PLANEAR - Revista Nº2

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O PROJETO MONTIS por Henrique Pereira dos Santos

A ideia de base não é original, sendo até vulgar nos países de tradição anglo-saxónica. Em Portugal, não sendo comum, tem um bom exemplo na Reserva da Faia Brava (da ATN, Associação Transumância e Natureza), a primeira área protegida privada em Portugal. Daí copiámos este modelo de gestão, simples e eficaz: a custódia directa do território aliada a um empenho forte no trabalho de campo permitindo uma gestão com resultados importantes para a conservação, ao mesmo tempo que cria riqueza e emprego em zonas deprimidas. A vontade dos sócios, a capacidade técnica de quem trabalha connosco e o trabalho em rede, permite-nos chegar a pessoas e mercados que possam valorizar a biodiversidade, introduzindo, em territórios hoje abandonados, mecanismos de gestão da paisagem. Mesmo quando, em algumas áreas, conscientemente, a não gestão seja adoptada, por ser o modelo que melhor serve os objectivos estabelecidos para a paisagem em causa. E porque não há gestão sem recursos, a quota anual é de 20 euros. Mas o melhor é mesmo vir ter connosco, conhecer o que vamos fazendo e as paisagens da nossa área prioritária de actuação, por exemplo, no dia 9 de Novembro, para passear, apanhar uns cogumelos e prová-los ao almoço e ao lanche, com a garantia de connosco vai quem os conhece como a palma da mão.

A Montis é uma associação que pretende produzir biodiversidade através de uma gestão sustentável do património natural, participada, transparente e aberta a todos. No fundo, o que queremos é criar valor com a biodiversidade, usá-la também como um instrumento de gestão da paisagem, não apenas como um seu produto, porque não acreditamos numa conservação da natureza que não se dirija às pessoas e não se relacione com a economia que gere as paisagens. Temos como objectivo central gerir com objectivos de conservação da natureza, garantindo o desenvolvimento dos processos naturais, promovendo a conservação de espécies autóctones, gerindo inteligentemente os fogos florestais e outros riscos naturais e aumentando o valor de mercado da biodiversidade. Queremos adquirir terrenos, prioritariamente na envolvente do rio Vouga, mas sem descurar oportunidades noutras localizações. Acreditamos que a capacidade de gerir é um instrumento fundamental para um uso inteligente dos territórios marginais, que sofrem neste momento um profundo processo de abandono e desvalorização social. Os sócios da Montis podem a ter a garantia de que as suas quotas serão aplicadas na compra e gestão de terrenos, que queremos valorizar pela biodiversidade, mas fugindo a uma lógica de rentabilização imediata. A Montis está ainda num processo de instalação e queremos: 1) lançar uma campanha de crowdfunding (financiamento pela multidão), para comprar cerca de 5,5 hectares, o que faremos ainda durante 2014; 2) Articular intervenções com câmaras municipais que tenham uma sólida intervenção de conservação, estando já a colaborar com um dos municípios da região de Lafões, para a instalação do primeiro parque natural local de Portugal; 3) Fazer acordos de gestão com empresas que tenham terrenos, o que iremos concretizar, pelo menos num caso, ainda durante 2014, de forma a garantir uma gestão com objectivos de conservação. Estabelecida uma primeira base que permita ao projecto ter visibilidade e sustentabilidade, os passos seguintes terão como objectivo a criação de valor a partir dessa base e replicar, progressivamente, o modelo noutras áreas de gestão com interesse para a conservação da biodiversidade.

Fotografia: Serra da Arada, por João Cosme

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