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População afro-peruana e educação intercultural
from Cumanana XXVII-POR
by PeruEnAfrica
Para entender por que a população afrodescendente foi excluída da abordagem educacional intercultural no país, é preciso voltar ao processo histórico da escravidão e a posição que essa população vem ocupando no processo de construção da sociedade peruana.
O comércio de escravos no Peru trouxe um grande número de cidadãos africanos. Inicialmente, desembarcaram em alguns portos periféricos do Atlântico americano, como Cartagena, Veracruz e Portobelo, para posteriormente serem transferidos para o território peruano. Nesse processo, adquiriram a língua espanhola e aos poucos foram perdendo as próprias línguas. Essa transformação e aculturação impostas, somadas à explicação genética/biológica utilizada na época sobre "uma raça inferior", reforçavam a posição e a invisibilidade da população africana escravizada da época.
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A população africana escravizada no Peru e seus descendentes estavam no fundo da escala política e social da era colonial. Não teve o mesmo reconhecimento da população indígena, muito menos da sociedade “branca”. Eles foram despojados de todas as concepções e idiossincrasias de seus países, devido as estratégias utilizadas pelos espanhóis para separá-los e assim evitar possíveis revoluções.
Por outro lado, há a população indígena, definida como originária dessas terras, com expressões econômicas, sociais e políticas próprias. Nesse sentido, as políticas posteriores que buscassem erradicar a desigualdade social” no Peru, teriam como
Foto: Andina eixo principal as diferenças linguísticas encontradas nas populações indígenas. Por isso, mais uma vez, deixaram a população afrodescendente fora dos planos do governo, pois todos os seus descendentes já falavam espanhol.
Nesse percurso, perpetua-se na população afrodescendente uma condição historicamente invisível. Perdeu o direito de recuperar suas memórias, manifestações culturais e linguistas.
De La Cadena (2000) destaca que na sociedade peruana se perpetua uma definição de raça baseada na subordinação histórica do fenótipo e da cultura como marcador que diferenciaria as populações. Nesse sentido, práticas discriminatórias nas esferas social e institucional não seriam consideradas abertamente racistas, protegidas pelas diferenças hereditárias das populações indígenas e, sobretudo, afrodescendentes.
Um dos sinais claros da posição invisível que a população afro-peruana teria é que ela também não foi considerada nos dados do censo nacional. O último dado oficial e nacional até a elaboração da presente investigação foi o Censo de 1940, no qual várias discussões foram desencadeadas sobre a necessidade de coletar os dados sobre origem étnica, refugiando-se nos discursos de "igualitarismo" expressos na famosa frase peruana "quem não tem de inga, tem de mandinga". Essa situação evidencia a nulidade da existência de alguém que seja puramente indígena ou afrodescendente como consequência do explosivo processo de
Tocón e Petrera (2002) destacam que foi devido ao conflito sobre a necessidade de abordar a origem étnica da sociedade peruana que o interesse político em abordar o tema parou. No entanto, as organizações afro-peruanas, através de seus diferentes estudos populacionais, garantem que a população afrodescendente está entre 8% e 10% da população geral (Ramírez Reyna, 2006).
Por que a abordagem educacional intercultural é necessária para a população afro-peruana? Apesar de que, nas últimas décadas, houve um ressurgimento e revalorização do indígena e do afro-peruano, e o aporte cultural ao nosso país aumentou, práticas discriminatórias por "raça" ainda são realizadas.

Para demonstrar esses eventos, basta recorrer às características demográficas e históricas da sociedade peruana. Peredo Beltrán (2001), em uma síntese realizada por meio de pesquisas a organizações afro-peruanas e instituições internacionais, resume que o Peru tem uma população de mais de 27 milhões de habitantes, dos quais se considera que, por descendência, 40% são mestiços raça, 30% indígena, 10% africano, 10% europeu, 8% asiático e 2% israelense/árabe e outros. Além disso, estima que cerca de 50 idiomas sejam usados no país; entre eles, 44 línguas indígenas, vários dialetos de chinês, japonês, italiano, árabe, hebraico e outras línguas estrangeiras, além do castelhano ou espanhol. Existem até 85 idiomas falados no Peru. https://centroderecursos.cultura.pe/sites/default/files/rb/pdf/Encuentro-de-investigadores-2018.pdf
Como mencionado acima, a política característica do Estado peruano tem procurado homogeneizar toda a população sob uma identidade mestiça ou crioula. Dessa forma, camufla as desigualdades sociais e os indícios de racismo constantemente denunciados pelas populações indígenas e afro-peruanas. Dada esta constante, a abordagem intercultural, ao contrário do que o Estado peruano procura, buscaria enfatizar o valor da diversidade cultural como fonte de riqueza nacional, promover a tolerância, a diversidade e a igualdade cultural na sociedade nacional.
Quanto maior a diversidade, maior a riqueza. É necessário que o Estado e a sociedade reconheçam e aceitem positivamente o Peru como um país multicultural e que optem por fortalecer e difundir os princípios que permitem a convivência pacífica, o desenvolvimento com igualdade de oportunidades, o respeito e a assunção positiva da diversidade cultural. (Política Nacional de Línguas e Culturas na Educação, 2002: 3).
Os movimentos afro-peruanos e indígenas manifestam, por meio de suas organizações, a relevância do enfoque educativo intercultural para suas populações. Por isso, na Declaração de Pachacamac (2001), constantemente denunciam a negligência do Estado por não incluir devidamente a participação de ambos os movimentos no planejamento e implementação de medidas educativas. Da mesma forma, denunciam a forma distorcida como ela está se efetivando, pois, ao invés de integrar as populações respeitando sua diversidade, buscam assimilá-las e, mais uma vez, homogeneizar toda a população.
A abordagem educacional intercultural, além disso, promoveria a reescrita da história peruana, incluindo as vozes da diversidade de populações que a constituem. Para Valdiviezo & Valdiviezo (2008), uma história intercultural estimularia a valorização da diversidade cultural e o reconhecimento mútuo entre todas as populações. Dessa forma, corrigem-se as imagens históricas que perpetuam a opressão e a discriminação cultural, além de redefinir a percepção que os cidadãos têm sobre seu presente e futuro.
A população afro-peruana precisa conhecer seu legado, precisa reforçar o sentimento de orgulho social, cultural e histórico forjado por seus antepassados, como a lealdade de dom Antonio Oblitas, a eminência acadêmica de dom José Manuel Valdés, o patriotismo de Don Alberto Medina Cecília, o requinte artístico do Sr. José Gil de Castro, o heroísmo da Dona Catalina Buendía de Pecho e a identidade oculta da mártir Micaela Bastidas (DIGEIBIR, 2012). Os personagens citados são uma amostra da participação além da fase escravagista do país. No entanto, adolescentes, meninas e meninos afro-peruanos os desconhecem.
Desde o período colonial, a população afro-peruana foi eliminada da história nas escolas, suas lutas e contribuições foram deslocadas da memória coletiva peruana e não se beneficiaram de nenhum tipo de reparação. Nesse sentido, a abordagem da educação intercultural é uma ferramenta fundamental para marcar o início de um Peru multicultural, multirracial, multiétnico e multilíngue.

* Extraído do artigo Educación Intercultural para la construcción de la identidad en jóvenes afrodescendientes, postado originalmente em CULTURA AFROPERUANA: ENCUENTRO DE INVESTIGADORES 2018, Ministerio de Cultura, 2019, Pp. 62-64.
Githeri

Ingredientes
1 colher de óleo ou manteiga
1 cebola média picada
3 dentes de alho picados
1 colher de curry em pó
1 maço grande de couve ou outras verduras picadas
4 xícaras de tomate em cubos
2 xícaras de milho
2 xícaras de feijão cozido, qualquer tipo, (enlatado e escorrido ou cozido)
1 colher de chá de sal
1/2 colher de chá de pimenta
1 limão
Preparação
Em uma frigideira média, aqueça o óleo. Refogue a cebola por 3 minutos, até ficar transparente. Adicione o alho e o curry em pó e cozinhe por 1 minuto.

Misture todos os ingredientes, menos o suco de limão. Remover. Deixe tudo ferver, tampe imediatamente, reduza o fogo para baixo e cozinhe por 20 minutos, até que as cebolas e os legumes estejam cozidos.
Tempere com mais sal e pimenta a gosto. Corte o limão ao meio. Sirva em tigelas com um pouco de suco de limão.