Ponto

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ESTE não É UM JORNAL

IGUAL AOS

OUTROS

PONTO.



18 de dezembro de 2013 Edição nº1

www. http://ppontojornal.wix.com/ponto

PONTO.

2013 São José Correia: “Fui ao teatro pela primeira vez na escola e odiei!” /Entrevista pag.12

É conhecida como uma atriz das atrizes mais ousadas de Portugal. São José Correia recebeu-nos de pés descalços e espírito aberto, no final de uma tarde de preparativos para o monólogo “Worms”. Segura e genuína, não teve problemas em deixar-nos espreitar o seu percurso como atriz e as suas convicções.

Vender o fora cá dentro: Multiculturalismo na cidade do Porto

António Zambujo: “o tão tão que tem tem tem”

/Reportagem pag.16

/Cultura pag.24

O comércio multicultural está espalhado um pouco por todo o Porto. Trazem à cidade um vislumbre de cada continente, mas sem ajudas do Governo Português. Algumas lojas já fecharam portas, outras continuam a enfrentar as dificuldades para trazer o estrangeiro a Portugal.

Não chegou de lambreta ou barco à vela, mas aceitou falar com o Ponto no final de uma noite de concerto no Centro Cultural de Ílhavo. É um “saudável desrespeitador de fronteiras” e não se dá bem com etiquetas. António Zambujo conquistou o mundo com a sua música e pôs Portugal inteiro a trautear o seu último álbum, “Quinto”.

Eles foram os reis do desporto em 2013 /Desporto pag.26

A Política dos jovens /Política pag.10

Quatro vinhos portugueses nos melhores de 2013 /Economia pag.16


foto da semana

PONTO. Diretor Luís Martins Diretor de Multimédia Telma Parada Chefe de Redação Fabiana Queirós Oliveira Editor de Política José António Pereira Editor de Economia Fabiana Queirós Oliveira Editor de Sociedade José António Pereira Editor de Internacional Rita Salomé Esteves Editor de Desporto

Hector Retamal 1 de dezembro de 2013

Luís Martins

Uma mulher vestida de fada desfila na Paris Parade, na Alameda Avenue em Santiago do Chile, durante as celebrações de Natal.

Editor de Cultura Telma Parada Fotografia

Editorial

Fabiana Queirós Oliveira José António Pereira Luís Martins Rita Salomé Esteves Telma Parada Infografia Fabiana Queirós Oliveira Rita Salomé Esteves Telma Parada Grafismos Rita Salomé Esteves Telma Parada Colunistas Convidados Sandra Sá Couto António Bacelar Miguel Carvalho Paulo Pereira Francisca Carneiro Fernandes Redação, Administração e Serviços Administrativos Rua Gonçalo Cristóvão, nº356 5ºD Impressão Qualquer Ideia Rua do Campo Alegre, nº263 Porto

S

Tudo aconteceu no ano que não ia acontecer

e, em janeiro, me tivessem dito que este ano seria tão atribulado como, efetivamente, foi, teria desacreditado brutalmente. As conversas de café, de banco de jardim e de entrada de faculdade sobre a crise, o desemprego e a incerteza generalizada já não se têm de coração na boca. Se, em janeiro, me tivessem dito, num desses lugares, que este seria um ano atribulado, não teria ouvido sequer. Agora, aos trezentos e quarenta e tal dias que damos de avanço a 2012, não tenho memórias de um ano tão caótico. Pode este ser um sinal de incrível ingenuidade ou de uma memória sempre débil, mas, na verdade, tudo aconteceu neste 2013. O mundo transformou-se num monumental epitáfio. A história internacional do século passado despertou com a morte de quatro grandes nomes, três dos quais grandes líderes. Mas não são tão conhecidos os milhares de rostos que se perderam, escondidos sob os sacos de plástico pretos que as televisões não se chocam em transmitir. Longe vãos os tempos em que um vislumbre de um cadáver era suficiente para se cortar de imediato um telejornal… Depois de décadas de transmissão em direto de milhares de desastres com uma frieza quase desumana, depois de um quase descrédito da violência, do horror e da morte, este foi o ano em que o mundo acordou de novo, de olhos bem abertos ao terror.

Fileiras de pequenos corpos alinhados em hospitais improvisados, junto a escombros e cobertos de terra transformaram-se no ponto em que a insensibilidade do jornalismo se viu sem retorno e toda a gente parou para ver e sentir, pelo menos, um rasgo ínfimo de dor. O que faltará à humanidade para se aperceber que a sua cabeça jaz na guilhotina que todos juntos construímos? Já não vale a pena discursar acerca do excesso de informação. Já serve de pouco dissertar sobre as consequências de, a toda a hora, ver sofrer o mundo todo. Agora é tempo de dizerem aos próximos adultos o que fazer com o resquício de sensibilidade que resta ao género humano. Não faltam apelos à mudança, à paz, à luta contra a fome, contra o terrorismo, contra a discrepância de direitos. Canso-me já de ouvir frases de desprezo contra este mundo. Mas certamente o comodismo é mais forte: mascara-se da covardia, de desculpas e do pretexto de não poder fazer nada. Antes covarde que comodista! Entretanto o facebook é, cada vez mais, um antro de falsa adoração ao mundo em que vivemos e de homenagens a “ídolos” cujas caras nem sequer se conhecem. Descansem em paz todos os que continuam a não morrer… Este ano foi, também, o ano de quebrar hábitos

“Longe vão os tempos em que um vislumbre de um cadáver era suficiente para se cortar de imediato um telejornal...”

selados com o lacre da antiguidade. Há meio milénio que São Pedro não via o senhor de branco a abandonar por vontade própria e há mais de meio século que Cuba e a América não se davam a empatias. Podiam ser estes os motes para tréguas mil. Quão bom seria ver, por aí, por qualquer canto, por qualquer escombro, apertos de mão e abandonos deliberados e corajosos. Quão bom seria ver chegar uma mão cheia de Franciscos, de humildade e um quê de loucura em punho para limpar as teias de aranha dos costumes que a pré-história quase viu nascer. No fundo, 2013 foi o ano de, depois de compreender o que falta ao mundo, ver nascer a vontade de o ver mudar. Talvez 2014 seja o ano de ganhar a coragem e 2015 o ano de concretizar. Ou talvez estejamos, para sempre, intrinsecamente abraçados à procrastinação platónica de um planeamento sem fim. Se, em janeiro, me disserem que 2014 vai ser um ano atribulado, hei-de possivelmente olhar, hei-de possivelmente ouvir. O crédito virá depois, para os meados do outono, depois de meses a olhar tragédias pela televisão, depois de ver a vida e a morte rolar-me tantas vezes diante dos olhos que será impossível distinguir, como, aliás, por vezes o é. Talvez cada um de nós tire, de mansinho, a cabeça da guilhotina, com a coragem de ver algo para além de escombro e pó. Talvez continuemos lá, com a lâmina a roçar a pele. Talvez nada de nuclear se mostre, talvez nada de corrupto se esconda… Que sobre um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de choque, um pouco mais de madrugada e da noção de que a humanidade não vive senão como um só.


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Dizia o calendário Maia que o mundo acabava a 21 de dezembro de 2012 com fenómenos catastróficos e de elevada escala. Mas não. O mundo não acabou em 2012 e 2013 chegou como um ano atribulado em diferentes sociedades. Em Portugal, o povo saiu à rua várias vezes em jeito de protesto contra um governo instável marcado por trocas nos cargos dos ministros e nas medidas de austeridade. Austeros foram também os incêndios que, um pouco por todo o país, consumiram mais de 140 mil hecatares de terreno e tiraram a vida a nove pessoas. Pelo mundo, transformações marcantes. Bento XVI resigna o título de Papa e aparece uma nova figura, Francisco, que não liga ao protocolo, mas já é um ícone da Igreja. Em 2013, o mundo foi apanhado de surpresa por mortes de figuras de relevo, como Mandela, o pai da libertação sul-africana, ou Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro” britânica.

2013: o ano que não ia acontecer, aconteceu e em grande.


destaque. política.

Pedro Passos Coelho Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho viveu um ano atribulado, já que foi o alvo central da maioria das manifestações do povo e das acusações da oposição, excluindo as preocupações gerais da gestão de um país num estado tão frágil. Primeiro Ministro desde 2011, Passos Coelho parece ter envelhecido uma década, mas este foi o outono em que, pela primeira vez nos últimos anos, Portugal dá sinais de retoma económica. Será já em 2014 que o Partido Social Democrata se vai preparar para uma reeleição do então Primeiro Ministro, uma vez que, segundo o partido, a crise “reatou” os laços entre Portugal e Pedro Passos Coelho.

“A partir de 2013 todos estaremos mais confiantes de que Portugal terá dobrado o cabo das tormentas” Passos Coelho

#retomaeconómica #oposição #manifestações #PSD

Miguel Relvas

António José Seguro

Ex-ministro da Presidência

Secretário-geral do PS

Miguel Relvas, ex-ministro da Presidência, é um homem que permanece pouco tempo nas “ocupações” que tem. Esteve 2 anos no Governo num mandato que seria de 4 e a sua licenciatura apenas durou 1 ano. É difícil perceber tanta equivalência adquirida, que até o próprio deve ter duvidado, pois não aguentando a pressão demitiu-se. Ponto positivo: não disse que era “irrevogável”, mas manteve a sua posição e na saída alegou condições anímicas, “Saio por vontade própria. É uma decisão tomada há varias semanas conjuntamente com o senhor primeiro-ministro. E saio, apenas e só, por entender que já não tenho condições anímicas para continuar.” da sua decisão.

#licenciatura #demissão

Vítor Gaspar Ex-ministro de Estado e das Finanças Vítor Gaspar começou 2013 como Ministro de Estado e das Finanças. Mas 6 meses foram suficientes para por o cargo em risco, dado que acabou por se demitir a 1 de julho depois da sétima avaliação da troika. Sucedeu-lhe na pasta das Finanças, Maria Luís Albuquerque. Para o ex-ministro a decisão era “inadiável”, uma vez que Gaspar já havia tomado a decisão em outubro de 2012, aquando da contestação à TSU. Já em novembro, Vítor Gaspar foi nomeado, por Durão Barroso, conselheiro da União Europeia.

#TSU #troka #demissão

António José Seguro foi, como Secretário-Geral do Partido Socialista, a maior figura da oposição a Pedro Passos Coelho e ao Partido Social Democrata. Durante 2013, foi variadas vezes acusado de proferir críticas sem fundamento e isentas de soluções. Nas próximas eleições de legislativas, em 2015, será Seguro a representar o PS e, até lá, pretende “ganhar a confiança dos portugueses” não pelo descrédito do principal adversário o atual Primeiro Ministro, mas “por mérito” próprio. ontou a idade avançada e as exigencias físicas e mentais do cargo como base da sua decisão.

#oposição #legislativas

Paulo Portas Vice-Primeiro Ministro Hoje não me apetece mas amanhã talvez… Paulo Portas mostrou-se confuso no início do mês de julho quanto à sua posição no Governo e apresentou a demissão no seguimento da escolha de Maria Luís Albuquerque para Ministra das Finanças. O líder do CDS demitiu-se de consciência tranquila e afirmou que não havia volta a dar, “Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso dizer.”. Surpresa das surpresas… Três dias depois volta atrás na decisão “irrevogável” e a permanência é apontada pelo Prmeiro Ministro como uma das soluções para a crise governamental.

#demissão #irrevogável


5 desporto.

PS vitória a nível nacional

9 golos

149 câmaras

PSD - Grande derrotado

Melhor marcador em fase de grupos da Champions

- 86 câmaras - Ricardo Rio conquista Braga que era PS desde 1976 - Alberto João Jardim tem a primeira derrota eleitoral em 38 anos - perdeu 7 das 11 câmaras que tinha desde 2001

O internacional português passou a ser o melhor marcador de sempre numa fase de grupos da Liga dos Campeões com 9 golos. CR7, neste ano civil, passou Eusébio, igualou o número de golos de Pauleta (47) e caminha para ser o melhor marcador de sempre da nossa selecção. Se ganhar a Bola de Ouro de 2013 ultrapassará Figo e será o jogador português com mais distinções.

cultura.

Independentes - Duas grandes vitórias - Guilherme Pinto na Câmara de Matosinhos - Rui Moreira no Porto

Nas autárquicas de 2013, Rui Moreira sucedeu a Rui Rio na presidência da Câmara do Porto, arrecadando 39,25% dos votos e 5 Junta de Freguesia. Para além disso, o candidato independente consegue seis em 13 vereadores. Embora independente, Rui Moreira candidatou-se com o apoio do CDS-PP. Aquando da vitória, o agora Presidente da Câmara do Porto declarou: “Pela primeira vez, o partido que venceu na cidade foi o Porto.”

sociedade.

Valentim de Carvalho Manteve o negócio do tio e tornou-o numa das editoras discográficas mais procuradas pelos músicos portugueses e não só. Rui Valentim de Carvalho criou estúdios modernos que atraíram a Portugal nomes como Julio Iglésias ou Rolling Stones. Valentim de Carvalho publicou grande parte da produção musical portuguesa e foi o editor histórico de Amália Rodrigues. Tinha 82 anos e sofria de Alzheimer.

11/11

23/09

António Ramos Rosa O poeta responsável por uma das obras mais belas e extensas da língua portuguesa faleceu, no dia 23 de setembro, aos 88 anos de idade. O poeta, natural de Faro, recebeu, em 1988 o Prémio Pessoa e ficou conhecido por obras como Poesia, Liberdade Livre; O Grito Claro e Em torno do Imponderável.


destaque. Bébé Real A 22 de julho, Kate Middleton, Duquesa de Cambridge e esposa do princípe William de Gales, deu à luz um rapaz: George, Princípe de Cambridge. O bebé é o terceiro na linha de sucessão ao trono britânico, depois de Charles e William.

Espionagem Edward Snowden ex agente da CIA denuncia, em junho, em entrevistas aos jornais The Guardian e The Washington Post esquema de espionagem realizado pelo governo norte americano em sistemas de comunicação de todo o mundo. Em agosto, a Rússia oferece-lhe exílio por um ano. Foi em dezembro que os EUA recusaram a aminista a Edward Snowden.

Maratona de Boston Atentado terrorista durante a Maratona, nos Estados Unidos, causa 3 mortos e 176 feridos.

Nicolas Maduro: novo Presidente A 5 de março faleceu aquele que, segundo Fidel Castro, era “o melhor amigo que o povo venezuelano podia ter”. Aos 58 anos, Hugo Chávez, não resisitiu ao cancro e acabou por falecer num hospital militar em Caracas. Depois de 14 anos à frente do governo da Venezuela, tornou-se na personagem política “mais honesta” e “mais direta” que o país encontrou. Sucedeu-lhe Nicolás Maduro, após Chavez ter apelado aos venezuelanos a votar naquele que era, então vice-presidente.

08/04

Margaret Thatcher Não foi pioneira, mas foi das poucas a assumir o cargo de primeira-ministra nos tempos em que a política era feira por homens. Margaret Thatcher, uma das figuras mais influentes do século XX, aplicou uma revolução conservadora ao declínio do Reino Unido, ganhando o título de Dama de Ferro. Thatcher morreu aos 87 anos, vítima de acidente vascular cerebral.

13/07

Cory Monteith Ator canadiano, ficou conhecido por protagonizar a série da Fox, Glee, no papel de Finn Hudson, apesar de ter pequenas participações em alguns filmes Desde 2011 mantinha uma relação amorosa com a co-protagonista da série, Lea Michelle. Aos 31 anos morreu em Vancouver, Canadá, devido a uma overdose de álcool e heroína.

31/08


7 Queda de Meteorito A 15 de fevereiro, o Meteoro Cheliabinsk, caíu sobre os montes Urais, no centro da Rússia, causando danos em 6 cidades. O impacto e a explosão causaram 1200 vítimas, das quais, 159 crianças. Ao entrar na atmosfera, o asteróide teria um total de 12 toneladas, 19 metros de diámetros e energia equivalente a várias bombas atómicas.

Novo membro da UE Foi em 1993 que a Croácia formalizou o pedido para entrar na UE, apenas uma década depois de pedir a independência da ex-Jugoslávia. O desejo cumpriu-se a 30 de junho, tornando-se, assim o 28º Estado membro. O processo de adesão, custou ao país ajustes a nível legislativo, judicial e administrativo. Para além disso, o governo croata alterou a Constituição e fundou um organismo para combater a corrupção.

Quase guerra nuclear Coreia do Norte ameaça declarar “guerra sem quartel” à Coreia do Sul, ao Japão e aos Estados Unidos da América. “A longa situação na península coreana de não estar em paz nem em guerra acabou finalmente” deixando todos assuntos a ser tratados em “estado de guerra”, Yonhap, agência noticiosa norte-coreana. O país aproveitou a declaração para efetuar o terceiro teste nuclear da sua história.

Massacres na Síria

Primavera Árabe A 30 de junho, os militares egípcios exigiram a saída do presidente do Egito Mohamed Morsi, exatamente um ano depois da sua eleição. Nos primeiros dias de julho, a população revoltou-se, em fações diferentes,pró e contra Morsi. Na noite de 3 de julho , o exército declarou o fim da presidência de Mohamed Morsi e a suspensão da Constituição.

David Frost Jornalista e apresentador de televisão ficou especialmente conhecido pela entrevista feita a Richard Nixon sobre o escândalo de Watergate em que conseguiu que o ex-presidente confessasse alguma da culpa. Faleceu aos 74 anos, vítima de ataque cardíaco a bordo do Queen Elizabeth.

Após vários ataques que vitimaram mais de 1300 pessoas, o exército sírio começou, em agosto, a ser investigado pela ONU por acusações do uso de armas químicas. A investigação deu-se a pedido de 37 países que suspeitam que o exército, leal a Bashar Al-Assad, tenha sido responsável pelos atentados nos subúrbios de Damasco que chocaram o mundo com a morte de dezenas de crianças. Ao lado da Síria, permaneceu a Rússia; juntas defenderam que os ataques foram fruto da ação da oposição.

30/11

Paul Walker Paul Walker, de 40 anos, natural da Califórnia, morreu vítima de um acidente automóvel. Entre muitos papéis, o ator norte-americano era a personagem principal do conjunto de filmes “Velocidade Furiosa” do qual estava a gravar o sétimo filme. As gravações foram interrompidas após a sua morte.

27/11

Lou Reed Cantor, guitarrista e compositor norte-americano, foi considerado, pela revista Rolling Stone o 81º melhor guitarrista de todos os tempos. Vocalista da banda The Velvet Underground influenciou conhecidos nomes do rock mundial. Em julho foi internado com uma desidratação severa e faleceu a 27 de outubro.


destaque. 28/02 Papa Bento XVI renuncia Bento XVI surpreendeu a Igreja com uma decisão inesperada: a renúncia enquanto Papa, a 28 de fevereiro. Joseph Ratzinger foi o primeiro pontífice a a renunciar nos últimos 600 anos. Apesar das especulações, o papa emérito apontou a idade avançada e as exigencias físicas e mentais do cargo como base da sua decisão.

A reunião entre o Papa Francisco e o Papa Emérito Bento XVI aconteceu no dia 23 de março, Castel Gandolfo, e durou cerca de 45 minutos. Depois disso, almoçaram juntos e Francisco regressou ao Vaticano.

...já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro (petrino). Sou consciente de que este ministério, pela sua natureza espiritual, deve ser levado a cabo não apenas por obras e palavras mas também, em

menor grau, através do sofrimento e da oração.

Papa Francisco Eleito o “Homem do Ano” pela revista Time

Após a surpresa do anúncio da renúncia do Papa Bento XVI e da sua saída oficial no final de fevereiro, o Conclave, composto por 115 cardeais eleitores reuniu no dia 12 e 13 de março no Vaticano e não tardou muito a surgir o fumo branco. O nome escolhido era o do Jorge Mario Bergoglio, cardeal-presbítero argentino. Foi o primeiro Papa nascido no continente americano, o primeiro pontífice não-europeu em mais de 1200 anos e também o primeiro jesuíta. Quando na capela Sistina lhe foi perguntado se aceitava a escolha, Francisco respondeu “Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito”. Pelo nome que escolheu, inspirado em São Francis de Assis pela sua dedicação admirável aos pobres, já se devia imaginar que o novo Papa trouxesse energia para uma grande reviravolta na igreja. Desde a sua primeira aparição, não para de surpreender. Tem uma relação difícil com o ouro e com tudo o que é imponente, por isso, fez questão de trocar a cruz por uma de aço e no lugar dos múleos- os sapatos vermelhos usados pelos precedentes, continua a usar sapatos pretos. Ao telefone já teve algumas aventuras por prezar manter os hábitos que tinha antes da eleição. Numa chamada para a residência de Santa Marta surpreendeu o

telefonista, atónito, e ao ligar para o senhor que durante anos lhe vendeu os jornais foi até chamado de “idiota” por pensarem que se tratasse de uma brincadeira. A sua primeira missa de Quinta-Feira Santa foi rezada numa prisão para menores, na Praça de São Pedro o seu abraço e beijo a um homem desfigurado inundaram os jornais e, mais recentemente, a imprensa italiana avançou que Francisco algumas noites, se veste, disfarçado, e sai para dar apoio aos sem-abrigo com o arcebispo Konrad Krajewski. Um Papa que promete mudar a história da igreja católica e aproximar os quatro cantos do mundo.

“Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito”

266º

Papa da Igreja Católica

13/03


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Nelson Mandela 1918-2013

5 de dezembro. “o ícone mundial da reconciliação”. Morreu Nélson Mandela, o primeiro presiMandela tinha sido hospitalizado várias vezes dente negro da África do Sul. Tinha 95 anos e ao longo dos últimos anos por causa de uma faleceu em sua casa, em Joanesburgo. Jacob infeção pulmonar e estava desde Setembro a Zuma, atual presidente sul-africano, deu receber tratamento em casa. O ativista, herói a notícia ao povo que Mandela libertou do da luta contra o Apartheid e antigo líder do regime Apartheid. “A nossa nação perdeu o Congresso Nacional Africano, fica na história seu maior filho. O nosso povo perdeu um pai”, do mundo como o primeiro presidente negro lamentou Zuma num comunicado ao país. da África do Sul, tendo sido vencedor das priAdvogado e ativista, “Madiba”, nome pelo meiras eleições livres, em 1994. “Madiba”, préqual era conhecido entre os sul-africanos, mio Nobel da Paz em 1993, cumpriu apenas foi o principal rosto da um mandato enquanto luta anti-apartheid que Defensor assertivo do uso de armas presidente da maior numa luta igual com o opressor, economia africana. defendia a libertação do seu povo. Aliás, ManNélson Mandela deixa um legado “Uma perda tremenda dela só saiu da prisão, para o país”, refere ao recheado ao mundo: quando todos os outros Público o diretor do um exemplo de paz, coragem prisioneiros políticos jornal sul-africano The e luta pelos valores humanos. foram libertados com Times, sobre a morte de ele. 27 anos: foi o tempo Mandela. “Os processos que Mandela passou atrás das grades, onde políticos não serão afetados pelo seu desaentrou como uma “pessoa zangada e revolparecimento”, mas “a África do Sul perderá tada que acredita na violência como meio de aquele sentimento reconfortante de que conquistar a liberdade”. Mas o tempo como existia este grande unificador”, acrescenta. prisioneiro fê-lo mudar e sair como “uma Defensor assertivo do uso de armas numa pessoa extraordinariamente magnânima”, luta igual com o opressor, Nélson Mandela defende Desmond Tutu, arcebispo emérito deixa um legado recheado ao mundo: um que também lutou contra o movimento apart- exemplo de paz, coragem e luta pelos valores heid. O pacifista que também foi Nobel da Paz humanos. (1984) fala ao jornal Público de Mandela como

É o Prémio Nobel da Paz Mandato na Presidência de Àfrica do Sul

Nelson Mandela está preso

1962

1990

1993 1994

1999

Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele.

Cerimónias de homenagem

70 chefes de

Estado e Governo de todo o mundo

95 mil

pessoas assistiram à celebração de dia 10

5

dias de homenagem

90 ecrãs gigantes

pelo país, a transmitir em direto


política. A política dos jovens Hugo, Tiago e Ângelo são jovens, têm em comum o gosto pela política mas defendem cores diferentes. Entraram para juventudes partidárias desde cedo com vontade de implementar as suas ideias e de tornar a sociedade mais justa. José António Pereira e Telma Parada Fazer desporto, andar no conservatório ou escua chefiar medidas. Primeiro, na escola secundária, teiros são hobbies adotados pelas camadas jovens depois na universidade. O jovem defende as juvenda população portuguesa. Mas também o lado do tudes partidárias como “uma forma de nos fazer debate e espírito crítico está presente em massa na ouvir, de nos realizar enquanto juventude” e como juventude. Uma juventude com vontade de mudar. uma “iniciativa de melhoria nas políticas jovens dos Estes jovens integram juventudes partidárias concelhos, distritos e a nível nacional”. que tentam ter uma opinião forte na política do Os três jovens já assumiram cargos de importância conselho, na política distrital e também nacional. nas Juventudes Partidárias onde se inserem. O Reúnem, debatem, trazem novas ideias e exercitam jovem de Resende ocupa, neste momento, o cargo a argumentação a fim de um país melhor. de Presidente da Comissão Política da JSD Resende, “Sempre tive alguma disponibilidade para ter enquanto Ângelo é dirigente na Juventude algum conhecimento de como funcionava do Popular da Maia e Hugo, que já foi coordenador da ponto de vista democrático o nosso país”, diz Hugo JS Amarante, é agora candidato à coordenação da Carvalho, engenheiro civil. Com 26 anos, Hugo, Federação da JS Porto. natural de Amarante, dedica-se “Poder pôr em prática os valores à política desde os 20 e represenque concebemos na sociedade”, ta as cores do Partido Socialista, ideal de Hugo, parece ser comum defendendo a política como “a a estes três jovens políticos, melhor forma de poder servir, de habituados às lides da política marcar a diferença”. concelhia. Hugo fala de uma Ângelo Miguel escolheu as cores realização pessoal maior. “Eu sou do Partido Comunista pela partilum entusiasta pelas questões ha de ideais comuns e para assim autárquicas, pelo poder local por Hugo Carvalho “poder trabalhar em prol daquilo ser mais próximo e por conseque pode ser uma sociedade melhor”, refguir responder de forma mais rápida às ere o jovem de 19 anos, natural da Maia. Orgulhoso necessidades das pessoas. Há uma aproximação enda sua participação na Juventude Popular da Maia, tre aquilo que é uma Juventude Partidária e aquilo Ângelo partilha os valores que guiam esta orgaque é um órgão de poder local e comunidade”, diz o nização. “Os três grandes pilares que distinguem candidato à JS Porto que vai a votos em Janeiro. a Juventude Popular são a democracia cristã, o Ângelo concilia os estudos com o seu papel na conservadorismo e o liberalismo”, conta. política. “A minha “atividade política” varia Já Tiago Almeida procurava perceber as suas ideoconsoante o plano de atividades da concelhia a logias políticas, que apesar de serem de direita, ainque pertenço, a Juventude Popular da Maia, e a da não estavam bem definidas. Tiago começou cedo atividade da Distrital do Porto. A atividade destas

“Há uma aproximação entre aquilo que é uma juventude partidária e aquilo que é um órgão de poder local e comunidade”

Hugo Carvalho, candidato à coordenação da Federação da Juventude Socialista do Porto

é constante e exige que todos os seus elementos estejam envolvidos a 100%”. Em mente, o desafio da reinvenção. “Temos que procurar reinventar alternativas para que possamos construir uma alternativa para que os jovens possam entrar no mercado de trabalho”, diz Hugo. A política tomou contornos inevitáveis na vida de cada um e já nenhum deles consegue fugir a uma rotina onde ela aparece tão entranhada. “Grande parte do tempo de quem anda na política acaba por ser consumido pela política. Os amigos

desafio: a candidatura à coordenação da Federação da Juventude Socialista do Porto. “Grande parte do sucesso com o qual eu consigo partir para esta candidatura com expectativa à vitória é, por um lado, o reconhecimento dos militantes do trabalho que pude fazer da estrutura JS Amarante. Mas é também um conjunto de amizades e sinergias que fui criando ao longo de todo o meu período de militância em que vou contactando com pessoas que também são decisores políticos e gostam de fazer política e no fundo, essas amizades que se

tornam-se os amigos da política, os assuntos tornam-se tendencialmente a política. Por isso, é difícil de perceber. Sempre tive a minha profissão, felizmente, mas seria difícil de ver o que fazia se não tivesse uma participação na política. Faço por gosto, evidentemente”, afirma Hugo Carvalho para quem não há limites na aventura e crescimento políticos e, por isso, os amigos e as relações que se foi criando ao longo dos anos, vão ser úteis no novo

vão criando, são uma alavanca segura para fazer essa candidatura”, partilha Hugo. Contactadas pelo jornal Ponto, apenas a Juventude Popular expressa o número de inscritos nesta organização. 17417 pessoas fazem atualmente parte da instituição. Tanto a Juventude Socialista como a Juventude Social Democrata não responderam ao Ponto até hora de fecho desta edição.

Cavaco Silva recusa eleições antecipadas O Presidente da República declarou, em Braga, que Portugal deve cumprir os prazos do ajustamento, antes de se preocupar com eleições antecipadas. Rita Salomé Esteves Não é altura para eleições antecipadas, é o que garante Cavaco Silva,. “Acho que não faz qualquer sentido falar em eleições quando faltam meses para o programa da troika terminar”, declarou numa visita ao Mosteiro de São Martinho de Tibães em Braga. Um “consenso alargado” é o que propõe Cavaco Silva aos partidos para evitar uma crise política. “Penso que alguns políticos ainda não estudaram bem o que significa um eventual segundo resgate.”, o que não iria poupar os portugueses a sacrifícios semelhantes ao que têm agora de suportar. “É bom que o façam”, acrescentou. É em junho de 2014 que Portugal se propõe a terminar com o programa de ajustamento. “É a prova de que a União Europeia pode ultrapassar grandes dificuldades.”, sublinhou Cavaco Silva, acrescentando que esse é o maior desafio para o país. O atual Presidente da República esteve, já, envolvido nas eleições antecipadas de 1985, 1987 e 2011.

eleitos prematuramente Convocadas por:

Carlos Mota Pinto

Ramalho Eanes

Francisco Pinto Balsemão Mário Soares

Mário Soares

Aníbal Cavaco Silva

Jorge Sampaio

António Guterres Pedro Santana Lopes

Aníbal Cavaco Silva

José Sócrates

1979 1983 1985 1987 2002 2005 2011

Francisco Sá Carneiro Mário Soares Aníbal Cavaco Silva Aníbal Cavaco Silva Durão Barroso José Sócrates Pedro Passos Coelho

PSD PRD PS


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Manuel Clemente: leis do aborto e casamento gay não convencem os portugueses O Patriarca de Lisboa queixa-se do “voluntarismo legal” dos portugueses. Em Fátima, D. Manuel Clemente apresentou dúvidas na convicção da população na recente legislação da interrupção voluntária da gravidez e do casamento homossexual. Rita Salomé Esteves “Julgo que a lei andou à frente das convicções”, foi o que D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) declarou na Assembleia Plenária no passado dia 13 de novembro de 2013. Para os membros da CEP, a legislação recentemente aprovada “não é irreversível”, uma vez que não vai ao encontro das convicções da maioria dos portugueses, o que levanta a questão do valor de família e da “complementaridade homem-mulher”, que “não é irrelevante”. Contudo, o Patriarca não afasta a hipótese de Igreja estar aberta a esse diálogo. “Em todo este campo da sexualidade, da moral familiar, da própria consideração da vida humana, do seu valor e

sobre como a proteger, acho que tem havido muito voluntarismo, eu nem digo, jurídico, mas legal, que não incluiu uma reflexão básica, aprofundada e distendida. Não é preciso gritar, é apresentar as razões e discorrer em conjunto”. As mais de três mil paróquias portuguesas vão ter a liberdade de pôr em prática o inquérito enviado pelo Papa Francisco para responder às questões sobre divórcio, aborto, união e adoção por parte de casais do mesmo sexo, entre outros temas. O inquérito servirá para preparar o Sínodo de Família de 2014. D. Manuel Clemente afirmou que a resposta ao presente questionário não será única, uma vez que terá de se submeter ao caráter de cada paróquia. Se os participantes rondarem os dezenas de milhares, a internet pode ser considerada uma opção viável. O Patriarca frisou que todas as opiniões são bem-vindas e que “o processo é o habitual: os bispos, através dos serviços da Pastoral Familiar, enviaram [as perguntas] para as paróquias, para os movimentos, para os grupos, pedindo, com alguma brevidade, que nos mandem os resultados das suas reflexões a partir desses questionários”. A CEP irá reunir todas as respostas e enviá-las para Roma. O próximo sínodo dos bispos para a família vai divid-

ir-se em duas assembleias gerais: uma em outubro de 2014 e outra em 2015. No fim da Assembleia Plenária, o Patriarca de Lisboa insistiu que as questões laborais continuam a ser a maior problemática do país, frisando que a falta de apoio aos desempregados resulta da falha de responsabilidade política. “Espero que tudo o que se ganhou em termos de Estado Social se mantenha o mais possível, mas o Estado Social existe, porque tínhamos, e vamos ver até que ponto consegue ter, uma sociedade que o suporta”, sublinhou D. Manuel Clemente. O casamento homossexual foi provado a 8 de janeiro de 2010 pelo Parlamento com a aprovação dos partidos de esquerda, mas sem o apoio do CDS e do PSD.

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casamentos homossexuais desde 2010 em Portugal *dados de maio de 2013

Cavaco Silva queria o fim do apartheid mas não queria uma luta armada Após a morte de Nelson Mandela a 5 de Dezembro, o Presidente da República, Cavaco Silva esclareceu a posição defendida nos Conselhos Europeus em 1986 e 1995, em relação à situação na África do Sul. Luís Martins e Fabiana Queirós Oliveira Cavaco Silva afirmou que, enquanto Primeiro-Ministro, votou contra a libertação de Nélson Mandela por seguimento da prática portuguesa em recusar a luta armada, tendo em conta os 400 mil portugueses que viviam na África do Sul e as guerras civis quer de Angola quer de Moçambique. Cavaco Silva explica que o embaixador apenas recusou a luta armada e não a libertação e diz ainda que em 1987, como chefe de Estado português escreveu uma carta ao presidente sul-africano Pieter Botha a pedir a libertação. O presidente da República revelou que a reação a essa carta não foi a melhor, “O senhor Presidente reagiu muito mal a essa carta. Houve uma certa tensão entre os dois governos, Não foi nada simpática a sua resposta”, e lembrou

uma reunião de “grande tensão” entre os dois em 1988 “precisamente porque Portugal insistia muito sobre a libertação de Mandela e de outros presos políticos”. O presidente da República declarou ainda que, mais tarde, Mandela lhe agradeceu o apoio pacífico dado por Portugal, “Agradeceu-me o apoio dado por Portugal para a transição pacífica da África do Sul para uma democracia multirracial”. Entretanto a Assembleia da República já autorizou Cavaco Silva a representar Portugal nas cerimónias fúnebres do líder sul-africano, país que o nosso Presidente diz tão bem conhecer e onde presenciou as marcas do Apartheid, “Visitei muitas vezes a África do Sul, presenciei os sinais claros do

apartheid. Estive lá várias vezes nos anos 60 e 70, vi as marcas claras da prática do apartheid. Portanto, há quem fale de cátedra. Eu não falo de cátedra, mas sim de conhecimento”. Uma crítica de Cavaco Silva àqueles que “nunca mexeram uma palha para tentar mudar a situação na África do Sul” e sem nunca terem estado no país a presenciar os acontecimentos.

Marcelo critíca a abolição dos feriados

Ministério Público faz petição para anular a licenciatura de Miguel Relvas

Rangel é cabeça de lista para europeias

“Acho que a abolição dos feriados foi das coisas mais estúpidas, demagogicamente estúpidas, deste Governo que para acabar com a ponte acabou com o feriado” disse Marcelo Rebelo de Sousa no comentário de domingo no Jornal das 8, na TVI. Para o professor a abolição dos feriados foi “uma coisa

A Procuradoria-Geral da República pede a anulação da licenciatura do ex-ministro Miguel Relvas, concedida pela Universidade Lusófona. “A ação foi proposta contra a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, tendo como contrainteressado Miguel Relvas e teve por base um relatório

Paulo Rangel vai representar a coligação PSD/ CDS às eleições europeias, como avança o jornal Público. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, já conversou com o eurodeputado, mas ainda não fez um anúncio oficial porque as negociações com o CDS/PP ainda não estão fechadas. Carlos Coelho,

completamente tonta” . Os Estaleiros de Viana de Castelo também foram comentados e são considerados um assunto demasiado antigo para Marcelo Rebelo de Sousa que diz ser “difícil de entender e de fazer entender para o comum dos mortais. É um buraco muito complicado”. No ano de 2013 foram abolidos quatro feriados: Corpo de Deus, que tem data móvel, 5 de outubro, 1 de novembro e 1 de dezembro.

da Inspeção-geral de Educação e Ciência”, acrescenta a Procuradoria-Geral da República. O processo segue agora para Tribunal, uma vez que a procuradora que analisou o caso encontrou mais irregularidades na licenciatura de Miguel Relvas em Ciência Política. Durante a investigação, foram descobertas equivalências concedidas ao ex-ministro de cadeiras que não existiam aquando da sua formação. Miguel Relvas garante que a licenciatura não tem irregularidades.

PSD, ocupará o segundo lugar e, por isso, o terceiro deverá ser tomado por uma mulher, como manda a lei. O CDS já confirmou Nuno Melo como número 1 da lista do partido. No entanto, quanto à lista conjunta, o eurodeputado ainda não tem posição definida. Diogo Feio, eurodeputado do CDS também fará parte da lista. As eleições estão marcadas para 25 de maio e a primeira tarefa dos 751 eurodeputados eleitos será eleger o substituto de Durão Barroso.

Sandra Sá Couto Jornalista da RTP

Cidadania Precisa-se Voltamos a ter notícias da Islândia. O governo anunciou que vai cortar até 24 mil euros na hipoteca de cada família com empréstimos à habitação. Era uma promessa do Primeiro-ministro, eleito em Abril, e na Islândia os políticos habituaram-se a cumprir as promessas eleitorais. Olhamos muitas vezes para os islandeses como o exemplo de um povo que se soube impor na sequência da crise financeira de 2008. Na verdade, foi por pressão popular (e ao som dos tachos e da panelas) que o governo se demitiu depois das manifestações frente ao Parlamento. Foi também por pressão popular que o Presidente marcou um referendo, e depois um segundo, para perguntar aos islandeses se estavam dispostos a pagar as dívidas dos bancos holandeses e ingleses. A lição islandesa vai, no entanto, muito mais além. Muitos dos que estavam à frente das manifestações têm, hoje, assento no Parlamento. Eram economistas, professores ou médicos e hoje são deputados. Quando lhes perguntei porquê, responderam-meporque não? Que sentido fazia pedir mudanças no país e não estar disposto a participar nelas?- acrescentaram. Foi pela mão destes homens e mulheres que a Islândia reescreveu a Constituição, num processo único de cidadania. Uma comissão de vinte e cinco cidadãos apartidários criou uma página no Facebook e escreveu o texto com base nesses contributos. A nova Constituição foi, claro, referendada. O que mais me impressionou na Islândia foi que do motorista de táxi à recepcionista do hotel, todos sabiam exactamente o que iam votar e quais eram as alterações na nova Constituição. O crash financeiro da Islândia foi o acordar de um pesadelo e os islandeses decidiram que nunca mais iam decidir por eles (redundância assumida). A cidadania não é só reclamar por direitos, é participar ativamente e lutar por eles. Dá trabalho? Dá. A lição islandesa faz-me muitas vezes pensar em Portugal. Afundado numa crise bem diferente, há vozes de indignação mas pouca vontade. Pouca vontade em se informarem, pouco vontade de participarem, como se as mudanças tivessem de ser protagonizadas sempre pelos mesmos. Não faltam nunca as críticas aos políticos e aos seus interesses e o descrédito na política, como todos sabemos, é um caminho perigoso. Se quase metade da população se abstém de votar, imagino o que seria perguntar aqueles que se manifestam se têm vontade de ocupar um lugar na política. Conhecemos bem expressões como “são todos iguais”. Interesses, vocação ou espírito de missão à parte, há qualquer coisa que falta para que nos tornemos cidadãos de pleno direito.


entrevista. São José Correia “Fui ao teatro pela primeira vez na escola e odiei!” É conhecida como uma atriz das atrizes mais ousadas de Portugal. São José Correia recebeu-nos de pés descalços e espírito aberto, no final de uma tarde de preparativos para o monólogo “Worms”. Segura e genuína, não teve problemas em deixar-nos espreitar o seu percurso como atriz e as suas convicções.

O que é que distingue a Maria José da São José? Eu acho que nada… São a mesma. Eu sou Maria José, é o meu nome de batismo e é o nome que está no registo, mas chamam-me “São” desde miúda. Portanto, se eu for na rua e me chamares Maria José eu se calhar não olho para trás. Mas se me chamares São José eu associo mais que estás a falar comigo. Mas não há nada que os distinga. São José Correia acabou por ser a escolha de nome artístico que eu fiz, dois deles estão, de facto, no meu nome de registo e “São” é uma alcunha desde criança. Fazia todo o sentido. É a mesma pessoa, não há diferença nenhuma. Mas ainda há alguém que a chame Maria José? Há, sim! E há pessoas que me chamam Zézinha! São poucas, mas de vez em quando há uma Zézinha. Eu costumo dizer que não gosto mas normalmente é São José. O que eu gosto mesmo é que me chamem São José. Também gosto que me chamem São ou José. Mas o que eu gosto mesmo é de São José. Há uns tempos disse numa entrevista que ser atriz não era bem uma escolha, mas uma maldição. Se essa maldição não tivesse acontecido na sua vida, o que estaria a fazer agora? Não sei. Não sei o que estaria a fazer hoje, mas naquelas aulas em que fazes imensos testes, a tentar perceber a adolescência, no secundário, qual é a tua vocação. A mim dava-me assistente social. Eu compreendo, porque eu tenho, efetivamente, esse lado de assistente social. Comove-me mesmo muito a injustiça, a pobreza e as necessidades das pessoas, e ver uma pessoa em necessidade extrema é uma coisa que me magoa muito. Portanto, aquela avaliação que a minha professora me fez não estava errada de todo. Mas não sei se se-

ria assistente social. Talvez ajudar as pessoas. Seria sempre uma coisa que envolvesse pessoas, no fundo. Esse papel ficou de lado e tornou-se atriz. Quem é que a ajudou a tornar-se uma grande atriz? Ui! Bom, ainda não sou uma grande atriz. Primeiro, não posso ser eu a definir se sou ou não… Eu acredito no meu trabalho. E é um bocado contraditório, conforme vamos crescendo, vamos ganhando segurança. E sim, eu tenho vindo a ganhar segurança ao longo dos anos. Mas, por outro lado, fico cada vez mais nervosa nas estreias, cada vez fico mais insegura com determinadas coisas. Parece uma contradição: por um lado, estou cada vez mais segura e por outro lado tenho mais medo. Quem é que me fez? Várias pessoas… Todas as pessoas por quem eu passei, todas as pessoas com quem eu trabalhei, os meus amigos, todas as pessoas que passaram por mim na rua e que eu não conheço, as pessoas que eu observei. A observação é quase inata num ator. É um dos grandes utensílios que nós temos, mas é inato em nós. Qualquer ator é bom observador. Portanto, a partir daí tudo me ensina. Depois claro, tive alguns mestres. A Teresa Gafeira, a Luísa Cruz, o Joaquim Benite, o Rogério de Carvalho, sei lá… Tantos outros colegas. Falo neles porque foram pessoas com quem trabalhei e que me dirigiram, me ensinaram e me ajudaram muito no início da minha carreira. Que me deram as bases para eu agora poder ser atriz e ser autónoma. Claro que autónomos nunca somos. Precisamos sempre de alguém. O teatro é mesmo isso, é precisar de alguém. Há muito essa necessidade do outro, da brincadeira com o outro.

associado ao facto de também ter crescido? Sim, claro! Claro porque vamos trabalhando, as pessoas vão apreciando o teu trabalho e, portanto, criam-se expectativas. Não só do público, tuas também. Não queres ficar mal, não queres desiludir as pessoas. Vou dar-te um exemplo. Houve uma rapariga, há uns anos atrás, que criou um clube de fãs da São José Correia, fui ver e tinha seis fãs. [risos] E eu “Uau!”, fiquei super contente! Só haver uma pessoa que diga que é tua fã é delicioso! Basta uma para te sentires feliz! Agora, houve alguém que fez outro e já tenho 400! É bom! Eu não quero desiludir estas 400 pessoas como não queria desiludir aquelas seis pessoas há uns anos atrás. Essa pressão somos nós que, de alguma forma, damos a tudo. Nós é que trazemos essa pressão para nós. Mas esta pressão é necessária… Imagina, se eu relaxasse e achasse que não tenho que prestar contas a ninguém, que sou muito boa e que as pessoas vão gostar de qualquer maneira, eu enquanto atriz! Um ator não pode fazer isto.

“A raiva faz parte do nosso instinto e é o que nos move! ”

“Seria sempre uma coisa que envolvesse pessoas, no fundo.”

Fala de nervos e alguma insegurança. Isso está

Antes de começar a representar, o que achava do teatro? Ai, não achava grande coisa! A primeira vez que fui ao teatro tinha para aí quinze, dezasseis anos, e foi pela escola. Os meus pais nunca me levaram ao teatro. Não tinha nenhum conceito, não sabia nada. E fui ao teatro pela primeira vez na escola e odiei! Não tinha educação nenhuma para estar sentada uma hora e tal a ver umas coisas em que eu não acreditava! Acho que a questão é: eu fui ao teatro e não acreditei naquilo que estava a ver! Isto é um jogo. Quando tu vais ver uma peça, e o ator está a

morrer, tu sabes que o ator não está a morrer, não é? Não precisas de ser criança, as pessoas sabem perfeitamente que ele não está a morrer! O jogo está bem feito e levou o público nessa brincadeira? Ok! Da primeira vez que fui ao teatro nem isto resultou. Eu não acreditei em nada do que eles estavam a dizer! Portei-me pessimamente, os professores mandaram-me calar, mandaram-me estar quieta e até ameaçaram a minha saída da sala! Bom, antes de começar a fazer teatro não tinha a mínima ideia do que era teatro. Depois comecei a aprender sobre teatro e o que era ser ator e o que era fazer peças, já na escola, com a minha professora Luísa Cruz. Tive teatro pela primeira vez no nono ano. Foi tudo a partir daí. Antes disso era o vazio. Nunca foi ao teatro com os seus pais, e o seu pai nunca apoiou, certo? Não, não, não… Nunca apoiou porque não entende. Quando as pessoas não entendem tu não podes abrir-lhes a cabeça e meter lá dentro. Quando isso acontece, tu tens que te desviar, porque se há uma pessoa que impede o teu caminho e se tu tentas explicar a essa pessoa que tens que passar por ali e a pessoa não entende… Bom, se calhar tens que dar a volta, virar à esquerda, fazer uma manobra qualquer e pirares-te. Foi o que eu fiz.

“Quando as pessoas não entendem tu não podes relação voltou ao que abrir-lhes a cabeça e me- Essa devia ser? ter lá dentro.” Não há relação. Quer dizer há

a relação da compreensão, eu compreendo tudo. Mas claro que houve um corte muito abrupto. Deteriorou-se, como consequência dessa falta de compreensão que depois leva ao afastamento. Às vezes há rancores, às vezes há raivas, principalmente na adolescência… Já ultrapassei uma série delas e hoje lembro-me disso e falo


13 disso com um sorriso. Mas não posso inventar uma relação que nunca foi construída. Mas essas raivas ajudaram-na a crescer como atriz? Claro! A raiva faz parte do nosso instinto e é o que nos move! Se os humanos não sentissem raiva, não sobreviviam. A raiva estimula-nos! O medo estimula-nos! É preciso ter raiva, sim! Não ser uma pessoa raivosa e violenta, mas raiva no sentido de vida, de intensidade. Isso faz parte de nós, e eu tenho muita, sim. O teatro e as personagens que interpreta, são meios de se libertar ou de, por outro lado, se aproximar de si própria? Olha, se calhar as duas. O teatro tem essa possibilidade incrível, que nenhuma outra arte tem, de parar o tempo. Sobretudo para quem o faz. Quando se vê bom teatro esquece-se da realidade. Portanto, há ali uma altura em que o tempo da realidade parou e não é esse tempo que conta. E quando representas, a consciência da tua realidade desaparece por completo! E, portanto, ao mesmo tempo que desapareço de mim, para estudar um papel, para representar um sentimento, uma emoção, tenho que o ter sentido. Tenho que me conhecer muito bem a mim própria. Mais uma vez encontramos uma contradição nisto de ser ator. Ao mesmo tempo que me afasta de mim, que me livra de mim, aproxima-me. Eu tenho que aprender a analisar a minha cabeça porque o teatro é a arte das pessoas. Nós falamos de pessoas, nós contamos histórias sobre pessoas. Eu tenho que as conhecer, tenho que analisar tudo o que digo. E, quando analiso tudo o que digo, também passo isso para mim. Também aprendo a analisar as coisas que eu estou a sentir. Portanto, é de facto, as duas coisas: tanto me distancia de mim como me aproxima.

Já disse que quando as pessoas olham para si, não sabe o que pensam. O que é que essa ideia tem de bom? É bom tu não saberes as coisas. Ainda no outro dia estava a ver um filme idiota de adolescentes em que as pessoas tinham dotes e o dom de uma das personagens era saber o futuro. Isso é terrível, saber o futuro. Enlouquecias! Se eu soubesse o que vai na tua cabeça e na cabeça dela e de toda a gente, enlouquecia. O desconhecido é o que nos atrai. E o facto de não saber o que se passa na tua cabeça, isso atrai-me, briga-me a ter uma atitude sedutora perante ti, porque não te conheço, estou curiosa, estou a ver as tuas reações e o que provoco em ti. Isso faz parte do trabalho do ator! Eu consigo perceber isso porque estou atenta às pessoas e sou dependente delas. Um ator como eu, que depende sempre da contracena e do outro, tem um problema grande por resolver quando está sozinho. E portanto, o facto de eu não saber o que vai na tua cabeça entusiasma-me. Não me chateia nem me derrota. Se eu soubesse tudo, era uma desgraçada.

“Quando representas, a consciência da tua realidade desaparece por completo!”

De todos esses trabalhos, qual foi a personagem com quem mais aprendeu? Bom, esta por exemplo. Este trabalho que estou a fazer agora é outra etapa. Tenho tido bons espetáculos, no sentido de difíceis, de coisas que eu sei que estão um pouco acima das minhas possibilidades. Mas é com esses projetos que nós aprendemos porque fazermos as coisas que para nós são fáceis, não tem sentido nenhum. Se fosse para isso, fechava-me em casa e não fazia mais teatro, já sei tudo! Mas há determinados trabalhos que puxam por mim. Em televisão posso falar das “Paixões Proibidas”, aquela adaptação dos “Mistérios de Lisboa” que fiz no Brasil. Foi extraordinariamente difícil! E foi um upgrade no meu trabalho enquanto atriz. Não falo na projeção, nem se foi vista por muita gente, nunca penso nesse lado. Falo da dificuldade do trabalho que fiz. O meu trabalho foi extraordinariamente difícil. Acrescentando o facto de o fazer fora de casa, estive sete meses no Brasil. É terrível ser-se emigrante! Terrível! Porque te falta a tua terra, falta-te a tua gente, o teu berço, o que é teu… E qualquer problema, qualquer dificuldade no teu trabalho, aqui, quando chegas a casa podes conversar com alguém que está em casa, ou podes ligar a um amigo, ou à tua mãe, ou ir jantar com eles. Quando estás do outro lado do mundo, do oceano, não podes fazer isso portanto foi muito difícil nesse aspeto. E mesmo a nível técnico, foi um dos que puxou bastante por mim. Este, por exemplo, eu considero também um upgrade, um bocadinho acima das minhas possibilidades, processo que estou a descobrir. Ainda não tinha feito este género de texto, é um texto absurdo. Ainda não tinha percebido o grau que é fazer um texto destes. Portanto estou numa fase nova e este é um espetáculo que vai puxar muito por mim. É uma novidade intensa e difícil.

Mas pergunta às pessoas o que acham de si e do seu trabalho? Não faço muitas perguntas. Quando acabo um espetáculo, por vezes, se tenho muita confiança, pergunto, claro. Mas por norma não pergunto, prefiro ver a reação. E quando gravo não pergunto aos técnicos o que é que acharam, mas sei que atmosfera é que ficou no plateau e sei como é que eles reagem. Sei a forma como ele desliga a máquina, sei a forma como ele deixa o cabo caído, sei a forma como o perchista desceu a perches, percebo se estiveram ligados a mim ou não. Estar atenta mas o não saber é extraordinário. Quando se senta numa plateia para assistir a uma peça de teatro ou numa sala de cinema para ver um filme, é crítica? (risos) Não, eu tento não ser, mas agora faço parte da família. Diz-se que é muito difícil fazer um ator chorar porque nós sabemos a cozinha toda. Nós somos técnicos. Somos técnicos de espetáculo como o desenhador de luz, como o engenheiro de luz, como o cenógrafo. O ator é um técnico de espetáculo. É muito difícil abstrair-me dessa condição que é a minha. A grande diferença é que eu não vou para um espetáculo como técnica. “Bom, agora vou avaliar os meus colegas, ver se isto está tudo bem feito”. Não. A minha atitude é como espetadora. Se o espetáculo for bom, se não houver erros, eu deixome ir como um espetador normal. Por outro lado, se há qualquer erro, se há qualquer coisa que chama à atenção do meu subconsciente, paro nisso. Paro enquanto espetadora e sim, aí vem o lado crítico e já me afastei do espetáculo. Isso acontece muitas vezes. Mas não é pela minha atitude, é porque de facto há muitos espetáculos muito fracos. Faz-se muito mau teatro também.

“O desconhecido é o que nos atrai!”

Em Portugal? Sim, sim. Há bom teatro e mau teatro em todo o lado. Em Portugal também. O que é que falta ao teatro português? (risos) Podemos começar pelo dinheiro? (risos) Precisa de tudo. A única coisa que acho que não precisa são voluntários. Mas nem sempre são o bem essencial. O voluntário é uma pessoa que está com o coração e com a emoção toda e nós precisamos de técnicos. Acho que não vale a pena estar aqui a tentar teorizar sobre o que é o lado intelectual, a necessidade extrema de cultura. Mas há que considerar também que o nosso país tem uma percentagem grande de pessoas que não sabe ler nem escrever. Isso se calhar é mais assustador. Mas o que nós precisamos é de dinheiro. É legítimo. É preciso ter dinheiro para trabalhar, para ter boas coisas. No outro dia estive a ver um documentário de um artista plástico, Anselmo Kifer, um senhor alemão que

tem um trabalho extraordinário. Vive em França, numa quinta, comprou-a, faz escavações, e uma das coisas que ele diz é que para se tornar criativo é necessário o tédio porque o tédio leva-te a lugares onde existes só tu, sem nenhum outro problema exterior, e portanto esse tédio dá-te a paz para criar, para o teu lado criativo estar desperto. Isto é tudo muito bonito, mas o senhor Kiffer para ter aquela quinta é riquíssimo! E essa necessidade de tédio, eu também a sei. Quando estou de férias, tenho mais tempo para ler, escrevo mais, e sou muito mais criativa, mas eu tenho que trabalhar! Eu não tenho o dinheiro do senhor Kiffer. Nós podíamos ter um mês ou dois meses para fazer o espetáculo, mas não somos o senhor Kiffer. Nós precisamos de dinheiro, porra. Agora o outro lado. Se temos bons atores? Temos belíssimos atores. Se temos bons encenadores? Temos belíssimos encenadores. Temos jovens como o Rui Neto com novos projetos, com sangue. Temos tudo. Temos a matéria-prima toda. Temos bons textos, temos bons teatros, temos com certeza pessoas que querem ir ao teatro...O que é que nos falta? Dinheiro e condições.

com a Maria Frade que é uma grande atriz também. E quando me perguntavam, nessa altura, o que é que eu fazia, eu não tinha coragem de dizer que era atriz. Eu dizia “faço teatro”. “Ah, e fazes teatro onde?”, perguntavam-me. “Faço na Companhia de Teatro de Almada”. “Ah, mas isso é profissional”. “É”. Eu não me considerava atriz porque eu olhava para a Teresa Gafeira e para a Maria Frade e perante elas eu não poderia nunca dizer que era atriz. Nunca. Eu só comecei a dizer que sou atriz com a boca cheia e com toda a convicção muito mais tarde. Não sei dizer exatamente em que peça foi ou em que ano foi, mas foi muito mais tarde. Quando trabalhei com a Maria Frade a fazer uma peça do Gil Vicente, o Auto da Barca do Inferno, já o fazia profissionalmente, já ganhava dinheiro, mas não me considerava atriz. Dizia que fazia teatro e estava certo. Hoje é que se enche a boca muito rapidamente. Entras numa novela, fazes duas cenas e és ator. Mas pronto, cada um, não quero nada estar aqui a criticar, cada um é que tem que ter a consciência do seu percurso e daquilo que sabe e que acha que é valor.

Disse há pouco que era crítica por fazer parte da família do teatro. Depois de longos anos de carreira e de se ter estreado aos 16 anos no teatro, quando é que sentiu que fazia parte desta família? Ah, sim, uma pergunta engraçada. Eu não fiz o conservatório porque tive dificuldades com o meu pai, como já toda a gente sabe. Fiz o curso de formação de atores da Companhia e nessa altura trabalhava com a Teresa Gafeira, que é extraordinária e foi fundamental na minha vida em vários aspetos, e

Os jovens que por exemplo participam em séries como Morangos com Açúcar, série juvenil de grande sucesso, falam de boca cheia? Sim, não é só dos Morangos com Açúcar (MCA). Há muita gente que fala de boca cheia. No entanto, dos MCA também saíram algumas pessoas muito interessantes, super talentosas. Eu não tenho nada contra essa novela. Aliás, eu não tenho nada contra ninguém. Posso é me irritar com uma atitude ou outra... Mas não tenho nada contra os jovens. Quando tu começas a aprender, tu não sabes nada.

“Temos bons textos, temos bons teatros, temos com certeza pessoas que querem ir ao teatro, ...O que é que nos falta? Dinheiro e condições.!”


entrevista. Portanto, eu não tenho nada contra os erros de quem não sabe. Tenho é contra outras coisas. Contra quê? Contra a vaidade, contra a falta de consciência de que não se sabe nada, ou contra se saber duas coisas e achar que se sabe tudo. A vaidade, a prepotência, falta de inteligência, de sensibilidade. Essas coisas irritam-me.

Considera-se uma pessoa genuina? Sim, dentro do possível, sim. Disse uma vez que lhe faltava inteligência emocional. Com o tempo isso passa? (risos) Passa, passa. Com o tempo. A nossa grande vantagem é que o nosso cérebro tem a grande capacidade de aprender. Nós temos a capacidade de cometer erros, mas também temos a capacidade de aprender, e aprendemos!

“Eu só comecei a dizer que sou atriz com a boca cheia e com toda a convicção É considerada uma das atrizes muito mais tarde.” mais ousadas de Portugal. Esse

É o que é diferente do seu tempo enquanto adolescente e iniciante ao mundo do teatro? Eu não gosto nada desta frase do “eu comecei no teatro”. Mas, porra, a verdade é essa. Eu comecei no teatro. O meu primeiro grupo de teatro era a minha turma de teatro, e depois trabalhei dez anos numa companhia, portanto, para mim teatro tem a ver com união, tem a ver com o outro. Muitas vezes faço a analogia entre o futebol e o teatro porque têm muitas coisas de igual. A que eu mais saliento, é que uma companhia ou o elenco de uma peça tem que ter a mesma união que uma equipa de futebol. Nós não precisamos de falar uns com os outros, nós conhecemo-nos bem e queremos muito que o espetáculo seja bom. Não que eu vá bem e que tu vás bem. No futebol às vezes há pontas de lança ou avançados que não passam a bola porque vêm uma oportunidade de marcar o golo e querem eles próprios marcá-lo. É o mesmo com o teatro. Se tens um ator que só está centrado nele e quer brilhar de alguma forma, vai estragar o espetáculo. Há cada vez menos companhias, então, o que acontece, é que há muitas peças de teatro que se fazem com elencos que acabaram de se conhecer e não há essa união. Quando eu comecei, eu tinha essa união. Eramos mesmo românticos, estávamos aqui uns pelos outros. E ninguém queria sair melhor que ninguém, estavamos ali pelo espectáculo e o sacrifício era pelo espectáculo que tinha que acabar e começar bem. Agora se eu magoei o pé, ou se me falhou uma fala, isso não interessa nada. É como uma boa equipa, não interessa nada quem marcou o golo, é preciso é a equipa estar junta e a comunicar uns com os outros sem estarem a falar. É essencial. Por exemplo, a selecção. O último jogo com a Suécia correu lindamente. Pela primeira vez, na nossa selecção, houve união de grupo. Se foi pelo Blater ter feito aquele comentário idiota sobre o Ronaldo? Claro que foi! Acabou por unir todas as pessoas e o jogo correu lindamente. O Ronaldo marcou 3 golos. Se se lembrarem dos jogos da selecção antes do episódio do Blater, ainda não havia essa união. Porque o Nani também quer marcar, porque o “não sei quê” também quer marcar, e nós acabamos sempre com exibições de caca. Desta vez aconteceu como deve acontecer sempre que há união. E é isso que deve acontecer em teatro.

título é merecido? Não sei, não sei. Mas gosta de ser conhecida assim? Gosto! (risos) Desde que não me ofendam! A mais ousada porque, de facto, eu não digo que não a um trabalho só por haver a exposição do corpo desde que seja justificada. Mas isso é uma ideia do público. A mim não me chateia. Eu gosto de pessoas ousadas também. O seu à vontade em palco e ousadia faz confusão ao público? Eu acho que não, acho que o público gosta! Às vezes não tenho uma empatia imediata com o público. Há atores que criam logo uma empatia, os comediantes principalmente. Eu não tenho essa facilidade, mas acho que os consigo envolver e seduzir. Se eles estiverem dispostos a isso, eu estou disposta a seduzi-los e acho que a maior parte das vezes, esse jogo de sedução acontece e é bem sucedido. Porque é que essa intimidade não resulta logo? Não sei, não sei. Se calhar tenho que rever. É uma boa pergunta, mas não sei a resposta. Um ator pode ser como um líder de opinião? Não creio que seja a esse nível. Aqui não se dá muita importância aos atores. Dáse a importância relativa da televisão, mas ninguém vai pedir a opinião do ator seja para o que for. Mas posso dizer que, pelo menos uma vez, influenciei alguém e fico muito feliz por isso. No primeiro espectáculo que fiz aqui, com a escola de Mulheres, as Dentadas, veio uma menina do Algarve ver o espectáculo com a mãe de propósito e ela, três anos depois, estava no curso, em Cascais para ser atriz. E disse-me “Olha, eu quero ser atriz porque tu inspiras-me. Tu e a Dalila (Carmo)”. Ela ficou tão inspirada e gostava tanto de nos ver que foi o que ela decidiu para a vida dela. E sim, sinto-me bem a pensar que posso influenciar alguém de forma positiva.

Já revelou que um dos momentos mais difíceis da sua carreira foi a cena de sexo que fez na curta-metragem “I will see you in my dreams”. Se fosse hoje, teria participado nesse projecto? Com certeza. Estaria era melhor preparada. O que é que faltava na altura para estar bem preparada? Experiência de vida, como atriz. Nunca tinha feito uma cena de sexo explícito, e aquela era bastante erótica. Nem é tanto o que o público vê, mas a condição em que nós estamos. Estava nua com o meu colega numa sala com pessoas. Foi a primeira vez. Se hoje me fosse feita essa proposta, teria tido experiência, ou seja, aceitaria na mesma. Aceitaria sempre. Tudo o que seja o desafio, e se as pessoas valeram a pena... Depende sempre do grupo de pessoas. Eu aceitar desafios ou não, tem muito a ver com as pessoas, ou então com o dinheiro. Mas normalmente, tem a ver com as pessoas. Mas o dinheiro também é fulcral quando toma decisões? Claro que sim. Há uma série de coisas que tu fazes onde não há grandes opções.

decorar um texto absurdo como é este, só na semana passada é que me deparei com essa dificuldade e julguei sinceramente que era uma limitação minha e depois falei com colegas meus, falei com o João Lagarto que também já fez um monólogo do Beckett. Aliás, ele é um especialista em Beckett. Falei com ele e percebi que não era uma limitação minha, é uma dificuldade do próprio texto. Mas é uma dificuldade do texto que exige que me esforce. Conforme vou andando é que me vou deparando com as minhas dificuldades. Ou resolvo ou não resolvo, mas até agora tenho resolvido, acho eu. E neste espectáculo estou a deparar-me com muitas, mas espero que não sejam limitações porque espero ultrapassar. Mas essas limitações acabam por ser estímulos? Claro! Fazer coisas que não são fáceis para mim, é muito estimulante. Namorar é importante? Namorar é importantíssimo, é vital. Não é importante, é vital como a água. Tem uma visão muito optimista sobre isso? Otimista no sentido que se deve namorar e que isso é positivo porque traz boas energias e leva as más para fora e trás novas, o tédio, a solidão, a energia física, não. Depois torna-se um bocadinho mais complexo. A relação humana é difícil. A relação mulher-homem é muito difícil e complexa.

“Sim, as pessoas são todas livres só não são quando não querem ou quando não sabem...há pessoas que não sabem ser livres..”

Acha que esse dinheiro vai sempre para os mesmos? É, é mais ou menos. Se falares com qualquer ator espanhol, a conversa é a mesma e se falares com qualquer ator americano, de certeza que te vai dizer o mesmo. Há sempre alguém que fica de fora e são poucos os que ficam permanentes. Podes ter uma fase em que estás em tudo e de repente parece que já ninguém se lembra de ti. E depois alguém se lembra e voltas a fazer tudo. Há que ter calma mas há sempre os que ficam de fora. Toda a nossa sociedade está construída assim, o dinheiro é, injustamente, muito mal distribuído. Na representação é a mesma coisa. Está tudo mal de raiz. E a São José tem estado em tudo? Eu tenho estado no suficiente. Tenho trabalho, nunca parei. Paro, como é evidente, mas páro o suficiente para descansar e felizmente a coisa tem-me corrido bem.

Agora tem uma atitude mais leve em relação à sua vida e à sua carreira... Sim, estou cada vez mais tranquila. Por um lado estou mais tranquila porque tenho mais confiança, porque já percebi que tudo não passa de fases. Há fases boas, há fases más e há trabalhos menores. Se um ensaio correr mal, não ir para casa arrancar cabelos, mas pensar que foi o dia de hoje e que amanhã vou conseguir. Há uns anos atrás, não. Por outro lado, a incerteza do próprio mundo onde estamos, da sociedade, do problema económico que não tem maneira de se resolver... Eu não estou a tremer com esta crise porquê? Porque eu sou freelancer há dez anos. E portanto eu nunca sei, quando acabo um trabalho, quando é que vou ter outro. Eu já estou habituada a lidar com esse medo e com essa coisa no estômago. “Ah, e se o telefone não toca?”... Mas estou mais tranquila.

Quais são as suas limitações como atriz? Tantas, ainda estou a descobri-las. Se me entrevistarem depois deste espectáculo, de certeza que já tenho mais alguma coisa para dizer nesse sentido. Tenho muitas limitações, claro. Eu sou nova, tenho 39 anos, ainda me falta fazer tanta coisa... Há tanta coisa que eu não sei. Por exemplo, a dificuldade de

Nasceu no ano da liberdade. As figuras públicas têm essa liberdade? Têm, toda a gente é livre! Quando vinha para cá estava a lembrar-me da frase do Spartacus, vê lá tu… “Eu sou um homem livre e um homem livre tem sempre uma opção”. Sim, as pessoas são todas livres só não são quando não querem ou quando não

“A vaidade, a prepotência, falta de inteligência, de sensibilidade. Essas coisas irritam-me.”


15 sabem...há pessoas que não sabem ser livres. A São José quer ser livre e é livre? Sim, tento. E acho que sou, dentro do que é possível, sim. É tranquilizante essa liberdade? É, traz-te paz e é aceitares-te a ti próprio. As pessoas são livres quando se aceitam a si próprias, acho que faz parte do processo. Quando as pessoas não se aceitam a si próprias é um problema porque não conseguem evoluir.

papel extraordinário como por exemplo noutro dia estava a ver “As Noites Brancas” do Visconti. Pensei “Quem me dera fazer aquele papel” mas é porque foi tão bom e envolveu-me tanto que fiquei com aquela inveja de “Porra! Eu também quero, eu também era capaz!” Mas é essa inveja que falo. Inveja negativa acho que não tenho. Não tenho porque sou a irmã mais nova de quatro irmãos, eu estou habituada a dividir tudo. Tenho confiança em mim e tenho o fundamental, que foi uma coisa que eu percebi já há muito tempo... Isto do “Aquela é melhor atriz que tu” ou “tenho de ser melhor do que a outra”. Vais a um casting e é muito duro. Tu vais lá prestar provas e é dificílimo, super violento e dizem-te que não e tu vais para casa. E eu descobri há muito tempo uma forma do sucesso dos outros não me frustar e não ter medo de competir e é: eu tenho uma vantagem, que é a vantagem que toda a gente tem, o que eu faço ninguém faz! Nenhuma outra atriz faz porque ninguém tem o meu corpo, nem tem a minha voz.

“Quando as pessoas não se aceitam a si próprias é um problema porque não conseguem evoluir.”

E fazer aceitar os outros? Fazer os outros aceitarem-nos? Isso é a minha vida. D todos nós não é? Todos nós agimos para que os outros nos aceitem, nós queremos que os outros nos aceitem. Nós queremos que os outros gostem de nós. Mas também já disse que não faz muitos amigos nas novelas. É porque é muito rápido? É, porque é tudo muito rápido...porque grande parte das pessoas não estão no mundo da forma como eu estou, como acho que um ator deve estar. Muitos não são atores portanto não posso conversar sobre técnica de atores porque não tenho com quem conversar. E temos ideais de vida completamente diferentes. Acho que basicamente é por aí, não tenho nada contra ninguém especificamente. Eu não posso odiar alguém que só pensa em carros. É uma pessoa que simplesmente não me diz nada.Só isso, não é mais nada. Não há identificação? Não, não há identificação. Exatamente, agora disseste a palavra certa. É só por isso: não há identificação, é só isso. O facto de não fazer amigos nas novelas como diz, tem alguma ligação com o facto de ter feito alguns monólogos? Ou é pura coincidência? Não, não! A culpa de eu estar a fazer um monólogo é do Rui Neto que me convidou. O projeto é dele, a culpa é dele. Não, não tem nada a ver. Eu já disse no ínicio da entrevista, eu dependo muito do outro, para mim o jogo é com o outro sempre. Ainda é refilona como em míuda? Como no episódio do skate com o miúdo de etnia cigana? (risos) Não! Então, eu aí era miúda. Mas ainda refilo! Ainda no outro dia refilei por causa da passadeira. Estavam duas miúdas ao pé de mim na passadeira e não passávamos. Estávamos em cima da passadeira e um rapaz veio e eu meti-me à frente e ele diz “Ah desculpe não vi a passadeira” e eu só lhe fiz assim (gesto obsceno), nem lhe respondi...Ou seja se há uns anos atrás tinha de discutir “blábláblá”, agora já não, agora só faço assim (gesto obsceno). Com o que é que refila? Com injustiças, com estupidez, com a mesquinhice e a vaidade também me enerva muito. Já disse mas volto a repetir (risos) para ficar bem assente. Não tem preconceitos com cenas ousadas. E os portugueses já se despiram do preconceito? Não, não, não, os portugueses não. Os portugueses ainda estão muito metidos no cristianismo, ainda são muito machistas, os homens e as mulheres. Eu acho que neste país até é capaz de haver mulheres mais machistas do que os homens. Machistas no sentido de serem invejosas? Todos nós temos inveja! Pode é ser uma inveja boa... há coisas que me fazem sentir essa inveja boa. Sempre que vejo um bailado saio de lá assim. Eu adorava ser bailarina também e portanto saio com aquela inveja boa. “É pá! Gostava tanto de ter pertencido a este projeto”. Ou veres um filme, com um

É uma privilegiada? Não, todos nós temos! Essa tua voz só tu é que tens. É única. A minha voz também é única, o meu corpo também é único portanto o que eu dou, a forma como eu interpreto um papel, se é melhor ou é pior, são vocês, público, que decidem depois. O que é certo é que o que eu dou, nenhuma outra atriz dá. Porque nenhuma outra atriz tem os meus olhos, a minha cabeça, a minha experiência, as minhas mãos, os meus braços, as minhas pernas. Sou única, como ela é única, tu és único, as pessoas são únicas portanto é aí que tens que te agarrar. Quando começas a levar com “nãos” na cara, porque levas, é inevitável. Para não te ires abaixo tens que te lembrar disso. Nós somos especiais, cada pessoa em si é especial e esse é o teu valor. O segredo para superar as limitações é esse? Sim, isto serve também para o outro lado da vida... para a vida pessoal. Qual era o seu papel de sonho? (suspira) Eu não tenho assim um papel de sonho... Há um que me vem a martirizar porque já vi feito pela Núria Esperto que é uma atriz extraordinária espanhola, pela Alla Demidova que é uma atriz russa, que já deve ter morrido aliás... vinha muitas vezes fazer espetáculos aqui ao festival e também já vi a Teresa Gafeiro a fazer. E no outro dia o Rogério de Carvalho estava-me a dizer: “Ah tu fazias bem este papel!” e eu disse: “Dá-me mais três ou quatro anos.” A Medeia é um papel que me persegue já há muitos anos. “Não, não posso fazer já a Medeia” para fazer uma boa Medeia, para superar tudo aquilo que eu vi. Eu vi Medeias muito boas. Secalhar, a Lady Macbeth também era uma personagem que também me está aqui (aponta para a cabeça) porque também já estive para fazer essa peça assim como a Portia do Mercador de Veneza também já ensaiei e acabei por não fazer. Tenho muitas personagens na cabeça que gostaria de fazer.

Qual foi o momento mais caricato com os seus fãs? O pá, mais caricato? Sei lá...Há dois anos estávamos a filmar no Moral Conjugal e encontrei uma rapariga que era uma das figurantes. O produtor vem-me dizer “Ah São José está ali uma menina da figuração que é tua fã. Podes dar-lhe um beijinho antes dela se ir embora?” e eu “Claro que sim! Onde é que ela está?” e eu olho e a miúda estava a tremer muito e, ao dar-me os beijos, nem olhava para mim! Isto é caricato e eu fiquei “Como é que é possível? Porque é que estás a tremer ao pé de mim? Não sejas parva, pára lá de tremer! Tu estiveste aqui a trabalhar comigo a noite toda e agora estás a tremer só porque me estás a dar dois beijinhos?” Depois são os elogios, às vezes infantis, é uma situação caricata! O que é que tu fazes a uma pessoa que está a tremer ao pé de ti? A tremer e a chorar como se tu fosses...sei lá, alguém muito importante? Eu não sou nada importante, eu sou uma pessoa como outra qualquer! Não sei bem como é que hei-de reagir. Dou-lhe beijos? Abraço-a? Quanto mais a abraço mais ela treme! Quanto mais beijos lhe dou mais ela chora! Não sei, isto é uma situação caricata que eu adorei! E depois há uns senhores que aparecem sempre aí, a ver as peças todas, e têm os recortes todos e não sei quê. Eu não sei até que ponto é que isso é saudável ou não. Porque isso também são desvios de energia, são transferências de energia, de atenção que eles fazem. Eu não sei se isso é real. Eu não sei se o amor dos fãs é real. Eu acho que não, grande parte das vezes, não é real.

“Eu tenho uma vantagem, que é a vantagem que toda a gente tem, o que eu faço ninguém faz!”

Pode ser a quarta Medeia? Sim sim! Eu espero que sim por isso é que eu não posso fazer agora porque acho que sou muito nova mas sim, quando fizer, porque hei-de fazer, espero marcar! Espero que seja um papel marcante para mim e para quem for ver.

Teatro ou televisão? Teatro. Por várias coisas! Pelo factor tempo, eu acho que é o que define melhor a grande diferença do teatro e da televisão. Eu gosto de fazer televisão mas já não tenho o discurso que tinha quando comecei, como é óbvio...Estou mais cansada, já percebi os limites da televisão e no teatro ainda não descobri limites portanto é o teatro, sem dúvida.

Mas há uns anos tinha seis e agora tem 400… (risos) Sim sim, é porreiro!

E daqui a uns anos? Espero ter mais, se bem que isso não é uma ideia que viva constantemente na minha cabeça mas é bom. Quando vou lá, é bom saber que tenho mais, claro que é bom! Como por exemplo, para este espetáculo...é assim, eu não penso muito nisso, mas se pensar fico horrorizada “E se não vem ninguém?!”, “E se não vem ninguém?!”. Mas eu não posso pensar nisso e não penso, isso é uma coisa que vem depois. Tenho é que fazer o meu trabalhinho primeiro. Preciso de ter o espetáculo primeiro e depois logo vejo o público. Fica entediada com quê? Fico entediada com não ter nada para fazer, não ter nada em que pensar...tenho sempre alguma coisa para pensar, mas quando não tenho nenhum texto para ler com um objetivo técnico, com o objetivo de trabalho fico entediada. Quando estou à espera para gravar três horas numa sala de atores onde eu não tenho silêncio, onde não posso fumar, onde estou a ouvir conversas de “chacha” sobre o carro e sobre o sapato e o cão e o perfume e…(suspiro) Fico entediada com isso. Como é que vai ser a São José amanhã? Não sei, olha bem disposta e com energia porque temos muito que trabalhar, igual à de hoje. E feliz, estou no meio de um processo extraordinário e portanto estou feliz e logo a seguir vou de férias e portanto estou hiper feliz! (risos) Tem medo dos 40? Não, não, medo nenhum. Eu só vou poder fazer a Medeia aos 44 como é que eu posso ter medo dos 40? Eu quero mesmo é chegar aos 44. (risos)


economia. Quatro vinhos portugueses nos melhores do mundo O ranking da Wine Spectator dos 100 melhores do mundo nomeia, mais uma vez, vinhos portugueses. Entre eles dois Porto e dois Douro: Croft Vintage 2011, Graham Tawny20 Year Old, Quinta do Passadouro 2010 e o Quinta do Crasto reserva Old Vines 2010. Fabiana Queirós Oliveira e Rita Salomé Esteves No 25º Aniversário do Ranking, a revista Marcus considera que “este tinto é luxuoso, refinorte-americana volta a colocar vinhos portunado e musculado, mostrando um bom corte dos gueses entre os cem melhores do mundo. sabores cremosos e bem temperados. Um intenso O Croft Vintage 2011 foi o melhor classificado, palato a pó de cacau através do acabamento, que arrecadando a 13ª posição, com 97 pontos - mais intensifica as notas de molho hoisin e pudim de 2 que o vencedor de 2013, o espanhol Cune Rioja ameixa.” Imperial Gran Reserva 2004. Segundo Kim Marcus, O último vinho classificado nos 100 melhores do editor da Wine Spectator responsável pelos vinhos ano é outro Porto, Graham Tawny Port 20 Year Old portugueses, o Croft é uma vinho “efusivamente que também arrecadou 93 pontos. Acerca da qualisuculento, rico e concentrado. (...) Com notas de dade do vinho, Kim Marcus refere que “é um vinho laranja e chocolate que prolongam o sabor exótico.” Tawny com muito poder e sabores intensos a creme Em 37º lugar, surge o Quinta do Passadouro 2010, de laranja, alperce seco, pêssego e ananás assados com 91 pontos. Kim Marcus declara que este é um que são balanceados com notas concentradas de vinho “com bastante poder, atrás dos sabores a caramelo e chocolate. O final é cheio de especiarias cereja e ameixa vermelha, e suportado por uma acidez fresca.” adicionada a notas picantes. Pedro Almeida, Diretor Comercial da Toques de citrinos dão-lhe Quinta do Crasto, está confiante na um entusiasmo extra, acaqualidade do vinho produzido pela bando com acentos puros de marca, uma vez que esta é a quarta pimenta.”. vez que o vinho do Pinhão se situa O seguinte vinho português entre os 100 melhores do mundo, de no ranking chega na 81º acordo com a Wine Spectator. Em Wine Spectator posição, com um total de 93 pontos. 2005, o Quinta do Crasto chegou a alcançar o 3º Sobre o Quinta do Crasto Douro Reserva Old Vines, lugar, sendo o único vinho português a arrecadas

“O Croft Vintage 2011 foi o melhor classificado, arrecadando a 13ª posição, com 97 pontos”

uma posição tão elevada. O sucesso nas exportações acompanha o geral do panorama português, registando valores mais altos na exportação do que nas vendas internas. “Desde sempre que a Quinta do Crasto é uma empresa fortemente exportadora (atualmente vendemos 30% da nossa produção em Portugal e exportamos 70%) e é evidente que este e outros importantes reconhecimentos na imprensa estrangeira reforça muito o posicionamento da marca nos segmentos “premium” e “super premium” contribuindo por isso para um reforço nas exportações, embora o nosso objetivo seja manter este “ratio” de 30/70.”, esclarece Pedro Almeida. Em 2013, os vinhos portugueses registaram um aumento nas exportações na ordem dos 4,5% durante os primeiros nove meses do ano, segundo um estudo do Instituto do Vinho e da Vinha (IVV). O IVV acrescentou, ainda, que o terceiro trimestre foi

o mais favorável do ano a nível de lucro. As receitas daí resultantes rondam os 500 milhões de euros. Contudo, verificou-se, igualmente, uma subida média de 11,1% no preço médio. Futuramente, os Estados Unidos da América serão um mercado alvo, uma vez que se tem verificado um crescimento de 8,4% nas vendas para direcionadas para o país. Para além da Wine Spectator, também a revista norte-americana Wine Enthusiast realiza um ranking anual. Em 2013, foram nove os vinhos portugueses selecionados para a sua Top Cellar Selection, colocando Portugal no quarto país com melhores vinhos a nível mundial, atrás da França, dos Estados Unidos e de Itália. Até à hora de fecho desta edição, o Ponto não conseguiu obter declarações da Croft, da Graham e da Quinta do Passadouro.

Portugal está entre os países com maior idade Portugal abaixo do poder de de reforma efetiva Os portugueses são dos que trabalham até mais tarde. Portugal está em quinto no ranking da OCDE na idade de reforma efetiva. Apesar da idade oficial de reforma estar em média com os restantes países da OCDE, na prática, e segundo o relatório emitido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, os portugueses saiem mais tarde do mercado de trabalho. Telma Parada

Idade de reforma efetiva (em anos)

Portugal

OCDE

2013

Portugal

65 CIAL

OCDE

OFI

anos

66,4

68,4

63,6

64,2

2014

Portugal

66 CIAL FI anos

O

Top 5 México Coreia Chile Japão Portugal

2050

67 iSÃO Prev

anos

OCDE

compra na média Europeia

José António Pereira O poder de compra médio anual, por individuo, em Portugal, é de 10.018 euros. Apesar de subir uma posição no ranking, Portugal continua a 2872 euros de alcançar a média europeia que se situa nos 12.890 euros. O distrito de Lisboa tem um poder de compra médio anual de 14.145 euros, um valor superior à média europeia. Já nos Açores, a média registada é de 6.443 euros, um número que praticamente corresponde a metade da média europeia, o que revela uma grande assimetria territorial. Em relação ao ano anterior, Portugal subiu um lugar na tabela, o que faz com que agora, os portugueses tenham um poder de compra per capita superior ao da Grécia, que se situa no 21º lugar da lista. Itália, Espanha, Chipre e Malta, países afetados pela crise, estão na 15ª, 17ª, 18ª e 19ª posições, respetivamente. Liechenstein ocupa o primeiro lugar da lista com um poder de compra quase seis vezes maior que o português: 58.844 euros. Suíça fica a seguir com 36.352 euros e depois a Noruega com 31.707 euros. A Moldávia é o último país da lista. Lá, cada habitante tem apenas um décimo da média europeia de poder de compra, um valor situado nos 1284 euros. O estudo “GFK Poder de compra na Europa 2013/2014” baseia-se em estatísticas sobre níveis de rendimento e impostos, benefícios governamentais e previsões efetuadas por gabinetes económicos. O poder de compra da GFK é usado pela população para fazer compras de consumo e despesas mensais recorrentes como custos de energia e habitação, transportes e viagens.


17 Z

Z

Z

PORTUGUESES VIAJAM MAIS

Vital Moreira Publicada em 18 de janeiro de 2011 no Público

JUNHO.201

3

<

3.900.000 viagens +7% 2012

<

3

ABRIL.201

visitas a família 46%

Fonte: Instituto Nacional de Estatística

nw

lazer

37%

O objetivo está bem traçado: produzir caviar em Portugal. Já o percurso de implementação do projeto é definido por um dos promotores da ideia como “uma travessia no deserto”. Paulo Pedro e Valery Afilov são os nomes da “Caviar Portugal”, uma empresa criada a partir da Universidade do Algarve que pretende começar a produzir caviar a partir de 2015. Ao Ponto, Pedro Paulo contou o porquê desta escolha: “Há condições para o fazer, é um produto que tem procura no mercado e quem tinha este sonho, há muito anos, achava que havia viabilidade para se fazer em Portugal.” O projeto começou em 2010 mas foi este ano, em fevereiro, que a empresa recebeu as centenas de esturjões da Holanda nadam agora na piscina que custou 500 euros e está instalada na Universidade do Algarve. Os peixes custaram aos promotores cinco mil euros. A unidade que deverá ser construída no distrito de Évora, entre o final deste ano e o início de 2014, terá capacidade para cerca de 150 toneladas de quatro espécies de esturjão, capazes de produzir ao fim de cerca de cinco anos, entre 4,5 toneladas a cinco toneladas de caviar: iguaria composta de ovos salgados de esturjão. A produção em quantidade suficiente para assegurar presença no mercado só será possível em 2017 mas em 2015 já se poderá provar alguma coisa numa fase de teste. Da produção prevista estima-se que apenas 5% fique em Portugal. “O mercado nacional não tem capacidade para escoar este produto em quantidade. É um mercado muito pequeno. Para além do mais há uma limitação porque o próprio peixe também e vendido e não há um hábito de consumo em Portugal. Portanto este projeto está inteiramente vocacionado para a exportação.” Disse Pedro Paulo, biólogo marinho.

toneladas

5

previsão de produção anual de caviar

4

milhões de euros investimento previsto

92%

negócios 9%

“Caviar Portugal”: toneladas de ovas de ouro Fabiana Queirós Oliveira

PORTUGAL

Os destinos de exportação deverão ser principalmente o mercado asiático, mas a América do Norte e Europa também são opções. O projeto tem contado, até agora, apenas com investimento dos mentores. No entanto já há muitos contactos feitos que esperam pela prova do produto. Quanto ao investidor, encontraram-no após uma “travessia no deserto” mas esse capital só entrará na fase de construção da infraestrutura. No total, o investimento previsto é da ordem dos 4 milhões de euros. “Nos últimos três anos temos investido o nosso tempo e poupanças pessoais nisto e já tivemos muitos problemas durante este tempo, muitos avanços, muitos retrocessos. (...) Mas é preciso ir avançando. É um projeto a longo prazo, estes peixes demoram muito tempo a crescer, comem muito tempo antes de podermos produzir alguma coisa de caviar mas continuamos muito motivados e com muita vontade de levar isto para a frente” garantiu Pedro Paulo. “Apesar de parecer pouco justo, a realidade é que há cada vez mais ricos e uma das coisas que as pessoas que tem dinheiro gostam de fazer é mostrar que o têm e consumir produtos cotados como de luxo” acrescentou ainda o biólogo. Confiantes apesar da crise, os mentores do Caviar Portugal continuarão a alimentar os esturjões que em pouco tempo se poderão tornar nas suas “galinhas” das ovas de ouro.

números

5,8% *

foi o aumento das exportações no 3º trimestre de 2013 face ao mesmo período de 2012

3,6% *

foi o aumento das importações no 3º trimestre de 2013 face ao mesmo período de 2012

2 684 milhões *

foi o valor do volume de negócios da pesca e atividades conexas em 2012, menos 2,3 % do que em 2011

28,8 mil *

pessoas envolvidas no setor das pescas e atividades conexas em 2012, menos 3,1% do que em 2011

Ponto de Viragem? Forte da sua firmeza e dos resultados preliminares da execução orçamental de 2010, Sócrates desafiou os mercados e venceu. Com o sucesso do leilão da dívida pública nacional na semana passada - que era unanimemente considerada crítica pelos observadores -, a estratégia dos que a nível interno apostavam na entrada do FMI e na provável crise política daí decorrente - como era o caso notório do PSD - sofreu um importante revés político. Com a sua determinação e firmeza, Sócrates pode ter conseguido mais uma vez “dar a volta por cima”. É cedo, porém, para dar a guerra por ganha. Não pode desvalorizar-se a posteriori o que estava em causa. Era a primeira emissão de dívida de um país “periférico” neste novo ano. Era enorme a pressão dos mercados sobre os títulos da dívida soberana portuguesa, só em pequena parte aliviada pela oportuna intervenção do BCE no “mercado secundário”. A imprensa e os comentadores nacionais faziam coro no iminente recurso à ajuda financeira da UE e do FMI. Dava-se crédito a boatos não consubstanciados de que a Alemanha e a França aconselhavam Portugal a recorrer a esse Fundo (supostamente para apaziguar os mercados e aliviar a pressão sobre a Espanha) e que a preparação da operação de resgate já estava em marcha. Forte da sua firmeza e dos resultados preliminares da execução orçamental de 2010, Sócrates resolveu desafiar os mercados, e venceu. Não faltaram depois os despeitados a tentarem subestimar o êxito da operação, esquecendo o que eles próprios tinham dito antes. Mas os mercados financeiros reagiram bem, com descida das taxas de juro e do índice de risco da dívida nacional. O euro subiu e Bruxelas respirou de alívio, com o relativo desanuviamento da situação, que já ameaçava contaminar a Espanha, a Itália, a Bélgica e a própria França. Nos dias seguintes, as emissões de dívida da Espanha e da Itália correram igualmente bem, reforçando o sentimento de que a fase crítica tinha passado. Por iniciativa da Comissão Europeia, foi entretanto lançada a ideia de reforçar os meios e de ampliar o escopo do mecanismo europeu de ajuda financeira, possibilitando a sua intervenção direta nos mercados da dívida, criando assim um meio preventivo expedito de assistência a um país sob excessiva pressão dos mercados. Se tal se concretizar, a resistência portuguesa pode ter também marcado um ponto de viragem na resposta europeia à ameaça de crise da dívida dos países periféricos, e do próprio euro.Obviamente, o êxito registado não afasta o perigo de uma crise da dívida nacional. (...)


sociedade. Os rapazes lá do seminário A semana passada foi dedicada, pela Igreja, aos seminários. A catequese, as vigílias e as orações foram adaptadas ao lema “Para que Cristo se forme em Nós”. Mas, afinal, como é a vida num seminário? José António Pereira O dia começa cedo no Seminário Menor de Refrequentou, quis logo entrar no seminário. Nove sende. Todos os dias, às 6h45, o som da sineta serve semanas depois, escolhe com facilidade a principal de despertador aos 12 seminaristas que lá vivem. dificuldade da vida longe de casa. “O que custa mais Meia hora depois começa a eucaristia, umas vezes são as saudades, mas com o tempo habituamo-nos presidida pelo vice-reitor do seminário, o padre e como estamos todos em família esquecemos isso”, António José Ferreira, outras vezes por um dos diz. Estes rapazes só vão a casa de 15 em 15 dias, por formadores, o padre Miguel Peixoto. norma. O número reduzido de seminaristas presentes Outro dos novos alunos do seminário é Igor Anfez com que a sala de música se transformasse drade, com 16 anos. As más notas na escola fizeram em capela, isto porque a capela que já existia era com que os pais lhe sugerissem a entrada no demasiado grande para poucos jovens. Estas missas seminário, o que não lhe agradou de imediato. Nas são cantadas, acolitadas e preparadas pelos jovens, idas a casa há que aproveitar bem o tempo. Ilídio que se juntam em redor do altar. Um pouco atrás, Ferreira está separado de casa por 50 quilómetros. costumam ficar três funcionárias do seminário que Sobre a rotina de um seminarista diz que “é um também mostram a sua devoção com oração. bocado rigorosa, mas, se pensarmos bem, tudo “Acordamos às 6h45, preparamo-nos até às 7h15 tem que ter regras e aqui também é essencial”. Aos e vamos para a eucaristia. No final da eucaristia fins de semana, a rotina é diferente e mais livre vamos tomar o pequeno-almoço. Às 8h preparamos de horários, onde há sessões de cinema, jogos de a mochila para ir para a escola”, diz Rafael Matos, o futebol e passeios pela vila. “Dá para desanuviar seminarista mais velho do grupo, das aulas”, diz Ilídio. com 18 anos. “No início, a rotina Sérgio Carvalho, com 15 anos, é muito monótona, mas depois entrou para o seminário a queruma pessoa habitua-se e a equipa er descobrir o caminho de Deus. formadora vai metendo umas “Como diz o nosso lema ‘Ide e faatividades pelo meio. Costuma zei discípulos’, aqui estou eu para ser interessante”, conta Adriano ir fazer e procurar o caminho Pereira, seminarista há três anos. de Deus”, refere. A relação entre Ilídio Ferreira Depois da missa, os seminaristas juntam-se à os 12 é muito próxima e, por isso, Sérgio mesa, onde não se sentam sem rezar uma pequena até os compara com os 12 Apóstolos. Os desabafos oração. A seguir, preparam-se para sair para o entre todos são comuns. “Desabafo muito com eles Externato D. Afonso Henriques, onde as aulas e conto-lhes coisas que os meus pais não sabem”, começam às 8h30. Estão na escola até às 16h30 e diz Sérgio. Rafael é visto como o irmão mais velho e regressam ao seminário, onde têm horários bem um ombro amigo nos momentos mais difíceis. preenchidos, que passam pelos salões de estudo, Ainda nenhum sabe se vai ser padre, porque a pela leitura na biblioteca, ou pelas horas de repou procura por essa resposta não é fácil e exige uma so nas camaratas. reflexão prolongada. “Quando

“É um bocado rigoroso, mas, se pensarmos bem, tudo tem que ter regras e aqui também é essencial”

A vida no seminário “Queria descobrir, foi para isso que entrei”, diz Adriano Pereira. Com 15 anos, este é um dos 12 rapazes que frequenta o Seminário Menor de Resende, também conhecido por Seminário de Nossa Senhora de Lourdes. “O meu pai, a minha mãe e o meu padrinho eram as pessoas que mais me apoiavam”, continua. Depois de ter feito um pré-seminário, e apoiado pelo pároco, decidiu entrar, apesar de o irmão não ter achado muita piada. Cláudio Almeida está pelo primeiro ano nesta escola de formação. Com 14 anos, é o rapaz mais novo. Surpreendido pelo acolhimento com que os seminaristas o receberam no pré-seminário que

os: o Seminário Menor de Resende, dedicado aos jovens que frequentam o terceiro ciclo e o ensino secundário; e o Seminário Maior de Lamego, para onde seguem os jovens que pretendem ser padres e se formam em Teologia. No primeiro, de há uns anos para cá, o número de seminaristas reduziu. Se há cerca cinco anos havia mais de 40 seminaristas em Resende, este ano há apenas 12. Rafael Matos acredita que isso acontece porque há menos jovens e Portugal é um país com uma grande taxa de envelhecimento. Cada jovem paga 500 euros por trimestre para estudar no Seminário de Resende, mas a crise parece não ser uma razão para afastar estes rapazes. A promoção vocacional é uma das ferramentas que a equipa formadora usa para captar os jovens com vocação. A ida pelas paróquias da diocese, que mostra a realidade do seminário ou os

pré-seminários, bem como os encontros gratuitos entre os adolescentes, são outras formas de cativar. O formador Miguel Peixoto se entra para o seminário com entende que “há muitas razões” 12 anos, o principal objetivo é que justifiquem a menor procura, encontrar uma pequena chama como, por exemplo, o “desinteresque nos leve ao encontro de se relativamente à Igreja”. Além Jesus Cristo e, assim, ao longo da disso, o padre Miguel fala da falta caminhada encontrar a nossa oração como uma das razões. fé”, partilha Rafael. Mas Sérgio “No dia-a-dia não se reza tanto tem um sonho para concretizar. pelos seminários como se rezava. Sérgio Carvalho Antigamente, havia o rótulo de seminarA dimensão espiritual reflete-se nos seus istas na escola onde estudam, mas, nos dias que frutos”, diz. correm, as coisas mudaram. “Em geral não sinto “O mundo parece estar surdo, as pessoas não param nada disso. É como se fosse uma pessoa normal na para pensar e refletir e Deus fala no interior de turma”, partilha Ilídio. cada um”, afirma o vice-reitor do seminário, o padre Há cada vez menos seminaristas António José Ferreira. “Se antigamente muita genNa diocese de Lamego, Viseu, há dois seminárite falava aos jovens deste caminho, hoje há pouca gente. Não há essa sensibilidade. Os jovens não conhecem a realidade do seminário. Temos tido a preocupação, hoje mais, de ir pelas paróquias, para lhes dar a conhecer o seminário”, continua. No entanto, as pessoas ainda se preocupam com os seminários, como demonstraram na última semana, designada de “Semana dos seminários”. “É uma das causas que mais mobiliza a diocese”, diz D. António Couto, bispo de Lamego. “Verifica-se através da coleta, cujo resultado é dos mais elevados ao nível da diocese, o que quer dizer que as pessoas consideram os seminários como seus e importantes”, conclui. O número “12” não é impedimento para “uma amizade muito grande. Estamos sempre juntos, realizamos maiores atividades, andamos mais felizes e conseguimos fazer com que o tempo passe mais rápido do que se andássemos na solidão”, completa Rafael matos. O Seminário Menor de Resende é “uma escola que já preparou muita gente”, diz António José Ferreira, o vice-reitor da instituição.

“Como diz o nosso lema ‘Ide e fazei discípulos’, aqui estou eu para ir fazer e procurar o caminho de Deus”

O papel do formador A equipa de formação do Seminário Menor de Resende, que comemora este ano o seu 85.º aniversário, é composta por quatro elementos. Miguel Peixoto, padre, tem 29 anos e recebeu o convite pouco tempo depois de ter sido ordenado sacerdote. “Fiquei um pouco assustado”, diz. “Ser formador no seminário é acompanhar os rapazes numa dupla dimensão: a dimensão humana e a dimensão espiritual aquilo em que o seminário é específico - e fazer destes jovens anunciadores e transmissores da mensagem”. Os desabafos com os formadores são vários e as ideias partilhadas mostram crítica à sociedade. “Podemos ver os formadores como amigos, pais e educadores. Estão prontos para nos ajudar. O principal objetivo no seminário é educar. Ajudam-nos a superar os momentos menos bons”, conta o seminarista mais velho, Rafael. “No fundo, o importante é a formação integral em ambiente de seminário”, diz o vice-reitor. “Formá-los para a vida, no campo humano nos valores, no campo intelectual, no campo espiritual, e, quem sabe, um dia, no campo pastoral, para quem enveredar pelo caminho do sacerdócio. O aspeto espiritual está sempre presente, porque o seminário pretende formar padres”, acrescenta. Também os funcionários da instituição assumem um papel importante na formação dos jovens. No total, há nove funcionários no seminário e três voluntárias. Maria da Glória Peixoto tem 72 anos e é uma das voluntárias a “aturar os heróis” e a ajudar nas refeições. Já conhece bem estes jovens e os seus gostos e sabe das mudanças que o tempo trouxe. Aida Pereira e Fátima Pereira são gémeas. Também dominam bem a realidade dos seminários, fruto dos anos de trabalho que lá tiveram. “Se eles precisassem de carinho e de um sorriso, ria-me para eles”, diz Aida. Albina Sequeira é funcionária há 30 anos e guarda com carinho histórias de jovens que ajudou a educar, inclusive a do vice-reitor. Em suma, um formador “é um pai, é um companheiro, é um amigo. Tem que ser um pouco de tudo. Há momentos em que os seminaristas precisam de alguém que os acompanhe, há outras vezes em que precisam de ser repreendidos”, conclui o padre Miguel Peixoto.


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Hoje em dia nem isto nem aquilo

Dieta mediterrânica é Património da Humanidade

Depois de serem a “Geração à Rasca” e a “Geração mais formada de sempre”, os adolescentes mais velhos e os jovens adultos são agora a “Geração Nem Nem”. Não estudam, nem trabalham e já são quase meio milhão. Os motivos diferenciam bastante, mas a frustração é transversal.

Depois do fado é a vez da dieta mediterrânica ser considerada património imaterial da humanidade. É a segunda inscrição de Portugal, desta vez aliada a seis países.

Rita Salomé Esteves São agora 450 mil os jovens entre os 15 e os 34 anos que não estudam nem trabalham. A “Geração Nem Nem” somava, em setembro, 450 mil jovens, mais 92 mil do que em 2012. Mais de metades destes jovens ficaram-se pelo ensino básico, 29%, pelo secundário e 17% concluíram o ensino superior. O maior problema apontado é a falta de oferta de trabalho. As ofertas de emprego, além de precárias e escassas, pedem tempo de experiência que os candidatos não têm. Sucedem-se as entrevistas de emprego, as entregas de currículos, mas a mudança não parece estar para breve. Clara Novaes, tem 22 anos, é licenciada em Turismo e é “Nem Nem” desde setembro. Os seus dias são pouco preenchidos, entre entregar currículos e ficar em casa, a principal dificuldade é ter que depender dos pais para sustentar o seu quotidiano. “Às vezes surgem coisas a pagar, contas ou até mesmo no meu caso despesas a parte que tenho que contar com o dinheiro dos meus pais, particularmente não me sinto à vontade em gastar um dinheiro que não vem do meu esforço. Quando eu estudava eu gastava o meu tempo e dinheiro com algo produtivo pra minha vida, agora eu gasto pra ficar em casa. Chega uma hora na vida que queremos ganhar o nosso por conta própria.” confessa. Como Clara, várias outras pessoas ocupam os dias a planear um futuro que não traz perspetivas animadoras. “Eu sinceramente não tenho desanimado, acredito que em algum momento eu irei encontrar alguma coisa”. Trabalhar fora da área da formação passa de hipótese a certeza e mesmo um trabalho temporário é

uma opção. Mas são raras as vezes em que mesmo o trabalho precário garante mais do que o salário mínimo. Maior parte destas pessoas não tem, sequer, direito ao subsídio de desemprego porque este implica, no mínimo, um ano de trabalho consecutivo no currículo. Esta situação é agravada para os jovens que se ficaram pela educação básica que, sem formação, se veem ainda com menos hipóteses de suceder no mercado laboral. Clara veio do Brasil para estudar e encontrar um emprego, mas, por agora, garante que voltar a casa dos pais não é uma opção. Ao contrário de milhares de outros jovens que, sem dinheiro para se sustentarem a eles próprios não têm outra alternativa que não seja regressar a casa dos pais para reduzir as despesas e procurar um pouco mais de estabilidade. Clara pretende ficar em Portugal enquanto os pais conseguirem financiar a sua estadia. Quanto aos amigos que conhece em situações semelhantes à sua, Clara diz que “alguns já pensam em ir embora de Portugal e já começaram a planear a ida. Outros ainda querem continuar a tentar encontrar qualquer coisa por aqui”. Enquanto o trabalho vem e não vem, a continuação dos estudos é um cenário possível, mas sem dinheiro que pague os custos da educação, a possibilidade vai ficando mais longe. A causa desta situação, justifica Clara, é a a falta de dinheiro e experiência. “Estudar acredito que seja por dinheiro, pagar propinas etc. não sai muito barato, e trabalho acho que é por falta de oportunidade na área ou por cobrarem demais certas experiências e “habilidades” que um recém-formado ainda não possui.”

14 atropelamentos por dia Nos últimos três anos registaram-se 14 atropelamentos por dia em Portugal, num total de 15 828. Estes dados foram divulgados esta sexta-feira pelo presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Jorge Jacob, durante a apresentação do Guia do Peão que contou com a presença do secretário de Estado da Administração Interna, Filipe Lobo d’Ávila.. Este guião é um documento que ensina as regras, normas e comportamentos que os peões devem cumprir e adotar para garantir uma circulação mais segura. Apesar disso, nos últimos dez anos Portugal diminuiu em cerca de 10% o número de vítimas mortais. Fabiana Queirós Oliveira e Rita Salomé Esteves

maioria mortos

q>65anos

22%

atropelamentos

2010 15 828 2012 qq

atropelamentos

553 14/dia

mortos

A UNESCO aprovou a dieta mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade, na 8ª sessão do comité intergovernamental da organização, a decorrer em Baku, Azerbeijão. A candidatura, feita por Portugal, Croácia, Chipre, Espanha, Marrocos, Itália e Grécia já estava inscrita desde 2010 por estes quatro últimos países. No entanto, agora renovada conseguiu aprovação em dois minutos e “sem objecções porque todos gostam desta comida”, afirmou o presidente da mesa. A delegação portuguesa presente em Baku foi liderada por Jorge Botelho, presidente da Câmara Municipal de Tavira - cidade que elaborou a candidatura - por Jorge Queiroz, diretor do Museu Municipal de Tavira, João Begonha, chefe de gabinete da ministra da Agricultura, Victor Barros, coordenador da Comissão Nacional da Dieta Mediterrânica e Rita Brasil, membro da representação portuguesa da Unesco. De uma lista inicial de 60 candidaturas, a dieta mediterrânica integra a lista de 31 candidaturas aceites. As razões da aprovação centram-se numa “série de competências, conhecimentos, rituais, símbolos e tradições ligadas as colheitas, à safra, à pesca, à pecuária, à conservação, processamento, confeção e, em particular, à partilha e ao consumo dos alimentos. Comer em conjunto é a base da identidade cultural e da sobrevivência das comunidades por toda a bacia do Mediterrâneo.” A necessidade de comer produtos saudáveis e a transmissão da cultura de geração em geração também foram razões para a aprovação da dieta mediterrânica.

Cáritas Portuguesa apela à erradicação da fome no mundo até 2025 Luís Martins

acidentes em estrada

feridos 17035 ligeiros 1827graves

Telma Parada

48%

feridos morre no hospital depois de 30 dias

Portugal fonte: Autoridade Nacional de Segurança Rodoiviária

No Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de Dezembro) a Cáritas Portuguesa lançou a campanha da Confederação Internacional “Uma só família, alimento para todos” que pretende erradicar a fome no mundo até 2025. Estatísticas mostram que a cada 8 pessoas no Mundo, 2 não têm uma alimentação necessária e não porque faltam alimentos mas sim por uma “má distribuição da comida existente” afirma Eugénio Fonseca, o presidente da Cáritas Portuguesa, em declarações à agência Lusa. “Basta vermos os números escandalosos do desperdício alimentar que acontece pelo mundo fora, incluindo no nosso país”, acrescentou o presidente. Eugénio Fonseca adiantou ainda que, para este apelo ter sucesso é preciso vontade política e que serão várias as iniciativas previstas para os próximos dois anos, salientando que o objetivos da campanha não “é uma utopia. Isto é uma possibilidade que está ao alcance de todos, provado pelos peritos nesta matéria”.

António Bacelar Director do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária e do Secretariado da Juventude

Sair Aproximamo-nos do final do ano civil e é quase espontânea, em jeito de balanço, a tendência para alguma retrospetiva. Poderia ser interessante, a esse propósito, sujeitarmos as palavras pronunciadas, escritas e ouvidas à análise estatística que nos indicasse preponderâncias, tendências, insistências… Não o vou fazer – sobretudo pela complexidade de escolha dos discursos e textos a considerar – mas arrisco afirmar ser o verbo “sair”, com todos os seus derivados, um dos mais usados. Não só – mas também… - porque todos ansiamos sair da crise, alguns se veem forçados a sair do país e tantos não encontram saída para a situação de desemprego em que se encontram (após saída do emprego que tinham ou do curso que concluíram). Estas são saídas frequentemente sem, pelo menos aparente, saída. Mas também nestas individuo saídas com… saída: quando, simultaneamente na raiz e na meta da mesma, há o encontro. O encontro com o outro (que alguns até nos atrevemos a reconhecer e escrever em maiúsculas – Outro…) e que transforma cada saída não em fuga mas em imensa possibilidade: de uma página e etapa novas, de renovada descoberta, de mais aberto horizonte. Entre tantos outros percursos de saída e de encontro, o ano de 2013 fica marcado pela saída, quase inédita, do Papa Bento XVI e pelo encontro com Papa Francisco. Mas se há palavra recorrente entre as tantas que deste último, quase diariamente, podemos ouvir ou ler… essa é, de novo, sair. Assim o demonstra a recente Exortação Apostólica “Evangelho da Alegria”. É, certamente, o apelo à saída da Igreja (e de cada seu membro) de si mesma, porque é “preferível uma Igreja acidentada por ter ousado essa saída, do que doente por ter ficado encerrada em si” mas é também o apelo a cada pessoa a assim arriscar realizar a própria humanidade. E na saída de si para o encontro com o outro, há um campo imenso de possibilidades que se abre, há mesmo – atrever-me-ei a afirmar – o esboço de uma humanidade renovada e de que, aqui e ali, já podemos ir reconhecendo alguns sinais. Aqueles sinais que acontecem quando o outro como diferente (também na sensibilidade, opinião, ponto de vista…) deixa de ser um obstáculo a abater para ser reconhecido como dom a acolher. Num tal acolhimento não serão abolidas nem identidades nem diferenças mas abrir-se-á um caminho que, feito de escuta e reconhecimento recíprocos, nos levará – a todos os níveis, incluído aquele da conflitualidade social – à descoberta de “saídas” tantas vezes nem sequer sonhadas porque nascidas de relacionamentos novos e não da preponderância de um sobre o outro nem, muito menos, de complexos compromissos ou contraditórias sínteses. Mas urge sempre a saída: da nossa própria zona de conforto e segurança de nós mesmos e dos próprios egoísmos com que o novo mais dificilmente habita!


reportagem. Vender o fora cá dentro O comércio multicultural está espalhado um pouco por todo o Porto. Trazem à cidade um vislumbre de cada continente, mas sem ajudas do Governo Português. Algumas lojas já fecharam portas, outras continuam a enfrentar as dificuldades para trazer o estrangeiro a Portugal.

Na Rua Ricardo Jorge, mesmo em frente ao Bingo da Trindade encontra-se a loja Gastronomia Eslava, que vende produtos soviéticos, sobretudo produtos alimentares. O minimercado “está aberto há muito tempo, mas com outro dono. Comigo há mais de um ano e meio. Mas tenho outra loja em Braga que é gerida pela minha esposa, há cinco anos.” diz o dono, Dimitri. Dimitri é natural da Rússia mas já está em Portugal há quase 14 anos. Abriu um negócio em Portugal mas já tinha a experiência no comércio russo e por isso “já sabia mais ou menos como funcionava o negócio. A minha loja era no norte da Rússia, na zona da Sibéria” diz. A Gastronomia Eslava difere das outras lojas portuenses pela particularidade gastronómica. “A nossa cozinha é totalmente diferente da portuguesa e por isso temos produtos que não existem em Portugal como o caviar vermelho, preto… E Portugal é um

diferente”. Dimitri gosta de explicar a cultura russa aos portugueses, mas diz que nem todos vêm a loja como benéfica para a cidade. “Tenho o caso de dois indivíduos que passam aqui e começam a chamarme “comunista!”. Não sei se são racistas ou não gostam de nós. Mas nós gostamos de todos, ajudamos todos que aqui entram, seja chinês ou africano, não interessa. Nós ajudamos e tratamos bem, dando os produtos que temos na Rússia”, conta Dimitri. Uns metros mais acima, na Rua do Almada situa-se a loja African’Art de Suri Maruquita. Suri veio do Mali e começou por fazer exposições de esculturas representativas da cultura africana. Depois abriu a loja mas teve que continuar “a fazer exposições junto com a casa para podermos ter a porta aberta” explica. Tal como Dimitri, Suri Maruquita vê a sua loja como “uma representação de África aqui no Porto, uma parte da cultura africana no Porto” e

guiu “sobretudo às pessoas do bairro, ensinando às pessoas mais velhas, que há uma diferença muito grande entre a cultura chinesa e japonesa”. No entanto Ana reconhece que “em relação aos portugueses, sabem receber bem mas nem sempre estão aptos à diferença. Devido a essa fator, tem sido um percurso muito lento”. Para ir cultivando nos clientes o gosto pela cultura japonesa, a loja tem, periodicamente um mês dedicado ao Japão e “todos os sábados são temáticos, desde o sushi, ao origami, arranjo floral... Tento abranger o máximo possível e ter formadores nativos”. Devido à distância entre os dois países e à dificuldade de receber

país de vinho mas a Rússia é uma país de vodka.” afirma Dimitri. Para além disso, os chouriços e o trigo-sarraceno são os produtos que mais se procuram na loja. Para além dos imigrantes dos países de Leste que vão à loja principalmente para conviver, e que a vêm “como se fosse um pedaço de terreno da Rússia e sentem necessidade de vir cá para falar a própria língua”, os portugueses são atraídos pela curiosidade. “Temos por exemplo as matrioskas, que despertam muito a curiosidade de quem passa, porque é

por isso é uma forma de dar a conhecer “a cultura africana em geral, porque África é um misto de culturas. Cada povo tem a sua cultura e as suas características”. No entanto, apesar de receber com gosto todas as pessoas reconhece que, devido ao tipo de produtos que vende, neste momento têm uma “clientela local e de uma classe económica mais alta” diz Suri. O investimento que fazem para que tudo seja feito em África também justifica os preços que “são bons para os clientes mas não para todos”. As peças vêm de várias regiões africanas como o Mali, do Quénia, de Moçambique e Marrocos e são todas feitas de modo artesanal. Uns quarteirões ao lado, no número 242 da Rua do Rosário encontra-se uma pequena loja, a Kuri Kuri. A portuguesa Ana é a proprietária mas na loja apenas se encontram produtos do Japão. Há oito anos Ana fez uma viagem ao Japão e lá tomou “contacto com fornecedores, com o meio laboral e quando voltei para Portugal achei que tinha reunido as condições ideais que eram a minha vontade e a minha paixão de continuar a conhecer a cultura japonesa”, explica. Passados três anos, a Kuri Kuri abria as portas. É uma loja “exclusivamente dedicada ao Japão e

artigos diretamente do Japão, os formadores que dão workshops na loja cidade do Porto e a vontade de Dimitri também fornecem produtos como origami fazer frente às dificuldades que nenhum governo e têxteis que, apesar de feitos em Portugal, têm a procura contrariar. técnica e aprendizagem japonesas. Tal como nas lojas de Dimitri e de Suri Maruquita, “O comércio está em queda livre” também a Kuri Kuri é reconhecida, não tanto pelos “Se a política do Governo andar sempre assim, imigrantes, mas mais pelos turistas japoneses que talvez daqui a dois anos também eu feche” afirma vêm visitar o Porto. “Não estão à espera de ver lojas o dono da loja Gastronomia Eslava. Os impostos japonesas cá e por isso, quando entram levam a são altos, “mais altos que na Europa e se calhar do mão ao coração, e reconhecem os produtos que tenMundo todo” diz Dimitri. A Rússia não ajuda os ho cá e no final agradecem por eu gostar tanto da comerciantes que estão a viver cá e as taxas alfancultura deles e por ter aberto um negócio dedicado degárias também não ajudam. Todos os produtos ao Japão” diz Ana. que estão à venda na loja Gastronomia Eslava vêm Há cinco anos Ana avançou sozinha com a Kuri de fornecedores alemães, “há lá cinco milhões de Kuri e atualmente já se sente “um bocadinho russos e ucranianos e muitas fábricas que fazem japonesa em Portugal”. produtos como os nossos. Se se mandam produtos

“Organizamos periodicamente um mês dedicado ao Japão e todos os sábados são temáticos. ” Ana

não ao Oriente. Creio que o que a distingue é a sua génese e origem tradicional japonesa” afirma Ana. A loja vende produtos como origami, livros antigos que apelam à cultura japonesa, livros de manga e kimonos. A Kuri Kuri, segundo a proprietária, acabou por contrariar o preconceito que existe com os produtos asiáticos já que, durante muito tempo, as pessoas que passavam na rua “olhavam cá para dentro e pensavam “É apenas uma loja chinesa” diferente, mas uma loja chinesa”, mas Ana com a loja conse-

À semelhança de Ana, Baboo Ratanji não nasceu na Índia mas é proprietário da loja Tajmahal em Cedofeita. Nasceu em Moçambique mas veio para Portugal cedo e já tem a Tajmahal à 40 anos. Baboo adaptou-se bem a Portugal porque viveram “sempre debaixo da bandeira portuguesa e a adaptação foi fácil”. A loja, que está situada numa das artérias comerciais da cidade do Porto, vende produtos indianos de todo o tipo desde “artigos orientais, bijuterias, quinquilharias e marroquinarias” e, por isso, o tipo de clientes mais comum “são os jovens, porque furamos orelhas e temos artigos que realmente agradam mais os jovens”, explica Baboo. Baboo, Dimitri, Ana e Suri têm

“Nós gostamos de ver a nossa loja com pessoas de todo o lado e quando entram, gostamos de explicar as coisas e a nossa em comum as lojas multiculcultura.” turais, que se espalham pela


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da Rússia para cá fica muito caro pelo pagamento de taxas alfandegárias.” afirma. Dimitri gosta do país e não que sair de Portugal mas “se não fosse pela questão dos impostos gostava mais”. No entanto não sabe se vai acabar por ter que abandonar o país porque “é cada vez mais difícil” sobreviver com os impostos portugueses. O proprietário da loja Tajmahal, Baboo Ratanji, também sente a crise como principal dificuldade ao negócio porque “não há dinheiro, não há vício”, diz o comerciante da loja indiana. Apesar de achar que “o comércio está em queda livre”, Baboo não sente que o facto de ter uma loja especializada é agravante. “Não, o comércio Suri em geral está com falta de dinheiro. Desemprego, crise. Isto funcionava muito bem há uns anos atrás, nos últimos é que ficamos mal”. Apoios do país de origem, “nenhuns”. Diz Baboo que “só lutamos pelos nossos próprios meios. Aqui em Cedofeita, por exemplo, temos a nossa própria associação de comerciantes, a ACECE, que nos ajuda e colabora e fazemos uma feira para chamar clientes. Não há muitas feiras porque não é permitido fazer sempre. Mas uma vez por mês, uma vez de dois em dois meses, há sempre”, conta. Suri Maruquita, proprietário da loja African’Art, vê no preço dos transportes a principal dificuldade. “Os meios de transporte são caros e raros e isso complica muito o trabalho que temos cá”, diz Suri, sobre o transporte dos produtos originários de África que vende. Suri também foi afetado pela crise. “As coisas que vendemos até podem ser consideradas supérfluas, luxo. Temos sofrido muito, temos tido muita coragem, vivacidade.” A loja Kuri Kuri vende produtos de origem japonesa e por isso, as trocas entre Japão e Portugal são dispendiosas. “Qualquer encomenda que eu faça vem tudo de avião, porque não trabalho com o barco, e as taxas alfandegárias são elevadas. É o único problema grave que eu tenho de lidar na área da contabilidade porque tenho de gerir muito bem para que o preço final não seja muito elevado. E falamos de produtos que mesmo no país de origem são muito caros. Mas se o produto for mesmo tradicional, como o kimono, faço questão de o ter na loja, nem que seja para as pessoas verem e o preço fica para segundo plano. Mas a maior parte, e atendendo ao poder de compra dos portugueses e da Europa, tento cada vez mais ter produtos baratos”, diz Ana, proprietária. No número 314 da Rua do Almada, onde antes existia um minimercado de produtos soviéticos existe agora uma galeria de arte. Quem conhecia a

Loja Troika garante que as dificuldades económicas foram o motivo para o encerramento do estabelecimento. Braço direito do comércio A Associação dos Comerciantes do Porto é a organização responsável por manter a legalidade do comércio na cidade invicta. Nuno Camilo, presidente da instituição, explica o papel bem definido que a mesma desempenha no comércio. “O papel passa acima de tudo por dinamizar o comércio e criar uma série de condições capazes de fazer com que os comerciantes não tenham que se preocupar com a realidade que não seja a venda de produtos, mas a realidade quer seja a parte administrativa, quer seja a parte legal”, diz Nuno Camilo. Cabe, portanto, à entidade, a promoção de várias

“Tivemos que continuar a fazer exposições junto com a casa para podermos ter a porta aberta”

iniciativas que ponham em causa a continuidade do desempenho comercial no Porto, bem como a defesa dos interesses dos comerciantes. “Por exemplo, em relação ao arrendamento, tomamos posições muito vincadas sobre as alterações que estavam a ser impostas; vamos criando campanhas de dinamização do comércio. Portanto, vamos criando os mecanismos necessários para convidar as pessoas a não irem para outro tipo de espaços e virem para o comércio tradicional porque tem as suas mais-valias muito mais fortes que outros espaços”, explica Nuno Camilo, sobre o empenho da Associação dos Comerciantes do Porto (ACP). Numa altura em que a legislação é “capaz de alterar as condições laborais das empresas”, colidindo com a atividade empresarial e comercial de um estabelecimento, Nuno Camilo defende a importância de se estar atento às alterações na lei que tem mudado ao longo dos anos. “Antigamente, um crime que era considerado semipúblico passou a ser um crime cas muito importantes naquilo que é a dinamização particular que tem uma implicação profunda na do comércio e tecido empresarial do Porto”, defende atuação dos agentes económicos. Antes, o agente o presidente. económico bastava única e exclusivamente fazer a Ciente da importância sua participação às autocultural que os mercados ridades judiciais e agora, culturais trazem à cidade, tem que ser constituído Nuno Camilo associa estas assistente, o que significa lojas a um cliente “mais dique vai ter um custo que recionado e bem informado” antes não tinha”, exemplifica na procura pelos produtos, o presidente da ACP. “diferente daquilo que era Os minimercados multiculBaboo o consumidor há uns anos turais espalhados pelo Porto não ficam de fora atrás”. Essas características no consumidor, perdas preocupações da associação. Apresentam “uma ante os minimercados de culturas diferentes, são lógica que não põe em risco a atividade das empre“um sinal” que significa que “sabem a expectativa sas” e criam “um fluxo acrescido e uma dinamização que têm, querem conhecer, saber”, diz Nuno Camido espaço capaz de criar a cativação das pessoas” em lo, o que faz do cliente, “um cliente muito direcionarelação ao serviço, permitindo ainda a promoção do para todo o tipo de áreas de negócio”. de outras lojas “conhecendo outras realidades”, diz O presidente da ACP fala também de um Porto Nuno Camilo. com “zonas muito vocacionadas”, que está a “voltar A Associação dos Comerciantes do Porto livra-se ao comércio que era há uns anos”. “Por exemplo, de acusações no que toca a obstáculos para com a zona de Miguel Bombarda é uma zona de arte; os comerciantes de outros países. “Nós, enquanto a zona das galerias, é uma zona de bares e restauassociação, não temos qualquer tipo de obstáculo, rantes. Portanto, começamos a ter nichos em deterdefendemos que esse tipo de iniciativas só valoriminadas zonas que começam a ter uma dimensão zam a cidade e acima de tudo vão criando dinâmi-

“Não há dinheiro, não há vicio. Por isso o comércio está em queda livre”

Na alfândega As mercadorias importadas de países que não pertencem à Comunidade Europeia estão sujeitas aos Direitos Aduaneiros. Estas taxas, fixadas anualmente por legislação comunitária, encontram-se consagradas na Pauta Aduaneira da CE, e variam consoante o tipo de mercadoria. Todos os objetos provenientes de países não comunitários são sujeitos a Controlo Aduaneiro sem exceção para os que são resultado de encomendas feitas pela Internet.

importacao permitida

importacao proibida

importacao condicionada

I E C (imposto especial sobre o consumo) bebidas, tabaco, combustíveis

valor aduaneiro: I(imposto SV sobre veiculos)

$ + R + IVA I

(praticado por cada pais)


reportagem. - 4,5% imigrantesem 2012

Os 5 distritos com mais imigrantes

23 440

Porto

15 742 Leiria

181 901 Lisboa

44 197 Setúbal

62 624 Faro

imigrantes em portugal por nacionalidade

ucrânia são tomé e príncipe roménia reino unido angola moldávia guiné-bissau china cabo verde brasil outros

10,6% 2,5% 8,4%

4% 4,9% 2,8% 4,3% 4,2%

e uma lógica vocacionada para aquilo que são as diferenciação. “É um risco muito grande mas é óbexpectativas do comerciante”, afirma Nuno Camilo. vio que quando existem marcas que são estandardSer empresário nos dias de izadas, as expectativas das hoje não é tarefa fácil compessoas são expectativas já parando com os anos 80 ou consumadas. Já sabem o que 90 porque os custos foram esperam daquele produto. sendo cada vez mais. “Hoje Agora quando não há marcas um empresário, além de estandardizadas, a pessoa pagar a renda, vencimengosta de ter um produto difertos, telefone, fornecedores, enciado”, diz Nuno de acordo água e luz, paga a Higiene com a sua experiência profise Segurança no Trabalho sional. Dessa forma, a procura e os seguros para os pelo comércio tradicional colaboradores, os seguros acaba por ser uma opção de responsabilidade civil preferida dos consumidores. para quem entra nas lojas, “As pessoas gostam de ir ao passou a ter telemóveis, comércio tradicional porque páginas na internet, sabem que ali vão ter produtos Nuno Camilo terminais de multibanco, equipamentos diferentes e completamente segmentados informáticos”. para áreas distintas”, afirma o presidente. No entanto, superar essas dificuldades passa pela E as lojas multiculturais, que apoios recebem?

“Esse tipo de iniciativas só valorizam a cidade e acima de tudo criam dinâmicas muito importantes importantes naquilo que é a dinamização do comércio e tecido empresarial do Porto”

23%

10,3%

25,3%

25,3%

23% Nenhum deles é oficial. No entanto, em relação às lojas chinesas abertas em Portugal, crê-se que “o governo chinês possa dar um apoio que não é visível à luz da legislação para que as lojas possam ter atividade. Significa que todos os empresários chineses que se desloquem da China para ouro ponto do país tenham um apoio para o fazer”, partilha Nuno Camilo. A China parece ser caso único no que toca a apoios, ainda que de forma invisível. Em relação a outros países, “não existe qualquer tipo de incentivo para as pessoas. Ao fim ao cabo, é como se tivessem emigrado”, continua. E o governo português dá a mão aos comerciantes que vêm de outros países? “Vai tendo algumas medidas”, diz Nuno Camilo. Em jeito de exemplo, o projeto Comércio Investe, “um projeto que tem fundo perdido de 35 mil euros” que, segundo o presidente da ACP “pouco mais dá para fazer que uma “lavagem de cara”, não dá para fazer um grande investimento e para incentivar o crescimento do comércio”.

Ponto de Vista Concorda que os imigrantes venham para Portugal fazer comércio? “Estamos a falar de um tempo em que os povos trocam entre eles informação, partilham uma série de conhecimento e portanto, acho que não há nada de especial contra isso. A pátria é de quem a vive. Existe a ideia de que eles são apoiados, mas não tenho conhecimento de facto. O nosso Eça de Queiroz já falava da vinda dos chineses. Às vezes é uma questão da habilidade. Queremos ser mais habilidosos, mas acabamos por ser comidos.” Fernando Vilares, 53 anos, agente da polícia. “Se vêm é porque o nosso país lhes dá essa oportunidade e estou em crer que os países deles, essencialmente os de oriente, lhes criam condições fantásticas para que isso aconteça. E depois há todo um mecanismo que nós não temos preparado e que eles têm a nível de produção e que os faz ser detentores de um tipo de produto final com um preço completamente diferente do que temos aqui.” Cláudio Garcês, 44 anos, Gerente de loja “Então, coitados, se no país deles não dá, têm que vir para aqui. Nós também vamos para lá. Não vejo nenhum problema, temos que aceitar isso bem.” Maria das Dores, 51 anos, empregada de armazém “Comércio? Acho que é muito bom porque vai dar mehor aproveitamento para o Porto e tudo e eles aprendem um bocado de nós. É bom para a economia de Portugal.” Filipe Sousa, 18 anos, estudante na área de Promoção “É assim, tendo em conta a liberdade de estabelecimentro, eles têm todo o direto tal como nós temos o direito de sair e exercer atividades económicas no exterior. Não podemos ter uma perspetiva egoísta uma vez que nós também saimos. Tudo bem que tendo em conta a nossa economia e o crescente desemprego, dava jeito que alguns saissem. Mas na realidade não podemos ter essa posição.” Maria Ferreira, estudante



internacional. Kate Middleton

Jennifer Lawrence

Duquesa de Cambridge, 31 anos

Atriz, 23 anos Recusou-se a ser a comum atriz de Hollywood e acabou por tornar-se a melhor amiga de todas as mulheres pelo mundo fora. Jennifer saltou para o pedestal em 2013, ao protagonizar a saga “Hunger Games”, como Katniss. Apesar de ser a atriz mais bem paga de Hollywood com menos de 30 anos, não abdica da sua personalidade terra-a-terra, chegando a considerar absurdo o seu próprio salário. Mas são os seus distintos padrões de beleza que a tornam tão influente no mundo atual, já que admitiu preferir perder o emprego a ter de emagrecer. “Eu não quero que as raparigas pensem: “Eu quero ser como a Katniss por isso não vou jantar”. Para além de ter sido nomeada pela Time uma das 100 pessoas mais influentes, é considerada o modelo mais saudável para adolescentes em todo o mundo.

De rapariga comum, a princesa, a futura rainha, Kate Middleton despertou a atenção do mundo inteiro ao casar-se com o herdeiro à coroa britânica, o Princípe William. A Duquesa de Cambridge tornou-se, nos últimos anos, no protótipo da princesa moderna. Além de ser, agora, um ícone da moda, - que potenciou o sucesso das marcas britânicas - Kate apadrinha regularmente múltiplas ações de caridade. Muitos dizem que pode vir a ser a próxima “Princesa do Povo”, à imagem de Diana, uma vez que é inegável o enorme carinho do povo. Kate Middleton foi considerada pela revista Time, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Angela Merkel Chanceler alemã, 57 anos Não é, exatamente, a mulher mais querida do povo, mas é inegável a sua enorme influência na conjuntura atual, sublinhada pela nomeação para as 100 pessoas mais influentes pela revista Times. Naquela que é a maior crise europeia desde a 2ª Guerra Mundial, Merkel conseguiu uma posição sem paralelo, em que controla cada movimento feito em cada um dos 17 países. A “mãe” da Alemanha e, para muitos, a mãe de muitos europeus, foi a primeira mulher alemã a alcançar o cargo de Chanceler e a ter um poder tão decisivo na cura de uma crise económica. Agora, depois de 8 anos à frente da nação mais rica da Europa, seguem-se mais 4, com o apoio dos que consideram que Angela Merkel é a Alemanha.

Hillary Clinton

Malala Yousafzai

Diplomata, 64 anos

Ativista, 15 anos

É Secretária de Estado da América do Norte e, nos últimos anos, tem-se empenhado em fortalecer as relações do país com os aliados estrangeiros. Hillary, uma das 100 pessoas mais influentes pela revista Time, é considerada, por muitos, uma diplomata nata, forte, paciente e de uma enorme inteligência política. Atualmente, Hillary, através da Fundação Clinton, iniciou o projeto “No Ceillings” que pretende potenciar o empreendedorismo no feminino a nível global. As estatísticas, sugerem que Hillary Clinton é, pelo partido Democrata, favorita para ser a próxima Presidente dos Estados Unidos da América, se decidir candidatar-se, pelo que milhões de americanos perguntam “O que é preciso para ter uma mulher a presidente?”

Só nos últimos dois anos, foi a noemada mais nova de sempre ao Nobel da Paz e às 100 pessoas mais influentes pela revista Time. Malala tinha 11 anos quando começou a escrever um blog sobre a sua determinação em formar-se em medicina para lutar a favor dos direitos das mulheres talibãs à educação. Aos 14, foi alvejada por um talibã a caminho da escola. Desde então, tem lutado contra o preconceito e as desigualdades sexuais no seu país. O maior objetivo de Malala é tornar-se primeira ministra do Afeganistão para poder garantir que todas as crianças têm igual acesso a uma educação livre. Com o seu livro “I am Malala”, pretende angariar 61 milhões de dólares para financiar a sua causa. As mulheres talibãs transformaram-na, não só, numa mártir, mas também no símbolo da libertação feminina no Afeganistão.

As mulheres da Praça Global Apesar de muitos verem já o feminismo por um canudo, ainda há mulheres que provam que não é uma luta perdida. Todos anos a revista Time nomeia as 100 pessoas mais influentes do mundo. Este ano, 35 são mulheres. Do cinema, à diplomacia, ao desporto e à realeza, são cada vez mais as mulheres que dominam o mundo. Rita Salomé Esteves

Michelle Obama Primeira Dama EUA, 49 anos É considerada uma das pessoas mais humildes que passou pela Casa Branca. Michelle Obama trouxe uma lufada de ar fresco à governação da América do Norte e parece manter-se longe de pretensões e sempre fiel a si própria. Matriarca da família perfeita, Michelle abraçou várias causas humanitárias, nomeadamente a luta pela obesidade infantil. Foi a Primeira-dama que humanizou a Casa Branca, com a sua horta, um cão e as duas filhas de quem nunca se separa. A revista Time nomeou-a uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e é a Primeira-dama mais observada da sua geração. Recentemente, abraçou um projeto cujo objetivo é levar todas as crianças da América para a Universidade.


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Tufão Haiyan provocou mais de 5 mil mortos

Em Nova Iorque, o português é burro mirandês

As autoridades filipinas elevaram para 5.500 o número de mortos provocados pelo tufão Haiyan, a 8 de novembro, na região centro do país. A catástrofe é considerada como um dos desastre naturais mais mortíferos da história das Filipinas.

Os portugueses foram capa do “New York Times International”. O contexto? “Não é fácil ser burro nos dias de hoje.” O alvo? Os portugueses.

Miguel Carvalho

Rita Salomé Esteves

A 5 de março deste ano, vítima de cancro, faleceu um dos líderes mundiais mais controversos das últimas décadas: Hugo Chávez, presidente da Venezuela, um dos países com maiores reservas petrolíferas do mundo. Tive o raro privilégio de entrevistá-lo no Palácio de Miraflores, em Caracas, há pouco mais de dez anos, quando a sua «revolução bolivariana» era um processo em marcha e dividia o planeta: para uns, Chávez simbolizava uma nova esperança para a esquerda e os povos oprimidos do mundo; outros viam-no como o diabo em figura de gente, séria ameaça ao poder dos Estados Unidos da América e aos seus interesses. Talvez não tenha sido uma coisa nem outra. Na verdade, Chávez morreu deixando atrás de si uma Venezuela mais justa do ponto de vista social e humano, mas mais dividida e inflamada. Num País onde vive mais de meio milhão de emigrantes portugueses e luso-descendentes, Chávez conseguiu, com as suas políticas sociais e os lucros do petróleo, retirar milhões de pessoas da pobreza, dando-lhes patamares de dignidade humana nunca antes vividos. No entanto, nunca conseguiu criar os alicerces de um País verdadeiramente novo. Ainda hoje, a Venezuela continua a ser um dos territórios mais injustos do mundo, com índices assustadores de corrupção e violência, onde não falta uma inflação galopante. Um dos erros que frequentemente se cometem em relação à Venezuela é analisar o País a preto e branco. A realidade é muito mais complexa, tem diversas tonalidades e, muitas delas, estão contaminadas por preconceitos enraizados na Europa e nos países ditos civilizados. A América Latina, de resto, é ela própria muito diferente. E cada País encerra contradições que exigem uma análise mais profunda e não superficial, como tem acontecido na maioria dos casos, sobretudo na Imprensa. Regressei à Venezuela entre março e abril deste ano para assistir às cerimónias fúnebres de Hugo Chávez. Encontrei um País ainda mais dividido, embora, para muitos, a Venezuela continue a ser Deus, Pátria e Chávez. O legado do ex-presidente, no que tem de bom, corre entretanto o risco de ser desbaratado por Nicolas Maduro, o novo presidente, diplomata hábil, mas sem o carisma do antecessor. Maduro, um antigo motorista de autocarro que jogou basebol e tocou numa banda rock, tem desiludido, inclusive, muitos dos seus apoiantes, preferindo o folclore da «revolução» às decisões sérias para aliviar a dependência externa do País e a falta de alimentos. No fundo, o futuro da Venezuela tem hoje mais incógnitas do que durante os anos de Hugo Chávez. E os receios já chegaram, inclusive, às camadas mais esclarecidas da comunidade emigrante de portugueses. Para onde irá a Venezuela com Maduro? Eis a pergunta que todos fazem, ainda sem resposta.

José António Pereira As últimas informações dadas pelo Conselho Nacional de Gestão e Redução de Riscos de Desastres apontam para uma subida no número de mortes causadas pelo tufão Haiyan. De acordo com este órgão governamental, morreram 5.500 pessoas. No entanto, espera-se que o número de mortos aumente, uma vez que há muitos corpos desaparecidos entre os escombros. Numa altura em que os trabalhos de reconstrução continuam, sabe-se tam-

bém que há 26.136 pessoas feridas e 1.611 pessoas estão desaparecidas. O tufão Haiyan provocou estragos em 574 municípios filipinos, tendo sido a ilha de Leyte, na região centro, a mais fustigada. Estima-se que mais de 574 mil casas tenham ficado destruídas e que cerca de 575 mil tenham sofrido danos, o que obrigou à montagem de 1.069 centros de acolhimento temporário para 225.922 pessoas desalojadas. No trabalho de remoção de escombros e limpeza estão envolvidas 34.500 pessoas, 1.336 veículos, 11 embarcações e 162 aviões de agências nacionais, locais e estrangeiras. O tufão Haiyan causou prejuízos que rondam os 412 milhões de euros - uma estimativa do governo filipino – e é considerado como um dos desastres mais mortal na história recente das Filipinas. As ajudas continuam a chegar de todo o Mundo.

No passado dia 28 de novembro o jornal norte-americano New York Times publicou, na edição internacional e na página na internet, um artigo acerca do burro mirandês. Mas, segundo o jornalista, Raphael Minder, a linha que separa a versão moderna da memória do burro é muito ténue. Trata-se, na verdade, de uma peça de duas páginas que se explana a extinção do Burro Mirandês, originário do nordeste português, mas Minder acabou por torná-la numa sátira ao destino do povo de Portugal “o destino do burro assemelha-se aos seus contemporâneos humanos do interior da Europa gravemente pressionado: ameaçados pela diminuição drástica da população e a sua dependência dos subsídios da União Europeia para sobreviver”. O que era, então, um artigo de cariz ambiental, transformou-se, em menos de um parágrafo, numa forte crítica à situação de austeridade em que se encontra no presente. Mas Minder não escondeu, de facto, os detalhes da extinção do burro mirandês que preocupa a população local. Segundo o jornalista, o fenómeno deve-se à falta de subsídios e à crescente migração dos jovens do campo para a cidade, deixando aos mais velhos, mais fragilizados, encarregues da manutenção do gado. Várias iniciativas já estão, contudo, a ser tomadas por projetos de parcerias entre empresas e veterinários que asseguram a criação de ambientes controlados propícios à procriação e continuação da espécie “mal interpretada” e esquecida não só pelos portugueses, como pelos europeus em geral.

1914 - 2014: O centenário da 1ª Guerra Passaram cem anos desde o dia em que, pela primeira vez, a guerra explodiu no mundo inteiro. Por todo o mundo, celebrações e eventos vão preencher os próximos quatro anos, numa enorme agenda de homenagens. Rita Salomé Esteves Foi a 28 de julho de 1914, com a invasão austro-húngara da Sérvia, que se deu o início daquela que acabou por se tornar na Guerra das Guerras. O gigante conflito que opôs duas fações: os Aliados (o Reino Unido, a França e o então Império Russo) e os Impérios Centrais (a Áustria-Hungria, a Itália e a Alemanha). A guerra prolongou-se durante quatro anos e cessou, enfim, a 11 de novembro de 1918. Foram mobilizados 70 milhões de soldados, dos quais 60 milhões europeus e 9 milhões que acabaram por morrer em combate. Este foi o sexto conflito bélico mais mortal na história da humanidade. Da guerra restou um novo mapa do mundo, impulsionado pela destruição de quatro grandes potências: os impérios Alemão, Austro-húngaro, Otomano e Russo, bem como a destruição de milhares de cidades e aldeias e a devastação geral a nível social e económico. No dia do Armistício, a 11 de novembro de 1918, os Aliados foram declarados os vencedores da Guerra. Cem anos depois, a Primeira Guerra Mundial continua a fascinar a população a nível global. Cem anos depois, mantém-se a imensa lista de soldados desaparecidos em combate. Cem anos depois continuam a ser encontrados resíduos de armas por toda a Europa. O passado dia 10 de novembro marcou o início

das comemorações do centenário, em França, com a Cerimónia Oficial de Lembrança no Canadian National Vimy Memorial. Nos eventos de homenagem seguem-se a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Para além dos eventos marcados, estão em cima da mesa variados projetos a longo prazo, principalmente de arquivo de fotografias alusivas e de coletânea de objetos. Foi criada, até, uma plataforma digital sobre o centenário que reúne toda a informação disponível, o calendário de todas as comemorações, um índex de todas as publicações e, ainda, dá o acesso a todos os projetos: www. greatwar.co.uk.

70 milhões * 9 milhões

foi o total de soldados mobilizados para combater

*

foi o número de soldados mortos durante a Guerra

Jornalista da VISÃO

Venezuela AC/DC (Antes de Chávez, Depois de Chávez)


desporto. Eles foram os reis de 2013 em Portugal Sara Moreira (atletismo) e Rui Costa (ciclismo) já deixaram de estar na sombra do desporto português há muito tempo e este foi o ano da consagração. Para os mais desatualizados estes são os nomes da Atleta e do Atleta nacional do ano. Luís Martins O ano de 2013 nunca será esquecido por estes dois atletas. Para Sara, a cidade de Gotemburgo também nunca será esquecida. Foi lá que a atleta, natural de Santo tirso, foi campeã europeia de pista coberta na categoria dos 3000m, depois de em anos anteriores ter ficado perto do ouro. A atleta não bateu recordes nesta final mas como frisa, “há momentos em que os recordes pessoais e as marcas não são tão importantes. Esses momentos são os campeonatos. Eu prefiro ganhar uma medalha num campeonato do que bater um recorde pessoal a uma semana ou duas semanas antes desse campeonato.” Essa vitória, histórica a nível nacional, foi um dos ingredientes para superar Telma Monteiro (judo), Joana Vasconcelos (canoísta) e Fu Yu (ténis de mesa) que tiveram igualmente um ano muito bom. Sara Moreira sabia que o título alcançado

em Março lhe poderia dar este prémio mas que o mesmo ficaria bem entregue a qualquer uma das concorrentes, “Claro que uma pessoa pensa sempre. Eu pelo menos sou otimista e vejo sempre as coisas pelo lado otimista e acreditava que podia ganhar. Mas se não fosse eu, qualquer uma das outras podia ganhar e seria justo igualmente”, afirmou a atleta. Mas nem tudo na carreira de Sara tem sido tão positivo. A lesão nos Jogos Olímpicos de 2012 não permitiu que brilhasse em Londres e quem sabe trouxesse mais uma medalha para Portugal. A Atleta falou ao Ponto do que sentiu nos Jogos Olímpicos aquando da lesão: “Eu lesionei-me precisamente antes dos 10 mil metros, mas fiz a prova, terminei, fui 14ª. A minha principal aposta para os Jogos Olímpicos de 2012 eram os 10 mil metros e acabei por fazer apesar da limitação que tive. Eu acabei por fazer a prova. Como é óbvio foi frustrante porque inicialmente eu estava muito bem preparada e sabia que podia conquistar um lugar entre as 8 primeiras e durante a semana houve alturas em que pensei que nem sequer podia correr. Portanto, assim que terminei a prova, tive um misto de sensações. Por um lado, a sensação de que poderia ter corrido melhor se não estivesse limitada, por outro, felizmente, consegui terminar a prova e fiquei feliz por isso.” A atleta de Santo Tirso, parada nesta parte final do ano para licença de maternidade, apontou o regresso aos treinos para o início do mês de Dezembro embora de forma limitada, mas já tem na sua cabeça um objetivo futuro: o Campeonato da Europa de 2014 em Zurique, Suíça. “O meu principal objetivo e o que o meu treinador está a delinear é o Campeonato da Europa, no próximo ano em Zurique. Antes disso terei várias provas de preparação, entre elas, provas importantes para o meu clube, para o Maratona. Provas cá em Portugal como o Campeonato Nacional de Estradas, o Campeonato Nacio-

nal de Corta-Mato e a Taça dos Clubes Campeões Europeus, possivelmente. Mas isto é tudo muito vago para falar porque ainda estou a recuperar da maternidade e assim que regressar vai depender da forma como eu conseguir descansar e da forma como eu conseguir voltar ao nível em que estava.”, disse Sara Moreira. Para Rui, ciclista da Póvoa de Varzim, são vários os pontos da Europa que não esquecerá mas tem como o expoente máximo Florença, Itália. Foi lá que em Setembro, o ciclista se tornou Campeão do Mundo de ciclismo de estrada, marcando um dia histórico no ciclismo e desporto português. O Ponto falou com o Selecionador Nacional de Estrada, José Poeira, (coroado como Treinador do Ano) que afirmou que Rui Costa “está no clube dos melhores atletas de sempre do desporto português.” Além dessa grande vitória, Rui Costa venceu novamente a Volta à Suíça e ainda duas etapas do Tour de França, a mais carismática prova de ciclismo mundial. Com um crescimento brutal em 2013, o ciclista vai trocar a equipa que representou até agora, a Movistar, pela equipa italiana da Lampre, para ser o líder da equipa e tentar a vitória no Tour de 2014. Confrontado com a possibilidade dessa vitória, o selecionador nacional não entrou em euforias e disse “Não é fácil e estão lá uma série de corredores de muito valor mas temos que esperar para ver. Talvez seja um pouco cedo porque ele ainda é jovem e as coisas não se fazem do dia para o outro.” Confrontado ainda sobre se já tinha visto algum corredor com as capacidades do Rui Costa, o selecionador não poupou nos elogios destacando a vontade e a ambição do jovem corredor nortenho, ”Já vi corredores com muita capacidade. Agora é uma questão de aproveitar a inteligência, o querer da pessoa, a ambição e acho que ele tem tudo isso. Tudo joga a favor dele sendo ele jovem e a ambição faz parte da juventude, faz parte do querer, da

Benfica vence final Europeia à moda Portuguesa O Benfica juntou o seu nome aos vencedores da Liga Europeia de Hóquei em Patins, depois de vencer em Junho deste ano o FC Porto, numa final disputada no recinto dos Dragões. Luís Martins Esta foi uma final épica que só terminou no prolongamento com o golo de ouro de Diogo Rafael. Recorde-se só que os encarnados tiveram para não disputar a final, alegando falta de condições de segurança, devido aos incidentes sucedidos no dia anterior, no jogo da meia-final frente ao Barcelona. Na pista viu-se um jogo muito disputado, onde Benfica acabou por se superiorizar com o tal golo no prolongamento. Para todos os benfiquistas esta vitória teve um sabor especial por ter sido na casa do seu grande rival. Confrontado com essa questão, Luís Sénica, na altura treinador dos encarnados, preferiu destacar o facto de serem duas equipas portuguesas a estarem na final ao facto de ter vencido a competição na casa do seu maior rival, “Teríamos a certeza, que para um lado ou para o outro, o vencedor seria português o que era extremamente importante tendo em conta o hiato temporal em que não havia uma equipa portuguesa que vencia a Liga Europeia. O facto do simbolismo, eu confesso que até ao dia de hoje (29 de Novembro) ainda não tenho essa perceção. Vencemos o Barcelona, vencemos o Porto mas foi efetivamente mais

potencializado porque foi na pista do FC Porto, mas o importante era vencer.” O nome do Benfica juntou-se assim a Porto, Sporting e Óquei de Barcelos na lista de vencedores da Liga Europeia, lista dominada pelas equipas espanholas. Neste ano de 2013, a equipa encarnada venceu ainda a nível internacional, a Taça Continental e a Taça Intercontinental, ambas no mês de Novembro. Apesar desses títulos, na memória dos benfiquistas estará para sempre Luís Sénica, pelo trabalho desenvolvido nos últimos 4 anos (ver entrevista no site). Um dos mais conhecidos sites de apoio ao SL Benfica, serbenfiquista.com, coloca o treinador na categoria dos imortais, ao lado de pessoas como Rui Costa e Eusébio no futebol, André Lima no Futsal ou os Irmãos Velasquez do Hóquei. Confrontado com essa distinção, Luís Sénica afirma ser o reconhecimento do trabalho feito por si e pelo seu grupo de trabalho, “talvez seja o reconhecimento de que em 4 anos o Benfica, com o meu comando, venceu 7 títulos e de alguma forma fez a ponte para os dois títulos já obtidos esta época. A maior valorização

desse trabalho e desse grupo de trabalho é ter permitido à estrutura atual continuar a vencer e isso é que é importante, porque manifesta indicadores de qualidade no trabalho que foi feito. Um trabalho que apesar de interrompido na sua liderança, continua vencedor.”, com a alusão à vitória de duas provas internacionais vencidas em 2013 depois da saída do técnico do clube da Luz.

evolução. Tudo isso faz dele um grande corredor à escala mundial, está entre os melhores por isso mesmo. Tem qualidades, aproveita bem, é inteligente, trabalha muito e tem ambição.” Foi um ano cheio de triunfos para este português de 27 anos, que repetiu o título de atleta do ano ganho também em 2012, desta vez superando Cristiano Ronaldo (futebol), João Sousa (ténis) e Emanuel Silva e Fernando Pimenta (canoístas). Estes senhores do desporto português provam todos os dias que em Portugal não há só futebol, por isso Sara Moreira, tal como muitos outros atletas defende que “as pessoas deveriam acompanhar mais o desporto, deviam de conhecer os atletas como conhecem os jogadores de futebol, e da mesma forma que há envolvência quando joga a seleção de futebol, deveria de acontecer o mesmo quando há outras seleções em jogo, no caso do atletismo, da canoagem, ciclismo e outras modalidades que estão a representar Portugal. As pessoas muitas vezes não sabem por um misto de coisas. Não sabem porque a cultura não chega para isso e não sabem porque a própria comunicação social também não ajuda.”

João Sousa, o primeiro português a ganhar um torneio do circuito ATP O tenista vimaranense de 24 anos venceu o torneio do circuito ATP que se realiza em Kuala Lumpur na Malásia, numa final frente ao francês Julien Benneteau. Esta vitória em terras asiáticas, em Outubro, foi o expoente máximo de um ano dourado para João Sousa. Numa final muito disputada, frente ao 34º do ranking, o português não começou bem, teve de evitar um Match Point no segundo set e acabou por vencer por em 3 sets com os parciais de 2-6, 7-5 e 6-4. Neste torneio, destaque para a vitória sobre o agora número 3 mundial David Ferrer por 2 sets sem resposta. A segunda metade da época do vimaranense foi brilhante conseguindo chegar à terceira ronda do US Open, um dos principais do circuito. João Sousa venceu na 1ªronda o búlgaro Dimitrov, (23º do ranking) e na 2ª o tenista finlandês Jarkko Nieminem (39º). Na 3ª ronda, a tarefa foi ainda mais complicada ao encontrar Novak Djokovic que na altura era o número 1 mundial (atual nº2). Perdeu mas deixou uma boa imagem e a certeza de que mais tarde terá argumentos para se bater com os melhores. João Sousa alcançou também o estatuto de melhor português de sempre no ranking mundial no 46º lugar, sendo agora o atual 49º.


27 Os saltos do campeão A ginástica de trampolins é pouco conhecida em Portugal. Ricardo Santos, que a pratica desde os 4 anos, fá-lo com gosto. Com 21, estuda e treina ao mesmo tempo e a exigência disso já fez dele Campeão Nacional de Trampolins 7 vezes. A próxima meta são os Jogos Olímpicos de 2016. José António Pereira e Fabiana Oliveira Ricardo Santos, 21 anos, é estudante de Comunicação. Antes de entrar na faculdade, já era um atleta que dedicava muitas horas à ginástica de trampolins. Conciliar os estudos com a prática da modalidade não é fácil, mas na hora de escolher, Ricardo não hesita. “Tenho que fazer escolhas mas a minha primeira escolha serão sempre os trampolins até a minha carreira acabar”, diz o atleta, natural de Santo Tirso. Com uma rotina “exigente”, Ricardo Santos, explica que o número de treinos que tem por semana depende da competição que tem em vista. “Dependendo da fase de competição ou não, treino todos os dias e duas vezes por semana faço dois treinos por dia. Quando tenho competição, treino três ou quatro vezes de forma bidiária. Se for uma competição mais importante, treino duas vezes todos os dias e ao sábado de

manhã também”, refere. “É um bocado exigente mas quando se quer muito alguma coisa, a exigência passa a gosto e como é algo que gosto muito de fazer, não me custa assim tanto”, continua. Ricardo Santos, atleta dos Trampolins de Santo Tirso, já foi campeão nacional sete vezes e, por isso, já salta “confortavelmente” mas “a brincar, nunca”. Família, amigos e atletas são o maior apoio de Ricardo. “Eu salto trampolins no mesmo clube com as mesmas pessoas desde os 4 anos”, o que faz do ambiente de treino um ambiente “espetacular”. “Somos uma família, aquilo é uma animação. Levamos o treino muito a sério, com momentos para tudo. Momentos sérios e concentrados e momentos para relaxar, conversar e brincar um bocado. É muito bom”, conta Ricardo. O atleta rejeita o título de vedeta porque não gosta

Missão Portugal no Brasil’14 não se avizinha fácil

Vettel é tetracampeão do mundo de Fórmula 1

Alemanha, Gana e EUA são os adversários que o sorteio realizado ditou para a seleção portuguesa. Os comandados por Paulo Bento vão ter uma missão complicada e por isso Ronaldo e companhia não poderão facilitar numa competição em que Portugal jogará praticamente em casa. A Alemanha, o 1º adversário, é umas das grandes potências do futebol mundial mas já há muito tempo que não vence uma competição. Joachim Low, o selecionador, contará com Ozil e Schweinsteiger como grandes figuras para voltar a fazer sorrir o seu país. O ponto menos forte é a posição 9, onde Goméz e Klose já viveram melhores dias. Alemães e portugueses são os grandes favoritos à passagem mas os Africanos, que contam com um

Sebastian Vettel, piloto da Red Bull/Renault sagrou-se tetracampeão do Mundo de Fórmula 1, tornando-se, aos 26 anos, o piloto mais jovem a conseguir o título. Foi em Nova Deli, no circuito Buddh, durante a sétima corrida do Mundial de F1 que Vettel alcançou o título pelo quarto ano consecutivo ao ficar em primeiro lugar na prova. Sebastian deixa para trás a marca de Michael Schumacher que até então tinha sido o piloto que menos tempo demorou a conquistar quartos troféus na categoria principal. Entretanto, Vettel reforçou a sua posição no Mundial de Fórmula1 ao ganhar o Grande Prémio do Abu Dhabi, Grande Prémio dos EUA e o Grande

meio-campo fortíssimo com jogadores como Essien ou Boateng, e os Americanos liderados pelo eterno capitão Donovan vão vender cara a passagem. Para além das dificuldades provocadas pelos rivais, Portugal terá de enfrentar longas viagens e temperaturas elevadas. Os 3 jogos são em locais muito distintos do Brasil: Salvador, Manaus e Brasília como intervalos entre os jogos de 4 e 6 dias. Caso a seleção das Quinas se apure para os “oitavos” encontrará uma seleção do Grupo H composto por Bélgica, Rússia, Argélia e Coreia do Sul.

Prémio do Brasil, em Novembro.

de “fazer publicidade a tudo aquilo que fiz e faço”, mas cada mensagem de apoio é “uma motivação extra para querer fazer mais”. Ricardo sente-se orgulhoso quando representa a seleção porque “acaba por ser a recompensa por tudo aquilo que abdicamos durante a nossa vida. É a maior recompensa que nos podem dar”, partilha. Em 2011, antes do Campeonato do Mundo de Trampolins, prova de apuramento para os Jogos Olímpicos de 2012, Ricardo torceu um pé. Ainda tentou fazer treinos, não conseguiu, mas deixa o próximo objetivo bem definido. “Ainda sou novo, ainda tenho muito tempo pela frente. É levantar a cabeça e trabalhar para a frente para conseguir nos próximos”, diz. André Brito, treinador de Ricardo Santos, acha que o atleta tem “muito potencial” e deve “continuar a trabalhar para que em 2015, quando for a altura do apuramento, esteja em condições para a vaga dos Jogos Olímpicos”. Entretanto, Ricardo Santos já representou o seu clube nos Mundiais da Bulgária e acabou em 31ª posição. O atleta diz ter ficado “muito abaixo” daquilo que queria. “A minha prestação não foi tão boa como queríamos que fosse. Alguns problemas lá influenciaram essa performance, mas pela 2ª vez, Portugal conseguiu um lugar na final por equipas e fazer parte dessa equipa é um motivo de orgulho muito grande”, conta Ricardo. A ginástica de trampolins é uma modalidade “minimamente conhecida” com apoios reduzidos, mas “já esteve pior”. A culpa é da cultura de um povo onde “as pessoas menosprezam todas as modalidades em detrimento do futebol”. “Ainda falta muito para haver uma harmonização de todas as modalidades”, diz Ricardo. A Ricardo nunca foram exigidas medalhas, mas o historial que tem faz com que salte “sempre a sério para ganhar”. “Eu imponho alguns objetivos quando vou para uma competição”, afirma. Para o atleta, “a humildade pode levar-nos a ser muito grandes. Sou muito humilde e tenho bem presente na cabeça que há alguém acima de mim, alguém melhor que eu”.

Sorteio das Competições Europeias Dezasseis avos de final da LIGA EUROPA PAOK (Gre) - SL BENFICA (POR) PORTO (POR) - Eintracht Frankfurt (Ale) Dnipro (Ucr) - Tottenham (Ing) Bétis (Esp) - Rubin Kazan (Rus) Swansea (Ing) - Nápoles (Ita) Juventus (Ita) - Trabzonspor (Tur) Maribor (Esl) - Sevilha (Esp) Viktoria Plzen (R. Che) - Shakthar (Ucr) Chornomorets (Ucr) - Lyon (Fra) Lazio (Ita) - Ludogorets (Bul) Esbjerg (Din) - Fiorentina (Ita) Ajax (Hol) - Salzburg (Aus) Maccabi Telaviv (Isr) - Basileia (Sui) Anzhi (Rus) - Genk (Bel) Dinamo Kiev (Ucr) - Valencia (Esp) Slovan Liberec (R. Che) - AZ (Hol)

Oitavos de final da LIGA DOS CAMPEÕES Manchester City (Ing) - Barcelona (Esp) Olympiacos (Gre) - Manchester Utd (Ing) AC Milan (Ita) - Atlético de Madrid (Esp) Bayer Leverkusen (Ale) - Paris SG (Fra) Galatarasay (Tur) - Chelsea (Ing) Schalke 04 (Ale) - Real Madrid (Esp) Zenit (Rus) - Dortmund (Ale) Arsenal (Ing) - Bayern Munique (Ale)

Paulo Pereira Jornalista da TVI

A temporada futebolística (que é o que realmente conta), fica inevitavelmente marcada pelos sucessivos desaires do Benfica. Não que o mérito deva ser retirado aos vencedores, mas ter o(s) pássaro(s) na mão, e deixá-lo(s) fugir, é digno de registo. Numa temporada o Benfica podia ter ganho a principal competição a nível nacional, a liga, a taça de Portugal e a liga Europa, mas estendeu a passadeira, que por sinal costuma ser vermelha, ao Porto, ao Chelsea e ao Vitória. No campeonato os “seguidores” de Jesus fizeram a festa na Madeira, antecipando o magnífico final de ano na ilha, onde só faltou lançar os foguetes, sob pena das canas não caírem no lugar desejado. Derraparam na Luz com o Estoril, para entregarem o título a um Porto, que praticamente caído em “desgraça”, despertou para a conquista de mais um campeonato. A vitória conquistada no cair do pano, foi assegurada por um golo de Kelvin, que por esta altura vagueia pela equipa “b” dos azuis-e-brancos. Vitor Pereira levou o Porto ao título, numa corrida sem derrotas. O título de todo inesperado, não impediu a saída do treinador para um campeonato das Arábias onde os petrodólares falaram mais alto. No dia em que escrevo este texto, Vitor Pereira só pode estar com um sorriso nos lábios! A saga encarnada continuou na liga Europa, se bem que neste caso, contra a “corrente de jogo”. Terá sido talvez a melhor exibição encarnada na temporada, mas o enguiço não foi quebrado e o jejum de 51 anos continua. Os frios e calculistas ingleses marcaram já nos descontos por Ivanovic (repetindo o cenário no Dragão) e levaram o “caneco”. O Benfica perdia por 2-1 e “deitava fora” 4,7 milhões de euros. No regresso a Lisboa e tendo como palco o Jamor, os encarnados regressaram às más exibições e perante o Vitória, depois de terem estado em vantagem, deitaram tudo a perder (até a cabeça como se irá perceber mais à frente) com a equipa de Rui Vitória a conquistar pela primeira vez o troféu. Cardozo foi protagonista, não pelos golos que fazem dele o melhor marcador estrangeiro da história do Benfica, mas pela atitude provocatória junto de JJ. Perdeu a razão quando a tinha do seu lado. Mais, o Benfica nem sequer ficou no relvado para ver os vitorianos levantarem a taça! Sinal de que, sem orientação, todos ralham, mas ninguém tem razão. No futebol ,a nível interno foi assim! Lá por fora, levantem esses braços em jeito de vénia, porque o Bayern foi um gigante! Os alemães “só” venceram a Bundesliga, a taça e a Champions. Jupp Heynckes pode ter passado despercebido no SLB, mas deixou a carreira de treinador com uma marca até agora inexistente na história do centenário clube germânico. Se o quiserem encontrar por aí, está em casa, a tratar do quintal. Começo como acabei e não me levem a mal: no desporto, quer se queira, quer não, o futebol é que conta!


cultura. António Zambujo: “o tão tão que tem tem tem” Não chegou de lambreta ou barco à vela, mas aceitou falar com o Ponto no final de uma noite de concerto no Centro Cultural de Ílhavo. É um “saudável desrespeitador de fronteiras” e não se dá bem com etiquetas. António Zambujo conquistou o mundo com a sua música e pôs Portugal inteiro a trautear o seu último álbum, “Quinto”.

Fabiana Queirós Oliveira, José António Pereira e Rita Salomé Esteves Se o António Zambujo fosse um fado que fado seria? (risos) Boa pergunta, essa é mesmo uma difícil. (risos) Não sei, não faço ideia. Talvez um fado assim meio baladeiro, algures entre o Fado de Lisboa e o Fado de Coimbra.

(risos) Não é um problema. Eu acho que é um desafio mas não estou muito preocupado com isso. Como fizemos o Quinto vamos fazer o sexto e assim sucessivamente. Sempre o mesmo processo, sem ceder a pressões nem ao facto de sermos conhecidos por mais gente ou isso. Isso não nos faz sentir mais responsáveis, faz-nos sentir da mesma forma e esperemos o público goste tanto das próximas músicas como gostou destas.

“Eu imagino a Eduardo Agualusa música pela música José chamou-lhe um saudável sem estar preocupa- desrespeitador de fronteiras, esse conceito? do se é fado, se é ou porquê Muitas vezes perguntam-me como é que eu caracterizo a outra coisa. ”

O resto do mundo foi mais rápido do que Portugal a apreciar a música que faz. Sente que o Quinto abriu os olhos aos portugueses? Foram diversos fatores que influenciaram e ajudaram. O reconhecimento no estrangeiro foi, sem dúvida, um deles, depois a troca de representação também contribuiu: o facto de passar para uma editora que fez um trabalho de promoção mais forte, mais agressivo e claro, os concertos de apresentação do disco. O concerto de apresentação previsto para o grande auditório da Gulbenkian esgotou e tivemos de fazer outro. Também no Porto, na Casa da Música, que foi logo ao princípio, estava totalmente esgotado, até tínhamos público atrás e tudo. Isso dava para perceber que as pessoas tinham alguma curiosidade em relação à música que nós fazíamos. Não diria que foi só o Quinto, eu acho que vem um bocadinho de trás. Não era tanta gente que nos conhecia mas já era alguma. Por exemplo o Zorro, que era do disco anterior, ou o Reader’s Digest já eram músicas muito bem aceites nos concertos. Acho que foi um conjunto de diversos fatores. Mas agora que está na boca de todos, é um problema ser “o da lambreta”?

minha música. Há muito essa quase necessidade de catalogar, etiquetar um disco. O disco tem de estar na estante dos fados ou sei lá. Por exemplo o Guia estava à venda no iTunes como música brasileira. (risos) Eu compreendo essa necessidade mas não vejo a música como, cada género uma barreira, impossível de misturar. Eu imagino a música pela música sem estar preocupado se é fado, se é ou outra coisa. Sabendo das minhas influências mas nunca preocupado com isso. Não tornando essas influências uma barreira impossível de cruzar. Gosto de dar outra dimensão à música.

México cantem um bolero em espanhol. De vez em quando sabe-me bem mas não me imagino a fazer um disco em espanhol ou em inglês, pelo menos para já. São línguas das quais eu gosto muito, mas gosto mais da nossa. Estes artistas que lhe escrevem as letras, escrevem a partir do que são e do que viveram. É difícil captar a alma de cada uma das letras antes de as interpretar? Não, eles são todos muito bons e o facto de estarmos próximos: o Agualusa, o Miguel Araújo, o Pedro da Silva Martins, a Maria do Rosário Pedreira, o João Monge são pessoas que já me conhecem há muito tempo e conhecem as minhas músicas. Sabem como sou e sabem os meus gostos, então o facto de termos uma relação muito próxima faz com que a música também se torna mais fácil de sair e mesmo nas parcerias, quando fazemos músicas em conjunto, esse facto de estarmos próximos

tenham o barco à vela, há sempre. Mas algum em específico, que me lembre, não. É que para a grande parte dos portugueses, neste momento, é o “tão tão tão que tem tem tem”, há algum defeito? (risos) Sim, todos temos muitos. Todos temos os nossos defeitos.

Elegante, simpático, profundo, emocionante ! Fernando Béltran, poeta espanhol

29.11.12

Quero ouvir muito, mais vezes, mais fundo(...) O que se ouve em Zambujo é algo já que vai mais fundo. (...) faz pensar em João Gilberto e em tudo que veio à música brasileira por causa dele. Caetano Veloso, cantor brasileiro

facilita mesmo muito.

“Há sempre Vilelas Ao longo da carreira já sentiu vez que se tinha cruem todo o lado, mes- alguma zado com “o tal Vilela”? mo que não tenham (risos) Não acho que não. Quer há sempre Vilelas em o barco à vela ” dizer, todo o lado mesmo que não

Apesar destas viagens entre géneros, cantar em português continua a ser muito importante? Eu acho que sim. Ainda por cima tenho tanta gente a escrever, e tão bem. Não me imagino a cantar noutra língua. Agora numa tournée que fizemos no

Na boca do Mundo

Ele capta todas as nuances da sua pequena, mas absolutamente expressiva voz: um alto, claro, preciso e tenor ainda derretendo sugere tanto o Sr. Marceneiro como, do outro lado do Atlântico, o compositor brasileiro Caetano Veloso. Jon Pareles, jornalista/crítico americano

Artista onde a música inteligente e calorosa ataca os clichés de um fado grandiosamente e irremediavelmente trágico. Ele também não se mascara mas deixa vibrar, de uma voz frágil e serena, por uma poesia das mais atuais. Vincent Berthe, jornalista/crítico francês

“Uma vez que seja”

Simples e agitado e luminoso fado interpretado por AntónioZambujo. Limpem-se os ouvidos. Alessio Arena, cantor italiano

29.11.13


29 Monty Phyton: a loucura do regresso Construção da Ponte É já no ano de 2014, em Londres, que, o famoso grupo britânico de humoristas, Monty Phyton, regressa aos palcos. Luís Martins O grupo britânico, já há muitos anos fora dos palcos, anunciou que iria fazer um espetáculo de despedida, ao vivo, no próximo ano mas imagine-se… os bilhetes esgotaram em 43,5 segundos. Resultado disso: os Monty Phyton anunciaram mais datas para além da inicial que seria 1 de Julho de 2014. Sendo assim, de 2 a 5 e de 15 a 20 do mesmo mês, na O2 Arena, Londres, o grupo fará os fãs regressarem ao passado. Os já veteranos humoristas regressam com a obra “One down, five to go”, que homenageará, Graham

Chapman, um dos 6 elementos iniciais que morreu vítima de cancro em 1989. A sua presença em palco já está garantida com a apresentação de vídeos. A loucura com este regresso surpreendeu até os elementos do grupo, como John Cleese revelou ao The Guardian, “ficámos tocados que tantos fãs ainda queiram ver pessoas assim velhas a atuar. Por isso mesmo, estamos muito satisfeitos por acrescentar mais datas”. Este famoso grupo surgiu na BBC com a série televisiva Monty Phython’s Flying Circus, estreada no dia de 5 de Outubro de 1969, que durou 45 episódios divididos em 4 temporadas, entre 1969 e 1974. Depois desta série com bastante sucesso, o grupo cresceu e partiu para o mundo do cinema com filmes como “Monty Python and The Holy Grail”, em 1975, “Monty Python’s Life of Brian”, em 1979, e o último, “The Meaning of Life”, em 1983. Os Monty Phyton foram para muitos os pioneiros neste tipo de humor e o seu impacto foi inclusive comparado ao dos Beatles na música. E foram um exemplo para muitos grupos humorísticos que se seguiram. Os bilhetes custam entre 27,50 e 95 libras (33 e 113 euros) e se os espetáculos esgotarem como é provável, vão assistir aos espetáculos cerca de 200 mil pessoas (O2 Arena com capacidade de 20 mil pessoas).

Marc Jacobs abandona Louis Vuitton Depois de 16 anos à frente da direção criativa da marca francesa, Marc Jacobs optou por se dedicar exclusivamente à sua própria marca. Rita Salomé Esteves Foi no final de outubro que o designer Marc Jacobs oficializou a saída da Louis Vuitton, onde chegou em 1997. Aos 50 anos, o criador americano conquistou um poder enorme, não só como diretor criativo da Casa francesa, mas como CEO da Marc Jacobs e da Marc by Marc Jacobs. Mas, com o crescimento do valor da empresa gerida por Jacobs e Robert Duffy, o designer viu-se obrigado a dedicar-se exclusivamente a ela. “A marca do Marc e do Robert merece ser muito mais do que uma bastarda [da Louis Vuitton].”, declarou Michael Burke, diretor

executivo da Louis Vuitton. O designer assinalou a sua despedida com o desfile Primavera-Verão de 2014, numa coleção recheada de negros e cenários exuberantes utilizados em passerelles anteriores pela Louis Vuitton. “Parecia um funeral”, disse Edward Enninful, diretor de moda e estilo da revista W. Para suceder a Marc Jacob à frente da equipa criativa da marca de luxo, foi nomeado Nicolas Ghesquière, depois de este ter abandonado a marca francesa Balenciaga A primeira coleção do novo diretor criativo da Louis Vuitton será apresentada em março de 2014, com a coleção de Outono-Inverno 2015. Ken Downing, diretor criativo da Neiman Marcus, declarou que, como acontece com outras Casas, os criadores acabam por ser substituídos. “Marc teve o seu momento durante anos e a moda é uma indústria de mudança.”

Flashmob leva música ao coração do Mercado do Bom Sucesso

O novembro das 50.000 palavras move milhares de escritores

Almoços, cafés, curiosos e freiras. Filipe La Feria fez saltar do Rivoli uma parte do espetáculo “O Melhor de La Féria” e animou o novo mercado Urban Concept, no Porto. O Flashmob começou pouco depois das 13 horas e divertiu os presentes, entre os quais o próprio La Féria. O encenador e dramaturgo foi entrevistado, tirou fotos com os fãs e aproveitou o momento para promover o espetáculo em exibição no Rivoli Teatro Municipal até 24 de novembro.

O Mês Nacional da Escrita de Romances despertou, de 1 a 30 de novembro, o talento de 300.000 escritores que se propuseram a escrever romances. O Nanowrimo (National Novel Writing Month) incita amadores de 90 países a escreverem compulsivamente durante um mês para obter as 50.000 palavras que, segundo o projeto, são as necessárias para completar um romance. A tradição, fundada em 1999 pelo americano Chris Baty, está a levantar controvérsia, uma vez que não há apreciação das obras escritas, nem concurso. Os participantes são movidos por uma “motivação pessoal” e pela “satisfação de concretizar as 50.000 palavras”. Nanowrimo é, agora, uma associação sem fins lucrativos, sustentada por donativos e pelo trabalho de voluntários. Os apoiantes defendem que o projeto se trata, no fundo, de um processo de liberalização e democratização da literatura.

da Arrábida em exposição

“Arrábida 50” está em exposição no Centro Português de Fotografia desde 7 de dezembro. Assinala os 50 anos da construção da Ponte da Arrábida e conta com fotografias captadas por António Alves Cerqueira – uma pessoa comum que, apenas por gosto pessoal, começou a captar todos os momentos da construção da Ponte. A Ponte da Arrábida foi construída entre 1957 e 1963, desenhada por Edgar Cardoso e era, na época, o maior arco de betão armado do mundo.

AGENDA. dez’2013

1 3 11 14

Oporto Christmas Market Rua do Almada até 23 dez

O Filho de Mil Homens Teatro Carlos Alberto até 21 dez

Worms Teatro da Comuna | Lisboa até 15 dez

Dealema Hard Club

Concertos de Natal nos Museus Casa Museu Guerra Junqueiro

Festival do Livro: Ler é mágico Edifício AXA até 16 dez

18

UHF Casa da Música

22

II Festival da Bicicleta Solidária

28

Oh Happy Day – Mississipi Gospel Choir

31

Parque da Cidade

Casa da Música

Concerto de Fim de Ano Av. dos Aliados

Reveillon Clube Fenianos do Porto

Francisca Carneiro Fernandes Diretora do Teatro Nacional de São João

A devolução do edifício do Teatro S. João à cidade A obra de restauro do edifício do Teatro Nacional S. João afigurava-se como essencial há já vários anos, em virtude de a fachada desta peça notável do património arquitetónico – teatral português de autoria do Arquiteto Marques da Silva se encontrar em avançado estado de deterioração. A necessidade imperiosa de acautelar o risco para pessoas e bens – inerente à queda de pedaços da fachada na via pública, levou a que em 2008, e enquanto os nossos esforços para encontrar financiamento para a obra não fossem bem-sucedidos, nos víssemos forçados a montar uma estrutura de andaimes com tela a toda a volta do edifício, o que fez com que ele se apresentasse à comunidade de modo deplorável e inestético por demasiado tempo. No ano de 2009 foi celebrado um protocolo de colaboração com a Direção Regional de Cultura do Norte para que, através da Direção de Serviços dos Bens Culturais fosse promovido o apoio técnico necessário à intervenção de reabilitação e restauro da envolvente exterior do Teatro. Nesse âmbito assegurou-se que as patologias do edifício fossem cuidadosamente analisadas, de modo a que um projeto de restauro pudesse ser elaborado, garantindo que os problemas que fizeram com que a fachada se deteriorasse tão rapidamente no passado pudessem ser minimizados na intervenção futura. Assim, em 2011 o Arq. João Carlos Santos, técnico da DSBC, finalizou o projeto de execução desta empreitada, e em 2012 a reunião de vontades de Agentes da Região que se associaram à pretensão do TNSJ e da DRCN, nomeadamente a SRU, a CCDRN e a CMP, permitiu que se confirmasse a inclusão do TNSJ como parceiro da CMP na candidatura a fundos comunitários para a reabilitação urbana da Baixa da Cidade. A obra teve o seu início em Maio passado estando prevista a sua finalização para finais de Março de 2014, sendo de salientar e louvar o profissionalismo, a dedicação e a paixão com que toda a equipa envolvida – desde os representantes da DRCN-DSBC, até ao Empreiteiro “STAP” e ao Subempreiteiro responsável pelo restauro “CaCO3”, passando pela Fiscalização assegurada pelo “Instituto da Construção” da FEUP – tem vindo a ultrapassar cada obstáculo encontrado (e têm sido muitos dados os inúmeros problemas advindos da técnica de construção aqui usada e do avançado estado de deterioração em que esta belíssima fachada se encontrava) e a superar cada desafio assumido, lutando contra a escassez de tempo e de recursos financeiros e permitindo que se possa já perceber como será devolvida à cidade toda a beleza e esplendor deste belíssimo Monumento Nacional.Trata-se pois de mais uma prova de força do que os Agentes locais podem realmente fazer pela renovação da cidade e do tanto que ela tem de tão valioso e da devolução da dignidade exterior ao TNSJ, permitindo-lhe a aparência consonante com o que a atividade deste Teatro tem para oferecer aos seus visitantes.


ponto de vista. La Feria: O melhor? Fabiana Queirós Oliveira

Crítica O Melhor de La Féria Autoria: Filipe La Féria Estilo: Teatro | Musical Produtor: Boca de Cena Duração: 90 minutos Classificação Étária: M/6 Filipe La Féria dedicou-se ao corte e costura. Em 2009 levou pela primeira vez a palco alguns dos “seus” melhores espetáculos, mas “O Melhor de Filipe La Feria” só este ano se estreou no Rivoli Teatro Municipal. Uma hora e meia de excertos de musicais pautados pelo pano da cortina que não para de subir e descer. É inquestionável a sua capacidade de entreter o público mas seria de esperar algo mais complexo e profundo do que uma sequência de trailers dos musicais do passado e também dos que ainda espera fazer, como “Evita” ou o “Fantasma da Ópera”. O espetáculo carece de um fio condutor que justifique o porquê de Amália, Jesus Cristo e as personagens de “Mamma Mia” se seguirem como se fizessem parte da mesma história. Algo mais concreto e talentoso que o ator que desempenha o papel de Filipe La Feria cantar os seus desejos concretizados, numa indistinta introdução ao estilo de uma ode de autovangloriação. Seria de esperar que um profissional de tantos anos percebesse que é o público quem deve decidir se o espetáculo é bom ou não. E o mais provável é que o público efetivamente o dissesse, dado que a sala do Rivoli parecia invadida de crianças de idade adulta a aplaudirem de pé, com os olhos a brilhar. Um espetáculo pensado para entreter sem

fazer pensar. O que não quer dizer que o espectador tenha de ignorar as excessivas purpurinas ou o quase garantido playback. Bem real, por outro lado, é o talento dos acrobatas que acompanham as diferentes peças e se vão contorcendo melodicamente no teto do palco. Enquanto espectadora, confusa com tanta coisa ao mesmo tempo em cena, senti que estava num daqueles circos com três espetáculos de magia em simultâneo para que ninguém consiga perceber os truques e manhas atrás do pano preto. Além dessa confusão, senti-me revoltada pela falta de consideração para com o talento de cada um daqueles maravilhosos artistas que via e ouvia. Cada cantor merecia a atenção da plateia do teatro só para si durante uns minutos, assim como cada bailarino e cada acrobata. Mas não, os olhos só rodavam rapidamente entre tudo numa ânsia de não perder nada, numa tentativa de sobreviver ao enjoo visual. É tudo demasiado sobre La Féria e não sobre teatro ou música. Há playback, confusão, rapidez e falta de sentido crítico mas “La Féria must go on”. A capacidade de distrair o público está a anos-luz da capacidade de o fazer entregar-se a um espetáculo com as suas plenas capacidades e convicções num abdicar do tempo e do espaço. Saí exausta por tentar absorver tudo, o que seria

perfeito se tivesse acabado de saber de mais um corte nas pensões ou no orçamento do estado. La Féria devia ser comprado pelo governo para entreter e distrair os portugueses do que se passa no não tão brilhante período atual. Porque quando estas pequenas crianças com filhos e netos pela mão saem do espetáculo ludibriadas pelos fatos tão bem costurados, os brilhantes reluzentes e a música ritmada, só pensam em como La Féria é um génio do espetáculo. Eu só pensei em como ele é relativo bom imitador de espetáculos, que efetivamente já deixaram outros espectadores assim em Nova Iorque ou Londres e em como os grandes espetáculos só chegam a terras lusitanas quando há saldos no supermercado global de musicais. Aí, o Sr. La Féria vai lá comprar cravando a dourado a sua assinatura debaixo do título. Mas não lhe tiro o mérito de ter introduzido esta arte no nosso pequeno cantinho ou mesmo de conseguir ter sempre salas cheias para o ver. Não tiro a humildade e a entrega de cada um dos trabalhadores do espetáculo que sente o frio na barriga nos segundos anos antes do pano subir e tampouco desvalorizo o suor por cada uma das mil trocas de roupa durante aquela hora e meia. Quanto ao “Melhor de La Feria” em concreto, ignorando a já referida falta de fio condutor, é possível que seja um ótimo tributo ao seu extenso percurso de tradutor e é igualmente possível que proporcione um ótimo serão a quem se dispuser a pagar o bilhete. Seja por poder contemplar em plano as lacunas deste tão aclamado encenador ou por não as querer ver de todo. Pessoalmente, aguardo ansiosa por um acordo entre Filipe La Feria e a família Cardinali para que na minha próxima ida ao Rivoli possa, pelo menos, ver bom circo de palco.

Barth, o padrinho Rita Salomé Esteves

Crónica

Quando John Barth me ensinou a “criar o hábito de quebrar hábitos”, estou certa que, nem eu, nem ele, sabíamos exatamente no que nos estávamos a meter. Ele, porque, nos confins da América, não tem sequer noção da minha existência e eu, porque permanecia envolvida nas manhas na minha própria personalidade para perceber a dimensão daquela frase algures perdida na “Ópera Flutuante”. Existem certos momentos em que, claramente, uma personagem, um autor, um narrador nos apadrinha, nos aconselha, de certo modo nos adota nessa outra dimensão onde vivemos a nossa vida enquanto leitores, e onde eu, de resto, preferia viver toda a minha vida. Foi esse mundo, o meu espaço único de leitora, que esta frase de Barth me fez transcender. Para mal dos meus pecados, foi também este impulso que me despertou para a vida adulta que me está a bater à porta e eu cismo não querer abrir. (Tivesse eu quebrado o hábito de ruminar cada pequeno receio). Não foi por acaso, talvez, que este livro se colocou ali, diante de mim, naquela prateleira, especialmente no dia em que eu tinha dinheiro para o com-

prar. Que eu não seja a única com esta sensação, que não posso aperceber-me de mais um traço de neurose na minha personalidade! (Sou um caso pouco raro de leve insanidade gerada por excesso de literatura e falta de sono) Desde esse dia, noite, adormecer, não me recordo, não descanso. Mantenho-me à espreita de mim mesma, com Barth a piar-me sempre ao ouvido “Não faças isso. Sempre fizeste isso.” Foi por estes dias que deixei de comer bananas. Tive sempre o impulso de, ao acordar, tomar o pequeno-almoço antes de tomar banho; de, às refeições, comer uma bolacha para me sentir bem; de beber um café cheio sempre que ia a um café. Hábitos que, não só, preenchiam o meu dia-a-dia, como já se acomodavam à minha personalidade, aninhados e embalados no meu próprio comodismo. E eis a terrível noção: serei eu a acumulação de todos os meus hábitos? Será que eu quero mesmo ir para os vinte e tal carregada com toda a bagagem de coisas que sempre fiz? Alguém me devia ter avisado do peso que se sente ao fim dos vinte. Como quando, mesmo antes de morrer, um sujeito revê toda a vida diante dos olhos. (Vou ignorar o facto de a personagem de Barth ter decidido suicidar-se no mesmo dia em que decidiu quebrar todos os seus hábitos). Agora, porque o panorama tinha de piorar, este instante de terror prolonga-se. Viajam perante os meus olhos milhares de imagens de mim, não só dos meus hábitos mas das minhas ansiedades, das minhas

vontades, dos meus desejos, de mim mesma prostrada diante de um mundo quase sempre igual. Estou, no entanto, grata por ter sido esta a minha crise dos vinte: é fácil de contornar. Pensei eu… Não só eu ainda tomo o pequeno-almoço antes de tomar banho como mantenho o “Ópera Flutuante” na mesinha de cabeceira. Mas troquei o café cheio, pelo pingado; e a bolacha simplesmente desapareceu. Posso, pelo menos, rebolar no deleite desses pequenos feitos. Dispara uma alegria mesquinha de cada vez que me preparo a fazer algo que sempre fiz, como se me espicaçasse a mim própria e à flor dos meus vinte anos, com o desafio de cumprir todos os deveres antes de me entregar à idade adulta. Afinal de contas ninguém quer ser um adulto neurótico, pelo menos não na perspetiva secular que fermentei nessa minha dimensão de leitora. E toda esta espera e a ansiedade que preenchem os últimos trinta e quatro dias de adolescência convergem numa única imagem: a de Barth a acompanhar-me a um altar onde eu não pretendo chegar sem sucesso. É mais fácil, convenço-me, percorrer um percurso bem arquitetado do que remendá-lo perpetuamente, porque as espectativas engoliram a determinação a longo prazo. Agora, que o sono e o cansaço chegaram à minha noite já comprida, vou sentar-me à conversa com Barth, a acenar furtivamente a tudo o que disser. Costumava ter o hábito de adormecer antes da meia-noite. Como ele ficaria contente agora… Resta saber porque raio todos os meus hábitos se relacionam com comida.

Em lume brando

Telma Parada

Crónica 5h30 da manhã. A colher de pau e os chilrares sublinhavam quão cedo era, para os que não partilham a mesma vontade instintiva de trabalhar. Não há horas nem há dias. Os tachos, sempre cheios e mexidos delicadamente - porque esse trabalho não é mais do que a metáfora que se repetia dia-a-dia, do amor que nutria para quem cozinhava – eram rotina habitual. Os gestos não eram pensados, porque isso não é trabalho do coração e a labuta que se trava aqui não é de esforço mas de dedicação e de forma singular de encarar a vida. Ela gostava, bem como todos os que lhe enchiam o coração. Vivia para eles e eles sabiam disso. Quando chegavam ou acordavam, bem cedo pela manhã, já sentiam o cheiro do almoço, cozinhado com toda a calma. Cedo demais! O cheiro era forte. Mas agora, já sem o mesmo cheiro… forte é a saudade de não o sentir. Sentada na mesa da cozinha, cosia na perfeição, ponto a ponto, as meias daquele que pertencia já à terceira geração. Sobrava tempo para ensinar a filha do filho da filha a coser com o auxílio do ovo de madeira. Ele, que as rasgava nos treinos, compenetrado naquilo a que se dedicava, fazia-o inconscientemente, ainda que tendo consciência do conforto que sentiria quando chegasse à cozinha e encontrasse as outras, que havia rasgado antes, prontas a voltar a rasgar e um sorriso na cara pelas que serão novamente cosidas. Mas a correria não acabava aí e o saco estava pronto a pegar, para o dia seguinte. Sem necessidade de explicações, a mala aparecia pronta a levar para o treino, nos dias em que os havia. Cozia e cosia. Educava e mimava. Enchia-se de orgulho e alegria. A eles, enchia-os de expressões, lições que ficaram. Assim é o ciclo. Crescer por educar, até chegar a ser educado para poder educar. Depois esquecemos o que educamos e voltamos a precisar que nos eduquem, até deixarmos de ser. Três anos esqueceram um século, que agora é uma névoa, de um sonho vago que, por vezes, quando recordado (apesar da distância da névoa) parece bom demais para ter sido de quem o viveu. E esquecemos: nomes, lugares, memórias. Mas esse amor, que ainda é sentido pelos felizes de o ter tido, é lembrado ao expoente, tal como os ensinamentos - pois somos aquilo que nos ensinam a ser. Estes são agora levados por mim, a filha do teu neto, neta da tua filha. Agora não fazes o que fazias, deixa-me ser eu a fazer. A partilhar contigo, na inocência que tu voltaste a ter e eu perdi.


31 11 para 11

O mundo saíu à rua

Luís Martins

Comentário Ainda bem que o mundo não acabou a 21 de Dezembro de 2012! Suspiro isso porque perderíamos emoção, qualidade e perdíamos aquilo que é a essência do futebol: a incerteza da vitória num jogo em que são 11 para 11 e orçamentos não interessam. Ao fazer a retrospectiva do que se passou em 2013, é fácil perceber que se misturam duas metades de época com momentos fascinantes e que tudo indica que se prolongue por 2014. Vamos a factos. A época de 2012/13 ficará na história como a época do quase para o Benfica. Não vou discutir equipas, vou elogiar o futebol. O Benfica era líder, praticava o melhor futebol e a três jornadas do fim, jogava duas delas em casa. Vencendo seria campeão. Era impensável não o fazer e outro cenário não passava na cabeça de ninguém, nem mesmo dos portistas. Aliás, no jogo anterior na Madeira, os encarnados festejaram a vitória como se do título se tratasse. Estava ganho pensaram quase todos. Esqueceram-se que o futebol são 11 para 11 e por isso cederam pontos e viram o seu título fugir no minuto 92 no Dragão. Neste campeonato, onde para muitos é o orçamento que determina a classificação, o Paços de Ferreira surpreendeu tudo e todos e apurou-se para a Champions. Os tostões na capital do móvel superiorizaram-se aos milhões de Braga e Sporting, que fez a pior época do seu historial. Mais uma vez a prova de que os nomes não jogam, nem as camisolas, são 11 para 11, sempre. Mas não é tudo! Paragem no Jamor para a Final da Taça de Portugal. O Benfica vinha de perder o campeonato e a final da Liga Europa e enfrentava um Vitória de Guimarães, que em grave crise económica e quase só com meninos, fez uma grande época. Era a taça do orgulho para o Benfica e facilitar estava fora de questão. Esperava-se a equipa de Jorge Jesus de fato-macaco mas veio um Benfica com fato de gala. Resultado: 2-1 para a turma vitoriana. Não chega ser melhor no papel ou no salário, tem que se ser melhor no relvado. Aquela época ficava por ali e de surpresas e emoção

já estávamos satisfeitos. Até encontrar esta nova época e este novo Sporting! O Sporting, que tinha feito a pior época de sempre, definiu para este ano apenas melhorar e dar passos firmes rumo ao futuro. Apostou em miúdos, comprou barato, equilibrou-se e uniu-se com este novo presidente. Resultado: estamos em Dezembro e é líder do campeonato. É engraçado o facto de no ano em que apostam menos e reduzem ao orçamento, o clube leonino tem melhores resultados desportivos. Mais uma prova de que o futebol não são nomes e que não se ganham jogos sem se entrar em campo. O futebol são sempre 11 para 11, repito para os mais céticos. Interessante ainda o facto de vermos o Benfica e o Porto perderem pontos com equipas pequenas, inclusive em casa, o que dá emoção ao campeonato e surpresa até ao fim. Para finalizar, não poderia deixar de comentar o facto de os leões terem festejado a chegada ao 1º lugar isolado de forma efusiva quando apenas estamos na 12ªjornada. Percebo a barreira emocional, de 9 anos sem estar na liderança isolada, mas é preciso moderação porque até têm o exemplo do ano anterior à 27ª jornada. Muitos exemplos internacionalmente existiriam mas fico-me pelos nossos e pela certeza que o futebol ainda é emoção, surpresa e, sobretudo, 11 para 11.

2013 não foi um ano fácil para a política. Que o digam os governantes que viram de frente os mares de gente que contra eles protestaram. E o grito da revolta espalhou-se pelo mundo. Quase como uma réplica da atitude de Salgueiro Maia, um dos capitães de Abril que, assertivamente, punha nas mãos do povo o poder para mudar. Os moldes hoje são outros, mas foram muitos os portugueses que não se calaram. Professores descontentes com as medidas que lhes caiam em cima, enfermeiros flagelados pelo desemprego, maquinistas e revisores, jovens recém-licenciados: um povo inteiro carregado de cartazes e faixas a cortar ruas. Um protesto a uma só voz. Em Portugal, Espanha e Grécia. Os apupos e impropérios cantaram-se contra as políticas da Troika que o governo fez implementar. No Brasil, a indignação foi contra o aumento das tarifas do transporte e, por consequência, contra a repressão policial das “passeatas”. Protestos de

russa de Vladimir Putin, para quem a Ucrânia tem localização estratégica. A revolta das nações exprime-se com bloqueios, protestos violentos e atentados públicos que criam imagens históricas e inéditas de ruas atoladas de gente. Mas foquemos a nossa atenção no caso ucraniano, onde a população, maioritariamente cristã, anseia a entrada na União Europeia. O que faz afinal um povo - que outrora passou pela idade de ouro - procurar os valores que moldam a Europa? O caso é difícil. Depois de mais de um ano de recessão económica, a Ucrânia precisa urgentemente de um financiamento internacional de mais de 10 mil milhões de euros. Mas de onde virá este fundo que irá equilibrar as contas públicas do país? Da Europa democrática ou da Rússia autoritária? É aqui que entra a razão que motiva constantes atos grevistas, alguns de extrema violência, por parte dos ucranianos. Ianukovich tem nas mãos uma decisão difícil e urgente, uma corrida contra o tempo capaz de mudar muita coisa no seu país. A Europa quer a Ucrânia, mas a Rússia também. E as duas precisam uma da outra porque, como defendia João Paulo II, não há Europa sem Rússia. Uma Ucrânia europeia levaria o país a adotar um modelo de liberdade e, consequentemente, uma forma da Rússia fugir ao autoritarismo de Vladimir Putin. Mas Putin precisa da Ucrânia como zona vital ao desenvolvimento russo e tem pressionado Ianukovich. A localização da Ucrânia é perfeita para um país como a Rússia que a usa para o transporte de gás e para fazer comércio a partir do mar. Mas uma Ucrânia que dependa da Rússia, fará da Rússia uma potência soviética ainda maior, o que assusta a Europa. A questão tem que se resolver. O povo ucraniano quer-se afirmar europeu, quer ser democrático. E os americanos e europeus juntam-se a esta vontade. Entre reuniões de emergência, Catherine Achtou, chefe da diplomacia da União Europeia, já condenou o uso da força e da violência; Victoria Nuland, vice-secretária de Estado Norte-Amerricana, já esteve em Kiev para

escala nacional com repercussão internacional. 84% da população uniu-se nas maiores manifestações dos últimos vinte anos até o governo responder à reivindicação. Na Ucrânia, milhares estão na Praça da Independência e barricaram alguns edifícios que o governo usa, como um apelo a Ianukovich, o presidente ucriano. Em causa, está a entrada na União Europeia, uma decisão difícil por causa da pressão

pedir soluções e a Alemanha de Angela Merkl já abandonou a política de boa vizinhança com Putin. Transformações que podem sair caras. Há questões civilizacionais, culturais e históricas, mas sobretudo económicas e militares envolvidas neste jogo entre democracia e autoritarismo. Ianukovich tem que decidir, já. Porque, afinal, o povo tem o poder nas mãos e o povo está na rua.

José António Pereira

Comentário

Em Arquivo

Miguel Esteves Cardoso

Crónica

Excedentário A Causa das Coisas Expresso 1985/86

A pior coisa que se podia chamar a um português depois do 25 de abril era “fascista”. Depois do 25 de novembro, passou a ser “comunista”. Hoje, no Portugal do FMI, o grande estigma já não é nem uma coisa nem outra – é ser-se excedentário. Um excedentário não é, como poderia até aqui parecer, um desgraçado com mais de 36 dentes na boca ou sequer um odontologista com um pendor wagneriano para o excesso. Não. Um excedentário parece-se, exteriormente, tal e qual nós ou o leitor (e, entre os dois, deve dizer-se que se parece bastante mais com o leitor). Mas, debaixo dessa capa inocente, de Sr. Teixeira ou de menina Manuela, está um indivíduo sem quaisquer escrúpulos, vil e vende-pátrias, que está a mais. O FMI veio agora descobri-los em tudo o que era disfunção pública escondidos manhosamente sob nomes falsos, praticando a sua hedionda missão: a excederem-se. O FMI catou-os nos organismos

públicos, quais piolhos em organismos públicos, aferrolhados até dizer sheltox. Era nos Fundos de Fomento ao Funcionamento dos Gundos de Fomento (os FFFFF) e era nos Fundos de Fomento à Fundação de Novos Fundos de Fomento (os FFFNFF) – que nunca funcionaram, ora porque não fomentavam, ora porque não tinham fundos. E assim se iam fundindo. Cautela, portanto, leitor avisado! Pode haver – e há com certeza – um excedentário disfarçado no seu bairro; no seu local que (digamos) trabalho; até na sua família! Até é bem possível que o país inteiro esteja a exceder. Por exemplo: todas as expectativas de eficiência. Tanto mais que, neste novo Portugal, já grassa um novo demolidor insulto. É “Vá-se exceder!” Há até quem se exceda a dizer que o país não precisa do fundo para nada. Isso não é verdade. No Fundo, no fundo, do que Portugal sempre precisou

“Portugal já cá navega há oitocentos e quarenta anos e nunca foi ao fundo. Muito pelo contrário, até – foi sempre o Fundo que veio ter connosco.”

foi de empréstimos. Auxilie a Pátria – denuncie um excedentário! Se vir um compatriota a ler a revista Mais e a fumar um cigarro More, chegue-se ao pé dele e diga-lhe que leia Menos e que fume Less. Faça já uma lista de todos aqueles que suspeita serem excedentários – e, por amor de Deus, não se esqueça que o Expresso já lhe poupou metade do trabalho, ao publicar a sondagem da popularidade aqui há uns tempos atrás. Isto porque o país está hoje dividido em excelentes (só nós e você, caro leitor) e excedentários (os outros – os “por centos”). Está literalmente empregue a bicharada, e a que a que não está, mal empregada – de que é que está à espera para entrear na arca e emigrar? Ao menos os dez por cento que estão desempregados são patriotas – sim, porque antes da pelintra que excedentário! E tudo indica que o patriotismo vai aumentar. Não desanimem, portanto! A cruzada antiexcedentária não há-de conquistar a terra santa. Portugal já cá navega há oitocentos e quarenta anos e nunca foi ao fundo. Muito pelo contrário, até – foi sempre o Fundo que veio ter connosco.


Audiências

Oh pá, não acredito que perdemos um homem tão importante para o mundo...

“ “

verto uma lágrima sempre que leio o “I have a dream”

dizem eles Deixe-nos procurar sua grandeza de espírito, em algum lugar dentro de nós mesmos - Barack Obama no memorial de Nelson Mandela.

Portugal honra-se de, ao longo do tempo, ter defendido a libertação de todos os presos políticos na África do Sul, incluindo Mandela, como é óbvio.

Penso que o FMI não mudou de posição, mas foi o primeiro a dizer ‘atenção, é demasiada consolidação orçamental, demasiado depressa, é preciso dar tempo ao tempo. - Christine Lagarde

RIP Morgan freeman

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Aos quatro anos pinto o meu primeiro ‘quadro’: um círculo vermelho na parede da sala de minha casa, de tal modo perfeito que ninguém se atreveu a repreender-me. ‘Tu pintaste a parede, Riri?’, perguntou minha mãe. ‘Eu seria capaz de fazer uma roda tão bem feitinha?’, respondi. E toda a minha existência se processou sob o signo do ritmo e da precisão geométrica. - Nadir Afonso (1920-2013) em 2007

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As escapadelas do Papa Francisco

Mais um gesto do Papa Francisco a marcar a diferença. Depois de uma recente entrevista ao arcebispo Konrad Krajewski a imprensa publicou a suspeita de que Francisco sai à noite, vestido como um padre normal, para se encontrar com homens e mulheres sem-abrigo, dando-lhes esmolas. Uma atitude arrojada que quebra, uma vez mais, o protocolo.

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Tasca da Mé

tascadame.blogspot.com REGIÃO NORTE

Fabiana Queirós Oliveira

- Aníbal Cavaco Silva

“i have a dream a song to sing to help me cope to anything”

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Fotos sugestivas, desabafos de cozinha e receitas vegetarianas. A Tasca da Mé é um blogue assinado por Rita Salomé Esteves e dá sabor à web desde agosto de 2012. A autora diz que este é um espaço para dois tipos de pessoas: os vegetarianos e os que questionam que a comida vegetariana é realmente boa. Rita Salomé tem 20 anos e é finalista da licenciatura em Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É vegetariana há mais de três anos mas a relação com a cozinha começou bem antes disso em Castelo de Paiva, de onde é natural. “Quando eu nasci a minha avó estava a tirar um bolo de chocolate do forno que pousou para ir atender o telefone. Era o meu pai a dizer “a menina nasceu”, conta Salomé. As receitas foram-se aliando ao imaginário, mas no dia em que deixou de comer carne, 10 de março de 2010, surgiu a necessidade de experimentar novas combinações de sabores e encontrar pratos em que a carne não fizesse falta. Para esta estudante de jornalismo, tornar-se vegetariana surgiu naturalmente tendo em conta as questões ambientais com as quais se debatia constantemente e garante que conhece muita gente que ainda considera tornar-se vegetariano ou pelo menos experimentar. Assim, a Tasca da Mé faz, para Salomé, cada vez mais sentido. Todos os vegetarianos, os que consideram tornar-se ou mesmo para quem aprecia provar receitas diferentes podem encontrar possibilidades para refeições simples e económicas que vão das entradas à sobremesa e de dificuldade básica a algumas combinações mais complexas. As fotografias dos cozinhados fazem crescer água na boca e há mesmo quem acredite que é coisa de

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A desculpa de Jiri Rusnok

“- Tenho um almoço marcado”, disse o primeiro ministro checo, Jiri Rusnok sobre a possibilidade de participar no funeral de Mandela. “- Espero que o Presidente vá no meu lugar. A ideia de ir dá-me calafrios”, ouviu-se na conversa privada com o ministro da defesa. A televisão pública divulgou-a e o caso tornou-se viral. Rusnok já pediu desculpas.

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até novembro 2013 profissional. “Uma vez perguntaram-me através do blogue onde é que era o sítio, a pensarem que era um restaurante. Foi muito engraçado”, acrescenta Salomé. O sucesso da Tasca da Mé deve-se sobretudo as conversas informais entre os amigos, dos amigos e dos amigos, e “resulta, alguns dos pais deles já me conhecem como a Mé” garante a estudante de jornalismo. No blog encontrou uma oportunidade de “juntar o útil ao agradável”: aliar um gosto, ao percurso artístico que teve na escola Soares dos Reis e à atual formação em comunicação, “a Tasca da Mé é uma oportunidade de saltar para a cozinha e de escrever sobre isso e ainda posso ir desenhando os layouts do blog e as imagens para o Facebook garantindo que não me deixo enferrujar”. Para Rita Salomé só não é um diário com sabor porque é difícil “gerir o timing” das publicações, mas admite que os post acabam sempre por transparecer o seu estado de espírito e a sua rotina. “Acaba-se sempre por notar bastante quando cozinho para amigos ou quando ando mais ocupada”, acrescenta. Com mais ou menos tempo livre, a Tasca da Mé é um projeto para durar e continuar a dar sabor aos dias dos leitores do blogue.

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EUA e Cuba apertam a mão por Mandela

Barack Obama e Raul Castro, Presidentes “inimigos” dos EUA e de Cuba, deram um aperto de mão na cerimónia fúnebre de Mandela. O ato, fortuito ou pensado, deixou o mundo em suspense: Terá sido um sinal de reconciliação entre os dois adversários da Guerra Fria ou apenas um ato de respeito num funeral? O que é certo é que os dois países já não se tocavam desde a Revolução Cubana...

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E novidades?

Dados do INE confirmaram a saída de Portugal da recessão. E então o que significa isso trocado por miúdos? O PIB caiu 1% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas o que muda no país depois desta confirmação? De notícias de crescimento e recessão o país já parece farto. Será que este 1% será o início de meses de crescimento ou o princípio de nada?




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