Inventário e Memória - Cinemas de Rua em Florianópolis

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INTRODUÇÃO redor do mundo estimulava um desejo irrepreensível de se estar na moda, influenciando o modo de viver, se vestir e se comportar na sociedade moderna. Também esse processo influenciava o estilo e a aparência da própria arquitetura dos cinemas situados nesses centros; e sobretudo o sentido que eles adquiriam (e imprimiam) na vivência das pessoas. Esse grande símbolo de modernização, despertou uma vontade de investigar mais profundamente o seu papel para a cidade. Como as suas edificações e, principalmente, sua atividade influenciavam a circulação pelo centro urbano. Assim, é importante que o estudo da arquitetura desses cinemas não seja meramente compilativo ou descritivo de sua materialidade. É importante buscar compreender o sentido na experiência individual e coletiva de seus habitantes, bem como as relações estabelecidas com as várias faces de seu contexto cultural. A arquitetura sempre foi a obra de arte mais propensa à recepção coletiva, uma vez que a necessidade do abrigo é permanente. Segundo Benjamin (1955), a recepção da arquitetura ocorre por dois canais: pelo uso e pela percepção, ou seja, pelos meios táteis e óticos. A contemplação do objeto arquitetônico acontece principalmente quando visita-se um lugar novo, e permite uma apreensão mais rasa da edificação. No entanto, a recepção ótica utiliza-se também do hábito, a observação casual do uso, que gera a impressão da edificação enquanto obra e enquanto uso. É, portanto, nessa percepção que criam-se laços com os usuários. São esses laços e as alterações ocorridas neles, que busca-se estudar. Como a mudança dos cinemas do centro da cidade alterou a relação dos individuos com esse lugar. Como isso influenciou no

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desenvolvimento e na dinâmica da cidade. Qual a importância dos cinemas na vivência e na lembrança da população. A necessidade de compreender o significado desses lugares para a sociedade fez com que a pesquisa baseasse na dualidade do signo (edificação) e do significado (símbolo). Segundo Gadamer (1997), símbolo é aquilo que vale não somente pelo seu conteúdo, mas pela sua exibicionalidade, ou seja, é um documento, no qual se reconhecem os membros de uma comunidade. Outro aspecto que se desejava investigar era as razões para decadência dos cinemas de rua e a alteração na relação das pessoas com esses espaços. Com o aumento da insegurança e dificuldades de deslocamento devido o grande crescimento das cidades, há um esvaziamento dos centros e criação de outros pólos atratores de público. É provável que esses fatores tenham contribuído para que os cinemas de rua fossem perdendo o seu caráter agregador e entrando em decadência. Busca-se, portanto, verificar se as causas resumem-se a essas, ou se existem outros motivos. 1.1 Justificativa e Relevância Os cinemas de rua desempenharam, durante um longo período de tempo, a função de espaço de lazer principal das cidades, criando a cultura do encontro no centro da cidade. Porém, com o esvaziamento dos centros e criação de outros pólos atratores de público, os cinemas de rua foram perdendo o seu caráter agregador e entrando em decadência.

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