Dossiê Bedeteca de Lisboa 2000-2009

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2008 DOSSIÊ 217|259 que hoje formam o complexo arquipélago da BD, algo que nem sempre acontece. Não posso, por isso, deixar de observar que algumas das escolhas daquele que é nosso maior festival – falo da Amadora que não deixa de ser o espelho onde se revê o estado da BD em Portugal – continua a reger-se por critérios iguais ao de duas décadas, para mais com a crise há muito instalada no sector. Importa contudo sublinhar o papel aglutinador que o FIBDA tem tido– e eco presente no burburinho que se instala, meses antes da sua realização, nos criadores, jovens e menos jovens, ou no papel importantíssimo, no caso, do CNBDI, junto das escolas da região. Como tema do FIBDA de 2008: “a ficção científica e tecnologia”. Foi essa a razão pela qual se metamorfoseou o espaço do Fórum Luís de Camões, na Brandoa, numa cápsula futurista de uma nave. Foi aí, à entrada, num espaço do “Astroporto”, que se acedeu à exposição temática. Dividida em cinco núcleos

personagens,

argumentistas,

desenhadores,

publicações

e

concursos do festival – nela faltaram critérios que valorizassem as especificidades do género; isto como se houvesse somente um determinado tipo de ficção científica. Para complicar mais, inserido no seio desta encontrava-se outra sub-exposição, se assim poderemos chamar, dedicada à “Metal Hurlant”. Meia dúzia de originais de autores como Moebius e Philip Druillet e outros mas que nada diziam a quem quisesse conhecer, de facto, o legado da publicação francesa. Foi uma escolha de peso e figuras importantes de onde sobressaiu a ideia do coleccionador. Destaque, não é demais sublinhar, para os originais de Alex Raymond e o seu “Flash Gordon”, para Breccia, Solano Lopez e Oswal Viola (estes três em colaboração com o grande e malogrado German Oesterheld). Em franco contraste com este tipo de obras, voltou-se à infantilização com o inevitável “Valerian” e no trabalho de autores como Kevin O’Neill e Pat Mills. E depois o termo FC. Se na literatura tanto se pode aplicar à costumeira “heroic-fantasy” e aos seus exotismos futuristas de pacotilha, como às distopias de Philip K. Dick ou Ballard, o que dizer da BD que se cinge quase exclusivamente à primeira? É por isso que “FC” em BD corresponde quase sempre a clichés e banalidades de base: naves, fantásticas arquitecturas ou bestiários a surgirem a surgirem quando menos se espera (de que Valerian


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