Histórias do Cerrado

Page 1



Histórias do Cerrado Alto Paranaíba Luiz Ricardo Silva Organizador

Plusinfo • Edição Limitada Belo Horizonte/MG - 2018


Localização

Minas Gerais

Brasil

Alto Paranaíba Capa

Criação artística - Adriane Sequeira e Luiz Ricardo Silva Foto referência: Marcelo Lopes e Mapa de Minas Gerais de 1949

Página 1

Ilustração - Adriane Sequeira

Ao lado - Mapas

Ilustração - Adriane Sequeira

Fonte: ALMG / Elaboração: FAEMG / Edição: Ana Carolina Alves Gomes

Páginas 4 e 5

Ilustração - Adriane Sequeira

2

Histórias do Cerrado

Rio Paranaíba


São Gotardo

Área territorial: 866,087 km² (IBGE, 2017) População estimada: 35.145 (IBGE, 2018) População: 31.819* Densidade demográfica (hab/km²): 36,74* Latitude: 19º 18’ 40” S Longitude: 46º 02’ 56” W Altitude: 1.055 metros

Rio Paranaíba

Área territorial: 1.352,353 km² (IBGE, 2017) População estimada: 12.291 (IBGE, 2018) População: 11.885* Densidade demográfica (h b/km²): 8,79* Latitude: 19º 11’ 37” S Longitude: 46º 14’ 50” W Altitude: 1.067 metros

Carmo do Paranaíba

Área territorial: 1.307,862 km² (IBGE, 2017) População estimada: 30.324 (IBGE, 2018) População: 29.735* Densidade demográfica (hab/km²): 22,74* Latitude: 19º 00’ 03” S Longitude: 46º 18’ 58” W Altitude: 1.061 metros

Patos de Minas

Área territorial: 3.190,187 km² (IBGE, 2017) População estimada: 150.833 (IBGE, 2018) População: 138.710* Densidade demográfica (hab/km²): 43,49* Latitude: 18º 34’ 44” S Longitude: 46º 31’ 05” W Altitude: 832 metros

* Dados oficiais do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

3

Histórias do Cerrado


Copyright © 2018 - Luiz Ricardo Silva PROJETO E COORDENAÇÃO Luiz Ricardo Silva EXECUÇÃO PlusCultura – www.pluscultura.com.br PRODUÇÃO E PESQUISAS Fábio Borges, Isadora Parreira, Martha Toffolo e Nany Mello. FOTOGRAFIAS Alexandre Henrique, Anna Carolina Pereira Ribeiro, Carminha Fernandes, Cristiano Soares de Oliveira, Davi Sato, Demetrius Braga, Dilmar Reis, Gustavo Silva, Henrick Ovides, Iágo Alberto, Isadora Parreira, Joaquim Amaral, José Alves (Zé Guillé), Laís Álvares Pacheco, Lizandro Júnior, Luiz Carlos Alves, Marcelo Lopes, Rafael Pedro, Selma Cruz, Thamires Sousa Martins e Valder Lima. TEXTOS Isadora Parreira e convidados: Carlos Anselmo Nascimento Consuelo Nepomuceno Jeremias Brasileiro João Otávio Coêlho José Antônio Ventura Maria Antônia Maciel Marialda Coury Peterson Elizandro Gandolfi EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Adriane Sequeira - ASR Design PRODUÇÃO GRÁFICA Dila Puccini - Patuá Cultural REVISÃO DE TEXTOS Alessandro Faleiro Marques ASSESSORIA DE IMPRENSA Martha Toffolo IMPRESSÃO E ACABAMENTO Gráfica Formato SITE www.historiasdocerrado.com.br PATROCÍNIO Amep Empreendimentos e Participações S/A Arapé Agroindustria Ltda. Com Energia Ltda. Prodoeste Veículos e Serviços Ltda. VCB Transportes Viação Formiga Ltda. EDIÇÃO Editora PlusInfo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) H673

Histórias do Cerrado: Alto Paranaíba / Organizador Luiz Ricardo Silva. – Belo Horizonte (MG): PlusInfo, 2018. 220 p. : il. foto. map. color ; 27 x 22 cm Bibliografia: p. 213-215 ISBN 978-85-62766-05-3 1. Cerrado – Brasil. 2. Cerrado – Conservação. 3. Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG : Mesorregião) – Cerrado. I. Silva, Luiz Ricardo. II. Título. CDD 634 Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou utilizada, por qualquer meio, sem prévia autorização por escrito.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil


Índice Mensagem do patrocinador Apresentação

6

9

Região do Alto Paranaíba

21 Rio Paranaíba 57 São Gotardo

93 Patos de Minas 135 Vocação agrícola 191 Agradecimentos 209 Fontes 213 Notas 215 Quem somos 217 Carmo do Paranaíba

12


Mensagem do patrocinador Há muitos anos, o Grupo Amep mantém relações comerciais na região

- indústrias importantes, cooperativas de produtores, agricultores e

do Alto Paranaíba. Uma de suas empresas, a Arapé, firma desde 1983, sólidas

pecuaristas individuais são destaques na produção de carnes, especialmente

parcerias com empresas na área de suinocultura.

de suínos, e na produção de leite.

Em 2013, foi a vez da Prodoeste, outra empresa do grupo, chegar a

A multicultura da região é formada pelas famílias sulistas, colônias

Patos de Minas. Com presença marcante no Centro-Oeste de Minas, Campos

japonesas e o povo local, e originou uma população ordeira, hospitaleira e

das Vertentes e Sul do Estado, fincar bandeira no cerrado mineiro foi um

empreendedora. O clima equilibrado e a topografia favorável ao meio rural

momento ímpar na história da companhia.

fazem do Alto Paranaíba um agradável local para se viver e produzir.

De uma importância singular para o Brasil, o Alto Paranaíba foi

Tudo isso fez com que a Amep acreditasse no enorme potencial da

um marco na história nacional, por ser o berço da conquista do cerrado

região e cravasse, na entrada da cidade de Patos de Minas, uma de suas

para o segmento de negócios mais importante do País: o agronegócio.

revendas Mercedes-Benz. Especialmente essa unidade da Prodoeste é

A atual liderança brasileira nesse cenário deve-se, em grande parte, ao

considerada pela própria montadora uma das mais bonitas e modernas do

desbravamento do território retratado nesta obra.

Brasil, tornando-a referência para o mercado.

Histórias incríveis de famílias inteiras, imigrantes ou não, que se

A Prodoeste, a Arapé e demais empresas do grupo desejam ampliar

dedicaram à abertura dessa imensa fronteira brasileira devem ser valorizadas

ainda mais a relação com essa região e se integrar às comunidades locais.

e fazem parte da rica cultura regional. Aí surgiram grandes cooperativas

Para ser uma empresa inteiramente mineira, é preciso fazer bons negócios

agropecuárias, fomentando a produção agrícola e pecuária de qualidade,

nas principais áreas do Estado e, nesse sentido, o Alto Paranaíba merece

e cujos produtos estão presentes nos maiores e mais exigentes mercados

muita dedicação.

mundiais, como Europa, Ásia e Estados Unidos. O cerrado mineiro conquistou o reconhecimento nacional em alguns segmentos específicos do agronegócio:

Queremos estar presentes, fazer negócios e servir. Desenvolvimento sustentável faz parte de nossa missão, e é o que buscamos realizar no Alto Paranaíba.

- a produção de grãos, especialmente do milho, fez com que Patos

Por tudo isso, patrocinamos esta obra que é uma homenagem a

de Minas fosse reconhecida nacionalmente pela “Festa do Milho”, um

todas as famílias, clientes e pessoas que ajudaram a construir essa rica e

megaevento que dispensa apresentações;

importante história do Alto Paranaíba de Minas Gerais.

- São Gotardo é um dos maiores “clusters” do mundo de hortaliças. Dali parte diariamente carretas de cenoura, alho, cebola e outros, as quais abastecem mercados e supermercados do Brasil e do mundo; - Carmo do Paranaíba, com suas extensas lavouras, conquistou o mundo com o “café do cerrado” de altíssima qualidade;

6

Histórias do Cerrado

Arlindo de Melo Filho

Presidente da Amep S/A


Prodoeste

7

Patos de Minas-MG Foto: AMEP Histรณrias do Cerrado


8

Histรณrias do Cerrado


Apresentação Mais uma vez, pegamos a estrada e fomos descobrir os tesouros de uma região bela e rica da nossa querida Minas Gerais, enveredando pelo cerrado mineiro. Nessa viagem, fomos desvendar os segredos do Alto Paranaíba, explorando as cidades de São Gotardo, Rio Paranaíba, Carmo do Paranaíba e o Município sede da microrregião, Patos de Minas. Pesquisar a história desses lugares e entender o seu cotidiano foi uma aventura surpreendente. As calorosas recepções que recebemos da totalidade das pessoas a quem apresentamos o projeto e prontamente nos abriram as portas de suas casas e locais de trabalho são uma demonstração do clima acolhedor da região. Sinto-me honrado em poder contribuir com o registro e a perpetuação da história, da cultura e do modus vivendi dessas pessoas que, ao mesmo tempo em que respeitam suas tradições, também impulsionam o vertiginoso desenvolvimento da região, tendo na tradição agrícola o motor de propulsão de seu progresso. Seguindo a linha editorial das obras anteriores, buscamos o envolvimento da comunidade, por meio de depoimentos, de textos produzidos pelos cidadãos locais e imagens de fotógrafos profissionais e amadores, que, a todo momento e com as suas lentes, capturam o cotidiano da região. Convido a você, leitor, apaixonado por nossa cultura como eu, a se deleitar nessa viagem ao Alto Paranaíba, uma importante parcela de nosso grandioso cerrado mineiro. Convido a vocês, patenses, carmenses, rio-paranaibanos e sãogotardenses, a apreciarem a obra que ajudaram a construir e que se tornará um registro documental de tão bela e pulsante região. Um abraço!

Luiz Ricardo Silva A caminho do Alto Paranaíba Foto: Alexandre Henrique

9

Histórias do Cerrado


10

Histรณrias do Cerrado


Nascente

11

Rio Paranaíba-MG Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


Região do Alto Paranaíba A lavoura é de perder de vista. Os pivôs,¹ com suas enormes pernas metálicas, surgem no meio do verde vivo, jorrando água que se espalha no horizonte quase infinito do cerrado. A abertura de uma nova fronteira agrícola transformou a região do Alto Paranaíba a partir da década de 1970 e impulsionou uma nova forma de pensar e fazer a agricultura. Em meio a polêmicas, foram implantados projetos de assentamento que sugeriam o desenvolvimento de uma área pouco produtiva, mas com grande potencial. O Alto Paranaíba conserva sua vocação de abrigar quem chega. Tradicional

O nome da terra Maria Antônia Maciel

… Os raios do sol poente, Os montes fazem brilhar. As tardes mais singulares Se deitam neste lugar.

ponto de passagem de tropeiros, viajantes e comerciantes em direção às mais diversas partes do Brasil. Estes continuam a passar por essas bandas conhecidas pela fartura de terras e melhores oportunidades. As cidades abordadas aqui fazem parte da Microrregião de Patos de Minas e se apresentam singulares. Unem-se pela Bacia do Paranaíba. Esse rio nasce na Mata da Corda e guarda, em suas curvas sinuosas, as coloridas festas populares, a mistura de culturas e o cerrado pujante, testemunhas da história de resistência do Alto Paranaíba.

12

Histórias do Cerrado

Águas que rolam tranquilas, Serpenteiam pelas serras. O homem deu nome ao rio E o rio deu nome à terra.


13

Histรณrias do Cerrado


Cachoeira do Funchal Sรฃo Gotardo-MG Foto: Marcelo Lopes 14 Histรณrias do Cerrado


15

Histรณrias do Cerrado


16

Histรณrias do Cerrado


17

Placa indicativa na BR-354 Minas Gerais Foto: Isadora Parreira Histรณrias do Cerrado


18

Histรณrias do Cerrado


Panorâmica da cidade São Gotardo-MG

19

Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


20

Histรณrias do Cerrado


São Gotardo A força e a flama O primitivo povoado, chamado “Confusão”, cresceu nos arredores da fazenda de Joaquim Gotardo de Lima, um dos primeiros a ocupar o território onde hoje é São Gotardo. Acredita-se que a chegada dos primeiros habitantes, vindos da região de Pitangui, foi motivada pela procura de pedras preciosas. O curioso primeiro nome suscita dúvidas entre os pesquisadores. Alguns afirmam que viajantes passavam por essa área e, por motivos desconhecidos, separaram-se em dois grupos, encontrando-se, mais tarde, nas proximidades, desfazendo a “confusão” do desencontro. Outros se referem a uma possível luta com negros e índios, dando início a uma grande confusão, e há até mesmo aqueles que afirmam que um fazendeiro local batizou sua propriedade com o nome “Confusan”. De toda forma, alguns anos mais tarde, foi chamada de São Sebastião do Pouso Alegre, depois Vila de São Gotardo, em homenagem a um de seus fundadores. Para conseguir o foro de cidade, a então Vila acatou exigências do governo do Estado e, em 1915, foi finalmente elevada a Município. São Gotardo ainda conserva sua característica de ser “lugar de passagem”. A abundância que brota de sua terra seduz o empresário e o trabalhador em busca de novas oportunidades. Carrega também o novo traço, aquele de ser polo de desenvolvimento e responsável por congregar múltiplas culturas que chegaram em diferentes momentos de sua história, misturando-se ao modo de viver são-gotardense.

Antiga Matriz São Gotardo-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

21

Histórias do Cerrado


Primeiro grupo escolar de Arraial da Confusão - 1913 São Gotardo-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

Primeira formação da Banda Marcial Sargento Gabriel São Gotardo-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

22

Histórias do Cerrado


23

Histรณrias do Cerrado


Cultura e fé Convicta de que cultura e fé devem andar de mãos dadas, São Gotardo tem se esmerado para abraçar ambas. Aliás, o verdadeiro progresso sempre se alicerça ou tem suas raízes na seiva do saber e nos princípios imorredouros da fé. Formar cidadãos conscientes, capazes de fundamentar sua existência em princípios éticos sempre foi e será o objetivo de São Gotardo. Entre as diversas instituições educativas, a Escola Estadual São Pio X pode revelar o esmero que se tem pela ânsia de preparar os filhos da terra para serem instruídos e cidadãos honrados. Essa escola teve início no fim da década de 1950. Ainda sem local apropriado, as primeiras aulas eram no porão da casa paroquial. O curso de “admissão ao ginásio”, obrigatório na época, foi ministrado pela senhora Catarina Resende, mestra abnegada e profissional de vocação, e o autor destas linhas. Com o esforço da comunidade e o auxílio do Poder Público, sob a direção do Pe. José Lima (mais tarde, Dom José Lima, bispo em Itumbiara, Goiás), a parte física do educandário foi concluída. O corpo docente do estabelecimento era sempre bem selecionado, e cada professor, mais do que uma profissão, exercia uma missão. Sendo encampada pelo Estado, a “E. E. São Pio X” foi e é consagrada como uma escola de renome regional. Dessa instituição surgiram sacerdotes, engenheiros, advogados, médicos e outros profissionais competentes. Entre estes, destacam-se Osvaldo Bueno Amorim e Antônio Sérgio Bueno, ilustres professores e escritores da UFMG. Mas a cidade sempre teve e tem a vocação de ser solidária. Preocupada, pois, com nossos irmãos especiais, surgiu a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Também para a construção física da entidade, não foi suficiente a contribuição do Poder Público, pois o projeto era ousado, tendo em vista que atenderia a toda uma região. Com essa finalidade, houve quermesses, rifas e doações generosas, destacandose uma oferta de Graziela Lopes e os donativos da colônia japonesa, que tem

Rua Bento Ferreira dos Santos - 1970 São Gotardo-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

24

Histórias do Cerrado


25

Histรณrias do Cerrado


26

Histรณrias do Cerrado


como filosofia sempre ajudar quando o empreendimento é sério. É preciso salientar no grupo todo o empenho do Sr. Makoto Sekita. Devido a tudo isso, hoje São Gotardo gloria-se de sua APAE, uma das referências regionais. Por fim, a prática da fé foi sempre uma vocação de nosso povo. Por largos anos, o já citado Pe. José Lima liderou as celebrações católicas da cidade, posteriormente continuadas por outros sacerdotes. As cerimônias da Semana Santa sempre tiveram destaque graças ao fervor da gente piedosa. A fé é sempre alimentada não somente com celebrações ricas de conteúdo, mas pela catequese de preparação ao batismo, à primeira Eucaristia, à crisma, ao matrimônio. Não se pode esquecer o ECC (Encontro de Casais com Cristo), movimento duradouro que, até o momento presente, fortalece a vida dos casais; e a ação dos vicentinos em favor dos necessitados. Assim, cultura e fé alimentam a vida de um povo laborioso que envaidece os rincões do Alto Paranaíba. Professor Carlos Anselmo Nascimento

Igreja Matriz de São Sebastião - Patrimônio Municipal São Gotardo-MG

Foto em preto e branco: Acervo Prefeitura Municipal / Fotos coloridas: Marcelo Lopes

27

Histórias do Cerrado


Interior da Igreja Matriz de S찾o Sebasti찾o S찾o Gotardo-MG Foto: Davi Sato

28

Hist처rias do Cerrado


Evento musical no interior da igreja SĂŁo Gotardo-MG Foto: Davi Sato

29

HistĂłrias do Cerrado


Rei coroado, escoltado por terno de penacho SĂŁo Gotardo-MG Foto: Davi Sato 30 HistĂłrias do Cerrado


31

Histรณrias do Cerrado


Influências culturais Os festejos carregam simbolismos fundamentais para a cultura afrobrasileira. Os tambores ecoam as vozes dos excluídos e não deixam que suas histórias sejam esquecidas, mais do que isso, o congado, com suas cores, instrumentos, cantos e personagens, é elemento de união e fé. Em São Gotardo, os primeiros relatos de grupos de congado são do início do século XX. Hoje são seis grupos que se identificam pelas roupas, cantos e gestos. Os moçambiques são os congadeiros mais tradicionais e levam amarrados em seus tornozelos pequenas latas. Já os ternos de catupé, influenciados pela cultura indígena, escoltam seus reinados sob cantos irônicos. Outros tantos fazem parte desse universo, como os caboclinhos, penachos, marujos e vilões. Essa tradição, muito presente na região, divide seu espaço com os costumes trazidos pelos migrantes nipo-brasileiros, formando novos elementos culturais. Da mesma forma se dá com os trabalhadores sazonais que, durante alguns meses do ano, mudam-se para São Gotardo e arredores, para o plantio e a colheita da produção anual. Essas pessoas são, em sua maioria, vindas do Norte e Nordeste do Brasil, e deixam marcas de sua cultura onde se concentram, seja na gastronomia, na qual se observa a introdução de ingredientes e receitas incomuns para a região, seja na música, com a qual o caipira precisa dividir seu espaço. A diversidade do Município encontra apoio na Casa de Cultura Dom José Lima, popularmente conhecida como Prédio Amarelo. Construída em 1938, em estilo art déco, abrigou a Escola Normal e hoje é a sede do Arquivo Público Municipal, da Câmara Municipal, da Casa do Artesanato e da Biblioteca Pública Municipal. Situado à Praça São Sebastião, o prédio histórico promove exposições, encontros e salvaguarda a memória da cidade, firmando-se como bastião da cultura são-gotardense.

Coroa e imagens religiosas São Gotardo-MG

Foto: Davi Sato

32

Histórias do Cerrado

Legen


ndar fotos

33

Histรณrias do Cerrado


Terno de penacho Sรฃo Gotardo-MG Foto: Davi Sato

34

Histรณrias do Cerrado


Terno de penacho Sรฃo Gotardo-MG Foto: Davi Sato

35

Histรณrias do Cerrado


36

Histรณrias do Cerrado


Instrumentos musicais de ternos de congado SĂŁo Gotardo-MG

37

Fotos: Davi Sato HistĂłrias do Cerrado


38

Histรณrias do Cerrado


Área rural da Mata dos Pires

39

São Gotardo - MG Foto: Marcelo Lopes Histórias do Cerrado


40

Histรณrias do Cerrado


Natureza vibrante Entre ingás, pau-de-rosas e buritis, passeiam as maritacas e araras. As sempre-vivas formam pequenos buquês e acompanham a beleza das ciganinhas e lobeiras. Acima da visão, os ipês de todas as cores. Ouriçoscacheiros, porcos-do-mato e seriemas vagam pela extensão deste que é o segundo maior bioma brasileiro. Ao longo dos anos, foram adotadas estratégias para o uso dos recursos naturais do cerrado, as grandes empresas que se estabeleceram na região do Alto Paranaíba, a partir da expansão da fronteira agrícola, desenvolveram programas que aliam o desenvolvimento sustentável ao agronegócio e atualmente servem de modelo, impulsionando a economia local. A biodiversidade do cerrado é apresentada a seguir em suas mais bonitas formas: - Nas páginas 42 e 43, da esquerda para direita: semente de tento (1), douradinha (2), ipê-amarelo (3), flores do cerrado (4 e 5) e ipê-rosa (6). - Nas páginas 44 e 45, da esquerda para direita: jatobá-do-cerrado (1), cereja-do-campo (2), borboletas (3), pequis (4), bacuparis (5) e jandaia-datesta-vermelha e jandaia-coquinho (6). Legenda das fotos: Páginas 42 e 43 Fotos: Luiz Carlos Alves: 1, 2, 3 e 6. Acervo Prefeitura Municipal: 4 e 5. Páginas 44 e 45 Fotos: Luiz Carlos Alves: 1 a 6.

Sempre-viva

São Gotardo-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

41

Histórias do Cerrado


42

Histรณrias do Cerrado


43

Histรณrias do Cerrado


44

Histรณrias do Cerrado


45

Histรณrias do Cerrado


46

Histรณrias do Cerrado


Casal de maritacas São Gotardo-MG

Foto: Marcelo Lopes

Natureza na área rural São Gotardo-MG

Foto: Marcelo Lopes

47

Histórias do Cerrado


48

Histรณrias do Cerrado


Mico sagui

49

Sรฃo Gotardo-MG Foto: Luiz Carlos Alves Histรณrias do Cerrado


50

Histรณrias do Cerrado


Fim de tarde

51

Sรฃo Gotardo-MG Foto: Alexandre Henrique Histรณrias do Cerrado


52

Histรณrias do Cerrado


Entrada de Rio ParanaĂ­ba-MG Foto: Isadora Parreira

53

HistĂłrias do Cerrado


54

Histรณrias do Cerrado


Panorâmica da cidade

55

Rio Paranaíba-MG Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


56

Histรณrias do Cerrado


Rio Paranaíba Fartura da terra nas mãos A região de Rio Paranaíba é formada primeiramente por núcleos indígenas e, depois, em maioria, por escravos fugidos que constituíram diversos quilombos. O principal deles é o enorme e conhecidamente combativo Quilombo do Ambrósio, situado às margens de Ibiá. Acreditase que a chegada de garimpeiros e forasteiros em busca de diamantes foi responsável pela formação do primeiro núcleo da cidade, prática comum entre os municípios mineiros. Segundo José Resende Vargas, o Município abrigava um dos quartéis criados para “coibir o contrabando de ouro e diamantes no meio do século XVIII”, em virtude de ali passar uma “picada rumo a Goiás”. Importante entreposto comercial e local de vigilância valoroso para o Império, São Francisco das Chagas do Campo Grande abastecia e hospedava os viajantes. Por volta de 1760, José Mendes Rodrigues, junto a um pequeno grupo, fincou base às margens do rio Paranaíba e batizou o local de Pouso Alegre. Seguindo a tradição, mandou celebrar a primeira missa, dando início à ocupação efetiva da região de São Francisco das Chagas do Campo Grande. Aos poucos, outros núcleos familiares foram atraídos, no entanto a atividade mineradora não durou muito tempo, obrigando-os a procurar outros meios de subsistência, dessa vez calcada na agricultura e na pecuária. Alguns anos depois, logo no início do século XIX, surgiram as primeiras ideias emancipacionistas no Município e, em 1830, foi criado o Arraial de São Francisco das Chagas do Campo Grande. Após várias tentativas de criação e supressão do Município, emancipou-se politicamente em 1923, adotando o nome de Distrito de São João Arapuá e, dois anos depois, oficialmente chamado de Município de Rio Paranahyba.

A cidade em construção Rio Paranaíba-MG

Fotos: Acervo Prefeitura Municipal

57

Histórias do Cerrado


Igreja Matriz de São Francisco das Chagas Rio Paranaíba-MG Foto: Alexandre Henrique 58 Histórias do Cerrado


59

Histรณrias do Cerrado


Religiosidade A religiosidade em Rio Paranaíba é traço marcante de sua cultura. As primeiras manifestações católicas de que se tem conhecimento foram realizadas ainda no século XIX, quando foi fundada a primeira capela na região de São Francisco das Chagas de Campo Grande. O desejo de construir uma nova igreja que atendesse à demanda de serviços paroquiais e celebrasse a fé dos que já habitavam nas proximidades foi externada algumas vezes até que, em 1840, foi edificada a Igreja do Rosário. Barroca, simpática e muito bem conservada, mantém suas características originais e continua sendo de grande valor religioso, arquitetônico e artístico para os rio-paraibanos. Considerada patrimônio municipal, a Igreja foi construída entre 1760 e 1763. Este ficou sendo o templo mais importante até o início da construção da Igreja Matriz, poucos anos depois.

sição

Antiga Igreja Matriz de São Francisco das Chagas Rio Paranaíba-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

Igreja Matriz de São Francisco das Chagas Rio Paranaíba-MG

Foto: Alexandre Henrique

60

Histórias do Cerrado

mexe


er na compodo texto 61

Histรณrias do Cerrado


Igreja do Rosário - Patrimônio Cultural Rio Paranaíba-MG Fotos: Acervo Prefeitura Municipal 62 Histórias do Cerrado


63

Histรณrias do Cerrado


Foto Alexandre

64

Histรณrias do Cerrado


Escola Estadual Professor José Luiz de Araújo - Década de 1990 Rio Paranaíba-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

Escola Estadual Professor José Luiz de Araújo Vista a partir da torre da Igreja Matriz - Rio Paranaíba-MG Foto: Alexandre Henrique

65

Histórias do Cerrado


66

Histรณrias do Cerrado


Legado de amor e resistência Nascida em Carmo do Paranaíba, em 7 de dezembro de 1907, Dona Maria Terta, apelido de Maria Benedita de Jesus, deixou um legado de amor, respeito, união e bondade para sua família e sua comunidade. Moradora do Morro do Querosene, a famosa parteira ajudou muitas mães sem assistência. Ia a pé, na garupa do cavalo, e não importava se era dia ou noite. Dona Maria Terta estava sempre a postos. Voz presente nas liturgias católicas liderava grupos de limpeza na Igreja do Rosário e na Matriz, além de receber dezenas de pessoas em casa, desejosas de sua benção. Em relato, os netos de Dona Maria contam que ela “era naturalmente política. Candidatos disputavam seu apoio”. Atestando sua influência na comunidade, também tentava apaziguar a profunda divisão racial existente na cidade, na década de 1950. Vovó conseguia quebrar essa barreira, realizando festas juninas na porta de casa, em território negro. Unia negros e brancos, numa verdadeira confraternização, sem que nenhum problema acontecesse. Vovó, na sua sinceridade, na sua espontaneidade, no seu amor a Deus e à família, conquistou muitos amigos.

Dona Maria Terta faleceu em 2005, aos 98 anos, e deixou muitos descendentes: 25 netos, 57 bisnetos e 34 tataranetos, que se lembrarão sempre de sua devoção e carinho ao próximo. Na foto ao lado, vemos Maria Benedita Filha, Terezinha Maria de Lima, Maria Benedita de Jesus, Vitória Maria de Jesus, João José da Cruz, Geraldo José da Cruz, João Simplício da Cruz, Francisco André da Cruz e José Benedito da Cruz.

Família de Dona Maria Terta Rio Paranaíba-MG

Foto: Acervo Carlos Cruz

67

Histórias do Cerrado


Mastros com bandeiras de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia Rio Paranaíba-MG Foto: Davi Sato 68 Histórias do Cerrado


69

Histรณrias do Cerrado


Cultura afro-brasileira A forte presença da cultura afro-brasileira em Rio Paranaíba é expressa na profusão de congadas e grupos de moçambique existentes nos arredores, mantendo viva a história e a tradição. A Festa do Rosário, do reinado, da congada em Rio Paranaíba vem de gerações descendentes dos povos quilombolas que já habitavam uma região denominada de Capão da Paia, sendo que um dos congos ainda existentes, Congo Sereno de Rio Paranaíba, atualmente com o Capitão Nequinha, descende desses ancestrais quilombolas. Catupé Capão da Paia seria outro grupo de congado oriundo dessa ancestralidade que não mais existe nas configurações do reinado atual. Tem-se ainda um grupo de moçambique de Antônio Pinto (Tonho Lerão), que também é centenário na cidade. Rio Paranaíba, por abrigar a Igreja do Rosário mais antiga da região, é, de igual modo, o berço dessa cultura da congada, nosso verdadeiro patrimônio cultural afro-brasileiro. É, por tudo isso, uma festa de cores. Cores que encantam por suas variedades e gradações e por seus conjuntos, bordados artesanais, turbantes e chapéus com vidrilhos, lantejoulas, fitas multicoloridas. Para além de tudo disso, o ressoar dos tambores faz arrepiar os últimos fios de cabelo de um congadeiro, e, de seu corpo, emerge uma síntese espiritualista, em um processo dançante que invade o olhar dos espectadores. Por esse motivo, não se trata aqui de imagens congeladas em temporalidades passadas, ao contrário, são fotografias que dançam a vida, em uma movimentação constante, de acordo com o olhar introspectivo, e essencialmente de leitura sensitiva dessa festa imagética que, na realidade, é um verdadeiro arco-íris cultural.

Jeremias Brasileiro Historiador e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba

Dançadores de moçambique Rio Paranaíba-MG

Foto: Alexandre Henrique

70

Histórias do Cerrado


71

Histรณrias do Cerrado


Mulheres moçambiqueiras de Nossa Senhora do Rosário Rio Paranaíba-MG Foto: Alexandre Henrique 72 Histórias do Cerrado


Componente de terno de congo eAfro-brasileira seu acordeon Manifestação Rio Paranaíba-MG

73

Foto: Davi Sato Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


Capitão de terno de congado e dançador de moçambique Rio Paranaíba-MG Fotos: Alexandre Henrique 74 Histórias do Cerrado


Sr. Nequinha com seu cavaquinho, presidente do Congo Sereno Rio Paranaíba-MG

75

Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


76

Histรณrias do Cerrado


Manifestação cultural Rio Paranaíba-MG

77

Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


78

Histรณrias do Cerrado


Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio Paranaíba

Foto: Comunicação Instutucional do CRP - Alexandre Henrique

79

Histórias do Cerrado


80

Histรณrias do Cerrado


Ensino e pesquisa no Alto Paranaíba A implantação do campus da Universidade Federal de Viçosa em Rio Paranaíba demandou um esforço coletivo a partir de 2005, quando lideranças regionais, comunidade e pesquisadores se uniram para discutir a necessidade de haver na região uma instituição que atendesse às demandas de ensino e pesquisa. A proposta foi apresentada ao governo federal e logo aprovada. Ao fim de 2008 a unidade contava com 331 discentes, 33 docentes e 29 técnicos administrativos, aumentando gradativamente ao longo dos anos. O campus está localizado às margens da BR 354, a aproximadamente 12 quilômetros da sede do Município. A mobilização da comunidade foi de fundamental importância para a concretização do novo centro acadêmico. Comerciantes, empresários, comunicadores e pessoas físicas contribuíram para a divulgação e para a arrecadação de fundos. Era a cidade dando um exemplo de união e abraçando a UFV. Hoje, comporta aproximadamente 20 laboratórios de especialidades variadas, mantém um herbário, coleção zoológica, viveiros de mudas, parque ecológico e inúmeras especialidades voltadas, em sua maioria, para estudos na área agrícola e química. A UFV-CRP também desenvolve projetos voltados para a comunidade e estimula as organizações estudantis, como o Enactus, parceiro do projeto Mulheres de Chaves, grupos teatrais com foco no humor e na diversidade, além do Moven (movimento negro) e do Engenheiros Sem Fronteira, com finalidades sociais e ambientais.

Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio Paranaíba Rio Paranaíba-MG

Foto: Comunicação Instutucional do CRP - Thamires Sousa Martins

81

Histórias do Cerrado


82

Histรณrias do Cerrado


Pé de moleque Rio Paranaíba-MG

83

Foto: Isadora Parreira Histórias do Cerrado


Mulheres de Chaves O projeto Mulheres de Chaves propõe o empoderamento feminino como meio de promover a transformação de uma comunidade rural, destacandose a perspectiva de equidade de gênero, com o intuito de dar visibilidade às mulheres, aumentando sua participação nas atividades econômicas das pequenas propriedades do Distrito de Chaves. O projeto vem sendo desenvolvido juntamente com o Time Enactus2, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio Paranaíba, desde outubro de 2016. A partir da estruturação do Núcleo de Mulheres de Chaves, foram apresentados para o grupo os objetivos do projeto, baseados em uma construção coletiva e ampla participação. Foram discutidas questões de gênero subjacentes à atuação profissional feminina e definido o potencial empreendedor do grupo: a associação entre as mulheres. Com o projeto em pleno funcionamento, os produtos começaram a ser vendidos, dando visibilidade ao poder dessas mulheres, que hipnotizam olhos e paladares com delícias que saem de seus tachos quentes e mãos habilidosas.

Cocada escura

Rio Paranaíba-MG

Fotos: Time Enactus

84

Histórias do Cerrado


85

Histรณrias do Cerrado


86

Histรณrias do Cerrado


Morro do Peão - Ponto de referência geográfico Rio Paranaíba-MG

87

Foto: Alexandre Henrique Histórias do Cerrado


Capim-rosa em Rio Paranaíba-MG Fotos: Alexandre Henrique

88

Histórias do Cerrado


89

Histรณrias do Cerrado


90

Histรณrias do Cerrado


91

Crepúsculo Rio Paranaíba-MG Foto: Carminha Fernandes

Histórias do Cerrado


92

Histรณrias do Cerrado


Carmo do Paranaíba Terra que encanta e seduz A formação de Carmo do Paranaíba é marcada, desde o século XVI, por disputas de território e poder pelos índios Tremembés contra o avanço do colonizador, até o processo de ocupação do Quilombo de Campo Grande, considerado um dos maiores do Brasil, chegando a ter 27 vilas ou núcleos espalhados pelas regiões mineiras do Alto São Francisco, Alto Paranaíba, Centro-Oeste, Sudoeste e Triângulo. Desde os primeiros registros é conhecida pelo trânsito intenso de viajantes. Servia como corredor, ligando o planalto central às comarcas do Rio das Mortes, Pitangui e São Paulo, progredindo historicamente como caminho para bandeirantes, comerciantes e aventureiros dispostos a descobrir o interior do Brasil. Com localização privilegiada, mostrava-se como um território estratégico de comércio e negócios de toda natureza, provocando, no século XIX, a doação de sesmarias com o objetivo de povoar e fortalecer o comércio e os serviços. O surgimento de Carmo do Paranaíba ocorreu graças a duas figuras importantes: o capitão Francisco Antônio de Moraes e seu irmão, o padre Manoel Francisco de Moraes. Estima-se que Padre Manoel tenha chegado em 1799 e adquirido sesmarias. O capitão, até então dono da sesmaria referente a São Bento do Tamanduá, hoje Itapecerica, trocou de sesmaria com o irmão padre e passou a ocupar o território da Fazenda Santa Cecília a partir de 1823. Conhecida por sua fertilidade e abundância de recursos naturais, a fazenda prosperou e permitiu que o capitão adquirisse outras glebas de terra nas redondezas.

Alameda de eucaliptos na entrada da cidade Carmo do Paranaíba-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

93

Histórias do Cerrado


São Francisco das Chagas de Campo Grande era um vilarejo existente mesmo antes da chegada dos irmãos e formava um aglomerado de casas desordenadas, tendo em seus limites algumas fazendas e uma tímida capela, aonde Francisco ia com a família cumprir os deveres católicos. No entanto, depois de uma intensa briga política entre o capitão e os moradores de São Francisco das Chagas de Campo Grande, as relações de simpatia pelo lugarejo foram desfeitas e foi erguida em suas terras uma capela homenageando Nossa Senhora do Carmo, conforme sua devoção. Em 1835, obteve a autorização para a construção de uma capela e um cemitério, além da vinda do irmão para assumir as atividades religiosas da novíssima igreja. Em 1836, conseguiu finalmente autonomia religiosa e, alguns anos mais tarde, passou a se chamar “Nossa Senhora do Carmo”. Ao longo de seu desenvolvimento político-administrativo, Carmo do Paranaíba adotou diversos nomes até que, em 1889, seguindo as exigências da época (construção da cadeia, fórum e casa de instrução pública), tornou-se oficialmente uma cidade. Desde o princípio, a economia carmense é voltada para as atividades do campo, sendo a pecuária a atividade principal desde a chegada dos bandeirantes, que trouxeram consigo um grande rebanho.

Rua Ismael Furtado Carmo do Paranaíba-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

94

Histórias do Cerrado


95

Histรณrias do Cerrado


96

Histรณrias do Cerrado


Patrimônio e tradição religiosa A valorização do patrimônio permite o reconhecimento de uma cultura própria. Mesmo que inventada e reinventada permanentemente, o fortalecimento da identidade pelo sentimento de pertença é fundamental para que a história não seja esquecida. O intenso fluxo migratório e as várias transformações estruturais e sociais observadas no Alto Paranaíba provocaram as cidades da região a ressignificar seus símbolos e garantir a preservação da memória, seja nos novos ritos ou no traçado urbanístico. Carmo do Paranaíba cumpre bem esse papel quando salvaguarda seus símbolos e reconstrói, de maneira responsável, aqueles que fazem parte do cotidiano carmense, como o Grupo Escolar Winston Churchill, primeira instituição de ensino da cidade, fundado em 1913, destruído por um grande incêndio em 1954 e, finalmente, reconstruído em 1959.

Grupo Escolar Winston Churchill - antes e depois do incêndio Carmo do Paranaíba-MG

Fotos: Acervo Prefeitura Municipal

97

Histórias do Cerrado


Outros símbolos merecem atenção e cuidado, como a Rua de Pedra, deteriorada pelo tempo, mas que guarda, em suas pedras de tapanhoacanga3, parte da história de Carmo do Paranaíba, motivo que provocou seu tombamento pelo Município. Outros bens materiais, como as igrejas de Santa Cruz do Monte, São Francisco de Assis, Rosário, Matriz de Nossa Senhora do Carmo e a imagem de Nosso Senhor Morto, também são tombados e fazem parte do universo devocional da população, ocupando o imaginário da comunidade e fomentando a tradição carmense. A solitária Capela Santa Cruz do Monte tem uma vista panorâmica privilegiada sobre a cidade. Construída em fins do século XIX, tem estilo colonial e é acompanhada de um cruzeiro lateral. A capela passou por duas supostas reformas nas décadas de 1960 e 1980, e, apesar de seu precário estado de conservação, permanece sendo importante ponto de referência para os moradores e turistas, seja por sua beleza ou por sua localização.

Capela Santa Cruz do Monte

Carmo do Paranaíba-MG

Foto em preto e branco: Acervo Zé Guilé / Foto colorida: Isadora Parreira

98

Histórias do Cerrado


99

Histรณrias do Cerrado


100

Histรณrias do Cerrado


Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo A capela que deu origem à construção atual foi edificada em 1836, após a desavença do capitão Francisco Antônio de Moraes com a comunidade da Vila de São Francisco das Chagas, e teve a primeira missa celebrada em 1852. Poucos anos depois, a Administração decidiu por reconstruí-la totalmente. As obras na igreja foram concluídas em 1900, e o espaço recebeu mais duas intervenções até 1919. A última reforma foi entregue no fim da década de 1990 e passou por longos processos devido ao precário estado de conservação em que a matriz se encontrava. Hoje a edificação está em boas condições e fica localizada em frente a uma praça que integra seu conjunto arquitetônico de onde se tem a visão completa das torres laterais. Pelo vão, em seu interior, chega-se ao belíssimo altar principal.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo Carmo do Paranaíba-MG

Foto em preto e branco: Acervo Zé Guilé / Foto colorida: Zé Guillé

101

Histórias do Cerrado


102

Histรณrias do Cerrado


Detalhes da Igreja do Rosário Carmo do Paranaíba-MG

103

Fotos: Isadora Parreira Histórias do Cerrado


104

Histรณrias do Cerrado


Legado musical Na década de 1960, havia uma moça no meio sertanejo que chamava a atenção de todos, pois, além de ser amante da música sertaneja, escrevia bonitos versos os quais encantavam todos os cantores. Um exemplo é a dupla Osmano e Manito, também de Carmo do Paranaíba, que gravaram uma composição em homenagem à jovem Zulma de Morais. De origem simples, Zulma nasceu na comunidade de “Paredão”, zona rural de Carmo do Paranaíba, em 2 outubro de 1941. Desde criança, seu hábito era escrever. Pelo amor às letras, dedicou-se ao magistério, educando várias crianças ao longo de sua vida. Com o passar do tempo, viu na música o caminho certo para seus versos. Assim foi entrando no cenário da música sertaneja patense, na década de 1960. Nessa época, Patos de Minas era um grande celeiro de artistas e de oportunidades. Por ter uma emissora de rádio e um grande número de cantores sertanejos, era o local ideal para a divulgação de obras. E foi nessa cidade que Zulma de Morais deu seus primeiros passos na arte. Apresentou suas composições aos artistas regionais, que, de imediato, incluíram em seus repertórios as poesias da compositora de Carmo do Paranaíba. Uma das mais antigas canções de Zulma de Morais é a música “Manhãs sertanejas”, composta em 1964, em parceria com o cantor Chiquito, e gravada pelos artistas Chiquito e Rubão em 2001. Nessa música, Zulma relata com grande sensibilidade as “Manhãs sertanejas” da região das Gerais:

Pedro Pereira, Zulma de Morais, Osmano, Israel Pinheiro, Manito, Guiomar Nunes Carmo do Paranaíba-MG Foto: Acervo Manito

105

Histórias do Cerrado


Ouve-se ao longe o cantar dos passarinhos Alegrezinhos, pousados no pé do ipê E o Sol com seus raios cor de ouro No horizonte começa a aparecer As caboclinhas entre as flores do jardim Estão cantando a canção do amanhecer.

Teve como parceiros de composição Venancinho, os conterrâneos Osmano e Manito, Paulo e Paulino, entre outros tantos que ajudaram a construir a música sertaneja mineira. A delicadeza da escrita e a humildade de Zulma se mostram no caderno de composições escrito por ela e doado à dupla Osmano e Manito, na década de 1960: Querida dupla Osmano e Manito, Inicio aqui mais este caderno de composições, das quais espero que tirem algum proveito. Espero que, como sempre, sejam recebidas como colaboração e não como amolação. Espero ainda que me desculpem por não serem melhores, pois sabem que minha minúscula inteligência não me permite escrever melhor. Eu bem que gostaria de compor lindas melodias, que fossem comparadas às suas encantadoras vozes, mas o que hei de fazer? Se só me é possível escrever assim tenho que me conformar, não adianta […]. Sinto orgulhosamente feliz em poder colaborar com tão grande dupla. Eu que sempre sonhei um dia ser tratada como uma compositora, hoje vejo meu sonho realizado. Quando ouço minhas músicas cantadas por esta maravilhosa dupla, quase nem acredito que sou eu, tão feliz. Só a amizade que temos, só a atenção que me dão seria o bastante para mim ser feliz, pois são para mim os maiores artistas do mundo.

Zulma morou em Brasília até meados de 1983. Constituiu família e voltou a morar na comunidade de “Paredão”, Município de Carmo do Paranaíba, local onde faleceu, em 10 de setembro de 1996. João Otávio Coêlho Historiador, idealizador e coordenador da Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja, em Patos de Minas-MG

Letra original escrita por Zulma de Morais Carmo do Paranaíba-MG Foto: Acervo Manito

106

Histórias do Cerrado


Divino luthier Autodidata, Divino da Viola, como é popularmente conhecido em Carmo do Paranaíba, começou suas atividades como luthier em 2010. “Vou fazer uma viola”, disse, após se encantar com o processo de fabricação de instrumentos visto numa reportagem de televisão, e assim o fez. A primeira fôrma produzida foi de uma viola pequena, depois partiu para os violões, violinos, banjos, bandolins e cavaquinhos, esculpidos em madeiras de cedro, jacarandá, jatobá e sucupira. Do simples ateliê na garagem de casa, o luthier desenha criações que viajam pelo Brasil e já foram parar nas mãos de grandes artistas. Divino se orgulha de ter enviado a Almir Sater uma de suas violas.

Fabricação artesanal de instrumentos musicais Carmo do Paranaíba-MG Foto: Isadora Parreira

107

Histórias do Cerrado


Mercearia Ferreira Carmo do ParanaĂ­ba-MG Fotos: Isadora Parreira 108 HistĂłrias do Cerrado


109

Histรณrias do Cerrado


Secos e molhados Pilhas, lanternas, alpiste, cortadores de unha, cadarços, panelas e toda sorte de produtos a granel se misturam a vassouras e miudezas que saem embrulhadas em papel pardo cortado a metro. A “mercearia” faz parte do imaginário mineiro e supre as necessidades da população distante dos centros urbanos. Os “secos e molhados” foram, desde os primórdios, pontos de referência e encontro. A Mercearia Ferreira existe desde 1958, é de propriedade do senhor Eleutério Rodrigues Dias, e ainda conserva as características das tradicionais mercearias.

110

Histórias do Cerrado


Mercearia Ferreira

111

Carmo do ParanaĂ­ba-MG Fotos: Isadora Parreira HistĂłrias do Cerrado


Zona rural Carmo do ParanaĂ­ba-MG

Foto: Veloso Coffee - Demetrius Braga 112 HistĂłrias do Cerrado


Plantação de soja e vista panorâmica de São João Batista do Glória-MG Foto: Dila Puccini

113

Histórias do Cerrado


114

Histรณrias do Cerrado


O terroir4 do cerrado A terra pouco produtiva do cerrado deu lugar, a partir da década de 1970, a vastos cafezais cultivados por famílias carmenses e pelas recémchegadas famílias nipo-brasileiras. A produção cresceu, e hoje o café do cerrado tem identidade própria. Foi reconhecido pela qualidade de sua produção com a denominação de origem “Região do Cerrado Mineiro”, com uma abrangência de 55 municípios e mais de 4.500 cafeicultores cadastrados. Os municípios localizados no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro produzem uma média anual de 5 milhões de sacas, em uma área total de cultivo de 234 mil hectares. Grãos de alta qualidade combinados com o clima, solo e relevo fizeram com que o café do cerrado recebesse a primeira denominação de origem do segmento, por suas características únicas. Cultivados entre 800 e 1.300 metros de altitude, produzem um café com forte identidade. A cidade também preserva seus bens imateriais. O mais precioso deles, o modo de fazer o queijo artesanal do cerrado, é motivo de orgulho. Hoje as fazendas produtoras padronizaram seus processos, mantendo as características de cada produtor. A partir disso, foi possível receber a indicação de denominação de origem “Queijo Minas Artesanal do Cerrado”, levando em conta as condições climáticas, vegetais e os modos tradicionais de fazer o produto na região. Para que o queijo do cerrado seja tão reconhecido quanto o café da região, as condições de higiene e infraestrutura, o rebanho que fornece o leite e a saúde do próprio produtor são severamente avaliados. O “Queijo Minas Artesanal do Cerrado” tem sabor pronunciado, massa firme e geralmente consumido quando atinge maturação média. De acordo com levantamento do IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), existem 29 produtores cadastrados na Microrregião do Cerrado, 5 estão em Carmo do Paranaíba, 8 em Serra do Salitre (Comunidade de Catulés), 4 em Patos de Minas, 8 em Rio Paranaíba, 3 em Lagoa Formosa e 1 em Patrocínio.

Café: do plantio à produção - páginas 114 a 127 Carmo do Paranaíba-MG

Fotos: Veloso Coffee - Pedro Humberto Veloso

115

Histórias do Cerrado


116

Histรณrias do Cerrado


117

Histรณrias do Cerrado


118

Histรณrias do Cerrado


119

Histรณrias do Cerrado


120

Histรณrias do Cerrado


121

Histรณrias do Cerrado


122

Histรณrias do Cerrado


123

Histรณrias do Cerrado


124

Histรณrias do Cerrado


125

Histรณrias do Cerrado


126

Histรณrias do Cerrado


127

Histรณrias do Cerrado


Gado leiteiro Região do Alto Paranaíba-MG Foto: Sekita Agronegócios 128 Histórias do Cerrado


Queijo Artesanal do Cerrado - Produtor Eudes Braga

129

Carmo do Paranaíba-MG Foto: Iágo Alberto Histórias do Cerrado


130

Histรณrias do Cerrado


Fazenda Santa Cecília Carmo do Paranaíba-MG

Foto: Veloso Coffee – Demetrius Braga Histórias do Cerrado

131


132

Histรณrias do Cerrado


Vista Panorâmica Patos de Minas-MG

133

Foto: Selma Cruz Histórias do Cerrado


134

Histรณrias do Cerrado


Patos de Minas Terra de amor, de fé, terra de luz Patos de Minas é hoje a maior cidade do Alto Paranaíba. É produtiva e de povo hospitaleiro, que conhece suas raízes e exalta sua história. Além da área urbana, o Município tem oito distritos: Santana de Patos, Pilar, Chumbo, Pindaíbas, Areado, Major Porto, Alagoas e Bom Sucesso de Patos. Algumas décadas antes de ser conhecida como a “Capital do Milho” e abrigar uma das maiores festas do Estado, Patos de Minas era apenas uma fazenda denominada Os Patos, sob a jurisdição de Paracatu. Foi erguida uma capela junto a algumas casas, formando o primitivo arraial. Em 1842, foi incorporada ao Município de Patrocínio e, em 1856, pediu sua elevação a Vila, um processo demorado, mas que apresentava condições claras para que a demanda fosse atendida: seria necessária a construção de uma cadeia e da casa de câmara, em uma época em que as cidades se delineavam. A cidade prosperou em torno da Praça Dom Eduardo. Suas largas ruas abrigam, até hoje, um conjunto arquitetônico único. A partir da década de 1940, sua expansão rumo à Chapada tornou-se cada vez mais concreta, evidenciando a influência positivista de Olegário Maciel. O êxodo rural e a consequente ocupação de áreas urbanas da década seguinte fizeram a população patense crescer consideravelmente, assim como o volume de forasteiros e serviços, provocados pela construção de importantes rodovias na região. Patos de Minas consegue manter a tradição de se modernizar sem perder suas raízes. Faz de sua história um combustível para a renovação. É dinâmica e viva, assim como o cerrado onde pousa seu nome.

Avenida Getúlio Vargas Patos de Minas-MG

Fotos: Acervo Prefeitura Municipal

135

Histórias do Cerrado


Os “Borges e os Maciéis” Em fins do século XIX, a extensão territorial e a incapacidade do Poder Público em alcançar todos os rincões do País faziam brotar a disputa de poder entre famílias. Deter a burocracia e os meios de comunicação, e reafirmar um grupo forte e unido capaz de pôr em marcha um projeto civilizatório era o grande desafio enfrentado pelas famílias poderosas de cada lugar. Em Patos de Minas, o confronto entre as famílias Borges e Maciel se tornou conhecido pelos embates principalmente no campo político. Os Borges, vindos da região de Formiga, eram afamados comerciantes, atraídos pela vasta oportunidade de negócios no caminho que se abria no sertão da Farinha Podre. Aos poucos, a família se estabeleceu na região e dominou o comércio. A principal atividade dos numerosos Borges começou a decair com o decorrer do tempo, no entanto o prestígio ainda estava em alta, garantindo uma pequena representação na cena política e fazendo frente ao poderio macielista. Durante alguns anos, Olympio Borges fez carreira política na cidade e logo se afastou da função. Entre as inúmeras diferenças entre as duas famílias, a questão religiosa também se fez presente. Os Borges, como católicos fervorosos, e os Maciéis, como defensores do protestantismo. Os dois grupos protagonizando embates sobre o tema e acirrando ainda mais os ânimos entre ambos. “Fazendeiros. Republicanos. Letrados. Cosmopolitas. Francófonos.” 5 É assim que a historiadora Rosa Maria Ferreira da Silva define o clã macielista, uma das mais importantes famílias de Patos de Minas e responsáveis por grandes mudanças no cenário político e cultural da cidade. Por muitos anos, foram maioria na política local.

Vista aérea - década de 1950 Patos de Minas-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

136

Histórias do Cerrado


137

Histรณrias do Cerrado


138

Histรณrias do Cerrado


Tinham

uma

característica

singular

à

época:

apesar

de

conhecidamente donos de grandes extensões de terra, mantinham grande apreço pela educação. Seus membros dispunham de diplomas e certificados das universidades mais conceituadas do mundo. Participavam de grandes decisões políticas e ocupavam cargos de destaque. Entre os personagens do clã macielista, a figura de Olegário Maciel é a mais notável no cenário nacional. Filho do coronel Antônio Dias Maciel e de Flaviana Maciel, Olegário faz seus estudos preparatórios no Colégio do Caraça e, em 1887, tornou-se engenheiro pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Três anos depois, ingressou na carreira política e ocupou diversos cargos político-administrativos no então Distrito da Vila de Santo Antônio dos Patos. O auge de sua carreira política deu-se em 1922, quando foi eleito vicepresidente do Estado de Minas Gerais, na chapa encabeçada por Raul Soares, que faleceu alguns meses antes do fim do mandato, levando Olegário Maciel a assumir a Presidência do Estado. Responsável pela reconfiguração da paisagem urbana de Patos de Minas, Olegário enviou um memorando à Câmara, solicitando a mudança de sentido do crescimento da cidade, desta vez em direção à Chapada, local de pastos e roças. Alterando o rumo da expansão, as famílias se entrincheiraram ainda mais. A nova cartografia determinou que ficassem “acima da Rua General Osório os fazendeiros e protestantes Maciéis. Abaixo, no entorno do Largo da Matriz, os comerciantes e católicos Borges” 6.

Olegário Maciel e apoiadores, 1933 Patos de Minas-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal

139

Histórias do Cerrado


140

Histรณrias do Cerrado


À esquerda superior: Escola Normal; à esquerda, abaixo: Escola Marcolino de Barros: à direita: Palecete Amadeu Maciel Patos de Minas-MG

Fotos: Acervo Prefeitura Municipal Histórias do Cerrado

141


A cartografia moderna Sob a influência moderna, Patos de Minas cresceu e adotou um novo traçado urbanístico a partir do século XX. A influência dos Borges e Maciéis, e suas disputas que habitam o imaginário da cidade tiveram grande influência na formação administrativa, cultural e até mesmo arquitetônica da cidade. A arquitetura do Palacete de Amadeu e Jorgeta Maciel acompanha a Casa de Olegário Maciel, que impressiona pelas características modernas e se encaixa no padrão eclético observado em construções semelhantes na cidade. A casa, onde hoje funciona o Museu de Patos de Minas, abriga muito da história da cidade, a começar por sua localização e atualmente como centro cultural e museu. Em seu interior, podemos observar pinturas delicadas nos tetos e paredes, atribuídas ao artista italiano chamado Goretti, contratado por Olegário Maciel para ornamentar os ambientes de convívio da sala. Com o passar dos anos, as pinturas receberam repetidas intervenções e repinturas. Somente em 2006 a Diretoria de Igualdade Racial, Memória e Patrimônio Cultural de Patos de Minas foi contemplada com um projeto de restauração, a qual durou nove meses, entre os anos de 2007 e 2008. Hoje os cômodos da casa funcionam como salas de exposições permanentes e temporárias, ações de educação patrimonial, eventos de cunho cultural, além de um amplo acervo documental e iconográfico sobre a cidade. Ao longo da Avenida Getúlio Vargas, a Escola Estadual Professor Antônio Dias Maciel e o Grupo Escolar Marcolino de Barros também anunciam a modernidade não somente na arquitetura, mas também na visão positivista da educação adotada no mesmo período.

Vista aérea da Praça Dom Eduardo

Patos de Minas-MG Foto: Lizandro Júnior

142

Histórias do Cerrado


143

Histรณrias do Cerrado


144

Histรณrias do Cerrado


145

Histรณrias do Cerrado


146

Histรณrias do Cerrado


A força da educação A Fepam7 foi criada no fim da década de 1960, reafirmando o pioneirismo da cidade em relação à modernidade e o progresso. A organização mantém o Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) e surgiu num momento onde os cursos de graduação em universidades privadas crescia a passos largos no intuito de atender às demandas de formação da sociedade brasileira. A população patense já mostrava interesse na ampliação do ensino superior na cidade, sobretudo os recém-formados estudantes de ensino médio, que se deslocavam para os grandes centros em busca do diploma. Inicialmente a Unipam oferecia cinco cursos: Ciências Biológicas, História, Letras, Matemática e Biologia. Apesar de ser hoje uma instituição pedagogicamente autônoma, na década de 1990, optou por filiar-se à Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), a fim de ampliar suas possibilidades em pesquisa, ensino e extensão. Em 2001, tornou-se centro universitário e passou a oferecer um vasto catálogo de cursos de graduação e pós-graduação, em especial o de Medicina, que começou a funcionar em 2007 e recebe hoje estudantes de todo o Brasil. Em 2018, a Unipam completa 50 anos e se firma como uma das mais respeitadas do Estado, ofertando 30 cursos e atendendo quase 10 mil alunos. A implantação da Unipam em Patos de Minas mostra o interesse em transformar o cerrado em potência; desta vez, educacional. Com o passar dos anos, a quantidade de instituições educacionais cresceu vigorosamente, oferecendo cursos secundários e técnicos, como o IFTM (Instituto Federal do Triângulo Mineiro), inaugurado em 2013. Cursos superiores são oferecidos também pela FPM (Faculdade Patos de Minas) e pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia), que, em parceria com a Unipam, funciona nas dependências do centro universitário.

Unipam - páginas 144 a 147 Patos de Minas-MG Fotos: Unipam

147

Histórias do Cerrado


Vista aérea da Igreja dos Capuchinhos Patos de Minas-MG Fotos: Lizandro Júnior 148 Histórias do Cerrado


149

Histรณrias do Cerrado


Devoção Minas Gerais é conhecida pela religiosidade singular expressa na devoção de seu povo, na beleza das festas e nas igrejas esculpidas cuidadosamente. O sagrado faz parte do cotidiano mineiro e, por muitas vezes, foi responsável pelo surgimento e batismo de arraiais, pela organização administrativa e pela orientação popular. A força da cultura religiosa em Minas Gerais é clara e presente em suas variadas manifestações. No Alto Paranaíba, de um modo geral, a fé católica encontra abrigo em grandes catedrais e em pequenas capelas. A construção da Catedral de Santo Antônio de Pádua alinhou-se com a ideia de progresso e modernidade cultivada em Patos de Minas desde o início do século XX. Erguida em substituição à antiga capela, apresenta um estilo eclético em consonância com o casario do entorno. Seus grandes vitrais se destacam, colorindo o interior da igreja. A poucos quilômetros de Patos de Minas, no Distrito de Chumbo, a barroca Igreja de Nossa Senhora das Dores completa a paisagem. Construída na segunda metade do século XIX, a pequena igreja foi erguida, segundo moradores, em duas etapas: a primeira delas em fins do século XIX, e a segunda no começo do século XX. A última intervenção foi concluída no fim de 2015. A obra de estruturação de paredes, forros, altares e pisos durou dez anos e somente foi possível mediante recursos da própria população e das leis de incentivo à cultura.

Vista aérea da Catedral de Santo Antônio de Pádua

Patos de Minas-MG Fotos: Lizandro Júnior

150

Histórias do Cerrado


151

Histรณrias do Cerrado


152

Histรณrias do Cerrado


Detalhes internos da Catedral de Santo Antônio de Pádua Patos de Minas-MG

153

Fotos: Lizandro Júnior Histórias do Cerrado


Memórias e vestígios A história do negro na região de Patos de Minas remonta às primeiras bandeiras que chegaram à região por volta de 1735, com o objetivo de explorar a terra e expandir seus territórios à custa do extermínio do povo negro quilombola. Desde então, a luta do negro tem sido incansável, em constante resistência e rota de fuga, principalmente às margens do rio Paranaíba. Desse grupo, destaca-se a família dos negros Ventura, originados de quilombos e que lá permaneceram desde então. Muitos foram brutalmente mortos e enterrados como indigentes. Entretanto eles cresceram e miscigenaramse, mas continuam resistindo até hoje contra as perseguições do poder econômico e do poder político vigente. A região do Alto Paranaíba, que era um imenso quilombo, foi fatiada a partir de 1911, com a divisão dos municípios. Com isso, os grupos de negros das famílias foram separados e divididos de acordo com sua localização. O povo foi excluído, marginalizado, e sua religião, desrespeitada. Pelos relatos dos primeiros posseiros, acredita-se que a localização da atual Avenida Getúlio Vargas era o Largo do Rosário, e a Rádio Clube de Patos era a Igreja dos “pretos”, que formavam uma sociedade organizada, tinham uma igreja para cultos e um clube para celebrações. Com a necessidade de expansão territorial demandada pelo crescimento da cidade, a comunidade negra foi sendo “empurrada” para a região da Várzea e do Córrego do Monjolo. Os negros foram expulsos, suas casas demolidas, suas memórias apagadas.

Caixeiro e capitão do Moçambique Nossa Senhora do Rosário Patos de Minas-MG Foto: Joaquim Amaral

154

Histórias do Cerrado


155

Histรณrias do Cerrado


156

Histรณrias do Cerrado


O negro sempre esteve presente na construção desta cidade, desta região, do Estado de Minas Gerais e do Brasil. A luta é para resgatar a história e a identidade negra pela cultura do congado, da matriz africana, do maculelê e do samba de roda. A história dos negros na região sempre foi minimizada, ridicularizada e relegada ao esquecimento. A consequência desse abandono está expressa em diversas áreas. Existem projetos e ações para que a memória dos negros da região possa ser resgatada junto ao sentimento de pertença. O caminho é introduzir a cultura negra na escola, valorizar sua história pregressa, combater a discriminação e fortalecer o pertencimento da raça. Como não é possível reparar o passado, queremos a partir de agora, construir um novo futuro.

José Antônio Ventura Presidente dos Quilombos das famílias Teodoro de Oliveira e Ventura Presidente da Federação Nacional das Associações Quilombolas do Brasil (Fenaq) Prof. Dr. Peterson E. Gandolfi Programa de Pós-Graduação em Gestão Organizacional, Mestrado Profissional - Faculdade de Gestão e Negócios (UFU)

Moçambique da Vila Operária, à esquerda Seu Quim, Rei Perpétuo. Patos de Minas-MG Fotos: Valder Lima

157

Histórias do Cerrado


158

Histรณrias do Cerrado


Moรงambique Nossa Senhora do Rosรกrio Patos de Minas-MG

159

Foto: Joaquim Amaral Histรณrias do Cerrado


Violas de amor e alegria A viola sabe que o peito é onde o amor faz seu ninho Viola é feito de pinho, mas ela tem coração Por isso todo caboclo que tem amor tem viola Esse meu pinho consola, a minha grande paixão. “Perto do Coração” (Raul Torres e João Pacífico) Popularmente conhecida como “Orquestra de Violeiros”, a Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja, de Patos de Minas, tem o intuito de propagar o amor e a alegria pelas canções caipiras dedilhadas na viola. Tocando e cantando variadas músicas, o grupo vem se destacando por onde passa e cumprindo, com maestria, sua missão. Diferente do que muitas pessoas pensam, essa orquestra não é da cidade mineira de São Gonçalo do Abaeté. Ela surgiu em Patos de Minas, em 9 de abril de 2016. O nome é uma forma de homenagem a São Gonçalo do Amarante, o patrono e protetor dos violeiros. O surgimento do grupo ocorreu pela união de músicos e entusiastas do meio sertanejo. Os objetivos são promover uma interação cultural entre seus participantes e a sociedade, mostrar o melhor da música sertaneja, estimular a integração entre os membros e o bom convívio e o crescimento musical entre os integrantes da orquestra. Após esse começo, o conjunto ganhou forma e se organizou conforme as demandas e necessidades do próprio grupo. Ao longo dos ensaios e reuniões, mais pessoas se aproximaram, e o número de membros aumentava a cada dia. Homens, mulheres, crianças, jovens e adultos compõem hoje o coro da orquestra. Diferentes vozes e timbres que se unem e formam apenas um som. No início, para organizar a parte técnica da orquestra e para reger o grupo, foi nomeado o violeiro Tião Vigário. Posteriormente, houve o apoio da dupla Zé Tropeiro e Villar, e atualmente a orquestra conta com a regência do instrumentista Geo Viola, responsável pelas vozes e arranjos.

Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja Patos de Minas-MG Foto: Lizandro Júnior

160

Histórias do Cerrado


161

Histรณrias do Cerrado


162

Histรณrias do Cerrado


Já na coordenação executiva está o berranteiro João Otávio, que exerce esse papel desde o início. O grupo mostra, com maestria, as mais belas canções do cancioneiro sertanejo. Entre elas estão músicas que atravessam gerações e animam o público interiorano. Hoje o repertório da orquestra é composto por mais de 30 canções, das quais se destacam vários clássicos dos cantores e compositores de Patos de Minas. A primeira apresentação da orquestra ocorreu no Teatro Municipal Leão de Formosa, em Patos de Minas, em 7 de setembro de 2016. Após o primeiro concerto, vários outros foram realizados em diferentes palcos de Patos de Minas e cidades da região. Não se pode esquecer também da primeira apresentação fora de Minas Gerais, no Encontro das Folias de Reis do Distrito Federal, em Brasília, em 2017. Em eventos festivos, culturais, religiosos, comunitários ou corporativos, a Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja esteve presente em vários lugares. Na trajetória, já contam com mais de 40 apresentações. Em 2018, o grupo conta com 40 membros (homens e mulheres) das mais variadas idades e classes sociais. Seus componentes estão na faixa etária de 12 a 80 anos. Entre eles, há estudantes, professores, profissionais liberais, donas de casa, trabalhadores do comércio, funcionários públicos e também aposentados das mais diversas classes. O interessante é a união de diferentes pessoas que fizeram da música sertaneja o fio condutor de suas vidas. A Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja está em plena atividade, fazendo apresentações em diferentes rincões e, a cada dia, conquistando novos fãs. O grupo não tem restrições para participação e é aberto a todos os cantores e instrumentistas interessados na música sertaneja. Com a viola no peito, os artistas mostram a música sertaneja e retrata a alma e a vida do homem interiorano. João Otávio Coêlho Idealizador e coordenador da Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja (Patos de Minas-MG)

Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja Patos de Minas-MG

Foto: Acervo Prefeitura Municipal - Laís Alvares Pacheco

163

Histórias do Cerrado


164

Histรณrias do Cerrado


Vista aérea da Fenamilho 2018 Patos de Minas-MG

165

Foto: Lizandro Júnior Histórias do Cerrado


Festa do milho São muitas e muitas histórias. Cada depoimento revela o grande amor das pessoas voluntárias que ajudaram a escrevê-la. Um processo de pesquisa foi elaborado durante muitos anos, e nele vemos revelados rumos diferentes para a origem da Festa do Milho. Ela nasceu de um trabalho de voluntários cheios de visão. Se olharmos o passado, vemos nitidamente que a Festa, com o passar dos anos, mudou parte de sua essência, mas continua firme no propósito de levar o nome de Patos de Minas, uma cidade progressista do interior das Minas Gerais, de solo rico, que cresce a passos largos e com muito orgulho, acompanhando o progresso e a fama de ser considerada a “Capital Nacional do Milho”, título que muito nos honra. Todos são bem-vindos a esse acontecimento tão esperado todos os anos, no mês de maio. Além da Associação Rural de Patos de Minas, a Prefeitura Municipal e muitos nomes incorporados sempre estiveram em parceria nessa importante realização, bem como senhoras e senhoritas da sociedade patense, que não mediram esforços para o seu sucesso. Em nossa memória, a lembrança do ano de 1959, quando três lindas senhoritas, em seus carros alegóricos, faziam parte dessa grande comemoração, no dia 24 de maio, aniversário da cidade. O povo abandonou suas casas e foi aplaudir, radiante de alegria, a beleza do desfile. A Rua Major Gote e as sacadas de seus edifícios ficaram apinhadas de gente! Que as futuras gerações possam um dia conhecer a trajetória de uma das mais importantes festas tradicionais do interior e o trabalho de seus idealizadores. Cada um, a seu tempo, vai edificando a história que, aos poucos, vamos escrevendo. Desde 1959, plantando tradições. Parabéns, Patos de Minas, cidade amada! Marialda Coury Diretora do Memorial Romero Queiroz Pereira Memorial do Milho

166

Histórias do Cerrado


Coroa da primeira Rainha do Milho,1959 - Helena Alves da Silva Memorial do Milho - Patos de Minas-MG

167

Foto: Isadora Parreira Histรณrias do Cerrado


Marias Artesรฃs - pรกginas 168 a 173 Patos de Minas-MG Fotos: Isadora Parreira 168 Histรณrias do Cerrado


169

Histรณrias do Cerrado


170

Histรณrias do Cerrado


Marias artesãs Dálias, tulipas e rosas se misturam a presépios, anjos, bonecas e uma variedade de objetos de decoração feitos de palhas de milho tingidas ou in natura. O galpão repleto de simpáticas senhoras fica no complexo do Memorial do Milho, sob a coordenação de Marialda Coury. Inicialmente marcado pelos trabalhos de tecelagem, logo deu lugar à palha de milho, adotado agora como a principal matéria-prima dos produtos. Aqui as Marias são apresentadas por Marialda: É através da história que podemos conhecer a cultura de um povo. Com o objetivo de resgatar a história dessas grandes mulheres, iniciamos, no dia 30 de janeiro de 2002, um trabalho de base, reunindo, em meu atelier de artes, 13 mulheres fiandeiras. Hoje já são 24, que se reúnem quinzenalmente. Depois da oração, leitura da ata, conversamos um pouco, rimos e vamos, assim, resgatando suas histórias de vida. Aos poucos, reunidas, cultuamos as tradições para não deixar morrer esta chama. A primeira idealizadora deste trabalho foi a Sr.ª Ivalda Alves da Silva, na década de 1980. Eram, conforme dados, mais de cem mulheres, com produções em tecelagem de grande nível e comercialização garantida. Um trabalho admirável, pela riqueza e originalidade. Nosso encontro serve de estímulo para continuarmos uma longa jornada de conscientização daquele momento, do valor cultural deste trabalho de origem portuguesa. Conheça, na Casa da Cultura do Milho, um pouco da História, através de objetos doados, e o trabalho das artesãs de Patos de Minas. As Marias! Marialda Coury Diretora do Memorial Romero Queiroz Pereira Memorial do Milho

171

Histórias do Cerrado


172

Histรณrias do Cerrado


173

Histรณrias do Cerrado


174

Histรณrias do Cerrado


175

Histรณrias do Cerrado


Cinema e teatro O cinema e o teatro caminham juntos na cidade desde que o coronel Arthur Tomaz de Magalhães, entusiasta do teatro, construiu, em 1910, com recursos próprios, o Teatro 14 de Julho, localizado entre as ruas Getúlio Vargas, José de Santana e Olegário Maciel. O espaço abrigou montagens de sucesso, mas fechou um ano mais tarde, dando lugar ao Cine Magalhães. Outros cinemas funcionaram na cidade, como o Olinta, o Glória, inaugurado na década de 1920, e o Cine Garza e o Riviera, que funcionaram durante a década de 1980. Alguns desses espaços receberam espetáculos de teatro e lotaram suas salas, testemunhando a formação de várias associações culturais, artistas independentes e grupos teatrais. Lembro-me de que, antes do Tapa (Teatro Amador Patense), meu pai já fazia algumas apresentações na década de 60. Muitos o consideram o precursor do Teatro em Patos. […]. Minha mãe e ele eram atores, juntamente com Elva Borges, Célida Bahia e outros. […] Além de participarmos dos espetáculos, nos reuníamos para discutir sobre conceitos e conhecimentos de técnicas teatrais. Vários espetáculos foram apresentados nessa época. Destaco “Testemunha de acusação”, “Falávamos de rosas”, “Os transviados” “Pigmaleoa” e “Embarque de Noé!”. Ainda na década de 70, o Tapa foi desmembrado, […] Nesse período, comecei a desenvolver um trabalho teatral com alunos do Colégio Marista e, quando a peça “Maria Minhoca” foi apresentada, com muito êxito, João Marcos Pacheco e Romero Nepomuceno, meu irmão, acreditando no potencial dos artistas, me convenceram a criar um grupo de estudos, que foi chamado inicialmente de Gretecolema (Grêmio Teatral do Colégio Marista). Esse grupo acabou se transformando em CET (Centro de Estudos Teatrais). […] Entre os espetáculos que deixaram lembranças, posso citar: “Édipo Rei” de Sófocles; “O milagre de Sullivan”, que foi apresentado no Cine Olinta, porque o cenário incrivelmente belo precisava de muito tempo para ser construído. Era constituído por uma casa de dois andares e um jardim onde ficava uma bomba d’água, e uma estação de trem de ferro aparecia no fundo. Cenário grandioso!

Páginas 174 a 177 - Grupo Akazu Patos de Minas-MG

Foto: Henrick Ovides

176

Histórias do Cerrado


177

Histรณrias do Cerrado


178

Histรณrias do Cerrado


Comentadíssimo. Atores incríveis! Nessa época, os espetáculos do CET eram apresentados na magnífica sala de cinema do Cine Riviera, que hoje, depois do incêndio que o destruiu por completo, foi transformada em estacionamento de carros. A grandiosidade do espetáculo impedia o grupo de se apresentar no cinema, porque ele não podia parar as sessões para a construção do cenário, a qual durou alguns dias. Nesse período, em plena ditadura militar, Patos de Minas, como em todo o Brasil, borbulhava em cultura, música, dança teatro, literatura. Tudo brotava como um protesto e uma resposta a uma época difícil, mas provocadora. […] Só em 2005 criei o novo grupo de teatro Tupam

(Teatro Universitário de Patos de Minas), que passou a atender os alunos do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). […] O grupo ganhou espaço nos palcos da cidade, com inúmeras peças teatrais tais como: “O auto da Barca do Inferno”, “A revolução dos ratos”, “Pé de poesia” […]. O Grupo Tupam tem recebido inúmeras homenagens e moções de aplauso pelos prêmios recebidos em festivais nacionais e pela organização do festival de teatro de Patos de Minas. Consuelo Nepomuceno Coordenadora do Núcleo de Arte e Cultura da Unipam e diretora do Grupo Tupam

Outros grupos continuam carregando a tradição do teatro patense. O Grupo Akazu é um deles. Formado por artistas independentes em 2012, surgiu como um teatro experimental e vem criando uma linguagem própria e aprimorando, com técnicas e pesquisas, a valorização da arte de encenar. Pelo teatro popular e de rua, suas peças destacam-se pela irreverência, singularidade, criatividade e pela musicalidade, provocando a conscientização do espectador pela arte.

Grupo Akazu

Patos de Minas-MG Foto: Henrick Ovides

179

Histórias do Cerrado


Arte e cultura Patos de Minas tem por vocação a arte e a cultura, representada por diversos grupos, associações e artistas independentes que fomentam a diversidade, exaltam a cultura popular e democratizam o acesso do público aos espaços e às discussões. Nesse caso, o Balaio de Arte e Cultura tem um papel fundamental na cena cultural patense. Em 2011, o projeto Balaio de Arte e Cultura teve seu tímido início como parte integrante da Festa Nacional do Milho. O incentivo para o evento partiu do Sindicato dos Produtores Rurais, de Regina Carvalho, escritora e psicóloga patense, além do professor Alexandre Pereira de Magalhães. Nesse ano, foi realizada uma pequena mostra de trabalhos locais e apresentação de movimentos culturais sob a curadoria de profissionais de cada área. No entanto, o acanhado evento conquistou o público da Festa Nacional do Milho e, a partir de 2013, ganhou uma estrutura melhor. Assim, pôde abrigar mais trabalhos e diversificar os temas tratados. Em 2014, o Balaio se tornou uma associação e, no ano seguinte, assumiu a própria realização pelas ruas da cidade, ocupando três praças da Av. Getúlio Vargas, o Teatro Municipal, a Galeria do Teatro e o Museu da Cidade. Nos anos seguintes, o Balaio de Arte e Cultura firmou-se como um dos mais importantes eventos da região, responsável por congregar a arte popular e a erudita, coletivizar a alta gastronomia, incentivar artistas de todo e qualquer segmento, além de democratizar o acesso à arte e à cultura pela gratuidade de todas as atrações. A grande galeria a céu aberto em Patos de Minas proporcionada pelo Balaio hoje ocupa seis dias de programação, atende um público de 50 mil pessoas e faz parte do calendário oficial da cidade, confirmando o poder do incentivo à cultura.

Grupo Corpo em Movimento - páginas 180 a 183

Patos de Minas-MG

Foto: Gustavo Silva e Rafael Pedro

180

Histórias do Cerrado


181

Histรณrias do Cerrado


182

Histรณrias do Cerrado


183

Histรณrias do Cerrado


184

Histรณrias do Cerrado


Lagoa Grande Patos de Minas-MG

185

Foto: Lizandro JĂşnior HistĂłrias do Cerrado


186

Histรณrias do Cerrado


Luar Patos de Minas-MG

187

Foto: Joaquim Amaral Histรณrias do Cerrado


188

Histรณrias do Cerrado


Aspersor Região do Alto Paranaíba-MG

189

Foto: Cristiano Soares de Oliveira Histórias do Cerrado


190

Histรณrias do Cerrado


Vocação agrícola Ocupar o território, fincar raízes e sobreviver desse espaço é a preocupação maior dos primeiros habitantes de qualquer novo arraial ou aglomeração incipiente. No Alto Paranaíba não foi diferente. Após a decadência da mineração, a agropecuária ganhou lugar e transformou as relações sociais, a economia e os modos de fazer da região, que logo virou um grande aglomerado de propriedades que produziam toda sorte de produtos. A vocação agrícola parecia certa e inarredável. O cerrado estava no seu limite até que, a partir da década de 1960, o projeto de modernidade e a política de ocupação de “áreas vazias” do território brasileiro adotados por Getúlio Vargas nos anos 1930 ganharam ainda mais força com a construção de Brasília e a expansão para o Oeste, no governo JK. Seguindo os mesmos princípios, os governos militares adotaram políticas de desenvolvimento econômico semelhantes, visando à abertura comercial e financeira ao exterior. A partir da década de 1960 e meados da seguinte, o Brasil mudou os rumos de sua política econômica. Em paralelo o alto preço da soja no mercado internacional obrigou a revisão da disponibilidade de linhas de crédito no País, promovendo também o aumento dos serviços ligados à infraestrutura, além da melhoria de todos os elementos envolvidos no processo de produção, de equipamentos a estocagem, passando pela assistência técnica fornecida ao produtor.Naquele momento, o cerrado, com extensão de 1.300.000 km², mostrava-se a alternativa mais viável para o projeto moderno que escolhia a expansão agrícola como estratégia não somente para aumentar a produtividade, mas também para o desenvolvimento de uma agricultura tecnológica. A escolha pelo cerrado foi categórica, considerando seu espaço físico, que permitia a mecanização da produção sem maiores interferências no solo e a possibilidade de fácil escoamento da produção, devido à malha rodoviária desenvolvida no contexto da construção de Brasília.

Plantio

Região do Alto Paranaíba-MG Foto: Shimada Agronegócios

191

Histórias do Cerrado


Para o cerrado, foram escolhidos projetos de grande impacto, visando a atender a Revolução Verde da década de 1970, que redefiniu a agricultura e a sociedade brasileira de um modo geral. O PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba) foi o primeiro projeto nesse formato e instituído em 1973, tendo a maior parte ocupada localizada no Município de Rio Paranaíba, com 60,8% do território, seguido de Campos Altos (23%), São Gotardo (10%) e Ibiá (6,2%). Sua implantação foi resultado dos esforços de quatro agentes: o Estado brasileiro, o governo de Minas Gerais, a Cooperativa Agrícola de Cotia – Cooperativa Central (CAAC - CC) e o governo do Japão. Os agricultores selecionados pelo projeto chegaram principalmente do Paraná, após a transferência da fronteira cafeeira, antes localizada no Estado de São Paulo. Entre estes, algumas famílias fincaram raízes no cerrado, podendo citar os Sekita, Shimada, Tsuge, Fukuda, Sasaki, Kiryu, Shiguemi, Sato e várias outras. Até hoje, é forte a presença de descendentes japoneses na região. Eles herdaram os primeiros lotes e redefiniram o uso do cerrado, servindo de exemplo para outros projetos de assentamento dirigidos com intenções de mercado. Outros programas de desenvolvimento do cerrado foram realizados, como o Polocentro e o Prodecer, este último garantindo ao Brasil incentivos relacionados a pesquisa e conhecimentos técnicos da produção agrícola. Os projetos suscitaram inúmeras discussões por parte de sindicatos, trabalhadores, uma parcela da Igreja Católica e até mesmo órgãos governamentais, que questionavam, além do alto custo dos projetos, a banalização da mão de obra, uma vez que a produção tecnológica e a ocupação de grandes extensões de terra obrigavam o pequeno produtor a procurar novas atividades de subsistência, geralmente migrando para centros urbanos. Várias famílias, migrantes ou não, estabeleceram-se e ampliaram seus territórios, desenvolvendo novas frentes de produção e mercado.

Cova para plantio

Região do Alto Paranaíba-MG Foto: Cristiano Soares de Oliveira

192

Histórias do Cerrado


193

Histรณrias do Cerrado


194

Histรณrias do Cerrado

Cova


a para plantio

É possível perceber a grande força do associativismo na região, desde os primeiros projetos, e que hoje conta com um número elevado de cooperativas e associações. Entre elas, podemos citar a Coopacer (Cooperativa de Agronegócio do Cerrado) e a Coopadap (Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba) em São Gotardo, a Cooxupé (Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé), com filial em Rio Paranaíba, a Carmocer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado da Região de Carmo do Paranaíba), a Coopatos, em Patos de Minas, além dos sindicatos rurais, em parceria com as filiais do Sicoob de toda a região. Os sindicatos e associações têm o objetivo de auxiliar os cooperados em todas as etapas de produção e desenvolver ações sociais, ambientais, encontros, palestras e feiras que movimentam milhões de reais e suscitam a possibilidade de novas parcerias no agronegócio. Em São Gotardo, a Fenacampo e a Fenacen (Festa Nacional da Cenoura) envolvem centenas de instituições, profissionais e empresas. Em Patos de Minas, a Festa Nacional do Milho enaltece uma das maiores culturas da cidade, enquanto Rio Paranaíba abriga a Festa do Fazendeiro, e Carmo do Paranaíba acolhe, desde 2017, a Festa do Café e, desde 2015, a Fenacarpec. As famílias que se estabeleceram transformaram a região em um dos maiores polos produtivos do País, aliando conhecimento, alta tecnologia e sustentabilidade, reverteram os números e as expectativas. Várias iniciativas estão sendo tomadas para minimizar os custos da produção, como o aproveitamento de água da chuva, mediante a construção de grandes piscinas no campo, e o uso de compostagens e defensivos biológicos na lavoura. A paisagem do cerrado encanta. A imensidão de terra que recebe o pôr do sol em todas as cores, a vegetação típica de árvores retorcidas e sua rica biodiversidade são apenas as primeiras impressões do observador desse que é o segundo maior bioma da América do Sul. O dito popular “cerrado só dado ou herdado”, há muito, deixou de fazer sentido por aqui.

Plantio

Região do Alto Paranaíba-MG Foto: Sebrae - Anna Carolina Pereira Ribeiro

195

Histórias do Cerrado


196

Histรณrias do Cerrado


Lavoura irrigada Região do Alto Paranaíba-MG

Foto: Sebrae - Anna Carolina Pereira Ribeiro 197 Histórias do Cerrado


Batata Região do Alto Paranaíba-MG

Foto: Sebrae - Anna Carolina Pereira Ribeiro 198 Histórias do Cerrado


Cenoura Região do Alto Paranaíba-MG

199

Foto: Cristiano Soares de Oliveira Histórias do Cerrado


Beterraba Região do Alto Paranaíba-MG

Foto: Sekita Agronegócios 200 Histórias do Cerrado


201

Histรณrias do Cerrado


Abacate Região do Alto Paranaíba-MG

Foto: Sebrae - Anna Carolina Pereira Ribeiro 202 Histórias do Cerrado


Repolho Região do Alto Paranaíba-MG

203

Foto: Sekita Agronegócios Histórias do Cerrado


204

Histรณrias do Cerrado


Alho Região do Alto Paranaíba-MG

205

Foto: Isadora Parreira Histórias do Cerrado


206

Histรณrias do Cerrado


Pôr do sol na lavoura Região do Alto Paranaíba-MG

Foto: Sebrae - Anna Carolina Pereira Ribeiro 207 Histórias do Cerrado


Coruja-buraqueira Região Alto Paranaíba-MG Foto: Davi Sato 208 Histórias do Cerrado


Agradecimentos A equipe do livro “Histórias do Cerrado” gentilmente agradece a todos os parceiros que contribuíram para que este projeto fosse concretizado. Ao nosso patrocinador, Grupo Amep e suas empresas coligadas, em

Aos colaboradores, pelos acervos e memórias compartilhadas, agradecemos a confiança em nossa equipe e a enorme contribuição para o sucesso de nosso trabalho:

especial a Arlindo de Melo Filho, pelo apoio e confiança, a Giovane Átila Silva,

Em São Gotardo, agradecemos à Sekita Agronegócios, especialmente

grande incentivador de nossos projetos e a Rafael Xavier por sua colaboração.

a Eduardo e Makoto Sekita, que nos receberam gentilmente, fornecendo

Aos parceiros do Poder Público - Prefeitura Municipal de São Gotardo:

importante material de pesquisa e imagens do seu acervo institucional.

ao prefeito Seiji Sekita, que nos recebeu prontamente, e à Secretaria Municipal

À Shimada Agronegócios, em particular, a Hugo Shimada, pela acolhida

de Cultura, em especial Marilene Teodoro, Luciana Lopes e Juliana Ladeira,

generosa na sua fazenda, contribuindo para a construção deste trabalho

pelo empenho e dedicação. Prefeitura Municipal de Rio Paranaíba: ao prefeito

nos repassando informações e belas fotos. Agradecemos também ao Grupo

Valdemir Silva e Secretaria Municipal de Cultura, Alemmar Oliveira, pelo

Tsuge, na pessoa de Paulo Tsuge, pela atenção para com a equipe. À diretoria

contato inicial, e a Rubens Otoni, que não mediu esforços em nos auxiliar

da Coopadap, na figura de Ricardo Muraoka, pela sua disponibilidade e

com as pesquisas no acervo municipal e fornecer demais informações locais.

informações relevantes; a Adenilce Rodrigues, da Regional Triângulo e Alto

Prefeitura Municipal de Carmo do Paranaíba: ao prefeito César Almeida Filho

Paranaíba do Sebrae; e a Jussara Vieira Oliveira, do Conselho da Região de

e Secretaria Municipal de Cultura, na figura de Neuma Batista, que nos ajudou

São Gotardo. A Jordano Souza, que nos inspirou com suas lindas poesias. A

prontamente. Prefeitura Municipal de Patos de Minas, Secretaria Municipal

Noé Galvão e Regina “da Guarda”, pela recepção na Guarda dos Ferreiros; à

de Cultura e Fábio Amaro, pelo suporte em nossos passos iniciais e, em

vereadora Denise Alves; e à SGTV, na pessoa de Hudson Borges, pelo apoio

especial, à equipe da Diretoria de Igualdade Racial, Memória e Patrimônio

na divulgação do projeto.

Cultural (Dimep), representados aqui por Geenes Alves, Lázara Rosa, Sheila

Em Rio Paranaíba, agradecemos a Jeremias Brasileiro, historiador e

Papiani e Sebastião Queiroz, pela gentileza em permitir nosso acesso aos

profundo conhecedor da cultura afro-brasileira, e a Carlos Raimundo da Cruz,

arquivos do Município, pelas ricas indicações e efetiva contribuição à nossa

por nos permitir passear pelas lembranças de Dona Maria Terta. Nosso muito

pesquisa.

obrigado a Rejane Nascentes e equipe da UFV, pelas informações enviadas;

Aos fotógrafos Anna Carolina Pereira Ribeiro, Alexandre Casttro,

a Raquel Santos Soares Menezes, da UFV, e ao Time Enactus, por meio de

Alexandre Henrique, Carminha Fernandes, Cristiano Soares de Oliveira,

seu presidente, Gustavo Henrique de Oliveira Silveira, por nos informar sobre

Davi Sato, Demetrius Braga, Dilmar Reis, Fábio Otoni, Gustavo Silva,Henrick

as incríveis Mulheres de Chaves. À poetisa Maria Antônia Maciel, a Paulo

Ovides,Iágo Alberto, Isadora Parreira, Joaquim Amaral, José Alves (Zé Guillé),

Celestino Barbosa e Sr. Jacy Celestino Barbosa, assim como a Gilberto

Laís Álvares Pacheco, Lizandro Júnior, Luciane Helena Rocha, Luiz Alfredo

Martins e Thaís Flávia, da Rádio Paranaíba FM, nossos agradecimentos mais

Alves, Luiz Carlos Alves, Maicon Silva, Marcelo Lopes, Marcus Vinícius

sinceros.

Pereira da Purificação Filho, Milton Santos, Rafael Pedro, Selma Cruz, Sérgio

Em Carmo do Paranaíba, agradecemos especialmente a Júlio César

Henrique S. Filho, Thamires Sousa Martins e Valder Lima pelo olhar precioso

Morais, do Sindicato dos Produtores Rurais, pela disponibilidade, simpatia e

impresso em cada imagem.

atenção com nossa equipe, confirmando o carinho pela história local. Nossos

209

Histórias do Cerrado


Corujas-buraqueiras Região Alto Paranaíba-MG Foto: Davi Sato 210 Histórias do Cerrado


agradecimentos a Pedro Humberto, Kelly e Manoel Veloso, da Fazenda

fundamental importância para divulgação deste projeto: Rejane Gomes, da

Santa Cecília e do Grupo Veloso Coffee, pela recepção, efetiva colaboração e

Folha Patense; Simone Marques, do Jornal da Prefeitura de Patos e a Farley

confiança em nosso trabalho. Aos irmãos Manoel Oliveira e o vereador Danilo

Rocha, do site Patos Hoje. A equipe agradece as indicações de Maíra Franco,

Oliveira, pelo apoio e disponibilidade. A Roberto Boaventura, Ernane Morais

as fotos e informações de Fulgêncio Bontempo, do Clube Bonsai, e a grande

e ao historiador e pesquisador Hélio Rezende, pelas contribuições sobre a

ajuda de Iasmin Araújo, da Agência Dom Quixote, assim como a Aguinaldo

história carmense. Muito obrigado ao artista plástico Fernando Castro, ao

das Pamonhas.

artesão Sílvio José de Almeida e ao luthier Divino Gabriel, pela incursão

Em Belo Horizonte, nossos agradecimentos à equipe do Arquivo

em seu atelier e oficinas. A Paula Benites e Cláudia Ramos, da Cooperativa

Público Mineiro (APM), por meio da prestativa colaboração e disponibilidade

Agropecuária de Carmo do Paranaíba (Carpec) e a Maria Perpétua dos

do superintendente Thiago Veloso, da diretora de Conservação, Flávia

Reis Andrade, da Emater, por todas as informações. A Eudes Braga, da

Andrade, e do fotógrafo Samuel Ayòbámi Akínrúlí.

Granja Leiteira - Fazenda Campo do Meio, por compartilhar conosco os

Agradecimentos à FAEMG, em nome de Ana Carolina Alves, por tanta

conhecimentos sobre o queijo artesanal do cerrado. Agradecemos também

ajuda; a Milton Flávio Nunes e Maria Edinice Soares Souza Rodrigues, da

a Geraldo José Brandão, da Fazenda Boa Esperança. Agradecemos em

Emater, pelas contribuições preciosas; a Nilton Oliveira, chefe do Setor

especial a Zé Guillé, pelo esforço, extrema disponibilidade e oferta de livre

de Divisão de Terras do Incra, pela cortesia em conceder-nos entrevista e

acesso a seu vasto acervo fotográfico e documental. À Mercearia Ferreira,

vasto material de pesquisa; ao professor Carlos Anselmo, que nos atendeu

que nos recebeu gentilmente, agradecemos a permissão de fotografá-la para

prontamente; a Rogério Fernandes, do Instituto Mineiro de Agropecuária

registro nesta edição.

(IMA), por toda a informação; a Fabrício Silvério Flauzino e Mirna Karla

Em Patos de Minas, nosso imenso muito obrigado a Marialda Coury, que

Amorim da Silva, pelo mapa da bacia do Alto Paranaíba; a Cacá Pádua, por

nos apresentou a “Capital do Milho” pelo Memorial do Milho, e as simpáticas

compartilhar conosco o resultado de suas descobertas gastronômicas por

e talentosas Marias Artesãs. Pela contribuição acerca da cultura patense,

Minas Gerais.

agradecemos a generosa acolhida de Regina Carvalho, Vinícius Damiani e toda a equipe do Balaio de Arte e Cultura, a enorme ajuda e disponibilidade do Rodrigo Caixeta e o Grupo Akazu e Consuelo Nepomuceno, por compartilhar as lembranças sobre o teatro patense; à Dona Élida, representante do

Por fim, agradecemos a recepção e o valioso depoimento de Alysson Paulinelli sobre os programas de assentamento dirigido ao Alto Paranaíba.

Equipe Plus Cultura

Moçambique Nossa Senhora das Graças; ao professor Peterson Gandolfi e José Ventura, pela preciosa contribuição sobre as influências da cultura afrobrasileira no Alto Paranaíba. À Unipam, agradecemos ao professor Marcos

Meu agradecimento especial a toda a equipe da Plus Cultura: Adriane

Rassi, coordenador do curso de História e Pedagogia; Altamir Fernandes,

Sequeira, Alessandro Faleiro Marques, Dila Puccini, Fábio Borges, Isadora

pelas reflexões acerca da educação municipal; e a João Otávio Coelho, pelo

Parreira, Mara Mares, Martha Toffolo, Nany Mello, Paulo Henrique, Tiago

amplo acesso aos documentos do Laboratório de Pesquisa e Ensino de História (LEPEH) e seus arquivos pessoais. Nosso muito obrigado se estende aos membros da Orquestra São Gonçalo de Música Sertaneja. Agradecemos também a Leni Sousa, da Emater Regional, e à Terrena, nas figuras de

Carmo; por todo o esforço a este projeto, tornando possível a sua realização. Destaco a grande dedicação de todos os integrantes que, desde o início, envolveram-se intensamente, abraçando este projeto e dando-lhe um caráter coletivo de apoio mútuo. A todos o meu muito obrigado!

Cláudio e Marco Antônio Nasser. Aos meios de comunicação que foram de

Luiz Ricardo Silva 211

Histórias do Cerrado


Corujas-buraqueiras Região Alto Paranaíba-MG Foto: Davi Sato 212 Histórias do Cerrado


Fontes Acervo de imagens da Prefeitura Municipal de Carmo do Paranaíba. Acervo de imagens da Prefeitura Municipal de Patos de Minas.

Fernandes, Nilson André. (2012). A História da Diocese de Patos de Minas: antecedentes históricos, preparação, criação e primeiro episcopado (18661968). Patos de Minas: edição do autor.

Acervo de imagens da Prefeitura Municipal de Rio Paranaíba. Acervo de imagens da Prefeitura Municipal de São Gotardo.

Ferreira, José Gonçalves. (1976). História de São Gotardo. São Gotardo: Prefeitura Municipal de São Gotardo.

Acervo de imagens e documentos Zé Guillé, Carmo do Paranaíba. Mello, Oliveira. (1978). Patos de Minas, minha cidade. Patos de Minas: Academia Brasil. (1964). Enciclopédia dos municípios brasileiros: 1957-1964. (36 Vol.). Rio

Patense de Letras.

de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, Conselho Nacional de Estatística. Pedra, Bruno Victor. (2015). São Gotardo: Geografia e História. Belo Horizonte: Brasileiro, Jeremias. (2014). Memórias do Reinado do Rosário: Rio Paranaíba-

Territorium.

MG. Rio Paranaíba: Aline. Queiroz, Sebastião Cordeiro. (2015). Patrimônio de Santo Antônio: do sítio ao Brasileiro, Jeremias. (2017). Rei Ambrósio de Minas Gerais e o ofuscamento

templo. Patos de Minas: Grafipress.

da história e da memória de um líder quilombola. (Vol. 9). Uberlândia: Temporalidades.

Resende, Maria Efigênia Lage de & Vilata, Luiz Carlos. (2007). História de Minas Gerais: as Minas setecentistas. (Vol. 1-2). Belo Horizonte: Autêntica, Companhia

Carmo do Paranaíba (Município). (2008). Inventários de proteção do Patrimônio

do Tempo.

Cultural de Carmo do Paranaíba-MG.Carmo do Paranaíba: Prefeitura Municipal. Rezende, Ana Maria Nogueira. (2017). Fluxos globais no século XVIII: a produção do Coelho, Leni Rodrigues. (2007). Educação de jovens e adultos: as ações do Mobral

modus vivendi e operandi no entorno da Estrada Real Picada de Goiás. (Dissertação

no Município de Patos de Minas-MG (1970/1980). (Dissertação de Mestrado),

de Mestrado), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte.

Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia. Rezende, Hilton Hélio. (1992). Cem anos de Carmo do Arraial Novo. Uberlândia: Entrevistas com Altamir Fernandes, Alysson Paulinelli, Carlos Anselmo, Divino

Noroeste.

Gabriel, Equipe Balaio Arte e Cultura, Equipe Carpec, Equipe Sebrae, Hélio Resende, Hugo Shimada, João Otávio Coelho, Júlio Moraes, Marcos Rassi,

Santos, Mauro Augusto dos, Barbieri, Alisson Flávio, Guedes, Gilvan Ramalho,

Marialda Coury, Makoto Sekita, Mulheres de Chaves, Nilton Oliveira.

Machado, Carla Jorge & Carvalho, José Alberto Magno de. (2012). Dinâmica demográfica e uso da terra no cerrado brasileiro: reflexões a partir da experiência

Fernandes, Altamir. (2017). Colégio Estadual de Patos de Minas: memórias de

do Padap. Revista de Economia e Sociologia Rural, 50(2), 319-331. Recuperado a

sua criação. Patos de Minas: Fepam.

partir de https://dx.doi.org/10.1590/S0103-20032012000200007

213

Histórias do Cerrado


Gaviões carcará Região Alto Paranaíba-MG Foto: Davi Sato 214 Histórias do Cerrado


Notas Santos, Mauro Augusto dos, Barbieri, Alisson Flávio, Machado, Carla Jorge &

1

Estruturas metálicas utilizadas para irrigação da lavoura.

2

Organização internacional que fornece plataforma para universitários criarem

Carvalho, José Alberto Magno. (2014, janeiro-abril). Minas Gerais e o marco inicial da ocupação do Cerrado Brasileiro: o papel do Estado. Revista do Desenvolvimento Regional, 19(1), 261-275. Recuperado a partir de http://dx.doi.org/10.17058/redes.

projetos de desenvolvimento comunitário.

v19i1.2901 3

Sasaki, Luiz Isamu. (2008). Portal do cerrado. Belo Horizonte: O Lutador. Shiki, Shigeo, Silva, José Graziano da, Ortega, Antônio César. (Org.). (1997). Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do cerrado brasileiro. Uberlândia: UFU.

Segundo o Dicionário Michaelis, é uma rocha dura, rica em ferro, constituída de

fragmentos de itabirito, hematita e muitos outros materiais ferruginosos. 4

Expressão utilizada para fazer referência a produtos com características

singulares de uma determinada área. Termo sem correspondente exato em outras línguas, comumente utilizado para definição do solo e topografia de

Silva, Rosa Maria Ferreira da. (2015). A República dos Patos ou a construção da

regiões vitivinícolas, podendo ser empregado nos processos de Denominação de

cidade republicana no sertão das Geraes: representação, memórias e conflitos.

Origem dedicados ao café.

Cidade de Patos, 1889-1933. (Tese de Doutorado), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia.

5

Silva, 2015. p.118.

Vargas, José Resende. (1995). Rio Paranaíba: história e estórias da terra de São

6

Silva, 2015. p.174.

7

Fundação Educacional de Patos de Minas.

Francisco das Chagas do Campo Grande. Uberlândia: Impresso Gráf. Ed. Vargas, José Resende. (2008). Rio Paranaíba: 250 anos de história. Uberlândia: Zardo. Vargas, José Resende. (2017). Nas trilhas da história.Uberlândia: Regência e Arte.

215

Histórias do Cerrado


Palmeiral Região Alto Paranaíba-MG Foto: Dilmar Reis 216 Histórias do Cerrado


Quem somos LUIZ RICARDO SILVA

ISADORA PARREIRA

Idealização, edição e organização

Pesquisas e textos

Empresário e produtor cultural, é sóciodiretor da PlusCultura, braço cultural da PlusGrupo. É voluntário da ONG socioambiental Inot (Instituto de Observação da Terra), atuando como diretor-executivo. Com estreita ligação com a arte e cultura, está sempre envolvido e apoiando projetos nessa área.

Historiadora, pós-graduada em Gestão Cultural e fotógrafa amadora. Isadora é também escritora e publicou, em 2016, a biografia “Arlindo de Mello” pela Plus Cultura. Tem experiência em redação de projetos culturais e pesquisas históricas.

“Coordenar esta equipe, que sempre se mostrou coesa e alinhada com o objetivo, foi motivo de muito orgulho para mim. Desenvolver um projeto como este potencializa ainda mais a minha paixão por nosso povo e sua cultura, que, convivendo em harmonia com esta exuberante natureza, fazem de Minas Gerais, o melhor lugar para se viver.”

MARTHA TOFFOLO

“Sou apaixonada por Minas Gerais, e é uma grande honra poder contribuir para a valorização da nossa cultura. Escrever estas linhas foi emocionante e muito gratificante, agradeço a equipe e aos colaboradores que fizeram esta pesquisa possível. Ao leitor, desejo boa viagem através destas páginas! ”

ADRIANE SEQUEIRA

Coordenadora de produção

Editoração eletrônica

Gestora cultural, atuante nas áreas de gestão, produção, marketing e comunicação de projetos culturais, coordenação de eventos sociais e culturais e pesquisa em artes plásticas para catálogo museológico de obras de arte.

Publicitária, designer, vivência ampla em produção gráfica, criação de projetos gráficos, diagramação, tratamento de imagens, assessoria de equipe editorial em produção e fechamento de periódicos. Adriane é formada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda. É diretora de arte da ASR Design, empresa situada em Belo Horizonte.

“Nossas ‘Minas’ são muitas, e pesquisar a sua diversidade nos torna ainda mais orgulhosos e apaixonados pela nossa cultura. É uma imensa satisfação conhecer lugares e pessoas incríveis e explorar as maravilhas com que a natureza nos privilegiou. ”

“Orçamento, acompanhamento gráfico, aprovação em máquina e supervisão de qualidade e prazo fazem parte do meu dia a dia. Mais uma etapa conquistada, sendo grata pela oportunidade de fazer parte de um projeto tão rico em cultura local.”

217

Histórias do Cerrado


218

Histรณrias do Cerrado


Noturno Região Alto Paranaíba-MG

Foto: Alexandre Henrique Edição artística: Adriane Sequeira e Luiz Ricardo Silva

219

Histórias do Cerrado


Patrocínio

Execução

Edição

Realização




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.