Comunicação Política na Esfera Pública

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Essa nova forma de olhar a comunicação, também colocou em xeque visões esquemáticas, que tendem a simplificar, em demasia, realidades complexas e repletas de singularidades. É o que nos lembra Maria Luiza Mendonça (2006, p. 28): Ao se pretender associar processos comunicativos à constituição de sujeitos sociais é necessário superar as proposições teóricas que encaram a comunicação a partir de modelos construídos com base em um fluxo emissor-canal-mensagem-receptor, entre outras razões por que nessas análises existe a tendência de privilegiar e, muitas vezes, isolar um dos termos.

Este novo eixo, centrado no indivíduo como sujeito da ação, também está presente nos estudos da memória e do imaginário. François Laplantine e Liana Trindade (1997) evidenciam esse universo simbólico próprio de cada indivíduo ao exemplificarem os mecanismos que compõem o imaginário social. A imagem que fazemos de uma pessoa que conhecemos na atualidade ou no passado de nossa existência, não corresponde ao que ela é para si, ou para outrem que também a tenha conhecido, pois sempre é uma imagem marcada pelos sentimentos e experiências que tivemos em relação a ela. Atribuímos a essa pessoa qualidades físicas ou morais que, embora ela possa em parte possuir, são aumentadas ou denegridas, mutáveis, transformadas e plenas de significados que lhe fornecemos no percurso de nossas experiências e lembranças vividas e concebidas nos encontros e desencontros que com ela estabelecemos (LAPLANTINE e TRINDADE, 1997, p. 3).

Esse conceito também integra o posicionamento metodológico que embasa esteestudo, dado pela História Oral. Segundo Meihy (1996, p. 10), a História Oral implica uma “percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado”. Depois de se firmar em países como o Reino Unido, Estados Unidos, México e Itália, também no Brasil a História Oral ganhou força, mostrando-se uma alternativa à chamada história oficial: [...] num primeiro instante, grupos conservadores duvidam da história oral, como se fosse insuficiente para explicar o conjunto social, como mais uma novidade e por isto algo passageiro. Na medida em que ela mostra a que veio, mudanças acontecem. Atualmente a história oral já se constitui parte integrante do debate sobre o conhecimento histórico e atua em uma linha que questiona a tradição historiográfica centrada em documentos oficiais (MEIHY, 1996, p. 10).

Na segunda metade do século XX, algumas correntes acadêmicas resgataram o uso da História Oral em trabalhos científicos. Contribuiu para essa revitalização o que Alberti (2005, p. 19) descreve como “uma espécie de insatisfação dos pesquisadores com os métodos quantitativos que, no pós-guerra, começaram a ceder lugar para os métodos qualitativos nas investigações” e o crescente desenvolvimento de novas tecnologias, como o gravador de áudio portátil, que, a partir dos anos 1960, permitiu aos pesquisadores “congelar o depoimento”. Isso não significa, porém, que a História Oral tenha a pretensão de reproduzir “a verdade”. É o que alerta Ecléa Bosi (2003, p.18) ao afirmar que a oralidade “também tem seus desvios, seus


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