Revista do Meio Ambiente 69

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Especial:

69 ano IX • março 2014

9772236101004

ISSN 2236-1014

ambiente Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Dia da Água Brasília vai sediar VIII Fórum Mundial da Água Porque o Tietê continua sujo? Mercado da água em garrafa ameaça meio ambiente Pesquisa sobre a origem da água na Terra




sede e Redação Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370-290 • Telfax: (21) 2610-2272 • vilmar@rebia.org.br • CNPJ 05.291.019/0001-58 A instituição A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações, opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam comprometidas com os mesmos propósitos. Fundador da Rebia A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das Nações Unidas de Meio Ambiente. www.escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634 Conselho Editorial A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários, e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia, democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto. A Rebia na web • Facebook: facebook.com/REBIA.org.br Fórum REBIA SUL: www.facebook.com/groups/rebiasul/ Fórum REBIA SUDESTE: www.facebook.com/groups/ rebiasudeste/ Fórum REBIA CENTRO-OESTE: www.facebook.com/ groups/rebiacentrooeste/ Fórum REBIA NORDESTE: www.facebook.com/groups/ rebianordeste/ Fórum REBIA NORTE: www.facebook.com/groups/ rebianorte/ • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Linkedin: www.linkedin.com/company/rebia---redebrasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_ compy_id_2605630 • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/ ninjarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw

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mar 2014 revista do meio ambiente

editorial

Água é

Ronald Schuster (sxc.hu)

4 expediente

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna* (www.escritorvilmarberna.com.br) eM hOMeNAGeM AO DiA MuNDiAl DA ÁGuA, COMeMOrADO eM tODO O MuNDO A CADA 23 De MArçO, A reBiA DeDiCOu eStA eDiçãO DA reviStA DO MeiO AMBieNte, pois a democratização da informação socioambiental, com valores para a sustentabilidade, é um dos caminhos, se não o principal, para maior consciência e melhores práticas em defesa da água, um bem natural e essencial para a manutenção e existência da vida e da qualidade de vida de todos os que vivem e dependem deste Planeta. Se fomos capazes de interferir na natureza para piorar as coisas, também somos capazes de medidas concretas para ajudar o meio ambiente, pois o planeta seguramente conseguirá sobreviver sem nós, talvez um pouco mais feio e arranhado, mas nós, seguramente, não sobreviveremos sem o planeta. A superfície de nosso planeta é constituída por apenas 30% de terra firme. Os 70% restantes são de água. Olhando do espaço, nosso Planeta Terra mais parece um Planeta Água! Só que a maior parte dessa água, cerca de 97%, é salgada, indisponível, portanto, para beber. Das águas que existem sobre o Planeta, apenas 3% são doces e somente 0,6% está disponível na superfície, como as águas dos rios e lagos! O restante está indisponível congelada nos pólos, ou na forma de vapor d’água na atmosfera, ou em lençóis subterrâneos. As águas doces superficiais de nossos rios e lagos são um dos tesouros mais preciosos para a vida no Planeta. A falta de florestas protetoras nas áreas de mananciais e nas bacias hidrográficas provoca danos enorrevista ‘neutra em carbono’

www.prima.org.br

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da Rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

mes aos rios e lagos. Sem vegetação nos morros, as águas das chuvas, em vez de penetrarem no solo e irem alimentar os mananciais, correm rapidamente para os rios e daí para o mar, tornando-se novamente salgadas, além de carregarem junto os sedimentos que irão entupir os rios e os lagos, provocando enchentes nas cidades quando chove mais forte. As florestas agem como uma espécie de esponja que amortecem os pingos das chuvas fazendo com que penetrem no solo, indo alimentar os mananciais que abastecem os rios e lagos. O que temos de fazer é muito simples: trabalhar com a natureza e não contra ela. São várias as medidas que podemos tomar no sentido de preservar nossos rios e lagos. Pode parecer uma tarefa enorme, e aí a tendência é acharmos que o mundo melhor que desejamos começa no outro ou depende dos governos e das empresas. Entretanto, o mundo melhor que queremos começa em nós, e os grandes problemas são formados de pequenos problemas que não foram solucionados quando eram pequenos. Uma forma de enfrentar um grande problema é ir solucionando aos poucos o que está em nosso alcance. * vilmar é escritor e jornalista, fundou a rebia -

rede Brasileira de informação Ambiental (rebia. org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

Foto de capa: Hector Landaeta (SXC) Para acessar a Revista do Meio Ambiente on-line a ao vivo com o código QR é só escanear o código e ter acesso imediato. Se não tiver o leitor de QR basta abaixar o aplicativo gratuito para celulares com android em http://bit.ly/16apez1 e para Iphone e Ipads em http://bit.ly/17Jzhu0


Matteo Canessa (sxc.hu)


Brasília vai sediar VIII Fórum Mundial da Água

em 2018

O Fórum Mundial da Água de 2018 já tem uma sede: Brasília. A capital brasileira foi eleita por 23 governadores do Conselho Mundial da Água (WWC, na sigla em inglês) durante a 51ª Reunião do Quadro de Governadores da instituição, que organiza o maior evento do planeta com a temática dos recursos hídricos. A cidade dinamarquesa de Copenhague, que concorria com Brasília, recebeu dez votos dos 36 possíveis. A escolha aconteceu em Gyeongju, Coreia do Sul. Na disputa com Copenhague, a candidatura de Brasília recebeu visita do Comitê de Avaliação do WWC em agosto de 2013. Na ocasião, os avaliadores puderam analisar a viabilidade de a capital brasileira receber o evento em diversos aspectos, como: infraestrutura de transportes, mobilidade urbana, rede hoteleira e locais para realização da 8ª edição do Fórum. O relatório do Comitê de Avaliação serviu como subsídio para que os governadores do Conselho Mundial da Água escolhessem a sede do evento de 2018. A candidatura de Brasília foi resultado de um esforço conjunto do Governo Federal, do Governo do Distrito Federal (GDF), da Agência Nacional de Águas (ANA) e das diversas instituições que compõem a Seção Brasil do Conselho Mundial da Água. Segundo o presidente do WWC ex-diretor da ANA, Benedito Braga, a candidatura brasileira foi visionária ao apresentar o tema “Compartilhando Água” e integrar os temas discutidos nas edições anteriores do evento, dando continuidade à discussões já realizadas sobre os desafios do setor de recursos hídricos. O Fórum Mundial da Água é realizado a cada três anos com o objetivo principal de inserir a mar 2014 revista do meio ambiente

Mario Roberto Duran Ortiz (Wikimedia Commons)

texto Raylton Alves

6 água

A candidatura de Brasília foi resultado de um esforço conjunto do Governo Federal, do Governo do Distrito Federal (GDF), da Agência Nacional de Águas (ANA) e das diversas instituições que compõem a Seção Brasil do Conselho Mundial da Água temática dos recursos hídricos com destaque na agenda global. Para tanto, o WWC reúne diferentes públicos durante o evento, como: organizações internacionais, políticos, representantes da sociedade civil, cientistas, usuários de água e profissionais do setor de recursos hídricos. Assim, o Fórum funciona como uma plataforma para que os tomadores de decisão e os usuários de recursos hídricos possam se encontrar para trabalhar conjuntamente por soluções relativas a água. Na última edição do evento, em 2012, tomadores de decisão de mais de 140 países e um público estimado de 35 mil pessoas compareceram à cidade francesa de Marselha. Histórico Desde 1997, o Conselho Mundial da Água vem realizando o Fórum Mundial da Água. A primeira edição aconteceu em Marrakesh, Marrocos, com o tema “Visão sobre a Água, Vida e Meio Ambiente no Século XXI”. Em 2000, a cidade de Haia, Holanda, sediou o evento com a temática “Da Visão à Ação”. Três anos depois, o Fórum foi para o Japão. Nas cidades de Kyoto, Shiga e Osaka, o tema foi “Um Fórum com uma Diferença”. Na ocasião, os debates consideraram as metas estabelecidas pela Cúpula do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2006, o maior evento do mundo sobre recursos hídricos aconteceu na Cidade do México norteado pelo tema “Ações Locais para o Desafio Global”. Depois de passar pela África, Europa, Ásia e América, o Fórum Mundial da Água de 2009 foi realizado numa cidade ao mesmo tempo europeia e asiática: Istambul, Turquia. Nela o assunto que norteou as discussões foi “Superar Divergências sobre a Água”. Na última edição, em 2012, a cidade onde fica a sede do WWC também sediou o Fórum: Marselha, França. Na ocasião, o tema escolhido foi “Soluções para Água”. O próximo evento acontecerá em duas cidades da Coreia do Sul, Daegu e Gyeongbuk, entre 12 e 17 de abril de 2015. Para esta edição, a temática dos debates será “Água para nosso Futuro”. Fonte: ANA


Jed Sundwall (Flickr cc 2.0)

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você já ouviu falar em

água virtual? ela está em tudo que você consome eM tuDO Que COMprAMOS, DeSDe AliMeNtOS e peçAS De veStuÁriO Até ApArelhOS eletrôNiCOS, eXiSte uM CONSuMO De ÁGuA Que MuitAS vezeS eStÁ “eSCONDiDO” e pODe NãO ApAreCer eM SuA eMBAlAGeM, ApArêNCiA Ou CONteúDO. Mas essa água virtual, por vezes empregada em um volume bem maior que o esperado, também deve ser considerada quando da escolha de consumir determinados produtos. Seu uso ocorre durante as etapas produtivas e pode ser desde a água da chuva necessária para um vegetal crescer até a água gasta nos processos de manuseio e industrialização do item. A porção de água virtual, mesmo “invisível”, muitas vezes é bem maior do que a parcela de água presente no produto final.

conheça mais do projeto da waterfootprint em: www.pegadahidrica.org/ index.php?page=files/home

Segundo dados da organização internacional Waterfootprint, somente para a produção de um único litro de leite, por exemplo, são utilizados cerca de mil litros de água. O uso de água virtual somado a outros fatores, como a quantidade de água diretamente utilizada em um produto, o tipo de fonte, o momento de sua utilização e sua localização, podem nos fornecer a pegada hídrica de um produto, ou seja, seu impacto hídrico analisado de forma mais ampla. A disponibilidade ou escassez de água em um ecossistema também influencia o cálculo da pegada hídrica de um bem de consumo produzido em determinado local, podendo variar de uma região para outra. Alguns produtos de uso comum possuem uma pegada hídrica relativamente grande, se comparados ao volume e composição do produto final. É o caso de itens como o açúcar de cana refinado, o arroz e a carne bovina, que para cada quilo produzido, segundo a Waterfootprint, consomem respectivamente 1.800, 2.500 e 15.400 litros de água. Informações da WWF indicam que itens de vestuário comprados em larga escala como pares de sapatos e camisetas de algodão consomem para sua produção, em média, 8.000 e 2.900 litros de água cada um. Esses exemplos nos mostram como grande parte do impacto ambiental de um produto já vem embutido nele antes mesmo de chegar até nós, sem que saibamos sobre sua dimensão ou como foi ocasionado. Pensar na água virtual que consumimos é pensar na história dos produtos antes de chegarem até as prateleiras. Esse aspecto deve ser um dos levados em conta por consumidores e fabricantes, em prol de um modelo de consumo mais sustentável e consciente. para navegar na água virtual O projeto What is Your Water Footprint?, dos designers Joseph Bergen and Nickie Huang, da Universidade de Harvard, reúne infográficos interativos sobre a pegada hídrica dos países do mundo e também de alguns itens de consumo. No site do projeto é possível verificar o consumo de água da população de uma localidade, a disponibilidade de água doce em determinado país e os usos específicos do recurso, como doméstico, industrial ou para agricultura. Além de saber quais nações contam com pouco acesso à água, é possível obter comparações gráficas entre a pegada hídrica desses países e também entre o uso de água virtual na produção de diferentes itens, em sua maioria produtos alimentícios. Fonte: AkAtu.org.Br

revista do meio ambiente mar 2014


8 gestão ambiental

Esgoto industrial ilegal

enche 2 Ibirapueras por dia em São Paulo

A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo O setor industrial é um dos maiores consumidores de água potável do planeta, respondendo por 20% da demanda total. A mesma proporção se aplica ao Brasil e ao seu maior polo de riqueza nacional, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). No entanto, nem toda a água que sai das indústrias em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer. Pelo contrário. A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera. Os dados são de um estudo feito pela Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em tempos de “águas magras” nos reservatórios que abastecem a região, os números alarmantes de despejo ilegal de efluentes ganham contornos ainda mais preocupantes. Embora o volume do descarte industrial seja inferior ao total de esgotos residenciais que deixa de ser coletado e tratado pelas redes públicas, seu efeito nocivo ao meio ambiente pode ser equivalente ou até pior. Estima-se que cada litro de esgoto industrial seja, em média, 6,6 vezes mais poluidor do que os esgotos residenciais. “É paradoxal que na Região Metropolitana de São Paulo, onde o ‘stress’ hídrico é comparável à de algumas regiões do sertão nordestino, continuemos a poluir nossos mananciais com efluentes tão perigosos”, afirma Gesner Oliveira, coordenador da pesquisa e ex-presidente da Sabesp. “Esse descarte obriga as concessionárias de saneamento a captarem água a mais de 80km da capital a custos elevadíssimos. Equacionar essa questão certamente poderia reduzir o risco de desabastecimento de água na região”, acrescenta. Segundo dados da Cetesb, 42% das águas monitoradas em 2012 foram classificadas como péssimas, ruins ou regulares. Três pontos de captação, em particular, apresentaram situação crítica: Braço de Taquacetuba, Rio Cotia e Rio Tietê. A população também sofre os efeitos. Os resíduos industriais podem causar contaminação por metais pesados, provocando desde efeitos leves como irritações na pele e dores de cabeça até reduções das funções neurológicas e hepáticas, rinites alérgicas e dermatoses. De onde vem e para onde vai O estudo da FGV levou em conta os dados de descarte de 58.373 indústrias classificadas como de transformação. A água consumida por essas instalações tem duas origens: ou é captada diretamente no manancial, com permissão dos órgãos competentes, ou vem de redes públicas de abastecimento. Cerca de 9 litros a cada 10 litros consumidos pela industria tem origem em poços artesianos. Parte dos efluentes industriais que é gerada é tratada localmente pelas próprias indústrias. Para isso, além de todo o equipamento adequado, é necessária uma outorga junto ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) para que o efluente tratado seja descartado de forma adequada na natureza. mar 2014 revista do meio ambiente

Outra parte dos efluentes industriais é transportada das indústrias por meio de caminhões para descarte direto em estações de tratamento de efluentes especialmente projetadas para esse recebimento. Para isso, a Cetesb deve emitir o Cadri, a Certificado de Aprovação para Destinação de Resíduos Industriais. Cerca de 90% do consumo de água vem dos poços artesianos, ou seja da captação direta da indústria, e cerca de 90% dos efluentes estão sob responsabilidade de tratamento pela própria indústria. Como mudar esse quadro Segundo o estudo, a dificuldade no monitoramento do descarte de efluentes passa também pela dificuldade em se medir a água consumida a partir de poços artesianos. Conforme a pesquisa, o consumo industrial total na RMSP foi estimado em 10,76 m3/s (metro cúbico por segundo), correspondente a 0,85 m3/s a partir de redes públicas de abastecimento e 9,91 m3/s de captação direta de mananciais. Por isso, uma das propostas dos pesquisadores da FGV é de que se faça “a hidrometração de todos os poços da RMSP e sistema de monitoramento à distância, permitindo controlar o consumo de água a partir de poços artesianos e estimar e fiscalizar o descarte”. Outra proposta é inserir nos critérios de financiamento de bancos públicos e privados declaração sobre aderência da empresa e fornecedores quanto ao descarte de seus efluentes. Além da exigência, seria fundamental a fiscalização constante do descarte de efluentes por parte dos órgãos financiadores. O estudo defende ainda a criação de um selo de lançamento sustentável, à exemplo do selo azul e verde, criado pelo governo paulista, que certifica os municípios a partir da adoção de práticas sustentáveis. Essa certificação serve para orientar a política de concessão de financiamentos a municípios. A ideia é que um selo voltado para o lançamento de efluentes incentive os municípios e Estados a combater o descarte ilegal de esgoto e terem seus esforços reconhecidos. Fonte: Planeta Sustentável


água

O relatório foi solicitado por investidores institucionais, que querem saber o risco de fazer investimentos face aos problemas de água. O questionário feito com 147 empresas mostrou que 39% delas já estão sofrendo com problemas relacionados com a água – incluindo interrupções causadas por secas ou inundações, diminuição de qualidade da água e aumento dos preços da água. Outra conclusão é que mais da metade das empresas espera ter problemas com água dentro de 1 a 5 anos. O relatório ainda prevê que a situação vai ficar pior, já que a demanda mundial por água deve subir nas próximas décadas. Os setores que demonstram maior exposição aos riscos da água incluem alimentos, bebidas, tabaco e metais e mineração. Os pesquisadores alertam que a escassez de água vai fazer parte de uma tempestade de problemas ambientais. Porém, 60% das empresas já estabeleceram metas de desempenho no modo de uso da água. As empresas estão reconhecendo cada vez mais o risco para a sua marca se forem vistas como desperdiçadoras de água nos países nos quais o recurso é escasso. O crescente interesse das empresas em medir seu desempenho e se preocupar com a questão de água reflete a tendência já existente que elas têm de medir a contribuição de gases para o efeito estufa. Mas os pesquisadores dizem que a água é diferente do carbono no sentido de que muitas vezes há alternativas aos combustíveis fósseis, mas não existem alternativas à água. O desafio está em gerir o que temos entre os usuários concorrentes, quer sejam empresas, comunidades ou sistemas naturais. A mudança climática está alterando a disponibilidade mundial de água, o que significa maior escassez em algumas regiões e mais inundações em outras; a solução pode ser adaptar a estrutura e o consumo de cada região. Fonte: bbc

40% ainda sem

saneamento Wilson Dias/ABr

Empresas preocupadas com o consumo de

texto Jeff Goodell

política ambiental 9

Quase 40% da população ainda não têm acesso a coleta e tratamento de esgoto, diz diretor da ANA

Paulo Lopes Varella Neto, Diretor de gestão da Agência Nacional de Águas (ANA)

O diretor de Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Lopes Varella Neto, admitiu que a falta de tratamento de esgoto é um dos principais problemas do Brasil no que se refere ao acesso aos recursos hídricos no país. Varella Neto participou de debate sobre o assunto na Comissão de Infraestrutura do Senado e disse que quase 40% da população ainda não têm acesso a coleta e tratamento de esgoto, o que traz problemas não só de saúde pública como também de contaminação da água que é consumida. O diretor da ANA apontou dados que mostram que 11% da água consumida no Brasil têm qualidade regular, 6% são de qualidade ruim e 1% de péssima qualidade, sendo que os locais onde a qualidade melhorou são os que tiveram investimentos na rede de esgoto. Para o presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, José Galizia Tundisi, que participou da audiência com Varella, a falta de investimentos em coleta e tratamento de esgoto se traduz em empecilho para o desenvolvimento do país. Ele alertou para a necessidade de as autoridades promoverem obras e educação da população como forma, inclusive, de prevenir problemas de saúde pública como a diarreia, que mata mais as crianças. “Educação e mobilização da população sobre saneamento são imprescindíveis”, disse Tundisi. Apesar disso, Varela Neto apontou que 90% da população têm acesso à água encanada e um dos maiores problemas na gestão dos recursos hídricos do país é abastecer a agricultura. Em 2010, 72% da água consumida foram destinadas à produção agrícola, cuja área deverá aumentar até seis vezes nas próximas décadas. Os dados foram retirados do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos elaborado pela ANA e do Atlas do Abastecimento Urbano de Água. A audiência foi o terceiro painel do sexto ciclo de debates, Água: Gerenciamento e Utilização, promovido pela Comissão de Infraestrutura.

Fonte: EcoBrasilia / Agência Brasil

revista do meio ambiente mar 2014


10 denúncia

Água da Antártica está

desaparecendo Grande massa de água profunda e fria está desaparecendo misteriosamente

Rios com cor azul brilhante estão

aparecendo na china O primeiro rio a amanhecer azul em tom brilhante foi em Xangai

A pequena cidade de Chunshen Harbor viu o rio que cruza a cidade ganhar um fundo azulado “antinatural”. Agora, segundo o IB Times, outro caso apareceu na província de Shandong. De acordo com a publicação, os rios estão ganhando uma “sombra azul” que causa espanto nos moradores que levantam a possibilidade de ser algum produto químico tóxico. O diretor do Centro de Serviços de Gestão e Drenagem, Jiang Xiangdong, informou através de nota que a coloração azul vem de um esgoto que se localiza nas proximidades, mas não informou exatamente o que seria o produto responsável pela coloração, nem desmentiu a possibilidade de ser algo tóxico. Em Xangai, as autoridades informaram que a cor azul também vem das estações de desinfecção e tratamento de água, mas afirmaram que os resíduos são apenas cloro. As empresas pediram desculpas pelo ocorrido e informaram que vão melhorar o sistema de tratamento para que o cloro não vaze para os rios. Apesar disso, a população assustada estima que possa existir outra explicação que ainda não foi dada pelos órgãos oficiais. Fonte: Jornal Ciência.

A água mais fria que flui ao redor da Antártica, no Oceano Antártico, está desaparecendo misteriosamente a um ritmo elevado ao longo das últimas décadas. Esta massa de água é chamada Água Antártica de Fundo, e é formada em alguns locais distintos onde a água do mar é esfriada pelo ar e mais salgada pela formação de gelo (que deixa o sal na água descongelada). A água fria e salgada é mais densa que a água em torno dela, fazendo-a descer ao fundo do mar onde se espalha para o norte, enchendo a maior parte do oceano profundo em todo o mundo conforme lentamente se mistura com águas mais quentes acima dela. Correntes do oceano profundo do mundo todo desempenham um papel fundamental no transporte de calor e carbono ao redor do planeta, o que ajuda a regular o clima da Terra. Estudos anteriores indicaram que esta água profunda tornou-se mais quente e menos salgada ao longo das últimas décadas. Agora, um novo estudo revelou que significativamente menos água desse tipo se formou durante este tempo também. Oceanógrafos analisaram dados de temperatura coletados entre 1980 e 2011 a intervalos de 10 anos por um programa internacional de pesquisas oceanográficas no Oceano Antártico. Eles descobriram que Água Antártica de Fundo foi desaparecendo a uma taxa média de cerca de 8 milhões de toneladas por segundo ao longo das últimas décadas. O que está causando a redução e o que ela significa são coisas que os pesquisadores ainda não sabem. “Não temos certeza se a taxa de redução é parte de uma tendência de longo prazo ou de um ciclo”, disse o coautor do estudo, o oceanógrafo Gregory C. Johnson. Alterações na temperatura, teor de sal, oxigênio dissolvido e dióxido de carbono dissolvido dessa massa de água proeminente tem implicações importantes para o clima da Terra, incluindo as contribuições para o aumento do nível do mar e taxa de absorção de calor da Terra. “Precisamos continuar a medir a profundidade dos oceanos, incluindo as águas profundas do oceano, para avaliar o papel e a importância que essas mudanças desempenham no clima da Terra”, disse Johnson. Fonte: OurAmazingPlanet

mar 2014 revista do meio ambiente


Por que o Tietê continua Os esgotos domésticos, responsabilidade dos municípios e do Estado, continuam sendo lançados e são o maior vilão das águas Sem água de boa qualidade, São Paulo não pode mais se dar ao luxo de desperdiçar rios e córregos para diluir esgoto. A média das análises da qualidade da água realizada no período de setembro a dezembro de 2013, em 78 testes feitos pela Fundação SOS Mata Atlântica com grupos de voluntários em rios do Alto e Médio Tietê, aponta melhoria em 49 pontos de coleta. Mesmo assim, não há muito o que se comemorar. Dos rios e córregos analisados, 13 pontos têm índices péssimos de qualidade e somente quatro saíram dessa condição para regular, graças à integração do projeto Córrego Limpo nas ações de despoluição. Ao longo do Tietê, de Mogi das Cruzes a Barra Bonita, 16 testes obtiveram índice ruim, 46 regular e apenas três aceitável. Esses indicadores descrevem o cenário de 21 anos do projeto de despoluição do Tietê, que está em sua terceira etapa e já demandou U$ 2,1 bilhões. A recuperação da bacia do Alto Tietê, com 18 milhões de habitantes distribuídos em 39 municípios, começa a se consolidar em um programa de saneamento ambiental. É possível medir e comprovar que, para cada metro cúbico de esgoto tratado na Região Metropolitana, um quilômetro de rio renasce no interior.

sujo

texto Malu Ribeiro*

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O monitoramento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica aponta que, no início de 1990, metade do Tietê estava morto. A mancha gerada por esgotos domésticos e industriais cobria mais de 500 quilômetros e os rios de São Paulo eram os mais poluídos do Brasil. Em uma década, a indústria cumpriu a legislação e tratou efluentes. De 1.210 lançamentos de cargas tóxicas nos rios, restaram 400, feitos por indústrias controladas pela Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo). Porém, os esgotos domésticos, responsabilidade dos municípios e do Estado, continuam sendo lançados e são o maior vilão das águas (no Estado, causam 60% da poluição). Somente em 2010 a população começou a perceber singelos resultados. Na capital, o odor deixou de ser o principal incômodo. No interior, o Tietê fomenta a economia e voltou a fazer parte da cultura paulista. Mas, para que apresente resultados efetivos na capital, é preciso tirar do papel o pacto pela despoluição anunciado pelo governador Geraldo Alckmin. Esse pacto político, que conta com apoio da iniciativa privada, precisa ser capaz de promover a gestão integrada do saneamento na bacia. Dez municípios da Região Metropolitana não são operados pela Sabesp, responsável pelo projeto Tietê. A divisão de competências e as diferenças político-partidárias resultam em entraves que fazem com que a despoluição seja mais difícil do que em países que recuperaram grandes rios, como o Tâmisa e o Reno. A ocupação desordenada e o aumento de moradias irregulares desprovidas de coleta e tratamento de esgotos impõem a necessidade da atuação integrada do Estado, União, municípios e da sociedade. É preciso conectar mais 200 mil domicílios à rede de esgoto, o que representa mais de 1,5 milhão de pessoas com acesso ao saneamento, elevando os índices de tratamento de esgoto a 84%. Somente o esforço conjunto permitirá que os rios de São Paulo voltem a fazer parte do cotidiano das pessoas e das cidades de maneira positiva. *Malu Ribeiro, 48, é coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Fonte: Folha de São Paulo. revista do meio ambiente mar 2014


texto Gabriela Mateos

12 ecologia humana

770 milhões de pessoas não têm acesso à água LeoNunes (Wikimedia Commons CC-BY-SA-3.0)

Até 2015, podem ser três bilhões

Conheça o projeto que vai acabar com a

seca do nordeste

Os túneis Cuncas I e Cuncas II fazem parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco e vão levar água para mais de 390 municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará O rio São Francisco é conhecido como o “o rio da integração nacional”. Mas ele, que começa no Sudeste e flui por cerca de 3 mil quilômetros, tem um pequeno problema: antes de chegar ao Nordeste, deságua no oceano. Não é para tanto que essa região do nosso país sofre, desde que o mundo é mundo, com as consequências de uma seca interminável. A falta de água ali acabou deixando o solo muito fértil para a proliferação de uma pobreza miserável. Na tentativa de acabar de uma vez por todas com o problema da seca, e consequentemente curar a região com todos os males que vem da falta de água, o governo começou em 2006, durante o mandado do ex-presidente Lula, escavações de dois túneis, chamados Cuncas I e Cuncas II, como parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, que vai garantir o abastecimento de água de mais de 390 cidades de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O Cuncas I, que terá 15 km de extensão (dos quais 10 já foram cavados), é o maior túnel da América Latina para transporte de água. Já o Cuncas II, quando concluído, terá mais de 4 km. E os dois fazem parte de uma rede de 477 km de túneis e canais que estão sendo construídos para acabar com a seca do nordeste. Juntos, eles têm o objetivo de transportar cerca de 83 mil litros de água por segundo. A escavação desses túneis é considerada a maior obra de infraestrutura hídrica do país. Mais de 6,6 mil pessoas estão trabalhando 24 horas por dia com mais de 1.800 equipamentos em operação. O Projeto de Integração do São Francisco faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e tem conclusão prevista para 2015. Mais de 75% da obra já foi acabada.

Fonte: Hype Science / Portal Brasil / New Scientist mar 2014 revista do meio ambiente

A administradora-adjunta do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Rebeca Grynspan, disse na Conferência de Alto Nível sobre Cooperação pela Água, realizada em Dushanbe no Tadjiquistão, que a cooperação pela água em nível nacional e global é essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável e assegurar que milhões de pessoas tenham acesso a esse recurso precioso. “Além do fato de que o mundo experimenta um crescimento explosivo na demanda por recursos hídricos, existe também o desperdício de água e a poluição, que ameaçam cada vez mais a integridade dos ecossistemas aquáticos e agrícolas, vitais para a vida e para o combate à fome.” “A mudança climática também não está ajudando, aumentando a variabilidade do ciclo da água, além de agravar eventos extremos como inundações e secas que complicam ainda mais o já grande desafio da gestão e governança da água. Se esta tendência continuar, em 2025, até 3 bilhões de pessoas poderão viver em zonas com escassez de recursos hídricos.” Atualmente, cerca de 770 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte de água, e 2,5 bilhões não têm acesso a saneamento básico. Grynspan afirmou que os países devem colaborar para aumentar o acesso à água potável e saneamento e melhorar a gestão da água para irrigação e usos produtivos, que tem o potencial de tirar milhões da pobreza e da fome. A importância desta cooperação deve figurar com destaque na agenda de desenvolvimento pós-2015, bem como na formulação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “A água está no centro de uma crise diária enfrentada pelos milhões de pessoas mais vulneráveis do mundo”, disse Grynspan. “A cooperação eficaz e inclusiva pela água em todos os níveis – local, nacional, regional e internacional – é essencial para a governança eficaz dos recursos hídricos e, assim, alcançar importantes metas e objetivos.” Fonte: ONU Brasil


13 carol mitchell (Flickr cc 2.0)

na Índia, por exemplo, onde já há alta competição pela água existe um risco sério, quando combinado com uma variabilidade anual da água

risco global da água um mapa incrivelmente detalhado mostra o risco global de água

leMBrA-Se DA SeCA Que AtiNGiu OS euA eM 2012? ele FOi iMpOrtANte, MeSMO Que peSSOAlMeNte NãO O teNhA AFetADO. Na verdade, 53% do país estava lidando com o que o USDA chama de “seca moderada à extrema” até julho. Mais de 1.000 municípios foram declarados áreas de alerta federal. Aqueduto, um novo mapa do World Resources Institute (WRI), mostra que os problemas de água no mundo crescem de forma gritante. “Estamos vendo que a água e a falta dela está emergindo como um dos desafios do século 21. Que é interessante agora é que estamos ouvindo que a preocupação a partir da comunidade empresarial e em todo o mundo”, diz Betsy Otto, Diretor do Aqueduto da WRI. O projeto, criado como uma aliança de empresas como GE, Goldman Sachs, Shell e Procter & Gamble, é o mais detalhado mapa de alta resolução do estresse hídrico global disponível hoje. É também a primeira ferramenta de mapeamento de risco de água para incluir dados de águas subterrâneas. O mapa gratuito do WRI usa dados de 2010 (os dados mais atuais disponíveis) para medir uma série de categorias de risco da água em todo o mundo: o risco físico; variabilidade na água disponível, de ano para ano, o de ocorrências de inundação (quantas vezes e intensidade); severidade das secas (quanto tempo e quão grave), estresse, pressão poluição de águas subterrâneas, a demanda por tratamento de água, a cobertura da mídia sobre as questões da água (ou seja, quanta atenção é dada à água em uma determinada área), e muito mais.

Vamos definir o quadro de risco da água para falar com a comunidade empresarial e para o setor privado, mas estamos recebendo um bom feedback do setor público e ONGs que vão utilizar esta informação (Betsy Otto, Diretor do Aqueduto da WRI)

“A beleza da ferramenta é que ela permite que você olhe para os indicadores individuais, mas ricamente detalhe todos juntos e os agregue para dar uma imagem do risco global da água”, diz Otto. Se você não tiver certeza dos niveis que você quer ver, Aqueduto tem nove indicadores ponderados predeterminados, classificadas por setor da indústria – uma companhia de petróleo e gás, por exemplo, terá diferentes fatores de risco do que outro tipo de indústria. “Vamos definir o quadro de risco da água para falar com a comunidade empresarial e para o setor privado, mas estamos recebendo um bom feedback do setor público e ONGs que vão utilizar esta informação. Há uma escassez de boa informação global sobre onde nós estão os desafios da água, e só vamos ser capaz de resolver os problemas de água se trouxermos o setor público e privado juntos”, diz Otto. Otto descobriu uma série de coisas marcantes ao montar o mapa. Lugares que tradicionalmente não tinham altos riscos de água – a costa leste dos Estados Unidos, o Centro-Oeste, Europa – agora tem médio risco elevado de água. Isso se deve as mudanças na demanda de água, padrões acentuados, o tempo, e abastecimento de água padrões. Ao mesmo tempo, informa que onde já existe alta competição pela água (isto é, Índia) existe um risco sério, quando combinado com uma variabilidade anual da água. Fonte: verdeProFundo.org

veja os dados nos mapas interativos em: www.wri.org/our-work/project/aqueduct/ aqueduct-atlas revista do meio ambiente mar 2014


Vincent E. A. Post et al

texto Bruno Calzavara

14 ecologia humana

mapa do mundo da topografia e batimetria mostrando ocorrências conhecidas de água doce salobra subterrânea no mar

Água doce sob o oceano

De ACOrDO COM uM GrupO De peSQuiSADOreS liDerADO pelO Dr. viNCeNt pOSt, DO CeNtrO NACiONAl De ÁGuAS SuBterrâNeAS e DA uNiverSiDADe FliNDerS, NA AuStrÁliA, cerca de 500 mil quilômetros cúbicos de água potável estão enterrados sob o fundo do mar em plataformas continentais ao redor do mundo. A água subterrânea poderia, talvez, ser usada para garantir suprimentos para cidades costeiras florescentes do mundo, e foi localizada ao largo da Austrália, China, América do Norte e África do Sul. “O volume deste reservatório de água é cem vezes maior do que a quantidade que temos extraído da sub-superfície da Terra desde 1900. Saber sobre estas reservas é uma grande notícia, porque este volume de água poderia sustentar algumas regiões por décadas”, explica Post, que é o primeiro autor do artigo publicado na revista Nature. “Os cientistas que se dedicam às pesquisas de águas subterrâneas sabiam que há água doce sob o fundo do mar, mas achavam que ela só aparecia sob condições raras e especiais. Nosso estudo mostra que aquíferos doces e salobros abaixo do leito marinho são realmente um fenômeno bastante comum. Essas reservas foram formadas ao longo dos últimos milhares de anos, quando, em média, o nível do mar era muito mais baixo do que é hoje e quando o litoral ficava mais longe. Então, quando chovia, a água mar 2014 revista do meio ambiente

existe mais água doce no oceano do que nós extraímos da terra em 100 anos

conheça 0 mapa em: http://aqueduct.wri.org/

se infiltrava no solo e enchia o lençol freático em áreas que hoje estão sob o mar”, explicou. Quando o nível do mar subiu, no momento em que calotas polares começaram a derreter, cerca de 20 mil anos atrás, essas áreas foram cobertas pelo oceano. Muitos aquíferos eram – e ainda são – protegidos da água do mar por camadas de argila e sedimentos que se assentam sobre eles. “Os aquíferos são semelhantes aqueles abaixo da terra, que grande parte do mundo depende para beber água, e sua salinidade é baixa o suficiente para que possam ser transformados em água potável”, destaca o cientista. “Há duas maneiras de acessar essa água. Construir uma plataforma em alto-mar e perfurar o fundo do mar, ou perfurar do continente ou ilhas próximas dos aquíferos”, diz. Enquanto perfuração longe da costa pode ser muito cara, essa fonte de água doce deve ser avaliada e considerada em termos de custo, sustentabilidade e impacto ambiental contra outras fontes de água, como a dessalinização, ou até mesmo a construção de grandes novas barragens em terra. “A água doce sob o fundo do mar é muito menos salgada do que a água do mar. Isto significa que pode ser convertida em água potável com menos energia do que a água do mar exige durante a dessalinização, e também nos deixaria com muito menos águas hiper-salinas”, conclui o Dr. Post. Fonte: hyPeScience / Sci newS


risco

Água doce em

Jeff Schmaltz/NASA

Aquecimento global afetará diretamente os ecossistemas de água doce

Imagem da Nasa mostra fitoplâncton no Atlântico Sul, ao largo da costa da Argentina

A estabilidade dos ecossistemas de água doce estará seriamente comprometida se a temperatura do planeta aumentar, de acordo com cientistas. Pesquisadores da Universidade Queen Mary, de Londres, analisaram o plâncton que existe em água doce – estruturas pequenas que são a base da cadeia alimentar nos meios aquáticos. Eles aqueceram o plâncton em 4 graus Celsius, o aumento de temperatura que os rios do planeta podem ter no próximo século, e fizeram uma descoberta alarmante. O fitoplâncton, plantas microscópicas, sofriam uma diminuição considerável em seu tamanho quando expostos a temperaturas maiores. Basicamente, o fitoplâncton maior pode fazer mais fotossíntese, mesmo que o fitoplâncton menor esteja em maior número. Pelo fitoplâncton ser capaz de produzir seu próprio alimento, eles são uma fonte de alimento para o zôoplancton – animais muito pequenos que, por sua vez, servem de alimento para animais um pouco maiores, seguindo-se, assim, a progressão natural da cadeia alimentar. Mas quando o fitoplâncton se modifica, toda essa escala é comprometida. Os cientistas responsáveis pela pesquisa acreditam que isso não quer dizer que a vida em água doce será extinta, mas que existirão mudanças e que ela, provavelmente, não ficará parecida com o modelo que conhecemos hoje.

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Entenda o que é

PEGADA hídrica

Calcule o impacto que você tem causado no mundo

No dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água, a data é usada para gerar uma reflexão mundial acerca do uso deste bem tão precioso e finito. O evento especial também serve para instigar uma análise pessoal sobre o que cada um tem feito para preservar a água e mantê-la sempre em boas condições para as gerações futuras. Todas as escolhas, hábitos e consumos geram algum impacto ambiental. Assim como existem calculadoras que mensuram as emissões de gases de efeito estufa da rotina das pessoas, também é possível computar a quantidade de água gasta para realizar todas estas tarefas. O conceito de água virtual é extremamente necessário para que esta somatória seja possível. Antes de fazer uma lista com os hábitos alimentares e de consumo, é preciso entender que, por trás de tudo isso, existe uma quantidade enorme de água usada e que não pode ser visualizada no produto final. Este pensamento pode ajudar a definir quais são as prioridades e os padrões de consumo aplicados. A Water Footprint Network é a organização internacional responsável pela criação da calculadora que mede a pegada hídrica, seja ela individual ou de um grupo. Esta ferramenta ajuda a identificar os pontos mais críticos e aquilo que poderia ser melhorado. O consumo de carne, por exemplo, é algo que eleva muito a pegada hídrica, por toda a quantidade de água necessária durante a sua produção. As análises também avaliam a quantidade de água gasta diretamente em sua forma natural, ou seja, quantos litros são gastos no banho, na escovação dos dentes, descarga, louça, limpeza do quintal, carro, entre outras coisas. Fonte: ciclo vivo

Fonte: BBC

revista do meio ambiente mar 2014


texto Maria Clara Serra

16 especial: dia da água

Mercado da água de garrafa ameaça

meio ambiente

Felipe Wiecheteck (sxc.hu)

Poluentes gerados pela fabricação, transporte e descarte do produto contribuem para o aquecimento global

O consumo anual de água mineral em garrafa no Brasil cresce em média cinco litros por pessoa desde 2010, atingindo 55 litros per capita em 2013. O país já é o quarto maior consumidor mundial do produto, atrás apenas de Estados Unidos, China e México. Mas enquanto as cifras do mercado se multiplicam – de acordo com a Associação Internacional de Água Engarrafada (IBWA, na sigla em inglês), só nos EUA, as empresas do setor faturaram US$ 11,8 bilhões em 2012 – a poluição gerada pelo processo de fabricação, transporte e descarte das garrafas causa grande impacto ambiental. Postado em 2010 pela militante americana Annie Leonard, o vídeo A História da Água Engarrafada circula até hoje na web e foi um dos grandes inspiradores de movimentos como o Água na Jarra, iniciativa criada em São Paulo no mesmo ano para incentivar o consumo de água da torneira. De acordo com Annie, esse crescimento é devido ao que ela chama de “demanda fabricada”. Há anos, ONGs internacionais alertam sobre um futuro em que a água potável seria rara e valeria “mais do que ouro”. Para garantir seu filão no mercado, as grandes empresas de alimentos e bebidas agiram rápido: questionaram a qualidade da água de torneira e investiram em publicidade para garantir que seu produto era a opção mais saudável. Segundo a IBWA, o setor de água engarrafada é o segundo maior anunciante dos EUA. O futuro chegou. Hoje, 1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável, de acordo com a Whole World Water. A falta do recurso, reconhecido como direito universal, está relacionado à morte de uma criança a cada 15 segundos no mundo, segundo a Unicef. No Rio, uma garrafa de uso individual já chega a custar R$ 4. Além de doer no bolso e representar riscos para a saúde – na semana passada o Journal of Epidemiology and Community Health publicou artigo alertando para os perigos provocados pelo contato com substâncias químicas presentes no PET, como os ftalatos e o Bisfenol A (BPA) –, o aumento do consumo contribui mar 2014 revista do meio ambiente

para o aquecimento global e ainda gera um dos maiores problemas para os oceanos, o chamado microplástico. Ele altera a composição do ecossistema marinho, mata animais e ainda aumenta o risco de contaminação humana. “Para cada garrafa de água mineral produzida, são geradas 100 gramas de emissões de CO2”, afirma Wagner Victer, diretor presidente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). “Além disso, a água da torneira é muito mais regulamentada e fiscalizada do que as de garrafa, e custam 500 vezes menos”. A ONG Água na Jarra tenta mudar esse cenário. Conscientiza a população de seu papel na diminuição da poluição gerada pelas garrafas e ainda ajuda restaurantes e estabelecimentos comerciais a incentivar o consumo de água da torneira entre seus clientes. “O impacto gerado pela água engarrafada é tão grande que é difícil mensurar. Após o consumo ele fica mais latente, já que o plástico é um resíduo de difícil tratamento”, afirma Letycia Janot, fundadora da ONG e pós-graduada em Gestão Ambiental. “No pior dos cenários, quando as garrafas vão parar no meio da rua, o que acontece com alta frequência, acabam nos oceanos, que já possuem ilhas de plástico”. Somente no Brasil, a produção de garrafas cresceu 14,5% em 2013. Apesar de o país ter


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Garrafinhas poluentes • Fabricação. Os impactos gerados pela embalagem de politereftalato de etileno, ou PET, se iniciam com a extração do petróleo, a fabricação da pré-forma e a produção da garrafa. De acordo com Annie Leonard, no vídeo A História da Água Engarrafada, a cada ano, para suprir a demanda dos EUA, a indústria utiliza petróleo e energia suficientes para abastecer um milhão de carros, já que o produto tem que ser resistente o suficiente para ser transportado ao redor do planeta. • Ciclo de vida. Para a análise do ciclo de vida das garrafas são considerados o consumo de recursos naturais e outras matérias-primas, como água (na produção), geração de efluentes líquidos (que acabam poluindo rios, mares e lençóis freáticos), emissões atmosféricas (de transporte e fabricação) e geração de resíduos sólidos. Segundo a 5Gyres, os “plásticos foram feitos para durar para sempre e desenhados para jogar fora”. • Descarte. No caso do descarte correto da garrafa, os impactos após o consumo são causados pela atividade de coleta e transporte do lixo, principalmente as emissões atmosféricas (CO2). Quando chegam aos aterros sanitários, que não possuem capacidade suficiente para comportar a crescente geração de lixo, as garrafas demoram milhares de anos para serem absorvidas. Quando são descartadas diretamente na natureza, acabam parando em mares e rios, o que agrava o problema das enchentes. • Reciclagem. Mesmo quando a garrafa é reciclada, ela gera impactos ambientais. De acordo com a tese de mestrado de Renata Bachmann Guimarães (Brasília 2007), utilizada como base pela ONG Água na Jarra, se considerarmos taxas de reciclagem por volta de 50% do consumo, uma garrafa PET gera aproximadamente oito vezes o seu próprio peso em resíduos, levando em conta as emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos. • Oceanos. No mar, a ação da luz solar e das ondas quebra o plástico em partículas cada vez menores, chamadas microplástico, que nunca desaparecem completamente, segundo a 5Gyres. O microplástico age como esponja, absorvendo pesticidas, metais pesados e poluentes orgânicos persistentes (POPs), que causam disfunções hormonais, neurológicas e reprodutivas. Já existem ilhas de plástico no oceano nas quais o microplástico é tão abundante que se tornou parte do ecossistema. Plânctons e pequenos crustáceos se alimentam deles, se intoxicam, também intoxicando pequenos peixes que os consomem. O processo se repete até chegar a peixes maiores e, logo, ao homem. Fonte: O Globo / MST / IHU Online

Água em garrafa está

proibida Liz West (sxc.hu)

uma das maiores taxas de reciclagem de PET – em 2012 foram recicladas 331 mil toneladas, 59% das embalagens descartadas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) – o impacto no meio ambiente ainda é grande. Procurada pelo O Globo, a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) preferiu não se manifestar. Por pressão popular do movimento Rio $urreal, fiscais do Procon-RJ começaram a multar na semana passada os restaurantes que não disponibilizam jarras de água gratuitamente para seus clientes. A lei vale no estado do Rio há 19 anos, mas somente agora está sendo cobrada. De acordo com estudo realizado em 2011 pela Associação de Defesa dos Direitos do Consumidor, Proteste, a qualidade da água fornecida no Rio é boa antes ou depois de passar pela torneira. A utilização dos filtros é recomendável para evitar contaminações geradas nas cisternas ou caixas d’água, mas se a limpeza das mesmas for feita a cada seis meses, o consumo direto de água de torneira faz bem para o bolso, a saúde e o meio ambiente.

São Francisco é a primeira cidade dos EUA a proibir água em garrafas plásticas

A cidade norte-americana de São Francisco, na Califórnia, deu mais um exemplo para o mundo em termos de desenvolvimento sustentável. A partir de outubro deste ano, estarão banidas as vendas de água em garrafas plásticas para uso individual. Após cobranças e protestos realizados por ativistas, as autoridades locais entraram em um consenso e determinaram que só poderá ser comercializada água em garrafas plásticas que comportem mais de 600 ml. A medida pretende reduzir os impactos ambientais gerados para a fabricação do PET e também de seu descarte. “Todos nós sabemos da importância de se combater as mudanças climáticas, São Francisco tem liderado a luta por nosso meio ambiente”, declarou o Presidente do Conselho de Supervisores, David Chiu, que também foi quem criou a lei. Durante sua fala ao San Francisco Bay Guardian, o líder também mostrou uma garrafa com 25% de sua capacidade preenchida com óleo, para representar a quantidade de petróleo usada na fabricação e transporte de garrafas d’água. Chiu lembrou que antes da década de 90 as garrafas plásticas quase não eram utilizadas, portanto não são itens necessários para manter a qualidade de vida da população. A mesma atitude tem sido replicada em outras localidades. Ainda nos EUA, a Universidade de Seattle proibiu o comércio das garrafas de água em seu campus. Na Austrália, a comunidade de Bundanoon foi a primeira a banir a água engarrafada. Fonte: Redação CicloVivo

revista do meio ambiente mar 2014




20 especial: dia da água

Cinco razões para não beber Horton Web Design (www.HortonGroup.com)

água engarrafada

O preço da água engarrafada é quase 100 vezes mais alto do que a disponibilizada pelo sistema público ApeSAr De Ser reSpONSÁvel pOr GrANDeS DeBAteS SOBre A QuANtiDADe iDeAl pArA SuA iNGeStãO, OS BeNeFíCiOS DA ÁGuA pArA A SAúDe SãO iNeGÁveiS. Segundo a nutricionista Amélia Duarte, o líquido está presente em 50% a 75% do peso corporal de um adulto e é um dos principais transportadores de nutrientes do nosso corpo e age também como suporte para o bom funcionamento intestinal. Mas é preciso ficar atento quando os assuntos são as fontes e o armazenamento deste recurso. Há anos, a água engarrafada está na mira de críticos e ambientalistas europeus e norte-americanos. A discussão chegou ao Brasil em 2010, mas não ganhou força, apesar deste produto ser visto por muitos cientistas como um ícone do desperdício, da desigualdade social e também um risco para a saúde. Conheça cinco motivos para não ingerir água engarrafada: 1) Ingestão de produtos químicos O biólogo Carlos Lehn alerta que, para cada litro de água engarrafada, é estimada a utilização de 200 ml de petróleo em sua produção, embalagem, transporte e refrigeração. Além disso, um estudo norte-americano revelou que há presença de fertilizantes, produtos farmacêuticos, desinfetantes e outras fórmulas químicas presentes no produto agem de forma negativa no corpo humano. 2) Danos socioambientais De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 900 milhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso à água de boa qualidade, enquanto que uma parcela da população prefere consumir água engarrafada mesmo tendo acesso a água tratada. O consumo excessivo do produto em todo o mundo pode levar à superexploração de mar 2014 revista do meio ambiente

aquíferos, o que deixaria um legado de falta de água para gerações futuras. Lehn aponta que a produção e distribuição do volume das águas engarrafadas podem gerar mais de 60 mil toneladas de emissões de gases do efeito estufa, o equivalente ao que 13 mil carros geram em um ano. 3) produção de lixo Apesar de serem materiais recicláveis, as garrafas utilizadas para o acondicionamento do recurso geralmente não são recicladas, podendo produzir até 1,5 milhões de toneladas desses resíduos por ano. E, para produzir essa quantidade de plástico, são gastos cerca de 47 milhões de litros de óleo. A cidade de Concord, em Massachusetts (EUA), foi a primeira comunidade dos Estados Unidos a abandonar a utilização das garrafas plásticas de uso único, em 2013. O motivo? Elas não estimulam a reutilização. Em 2010, só nos EUA a estimativa era o descarte de 50 bilhões de embalagens plásticas de água por ano. Menos de 10% são recicladas. “Alguns hábitos antigos, como a sacola de pano e a garrafa de vidro podem representar a solução para alguns de nossos maiores problemas, a exemplo do acúmulo de lixo nas grandes cidades”, reforçou o biólogo ao site JorNow. 4) preço abusivo O preço da água engarrafada é quase 100 vezes mais alto do que a disponibilizada pelo sistema público. Além disso, o lucro com a venda do produto, que poderia ser investido na melhoria do abastecimento público de água, permanece privatizado. 5) menos atenção aos sistemas públicos …E se temos água engarrafada para consumir, para que investir em um bom sistema de abastecimento de água público? O crescimento da indústria de água engarrafada pode incentivar a privatização da comercialização do recurso em todo o mundo – o que não seria um bom sinal para qualquer governo. Fonte: ecod / envolverde

Assista ao vídeo sobre a história das garrafinhas de água (em inglês): www.youtube.com/ watch?v=Se12y9hSom0



22 mudanças climáticas

Dados estimam aumento de até 6°C no Brasil

a longo prazo Foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima) no Espaço Apas, no Alto da Lapa, em São Paulo. Após um intenso trabalho de 345 pesquisadores que reuniram mais de dois mil trabalhos de grupos de pesquisa entre 2007 e 2013, foram apresentadas as conclusões do primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) durante a conferência promovida pela Fapesp, a Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC). Infelizmente, as notícias não serão celebradas em ritmo de carnaval e exigirão fortes medidas para evitar danos maiores. Confira na tabela ao lado os resultados da principal previsão do relatório. Na Amazônia, a situação é bem grave, principalmente em relação aos desmatamentos, e estima-se que esse processo aumente em 40%, interferindo no ciclo hidrológico, causando a diminuição de chuvas e a prolongação do período de seca. Os pesquisadores já preveem o risco da savanização de alguns pontos da Amazônia. Na Caatinga, ainda é pior, pois existe a possibilidade de ocorrer um processo de desertificação do bioma. E já tantas vezes protagonista de canções e da literatura brasileira por sua seca, o Nordeste não sairá tão cedo de sua condição e a situação só tende a piorar. Vamos agir As mudanças climáticas terão impactos diretos na agricultura, geração e distribuição de energia e recursos hídricos e, como podemos observar, isso não ocorrerá de forma homogênea pelo país. Cada região sofrerá impactos maiores ou menores e, portanto, é preciso tomar medidas políticas que atendam às necessidades de cada uma. Os pesquisadores ainda ressaltam que VEGETAÇÃO/ REGIÃO

Recursos hídricos tendem a diminuir é preciso ser muito cauteloso nesse momento com projetos de construções de hidrelétricas, por exemplo, afinal não queremos contribuir com maiores impactos ambientais e sim diminuí-los. E como sempre, são as camadas da população de renda mais baixa que sofrerão mais com os problemas advindos dessas mudanças. O relatório é um grande alerta e servirá para orientar as novas estratégias de adaptação e redução desses impactos. O secretário de Políticas e Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência, Carlos Nobre, anunciou que o relatório será dirigente no Plano Nacional de Mudanças Climáticas, o qual já prevê diminuição em 10% a 15% das emissões de gases de efeito estufa. O processo não será nada fácil para um país que possui tantas fragilidades em termos socioeconômicos, mas talvez isso seja um despertar para que o Brasil tenha um melhor planejamento de distribuição e investimento nas regiões e um propulsor para o investimento em tecnologias sustentáveis. O presidente da Fapesp, Celso Lafer, anunciou a atenção e interesse maiores da instituição em pesquisas sobre mudanças climáticas. Fonte: eCycle

Aumento (+) ou diminuição (-) de chuvas em % e Aumento da temperatura em °C Até 2040

Entre 2041 e 2070

Entre 2071 e 2100

AMAZÔNIA

- 25% a 30% 1°C a 1,5°C

- 40% a 45% 3°C a 3,5°C

5°C a 6°C

CAATINGA

- 10% a 20% 0,5°C a 1°C

- 25% a 35% 1,5°C a 2,5 °C

- 40% a 50% 3,5°C a 4,5°C

CERRADO

- 35% a 45% 5°C a 5,5 °C *

PANTANAL

— —

— —

- 35% a 45% 3,5°C a 4,5°C *

NORDESTE

-10% 0,5°C a 1°C

- 20% a 25% 2°C a 3°C

- 30% a 35% 3°C a 4°C

SUL E SUDESTE

+ 5% a 10% 0,5°C a 1°C

+ 15% a 20% 1,5°C a 2°C

+ 25% a 30% 2,5°C a 3°C

PAMPAS

+ 5% a 10% 1°C

+ 15% a 20% 1°C a 1,5°C

* Fornecidos apenas os dados gerais das estimativas de mudanças até 2100 mar 2014 revista do meio ambiente

+ 30% a 40% 2,5°C a 3°C



24 ecoleitura

reÚso

eSte livrO OFereCe eStrAtéGiAS pArA AS iNDúStriAS Que BuSCAM MiNiMizAr prOBleMAS De CONSuMO De ÁGuA e lANçAMeNtO De eFlueNteS, CADA DiA MAiS preMeNteS. Também traça um panorama abrangente dos problemas enfrentados no setor e das técnicas de tratamento, desde as convencionais até as mais sofisticadas, como separação por membranas. De forma didática, aborda conceitos atualíssimos, como ponto de mínimo consumo de água (water pinch) e reúso em cascata, elucidando-os no conceito e na prática. Os autores são José Carlos Mierzwa, engenheiro químico e doutor em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela USP, espaço no qual leciona e desenvolve pesquisas sobre conservação e reuso da água e técnicas avançadas de tratamento de água e efluentes; e Ivanildo Hespanhol, Titular da Engenharia Hidráulica e Sanitária da EPUSP e exibe um currículo acadêmico e profissional ímpar, com reconhecimento nacional e internacional. Engenheiro Civil e Sanitarista pela USP, PhD em Engenharia Ambiental pela Universidade da Califórnia, é consultor da ANA e da OMS e fundador do CIRRA. FonteS: httP://SoSrioSdoBrASil.BlogSPot.com.

Br/2013/03/o-neceSSArio-reAProveitAmento-deAguA.html e httP://www.comuniteXto.com.Br

mar 2014 revista do meio ambiente

parceria para recuperação da

baía da guanabara

Secretaria do Ambiente e BiD firmam convênio de apoio ao projeto de Governança da Baía de Guanabara

Luiz Morier

Água na indústria: uso racional e

política ambiental

O SeCretÁriO De eStADO DO AMBieNte, iNDiO DA COStA, ASSiNOu O CONvêNiO De COOperAçãO téCNiCA pArA GOverNANçA DA BAíA De GuANABArA, Que iNClui O ApOiO FiNANCeirO DO BiD (BANCO iNterAMeriCANO De DeSeNvOlviMeNtO) De uM MilhãO De DólAreS pArA A eStruturAçãO DO plANO De AçãO De reCuperAçãO e liMpezA DA BAíA De GuANABArA. O secretário agradeceu a parceria com o BID, representado pelo especialista líder em saneamento do BID, Yvon Mellinger, e ressaltou a importância do apoio para o Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam). “A parceria com Maryland vai nos dar apoio técnico para integrar pescadores, empresários, prefeitos e ambientalistas, na gestão sustentável dos ativos socioambientais e econômicos da Baía de Guanabara. Com isso queremos maior controle social e mais transparência nos investimentos, além de estudos de projetos vinculados ao programa de despoluição da baía”, declarou Indio da Costa. Sob a liderança da Secretaria de Estado do Ambiente (SEA-RJ) o compromisso de limpeza e recuperação ambiental da Baía da Guanabara surgiu como foco principal do acordo, que conta com o apoio técnico do governo de Maryland, através da experiência com o Programa de Despoluição da Baía de Chesapeake. Em março de 2011, os estados do Rio de Janeiro e de Maryland (EUA) deram início às tratativas de um importante acordo de cooperação técnica visando à melhoria progressiva da qualidade socioambiental dos municípios do entorno da Baía de Guanabara. A experiência de Chesapeake demonstra que só desta forma a governabilidade da BG será realmente eficaz e inclusiva para a totalidade dos municípios ao seu redor. A vontade de fortalecimento dessa cooperação resultou no processo de mão dupla de visitas de estudos às duas baías, de especialistas de Maryland ao Rio e vice versa. Fonte: AScom SeA


25 Fontela01 (Wikimedia Commons)

Vista aérea do Rio Paraíba do Sul, na região de Caçapava (SP)

Alckmin pede para usar

água federal em sp

Em meio a uma crise hídrica, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi ontem a Brasília pedir à presidente Dilma Rousseff (PT) autorização para captar água da bacia do rio federal Paraíba do Sul e despejá-la no sistema Cantareira, que opera com o nível mais baixo de sua história. Se implementada, a medida vai auxiliar na recuperação do sistema, que abastece 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo e, ontem, tinha 14,9% da capacidade. Alckmin esteve ontem no Palácio do Planalto para uma reunião com a presidente, a ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, e dirigentes da Sabesp e da ANA (Agência Nacional de Águas) – a esta última cabe autorizar formalmente a operação. O governador tucano havia conversado com a presidente, a sós, há nove dias. Segundo interlocutores, já naquela ocasião Alckmin e Dilma falaram sobre a crise de abastecimento no Estado. O Paraíba do Sul é interestadual. Hoje, ele é responsável pelo abastecimento de 15 milhões de pessoas. Só no Rio de Janeiro, incluindo a capital, são cerca de 10 milhões. Do ponto de vista técnico, o uso de suas águas no abastecimento da Grande São Paulo é discutido há mais de cinco anos. Há, inclusive, um projeto de lei na Assembleia paulista sobre o tema. A proposta nunca saiu do papel porque a transposição para as represas do Cantareira sempre enfrentou resistências de técnicos do Rio. Eles avaliam que o uso da água para a Grande São Paulo pode significar menos água tanto para o Rio quanto para as cidades do Vale do Paraíba, em São Paulo, que também recebem água do Paraíba do Sul. A ideia do governo de São Paulo é utilizar águas da bacia do Paraíba que estão em reservatórios atualmente subutilizados, originalmente destinados à geração de energia. No caso de a transposição ser aceita pela ANA, agência federal que regula a captação de água dos rios que passam por mais de um Estado, existem três possibilidades já apontadas em estudos feitos pelo governo de São Paulo para viabilizar o desvio da água para o Cantareira. A Folha apurou que o volume a ser retirado da bacia do Paraíba seria de 5.000 litros por segundo. Isso significa até 20% do que é produzido pelo sis-

Técnicos cariocas temem que mais àgua do Rio Paraíba do Sul para São Paulo significará menos água para o Rio de Janeiro tema Cantareira. As operações previstas envolvem obras, como túneis ou canais. Segundo o plano diretor de recursos hídricos de São Paulo, os custos, em sua totalidade, podem ultrapassar a casa dos R$ 300 milhões. O prazo para execução seria de mais de quatro meses. Dividendos eleitorais Em eventos técnicos, feitos desde o fim do ano passado, os diretores da ANA sempre demonstraram tendência favorável ao pleito de São Paulo de retirar água do rio. A resistência, portanto, ficaria circunscrita ao Estado do Rio e a cidades do Vale do Paraíba. Nesta semana, depois da primeira conversa com Alckmin, a presidente esteve com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Do ponto de vista político, um auxílio de Dilma a Alckmin renderia dividendos eleitorais tanto para a petista quanto para o tucano. Alckmin evitaria o rodízio no Estado. Dilma, por sua vez, apareceria como responsável por resolver a crise no Estado. Fonte: folha de s.paulo

revista do meio ambiente mar 2014


vaso sanitário

Fundação Bill e Melinda Gates doou oito bolsas de estudo no ano passado para cientistas e engenheiros com o objetivo de inventarem um vaso sanitário que poderia funcionar sem água encanada, sistema de esgoto ou eletricidade, com custo de menos de 5 centavos por dia Cortesia da Universidade Tecnológica Nanyang

texto Bruno Calzavara

26 consumo responsável

Professor Chang, Dr. Giannis, Professor Wang, Dr. Rajagopal e Dr. Chen, criadores do vaso sanitário No Mix Vacuum Toilet

Parece mentira, mas infelizmente cerca de 2,6 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a um sanitário. Para tentar melhorar essa situação, a Fundação Bill e Melinda Gates doou oito bolsas de estudo no ano passado para cientistas e engenheiros com o objetivo de inventarem um vaso sanitário que poderia funcionar sem água encanada, sistema de esgoto ou eletricidade. O vaso também deveria custa menos de 5 centavos de dólar por dia para operar. Com o financiamento, os cientistas trabalham para utilizar processos como a evaporação, combustão, a pirólise (reação de decomposição que ocorre pela ação de altas temperaturas) e a digestão anaeróbia de microrganismos para transformar os resíduos dos banheiros em três recursos essenciais: água, fertilizantes e combustível. Assim como a separação entre plástico, papel e todos os outros materiais recicláveis torna a reciclagem mais eficiente, o simples fato de isolar a urina das fezes faz com que a produção de fontes de energia, fertilizantes e água estéril (que pode ser utilizada para irrigação) seja mais eficaz. Na Europa, já é comum encontrar vasos sanitários que separam a urina das fezes. Agora, os cientistas projetaram um banheiro para separar as áreas sem água corrente, o que inclui uma bomba de mão para operar tubos que eliminam os resíduos indesejados. O recipiente da urina possui apenas um destino: a evaporação. O xixi é aquecido pela câmara de combustão e evapora (1 litro de urina requer 620 calorias para evaporar), deixando para trás sais e nutrientes. O nimar 2014 revista do meio ambiente

produz água, adubo e energia trogênio, o fósforo e o potássico acabarão fazendo parte do fertilizante. A água, condensada, é coletada em um tanque vizinho. As fezes passam por três processos: a combustão, a pirólise e a digestão anaeróbia. No primeiro, são misturadas a materiais como cinzas resultantes da combustão da madeira, cascas de arroz e terra para secar antes de serem queimadas na já mencionada câmara de combustão. Desse processo, resultam cinzas, úteis como fertilizante, e calor, que será aproveitado para a produção de energia. Na pirólise, as fezes são secas e então aquecidas em uma câmara livre de oxigênio a quase 550°C. Com isso, cria-se o “biocarvão” (conhecido internacionalmente como “biochar”), um carvão de alta qualidade que é capaz de agir como uma esponja para absorver nutrientes do solo. O monóxido de carbono e o hidrogênio da combustão também são utilizados como fonte de energia. A última e mais complexa fase é a da digestão anaeróbia. Uma bactéria anaeróbia decompõe as fezes em nutrientes e ácidos orgânicos, tais como o vinagre, que pode ser transformado em metano ou em gasolina. O resíduo indesejado é filtrado por uma ultra-membrana, transformando-o em um líquido estéril adequado para a fertilização. Os microrganismos presentes convertem as sobras em metano – próprio para a produção de energia. A outra alternativa da digestão anaeróbia envolve o iodofórmio, substância usada como antisséptico em hospitais, interrompe a produção de metano. A água e os sais são separados e uma quantidade de calcário é adicionada e então aquecida. A adição de gás hidrogênio produz álcool isopropílico, que, ao passar pelo catalisador de argila, vira gasolina. A gasolina se soma ao metano, o monóxido de carbono, o hidrogênio e o calor – resultado dos demais processos – para a produção de energia. Essa energia, por sua, vez, é o que alimenta e aciona a evaporação no reservatório de urina. E o ciclo se reinicia. Fonte: PopSci



texto Elton Alisson, de Chicheley, Inglaterra

28 especial: dia da água

Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a

origem da água na Terra Resultados do estudo foram apresentados no encontro científico UK-Brazil-Chile Frontiers of Science, realizado no Reino Unido pela Royal Society, Fapesp e pelas academias Brasileira e Chilena de Ciências (Nasa) Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norteamericana (Nasa), desenvolveram um modelo mais preciso para determinar a origem da água e da vida na Terra. Realizado no âmbito do projeto de pesquisa Dinâmica orbital de pequenos objetos, apoiado pela Fapesp, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The Astrophysical Journal, da Sociedade Americana de Astronomia, e apresentado no dia 24 de fevereiro no UK-Brazil-Chile Frontiers of Science. Organizado pela Royal Society, do Reino Unido, em conjunto com a Fapesp e as Academias Brasileira e Chilena de Ciências, o evento ocorreu no fim de fevereiro em uma propriedade da Royal Society em Chicheley, vilarejo do condado de Buckinghamshire, no sul da Inglaterra. E teve como objetivo fomentar a colaboração científica e interdisciplinar entre jovens pesquisadores brasileiros, chilenos e do Reino Unido em áreas de fronteira do conhecimento. “Desenvolvemos um modelo em que analisamos todas as possíveis fontes espaciais de água e estipulamos qual seria a provável contribuição de cada uma delas na quantidade total de água existente hoje na Terra”, disse à Agência Fapesp Othon Cabo Winter, pesquisador do Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp de Guaratinguetá e coordenador do estudo. De acordo com Winter, até recentemente se acreditava que os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água existente hoje no planeta. Simulações computacionais da quantidade de água que esses objetos celestes compostos de gelo podem ter fornecido para a Terra – baseadas em medições da quantidade de deutério (o hidrogênio mais pesado) da água deles – revelaram, no entanto, que os cometas não foram as maiores fontes. E que eles não poderiam ter contribuído com uma fração tão significativa de água para o planeta como se estimava, explicou Winter. “Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%”, disse o pesquisador. “Mais do que isso é pouco provável”, afirmou Winter. No início dos anos 2000, segundo o pesquisador, foram publicados estudos internacionais que sugeriram que, além dos cometas, outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteroides carbonáceos – o tipo mais abundante de asteroides no Sistema Solar –, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar. A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteroides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteroides) que entraram na atmosfera terrestre.

mar 2014 revista do meio ambiente

Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar. Essa “nova” fonte, no entanto, ainda não tinha sido validada e incluída nos modelos de distribuição de água por meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides e os cometas. “Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolvemos e avaliamos qual a contribuição de cada uma dessas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra”, detalhou Winter. Simulações computacionais Segundo Winter, a água de cada uma dessas possíveis fontes para a Terra possui uma quantidade diferente de deutério – que pode ser utilizado como um indicador de origem da água. O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse “certificado de origem” da água encontrada na Terra, por meio de simulações computacionais. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta terrestre, uma vez que a contribuição de cada uma delas foi feita em períodos diferentes. “A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas”, detalhou Winter. Os resultados das simulações feitas pelos pesquisadores também indicaram que grandes planetas, com grandes quantidades de água, como a Terra, podem ter sido formados entre 0,5 e 1,5 unidade astronômica – entre 75 milhões e 225 milhões de quilômetros de distância do Sol. “Essa faixa de distância do Sol, que nós chamamos de ‘zona habitável’, permite ter água no estado líquido”, disse Winter. “Fora dessa região é muito frio e a água ficaria congelada. Já mais próximo do Sol é muito quente e a água seria vaporizada”, explicou.


DLR German Aerospace Center [CC-BY-2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/2.0)], via Wikimedia Commons

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Sonda rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/churyumov-gerasimenko

As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de meras colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários), afirmou Winter. “As informações parciais da possível contribuição de cada uma dessas fontes já existiam. Mas, até então, não tinham sido reunidas em um único modelo e não havia sido determinado quando e quanto contribuíram para a formação da massa de água na Terra”, disse. Importância de corpos menores Winter destacou em sua palestra na Inglaterra a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature. O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide “1999JU3” em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020. Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra. Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro. “Nunca foi realizada uma missão para um sistema de asteroides desse tipo”, disse Winter. “Todas as missões foram feitas para observar um único asteroide”, afirmou. Ao explorar asteroides e cometas, em missões como essas, é possível explicar melhor as condições de formação da Terra e a aparição da vida no planeta, explicou o pesquisador. “Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação”, disse Winter. Um dos desafios para disponibilizar esses preciosos materiais geológicos para estudos científicos, contudo, é não apenas coletar, mas realizar uma curadoria cuidadosa das amostras, assegurando a gravação e o arquivamento de diversas informações relacionados a cada uma das espé-

Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação. (Othon Cabo Winter, Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp)

cimes, tais como as circunstâncias nas quais foram coletadas e os resultados de análises, destacou Caroline Smith, curadora da coleção de meteoritos do Museu de História Natural de Londres, na palestra que proferiu após Winter. De acordo com Smith, os meteoritos começaram a ser estudados cientificamente no final do século XVIII por cientistas como o físico alemão Ernest Chladni (1756-1827). O Museu Britânico começou a sua coleção de meteoritos 50 anos após ser fundado, em 1753, contou Smith. Desde então, com as amostras colhidas por missões realizadas por agências espaciais de diversos países, as coleções de instituições, como a do Museu de História Natural de Londres, têm se expandido muito rapidamente. “Em 1961 havia, aproximadamente, 2.100 meteoritos conhecidos, dos quais 40% possuíam o registro do momento e do lugar onde caíram”, disse Smith. “Em contrapartida, hoje, há 48 mil meteoritos conhecidos e apenas 2,4% têm o registro da queda”, contou Smith. O número cada vez maior de amostras de meteoritos coletadas e os estudos científicos realizados a partir deles têm imposto grandes desafios às equipes de curadoria desses objetos dos museus, avaliou a pesquisadora. “Alguns dos nossos atuais dilemas é manter o acesso à coleção e, ao mesmo tempo, preservar os meteoritos para as futuras gerações”, afirmou. Fonte: AgênciA FAPeSP.

o artigo A compound model for the origin of Earths’s water (doi:10.1088/0004-637X/767/1/54), de winter e outros, pode ser lido no The Astrophysical Journal em iopscience.iop.org/0004-637X/767/1/54/article revista do meio ambiente mar 2014


10 intrigantes fatos sobre

NASA / JPL

texto Jonatas Almeida da Silva

30 especial: dia da água

A ÁGUA da Terra

Listamos alguns dos fatos mais interessantes sobre esse líquido e o papel que desempenha em nosso planeta

Se alguém pergunta: “qual é a substância mais importante que existe?”, a resposta mais óbvia é “a água”. Não só ela é diretamente responsável pela nossa existência, como perfaz a maior parte do corpo humano – precisamos dela para sobreviver. Com base em quão abundante parece ser, é fácil esquecer que na maioria das vezes é um dos recursos mais escassos (pelo menos quando se trata de água potável), ainda mais quando deixamos a atmosfera da Terra rumo a imensidão do espaço. Confira uma lista com alguns dos fatos mais interessantes sobre esse líquido e o papel que desempenha em nosso planeta: 1) A Terra não tem tanta água quanto provavelmente você acha que tem É fato que mais de 70% da superfície da Terra é coberta por água; o Oceano Pacífico, sozinho, cobre metade do globo. No entanto, na maior parte da superfície, ela não passa de uma película relativamente fina. Um estudo recente publicado pela U.S. Geological Survey (Serviço Geológico dos EUA) mostra que se reuníssemos toda a água da Terra (oceanos, rios, lagos, lenções freáticos e calotas de gelo) em uma única esfera, ela teria um diâmetro de 1.384 km, um pouco mais que a distância do Rio de Janeiro – RJ a Salvador – BA, ou o tamanho de um planeta anão como o Sedna (um dos muitos objetos trans-netunianos), e teria um volume de 1,386 bilhão de quilômetros cúbicos. Além disso, a quantidade de água doce é muito menor: sua esfera teria um diâmetro de 272,8 km – 4 vezes menor em diâmetro e 50 vezes menor em volume. Essa segunda esfera inclui as geleiras. A terceira esfera, com apenas lagos de água doce e rios, teria uns 90 km de diâmetro. mar 2014 revista do meio ambiente

Lua Europa, de Júpiter: o núcleo é rodeado por um invólucro de rocha, rodeado por uma camada de água em gelo ou em forma líquida (mostrado em azul e branco

2) A lua Europa tem mais água que a Terra Antigamente, os astrobiólogos achavam que a Terra era a maior fonte de água do sistema solar, algo hoje reconhecido como falso. Quando na década de 90 a sonda Galileu investigou o sistema de luas de Júpiter, descobriu que uma delas tinha uma massa de água maior que o esperado. A notícia repercutiu pelo mundo e, de uma gélida lua, Europa se tornou uma sensação no mundo dos astrobiólogos como potencial morada para a vida extraterrestre. Sua água está na forma de uma espessa crosta de gelo rachada, onde podem se formar lagos subglaciais perto da superfície, parecidos com o famoso lago Vostok, explorado na Antártida. E os estudos indicam também um oceano colossal de água líquida abaixo da crosta de gelo. Mesmo sendo menor que a lua e umas 50 vezes menor que a Terra, toda a água de Europa daria uma esfera de 1.754 km, duas a três vezes maior que toda a massa líquida da Terra. Outros mundos parecem ter ainda mais. Titã, lua de Saturno, teria uma massa maior de água que a Terra e Europa, enquanto o planeta Netuno poderia ter em seu manto uma massa colossal de vários planetas Terras em forma de água, segundo modelos teóricos para a estrutura dos gigantes gasosos distantes. No sistema solar exterior, a presença de água em mundos como luas e planetas anões não é uma pequena fração como na Terra, mas tão ou mais substancial que a própria rocha. 3) Nosso abastecimento de água veio provavelmente de cometas e asteroides Não temos uma resposta exata sobre a origem da água na Terra, mas o modelo científico mais aceito indica que ela veio por um bombardeio de cometas. Neste cenário, a primeira parte da história é que muito de nosso abastecimento de água existiu no período de formação dos planetas, quando o material que os compõe começou a se fundir no disco protoplanetário do sistema solar em formação ao redor do jovem sol. Enquanto planetas rochosos se formavam no sistema solar interior, o calor das rochas fundidas teria feito todas as massas de água evaporarem e escaparem da gravidade para o espaço, se aglutinando na forma de cometas e asteroides – no fim, a gravidade dos planetas se encarregou de arremessá-los para longe do espaço planetário, onde permaneceram inertes por bilhões de anos. A segunda parte vem no Intenso Bombardeamento


31 Tardio, quando um fenômeno gravitacional iniciou um processo de envio de muitos desses objetos gelados na direção do sistema solar interior, tendo muitos deles caído na Terra. Com isso, uma massa imensa de água se formou em nosso planeta, com a ajuda da pressão atmosférica da Terra. Boa parte dos materiais orgânicos daqui provavelmente vieram para a Terra da mesma maneira, dando origem à vida. 4) Micrometeoritos caem na Terra sobre a forma de chuva Estima-se que em torno de 10 mil toneladas de micrometeoritos caem na Terra todos os dias, sendo muitos deles pequenos pedaços de rocha por vezes com pequenas frações de ferro, que cruzam nosso caminho. Acredita-se que a maioria desses pequenos viajantes, que consiga sobreviver ao atrito com a atmosfera que incinera objetos entrantes, acaba ficando presos na atmosfera superior e passe realmente a fazer parte dela. Em um dado momento, eles se misturam com o vapor de água, aglomerandose e depois caindo sobre a superfície na forma de chuva. Então, na próxima vez que molhar-se numa chuva de verão, saiba que pode estar em contato com bilhões de pequenas partículas de poeira estelar, restos da formação planetária, talvez pedacinhos de Marte ou da lua. 5) Há mais de 10^30 vírus nos oceanos do mundo Através de sua pesquisa, Curtis Suttle (da Universidade de British Columbia) passou um tempo significativo a contar fisicamente o número de vírus localizados em várias partes do oceano. Em última análise, ele concluiu que cada litro de água do mar contém cerca de 3 bilhões de vírus. Considerando o fato de que os geólogos estimam que o oceano contém cerca de 1,3×1021 litros de água, devemos ter cerca de 4 E 30 (4 seguido de 30 zeros) vírus ao todo. Uma curiosidade é que se pudéssemos empilhar esse número colossal de seres microscópicos, cobriríamos algo como 10 milhões de anos-luz – uma medida mais que astronômica, galáctica. Uma ano-luz equivale a 9,46 trilhões de km. A nossa galáxia, a Via Láctea, tem 100.000 anos-luz de diâmetro. 10 milhões de anos-luz daria o diâmetro do Grupo Local de Galáxias, que abrange 35 galáxias, entre elas a nossa. 6) A vida pode sobreviver em regiões “inabitáveis” do fundo do mar A maioria de nós mantém uma boa ideia das variáveis necessárias para nossa sobrevivência – água, alimentos, oxigênio, luz solar… – tudo isso geralmente considerado imperativo para a nossa forma de vida. Imagine a surpresa dos biólogos quando vida foi descoberta ao explorarem alguns dos mais profundos lugares de nosso planeta, onde as condições são mais adversas que quaisquer outras localidades já vistas. As formas de vida encontradas são comparáveis a potenciais formas alienígenas. Algumas delas, como os vermes-tubo, são criaturas de três metros de comprimento, sem olhos, bocas ou intestinos. Outros, como bactérias que forma encontradas dentro de fontes hidrotermais, vivem a mais de 2.000 metros abaixo do nível do mar – onde não só há ausência de luz solar, como a pressão é substancialmente maior do que se poderia experimentar na superfície, e as temperaturas podem exceder os 400 graus Celsius. Para sobreviver, algumas formas de vida extraem energia a partir do sulfeto de hidrogênio proveniente das fontes hidrotermais, num processo chamado “síntese química”. Na parte mais profunda do oceano, na Fossa das Marianas, além de outros seres foi encontrada uma peculiar ameba gigante, com 10 centímetros. Esses seres vivem a quase 11 quilômetros de profundidade com uma pressão 1.100 vezes maior que a da atmosfera ao nível do mar. A vida nesses extremos obscuros tem sido uma grande esperança para a procura por formas de vida extraterrestre em mundos com oceanos obscuros como Europa, a lua de Júpiter citada no item 9.

7) Há mais moléculas em um litro de água que litros de água no oceano Se você despejasse uma garrafa de água no oceano, e viajasse para o outro lado do mundo para pegar água do oceano com essa mesma garrafa, qual a chance de pegar ao menos uma molécula da mesma água que despejou anteriormente? Provavelmente nula, dada a imensa quantidade de água em um oceano. Na verdade, as chances são muito boas (na casa dos dígitos quádruplos) de que você não só encontre uma molécula idêntica de água: cerca de 8.000 exatamente. Mas como? Um litro de água tem um monte de moléculas nele. Na verdade, há mais moléculas em um litro de água do que litros de água em todos os oceanos da Terra. Por conta disso, as chances são boas de encontrar não apenas uma, mas dígitos quádruplos de moléculas idênticas (cerca de 8.000). Esses números são discriminados em: http://scientificbritain. com/post/16341336713/a-pint-of-ocean-letssay-you-poured-a-pint-of. Importante lembrar que isso é apenas um teste de lógica numérica, que não deve ser levado ao pé da letra. 8) Algumas das moléculas de água que consumimos já foram bebidas por dinossauros Como vimos desde as séries fundamentais, a água tem um ciclo bastante complexo: é consumida por seres vivos, devolvida a terra, evaporada, forma nuvens, precipita nas chuvas – obviamente, isso não é tudo, mas é um bom resumo do que acontece. Isso essencialmente significa que a água é constantemente reciclada. No entanto, as moléculas por si próprias mudam de estado (sólido, líquido e gasoso) o tempo todo. Embora, como na fotossíntese ou na radiação, elas possam ser separadas em suas partes constituintes – hidrogênio e oxigênio, na maior parte das fases dos ciclos, elas permanecem as mesmas, e já encontramos vários leitos de rios antigos que contém moléculas de água com milhões de anos de idade, quando dinossauros ainda andavam por aí. Uma vez sabido que moléculas são pequenas e numerosas, passam por vários ciclos e processos na natureza, podemos calcular a quantidade de água que herdamos da época dos dinossauros. Segundo os cientistas, as plantas consomem 12 trilhões de quilos de água por ano, de uma quantidade de 1.400 bilhões de bilhões de quilos; assim, a maioria das moléculas de água é separada a cada 100 milhões de anos. Considerando que a distância entre nós e os dinossauros é 65 milhões de anos, as estimativas dizem que mais da metade das moléculas de revista do meio ambiente mar 2014


nossa água (uns 57%) eram ingeridas por eles. Ou, para quem preferir, algumas das moléculas mais recentes em seu copo d’água passaram através da bexiga de Einstein, Shakespeare, Cleópatra, Issac Newton e talvez até Confúcio. 9) Se a Terra parasse de girar, toda a nossa água iria para os pólos Entre outras coisas terríveis que aconteceriam se a Terra parasse de girar, toda a água se acumularia nos pólos. Isso aconteceria porque a migração oceânica cessaria, e toda a água se deslocaria da parte equatorial para as polares. A rotação é um elemento fundamental da formação planetária, pois equilibra o campo magnético e dá movimento as massas oceânicas e atmosféricas. Dois super oceanos nos pólos gélidos e sem chão pra pisar, e equador seco de um lado pelo calor solar, e congelado do outro por uma noite de meio ano é o que uma Terra sem giro causaria. 10) Super barragens podem frear a rotação da Terra Talvez alguns não achem o assunto mais interessante dessa lista, mas certamente é de grande importância. É necessário uma discussão em torno dos impactos ambientais de algumas tecnologias modernas. Durante os últimos 40 ou 50 anos, temos visto uma concentração significativa em formas de geração de energia. Um avanço que tem sido massivo está na forma de barragens hidrelétricas, que apesar de geralmente caras, são uma fonte de energia limpa. A princípio, parece um bom investimento, mas logo surgem preocupações surpreendentes, como o fato de que elas podem alterar a rotação orbital do planeta. O maior exemplo é a Three Gorges Dam, Barreira das Três Gargantas, na China. É uma barreira peso-pesado que, quando cheia, contém 42 bilhões de toneladas de água – um volume de 39 km³, na capacidade total. Esta grande mudança na distribuição de massa em relação à rotação da Terra tem aumentado o tempo de um dia em 0,06 microsegundos. Isso com apenas essa barreira, sem contar as outras superbarragens que existem no globo. Certamente, 60% de um microsegundo não parece muito, mas a soma futura de várias barragens operantes simultaneamente pode trazer consequências maiores. Associadas a outros fenômenos naturais responsáveis pela gradual freagem da rotação, como o afastamento da lua, esses números podem passar a ser significativos. Fonte: FromQuarksToQuasar / Hypescience

mar 2014 revista do meio ambiente

De onde vem o “cheiro

de chuva”?

Dupla de pesquisadores da Austrália resolveu analisar a origem do “cheiro da chuva” Difícil de descrever e fácil de lembrar, o “cheiro de chuva” faz parte da história de muita gente – e, acredite se quiser, é estudado por cientistas há pelo menos 49 anos. Em 1964, depois de ler na revista Nature um artigo sobre o tema, uma dupla de pesquisadores da Austrália resolveu analisar a origem do “cheiro da chuva”, e chegou até mesmo a criar um termo específico para ele: petricor (algo como “fluido eterno de pedra” em grego – logo vocês vão saber o porquê do nome). Para o espanto de muitos, os autores concluíram que o “cheiro da chuva” vem, na verdade, da terra. Um de seus ingredientes é um óleo secretado por certos tipos de planta durante períodos secos (essa substância diminui a germinação de sementes, uma possível estratégia das plantas para eliminar “competição” durante escassez de água). Quando passa muito tempo sem chover em uma região, esses óleos se acumulam no solo, e são liberados quando a chuva o atinge – é por isso que o cheiro é mais forte no primeiro dia de chuva depois de um período de seca. Outro ingrediente é a geosmina (nome que pode ser traduzido do grego como “perfume da terra”), uma substância química produzida por bactérias chamadas actinomicetos. Ao produzir esporos, os actinomicetos liberam geosmina, que é lançada no ar quando chove. Existe, ainda, um terceiro ingrediente, que normalmente aparece durante tempestades: ozônio, produzido (nesse caso) em uma série de reações iniciada por fortes descargas elétricas na atmosfera. O cheiro é parecido com o de cloro, e às vezes é possível senti-lo antes de a tempestade chegar na sua região porque o ozônio é facilmente deslocado. Por fim, temos a acidez da chuva, consequência de produtos químicos na atmosfera – especialmente forte em centros urbanos. A chuva cai, entra em contato com poluentes, atinge o solo e pode provocar reações químicas, o que resulta em um “cheiro de chuva” menos agradável que o normal. Fonte: HypeScience / Smithsonian / HowStuffWorks / Brown University

Housey21 (sxc.hu)

texto Jonatas Almeida da Silva

32 especial: dia da água


7 coisas tóxicas Muita gente não pensa duas vezes em jogar no lixo algo que parece não prestar. O problema é que o lixo não é um sumidouro, ele é a primeira parada de algo que foi descartado. Substancias tóxicas contidas no nosso lixo podem ser muito prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Veja abaixo uma lista de 7 coisas que deveriam ser destinadas com cuidado.

Óleo de motor Não só o óleo de motor, mas também o óleo de cozinha podem entupir tubulações de esgoto e atrapalhar os processos de tratamento de água e esgoto das empresas de saneamento. Além disso, óleo de motor derramado no chão pode contaminar águas subterrâneas. “Um galão de óleo pode contaminar um milhão de galões de água pura”, explica a representante do site Earth911, Jennifer Berry. A maneira correta de se livrar do óleo é colocá-lo em uma garrafinha com tampa e levar para centros de reciclagem, postos de gasolina ou oficinas de carros. Eletrônicos Um problema que o mundo está tendo que lidar atualmente é o lixo eletrônico, mas não aquele spam que você recebe por e-mail, mas a quantidade de aparelhos de TV, DVD, computadores, celulares, câmeras, impressoras, videogames, iPods que são jogados por aí. Alguns países da Europa e os EUA produzem tanto elixo que precisam mandar para outros países. “Estes objetos contêm metais pesados como cádmio e chumbo que podem contaminar o meio ambiente”, disse Jennifer. É melhor encontrar alguém que esteja precisando destes aparelhos e fazer uma doação. Tinta Tintas à base de óleo, revestimentos, corantes, vernizes, removedores de tinta são lixos extremamente perigosos porque contêm produtos químicos que podem ser prejudiciais a humanos, animais e ao meio ambiente. Eles nunca devem ser jogados no lixo ou em ralos. Latas que não foram usadas devem ser estocadas com cuidado ou devolvidas, ou você pode doar para escolas ou organizações.

Marcel Hol (sxc.hu)

Substâncias tóxicas contidas no nosso lixo podem ser muito prejudiciais à saúde e ao meio ambiente

Daniel R. Blume (Flickr cc 2.0)

que você não deveria jogar no lixo

texto Remy Melina tradução Letícia Resende (HypeScience)

lixo & reciclagem 33

Pilhas, baterias, tintas e vernizes não devem ser jogados no lixo tradicional, muito menos nas lixeiras de reciclagem

Pilhas e baterias Diferentes tipos de baterias devem ser destinadas de diferentes maneiras, mas nenhuma delas deve ser jogada no lixo tradicional, nem nas lixeiras de reciclagem. Elas devem ser destinadas para reciclagem. Muitas lojas têm lixos especiais para pilhas. Elas contêm materiais tóxicos e corrosivos, por isso devem ser descartadas com cuidado. A bateria do carro também faz parte deste grupo. Lâmpadas Lâmpadas fluorescents contém minúsculas partes de mercúrio (cerca de 5 mg) que podem vazar caso ela se quebre. Por isso, elas devem ser descartadas em lugares que recolham lixo tóxico. Detector de fumaça Este aparelho não é muito comum no nosso dia-a-dia, geralmente os vemos em hospitais ou hotéis, mas eles também são tóxicos. Os dispositivos contêm uma quantidade pequena de radiação para detecção da fumaça. É extremamente importante que não sejam atirados em qualquer lixeira. Deve-se retirar suas pilhas (que também devem ser encaminhadas, como dito anteriormente) e, em seguida, devolvê-lo ao fabricante. Termômetros Os termômetros tradicionais contêm em média 500 mg de mercúrio e representa um risco à saúde em caso de quebra, principalmente para mulheres grávidas e crianças, porque prejudica o crescimento do sistema nervoso do bebê e dos pequenos. É preciso mandá-lo para o lixo tóxico. Fonte: LifesLittleMysteries

revista do meio ambiente mar 2014



PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes

O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços, Equipe do programa Reclamar Adianta

Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes Ouça também pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito) atilanunes@reclamaradianta.com.br atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURO

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144 E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br


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ano IX • ed 69 • março 2014

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