Entrevista Lara - Notícias Magazine

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Entrevista a Rebeca Venâncio, para a Notícias Magazine de 16.Janeiro. 2011

Site Poliamor: www.poliamor.pt.to

Blog PolyPortugal: http://polyportugal.blogspot.com

Grupo PolyPortugal no Facebook: http://tiny.cc/facebookpolyportugal

Como lhe surgiu esta ideia, de fundar um site dedicado à comunidade poliamorosa? Desde que idade percebeu que este tema a interessava? Quando percebeu que de facto poderia interessar a muitas outras pessoas? Quantas pessoas acredita que possam seguir a "doutrina"(qual a melhor forma de o chamar?) em Portugal? Digo muitas vezes que para mim o poliamor é uma orientação sexual. Muita gente na comunidade discordaria desta afirmação. Mas digo-o por sentir que é algo que faz parte da minha identidade. Não vai passar com a idade, com nenhum desgosto mais marcante, nem com a chegada de filhos. Desde que identifiquei a palavra “amor” com um conjunto de sentimentos experienciados, que me apercebi que a minha maneira de os vivenciar era diferente da imagem que passava nos filmes e telenovelas. A falta de ciúmes levou muitas pessoas a pensar que não as amava o suficiente, e os avanços possessivos de outras levaram a que me sentisse invariavelmente sufocada nas primeiras relações de adolescente. Tive a sorte de encontrar mais tarde pessoas com a mesma visão do amor que eu, e as ideias que já tinha foram-se consolidando perante a constatada possibilidade de viver relações sem os constrangimentos e guiões limitados dos tais filmes. Em 2003 tinha mais de uma relação feliz e gratificante. Mas sentia, como possivelmente todas as pessoas durante parte ou totalidade da vida, que era diferente. E procurava, também como a maior parte das pessoas, algo com que me identificasse. Quando conheci o conceito de swinging achei que seria isso, mas depois de uma breve incursão no meio, percebi que não. O que eu procurava era um swing com amor e relações duradouras, e não apenas sexo. Foi por mero acaso, a pesquisar na internet sobre swing, que fui parar a um site cujo único conteúdo era uma definição de poliamor, que passava pela veemente frase “Polyamory is not Swinging!!” As diferenças que apontava entre as duas coisas eram precisamente os pontos em que eu não me revia no swing. O entusiasmo e a ideia de criar um site em Português com aquela informação, foram imediatos. Bem como o pensamento “quantas pessoas haverá por aí que, como eu, se sentem diferentes, mas não sabem que, não só existe um nome para isto, como existem milhares de pessoas em todo o mundo que pensam da mesma forma”. O site Poliamor pretende apenas conter uma definição (que é a minha e pode ser discutida), e um conjunto de recursos para quem quiser saber mais, poder criar a sua própria ideia e definição do Poliamor. A formação de uma comunidade poliamorosa deve-se ao PolyPortugal, que surgiu como mailing list do Yahoo em Setembro de 2004, e da qual sou moderadora desde Novembro do mesmo ano. Em Junho de 2009 criou-se o blog, para o qual contribuem regularmente 5 pessoas (nas quais me incluo), mais alguns


convidados. Neste momento o grupo do Yahoo conta com 130 membros. O grupo do Facebook tem 139, nem todos em comum com o primeiro. O número de membros activos da comunidade (que participam em encontros, comentam o blog, são activistas, etc.) rondará os 50. Mas oiço diariamente histórias de amigos de amigos que amam mais de uma pessoa, têm relações abertas, vivem relações a três, ou se questionam cada vez mais sobre a monogamia. O objectivo do PolyPortugal é chegar a essas pessoas, cujo número será muito difícil de calcular, e proporcionar uma base de apoio, uma possibilidade de falarem com quem se coloca as mesmas questões. Quais são os principais erros em que se pode incorrer quando se fala no tema? A maior parte das perguntas e confusões mais comuns estão respondidas neste conjunto de flyers do PolyPortugal: http://issuu.com/poliamor/docs/flyers_polyportugal

Excelente lista de perguntas e respostas sobre Poliamor: http://www.xeromag.com/fvpoly.html

Como considera que melhor se explica o poliamor a alguém de fora ou de outro tempo. Por exemplo, há alguma fórmula segura de explicar aos pais que se tem duas namoradas/os? Como é fácil de compreender, isso dependerá de muita coisa. Não há receitas mágicas para falar de nada com ninguém. No entanto, as questões que levam à opção pelo poliamor não são novas nem originais. Todas as pessoas de todos os tempos e idades se questionaram, alguma vez na vida, sobre o mesmo. Quase todos já passámos pela experiência de gostar de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, ou de ter dúvidas sobre quem escolher. O que o poliamor vem pôr em questão é a necessidade de escolher. Ou de mentir, ocultar ou dissimular desejos que possivelmente são partilhados pelas duas ou mais pessoas envolvidas na relação. O que talvez tenha mudado ao longo dos tempos é o conceito de felicidade e a procura da mesma. Essa transformação é transversal a todos os aspectos da sociedade actual. Há cada vez menos uma aceitação dos papéis de género, de classe, ou seja do que for. As pessoas procuram cada vez mais o seu próprio caminho para a felicidade. Este é o nosso. Tão válido como qualquer outro. Lara, 32 anos, Lisboa 14.nov.2010


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