ESCAVAR O FUTURO

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timos. E o segundo é que o entulho não precisa ser removido, que ele pode ficar ali, porque com o tempo ele vai se acomodando e servindo àquele lugar. Então o questionamento é: por que na parte de baixo ele foi retirado? Se é bom ficar, então porque não ficou o entulho todo? Então, se não justificou ficar lá, também não justifica ficar aqui! Margarete Leta: Deixa eu falar uma coisa sobre esse segundo argumento, e porque isso é irônico. O professor Edésio Teixeira de Carvalho, geólogo, fez parte da equipe do PGE que estudou a Serra. Tanto é que a gente observa alguns de seus princípios aplicados – muito diferente da forma como ele propõe. O professor Edésio fala que entulho da construção civil é alguma coisa muito útil nas nossas cidades atuais porque ele é poroso, tem capacidade de reter a água, porque é uma reprodução de materiais da natureza. Tem areia, brita, o próprio cimento. Ele pode ser usado com uma função muito benéfica de recompor o reservatório natural de água, recompondo, por exemplo, voçorocas, aqueles buracos em que a terra já foi carregada e em que a água da chuva não vai ter onde ficar. O entulho pode ter essa função. Inclusive já tive alunos com propostas de montar gabiõezinhos com entulhos, pensando nisso. Pensando primeiro no impacto de tirar esse entulho daqui – imagina, tirar uma peça, como a Sara Lambranho fez, foi aquela produção toda: para a rua, para todo mundo, põe faixa... – imagina tirar tudo? Seria um transtorno na vida das pessoas ter que tirar esse entulho todo. Depois, circular com ele


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