Comunicação Política na Esfera Pública

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economia o elemento decisivo para a queda do governo. O Collor se entalou na coisa da corrupção. Fracassou o Plano Collor, a recessão veio e a economia acabou derrubando o cara muito mais do que a corrupção. Se o desempenho da economia tivesse sido bom, provavelmente teria completado seu mandato. Roberto Pompeu de Toledo Roberto concorda: o Plano Collor matou o Collor. Se há corrupção, mas o governo é bem sucedido, mesmo que venha toda a corrupção... Augusto Nunes também compartilha a opinião. Na construção de sua narrativa, ele uma vez mais busca no presente o ponto de apoio de seu argumento. É a economia que determina. Ele gerou um ódio nacional com o confisco e a inflação foi lá para o espaço. Ele estava condenado. Ai vem a roubalheira, mas como mostram os tempos atuais, se vem a roubalheira com a situação econômica favorável... Agora que a Dilma tem que se preocupar, a indústria cai de novo, agora fique esperto, porque a consequência disso é o desemprego e o cara desempregado doutor, esse não está a fim de apoiar picas. Logo na sequência, Nunes lembra de um fato relacionado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para mais uma vez embasar sua opinião. O Fernando Henrique, quando eu conversei com ele no começo de 1994, ele falou para mim: “Augusto, se eu continuar no Congresso eu vou disputar uma vaga de deputado federalporque só tem uma vaga de senador, não tem chance”. E ele vira presidente da República! [...]. Por quê? Por causa da economia. Bóris Casoy, que já havia apontado a “rota de colisão” de Collor com o grande empresariado do país como um dos fatores que desestabilizou o governo, também inclui o modo como o presidente se relacionou com o Congresso Nacional no conjunto dos itens que contribuíram para sua queda. Ele hoje mesmo reconhece que não tratou bem do Congresso. Ele desconheceu o congresso. Erro! Desconheceu o Congresso. Para os padrões de honestidade do Congresso ele poderia ter evitado um processo de impeachment, ele descuidou disso. No momento em que se criou a comissão ele poderia ter evitado, mas com tranquilidade. Eu perguntei para ele: “Por quê?”. Ele disse: “eu achei que custaria muito caro para o Brasil e eu não quis fazer”. Foi trocado um membro da comissão que deu maioria para as pessoas que eram contra ele, puseram um governador de Santa Catarina8, que ele tinha negado uma construção de alguma coisa em Santa Catarina, quer dizer, um rolo. A falta de apoio no Congresso Nacional também aparece na narrativa de Augusto Nunes como um dos motivos que contribuíram para a queda de Collor. A falta de apoio ao Congresso e a 8

A indicação do parlamentar do PDS (Partido Democrático Social) na CPI coube ao senador Esperidião Amin, que pouco antes havia solicitado ao governo federal verbas para combater uma enchente que assolara o estado. O pedido não foi aceito. Amin, então, indicou o senador José Paulo Bisol, do PSB (Partido Socialista Brasileiro), que havia sido o candidato à vice-presidente na chapa de Lula em 1989.


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