Educacao Criativa: multiplicando experiências de aprendizagem

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ANA CLÁUDIA MUNARI DOMINGOS

sua moldura é instituída por autoridades na relação entre a obra, o artista, sua recepção e o decurso do tempo; o leitor só pode decidir, sozinho, o que é arte quando considerar apenas sua relação com o texto, e não com o sistema. Se o leitor crê que o videoclipe da Katy Perry é arte, deve defendê-lo diante do sistema, buscando a autenticidade a partir da autoridade. Quando olhamos para uma figueira e dizemos “é uma figueira”, é porque cientistas do campo da botânica – autoridades – estudaram, analisaram e catalogaram suas 755 espécies, diferenciando-as de outras, inclusive por comparação. Para nós, leigos, uma figueira é uma figueira, quando sabemos distingui-las de um coqueiro, mas estamos longe de entender suas centenas de espécies. Por que com a arte, coisa para poucos – diferentemente da cultura, que é de todos para todos – vai ser mais fácil? Não, é muito mais difícil. Um mictório de cabeça para baixo só é arte a partir de algumas molduras: seu produtor, um artista; o contexto, a vanguarda do ready made; o espaço, uma galeria de arte; e a crítica – os especialistas –, que avaliou todos esses pontos, aprovando-os como representação, e canonizou-a como forma artística no decurso do tempo. Hoje, quando fotografamos um mictório e postamos na Internet com a legenda “isto não é um mictório”, estamos na esfera da cultura – a não ser que esse texto passe novamente por todas essas instâncias. Como é impossível, no universo da cultura, que tenhamos autoridades referendando tudo aquilo que é produzido (e ainda de forma autônoma, livre dos mecenatos, mas essa é outra história), costumamos tomar como arte aquilo que talvez não o seja em seu sentido restrito, mas que, a partir da instância da recepção – o es-

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