decidimos usar a fotografia para incentivar a prática onde elas bem entenderem, pois a amamentação é um momento único entre mãe e filho. É uma dádiva”, conta Sá. As fotos foram tiradas no Parque da Cidade com participação voluntária de 88 mães. O projeto já passou também por Ilhabela, Jacareí, Caraguatatuba e

“Decidimos usar a fotografia para incentivar a prática onde elas bem entenderem, pois a amamentação é um momento único entre mãe e filho. É uma dádiva”

me retirar de uma loja do shopping por estar amamentando enquanto esperava meu marido experimentar roupas”, conta. Ela explica que, na ocasião, a filha tinha apenas dois meses e começou a chorar de fome. “Não pensei duas vezes. Sabia que era fome e resolvi amamentar ali mesmo. As pessoas me olharam como se fosse um gesto vulgar. Me senti muito mal”, diz. 

David Sá, FOTÓGRAFO QUE FEZ ENSAIO INCENTIVANDO A AMAMENTAÇÃO EM PÚBLICO

Ubatuba. Tatiane Justen Silva, de 21 anos, foi fotografada amamentando a filha Alice, de sete meses. Ela conheceu o trabalho de David Sá por meio das redes sociais e resolveu se inscrever para participar. “Uma vez fui convidada a

“Sabia que era fome e resolvi amamentar ali mesmo. As pessoas me olharam como se fosse um gesto vulgar. Me senti muito mal” Tatiane Silva, SOBRE ALIMENTAR A

FILHA DE DOIS MESES DENTRO DE UMA LOJA DE SHOPPING

Banco de Leite de São José dos Campos Segunda à sexta-feira - 8h às 17h Hospital Municipal - R. Saigiro Nakmura, 800, Vila Industrial (12) 3901-3507 Banco de Leite de Taubaté Segunda a sexta-feira 7h30 às 11h30 - 13h às 17h R. José Vicente de Barros, 35, Jd. Santa Clara (12) 3624-681 Projeto Casulo R. Antônio Moraes Barros, 110, São José dos Campos Atendimento: 8h às 17h (12) 3913-6040



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NOTÍCIAS CULTURA

Fotos: Danilo Ferrara

Muito além dos livros

Flim celebra as multilinguagens da literatura em sua 4ª edição João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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ara o escritor pernambucano Marcelino Freire, vencedor do prêmio Jabuti em 2006, ‘trans’ é a palavra do século. Transdisciplinaridade, transparência, transexualidade, transformação e, sua preferida, translinguagem. O prefixo, que indica ir por meio de algo, exprime o tom que o autor quer dar à quarta edição da Flim (Festa Literomusical do Vicentina Aranha), que acontece nos dias 15, 16 e 17 de setembro sob a batuta do escritor. Curador deste ano, Freire já conhece o parque da região central de São José, onde ministrou oficina literária no ano passado. Após a primeira passagem, o encantamento foi mútuo. O autor se apaixonou pelo “acolhimento natural” do local, enquanto a direção da AFAC (Associação para o Fomento da Arte e da

Cultura), entidade que administra o local, por sua vez, ficou maravilhado com a gentileza, inteligência e devoção às diferentes facetas da literatura que Freire apresenta. De acordo com o escritor, a proposta é investir no diálogo entre diferentes manifestações artísticas. As mesas de discussão trarão intercâmbios de linguagens: poesia, prosa, teatro, artes plásticas. O curador garante que, além de contemplar um pouco de tudo, a programação colocará todas essas linguagens para “conversarem entre si”. “Agrada muito essa ideia da transleitura do mundo. A festa literária tem muito a ganhar quando a literatura se irmana com as outras artes. Estou interessado em reforçar esses intercâmbios e essas interligações. Costumo dizer que este é um momento histórico em que precisamos estar todos juntos e misturados”, comenta.

Entre as atrações de destaque desta edição, a Flim traz nomes como o escritor Ignácio de Loyola Brandão, a autora Ana Maria Gonçalves, o músico e poeta Antônio Nóbrega e a banda As Bahias e a Cozinha Mineira. Todos os convidados, de acordo com Freire, levarão um de seus livros de cabeceira para dividir com o público a leitura. “O escritor é, primeiro, um leitor. Do mundo, da política, da sociedade que o cerca. Essa é um esforço para transpassar a ideia de leitor, escritor, público, plateia. Tudo vai convergir. Sem frescura e sem preconceito”, explica Freire. Todas as atividades da Flim serão conduzidas pela jornalista Adriana Couto, apresentadora do programa Metrópolis, da TV Cultura. As múltiplas referências da jornalista, que além da Cultura também já trabalhou na TV Sesc e no Canal Futura, foram determinantes para a escolha.


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Proposta da Flim 2017 é criar mesas de discussão e promover intercâmbios de linguagens, com poesia, prosa, teatro e artes plásticas Sem pedestal Qual o motivo de uma festa literária? Se depender de Marcelino Freire, serve para uma porção de coisas. ‘Endeusar’ obras literárias não é uma delas. O autor é um conhecido adepto da popularização dos livros e da valorização de todos os caminhos da literatura. Freire já chegou a assinar, inclusive, um texto onde afirma que “escrever bonito é uma m..”. “A literatura não é solene, não é fachada. Está na rua, está na estrada, está no metrô, no verbo gasto. Na Flim vamos celebrar, sim, as diversas leituras do mundo. Vamos colocar a literatura fora das estantes, fora da academia. Ler nos ajuda a quebrar a mediocridade reinante, é uma brisa que aproxima pessoas e não as distancia entre aqueles que sabem e os que não sabem ‘degustar’ um bom texto”, diz. Essa é a primeira vez que Freire é curador do evento. Em 2016, como convidado, o autor foi uma das mais celebradas participações da festa. A comoção do público fez com que a diretora da Afac, Angela Tornelli, o convidasse para ministrar uma oficina literária e, depois disso, para comandar a programação desta edição. De acordo com a diretora, a ideia de rompimento com o modelo tradicional de leitura – que “afasta as pessoas

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dos livros” – foi o principal atributo para trazer o escritor à festa deste ano, desta vez como curador. “A Flim já tem esta identidade de abrir os horizontes da literatura e o Marcelino veio justamente para ampliar ainda mais essa ideia. Era um namoro que, este ano, vai virar um casamento”, afirma.

Fôlego Maior festa no calendário cultural do Parque Vicentina Aranha, a Flim mantém o fôlego nesta edição. Diferente de outros eventos, que sofreram recentemente com sucessivos cortes de verbas, a Flim ainda consegue se manter com verba proveniente de programas de incentivos fiscais. Este ano a AFAC captou R$ 150 mil pelo Proac (Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo). O valor

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é R$ 50 mil menor do que o captado em 2016. Mesmo assim, a entidade garante o complemento da verba com patrocínios individuais. “A cultura é sempre a área que mais sofre quando há esses cortes de verba. Para manter a força deste evento nós trabalhamos durante o ano todo. Firmamos parcerias com instituições culturais, Prefeitura e a iniciativa privada. Aqui, por exemplo, já se fala em Flim 2018, procurando formas de manter a continuidade”, comenta. A Associação promete uma festa com programação diversificada e gratuita, com musicais, teatro, caminhadas poéticas e contação de história. De acordo com a assessoria de Imprensa do evento, serão mais de 50 atividades durante os três dias de evento.

Homenagem O escritor Ariano Suassuna, que morreu em 2014, receberá uma homenagem durante o evento por meio de seu parceiro de composições e de poesia, Antônio Nóbrega. O cantor apresenta um recital para o autor, onde proclama textos do amigo, canta composições feitas em parceria e conta ‘causos’ do paraibano que, entre outras obras, escreveu ‘O Auto da Compadecida’. “Ariano reunia qualidades distintas. Ao mesmo tempo em que era uma pessoa brincalhona, o que lhe rendeu o apelido de cavaleiro da alegria, ele também trazia esse lado intelectual, de postura muito séria e reflexões profundas. Para ele, os dilemas regionais sempre foram refratários dos problemas mundiais e isso estava presente em sua obra”, lembra Antônio Nóbrega. “Encontros literários se apresentam como locais onde renovamos a sociabilidade construtiva e para que a gente avance em direção a uma consciência melhor sobre o mundo”, completa. 


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NOTÍCIAS ESPORTES

Fotos: Pedro Ivo Prates

O calvário da 4ª divisão Na ‘Bezinha’, São José e Manthiqueira sonham com dias melhores; outros clubes da região buscam apoio para recomeçar Felipe Kyoshy SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

C

ifras milionárias em transações de atletas de futebol. Salários altíssimos e contratos de publicidade que engordam cada vez mais o bolso de jogadores. Neymar protagonizou a venda mais cara do futebol ao se transferir do Barcelona para o PSG por mais de R$ 800 milhões. Meses atrás, o flamenguista Vinicius Júnior foi negociado com o Real Madrid, aos

16 anos, por R$ 164 milhões. A discussão é grande sobre o mérito e o quanto representa e vale um atleta deste nível, mas o fato é que o futebol não vive só deste glamour estampado nas notícias. Este status grandioso é para poucos. A realidade é dura para quem está longe dos holofotes e perto de todas as dificuldades. Na Segunda Divisão do Campeonato Paulista, a popular “Bezinha”, equivalente à quarta divisão estadual, está o time do São José Esporte Clube e o

Manthiqueira. Dois clubes da RMVale, que, apesar de estarem na mesma competição, ainda assim vivem realidades um pouco distintas. A Águia do Vale é um dos clubes mais tradicionais do Interior. Chegou ao vice-campeonato Paulista em 1989. Porém, más administrações consecutivas levaram a equipe ao fundo do poço. Já a Laranja Mecânica, como é conhecido o time de Guaratinguetá, fundado em 2005, tenta o seu primeiro acesso. Os joseenses tentam o recomeço.


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São José amarga o fundo do poço e busca retornar à série A3 em 2018

O clube é comandado pelo advogado Adilson José da Silva. Na direção do futebol está Gilvan Souza. O cartola veio de Niterói, no Rio de Janeiro, para

Atletas do São José recebem salário de no máximo R$ 1 mil para tentar salvar a equipe da 4ª divisão

ajudar reerguer o time. Nos primeiros meses, encontrou resistência de empresários da cidade para conseguir apoio, mas com os resultados positivos do início da competição, viu que isso tinha mudado aos poucos. “Eu acostumo falar que São José é um time grande em uma divisão que não nos favorece. Estamos tentando tirá-lo desta situação. Não ganhamos nada ainda. Eu falo para todos que somos operários do futebol, pois não chegamos a lugar nenhum. Nossos jogadores são batalhadores, guerreiros e acredito que estamos no caminho certo”, disse. Uma pesquisa recente feita pela Confederação Brasileira de Futebol retrata bem a realidade do esporte nacional. Dos mais de 28 mil jogadores


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Estrutura de trabalho é longe da ideal para um clube que já disputou a elite do futebol nacional

profissionais registrados no País, 23.238 ganham até R$ 1 mil por mês – o que representa 82,40%. Os outros 3.859 (13,89%) ganham entre R$ 1 mil a R$ 5 mil. Somente 1.106 jogadores ganham entre R$ 5 mil e R$ 1 milhão. No São José, a realidade representa a porcentagem maior apontada pela pesquisa. De acordo com Gilvan, os vencimentos variam entre R$ 937 (salário mínimo) e R$ 1 mil. Para ele, é o valor que o clube consegue pagar e que é a média paga pelas equipes da quarta divisão paulista. “Essa divisão não favorece muito os salários. Tem gente que pensa que futebol é só chegar e dar a camisa e ir para o campo, mas tem toda uma logística por trás. Teve uma viagem para Itararé que custou R$ 6,5 mil, com hotel, alimentação”, disse. Rival joseense na divisão, o Manthiqueira busca focar seu trabalho na transparência. O clube tem uma cartilha que elenca como deve ser a conduta dos atletas. Medida enaltece, por

exemplo, a busca pelo jogo limpo e repudia trapaças. Fundado pelo filósofo Dado Oliveira, o investimento inicial foi de R$ 600 mil para a filiação do clube junto à Federação Paulista de Futebol (FPF), em 2011. Mas nem todo dinheiro

“Para você ter patrocínio, precisa subir de divisão. E para subir, precisa de patrocínio. É um ciclo. Só esperamos um milagre. E eu acredito que isso pode acontecer” Dado Oliveira INVESTIDOR DO MANTHIQUEIRA

aplicado foi transformado em retorno. Depois de algum tempo no futebol, as dívidas apareceram. “Estou devendo para um monte de lugar. Tive que vender a parte de um terreno do Centro de Treinamento. Eu faço porque eu gosto muito. É um projeto diferente e resolvi investir em um jogo limpo. Mas para você ter patrocínio, precisa subir de divisão. E para subir, precisa de patrocínio. É um ciclo. Só esperamos um milagre. E eu acredito que isso pode acontecer”, disse. Outro problema que os dois clubes enfrentam, assim como tantos outros, é o calendário. Na Segunda Divisão Paulista, em 2017, por exemplo, as equipes iniciam a competição com apenas três meses de partidas garantidas, que é o período da fase inicial do torneio. Na melhor das hipóteses, vão ter, no máximo, seis meses de campeonato. “A gente queria colocar o sócio-torcedor, mas se não passarmos da primeira fase, só vamos jogar por três meses. Por isso, não tem como fazermos. É


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muito pouco. O Sindicato dos Atletas até chegou a propor um campeonato nacional com mais de 200 times. Seria ótimo para gente”, afirma Oliveira.

Sonho de dias melhores O atacante Ruero, um dos artilheiros do São José na Segundona, foi descoberto no futebol amador da cidade, onde era um dos destaques, chegando a marcar 35 gols em uma temporada. “Sonho em jogar num time grande. Todos têm o mesmo objetivo. Acho que o segredo é fazer um bom campeonato para que as oportunidades apareçam. Para mim o futuro está nos gols. Quanto mais eu marcar, melhor vai ser. Essa é meta”, disse. Para o presidente do Manthiqueira, o sonho é ver seu time jogando ao lado dos grandes. Até o nome do clube foi pensado para isso. Segundo ele, a referência com a Serra da Mantiqueira pode ajudar e fazer com que outras cidades se identifiquem com a equipe.


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“Nossa ambição é chegar à elite do Campeonato Paulista. Se a vida for justa, vamos conseguir isso. Nós erramos, fizemos bobagens tentando acertar, mas o nosso projeto só visa o bem. Queremos fazer as coisas bem-feitas e com honestidade”, afirma.

José Francisco Oliveira, técnico do São José, afirma que os jogadores que estão ali devem honrar a chance. “Mesmo diante das dificuldades da quarta divisão, muitos queriam ser profissionais”. Ele relembrou as peneiras feitas pela

Águia no início do ano, onde atraiu mais de 350 candidatos. “Acho que primeiro vem o prazer do jogador. São poucas pessoas que têm esta oportunidade. Eu vendo a ideia de que eles são privilegiados e creio que isso é a maior das motivações. Sabemos das

Esportiva de Guaratinguetá tem planos para retornar ao futebol profissional em 2018. Presidente diz que precisa de R$ 230 mil por mês grandes dificuldades que passamos fora de campo, mas temos que encarar”, afirma.

Times querem voltar

Jovens têm no futebol a esperança de dias melhores para a família

Se as duas equipes não subirem para Série A3, podem ter a companhia de outros times: o São José dos Campos FC, que foi rebaixado neste ano ao ficar na 16ª posição na série A3, além do Jacareí, Esportiva de Guaratinguetá e XV de Caraguatatuba.


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Todas as equipes têm planos de voltar à ativa, mas esbarram na falta de dinheiro. A Esportiva, conhecida como Lobo do Vale, foi fundada há 101 anos. Chegou a levantar o caneco da extinta Divisão Especial de 1960 e disputou a primeira divisão nos 4 anos seguintes. Rebaixada em 1964, foi extinta em 1988. O vermelho e branco deve retornar em 2018. Segundo o presidente Francisco Gonçalves, o planejamento já está feito. Segundo ele, o clube precisa de R$ 230 mil mensais para o campeonato. “Nós temos um plano, com uma comissão técnica definida, com experiência. Teremos todas as categorias, desde o infantil até o sub-20. Está nos nossos planos fazer uma peneira e uma pré-temporada. Estamos com alguns atletas selecionados e também

daremos espaço aos atletas da cidade”, comenta. O Jacareí também sonha com o retorno. Não disputa competições oficiais desde 2014, mas não joga na cidade desde 2013. Neste período, o estádio Stravos Papadopoulos foi interditado e os jogos foram em Taubaté. Segundo o presidente Flávio Carloto, este problema está sendo resolvido e promete profissionalismo em sua gestão. “Acreditamos que vamos conseguir fazer o sócio-torcedor para que a cidade se mobilize. Não preciso só de dinheiro. Preciso de apoio. Se o apoio vem, o dinheiro chega. Queremos arrumar o que está errado. Ninguém no Jacareí quer dinheiro. Quando você quer, você faz”, diz. A diretoria do Jacareí calcula que


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“Temos por obrigação ser profissionais. Por que as empresas não investem? Por que não acreditam no projeto. E queremos mudar essa realidade” Flávio Carloto PRESIDENTE DO JACAREÍ

seriam necessários R$ 80 mil mensais para bancar o clube na Segundona. “Temos por obrigação ser profissionais. Por que as empresas não investem? Por que não acreditam no projeto. E queremos mudar essa realidade que temos atualmente. Hoje, tudo o que está sendo feito é arcado pela diretoria e por alguns parceiros”, comenta. Porém, sair do papel e cair na realidade têm sido uma árdua lição. “Se você quer fazer um planejamento, você consegue. Em 20 minutos você faz. Mas não vai conseguir colocar em prática por que não tem dinheiro. Não tem. Se fizer um projeto racional, ai você não joga. É deficitário demais”, afirma Dado Oliveira, que não revelou dados sobre gastos do Manthiqueira. 


 *Vale não cumulativo

*Vale não cumulativo

*Vale não cumulativo

*Vale não cumulativo

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A


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Arquitetura&

Fotos: Arquivo pessoal

Muito além de planta e terra Masao Aikawa, paisagista de São José dos Campos, cria ambientes personificados para cada tipo de cliente Marcus Alvarenga RMVALE

U

m novo conceito arquitetônico tem despertado o interesse de muitas famílias em valorizar espaços externos e internos das residências. Um dos responsáveis por transformar ambientes é o paisagista joseense Masao Aikawa. Entre os desafios de Aikawa esteve a criação de um projeto para uma residência já finalizada, adquirida por uma família, com duas crianças, vinda de São Paulo e tendo pela primeira vez o contato direto com uma moradia horizontal e uma paisagem serrana do bairro Urbanova, na região oeste de São José dos Campos. “Busco conhecer o sonho do cliente e a sua rotina para saber qual será o cuidado com o jardim. Outro ponto é a parte da arquitetura. Nesta casa optamos por valorizar este aspecto. O paisagismo é elaborado com o projeto arquitetônico, mas neste caso a residência estava pronta, então destacamos a altura do pé direito, com palmeiras e vegetação para envolver e emoldurar a arquitetura contemporânea e retilínea”, explica o paisagista, que trouxe a facilidade do cuidado para o cliente. “Aqui foi levado em consideração a manutenção do jardim, que é de baixao custo. Foram utilizadas apenas plantas perenes, que não morrem e não precisam ser trocadas, mas necessitam de ma nutenção.


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Uma das dificuldades encontrada pelo paisagista foi criar um projeto em uma casa pronta


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Todo o acabamento foi feito com casca de árvore, pois protege a parede de respingos da água da chuva e da rega”, destaca Aikawa. A criação seguiu uma relação de unidade entre a frente e os fundos da casa, utilizando da vegetação como objeto de continuidade. “Busquei trabalhar um jardim mais solto, sendo que a gente consegue notar a presença de palmeiras e bromélias, trazendo uma linha tropical, muito mais simples que o neoclássico e com a diferença de volumes e texturas”, descreve. A vegetação, que segue por todo o terreno, foi escolhida de acordo com a composição necessária para manter um estilo, mas também dividir os ambientes. “Toda a concepção do projeto foi diminuir a questão de alvenaria, trabalhando vegetação nas paredes. É interessante notar que aqui existem folhas verdes com um porte médio e do outro lado com porte grande, mas é o mesmo tipo de arquitetura de folha, para que, inconscientemente, toda a vegetação se integre, dando harmonia ao ambiente”, destaca Aikawa. Ao conhecer a família, Aikawa teve um pedido inicial, que era o sonho de infância da proprietária da residência: a presença de uma jabuticabeira no quintal. A árvore veio de uma fazenda de Atibaia e custou cerca de R$ 4 mil. “O legal neste projeto é que remete à infância da cliente. Como foi comprada de uma área de produção agrícola de frutíferas, em 15 dias tinha uma Jabuticabeira Sabará na residência”, diz.

Presença de uma Jabuticabeira no projeto de paisagismo foi um pedido da dona da residência


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Detalhes Ao lado da porta principal da residência, o projeto arquitetônico já disponha de um espaço para a implantação do jardim vertical. Mas o paisagista buscou sair do comum e trouxe variadas espécies que harmonizaram o ambiente de recepção da família. “Podemos dizer que o uso de jardim vertical é uma tendência no mercado, mas aqui foi feito um sistema de irrigação lateral e individual para cada nicho. O

projeto é feito com um material chamado greenwall ceramic, um tijolo que é próprio e depois você quebra uma folha de alvenaria e encaixa as plantas”, comenta. Outro detalhe no projeto foi a instalação de uma cama elástica e de balanços, idealizados para criar um ambiente livre para uso das crianças da família, além de outros locais de interação entre os moradores. “Esse jardim veio trazer à família um espaço lúdico. Fizemos um espaço zen com um pergolado e em outro lado construímos uma horta em pequenos vasos. As crianças até criaram uma sementeira, que depois serão transplantadas”, diz o paisagista.

A idealização Toda a concepção do projeto saiu do papel em menos de um mês, tornando o sonho uma realidade em tempo curto e sem intervir na rotina da família. Segundo Aikawa, foram dez dias da concepção até a aprovação e mais 12 até a implantação. O paisagista cita os detalhes do processo. “Primeiro ocorreu todo o nivelamento do terreno e depois a calagem, que é a correção da acidez do solo e o preparo das covas dos plantios das árvores e palmeiras. Depois os arbustos, as forrações e, por último, o gramado”. De acordo com Aikawa, todo o projeto teve um investimento de cerca de R$ 30 mil, mas o valor é volátil e pode mudar em relação ao tamanho do terreno, tipos de vegetação e demais escolhas feitas pelo cliente junto ao paisagista. 


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Cultura& A mamãe não é perfeita. Que bom!

Autora lança livro infantil que desconstrói a irretocável figura materna Divulgação

João Pedro Teles TAUBATÉ

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ara os pequeninos, a figura da mãe está atrelada a uma série de ‘não podes’. Não pode comer sobremesa antes do almoço. Não pode ir para cama tarde. Não pode falar palavrão. Não pode brigar com os irmãos. Entretanto, será que elas mesmas levam à risca suas próprias regras? Será que precisam ser assim tão perfeitas para serem boas mamães para suas crianças? A escritora Vana Campos, de Taubaté, coloca seu ponto de vista sobre os ‘podes’ e os ‘não podes’ da maternidade no livro infantil ‘Segredo’, que assina em parceria com a também autora, e vencedora do prêmio Jabuti, Raquel Matsushita. A publicação, que tem lançamento marcado para o dia 27, às 15h, em Taubaté, revela um segredo que todos deveriam saber: nenhuma mãe está

isenta de pequenas e singulares transgressões nas cartilhas de comportamento que impõem aos seus filhos. Elas também cutucam aquela casquinha do machucado, dormem tarde ou deixam escapulir, aqui e ali, algum palavrão. Essa figura humanizada é desmistificada em linguagem de poucas palavras e muitas revelações, com vocabulário tipicamente infantil. Mãe de duas crianças, Vana teve na própria experiência a inspiração para escrever o enredo. De acordo com ela, a desconstrução dessa indumentária de perfeição que veste a maternidade é fundamental para tratar as mamães como são: seres humanos passíveis de erros – até quando estão com a melhor das intenções de acertar – e que são acometidas por sentimentos de insegurança, assim como todas as pessoas. “A ideia do livro surgiu de uma conversa com meu filho Benjamim, de 6 anos. Eu acabei soltando um grito fora de hora e ele me perguntou, sinceramente, porque eu tinha gritado. E eu respondi que foi um erro. Conversamos sobre as mães errarem e de como isso

não me deixava menos mãe. Mas, simplesmente, mais verdadeira. Nos divertimos pensando em nossos defeitos”, afirma.

Parceria As autoras se conhecem há 20 anos. Raquel mora em São Paulo e Vana está há 10 anos em Taubaté. Mas bastou uma conversa para que o projeto começasse a tomar corpo. “Ficamos muito tempo sem contato até que a literatura infantil nos deu um belo encontro. A Raquel é uma referência no mundo da literatura infantil. Ela escreve, ilustra e é designer gráfica. Quando contei para ela a ideia desse livro ela logo topou. Aos poucos ajustamos conceito, forma e então o livro veio para o mundo”, explica Vana. Não é a primeira vez que Vana investe em parcerias para impulsionar seus projetos. A autora coleciona bons trabalhos com nomes como Mallu Magalhães e Fernando Morais. 



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NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Xuxa

de Taubaté Cidade ganha mais uma personalidade. Desta vez, a história é de verdade!

Foto: Pedro Ivo Prates


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Gabi Riemma TAUBATÉ

T

aubaté tem muitos filhos ilustres. Monteiro Lobato, Hebe Camargo, Mazzaropi, Celly Campello, Cid Moreira e Renato Teixeira são apenas alguns exemplos de personalidades que ao longo de sua história deram visibilidade para a cidade. Sem contar os personagens exóticos, como é o caso da ‘grávida de Taubaté’, que há cinco anos fez o município ganhar as manchetes de todo o Brasil. A cidade não foi poupada de piadas. O caso, que repercute até hoje, é alvo de inúmeros ‘memes’ na Internet. Quem fala que é de Taubaté, vez ou outra, escuta uma referência à terra da tal falsa grávida. Recentemente, outra história tem despertado a curiosidade dos taubateanos e se espalhado rapidamente. A existência da ‘Xuxa de Taubaté’, uma cover da apresentadora famosa. Cíntia Lopes é metalúrgica e ganhou o apelido quando deixou de lado a carreira para viver o sonho de imitar a rainha dos baixinhos. “Tenho essa veia artística desde criança. Sempre gostei de aparecer, mas nunca imaginei que trabalhar no palco fosse virar minha profissão. Aconteceu por acaso”, conta. Depois de uma depressão, Cíntia cortou o longo cabelo loiro e passou a ser confundida com Xuxa. Há dois anos, Blad Meneguel

Cíntia se apresenta como cover e tem a agenda cheia. Faz mais de oito apresentações por mês, todas vestindo roupas de Xuxa, seja em festas infantis ou em eventos, inclusive na Casa X, em São Paulo, buffet oficial da Xuxa. “Já assustei muita gente e já fiz até pessoas chorarem. Essa responsabilidade de encontrar com quem ama a Xuxa me deixa sem ação. Eu não consigo falar nada. Simplesmente dou um abraço e sinto uma sensação muito boa. Faz bem pra mim”, conta Cíntia.

“Já assustei muita gente e já fiz até pessoas chorarem. Essa responsabilidade de encontrar com quem ama a Xuxa me deixa sem ação” Cíntia Lopes, SÓSIA DA XUXA

Trajetória Cíntia nasceu em Taubaté, é casada e tem dois filhos. Em 2005, foi diagnosticada com depressão e resolveu pedir demissão para se recuperar e cuidar dos filhos. “Eu fiz um ano de tratamento com remédio forte e meu cabelo loiro comprido começou a ficar ralinho e a cair muito. Eu decidi cortar bem curtinho e

foi então que todo mundo começou a me chamar de Xuxa”, conta. Depois que teve a saúde reestabelecida, Cíntia conheceu uma produtora que precisava de modelos para participar da plateia de programas de auditório. “Sempre me chamaram de Xuxa, mas foi no programa da Sabrina Sato que senti a emoção de me parecer com ela porque todo mundo quis tirar foto comigo”, conta. “Senti que estava chamando atenção, foi uma delícia. Tive vergonha também, porque a Xuxa é muita coisa para eu me parecer com ela, mas a sensação foi maravilhosa”. Em 2014, Cíntia viu sua vida mudar de vez. “Aconteceu tudo na mesma semana. Cortei o cabelo, fiz uma página de cover da Xuxa no Facebook, pedi para a costureira fazer roupas iguais às dela e tirei várias fotos”, conta. Com o DVD Xuxa Só Para Baixinhos na mão, começou a ensaiar as coreografias com as amigas e fez sua primeira apresentação beneficente para crianças de uma creche de Taubaté. Entre uma apresentação e outra, alimentava sua página na Internet com as fotos e começou a ganhar muitos seguidores. A semelhança é tanta que a produção da Xuxa convidou Cíntia em duas ocasiões para interpretá-la. A primeira vez foi em outubro de 2016, quando Xuxa foi gravar um comercial. Cíntia conta que a agência só precisava de um dublê para marcar a luz da cena, mas foi a melhor oportunidade que teve de ficar ao lado dela. “Fiquei muito feliz de passar o dia inteiro com ela. Foi nesse dia que mostrei a tatuagem que fiz igual a dela – uma cruz no dedo da mão, e contei sobre a minha família, minha vida”. O segundo trabalho que Cíntia fez diretamente com a Xuxa foi a gravação de um programa especial sobre os anos 80, que foi ao ar na Record em novembro de 2016. “Estou totalmente focada na minha carreira, ensaio todos os dias da semana”, conta. 


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Grupo Meon realiza seu 1º Ciclo de Palestras

CEO do McDonalds Brasil, diretor de publicidade do Estadão e general manager da Uber abrem os eventos Marcus Alvarenga RMVALE

A

proposta do primeiro Ciclo de Palestras, realizado entre 28 a 31 de agosto, promovido pelo Grupo Meon de Comunicação é promover um encontro entre empresários, estudantes e autoridades da região, com o propósito de disseminar a cultura e o conhecimento por meio da informação, levando conteúdo diferenciado sobre administração, comunicação, economia, atualidades, cases de sucesso, mídias, marketing, empreendedorismo e liderança. Abertas ao público, as palestras que inauguram essa série de eventos, contam com três nomes reconhecidos nacional e internacionalmente. Realizadas no auditório da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) em São José dos Campos, o convidado do dia 28 de agosto é o presidente da Arcos Dourados (McDonald’s Brasil), Paulo Camargo. No dia 30 será a vez do diretor de publicidade digital do Estadão, Paulo Arruda. E encerrando o 1º Ciclo, Phillip Klien, general manager da Uber para o Estado de São Paulo. Para a Diretora Executiva do Grupo Meon, Regina Laranjeira Baumann, a realização de eventos, seminários e palestras, representa um novo momento da empresa, fortalecendo seus princípios e valores, cujo enfoque é transformar informação

em conhecimento. “A ideia do Ciclo de Palestras vem ao encontro do propósito inicial do Meon, que é exatamente contribuir com a disseminação da informação enquanto fonte de conhecimento. Queremos evoluir neste conceito, convidando profissionais respeitados no mercado em gestão, mundo digital, mobilidade e outros temas que são inequivocamente de interesse da comunidade. Ampliando nossos horizontes, queremos ultrapassar as paredes do Meon e com isso permitir que os nossos parceiros, clientes e leitores, compartilhem a experiência do que transmitimos através das notícias produzidas pela nossa redação.”. Diante dessa ideia, o foco do Meon é fomentar o desenvolvimento intelectual, com reflexões e trocas de experiências. “Esse é um projeto que se materializa e envolverá os meios acadêmicos do ensino fundamental às universidades, ou seja, todos aqueles que tenham como visão o apoio ao conhecimento.” Sem perder o foco em sua responsabilidade social, o grupo Meon incentiva o ingresso por meio da doação de alimentos para o Fundo Social de Solidariedade do Município.

Palestras A noite de abertura terá como tema “Estratégia x Execução e Liderança”, com Paulo Camargo, que está à frente

da Arcos Dourados e McDonald’s Brasil, com 25 anos de experiência no setor de bens de consumo, varejo e serviços. Ele é pós-graduado em Administração de Empresas pelo Mackenzie, MBA pelo IEDE da Espanha e capacitação executiva pelas universidades de Henley, na Inglaterra, IESE da Espanha e Harvard Business School nos Estados Unidos. No dia 30, com o tema “Desafios da Publicidade em um meio que tende à automação”, com Paulo Arruda, diretor de publicidade digital do Estadão, com 19 anos de experiência no mercado digital em empresas como Yahoo!, Twitter, MLab, IgnitionOne, Vostu, entre outras. Fechando este 1º Ciclo, dia 31, o palestrante é general manager da Uber, Phillip Klien, que irá falar sobre “O futuro da Mobilidade Urbana”. Antes da Uber, Phillip passou pelo Twitter. É formado em Marketing e Finanças nos Estados Unidos, e fundou a Predicta, reconhecida como uma das empresas mais inovadoras do Brasil pela Fast Company em 2012. 

Ciclo de Palestras Meon

Quando: 28, 30 e 31 /08 - 19h30 Local: Auditório da FAAP Endereço: Av. Jorge Zarur, 650 Jd. Apolo - São José dos Campos-SP Valor: Gratuito Inscrições e informações: ciclodepalestras@faap.com.br meon.com.br

Paulo Camargo 28/08 19h30

Paulo Arruda 30/08 19h30

Philip Klien 31/08 19h30

Estratégias x Execução e liderança

Desafios da publicidade em meio à automação

O futuro da Mobilidade Urbana



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NOTÍCIAS TURISMO

Fotos: Divulgação

Paraíso caiçara

Em Ilhabela, no Litoral Norte, praias de difícil acesso desafiam o fôlego dos turistas e são um mergulho na cultura dos moradores locais Otávio Baldim LITORAL NORTE

O

nome define o que os olhos veem: Bela. O adjetivo escapa poeticamente da boca ao primeiro encontro com a Ilha, ainda no continente. Os índios, 500 anos antes do nascimento de Cristo, já cortejavam as belezas naturais do arquipélago. E foram eles os primeiros admiradores de Ilhabela, no litoral norte paulista. Se renderam a esta obra prima esculpida sobre o mar, e com razão. Pesquisadores já identificaram 14 sítios arqueológicos no município, o que os levaram a acreditar que a ocupação indígena na região tenha acontecido antes do período colonial do Brasil. Parte desta história escavada e descoberta debaixo da terra pode ser encontrada no acervo do Instituto Histórico de Ilhabela. Para conhecer este passado e desbravar este refúgio da natureza, praticamente intacto desde os primeiros moradores, o turista precisa apanhar a balsa que sai a cada meia hora do Porto de São Sebastião. Da embarcação, Ilhabela cabe inteira num cartão postal. E ali, os celulares começam a maratona de fotos. Basta apontar a câmera e guardar na memória as paisagens que se descortinam ao longo do caminho. O verde ocupa 85% do município. O Parque Estadual de Ilhabela, criado na década de 70, protege uma rica coleção de espécies da flora e da fauna, como o rato cururuá. São fragmentos da mata atlântica que brotam exuberantes numa

área que corresponde a 27 mil campos de futebol. Uma faixa de areia fina e clara se dobra aos pés da floresta. E o mar, de água transparente, repete o incansável movimento ao encontro da mata. Cerca de 40 praias serpenteiam os 130 quilômetros de costa da ilha e recebem 400 mil turistas na alta temporada. Bucólica e rústica, a Praia da Feiticeira, no sentido sul, que fica a 12 quilômetros do desembarque da balsa, lança sua magia. Sem infraestrutura de bares ou quiosques, prevalece o contato com a natureza. Queridinha pelos turistas que procuram sossego, a praia também é requisitada por praticantes de mergulho de flutuação, tamanha a calmaria do mar. E se lá, no lado sul, as ondas são preguiçosas, no leste de Ilhabela elas ficam enfurecidas, na Praia de Castelhanos. Braveza que os surfistas adoram domar. O espírito aventureiro já é testado no caminho. São 22 quilômetros de estrada

TRAJETO São Sebastião - Ilhabela Duração - 20 minutos VALORES: R$ 27,70 (Finais de semana e feriados) R$ 18,50 (Demais datas) Pedestres não pagam.

de terra vencidos somente com carros 4X4, motos, bicicletas ou no método mais convencional mesmo, andando, percorrendo a trilha. O percurso corta a Mata Atlântica, por dentro do Parque Estadual. E, ao chegar, nem o menos romântico resiste à paisagem apaixonante que encontra. Basta um pouco de sensibilidade para observar a delicadeza da natureza que forma um coração quando o mar encontra a areia. Pertinho dali, o turista pode pegar uma das trilhas que leva para a Cachoeira do Gato para tomar um banho de água doce. São 80 metros de queda, a maior da ilha. O turista menos “off road” pode contratar uma agência que disponibiliza passeios para o lado leste do arquipélago. O percurso leva uma hora e inclui paradas em praias paradisíacas da ilha. O


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Praia do Bonete serviço de jipe também pode ser contratado para esse tipo de aventura, depende da experiência que cada um busca. Mas o percurso de Castelhano fica mole perto da badalada Praia do Bonete. São 15 quilômetros de trilha afora, o que dá mais ou menos umas seis horas de caminhada no meio da mata, mas compensa, viu. O passeio oferece encontros incríveis a cada parada, como a Cachoeira da Lage: água refrescante, que sacia a sede e encoraja os próximos passos. Depois de enfrentar essa distância toda, o caiçara recebe o turista como herói e o espera com um delicioso peixe frito douradinho, à beira mar, servido nos restaurantes que funcionam na praia. E não se surpreenda se você encontrar o Gabriel Medina num desses estabelecimentos ou surfando por lá. Ele costuma pegar ondas


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no Bonete, que chegam a mais de 3m de altura e que aparecem com frequência. Provavelmente, com esse tratamento todo especial e ainda com a possibilidade de conhecer uma celebridade do mar, você queira esticar um pouco mais sua estadia na praia. Quem quiser passar uns dias por lá consegue. Existem campings, pousadas e há moradores que alugam casas para os hóspedes. E assim o turismo acaba sendo a principal fonte de renda das 250 pessoas que vivem na praia. Beleza e receptividade que renderam ao lugar uma condecoração honrosa. O jornal inglês The Guardian elegeu o Bonete como uma das dez praias mais bonitas do Brasil, em 2009. Orgulho para a comunidade caiçara que responde pelo maior número de moradores da praia. Eles também são responsáveis por manter preservada a cultural local. Pequena, a Praia Garapocaia, ou Praia da Pedra do Sino, como ficou conhecida, aconchega os visitantes nos seus 400 metros de extensão. Perto da areia, imensos coqueiros erguidos deixam a simpática praia ainda mais charmosa. É destino de muitas famílias,

Praia do Poço, acesso somente pelo mar

principalmente quem tem criança, devido à tranquilidade do mar, que também é raso. Os mais curiosos ainda se certificam de uma das lendas locais mais famosas da região. Os índios diziam que as pedras daqui emitiam um som metálico, que remete ao mesmo feito por um sino. O turista pode testar com os próprios ouvidos esse causo contado pelos caiçaras. Quiosques da praia disponibilizam martelos para a comprovação dessa história.

Sabores Pelas ruelas do charmoso centro histórico arquitetado à beira mar, aconchegantes bares e restaurantes acompanham a caminhada. E do mais refinado paladar ao mais econômico, o turista encontra um saboroso cardápio à disposição, de autênticas iguarias caiçaras a sanduíches que copiam a fórmula americana, ou não. Encravado na mata atlântica, um sofisticado restaurante construído inteirinho em madeira, o “ALL MIRANTE” foi inaugurado em 2013 por uma empresária gaúcha, que viveu parte da sua vida na capital paulista. Localizado no sul da ilha, a 17 quilômetros da balsa, a

preocupação com o cliente pode ser notada em cada detalhe, desde o guardanapo de tecido ao atendimento do garçom. No almoço, o camarão na moranga agrada aos mais exigentes paladares, na companhia de uma paisagem incrível de mar aberto. Golfinhos aparecem como um espetáculo extra para os clientes. E para arrematar o paladar de vez, uma caipirinha de folha de tangerina. “Eu quis trazer um novo conceito para Ilhabela, com um cardápio diferenciado, com carnes, massas e frutos do mar oferecidos num ambiente indiscutivelmente lindo, com um pôr do sol fantástico e um atendimento diferente, minimalista, preocupado com cada detalhe para agradar o cliente e fazer a estadia dele em Ilhabela inesquecível”, disse Nilce Ibias, proprietária do restaurante. O “Borrachudo Sanduicheria” abriu suas portas na década de 80. Com aparência rústica, os detalhes da decoração remetem ao homem do mar de Ilhabela. O nome da lanchonete, uma merecida homenagem ao mosquito que inferniza a estadia dos turistas na cidade, soa como


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uma brincadeira. Os frequentadores podem devorar um dos deliciosos sanduíches servidos no local acompanhado de uma cerveja gelada, são mais de 100 rótulos à disposição. Ótima opção para um happy hour. Para os mais animados que esticam a noite e aproveitam cada minuto na paradisíaca Ilhabela, o “Estaleiro Bar” avança a madrugada. Perfeito para uma paquera, ainda mais se você arriscar uns passos ao som do forró pé de serra, às quartas-feiras. O bar existe desde os anos 1990 e funciona numa casa antiga que ainda mantém características originais da construção, como paredes feitas com óleo de baleia usado na mistura para assentar os tijolos. O ambiente rústico, com poesias pintadas nas paredes, conta com áreas abertas, cheias de plantas. Na decoração, os caiçaras são lembrados mais uma vez, e peças antigas usadas na pesca enfeitam o lugar. Boa música e uma cerveja incrivelmente gelada encerram a noite do turista. Rodrigo Ehder, 32, assumiu o bar em 2012. Ele morava em São Paulo, mas desde pequeno passava férias em Ilhabela, na casa de veraneio dos pais. Em 2010, abandonou o último ano da faculdade de Direito, na capital paulista, e se mudou para o litoral e começou a tocar o novo negócio. “O Estaleiro, nesses mais de 20 anos de funcionamento, se reinventou, sem se distanciar da essência dele, da origem. Continuamos como um local que reúne gente legal que vem para se divertir, num ambiente que conta com toda infraestrutura de um bar convencional, mas mantém preservada a cultura caiçara”, diz o empresário. E este paraíso dos caiçaras, pode ser desfrutado em cada experiência proporcionada aos nossos sentidos. E Bela resume mesmo qualquer esforço humano necessário para definir o que os olhos encontram nesta ilha. 

São José dos Campos. Bons olhos o vejam. São José completa 250 anos e comemorar é olhar pra frente. É cuidar dos que mais precisam, melhorando a vida das pessoas em todas as regiões da cidade. É criar oportunidades e valorizar os que fazem de São José um dos melhores lugares para se viver. Uma cidade que acolhe a todos. Comemorar é acreditar num futuro melhor, renovando as esperanças em cada amanhecer.

É assim que a gente celebra os 250 anos de São José.


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Gastronomia&

Fotos: Pedro Ivo Prates

Por que alimentar-se bem? Ana Caroline Oliveira SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

resposta para os que sempre questionam o motivo da importância da bola alimentação parece simples: para termos boa saúde. Mas o assunto é muito mais profundo e importante. Uma alimentação adequada evita doenças e nos deixa mais preparados para as atividades cotidianas. Comer bem é uma preocupação constante na rotina das pessoas, seja para obter um estilo de vida saudável ou para perder peso. É notório que a alimentação é f u nd a menta l na manutenção da saúde. São diversas as doenças que resultam de maus hábitos alimentares. Alguns exemplos são: diabetes, hipertensão, obesidade, gastrite, alergias, dentre muitas outras. Nada é mais importante do que comida: 80% das doenças de coração, 90% dos casos de diabetes e 70% dos problemas de certos tipos de câncer podem ter uma ligação direta com hábitos de vida e alimentação. Dieta

inadequada é uma das duas maiores causas de morte no mundo, junto com o tabaco. Comer, sem dúvida, é um prazer, mas mais do que é isso, é uma necessidade do corpo e devemos nos

Além dessas doenças comprovadamente causadas pela má alimentação, podem existir muitas outras que ainda são desconhecidas, causadas em longo prazo por uma enorme ingestão de aditivos químicos, agrotóxicos, antibióticos e hormônios contidos nos alimentos da atualidade. Infelizmente, a indústria alimentícia, em sua maioria, negligencia a saúde dos consumidores. Por isso, urge uma mudança de hábitos na nossa sociedade e uma profunda refleção do que comemos. O caminho é dar preferência aos alimentos frescos e orgânicos, diminuir o consumo de industrializados e controlar a quantidade de açúcar e gordura são práticas indispensáveis para evitar doenças e viver melhor. 

consciente é o segredo para uma vida sadia, com uma boa qualidade de vida. A alimentação constitui um dos três pilares do que se considera qualidade de vida. Os outros são o sono e os exercícios físico e mental.

Ana Caroline Oliveira é nutricionista, especialista em nutrição clínica e ortomolecular.



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Social& Por Gabi Riemma

Boliche de aniversário

Gabi Riemma

Degustação de vinhos com palestra Os clientes do Pão de Açúcar Jardim Aquarius em São José dos Campos, no dia 25 de julho, tiveram a oportunidade de participar de degustação de vinhos após palestra com o Consultor Carlos Cabral. Os convidados foram recepcionados no Novotel, em São José dos Campos e puderam apreciar, além dos vinhos, um buffet delicadamente preparado para a ocasião, ao som de Beto Sax. Entre os expositores, Ika Coelho, que apresentou nova coleção de semi-joias e Ricardo Martins, com fotos da mostra “A Riqueza de um Vale”. Divulgação

Organizado pela diretora de turismo da prefeitura de São José dos Campos Nazira Madureira em comemoração ao aniversário de 250 da cidade, a tarde no Yex Boliche reuniu secretários municipais, empresários e políticos da região. Estavam presente no evento o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Alberto ‘Mano’ Marques, com

Vivá apresenta “Carmen” No dia 25 de julho o restaurante Vivá, em Taubaté, recebeu o Embaixador da Vinícula Carmen, a mais antiga do Chile (1850) Jorge Arias Andrade, para apresentar rótulos exclusivos da importadora Mistral. O Vivá, que se destaca pela beleza e sofisticação, serviu um jantar especial preparado pelo chef Demétrio de Santana, harmonizado com os vinhos Carmen Premier Chardonnay, Premier Carménère e Gran Reserva Carménère.

sua esposa Mônica Marques, e o secretário de Urbanismo e Sustentabilidade, Marcelo Pereira Manara. Entre os vereadores joseenses, Fernando Petiti (PSDB), Dr. Elton (PMDB), Marcão da Academia (PTB), Sérgio Camargo (PSDB), e Rogério Cyborg (PV) todos participaram da brincadeira. Fotos: Gabi Riemma


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Wedding Day

Fotos: STUDIO WHF

Priscila Yonezawa comandou a maior feira de noivas da região, nos dias 4 e 5 de agosto. O espaço Cassiano Ricardo, em São José dos Campos, recebeu o ‘Wedding Day’ com os mais variados fornecedores para realizarem o casamento perfeito. O ponto alto do evento foi o desfile da Josephine Noivas, que mostrou que elegância e bom gosto não dependem do tipo físico da noiva. “A coreografia dos noivos é uma tendência nos casamentos modernos” conta Priscila, que convidou Pedro Ribeiro para fazer uma performance durante a feira.


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Crônicas & Poesia

Um café antes de me apaixonar Designed by Freepik.com

“É brega, mas dormi com seus olhos muito vivos na minha memória”. Frase dita, um largo sorriso matinal dissolveu sua expressão ainda manchada de sono. Ela ri de mim. Os cabelos lisos, clarinhos, lhe tapando os olhos cerrados. “Não é brega. Eu achei fofo. Adorei.” E me beija os lábios em um abraço agradecido e preguiçoso. Ela deita de bruços, costas nuas, ao meu lado. Seu braço quentinho contorna meu peito num macio desenho diagonal, que terminava em seus dedos se enroscando desapressados na bagunça emaranhada que eram meus cabelos àquela hora da manhã. Enterra a cabeça no meu travesseiro, achatando o rosto em meu pescoço. Sinto sua respiração quente e sereníssima me arrepiar a pele. Voz abafada pelo travesseiro e arranhada de despertar, ela embarca num embalado discurso sobre sua predileção

pelo caminho das sugestões. “Esse lance, João, de escancarar as coisas tira toda a graça do momento. A gente se apaixona é no território das entrelinhas das relações. Você sabe disso, né? Te conheço”. Sua voz seguia deliciosamente rouca. “Sou muito maluca por saborear mais o não dito do que as coisas que eu escuto?” Pergunta retórica. Aquela conversa fluida emergindo baixinho do enlaço de travesseiros, seu braço esquerdo pousado no meu peito, aquele cafuné leniente, o silêncio do quarto. Cada um dos elementos da manhã acariciando os sentidos. E eu desfrutava do combo sensorial sem pressa, mantendo, preso à língua, um gostinho de eternidade. Sua boca de amora madura me despertou da leseira onde eu flutuava torpe. Me roubou um beijo vermelho vivo. “Moço, estou me abrindo com muita facilidade. Fica difícil manter a

fama de má assim”, disse entre sucedidos beijos de açúcar. Orgânico convite lascivo. Aceito no ato. “Tudo bem se eu fumar?” e me virou as costas para alcançar o maço na bolsa. Pequenas frestas de luz derramavam manhã em alguns dos cantos do quarto ainda escuro. Ela senta para ascender o cigarro. Seios, cabelos e boca me assaltam em silhueta esfumaçada. Sua linguagem sugestiva. Três tragos pausados. Nós dois tateando, em silêncio absoluto, os corredores do não dito. A brasa consumia o tabaco como uma ampulheta intrometida. Me lembrava, impertinente, que esses momentos enfim não são eternos. “Vou preparar um café antes de me apaixonar”. “Ah, café não. Tem chá?” Deixa pra lá, já me apaixonei.  João Pedro Teles, jornalista MEON


PODE COMPARAR, NENHUMA OUTRA RÁDIO TOCA TANTA MÚSICA COMO A ANTENA 1.


Fonte: Ibope Easy Media 4 | São José dos Campos | Junho 2017 | Todos os dias | Todos os horários | Ambos os sexos | Todas as idades | Todas as classes sociais


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