Dossiê Bedeteca de Lisboa 2000-2009

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2009 DOSSIÊ 241|259 Mas passemos ao que interessa... A minha pesquisa: 1) confirmou a minha impressão; 2) revelou-me dados novos; 3) desmentiu-me em parte, como não podia deixar de ser... A palavra “crítica” tem as costas muito largas, como sabemos... Para apelidar um texto de “crítica” e o seu autor de “crítico” vale quase tudo... Um texto crítico pode ser jornalístico (de carácter informativo) e é normal que, num jornal, essa dimensão surja com frequência (li este ano algumas boas reportagens, sobretudo da autoria de Carlos Pessoa). Mas quando o crítico reflecte sobre um acontecimento ou sobre uma obra espera-se que o faça de forma informada e fundamentada. Afirmações "fanáticas" (no sentido de "proferidas por um fã") são, regra geral, acríticas. Um crítico fã ou um fã crítico fazem parte da acrisia da crítica... Posto isto eu diria que há muito pouca crítica de banda desenhada a sério nos jornais portugueses. A título de exemplo comparemos dois casos: 1) José Vítor Malheiros, a propósito de “Dilbert” de Scott Adams (Público, 31 de Julho): “Declaração de interesses: sou um fã. [...] Há quem ache que Dilbert é uma poderosa arma anticapitalista e um exemplo de activismo anti-corporate, mas Marx não gostaria do Dilbert. A verdade é que Dilbert é uma insider joke e não ataca mortalmente o coração pérfido do sistema, apenas lhe faz cócegas.”; 2) Pedro Cleto, a propósito do ano de 1934 nas comic strips norte-americanas (Jornal de Notícias, 12 de Setembro): “Com estes heróis – invencíveis, invulneráveis, corajosos, audazes, musculados e/ou inteligentes, capazes de enfrentar e vencer os piores inimigos e os mais inimagináveis perigos, apenas para conseguir a vitória do bem, restaurar a ordem e conquistar/libertar as suas belas (e quase sempre eternas…) noivas, – os norte-americanos e, na sua peugada, progressivamente, muitos outros, vibravam dia-a-dia com as suas façanhas, sofriam com os seus revezes, descobriam (e sonhavam com) universos exóticos e deslumbrantes, reencontravam, em suma, razões para esquecer a realidade diária, para sonhar, acreditar, ter esperança. [Etc... etc...]” É curioso que Vítor Malheiros, um verdadeiro crítico (demonstra-o ao não se deixar enganar pelas aparências), se declare “fã” enquanto um “fã” se faz


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