Mímesis e Ficção

Page 359

Cláudio Clécio Vidal Eufrausino

sua existência ferida pela imprevisibilidade. Daí, decorre que são personagens não de reiteração, mas de ação. E para uma personagem, agir significa, consumir-se (ECO, 2008, p. 53). O mito, então, tende a ser inconsumível. A identidade secreta age como um marcador de fronteira, regulando a inserção do super-herói nos domínios da ação e da reiteração, ou, em outras palavras, nos domínios do mito e do romance. Assim, nas narrativas de super-herói, a identidade secreta talvez seja o principal agente dosador da mitificabilidade, isto é, da movimentação da narrativa entre o terreno do mito e o terreno do romance. Mas, esta marcação de fronteira é problemática e contraditória. E, por esta razão, instaura uma situação paradoxal, a qual Eco (2008) definirá como paradoxo narrativo. Este, por sua vez, pode ser relacionado ao movimento de aproximação entre mímesis e physis e ao movimento de afastamento, isto é, a mímesis de antiphysis. Como acentua Costa Lima (2003), associa-se à noção de physis o efeito-reflexo, ou a ideia de que as representações podem funcionar como uma duplicação da natureza. Tal duplicação pressupõe que a natureza é harmônica, ou seja, estável e previsível. Portanto, seria apreensível pelas representações de forma direta como o reflexo de algo em um espelho plano e perfeitamente polido. A harmonia da physis pressupõe que a experiência do leitor pode ser controlada.

359


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.