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Texto: José Roberto Torero
Elano está de volta. De volta ao seu país, de volta ao clube que o projetou, de volta à sua torcida, de volta à Vila Belmiro. De certa forma, é como se ele estivesse voltando para aquela sua primeira casa, em Iracemápolis. Era uma construção simples, com uma laranjeira no quintal e com chão vermelhão, do tipo que deixa a sola do pé manchada. Seus pais eram cortadores de cana. Às vezes o pai também dirigia o ônibus que levava os trabalhadores para o campo. Então, naquelas manhãs frias, Elano ia deitado ao lado do motor para se aquecer. O menino levava uma bolinha e ficava brincando sozinho. Foi assim, driblando pés de cana, que ele começou no futebol. Logo passou a jogar com os meninos na rua e viu que tinha uma habilidade diferente. O pai também percebeu. Tanto que, certa vez, quando descarregavam laranjas, um amigo deixou cair uma caixa perto do pé de Elano. O pai ralhou com o amigo: “Cuidado com esses pés. Eles são o meu futuro!” Seu Geraldo estava certo. Logo Elano participaria de uma peneira do Guarani com mais de 600 garotos. “Volte amanhã”, disse o técnico. No dia seguinte, escutou de novo o “volte amanhã”. E no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte. Os buracos da peneira iam ficando cada vez mais estreitos, mas ele passou por todos eles e entrou nas categorias
O menino levava uma bolinha e ficava brincando sozinho. Foi assim, driblando pés de cana, que ele começou no futebol
de base do Bugre. Elano começou a pegar oito ônibus todos os dias para fazer o trajeto Iracemápolis-Campinas-Iracemápolis. Saia de casa às 5h30 e voltava às 23h00. Elano lembra que, de madrugada, quando estava saindo de casa, sua mãe se despedia dele acenando da janela e cantando uma música de Zezé di Camargo e Luciano que dizia assim:
grupo. “Tinha um garoto que ganhava 30 vezes mais que eu”. Mas esse garoto não vingou como jogador. Elano Blumer esteve na última Copa do Mundo. Desde os tempos de Guarani, ele já era um coadjuvante. Mas não um coadjuvante apagado. Era um coadjuvante especial, um secundário principal, palavras que não costumam vir juntas, mas que têm certa lógica quando o assunto é Elano. Nesta fase em Campinas, de vez em quando ele e os outros garotos cometiam um pecado: roubavam o dinheiro deixado como esmola para Nossa Senhora. A causa era nobre: inteirar o preço de uma pizza, que era cortada em muitos pedaços entre os garotos. “Ô santinha, depois eu devolvo”, prometia Elano. E devolvia. Nos fins de semana, levava para Iracemápolis uma dúzia de amigos, que geralmente moravam muito longe para voltarem para suas casas. Os pais de Elano até construíram um puxadinho e o encheram de colchões. “De manhã tinha que tomar cuidado para não pisar em ninguém”.
( ) “No dia em que eu saí de casa minha mãe me disse: Filho, vem cá! Passou a mão em meus cabelos, olhou em meus olhos, começou falar: Por onde você for eu sigo com meu pensamento sempre onde estiver Em minhas orações eu vou pedir a Deus que ilumine os passos seus.”
Av. Imperatriz Dona Teresa Cristina, 11 Algum tempo depois, ele foi morar em Campinas com outros 52 garotos. Sua ajuda de custo era de oitenta reais por mês. Não era a estrela do