O Guardião

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curiosamente três mulheres bonitas, exuberantes e conhecidas como as mais sedutoras do castelo. Anna amassou o suave veludo de suas saias com a ponta dos dedos. Sentiu uma espécie de pontada remotamente parecida com a irritação. Remotamente parecida com a maior das irritações. Saber que se tratava de algo irracional não ajudava em nada. Era normal que as garotas se interessassem por eles. Por que não fariam? Os recém chegados eram cavalheiros, bonitos e, isso Anna sabia, não eram casados. Uma combinação irresistível para qualquer jovem sem marido. E tampouco lhe surpreendeu que fossem bem recebidas e as animassem a ficar com eles. Mas quando uma das mulheres, Christiana, a encantadora filha do valete de seu pai, de olhos azuis e cabelo negro azeviche, sentou-se junto a Arthur, todas suas costas ficou em tensão. O lugar parecia estar mais quente se pudesse. As bochechas lhe ruborizaram e o coração deu um brusco tombo. Dizia a si mesma que aquilo não era de sua incumbência, mas não podia deixar de olhá-lo. Não teria que ter se preocupado. Depois de várias tentativas de sedução inadvertidas, incluindo sorrisos coquetes e uma nada sutil inclinação sobre a mesa para que ele pudesse ver com claridade seu amplo decote, Christiana se deu por vencida e dirigiu seus cuidados a outro de seus companheiros. Embora aquilo aliviasse a Anna mais do que se atrevia a admitir, tinha havido algo nessa interação que a escamava. Era possível que tivesse chegado a uma conclusão errônea? Talvez não tivesse nada a ver com ela. Possivelmente sir Arthur não tinha intenção de ser descortês, mas sim simplesmente era brusco, como acontecia com seu pai. Ou talvez tímido com as mulheres, como seu irmão Ewen? Por mais que queria convencer-se de que essa era a questão, para assim esquecer-se dele, não podia fazê-lo. Ele antes não tinha sido acanhado. Melhor, parecia zangado, inclusive um pouco furioso. Como se ela o estivesse incomodando. Como um mosquito no verão ou um cachorrinho que te pisa nos calcanhares. Certo, fosse ela quem se chocara contra ele, mas se tratava de um acidente. E estava claro que sua força era suficiente para agüentar o pequeno tranco de uma mulher. Pelo amor de Deus, se parecia capaz de agüentar o embate de uma marreta! 59


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