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xxii os tropeiros — um episódio sangrento

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emexendo papéis velhos, encontrei a narração de fato ocorrido há mais de 60 anos e que vai reproduzido, na forma, levemente idealizado, como está no original. Conquanto não tenha relação direta com o assunto destas notas, serve a narração para mostrar a psicologia do nosso povo, num caso impressionante que agitou a vida da S. Roque antiga. *** Naquela manhã, era enorme o reboliço na casa da fazenda. Ia sair a tropa e, nessa ocasião, como acontecia no dia da chegada, o alvoroço invadia a tudo e a todos. As bestas, num total de cinco lotes, já se achavam na mangueira, amarradas pelos cabrestos uma a uma, nas estacas que se enfileiravam em linhas paralelas. Estavam acabando a ração, e o ruído daquelas cinquenta e tantas alimárias a triturar simultaneamente o milho nos embornais de couro era semelhante ao marulho de águas encachoeiradas. Daí a pouco, colocadas as cangalhas, bem ajeitadas as retrancas, começava a fama pesada de carregar a tropa. Os locadores de lotes, dois a dois, atiravam em dois socos a carga ao ombro e, num trote largo e cadenciado, iam enfiando as alças dos cestos, dos fardos ou dos caixotes, nas esperas das cangalhas; cobriam a carga com o ligal, passavam sobre este o arrocho que apertavam torcendo os cambitos, ajustando tudo tão bem que animal, carga e cangalha formavam uma peça única, um todo indivisível. Algumas bestas mais novas, e por isso mesmo ressabiadas ou prosas, refugavam a carga fugindo com o corpo, e então o


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