Raças
Alentejana desponta como opção de carne macia
arquivo acbra
À esquerda, novilho puro da raça Alentejana, em Portugal. À direita, novilhas F1 Alentejano x Nelore, no MT: resistência ao calor e aos carrapatos.
P Lisboa
Alentejo
mônica costa monica@revistadbo.com.br
roveniente do Alentejo, centro-sul de Portugal, a raça bovina que toma emprestado o nome da região está sendo testada por criadores brasileiros, que veem nela uma alternativa para a obtenção de carne mais macia do que a de zebuínos na produção a pasto, sem perda de rusticidade. Desde 2014, já foram exportadas 45.000 doses de sêmen da raça para o Brasil, conta o zootecnista Nuno Carolino, pesquisador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Iniav), entidade pública similar à Embrapa, com sede em Santarém, uma das cinco sub-regiões do Alentejo, onde o clima mediterrâneo é caracterizado por invernos pouco chuvosos e frios e verões secos e quentes, semelhante a parte do Brasil. “Os produtos do cruzamento com o Nelore apresentaram carne marmoreada e com bom acabamento de carcaça, guardando semelhança com cortes do francês Limousin e do britânico Angus”, diz Carolino, que veio ao Brasil em 2013 para avaliar os primeiros resultados do cruzamento da raça com um plantel de fêmeas Nelore de uma fazenda situada em Santo Afonso, centro-sul do Mato Grosso, próxima a Tangará da Serra. Além do cruzamento industrial, o técnico assegura que o uso de touros para monta natural é outra opção, pois a Alentejana suporta temperaturas de até 40 graus Celsius no verão, situação muito comum no Centro-Oeste e no Nordeste brasileiros. “Algo que raças continentais como Limousin e Charolês ou a britânica Angus não aguentam”, diz. As características da Alentejana chamaram a atenção de um grupo de pesquisadores da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, PI, que avalia o desempenho de diferentes
86 DBO novembro 2017
Anísio Ferreira Lima Neto
De 4 anos para cá, raça portuguesa vem sendo testada em criatórios brasileiros.
genótipos de bovinos e seus cruzamentos em sistemas intensificados de produção. O médico veterinário Anísio Ferreira Lima Neto, integrante do grupo, está acompanhando o desempenho dos cruzamentos com a raça portuguesa desde 2013, quando conheceu Carolino. No ano seguinte, o pesquisador da Embrapa foi para Portugal, onde avaliou os atributos da raça, conheceu o sistema de produção e a qualidade da carne. “Além da resistência ao calor, o Alentejano também tem alta resistência a ectoparasitas e produz carne macia.” Em setembro passado, Lima Neto voltou a Portugal, convidado a participar de um simpósio em Coimbra, onde palestrou sobre o potencial do Alentejano em clima subtropical. Apresentou uma avaliação de 2002 feita pelo pesquisador Pedro Barbosa, da Embrapa Pecuária Sudeste, que comparou peso médio de carcaça, idade de abate e espessura de gordura de bovinos de origem britânica, continental e zebuína e seus cruzamentos, na terminação a pasto (veja tabela na página 87). Com relação à qualidade da carne, Carolino diz que, em Portugal, a Alentejana – com 25% do plantel de 118.000 fêmeas de 15 raças autóctones e 6% do rebanho nacional – tem a maior representatividade entre os cortes bovinos certificados com Denominação de Origem Protegida, classificação concedida a produtos provenientes de vitelos e novilhos puros de origem, que agrega valor à matéria-prima, geralmente destinada a mercados nobres como Luxemburgo, Bélgica e Alemanha. “Aqui, os animais são abatidos em média aos 15 a 16 meses, quando a cobertura de gordura é pequena, porque a dieta mediterrânea não aprecia muito a gordura. Mas, no cruzamento com o zebu, os pecuaristas poderão explorar mais a capacidade de deposição de gordura na carcaça, a partir dos 20 meses, para atender às preferências brasileiras”, diz Carolino.