Anais do XIII Ciclo de Conferências Históricas da FURG

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ANAIS ELETRÔNICOS DO XIII CICLO DE CONFERÊNCIAS HISTÓRICAS - FURG

a situação, já de si desesperadora.7 No sul do Brasil, o medo de que uma epidemia de cólera eclodisse, fazia parte do cotidiano dos moradores do Desterro (atual Florianópolis). Conforme o pesquisador Oswaldo Cabral8 quando, a epidemia chegou em 1855, às apreensões tornaram-se reais, porque, todas as medidas para deter a marcha da doença foram inócuas, todas as providências para combatêla, ineficazes. Cabral ressalta que em julho desse ano, a epidemia desceu do nordeste para o Rio de Janeiro e o alarme foi grande, pois as notícias a respeito do número de vítimas que ele fazia eram suficientes para criar o ambiente de apreensões que criou. Na forma do velho costume, só lembrado em tais momentos, a Câmara tratou de mandar limpar os quintais e riachos, caiar as casas, examinar os gêneros alimentícios para que fossem inutilizados os corruptos e danosos, a Saúde Pública foi entregue aos cuidados do dr. Hermógenes Miranda Ferreira Souto. Também cuidou a Municipalidade de localizar o despejo das matérias fecais, nas quatro pontes existentes sobre as marinhas, recolher o lixo das casas duas vezes por semana, criar lazaretos, remover o Hospital Militar do centro da cidade, dividi-la em duas zonas e deixar as fontes e mananciais de água potável em melhores condições de asseio. Infelizmente deixava-se escancarada a porta à entrada do mal, com o insolúvel problema do destino a ser dado às matérias fecais, pois outro não se conhecia além da iniciativa de jogá-las à praia – e, com o da água potável, nas condições em que era feito o suprimento da população, a situação era ótima para o desenvolvimento do mal. Em outubro a situação do Município foi declarada assustadora, pela Câmara, querendo significar de alarme, verdadeiro estado de sítio, tendo solicitado ela que os navios, vindos do norte, ficassem sujeitos a quarentena. O Governo convocou os médicos para uma reunião no Palácio e a quarentena foi decretada, devendo os navios fundear nos Ratones, durante três dias, com bandeira amarela içada, caso tivessem doentes a bordo. Os enfermos, seria desembarcados nos ditos Ratones, em isolamento ali preparado, suprido pelo Governo de gêneros e roupas. Estava na hora – porque, justamente no dia seguinte, 16 de outubro, o cólera chegou. Com o sinal de ‘peste a bordo’, o vapor Imperatriz deitou ferro nos Ratones. 7  VIANNA, op. Cit., p. 154. 8  CABRAL, Oswaldo. Nossa senhora do Desterro –notícia II. Florianópolis: UFSC, 1972.

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RIO GRANDE, 25 A 27 DE AGOSTO DE 2010


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