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A view from the perspective of Faith
O amor
«O Verbo de Deus, por quem foram feitas todas as coisas, Ele próprio feito homem entrou como homem perfeito na história do mundo, assumindo-a É Ele que nos revela que Deus é Amor» (Gaudium et spes, 38)
Em Cristo Jesus, nós, cristãos, reconhecemos «a imagem visível de Deus invisível» (Cl 1, 15). Por meio d’Ele vislumbramos, tanto aquilo que Deus é, como aquilo que nós, seres humanos, somos chamados a ser: plenitude de recetividade e de doação. Na doação total de Deus em Jesus e de Jesus em Deus manifesta-se o mistério «do qual todos recebemos graça sobre graça» (Jo 1, 16).
No princípio só era Deus e Deus é amor Amor que é um comunicar-se, um dar-se e, nessa autodoação, dá origem à criação, ao universo inteiro A nossa existência só se pode compreender sendo nós criaturas de Deus Criaturas fruto do amor de Deus
O Ser uno e único comunica-se a nós desde o mais profundo de si mesmo, como Fonte original (Pai), como Recetáculo com capacidade de acolher (Filho) e como Fluxo constante de devir, para deixar que os seres advenham, nasçam para si mesmos (Espírito) Somos convidados a participar desta relação, sem que em momento algum tenhamos deixado de estar nela Em Deus está contida toda a realidade Não existe realidade fora de Deus

No seu amor por nós, o Deus de Jesus Cristo quis revelar-se ao ser humano e fê-lo nesse antes e nesse depois, ali, na história, onde os afetos e as atuações se tornam episódios. O Deus eterno e omnipotente decide fazer-se história para nos convidar a travar um diálogo pessoal com Ele. O universo inteiro foi criado para que esse diálogo possa existir, ou seja, para que cada resposta nossa a Deus seja apaixonadamente aguardada e, depois, respeitada por Ele
«Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua morada, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20). «Estar à porta» significa esperar e não existe espera sem tempo Mas o que é que Deus espera? Nada senão o bom acolhimento do seu interlocutor, o homem: entrar, sentar-se à mesa e cear com ele E o homem, com a sua resposta positiva, «ceará com Deus» A ceia comum torna igual a importância dos comensais e, nessa igualdade, Deus espera que modifiquemos a nossa atitude para com Ele, para com o mundo e para com todos os homens, de modo especial para com os mais desprotegidos
Jesus, sendo Filho de Deus no plano eterno, fez-se filho, no plano humano, para despertar em nós a capacidade de nos reconhecermos capax Dei, capazes do amor, criados para receber o Deus que se entrega, destinados a converter-nos no conteúdo em vista do qual fomos feitos recipientes

A interiorização de Cristo Jesus em cada um de nós converte-se-se na sua encarnação contínua, tal como é contínuo o ato criador de Deus
A experiência de sermos amados abre-nos à possibilidade de amar «Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor» (1 Jo 4, 8) Escreve Santo Agostinho, na sua obra De Trinitate (PL 42, 957-958): «Estás a pensar o que Deus é ou como será Para que possas saborear alguma coisa, capacita-te de que Deus é amor, esse mesmo amor com que amamos Que ninguém diga: «Não sei o que é que estou a amar» Basta que ame o irmão e amará o próprio amor Porque, na realidade, uma pessoa conhece melhor o amor com que ama o irmão do que o irmão a quem ama. Porque nesse amor tens Deus, a quem conheces melhor do que ao próprio irmão. Muito melhor, porque está mais presente, mais próximo, mais seguro».
Em nós, seres limitados, quando amamos, Deus «habita» ou, se o preferirmos, quem ama «nasce de» Deus, é de Deus, de um modo filial Este dom do amor de Deus torna-nos semelhantes a Ele, para sermos seus interlocutores e cocriadores no seu plano de humanizar a criação.
Agiremos como Deus se Ele nos mover a assumir a mesma atitude que pôs em movimento o amor divino: a autodoação plena e gratuita.
Estamos inseridos no ser de Deus Aí nos criou o Amor, para que, estando n’Ele e tendo a experiência do Amor, possamos amar. Amar de forma real, da forma que conhecemos, com as nossas próprias limitações
Deus permanece em nós… Temos o incriado, o todo-poderoso, o absoluto… dentro de nós Não temos uma graça ou uma dádiva qualquer, um dom divino que nos foi dado por Deus Ele mesmo está imerso na nossa existência Ele é o seu próprio dom para nós.
Perante semelhante oferta, não ficarei agradecido?
Para aprofundar. Recursos. Anexo dois: «No meio de tormentas… Somente o amor».

