Mímesis e Ficção

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Bianca Campello

Não foi preciso que transcorressem muitos dias da nova década para que exemplos manifestos desse controle fossem noticiados e debatidos. Em 06 de janeiro de 2011, a versão eletrônica do The New York Times discutia, em uma resenha e em seu editorial, a interferência de um professor universitário em dois livros de Mark Twain: As Aventuras de Huckleberry Finn e As aventuras de Tom Sawyer. De acordo com Michiko Kakutani, autora da resenha, a nova edição dos clássicos americanos sofrera uma “higienização” ― ou “sanitarização”, como preferiram mencionar os jornalistas brasileiros. Alan Gribben, professor de literatura da Universidade Auburn, Montgomery, estado do Alabama, substituiu todas as ocorrências da expressão nigger, de conotação pejorativa, por slave, alterando o léxico programado para os romances. Segundo a resenha do The New York Times, a motivação de Gribben para a troca das palavras decorreu de sua apreensão de o vocabulário das narrativas propagar sua retirada de listas de leitura de escolas e universidades. Para o interventor ― ou, no termo usado por Costa Lima no título de um de seus mais importantes estudos, para o censor ― a nova edição dos romances está apta a ser recebida por professores que desejem poupar o leitor “de uma calúnia racial que parece nunca perder sua acidez”1 (KAKUTANI, 2011).

1. No original, “from a racial slur that never seems to lose its vitriol”.

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