20.ª edição da revista digital da Plural&Singular

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ALARGADA

Outro ex-combatente das Forças Armadas na Guerra do Ultramar, em Moçambique, Joaquim Jesus Batista de 74 anos, tem surdez total no ouvido esquerdo e perfurações pulmonares que o impedem de fazer esforços. Aos 20 anos, por falta de aproveitamento escolar, foi obrigado a cumprir o serviço militar. Hoje é casado, tem uma filha, netos e faz parte da presidência da ADFA. O hospital mais próximo situava-se em plena zona de guerra e a vontade de Joaquim Batista era de ficar na chamada “zona de descanso” onde os militares podiam repousar. A falta de acompanhamento médico e a obrigação de regressar ao combate, não permitiram que o sangramento do ouvido fosse solucionado. A consequência, foi começar a sangrar também pela boca. Passadas semanas sem melhorias, o militar foi enviado para o Hospital de Nampula, a 600 quilómetros de distância. Em 1968, Joaquim Batista regressou a Portugal, numa altura em que a população portuguesa dividia-se entre os que tinham e os que não tinham familiares na guerra. Da primeira metade, provinha todo o apoio necessário, enquanto que da segunda metade lhe eram dirigidos os olhares de desagrado, pois tratava-se de uma pessoa que, à partida, não teria mais utilidade pública. A deficiência de Joaquim Batista não é visível, mas basta trocar algumas impressões com ele, para a perceber. O tom de voz passa a ser mais elevado e o cansaço ao falar é claro, resultado dos problemas respiratórios que sofre. Mas quando o tema é envelhecer com a deficiência,

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Joaquim só lamenta não poder correr e fazer atividades que envolvam esforços. Adélio Simões é um ex-combatente das Forças Armadas que permaneceu na guerra apenas cinco meses, onde foi atingido na cara por um explosivo e perdeu a visão. Mais tarde, conseguiu trabalho numa fábrica de torneiras e autoclismos em Leça da Palmeira, freguesia do concelho de Matosinhos, onde trabalhou cerca de 30 anos. Adélio Simões tem 76 anos, é casado, tem três filhos e assegura que lutou por uma vida estável e comum. Sem qualquer tipo de ressentimento afirma que é “um realizado na vida”. Adélio Simões não se sente velho, e até uma certa idade nem pensava na morte. No entanto, está mentalizado que é algo que passa por todos. “Seja rico, seja pobre, ninguém consegue superar a morte”. E, relativamente ao seu acidente, tenta não se focar nos “maus bocados” que passou. Abel Fortuna é o presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Nesta instituição trava quase uma luta pessoal pelos direitos de todos os homens que combateram em prol da Nação. A estes homens pretende dar-lhes todos os direitos que eles, e o próprio Fortuna, merecem. Foi destacado para a guerra mais difícil de todas: a Guerra na Guiné. Deixou os estudos, a profissão de contabilista e a ambição de concluir uma licenciatura em economia.


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