Revista Política Social e Desenvolvimento #22

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R E V I S T A P O L Í T I C A S O C I A L E D E S E N V O LV I M E N T O 2 2

No final do século XX, a indústria brasileira se defrontou com a necessidade de enfrentar a transformação sociotécnica associada à Revolução das TICs. Ao mesmo tempo, a aceleração da financeirização da economia global (e brasileira) e a reorganização das atividades produtivas pelas empresas transnacionais – cada vez mais subordinadas à lógica das finanças – adicionam desafios à estrutura produtiva brasileira. A explosão do desenvolvimento chinês ao longo dos anos 2000 e a geração de saldos respeitáveis na balança comercial brasileira apenas adiaram o enfrentamento destes problemas. A crise mundial atual iniciada em 20072008 e seus desdobramentos agravam esta situação e adicionam novas especificidades. O conjunto de políticas adotado pelo Brasil no enfrentamento da crise – com destaque para a atuação incisiva dos bancos oficiais – foi fundamental para garantir a sobrevivência financeira das principais empresas brasileiras. Porém, perdeu-se a oportunidade de aproveitar o momento para promover alterações no desenvolvimento produtivo nacional na direção de um paradigma produtivo menos intensivo na exploração de recursos naturais. Mais recentemente, as mudanças na geopolítica associada aos desdobramentos da crise e introduzidas pela formação de alianças como a dos BRICS trazem novos elementos e pressões externas que não podem ser ignorados ao se discutir os desafios atuais da indústria. A partir de 2003, no Brasil, o sucesso das políticas de inclusão social, a melhoria na distribuição da renda e a dinamização do

mercado de trabalho transformaram positivamente o país o que torna também muito mais complexo o debate sobre a estrutura produtiva. Por um lado, os indicadores e análises tradicionais apontam para uma situação preocupante. A participação do valor adicionado da indústria de transformação no PIB que cresceu de 19,8% em 1947 a 35,9% em 1985, vem perdendo terreno, caindo para 18% em 2003 e 13,1% em 2013. Dentro do tecido industrial, ocorre também uma diminuição da importância relativa das atividades de alta tecnologia. O VTI do conjunto das tecnologias de informação e comunicação que representava aproximadamente 1,4% do PIB em 2000, cai para 0,97% em 2005 e 0,4% em 2011 (entre 2008 e 2010, nos Estados Unidos, o peso das TICs no PIB era de 9% e na União Europeia, oscilava entre 5% e 7%). Observa-se também tanto o esvaziamento progressivo dos sistemas produtivos e inovativos brasileiros em geral e nas atividades de alta intensidade tecnológica em particular (aproximadamente 70% da demanda final brasileira era suprida por importações em 2008), quanto a deterioração crescente na balança comercial de manufaturados (as atividades de alta e média-alta tecnologia foram responsáveis, em 2013, por déficit superior a US$ 90 bilhões).

Desindustrialização e perda do tecido industrial são acompanhadas por uma significativa desnacionalização da estrutura produtiva

AJUSTE ECONÔMICO, INDÚSTRIA E INFRAESTRUTURA

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