Alvorada 2013 outubro|novembro|dezembro

Page 1

A Revista da Família Ano XLIV nº 75 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2013

A importância do pai para o desenvolvimento infantil A Identidade Conjugal

Divórcio

Ensino bíblico, causas, consequências e o recomeço

Culto doméstico Jesus no dia a dia da família

Cristo e a juventude O desafio da igreja contemporânea

A filha de Jairo e seu amigo que tem câncer

Quando os filhos chegam A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 1


1

ano de edificação

via agente acima de 10

via agente apenas

R$

apenas

45

R$

a sua casa apenas

40

R$

Receber em casa o exemplar da revista. Maior aior comodidade e agilidade. e.

Mais de 10 assinaturas, desconto de 12%. As revistas serão entregues pelo agente.

Menos de 10 assinantes, será considerada assinatura individual. Revista entregue pelo agente na igreja.

65

ncha a ficha Por favor, pree gue para seu tre en e , xo abai e seja enviada agente para quefira, a ficha pr so Ca s. a nó rá ser enviada também pode ra a Pendão Real, pa te en m ta dire mail através de e- pendaoreal.com.br) @ to en im nd te ação, (a ua da Consol ou correios (R ação – 2121 – Consol – 01301 -100). São Paulo/SP

NOME____________________________________________________________________________________________________________ RUA ____________________________________________________________ Nº ___________ COMPLEMENTO_____________________ BAIRRO___________________________________________________ CIDADE_____________________________________ UF________ CEP____________________ -___________ E-MAIL_______________________________________________________________________ TEL. COMERCIAL ( CEL.(

) ___________________________________ TEL. RESIDENCIAL (

) _______________________________ |11|

3105.7773

) ____________________________ DATA NASC. ____________________ PROFISSÃO_______________________________

IGREJA __________________________________________________________________________________________________________ PASTOR (A) (

2 Alvorada

)

PRESBÍTERO (A)

(

)

DIÁCONO (ISA) (

)

OUTRO

(

) _______________________________

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

WWW.PENDAOREAL.COM.BR


EDITORIAL

De quem é o lugar de honra? SHEILA DE AMORIM SOUZA

“Humilhem-se diante do Senhor, e ele os colocará numa posição de honra" (Tg 4.10). Você já ouviu falar a respeito de alguém cujo nascimento do filho veio a atrapalhar o casamento? Normalmente um dos conjuges sente que não é mais o “número 1” na vida do companheiro (a) e o filho passou a ocupar essa posição. E não é só com a chegada dos filhos. Se estamos ouvindo, sentindo e não valorizando este sentimento é porque não estamos praticando um fundamento bíblico: a honra. Com certeza, ela é fundamental para um relacionamento saudável. Além do mais a honra é a essência do nosso relacionamento com Deus. Será que Ele está em lugar de honra em nossa vida? Quando honramos afirmamos a importância desta pessoa. Honramos com palavras e ações. Quando Deus ocupa o lugar de honra em nossa vida, é natural ouvirmos e obedecermos sua Palavra e, com certeza, nos relacionamos melhor com as outras pessoas. A chegada dos filhos modifica muita coisa na relação conjugal, mas, se, ao longo dos anos, a relação do casal não for estabelecida de maneira equilibrada, uma série de problemas surgirá. É o que vamos abordar através de várias matérias nesta edição. Encontramos em 1 Pedro 3.1-7 um precioso ensinamento sobre o relacionamento conjugal e a importância da honra no lar. Quando estudamos a Bíblia, encontramos um verdadeiro manual para vivermos bem com o criador e com a família. Não despreze este bem precioso. Agora, vamos praticar. Priorize Deus, faça um inventário conjugal e coloque os filhos no devido lugar. Precisou de ajuda? Leia o manual e peça sabedoria ao autor. Aqui vão alguns dos temas desta edição que abordam a importância do relacionamento com Deus e a família: "Jesus no dia a dia da família" reafirma que, mesmo os pais que têm a agenda cada vez mais comprometida com a vida profissional e tantas outras atividades, precisam administrar os horários e estabelecer prioridades para viverem e ensinarem os princípios cristãos no lar. Se cuidamos da nossa família, consequentemente somos cuidados por ela também é a abordagem do texto "Maturidade espiritual da família: cuidar e ser cuidado". Em outro, é reafirmada a grande importância de se priorizar a leitura da Bíblia em família. Nos textos "Identidade Conjugal" e "Quando chegam os filhos", aprendemos que muitos casais podem precisar da ajuda profissional porque não cuidaram do relacionamento por anos a fio. Nunca é tarde demais para se ter um casamento feliz. Qualquer casal pode aprender a nutrir um casamento saudável e, ao mesmo tempo, oferecer uma boa criação para os filhos. Viva a ação poderosa de Deus. Outro destaque é a matéria da jornalista Fabiana que mostra 4 projetos que buscam envolver o jovem com o Corpo de Cristo. São ministérios que, por todo o Brasil, têm alcançado e levado os jovens ao comprometimento com o evangelho, e este é transformador. Não desista! "Você que cria, inspira confiança, promove, protege, disciplina, abençoa, ama e ensina o seu filho no caminho em que deve andar terá uma probabilidade muito maior de ver seu filho no caminho certo", seu cônjuge feliz e muitos motivos para agradecer a Deus. Se precisar de ajuda, já sabe onde e com quem buscar. Até o ano que vem e boa leitura!

Sheila alvorada@ipib.org


3 4

A vassoura. Invista em relacionamentos. Jesus no dia a dia da família.

Família

8

Cristianismo

16 18

Fique atento

Psicóloga diz que FIFA incentiva prostituição nos países sede da Copa

46

Estilo de Vida

50

Reflexão

Está com falta de tempo para se relacionar com Deus? A sobrevivência da fé na cultura do descontentamento

56

Homenagem

58

Compartilhando

Morre a fundadora da revista Alvorada. Conheça a Helô e seu empreendimento.

Maturidade espiritual da família: cuidar e ser cuidado. Aproprie-se da Palavra de Deus e a ensine aos seus filhos.

Voz do coração

A filha de Jairo e seu amigo que tem câncer.

Secretaria da Família

Probabilidades. Ao semear, a probabilidade de colher é grande.

Psicanálise e Esperança

A importância do pai para o desenvolvimento infantil. Mãe e pai têm deixado o lar em busca de recursos para sobrevivência, privando os filhos de sua presença.

Vida Conjugal

26

35

Culto doméstico

6

10 SUMÁRIO

Reflexão

A Identidade Conjugal. O conformismo e acomodação são aspectos que anulam esta identidade.

22

Quando chegam os filhos

O nascimento do primeiro filho modifica abruptamente o ritmo de vida do casal.

36

Jovens

Por que vou me casar? Motivações de um jovem para se casar.

ENCARTE ESPECIAL Só pra Mulheres. Elas são únicas e merecem um espaço só delas.

28

Divórcio

Ensino bíblico, causas, consequências e o recomeço.

52

Música

55

Fé e Espiritualidade

Considerações de um músico cristão atual sobre a música cristã atual.

Milagre não é tema tão fácil assim de ser tratado. Envolve fé, crença e muitas interpretações podem surgir.

38

Cristo e a juventude

Um desafio para as igrejas contemporâneas.

60 64

Espaço Kids

História, culinária e brincadeira para a criançada.

Poesias

Sobre o Natal.

Alvorada A Revista da Familia

Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: Fotolia. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, Fotolia, stock.xchng, brusheezy e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Daniel Dutra, Leontino Farias dos Santos, Zeneide Ribeiro de Santana, Maurício Silva de Araújo, Alex Sandro dos Santos, Marcos Kopeska, Wívian L. C. Brojato, Daniela Welte, Vanessa Sene Cardoso, Ademir Almeida, Giovanni Alecrim, Erika Silveira, Josiane Barrios, Martha Duarte Rocha, Eder Jone, Fabiana Lopes de Souza, Jonas Pereira de Souza, Roberto Costa, Helô Franco, Lídia Sedin e Carlos Morais. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$45,00, acima de 10 assinantes R$ 40,00, para receber através do (a) agente ou R$ 65,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 11,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.


REFLEXÃO Kuba Rola

A vassoura ZENEIDE RIBEIRO DE SANTANA

Todas as manhãs, infalivelmente, lá estava ela, varrendo a calçada. Se houvesse um concurso para premiar a calçada mais limpa, sem dúvida, ela seria a vencedora. Se chovesse ou ventasse um pouco mais, logo em seguida, a vassoura se agitava em suas mãos, numa dança ritmada. No dia das eleições, no colégio bem próximo, as ruas se enchiam de cédulas e “santinhos” distribuídos pelos candidatos, por mais que se proíba a boca de urna. Adivinhem quem era a primeira a varrer toda aquela sujeira em frente à sua casa? Esperar pelos garis no dia seguinte? Nem pensar! Nunca pude entender se aquilo era zelo pelo meio ambiente ou mania de limpeza mesmo. Só sei que, num certo sábado, passei pela casa dela e estranhei os tocos de cigarro, os papéis de bala amassados, até uma garrafinha de plástico, espalhados pelo chão. A vizinha do lado veio me contar que a dona Celina havia morrido

de infarto na noite anterior, e me informou o local do velório e o horário do enterro. Chocada, olhei para a garagem cheia de poeira e vi, lá no fundo, a vassoura encostada num canto. Pensei, então, que a vassoura, bem nova, duraria ainda um bom tempo, enquanto que a dona dela… Refleti sobre o quanto, frequentemente, nos ocupamos com tarefas enfadonhas, embora necessárias, sem dar grande atenção ao que é verdadeiramente importante. Eu mesma, que sempre cumprimentava aquela vizinha, quantas vezes havia parado para conversar, mostrar real interesse por ela? Sábios seríamos se aprendêssemos a varrer para longe o que não serve para alimentar nosso espírito e investíssemos nos relacionamentos, que poderiam nos aproximar dos outros e muito mais do nosso Deus. Zeneide, blogueira, é da 1ª IPI de São Caetano do Sul, SP. Casada e mãe de 2 filhos

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 5


ESPIRITUALIDADE

Jesus no dia a dia da família VANESSA SENE CARDOSO

Para os pais que têm a agenda cada vez mais comprometida com a vida profissional e tantas outras atividades, fica difícil administrar os horários. Os tempos mudam, mas a receita permanece a mesma: estabelecer prioridades (Ef 5.16). A forma do culto doméstico pode ser adaptada à realidade de cada família

6 Alvorada

– Pai, eu quero que você assista a um programa de TV comigo. O convite partiu de Maria Fernanda, de 12 anos. Tratava-se da nova temporada de uma novela para adolescentes. Mário Sérgio, pai da pré-adolescente, sua esposa e o filho mais novo, de 6 anos, se acomodaram na sala para assistir ao programa. Num determinado momento, uma personagem adolescente disse que faria uma simpatia para conquistar o garoto pelo qual estava apaixonada. Pausa! Mário Sérgio aproveitou o gancho e perguntou para os filhos se sabiam o que significava fazer uma simpatia. Ele explicou a origem desta prática e apresentou o que Deus ensina, na sua palavra, a Bíblia, sobre o assunto. O estilo de vida moderno é caracterizado, entre outras coisas, pelo grande volume de informações e o acesso fácil e rápido a elas, por diversos meios. Você que tem filhos adolescentes sabe como é um desafio acompanhar o ritmo de vida deles, a começar pelo uso da tecnologia à qual esta geração está habituada. As novidades vão surgindo na velocidade do “marcador dos centésimos de segundo”. Para os pais que têm a agenda cada vez mais comprometida com a vida profissional e tantas outras atividades, fica difícil administrar os horários. Os tempos mudam, mas a receita permanece a mesma: estabelecer prioridades (Ef 5.16). A forma do culto doméstico pode ser adaptada à realidade de cada família, mas sem

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

perder a essência: “E você deve meditar sempre nestes mandamentos que hoje estou ordenando – os quais você deve ensinar aos seus filhos. É preciso que você converse sobre estas leis quando estiver em casa, quando estiver andando por algum caminho, na hora de dormir e logo ao despertar!” (Dt 6.6-7). Mário Sérgio Soares e sua esposa Liliam são dentistas e coordenadores da área de casais da 1ª IPI de Londrina, PR. O casal entende que, como orienta o texto de Deuteronômio 6.7, os princípios cristãos devem ser transmitidos aos filhos e aplicados nas situações cotidianas. Ao redor da mesa, durante as refeições, eles compartilham experiências, testemunhos do que Deus tem feito, oram com os filhos, contam histórias bíblicas ao filho mais novo. A transparência é uma prática no relacionamento conjugal e com os filhos. Ao ser surpreendida por uma situação de enfermidade grave, há dois anos, a família esteve unida, em oração, e teve a fé fortalecida atravessando, em segurança, a tempestade. “Temos que vivenciar o evangelho nas nossas relações”, afirma Mário Sérgio. Os pais não precisam ter medo de demonstrar fraquezas, bem de como compartilhar os milagres e pedir perdão. Estas são práticas que fazem da vida um culto diário.

Uma herança de família

Para o Rev. Messias Anacleto Rosa, pastor jubilado da 1ª IPI de Londrina, com 53 anos de ministério, o culto doméstico é uma herança muito rica que recebeu dos pais.


Friday

“Quando me casei há quase 54 anos, assumi com minha esposa Avani o compromisso de orarmos juntos todos os dias”, recorda o pastor. Esta prática teve como base o ensino de Jesus em Mateus 18.19: “Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus”. “Para nós isto é de uma importância extraordinária. Foi o que nos ajudou a exercer o ministério pastoral”, afirma. Na educação e formação dos seus três filhos, a realização do culto doméstico, diariamente, teve um papel relevante. O casal adotou como literatura a Bíblia e os devocionários Horinhas com Deus, No Cenáculo e Mananciais no Deserto. O ensino do catecismo foi fundamental na formação dos princípios, na firmeza e maturidade espiritual. “Pela graça de Deus, aquilo que, como casal, praticamos e passamos aos nossos filhos é o que os vemos fazer hoje com nossos netos. O culto doméstico é a pedra de toque na formação da vida cristã e da estabilidade da família”, conclui o Rev. Messias.

© Lisa F. Young - Fotolia.com

A Vanessa, jornalista, é assessora de comunicação da 1ª IPI de Londrina, PR

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 7


© vision images - Fotolia.com

FAMÍLIA

Maturidade espiritual da família:

cuidar e ser cuidado 8 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


ADEMIR ALMEIDA

Neste ano iniciei o estágio do curso de Psicologia no Conselho Tutelar da cidade onde estudo. Em atendimento, no que se refere ao comportamento da criança e do adolescente, é notável a falta de estrutura familiar em que muitos se encontram. A família, desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que exerce marcada influência sobre a vida das pessoas, sendo encarada como um grupo com uma organização complexa, inserido em um contexto social mais amplo com o qual mantém constante interação (Biasoli-Alves, 2004). O grupo familiar tem um papel fundamental na constituição dos indivíduos, sendo importante na determinação e na organização da personalidade, além de influenciar significativamente no comportamento individual através das ações e medidas educativas em âmbito familiar (Drummond & Drummond Filho, 1998). Neste aspecto familiar, a construção da família extensiva tem sua real importância. A família extensiva é aquela em que não há somente os pais e os filhos, mas outros familiares (avós, tios, primos, sobrinhos ou outros parentes) compartilhando um lar. Infelizmente, nos casos corriqueiros que chegam ao Conselho Tutelar, é comum a falta de estrutura familiar que algumas crianças e adolescentes enfrentam. Os exemplos são os mais diversos, como filhos convivendo em ambiente onde os pais são separados; filhos que vivem sob a ausência paterna ou materna; filhos revoltados com os pais; etc. O que deve ser feito para que os filhos, os jovens, a comunidade viva numa estrutura familiar saudável? Qual é o papel de cada membro da família (pais, filhos e avós)?

A resposta é simples. Basta meditarmos nos princípios do apóstolo Paulo, em Efésios 6.1-4: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo; honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Embora a resposta seja simples, podemos analisar como é difícil estes princípios serem obedecidos. Os filhos têm que honrar e obedecer seus pais. Os pais precisam criar seus filhos no temor do Senhor. Quando há o cumprimento de valores estabelecidos dos pais para com seus filhos e vice-versa, as coisas fluem. Para isto, alguém tem que ser referência no lar. Uma mãe me procurou relatando que estava preocupada com seu filho de 13 anos. Segundo ela, o garoto começou a ficar irritado e agressivo, querendo consumir bebida alcoólica. Perguntei a ela se em casa os pais consumiam bebidas alcoólicas. Sua reposta foi sim, mas de modo “social”. Como impedir o filho de beber sendo que os próprios pais não são exemplos dentro de casa nessa área? Cabe lembrar que a maturação espiritual e emocional familiar abrange todo um processo, até que se torne uma realidade. A participação dos professores, conselheiros e psicólogos é de fundamental importância para uma formação positiva na identidade dos filhos. Com diálogo, relacionamento e bons exemplos vindos dos próprios pais, será possível chegarmos ao equilíbrio no lar. Os avós também têm sua parcela de contribuição para a harmonia familiar. Eles têm uma função de continuidade na educação das crianças que, por sinal, deve começar com os pais. Podem e devem brincar com os netos, levá-los para passear, dar-lhes conselhos, des-

de que respeitem a disciplina e os costumes impostos pelo pai e pela mãe. Mas quando somos capazes de desempenhar com maior facilidade o cuidado espiritual e emocional de nossas famílias? Quando estamos bem com Deus e conosco mesmos! Para cuidar de alguém, precisamos estar cuidados. Por isso, férias, descanso apropriado e devocional pessoal são fundamentais para revermos nossas atitudes para algo melhor. Precisamos do bálsamo do Senhor sobre nossa vida e nossa família e de suas bênçãos. “Acreditar na família é construir o futuro.” Precisamos cuidar da nossa família e sermos cuidados por ela também. Jó cuidou de seus filhos em oração. “Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1.5). O que chama minha atenção neste texto é que Jó velava por seus filhos continuamente. Qual é o nosso nível de perseverança pelo cuidado espiritual e emocional para com os membros de nossa família? Lembre-se: Deus é o maior interessado na harmonia e estrutura familiar. Quero deixar aqui uma outra pergunta para nossa reflexão: o que adianta o ser humano ter um bom emprego, receber um ótimo salário, possuir muitos bens materiais, ter uma boa reputação social e perder sua família? Lembre-se: o seu sucesso começa dentro do seu lar. Deus abençoe você e sua família. Ao cuidar de sua família, você também será cuidado por ela. O Ademir, missionário, capelão prisional, trabalha na congregação da IPI de Areado, MG (www.missionarioademir.com.br)

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 9


CRISTIANISMO

A família e a

Bíblia GIOVANNI ALECRIM

Onde está a sua Bíblia neste momento? Provavelmente, se você estiver lendo este texto em casa, sua Bíblia estará sobre uma mesa, na estante ou no celular, tablet ou computador. Quando você volta da igreja para casa, sua Bíblia vem com você. Mas será que ela está em você? Qual a função dela em sua família? O texto de Deuteronômio 6.6-9, na Tradução Contemporânea A Mensagem, nos dá algumas direções: "Escrevam no coração os mandamentos que estou transmitindo a vocês. Apropriem-se deles e levem seus filhos a se apropriar deles. Que eles sejam o assunto de sua conversa, onde quer que vocês estiverem — sentados em casa ou andando pela rua. Que eles sejam repetidos desde a hora em que vocês se levantam, de manhã, até a hora de cair na cama, à noite. Que eles estejam amarrados na mão e na testa de vocês, como lembretes, e até escritos no batente da porta das casas e nas portas das suas cidades." O primeiro destaque que quero dar a este texto está logo em seu início: “escrevam no coração”. Nossa família é o que temos de

mais precioso. Cada membro dela é um presente de Deus para nossa vida. Devemos amar nossos familiares. Mas como? Muitas vezes a história de nossos relacionamentos familiares é marcada por dor, sofrimento e mágoas. Como amar neste contexto? Escrevendo em nosso coração a Palavra de Deus, de maneira a acolher e compreender nossos familiares, mostrando-lhes o amor perdoador de Deus por nós. Outro ponto que merece destaque é o que devemos fazer com os mandamentos da Palavra de Deus: “Apropriem-se deles”. O que o autor do Deuteronômio quis dizer com “apropriar-se dos mandamentos”? Quando nos apropriamos de um ensino, estamos assimilando este ensino como algo natural em nossa vida. Em nossa família, a Bíblia não deve ser imposta, mas, sim, vivida. Em nossas palavras, atitudes e gestos, devemos viver a Palavra de Deus para nossos familiares. Aos pais ainda é reservada uma missão: “levem seus filhos a se apropriar deles”, ou seja, além de viver os mandamentos de Deus, os pais devem ensinar seus filhos a fazê-lo. Mas como?

© Vibe Images

10 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

DE 8 DEZEMBRO DIA DA

BÍBLIA

No levantar e no deitar, no assentar-se e caminhar, por onde quer que eu vá, tua palavra vou proclamar. Ao meu pai eu honrarei, à minha mãe obedecerei, de meu irmão amigo serei, tua palavra proclamarei. Em minha família vou viver, tua vontade e teu querer, e com meu jeito de ser, tua Palavra vou viver. Seja onde for, seja com quem for, nossa missão é viver a Palavra de Deus diariamente, sem nos esquecermos de que nossa família é o nosso primeiro campo missionário, onde nossa vida deve refletir, em gestos e palavras, o Deus a quem louvamos e adoramos. O Rev. Giovanni, secretário do Portal da IPIB, é pastor da IPI de Araraquara, SP. Casado e pai de 1 filho


»

Quando você volta da igreja para casa, sua Bíblia vem com você. Mas será que ela está em você? Qual a função dela em sua família? A orientação do autor de Deuteronômio que ensina a nos apropriarmos da Palavra de Deus e a ensinarmos nossos filhos a se apropriarem dela tem sido praticada? Seu conteúdo tem sido repetido desde a hora em que nos levantamos, de manhã, até a hora de cair na cama, à noite?

» A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 11


© Sergey Nivens

A filha de Jairo e seu amigo que tem câncer Marcos 5.21-43 ARCHIBALD MULFORD WOODRUFF

(TRADUZIDO POR ÉRICA SILVEIRA CAMPOS)

Não sabiam se a filha de Jairo estava viva ou morta, conforme a história e nossa interpretação.1 Podemos acompanhar o drama da história, inclusive o que as pessoas dizem na história (“já morreu” – “não, ela dorme”), porém não podemos enviar uma enfermeira moderna ao século primeiro para verificar os sinais vitais da menina. Se nenhuma ambiguidade em relação a essa questão tivesse existido, teria havido um velório? Alguma vez você fez um velório para um paciente de câncer vivo? Já vi isso sendo feito.

1 Talvez eu “compre uma briga” com alguns estudiosos da Bíblia ao dizer isso. Aqueles que discordam de mim apontam para a verdade teológica final que o leitor/ouvinte de Marcos sabe ao fim da história. Em contrapartida, as melhores histórias de Marcos são tão dramáticas que, em minha opinião, somos convidados a imaginar o que a situação pareceria a um espectador enquanto a ação se desenrola. É isso que estou fazendo.

12 Alvorada

Tenho refletido sobre essas questões desde o mês de março (2004), quando fui diagnosticado com um tipo de câncer chamado mieloma múltiplo. Várias coisas me têm vindo à mente. Uma delas é meu trabalho de estudo e reflexão sobre o Evangelho de Marcos, que tenho desenvolvido nos últimos anos como professor de estudos bíblicos no Brasil. Outra coisa é o trabalho que realizei durante os anos 1970 como pastor em uma região com alta incidência de câncer (nos EUA). Durante um período de cinco anos, visitei praticamente uma pessoa com câncer por semana e a história era sempre a mesma. Desde então, comecei a perceber que as pessoas estavam superando a doença, mas era óbvio que eu desconhecia muitas coisas apesar da minha experiência e do meu treinamento pastoral. Por fim, desde que fui diagnosticado com câncer, tenho participado no Grupo de Sobreviventes do Câncer no Centro de Câncer Charles B. Eberhart, sob a liderança de Betty Castellani, uma extraordinária pastora presbiteriana.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


VOZ DO CORAÇÃO

»

Seu amigo é diagnosticado com câncer. O que você pensa? “O que posso falar para ele?” - Essa não é a pergunta que você precisa fazer. Seu amigo precisa de você. O que dizer é bem menos importante. Não é necessário começar falando muito. Se você dá valor ao seu amigo, demonstre isso e ouça-o. Já é um ótimo começo.

Seu amigo é diagnosticado com câncer. O que você pensa? “O que posso falar para ele?” - Essa não é a pergunta que você precisa fazer. Seu amigo precisa de você. O que dizer é bem menos importante. Não é necessário começar falando muito. Se você dá valor ao seu amigo, demonstre isso e ouça-o. Já é um ótimo começo. “Como posso me solidarizar com o sofrimento do meu amigo? Como posso expressar que isso é terrível?” - Por favor, não se esforce para “saber” mais do que sabe. Seu amigo não precisa ouvir que sua doença é “terrível”! Aqueles que de fato sabem, com base na própria experiência, não terão que se esforçar para comunicá-lo. Se você ouvir, seu amigo lhe dirá o quão terrível é - para ele. “Tomara que eu não o encontre. Não sei se saberia como lidar com isso.” - Para algumas pessoas, essa seria a reação certa. É provável que seu amigo não esteja a fim de lidar com você também. Caso seu amigo esteja com medo, uma pessoa assustada não é o que ele precisa. E, se você estiver assustado, ele sabe. “Posso ter uma amizade normal com uma pessoa doente?” - Essa pergunta é bem melhor. Depende de você. Se a resposta for “sim”, parabéns! “Vou estabelecer cumplicidade falando sobre outros pacientes com câncer que conheço.” - Cuidado com essa estratégia. Não é um bom começo e pacientes com câncer já estão cansados de ouvir coisas desse tipo. “Por aí tem alguns médicos ruins que tratam pacientes de câncer. Meu amigo precisa ser mais crítico em relação ao seu médico.” - Cuidado! A confiança no médico faz parte da cura e uma das poucas coisas que seu amigo pode ter para se apegar. É possível que ele já esteja sobrecarregado com informações. Você pode perguntar: “Já buscou uma segunda opinião?” “Ela deve estar morrendo.” - Não conte com isso. Pode ser que você tenha que lidar com essa pessoa por muitos anos pela frente. Seus conhecimentos sobre câncer podem estar desatualizados em

um ou dois anos (ou até mais). As coisas mudam em um ritmo muito acelerado e os cânceres que antes eram verdadeiras “sentenças de morte” estão se transformando em doenças crônicas. Um membro do meu grupo ficou indignado com a interpretação de um respeitado jornalista acerca do estado de saúde de uma figura pública que tem câncer; seu entendimento das mesmas informações clínicas teria sido bem diferente. Não estou querendo dizer que seja fácil. É verdade que muitas pessoas morrem de câncer. Mas o fato é que a maior parte dos pacientes de câncer não está à beira da morte e há sobreviventes em toda parte. “O médico falou que ele tem X meses de vida.” - Não confie nisso. Muitos pacientes acabam desacreditando médicos que falam nesses termos. Estatísticas, médias e coisas do tipo têm seu lugar, mas não são as primeiras coisas em que penso. “Como você se sente?” - Bem, como você se sente quando está cansado? A fadiga, em geral causada pelo tratamento, é o maior problema. Alguns sentem dores específicas. Alguns enfrentarão períodos de depressão, em que tratamento médico pode ser recomendado. Porém a fadiga parece ser um dos grandes denominadores comuns. “No que ele está pensando?” - Um paciente de câncer pensa em várias coisas. Uma delas é prioridades. Para mim, foi como se estivesse novamente na meia-idade. Quando eu estava na faixa dos 40 anos, o tempo parecia ter uma qualidade diferente para mim, pois já tinha vivido metade dele. Não era mais um futuro ilimitado. Já não tinha muito tempo para desperdiçar. Concentrar-me naquilo que eu realmente queria fazer se tornou um pouco mais fácil. Agora que fui diagnosticado com câncer, o tempo é ainda mais precioso do que antes. Tendo a me concentrar naquilo que preciso e quero fazer, e me tornei extremamente impaciente com coisas levianas. Para mim, uma prioridade é escrever meu comentário sobre o Evangelho de Marcos. Estou focado nessa tarefa mais

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 13


»

“Antes éramos amigos, mas agora parece que nosso relacionamento esfriou.” - Já vivenciei essa questão de ambos os lados. De fato, há um afastamento por parte dos pacientes de câncer. No meu caso, com certeza, tenho algumas cartas não respondidas, pelas quais devo um pedido de desculpas, de pessoas com as quais realmente me importo. Abençoo aqueles que são persistentes e escreveram ou enviaram cartões de novo. Provavelmente, seu amigo não está se preparando para partir.

Este artigo incorpora o material anteriormente publicado em Cancer Hope Line, Charles B. Eberhart Cancer Center, Dekalb Medical Center, Decatur, Geórgia, outono de 2004, pp. 6,17. Agradecimentos a Betty Castellani por sua detalhada crítica de uma versão mais antiga deste trabalho e aos membros do Grupo de Sobreviventes do Câncer por seus comentários.

14 Alvorada

Rev. Archibald e sua esposa Linnes (esta foto foi oferecida pelo próprio Rev. Archibald aos seus amigos)

do que nunca e consegui escrever uma boa parte dele neste ano. Também pensamos bastante na própria doença, que exige muita atenção. Durante algumas fases, o tratamento ocupa grande parte do tempo do paciente: consultas médicas frequentes, testes, segundas opiniões e coisas do tipo durante a primeira fase; a quimioterapia pode ser diária em certas fases e outras coisas podem ser necessárias durante o tratamento. Para muitos de nós, há muito mais; há decisões sobre o tratamento que apenas o paciente pode tomar (buscar um tratamento mais ou menos agressivo, participar ou não em um teste clínico para um novo tratamento, mudar de

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

médico). No meu caso, já não estou mais com meu primeiro oncologista e no meio de um tratamento agressivo (transplante autólogo de células estaminais, apesar de minha doença estar no Estágio I), que alguns médicos não recomendaram. Além disso, participo do Grupo de Sobreviventes de Câncer uma vez por semana e do Grupo Mieloma uma vez por mês, e leio com atenção o informativo Mieloma. Alguns dos meus companheiros sobreviventes são ativos na campanha pela conscientização do mieloma ou de outros tipos de câncer. Um deles, que teve câncer nos pulmões em um estágio bastante avançado, dedica-se com afinco à cam-


»

“Será que devemos incluir essa pessoa nos pedidos de oração?” - Posso falar por mim mesmo que agradeço muito essa iniciativa.

panha contra o tabaco. É bastante coisa para fazer e cada paciente de câncer faz do seu jeito. Isso não quer dizer que todos nos tornamos pacientes de câncer profissionais; alguns de nós de fato se tornam, enquanto outros não. Mas, em todos os casos, a doença exige bastante atenção. “Ela precisa ter uma atitude positiva. Preciso falar isso para ela.” - Se você me pegar em um dia ruim e me disser que preciso ter uma atitude positiva, não lhe agradecerei. A atitude de um sobrevivente, em contraste a uma “atitude positiva” simplista, é realisticamente esperançosa, mas há bastante espaço para sentir-se revoltado. “Será que devo oferecer ajuda?” - Sim! Abençoo muito as pessoas que me disseram: “Me liga se eu puder ajudar em alguma coisa”. Suponho que todas as ofertas sejam sinceras e chegará o dia em que telefonarei. Ainda não liguei para todas essas pessoas, principalmente porque a autossuficiência (minha e da minha esposa, juntos) por enquanto tem dado conta. Mas já pedi ajuda para transporte, e outra vez um amigo passou a tarde toda em casa, esperando o técnico que iria consertar a máquina de lavar. Em relação a receber comida, alguns de nós gostamos e outros não. Alguns pacientes de câncer recebem ajuda de amigos que lhe dão comida (mas é bom concordar com isso antecipadamente), cortam a grama do quintal e até mesmo fazem companhia durante as sessões de quimioterapia. “Será que devemos incluir essa pessoa nos pedidos de oração?” - Posso falar por mim mesmo que agradeço muito essa iniciativa. “Antes éramos amigos, mas agora parece que nosso relacionamento esfriou.” - Já vivenciei essa questão de ambos os lados. De fato, há um afastamento por parte dos pacientes de câncer. No meu caso, com certeza, tenho algumas cartas não respondidas, pelas quais devo um pedido de desculpas, de pessoas com as quais realmente me importo. Abençoo aqueles que são persistentes e escreveram ou enviaram cartões de novo. Provavelmente, seu amigo não está se preparando para partir. A fadiga, como mencionei, pode ser o motivo do afastamento observado, assim como a nova importância das prioridades, e nós, pacientes e sobreviventes de câncer, falamos sobre isso uns com os outros. Escolhemos, muitas vezes cons-

cientemente, quais amizades são prioridades para nós. Pode ser que seu amigo tenha outros amigos que, por quaisquer razões, têm prioridade. Pode ser também que você tenha sido insensível ou tedioso, ou talvez você tenha tocado em algum dos pontos problemáticos mencionados neste trabalho. Não sei mais o que dizer. Por favor, procure entender. “Que desastre para nosso ambiente de trabalho! Essa pessoa nunca mais será um bom profissional.” - Quase todos nós, quando estamos em idade ativa, queremos ser produtivos. Muitos de nós temos experimentado um grande crescimento pessoal durante a batalha contra o câncer e isso pode nos ajudar no futuro ao lidar com os problemas no ambiente de trabalho. Minha amiga Betty conhece histórias de sucesso fabulosas. “Depois de tudo isso sobre o que posso fazer errado ou razões pelas quais meu amigo pode se afastar de mim, pergunto: afinal de contas, uma pessoa com câncer quer ou não ter amigos?” Sim! Sim! Sim! Agora, vou deixar essas reflexões de lado e me concentrar na história bíblica da filha de Jairo, que é bastante conhecida. Uma garotinha (podemos chamá-la de Princesa) está tão doente que as pessoas estão dizendo que está morta. Seu pai, cuja posição na sociedade era bastante favorável, não é orgulhoso demais para ir a Jesus e implorar a ele que a salve; também não é tão orgulhoso a ponto de protestar quando uma mulher (que podemos chamar de Flo2) para Jesus no meio do caminho e é elogiada por sua fé. Além disso, Jairo não parece se incomodar quando Jesus lhe diz para ter fé exatamente no momento em que Flo é apresentada como um modelo de fé. Quando as pessoas começam a dizer que Princesa está morta e os lamentadores começam a chorar, podemos dizer que, independentemente dos fatos biológicos (aos quais não temos acesso) e do resultado final, a Princesa está socialmente morta. Um cientista social usaria o termo morte social com mais exatidão do que eu, mas o termo me parece apropriado.3 2 Devo este nome a um companheiro missionário. 3 Esse termo é, por vezes, usado em situações muito mais horríveis do que o câncer, como no início do Holocausto/Shoah, quando as pessoas foram segregadas da sociedade e, uma vez “mortas” para a sociedade, podiam ser assassinadas. Não quero comparar um horror com outro, mas não tenho outro termo senão “morte social” para descrever o que ocorre com a Princesa na história e algumas pessoas com câncer hoje.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 15


»

Na medida em que tenho lido a Bíblia na América Latina, aprendi a apreciar o fato de que as curas de Jesus também são as curas de uma comunidade

Princesa está socialmente morta dentro daquelas quatro paredes. Jesus chega e toma uma medida para respeitar a integridade da família de Princesa ao mandar para fora os espectadores não essenciais. Ele também respeitará a integridade da família ao não chamar a Princesa de filha (tinha chamado Flo de filha, afirmando uma conexão com ela). Jairo tinha solicitado uma imposição de mãos, mas Jesus dá um toque especial à Princesa, segurando sua mão e tornando-a uma parceira em sua própria cura. Em seguida, diz as palavras que, mais tarde, seriam lembradas no idioma original: “Menina, levanta-te”. A menina se levanta e põe-se a andar. Mas a história não termina por aqui. Em todas as histórias de cura de Marcos, alguma coisa acontece após a própria cura, um tipo de confirmação de que a cura realmente aconteceu. A sogra de Pedro serve uma refeição, o paralítico carrega sua cama para casa, Jesus conversa com Flo, etc. Algo de fato precisa acontecer nesse caso. Afinal de contas, o que significa algo que era pensado ser um cadáver sair por aí andando? Um cadáver pode, afinal de contas, arrotar e continuar sendo um cadáver. No mundo mágico da Galileia do século I, as pessoas poderiam achar que um cadáver perambulando para lá e para cá pudesse perfeitamente ser um truque macabro. Agora Jesus diz palavras tão simples que normalmente adicionamos mais palavras ao traduzi-las: dêem-lhe de comer. Ao fazer isso, passariam a tratar Princesa como uma pessoa viva de novo. Dêem-lhe de comer, porque ela pertence à terra dos vivos. Dêem-lhe de comer, pois é um membro vivo da sua família. Dêem-lhe de comer, porque, por um dia ou uma vida in16 Alvorada

teira, a morte foi derrotada e a vida prevalece. Uma cura é a cura de um indivíduo, mas, na medida em que tenho lido a Bíblia na América Latina,4 aprendi a apreciar o fato de que as curas de Jesus também são as curas de uma comunidade. Dar comida à filha de Jairo a reintegra à sociedade e começa a reverter a morte social imposta sobre ela. Curar uma menina de 12 anos em uma sociedade em que as mulheres se casavam aos 13 anos e se tornavam mães aos 14 é devolver à sociedade um membro que contribui, do qual se pode esperar trabalho e os bebês que a comunidade necessita (o futuro marido pode até merecer uma crítica feminista, mas, dentro das condições da antiguidade, não era fácil 4 O Evangelho de Marcos tem sido muito lido e interpretado na América Latina. Meu intérprete de Marcos latino-americano preferido é o mexicano José Cárdenas Pallares.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

para a sociedade manter seu nível populacional). Curar uma mão atrofiada (Mc 3.1-6) é aliviar a comunidade de um ônus com o qual não pode arcar (um problema nas comunidades pobres hoje) e dar à sociedade um membro que contribui. Na medida em que oro por minha própria situação, oro pela cura do meu corpo e por conforto ao meu espírito, mas também pelas pessoas próximas a mim, que têm sido afetadas pela minha doença, assim como pela cura para o tecido social que tem sido afetado pelo câncer.  Archibald M. Woodruff trabalhou no Brasil no Seminário da IPIB, em São Paulo, em algumas igrejas do Presbitério São Paulo e na Pós-Graduação em Ciências da Religião, na Universidade Metodista de São Paulo por 22 anos. Archibald e sua esposa Linnes Cook voltaram para os EUA em 2009. Em fevereiro de 2012 Archibald faleceu em sua terra natal. Erica Silveira Campos é da IPI de Vila D. Pedro I , em São Paulo, SP


A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 17


SECRETARIA DA FAMÍLIA Você que cria, inspira confiança, promove, protege, disciplina, abençoa, ama e ensina o seu filho no caminho em que deve andar terá uma probabilidade muito maior de ver seu filho no caminho certo

Probabilidade 18 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


© Dmitry Naumov - Fotolia.com

ALEX SANDRO DOS SANTOS

“E não nos cansemos de fazer o bem, pois, no tempo próprio, colheremos, se não desanimarmos” (Gl 6.9). Nunca desista de fazer o bem. Por mais que você esteja cansado, mantenha-se firme em suas posturas. Pense nas probabilidades. Ao semear, a probabilidade de colher é grande. Se plantarmos, a única coisa que pode impedir a colheita são situações circunstanciais e inesperadas, chuva de granizo, pragas e coisas semelhantes. O escritor do livro de Provérbios deixou orientações sobre um bom procedimento e seus possíveis resultados. Por mais que seja difícil, lembre-se que, ao tomar a decisão certa, agir com prudência e pensar antes de falar, há uma probabilidade muito grande de tudo caminhar bem. Contudo, ao trilhar caminhos errados, agir com imprudência e falar sem pensar, há uma grande probabilidade de tudo caminhar mal. Cremos que Deus está no controle, mas não sabemos o que vai acontecer. Não sabemos as dificuldades que enfrentaremos em nossa família. Poderíamos perguntar sem saber a resposta de fato: o casamento superará as crises? Nossos filhos permanecerão nos caminhos de Deus? Podemos fazer planos com nossa renda familiar, pois há segurança no trabalho? Como viver confiante em questões que não dependem somente de nós? Essas e muitas outras perguntam não têm resposta. Como não sabemos o que ocorrerá no futuro, precisamos focar nossa expectativa e vontade nas atitudes do presente. Infelizmente, não significa que, ao fazemos tudo certo, as coisas acontecerão da forma que planejamos. Pais íntegros podem ter filhos rebeldes. Cônjuges tementes a Deus podem sofrer com um parceiro indiferente. Filhos consagrados podem ser pressionados por pais agressivos. Podem passar pelas mesmas dificuldades, mas a probabilidade é menor. Ao agirmos de for-

ma diferente da Palavra, a probabilidade de dar errado é maior. As más ações tornam a probabilidade das tragédias serem maiores. Como exemplo, podemos observar que um pai que dialoga com seu filho sobre sexo, drogas e negócios, ensinando-o sobre qual a postura que deve ser adotada, terá uma probabilidade muito maior de ver seu filho vivendo com integridade. Uma mulher que mantém o controle e age com sabedoria, ao invés de reagir pelo impulso, terá a probabilidade de solucionar os conflitos com menos feridas. A palavra dita na hora certa e da forma certa tem uma probabilidade maior de alcançar seu objetivo, enquanto a impetuosa provavelmente causará mais problemas. Em um lar em que os votos familiares são honrados e os filhos são ensinados acerca disso, há uma probabilidade maior dos filhos construírem famílias mais sólidas. Diante de um quadro crítico na empresa, na família ou em qualquer outro lugar, uma palavra branda tem a probabilidade muito maior de acalmar a situação, assim como uma palavra áspera e provocativa pode piorá-la (Pv 15.1). A insensatez de respondermos precipitadamente aumenta a probabilidade de cometermos grandes erros (Pv 18.13). Aquele que vive implicando, na tentativa de tirar satisfação de tudo, aumenta a probabilidade de perder seus amigos (Pv 10.19). Você que cria, inspira confiança, promove, protege, disciplina, abençoa, ama e ensina o seu filho no caminho em que deve andar terá uma probabilidade muito maior de ver seu filho no caminho certo (Pv 22.6; 10.4; 13.1,24; 19.18; 29.17). Você deve exercer seu papel com responsabilidade e integridade na confiança de que Deus está no controle. Se você quer colher bons frutos na vida familiar, fica a dica: comece a plantá-los. O Rev. Alex Sandro é secretário nacional da família e pastor da 1ª IPI de Machado, MG. É , casado e tem 2 filhos

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 19


PSICANÁLISE E ESPERANÇA

A importância do

pai

para o

desenvolvimento infantil

© BlueSkyImages - Fotolia.com

LEONTINO FARIAS DOS SANTOS

A composição da família na atualidade difere substancialmente de seu conceito no passado. No sistema de família patriarcal, o chefe de família era, ao mesmo tempo, o marido de uma ou mais mulheres, o provedor do lar, o proprietário de bens, escravos e filhos, o criador de normas. Nesse sistema, o autoritarismo era uma de suas características, sem manifestações afetivas quanto aos filhos, chegando mesmo a ser indiferente com o seu desenvolvimento como indivíduo. Na atualidade, a família adquiriu formatos bem diferenciados. Da família patriarcal, composta de muitos membros, reduziu-se ao tipo nuclear (pai, mãe, filhos), com variações antes inconcebíveis. A família hoje tem sido composta por filhos e mais de um pai; filhos e mais de uma mãe; filhos sem mãe e sem pai, criados por avós; mãe e filhos; filhos sem família. A família já não é apenas considerada a partir dos laços de sangue entre os seus membros, mas também pelas escolhas afetivas. Tal situação tem sido decorrente das rápidas e profundas mudanças sociais que afetam diretamente o núcleo

familiar, bem como da nova moral que vem surgindo na sociedade. Apesar dessa realidade tão diferenciada da situação da família e dos filhos nos vários contextos, é fundamental que pai e mãe participem e contribuam diretamente para o bom desempenho do desenvolvimento dos filhos, uma vez que, na sociedade, possuem imagens e papéis significativos. Na escola, por exemplo, uma criança sem pai é muitas vezes cobrada pelos colegas, causando constrangimento.


A importância da função paterna

É indiscutível a importância do papel do pai no desenvolvimento da criança e a necessária interação entre pai e filho. Essa interação é decisiva para o desenvolvimento cognitivo e social, pois facilita o desempenho escolar e a integração da criança na comunidade. Este fator é decisivo no desenvolvimento da psicoafetividade e, consequentemente, para as relações sociais da criança. A função paterna inclui o papel de estabelecer limites, ajudar o filho a ter noção de certo e errado, com atitudes decisivas para a formação do caráter. Há outro aspecto que não pode ser ignorado: a presença do pai mostra à criança que, além da mãe, a figura paterna também é significativa, numa visão psicanalítica. A “ausência” da mãe em relação ao filho, com a presença significativa do pai no relacionamento pai-filho-mãe, contribui para que o bebê tenha vida própria, independentemente da mãe. Trata-se de uma “separação”, isto é, de um corte necessário para o bom desenvolvimento infantil.

A contribuição das teorias psicológicas

Do ponto de vista científico, é fundamental o papel da figura do pai no desenvolvimento e psiquismo infantil. Freud, em seu trabalho “Leonardo da Vinci e uma lembrança infantil”, afirma que, na trama familiar, “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”. Trata-se de um pressuposto estruturante do pai, presente a partir da instauração do complexo de Édipo. Estudos da psicossomática, que versam sobre a interação entre a saúde psíquica e os problemas físicos, revelam que “a imagem

do pai é aquela de quem costuma impor limites aos filhos. Então, faz sentido a ideia de que sua ausência esteja relacionada a transtornos alimentares, por exemplo”, diz Maria Rosa Spinelli, da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP). De acordo com a visão de especialistas ligados à ABMP, problemas de obesidade ocorrem em crianças cujos pais estão sempre ausentes em seu desenvolvimento e formação. Também o afastamento do pai tem resultado em consequências para a aceleração do amadurecimento da sexualidade nas meninas. Tem sido reconhecido por esses especialistas que a consolidação das relações familiares ajuda a retardar a menarca (primeira menstruação da menina). Por outro lado, aquelas que convivem satisfatoriamente com os pais nos cinco primeiros anos de vida tendem a entrar na puberdade mais tarde. Aberatury (1991), em seu texto “Paternidade: um enfoque psicanalítico”, considera que a presença do pai entre os seis e doze meses de vida é relevante quando se dá o contato corporal entre o bebê e o pai, no dia-a-dia, sendo referência na organização psíquica da criança, tendo em vista sua função estruturante para o desenvolvimento do ego. Ao atingir o segundo ano de vida, onde já existe a imagem de pai e mãe, a figura paterna é acentuada e tem a função de apoiar o desenvolvimento social da criança. De modo geral, vários especialistas (psicólogos, psicanalistas) concordam que, em famílias sem a presença do pai ou nas quais há pouca interação com os filhos, estes têm desempenho cognitivo abaixo do normal, com probabilidades de atraso escolar. Diversos estudos (de psicólogos e neurologistas) também têm revelado que a rejeição do pai ao filho gera ansiedade e insegurança, tornando a criança hostil e agressiva em relação às demais. Lamentavelmente, essa rejeição pode também provocar frequente dor emocional durante quase toda a vida. Chega-se mesmo a dizer que o carinho de um pai contribui tanto ou mais para o desenvolvimento da criança quanto o carinho da mãe.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 21


»

A figura masculina no desenvolvimento infantil

A presença saudável do pai, para o menino, ajuda-o a resolver sua própria masculinidade. Quanto às meninas, o pai é a imagem do que o homem é e como ele deve ser. Ele pode ser modelo de homem a ser amado ou odiado; modelo para merecer ou não a sua confiança

Os filhos sempre necessitam da presença dos pais. A figura masculina é fundamental como apoio e segurança, como referencial de valores que sempre cabe ao pai transmitir. Os jovens procuram no pai um modelo com o qual possam se identificar. Na ausência do pai, os jovens podem migrar para outros modelos, nem sempre recomendáveis. Reconheçamos que o pai é quem tem condições naturais, como referência, para o discernimento necessário para que a criança se situe em relação à presença do ser masculino na família. Para o filho, em particular, o pai deve ser o modelo de masculinidade. Não se espera que a mãe seja esse modelo. A presença saudável do pai, para o menino, ajuda-o a resolver sua própria masculinidade. Quanto às meninas, o pai é a imagem do que o homem é e como ele deve ser. Ele pode ser modelo de homem a ser amado ou odiado; modelo para merecer ou não a sua confiança.

O pai ausente

Quando nos referimos ao “pai ausente”, não significa aquele que está fisicamente separado do filho e quase nunca consegue vê-lo. Efetivamente o pai ausente aqui mencionado é aquele que quase ou nunca contribui para a formação e educação dos filhos. Em muitas situações, o pai está fisicamente presente, porém indiferente ao desenvolvimento do filho. Essa indiferença pode estar presente no dia-a-dia da criança, quando o pai nunca encontra tempo para carinhos e elogios ou sempre lhe falta tempo para estudar, brincar, jogar, passear com o filho. É fundamental que o pai participe da vida do filho, de seus momentos importantes, sejam estes bons ou ruins. Procurar compreender o filho em seus momentos adversos, com orientações sobre sua vida, é sempre uma postura que acrescenta

22 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


muito para o bem-estar e desenvolvimento da criança. Uma vez efetivada a presença do pai, a criança, certamente, precisará de uma figura paterna para fortalecer o seu desenvolvimento. Uma família que tem um pai ausente poderia até inserir a presença de alguém para suprir essa carência de masculinidade. Nessas circunstâncias, seria um tio, um avô, um amigo, alguém! Onde encontrar o modelo ideal?

A importância do pai, do ponto de vista bíblico

A tradição bíblica dá ênfase à presença do pai e da mãe na família e no desenvolvimento do filho. O pai, em especial, era o provedor material, moral e espiritual do filho. Ele o orientava, dava-lhe segurança e o abençoava. O pai deveria ser uma referência para toda a família e se constituía em modelo, a exemplo de Isaque diante do problema entre Esaú e Jacó. Conclui-se dos textos bíblicos que o pai é fundamental para a formação

da vida religiosa na família. O pai pode ser modelo de relacionamento com Deus, o que nem sempre acontece. Reconheçamos que, na atualidade, o pai vem dividindo com a esposa tarefas domésticas; vai a reuniões da escola dos filhos, leva-os a terapias, a aulas de natação, dança, futebol, judô, etc , num contexto em que ocorrem transformações históricas e sociais, com novas configurações familiares e alterações nos papéis do homem e da mulher. Torna-se, porém, preocupante, o futuro da figura do pai na família. Mãe e pai têm deixado o lar em busca de recursos para sobrevivência, privando os filhos de sua presença. Os que cuidam dos filhos, nessa situação, porém, nem sempre são modelos ideais para o suprimento da figura da mãe ou da figura do pai na família.

»

Mãe e pai têm deixado o lar em busca de recursos para sobrevivência, privando os filhos de sua presença. Os que cuidam dos filhos, nessa situação, porém, nem sempre são modelos ideais

O Rev. Leontino, psicanalista, é pastor da IPIB e professor da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPIB (FATIPI). Casado e pai de 2 filhos

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 23


RELACIONAMENTO CONJUGAL

Quando chegam os

filhos

24 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


© Andy Dean - Fotolia.com

O nascimento do primeiro filho modifica abruptamente o ritmo de vida do casal. As obrigações aumentam, os conflitos também. Diferenças de opiniões agora parecem mais sérias. O tempo fica bem mais curto e, se não for bem administrado, aspectos também fundamentais da vida do casal são negligenciados.

WÍVIAN L. C. BROJATO

Muitos casais têm optado na atualidade por não ter filhos. A vida corrida, o desejo de dedicar-se com exclusividade à carreira, os altos custos financeiros e emocionais para a educação de uma criança têm motivado muitos a desistirem do sonho de ser pais. A partir desta realidade, gostaria de fazer alguns apontamentos. O casal sem filhos, em geral, dispõe de mais tempo e flexibilidade para fazer planos, para organizar o tempo e as prioridades. A chegada dos filhos quase sempre quebra de maneira definitiva esta rotina sossegada e quase despreocupada. Porém, a despeito de todas as dificuldades e responsabilidades que a criação de uma criança impõe aos pais, os filhos são presentes do Senhor e alegram uma família. Uma família não precisa ter filhos para ser completa. A família já é completa com o casal. Mas os filhos são bênçãos adicionais que o Senhor nos dá. O filho é uma dádiva de Deus, com certeza, mas, se não houver

bastante maturidade, ele pode ser fonte de desentendimentos para o casal. Por este motivo, é importante que o casal esteja preparado e estruturado no momento em que este importante presente chega ao lar. Não existem receitas prontas quando tratamos da construção da vida particular e familiar das pessoas, mas há algumas orientações que podem ajudar bastante. Cada casamento é único, mas, comumente, o início de uma relação conjugal, embora seja um momento mágico, gostoso, marcado por grandes descobertas, é também um momento bastante conflituoso. Para alguns casais, mais conflituoso do que gostoso. Além disso, nos primeiros anos do casamento, ainda a sós, cada membro do casal terá a oportunidade de conviver integralmente com a companhia do outro, de consolidar o laço que se formou com o matrimônio. Se pudéssemos traçar um plano ideal, o melhor seria que o casal permanecesse casado por algum tempo, para depois decidir aumentar a família. Após passar pelo difícil período de ajustes, é provável

que ambos encontrem-se mais amadurecidos e alicerçados para incluir no seio da família um terceiro membro, que certamente exigirá dos pais bastante maturidade e a realização de mais ajustes e adaptações. O nascimento do primeiro filho modifica abruptamente o ritmo de vida do casal. As obrigações aumentam, os conflitos também. Diferenças de opiniões agora parecem mais sérias. O tempo fica bem mais curto e, se não for bem administrado, aspectos também fundamentais da vida do casal são negligenciados. Homem e mulher precisam adaptar-se a novos papéis até então desconhecidos, o de “pai” e o de “mãe”. Porém, a chegada dos filhos não precisa representar a morte da relação conjugal harmônica e romântica. É possível continuar a ter uma vida conjugal saudável, mas, para isso, é necessário que as novas demandas desta etapa sejam adequadamente administradas. Alguns cuidados são úteis para que, com a chegada dos filhos, não chegue também uma série de conflitos e desentendimentos entre homem e mulher.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 25


A relação mãe-bebê

Nos primeiros dias e meses de vida da criança, é comum e natural uma relação muito estreita entre mãe e bebê. A mãe deixa de lado todas as suas outras funções dentro do lar e dá atenção quase exclusiva ao pequeno ser. Isto ocorre porque, num primeiro momento, o recém nascido tem uma série de necessidades que precisam ser atendidas com presteza. Porém, gostaria, de acerca disto, fazer as seguintes observações: É fundamental que a mãe inclua o pai nesta relação tão importante. Esta díade inicial (mãe-bebê) deve ir se tornando uma tríade (mãe-bebê-pai). É comum as mulheres tenderem a centralizar todos os afazeres no bebê. Isto é ruim porque torna a relação do bebê com o pai distante, além de sobrecarregar a mãe. Também é possível que o pai comece a se sentir enciumado. A mãe deve envolver o pai nos cuidados com o bebê como o banho, a troca de fraldas, a alimentação, etc. Além de favorecer o desenvolvimento de uma bonita relação de intimidade entre pai e filho, esta atitude também evita que o pai se sinta excluído. Quanto aos pais, é importante que eles se envolvam e dividam as responsabilidades e tarefas com a esposa, ajudando-a assim a não se sentir sobrecarregada. É preciso ter equilíbrio e saber o momento de ir, aos poucos, voltando para as atividades habituais. Nos primeiros dias, a mulher naturalmente coloca de lado todas as suas funções e dedica-se quase que exclusivamente ao recém nascido. Esta atitude é comum, esperada e precisa ser compreendida pelo pai. Mas é preciso saber a hora de ir voltando gradualmente às outras atividades. Muitas mulheres prejudicam sua relação conjugal porque não conseguem conciliar seu papel de mãe com o de mulher e esposa.

O tempo

É certo que filhos exigem tempo e dedicação dos pais. Existem escolas, creches e outras instituições que

26 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

muito auxiliam os pais e mães que trabalham fora, porém, mesmo quando contam com o serviço de alguma das citadas instituições ou de uma babá, os pais não podem eximir-se de dedicar à criança tempo e atenção. Hoje vemos que muitos pais enfrentam problemas porque delegaram a educação e os cuidados que deveriam ser dispensados pela família para terceiros. As escolinhas são importantes auxiliadoras, mas não podem jamais substituir o importante papel do pai e da mãe. Porém, os filhos não devem exaurir todo o tempo dos pais. O casal precisa ter um tempo a sós, para namorar, fazer programas juntos, etc. É importante desde cedo explicar à criança que algumas atividades não são adequadas para ela e que os pais possuem alguns momentos que são só deles. O casal precisa se organizar e estabelecer prioridades para que nem filhos nem a relação conjugal sejam prejudicados. Se possível, os pais devem ter um adulto de confiança com quem possam deixar a criança vez ou outra para saírem apenas os dois. Mesmo com todas as atividades extras que a paternidade e maternidade acarretam, os dois não podem deixar de primar por momentos a sós.

O espaço

Tão importante quanto ensinar à criança sobre o tempo que os pais tem para si, é conscientizá-la de que há também alguns espaços que não pertencem a ela. O quarto do casal não é o ambiente adequado para a noite da criança. Algumas famílias, por motivo de falta de espaço ou por comodidade, optam por deixar as crianças dormirem no quarto do casal. Aconselho os pais a evitar ao máximo tal prática.

A educação

A educação dos filhos deve ser administrada pelos pais. Conselhos dos mais experientes são ouvidos e levados em consideração, mas a última palavra é sempre do casal. Interfe-


rências não devem ser admitidas. Os filhos são responsabilidade conferida por Deus ao casal, e não aos avós, parentes, etc. É bastante comum acontecerem discórdias quanto à maneira de educar em diversos aspectos. É necessário que o casal dialogue e chegue a um ponto comum. Orientações antagônicas são extremamente inadequadas para a educação da criança, deixando-a confusa a ansiosa.

A aliança

Creio ser este ponto de fundamental importância, quando falamos de filhos e relacionamento conjugal. Mulher e homem que formam um casal não devem jamais esquecer que possuem uma aliança, um laço que não se desmancha. Todos os conflitos e problemas que surgem naturalmente em um lar com crianças devem ser resolvidos com vistas a esta aliança. Marido e mulher formam uma só carne e, quando vivem em união e harmonia, os filhos se sentem seguros e protegidos. É comum e até natural que a criança por vezes tente se aliar a um dos pais e até rivalizar com o outro. Esta atitude corriqueira dos pequenos pode provocar discórdias importantes, se o casal não tiver maturidade e olhos voltados para a aliança que fizeram. Os filhos estão sendo preparados para um dia serem independentes e formar sua própria família. O casal precisa alimentar constantemente o amor e o companheirismo. Afinal, permanecerão juntos por toda a vida, inclusive quando os filhos forem embora. Podemos concluir que filhos são uma dádiva e que não representam grandes problemas para a relação conjugal, se houver por parte do casal o firme compromisso de manter a aliança, além de sabedoria e maturidade para lidar com as adversidades, sem deixar jamais de cultivar dia a dia uma relação de amizade e intimidade.  Wívian, psicóloga clínica, casada, é da 1ª IPI de Cruzeiro, SP

O ninho vazio Existe um momento em que os filhos vão trilhar o próprio caminho. Vão estudar em outra cidade, casam-se, enfim, saem de casa. Este momento tem sido, em uma série de casos, dramático para as famílias e leva o nome de fase do “ninho vazio”. A vida do casal volta a ser o que era no princípio, quando eram somente os dois. Se o casal teve equilíbrio e conseguiu manter o relacionamento e companheirismo, admiração mútua, esta fase vai ser experimentada, a partida dos filhos vai ser sentida e elaborada, e homem e mulher vão se adaptar harmonicamente à nova fase a dois. Porém, se, ao longo dos anos, a relação com os filhos não foi estabelecida de maneira equilibrada, se um ou ambos os pais “viveram” apenas para os filhos, neste período, uma série de problemas irá se iniciar: • Intenso sofrimento por parte dos pais: Quando os filhos são o sentido da vida do casal (ou de um dos dois), a partida deles torna-se extremamente traumática. A mãe que viveu apenas para o filho sente que sua vida não tem mais razão de ser. • Desestabilização do casamento: O casal que há anos não experimenta uma vida de intimidade se percebe perdido quando os filhos saem de casa. Ambos não sabem mais o que fazer com o tempo livre. O casamento foi estruturado sobre os filhos e a saída destes de casa torna a relação estranha. • Dificuldades para os filhos: Os filhos também sofrem os prejuízos quando os pais não souberam priorizar sua relação conjugal. Em famílias assim, é comum os filhos serem inseguros, além de enfrentarem dificuldades muito grandes para conseguir “deixar” os pais para formar sua própria família. Assim, ao investir tempo cuidando da própria relação conjugal, os pais estão proporcionando modelos para que os filhos desenvolvam relacionamentos conjugais felizes. É através da relação amável, amistosa e de intimidade e respeito que observam nos pais que os filhos tornam-se adultos capazes de estabelecer um casamento harmonioso. O filho que não teve este modelo em casa provavelmente encontrará mais dificuldades. Além disso, o filho que convive com pais que possuem um casamento feliz, onde existe confiança, amizade e cuidado, deixará a casa com maior tranquilidade, pois entende que, embora seja amado e importante, não é necessário para a manutenção do casamento e do bem estar dos pais. Nesta nova fase da vida da família, em que os filhos deixam o lar e vão constituir a própria família, o casal que não cultivou a vida a dois durante os anos em que os filhos estiveram em casa encontrará dificuldades. Precisará reaprender a estar a sós, a desfrutar da companhia um do outro e a viver de fato como um casal.


VIDA CONJUGAL

© Tijana - Fotolia.com

A identidade conjugal 28 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


» JOSIANE BARRIOS

A família é um projeto de Deus! A Palavra de Deus é clara a respeito da profundidade e verdade quando descreve a união de um homem com uma mulher através do casamento, desfazendo vínculos e criando outros novos vínculos, conforme Gênesis 2.24: “Deixa o homem pai e mãe e se une a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Gozando da bênção da fecundidade, os filhos vêm coroar a nova família, na concretização do projeto de Deus. O rei Salomão sabiamente descreve: “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, mas falarão com os seus inimigos à porta” (Sl 127.3) A responsabilidade pela educação é sagrada e os pais devem confiar no Senhor para serem capazes de formar filhos que amem a Deus sobre todas as coisas e o sirvam com inteireza de coração. A chegada dos filhos exige adaptações e redirecionamento de planos e sonhos. E este é o aspecto essencial para que casal não perca a sua identidade. A tendência natural de cada um dos cônjuges é ficar envolvido com o filho. A mãe, no seu instinto maternal, releva seu papel de mulher e esposa; o pai, em seu papel provedor e protetor, pode se auto-relevar, validando a postura da esposa. Em consequência, o projeto de Deus para o casal é distorcido. Priorizam outras coisas deixando a singeleza, a pureza e a cumplicidade. Fazem como nossos primeiros pais que, cozendo

A chegada dos filhos exige adaptações e redirecionamento de planos e sonhos. E este é o aspecto essencial para que casal não perca a sua identidade.

folhas de figueira e cobrindo-se, acusaram-se mutuamente (Gn 3.7). A vida em família, em seu ciclo, com os filhos chegando na adolescência, caracteriza-se pela necessidade da presença marcante da figura feminina e masculina. Tendo seus filhos amadurecendo em vários aspectos, a mãe pode assumir o papel centralizador e manipulador, e o pai aceitar a condição de estar à beira do caminho, com inserções esporádicas no contexto familiar, gerando sentimento de rejeição, desrespeito e desvalorização no seu papel. Na tentativa de reconfigurar a autoridade paterna, a mãe assume posturas de interlocução entre os filhos e o marido, chegando à omissão e às distorções. Entre o casal, o conformismo e acomodação são aspectos que anulam a identidade já prejudicada. Com os filhos na fase adulta, encerra-se o ciclo. A casa se encontra vazia! Este é o momento da introspecção. O indivíduo volta-se para si e percebe o quanto de sua própria identidade foi perdida. Ao contemplar seu cônjuge, não o reconhece como sua própria carne e, como disse um pensador, se questiona: “Quem me roubou de mim?”. Nos atendimentos pastorais, observamos este quadro em uma porcentagem elevada nas famílias que nos procuram. A ajuda profissional em sua maioria é necessária. No entanto, como cristãos, sabemos que o resgate desta identidade vem através da ação poderosa do Senhor, o planejador e executor deste projeto, que é a família. Enquanto pastora, sem querer uma estagnação no assunto, compartilho alguns caminhos que se apresentaram eficientes neste processo.

Primeiro caminho: Comunicação O relacionamento verticalizado é essencial para que o Espírito Santo opere no coração de forma individualizada. A busca de uma espiritualidade madura, na intimidade da vida devocional, é o caminho para a restauração da comunicação com o Pai e consequente alinhamento de sua identidade perdida. Com o Senhor consumando a restauração individual, ambos estarão prontos para buscar a restauração da identidade enquanto casal. Segundo caminho: Compartilhamento O ensino segundo Efésios 4.25-32 remete aos seguintes aspectos: • Dizer a verdade em amor (v.15-25); • Dizer palavras que edificam e não destroem (v.29-30); • Dizer palavras que perdoam e trazem cura (v. 31-32). Terceiro caminho: Criatividade Buscar situações de resgate de momentos privativos ao casal, a sós, como viagens, jantares, passeios e momentos de intimidade e romantismo. Ressalto que este processo pode acontecer em qualquer fase da vida familiar. Bastam os corações estarem contritos e compungidos diante do Pai e do cônjuge. Ao longo da jornada ministerial, o Senhor tem me permitido testemunhar a ação do Espírito Santo na restauração de vários núcleos familiares, para a glória de Deus! A Reva. Josiane, especialista em aconselhamento e cuidado pastoral, é pastora titular da 4ª IPI Londrina (Jardim Bandeirantes), PR. É casada e mãe de 2 filhos.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 29


© bramgino - Fotolia.com

RELACIONAMENTO

Divórcio 30 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


DANIEL DUTRA

Casar é fácil, o difícil é permanecer casado! É isto que comprovam os dados do IBGE. O Brasil registrou o maior número de divórcios desde o ano de 1984, quando se iniciaram as estatísticas de registro civil. O número de divórcios no Brasil chegou a 351 mil em 2011, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram 241 mil. Isto porque ainda não temos os dados atualizados do corrente ano. As causas deste aumento de divórcio são várias: facilidade da lei, fragilidade das relações, traição, ciúme, dinheiro e até a famosa incompatibilidade de gênios. Até as redes sociais como o Facebook já levaram a culpa por esta situação. Destaca-se a união entre o ex-jogador Ronaldo e a apresentadora Daniela Cicarelli, que acabou em menos de três meses depois do luxuoso casamento em um castelo na cidade de Chantilly, nos arredores de Paris.

O ensino de Jesus

Jesus falou sobre o divórcio. Alguns fariseus se aproximaram dele com objetivo de conseguir provas e apanhá-lo em alguma falha. Perguntaram: “Um homem pode mandar sua esposa embora por qualquer motivo?” (Mt 19.3). Os fariseus não buscavam uma resposta, mas armavam uma cilada para Jesus. O que os fariseus queriam era que Jesus se tornasse intolerável em termos políticos e religiosos. Foi nessa mesma região que João Batista foi preso e degolado por denunciar o casamento ilícito

de Herodes com sua cunhada Herodias. A pergunta dos fariseus é capciosa, pois, se Jesus dissesse que era proibido o divórcio, seria entregue nas mãos de Herodes. Porém, se ao contrário, por temer a Herodes, dissesse que era permitido o divórcio por qualquer motivo, entraria em desacordo com a lei de Deus: “Será que pela nossa Lei um homem pode, por qualquer motivo, mandar a sua esposa embora?” (Mt 19.3). Jesus respondeu com outra pergunta: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (Mt 19.45). Antes de falar de divórcio, Jesus falou de casamento. Antes de tratar do assunto inquirido, Jesus os levou de volta para as Escrituras. As palavras hebraicas homem e mulher (ish e ishá) revelam que os dois foram feitos um para o outro. O propósito de Deus é que, no casamento, o homem e a mulher se tornem uma só carne, numa intimidade tal que não pode ser separada. Eles eram dois antes do casamento, mas se tornaram um. Apesar de continuarem sendo duas pessoas distintas, elas passaram a ser uma só carne. A união conjugal é a mais próxima e íntima relação de todo relacionamento humano. A união entre marido e mulher é mais estreita do que a relação entre pais e filhos. O relaciona-

mento dos filhos com os pais é temporário e deve ser rompido na hora certa. O relacionamento do marido com a esposa é permanente e jamais deve ser quebrado. Dificilmente ouvimos pais dizendo que abandonariam seus filhos. Porém, é comum vermos um cônjuge abandonando o outro. Os filhos de uma pessoa são parte dela mesmo, mas seu cônjuge é ela mesma: “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne” (Mt 19.6). Nenhuma autoridade na terra tem competência para separar o que Deus uniu: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6). A Bíblia está acima de qualquer lei civil. O fato de uma pessoa estar resolvida com a lei da terra não significa necessariamente que ela esteja resolvida com a lei do céu. O casamento deve ser para toda a vida. É uma união permanente. Casados para sempre. A grande questão é a dureza do coração: “Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio” (Mt 19.7-8). O divórcio só floresce no deserto árido da insensibilidade e da falta de perdão.

O perdão é melhor do que o divórcio

Conta-se que certo casal passava por um momento de tribu-

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 31


lação em seu casamento, pois a esposa tinha descoberto um adultério em um passado antigo. Os dois decidiram viajar juntos para repensar as coisas e tomar a decisão de ficar juntos ou se divorciar definitivamente. Depois de alguns dias no hotel, a mulher escreveu um bilhete e deixou embaixo do travesseiro do marido. Estava escrito: “Eu perdoo você. Eu te amo. Vamos seguir em frente”. Aquele bilhete serviu como um bálsamo ao casamento porque a mulher decidiu perdoar e dar uma nova oportunidade ao seu cônjuge. O perdão é sempre sacrificial! Como o perdão de Deus que custou o sacrifício de Cristo, quem perdoa arca com o custo do perdão. Seja o custo econômico: quem perdoa fica com o prejuízo. Seja o custo emocional: quem perdoa engole a mágoa ou qualquer forma de ressentimento. Seja o custo moral: quem perdoa assume conviver com a vergonha. O divórcio acontece porque os corações não são sensíveis. O divórcio é resultado de corações endurecidos. A dureza de coração é manifesta na indisposição de obedecer a Deus e de perdoar um ao outro. Onde não há perdão não há casamento. Onde a porta se fecha para o perdão, abre-se uma avenida para a amargura, e o destino final dessa viagem é o divórcio. O perdão de Deus é constante, completo e final. Sempre que chegamos a Deus com um coração contrito, Ele está pronto a nos perdoar. Perdoamos porque fomos perdoados: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mt 6.12). Da mesma forma como Deus nos perdoa, devemos per-

» 32 Alvorada

doar. Se o nosso coração é um poço de mágoa e vingança, não podemos orar como o Senhor nos ensinou, pois estaremos pedindo juízo sobre a nossa cabeça em vez de misericórdia, condenação em vez de perdão. Na verdade, no céu só entrarão os perdoados. Logo, é impossível ser um cristão sem exercitar o perdão.

Consequências do divórcio

O divórcio é o preço pago pelos filhos pelo fracasso dos pais. O divórcio é um atentado contra a família e quem mais sofre são os filhos. As consequências amargas do divórcio atravessam gerações. Não há divórcio sem dor, sem trauma, sem feridas e sem vítimas. Psicólogos afirmam que o divórcio é mais perigoso e destrutivo do que tentar permanecer juntos. O divórcio acarreta inúmeras consequências tanto para os cônjuges separados como para os filhos. As reverberações desses danos atingem a família, os amigos, a igreja e a sociedade como um todo. Para muitos filhos, o divórcio dos pais é mais drástico do que a própria morte de um deles. Em alguns casos, o divórcio é um luto permanente de pais vivos. No divórcio, o círculo familiar se rompe, e os filhos se sentem vulneráveis e passam a ter sensações de medo, tristeza, perda, abandono e revolta. Crianças de todas as idades sentem-se intensamente rejeitadas quando os pais se divorciam. Geralmente se espera que os pais se sacrifiquem pelos filhos, e não que os filhos se sacrifiquem pelos pais. Para as crianças, o divórcio dos pais não significa uma nova chance, mas um futuro sombrio e sem esperança.

As causas do aumento de divórcio são várias: facilidade da lei, fragilidade das relações, traição, ciúme, dinheiro e até a famosa incompatibilidade de gênios.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Divórcio e novo casamento O divórcio e o novo casamento são permitidos em três situações específicas na Bíblia. A primeira situação é a infidelidade conjugal: “Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério [e o que casar com a repudiada comete adultério]” (Mt 19.9). O divórcio só é permitido quando o cônjuge infiel recusa-se obstinadamente a interromper a prática da infidelidade conjugal. A consequência desse ensino é que o cônjuge traído pode legitimamente divorciar-se do cônjuge infiel, sem se colocar sob o juízo de Deus. O propósito de Jesus não era encorajar o divórcio por esta razão, mas desencorajá-lo por qualquer outra razão. A Bíblia é enfática ao tratar esse assunto: “O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa” (Pv 6.32). A segunda situação é quando existe o completo abandono do cônjuge que não é cristão. O apóstolo Paulo orienta: “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz” (1Co 7.15). O contexto aqui não é quando se casa um crente com um descrente, mas, sim, quando se casam sem Deus e um cônjuge se converte. Se o cônjuge não aceita os princípios de Deus e abandona o lar, tornando-se irremediável a situação, então o crente está livre, pois Deus nos chama para viver em paz.

A terceira situação é quando o cônjuge morre. Paulo declara que o casamento é uma união física permanente que só pode ser quebrada por uma causa, a morte: "De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias" (Rm 7.3). Jesus já havia falado que no céu não haverá casamento. Assim, não há contradição neste aspecto: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30) Sabemos que existem pessoas cristãs sérias que fracassaram em seus relacionamentos e passaram pelas dores e lágrimas de uma separação. Podem até soar como legalismo estas três únicas cláusulas bíblicas para a legalidade do divórcio e do novo casamento. Temos consciência de outros fatores que dificultam a união permanente como, por exemplo, as agressões no ambiente doméstico. Porém temos que ter em mente que o casamento para Deus é algo permanente, sólido e frutífero. Devemos levantar sua bandeira e lutar com todas as forças pela sua continuidade: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4).  O Rev. Daniel, psicólogo, é pastor da IPI de Rondonópolis, MT. É casado e tem 1 filho.

0 www.pastordanieldutra.blogspot.com REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS LOPES, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento. FOSTER, Richard. Dinheiro, sexo e Poder. STOTT, John. Grandes questões sobre o sexo.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 33


RELACIONAMENTO

Tem crescido no mundo o número de divórcios. As igrejas não estão preparadas para essa realidade que a cada dia bate em suas portas. Precisamos nos levantar como igreja para ajudar

A

mulher e o

divórcio MARTHA DUARTE ROCHA

Tenho 57 anos e há dois anos e meio me separei, voltei para minha cidade e fui morar com uma amiga, a Helena, que carinhosamente me cedeu um espaço em seu apartamento. Cheguei aqui muito ferida, decepcionada, não havia dor maior, um sentimento de perda, impotência, frustração, incapacidade, derrota, vergonha. Com minha autoestima a zero, a vontade de sair e procurar o que fazer também estava a zero. Os dias foram passando e a necessidade de ajuda foi gritante. Encontrei uma ONG através da qual encontrei ajuda com a psicóloga Ana Lúcia, com a qual pude fazer 10 sessões de terapia. Conseguir emprego com minha idade e falta de formação escolar foi outro problema, mas, depois de dois meses, consegui um trabalho que me deixava tem-

34 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


“Tenho tudo no meu Deus” LIDIA SENDIN

Posso tudo, me diz Paulo, No Senhor que é fortaleza. Só em Cristo estou salvo, No infortúnio ou na riqueza. A alegria tanto existe Na pobreza ou na fartura. No meu mais feliz momento Ou na hora muito triste, Tenho em Deus vida segura. Se o que tenho é muita coisa, O meu Deus está em tudo, Mas, se é pouca minha fortuna, Pra mim isso não importa. O Senhor é a minha força, Pois só Ele me conforta. E, se um dia num revés, A alegria for embora E eu perder todos os bens meus, Pra quem me diz: "E agora?" Direi: "Tenho tudo no meu Deus!" A Lídia é da IPI de Piracicaba, SP

po para fazer o que mais gosto: artesanato. Com dois dias de trabalho, cai e quebrei o cotovelo, tendo assim de ser operada para a implantação de parafusos para uma plena reabilitação. Por causa disso, lá se foram o trabalho e o artesanato. Não sabia que sequelas poderiam ter ficado e assim foram dez meses de ansiedade e uma consequente frustração, uma vez que o pouco que me restava de chão foi tirado de uma vez. Sem entender porque aquilo estava acontecendo e o que eu havia feito de tão errado para receber de Deus esse tratamento, agora eu tinha tempo “para fazer nada” ou fazer tudo que não me ajudaria a me sustentar e a recomeçar minha vida. Foi então que encontrei dois livros que foram preciosos neste momento, os quais eu recomendo: “Sonhos Despedaçados” e “Decepcionado com Deus”. Foi incrível porque eles colocaram em palavras aquilo que eu não conseguia expressar, exatamente como me sentia com Deus e com a vida. Acho que até aqui muitas mulheres já se identificaram com essa história, não é? Minha história não é muito diferente de muitas por aí. O fim ainda não sei; Deus o sabe. Ainda estou em reconstrução, mas descobri que, sem Deus, nada é possível. Não adianta espernear! Ele tem a solução e só Ele. Muita coisa aconteceu depois disso até chegar aqui, como, por exemplo, o atendimento especial do pastor da minha igreja, o Rev. Jairton de Melo, que tem me acompanhado carinhosamente até hoje. Como disse, a história ainda não terminou e por esse motivo resolvi dividir minha experiência com outras mulheres

que já passaram ou estão passando por essa situação. Não tenho fórmulas, mesmo porque o que funcionou para mim pode não funcionar para você. Apenas desejei poder ouvir e ajudar até onde for possível cada pessoa que aparecer. Estou à disposição do meu Deus para mostrar através de mim o amor e a alegria de viver (ou sobreviver) depois de um divórcio. Continuo sendo mulher, uma pessoa especial aos olhos de Deus, criada de forma tão singular a não existir outra pessoa igual a mim. Portanto, fui criada com amor por meu Deus, e você também. O propósito de estar escrevendo isso foi a necessidade que vi em nossa sociedade e em nossas igrejas de pessoas preparadas para uma realidade que tem crescido no mundo, que é o número elevado de divórcios. As igrejas não estão preparadas para essa realidade que a cada dia bate em suas portas. Precisamos nos levantar como igreja para ajudar não somente aos famintos, viúvas e órfãos que, como diz a Palavra de Deus, eram facilmente esquecidos na realidade dos tempos bíblicos, mas também nos levantarmos como igreja em prol dos necessitados de ajuda emocional e espiritual, das pessoas que ainda são marginalizadas pelo divórcio nos dias de hoje, sobretudo as mulheres. Com isso estou preparando um grupo de ajuda: emocional (psicológica), espiritual (pastoral/missionária) e jurídica (legal) e o que mais for surgindo. Quero dividir o que senti e passei, e transformar em bênção, a fim de transmitir o amor de Deus para a vida das mulheres onde eu estiver. Sei que elas, assim como

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 35


Rev. Jairton, Issis e Silas, eu, Dra. Ana Lúcia

Helena Fonseca

36 Alvorada

eu, não casaram para se separar. Esperávamos envelhecer com nossos companheiros, mas a vida nos levou a isso. Somos submetidas a olhares, questionamentos e julgamentos do tipo: “O que será que ela fez?” Todas essas coisas sentidas por mim me fazem crer que precisamos ajudar umas às outras e é essa minha proposta: ajudar, ouvir, dividir, orar, etc. Peço a Deus que, ao lerem isso, muitas igrejas se despertem para esse problema e juntem suas forças em prol dessas mulheres, criaturas e filhas de Deus

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

também, especiais aos olhos do Pai Celeste, mas que, por algum motivo contrário à sua vontade, estão sozinhas, mas nem por isso deixaram de ter seu valor diante de Deus e diante das próprias comunidades cristãs, uma vez que são as mulheres, sejam elas casadas, solteiras ou divorciadas, que nunca se negam a estar à frente de muitos trabalhos das igrejas. A Martha é artesã e mora em Londrina, PR martharocha56@hotmail.com www.facebook.com/martha.d.rocha


Psicóloga diz que FIFA incentiva prostituição nos países sede da Copa AGÊNCIA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA DE COMUNICAÇÃO (ALC)

Na Copa do Mundo da África do Sul, a FIFA pressionou o governo do país a legalizar a prostituição, o que acabou não acontecendo. Na Copa da Alemanha, em 2006, foram "importadas" 40 mil mulheres da Europa Central e do Leste para abastecer a rede de prostituição durante os jogos. Mesmo sem a legalização da prostituição na África do Sul, o tráfico de meninas cresceu de forma assustadora no período que antecedeu o maior evento esportivo do planeta. Segundo porta-voz da polícia de Maputo, capital de Moçambique, meninas estavam sendo vendidas a 670 dólares (cerca de 1,3 mil reais). A denúncia é da psicóloga e ativista social Mariana Cristina Moraes da Cunha, integrante do Comitê Popular da Copa do Mundo, em texto publicado na cartilha “Copa para quem?”, reproduzido na Revista do Instituto Humanitas, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Ao lado do principal estádio de futebol da

»

Alemanha foi construída uma casa de prostituição, com capacidade de atendimento a 650 homens simultaneamente, escreve Mariana. "Com o ufanismo dos megaeventos, a esperança de melhorar de vida, aproveitando os grandes negócios, a indústria sexual ludibria as mulheres jovens e pobres com a possibilidade de trabalharem nos eventos da Copa do Mundo", afirma a psicóloga. Aliciadores prometem às jovens que serão garçonetes, cozinheiras, trazem-nas de seus países de origem sem dinheiro ou garantia de retorno, e acabam por escravizá-las sexualmente, descreveu a psicóloga. No Brasil, tramita no Congresso nacional projeto de lei apelidado de "Gabriela Leite", do deputado Jean Wyllys, que regulamenta a prostituição, tornando-a uma profissão. Para a psicóloga, o neoliberalismo é o principal motor do desenvolvimento da indústria do sexo, do tráfico de mulheres e de crianças para fins de exploração sexual. "Regulamentar a prostituição significa atestar que a mulher é uma mercadoria", frisou. Fonte: www.alcnoticias.net

Aproveitando os grandes negócios, a indústria sexual ludibria as mulheres jovens e pobres com a possibilidade de trabalharem nos eventos da Copa do Mundo A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 37


Por que vou me casar? EDER JONE SOUZA

A voz de João Gilberto ecoa em minha cabeça: “É impossível ser feliz sozinho”. Eu também acredito nisso. Creio que Deus nos criou para termos relacionamentos, inclusive amorosos, e não para andarmos solitários. É claro que alguns fazem opção de permanecerem sozinhos. Respeito, mas creio que eu não conseguiria. Hoje estou noivo e, às vezes, acho que minha noiva e eu caminhamos na contra mão de boa parte da sociedade. Já me cansei de ouvir as seguintes frases: “Casamento é uma instituição falida”; “Vai casar? Meus sentimentos”. Pode até ser para quem pensa assim, mas creio que não foi esse o propósito de Deus para nós. Mas não é de se admirar que essas ideias estejam embutidas na cabeça das pessoas. Veja-se, por exemplo, o padrão das famílias das novelas. Na maioria das vezes, a traição é a coisa mais natural do mundo. Outro elemento são as músicas de hoje em dia. Fala sério: o que nossas crianças, adolescentes e jovens têm ouvi38 Alvorada

do? Fico horrorizado com o conteúdo, em alguns casos pornográfico, das músicas. Como esperar que nossos filhos tenham relacionamentos saudáveis e que desejem se casar dignamente quando estão sendo formados por músicas, novelas e sites que incitam a imoralidade sexual e denigrem o casamento? Creio que a resposta está na Palavra de Deus. Não sou o melhor cara do mundo, mas decidi viver segundo o que as Escrituras orientam. Hoje, neste período de noivado, minha noiva e eu estamos vivendo um tempo de Deus em nossa vida. Isso não significa que estamos com a vida mansa. Pelo contrário, planejar, sonhar, pensar em casamento não é tarefa fácil. Para piorar, temos que juntar dinheiro, missão quase impossível. Mas está sendo ótimo! É um tempo direcionado por Deus. Agora, quero dizer em poucas palavras por que vou me casar. Vou me casar porque não acredito no modelo de casamento falido, imoral, perverso, que é apresentado

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


»

Eder e sua noiva Kelly

Eu tenho duas escolhas: acreditar naquilo que é passado a respeito do casamento ou ter minha própria experiência, aquilo que Deus planejou para mim. como se fosse um obstáculo à felicidade. Eu tenho duas escolhas: acreditar naquilo que é passado a respeito do casamento ou ter minha própria experiência, aquilo que Deus planejou para mim. Prefiro pagar o preço e construir um casamento segundo a vontade de Deus ao invés de me basear na cultura em que vivemos. #euescolho. Vou me casar porque entendo ser isso o que Deus quer para mim (Ef 5-31). Quando solteiro, na fase de depressão do “ninguém me quer”, passou pela minha cabeça o pensamento de ficar sozinho o resto da vida, mas não consegui. Por mais que tenha fracassado em vários relacionamentos, havia esperança para mim. Por isso, solteiro, #nãodesista. Vou me casar porque encontrei alguém que se tornou meu porto seguro. Quando falo para jovens ou teens: “Namore um amigo”, muitos não entendem. Mas penso assim.

Se a pessoa não serve para ser sua amiga, ela não serve para ser sua esposa ou seu esposo. Porque nos momentos de tempestade, quando não houver mais beleza, entusiasmo e sexo, o que sobrará é a amizade. Case com quem seja seu porto seguro, alguém que seja amigo #ficadica. Vou me casar porque quero fazer alguém feliz. Casar pensando apenas na própria felicidade é loucura e egoísmo. Quero fazer com que a felicidade da minha esposa seja a minha felicidade. Como diz a canção da banda Fruto Sagrado: “Te fazer feliz é ser feliz sem querer”. Case com alguém que realmente te proporcione felicidade, não apenas momentos felizes. Porque momentos passam, mas as pessoas ficam #pensenisso. Você que está noivo, continue firme. Você que namora, planeje sua felicidade. Agora, se você está solteiro, abra a mente e os olhos para a pessoa que te fará feliz. Ela pode estar do teu lado. O Eder, seminarista, trabalha com jovens e adolescentes na 1ª IPI de São Caetano do Sul, SP

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 39


MARCOS STEFANO E ALLISON CARVALHO

© andreykr - Fotolia.com

JOVENS

40 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Cristo juventude ea

FABIANA LOPES DE SOUZA

Os pés ainda não estão cansados, a face ainda não traz a marca de tantas experiências e frustrações, o corpo responde com rapidez e a cabeça elabora claramente o raciocínio que anos antes parecia tão complexo. É a era das revoluções. É o momento em que a vida pede uma decisão e todos sentem que precisam escolher, afirmar e reafirmar, o tempo todo. É a juventude que chegou anunciando que agora é a hora, que antes era cedo, mas que amanhã talvez seja tarde. É o tempo da pressa, mas também da complexidade. É no meio desse momento difícil de descrever que muitos jovens se distanciam de Deus ou o negam sem nem mesmo conhecê-lo. Some a isso o cenário cultural, a evolução da sociedade e o contexto político e social em que esses jovens estão inseridos. O produto disso tudo é exatamente o desafio da igreja contemporânea. Não há uma fórmula certa para dialogar com essa geração, mas ministérios anônimos por todo Brasil têm feito esforços para alcançá-la, levando em conta suas diferenças e necessidades. A reportagem da Alvorada reuniu 4 projetos distintos voltados para jovens que podem servir de exemplo para sua realidade ou de inspiração para que você crie algo novo na sua igreja ou comunidade.

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 41


Mais de 1.770 jovens foram capacitados nos Oxigênios

Um novo sopro de vida pelo Brasil Quando o coordenador nacional de jovens da IPIB, André Lima, assumiu seu mandato há pouco mais de dois anos, ele sabia que o trabalho seria árduo. Ele se viu de frente a um Brasil amplo, com igrejas diferentes, com jovens de diversos classes sociais, e com traços culturais e regionais distintos. O objetivo, porém, era claro. A equipe queria levar o evangelho para a juventude de todas as regiões do país, sem exceção ou predileção. Definida a meta, a Coordenadoria criou um programa itinerante de treinamento de liderança jovem. Foi assim que surgiu o Projeto Oxigênio – para levar novos ares para a juventude brasileira. “O Oxigênio nasceu do coração de Deus para esse atual contexto da IPIB. A iniciativa visa capacitar tecnicamente e renovar espiritualmente a liderança jovem da nossa igreja”, explica Lima. O Oxigênio é um evento que acontece em um único dia, com palestras e oficinas. Na ocasião, os participantes aprendem como levar o evangelho adiante na região em que vivem e são incentivados a trabalharem em conjunto pela obra do reino de Deus. Desde 42 Alvorada

o início do projeto, em 2011, 1.770 jovens já foram capacitados. O Oxigênio já passou por 17 estados, incluindo as cidades de Brasília, Aracaju, Rolândia, Machado, Belém do Pará, São Luís, Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Poços de Caldas, Osasco, Salvador, Luziânia, São Caetano, Natal, Cascavel, Presidente Prudente, Joinville, Ji-Paraná, Campo Grande. Em 2012, o tema principal dos treinamentos foi evangelismo e neste ano os eventos buscam despertar os jovens para a importância dos relacionamentos com propósitos e do discipulado. Em pouco mais de dois anos, os frutos deste trabalho já começam a ser colhidos. A juventude está ansiosa por ouvir mais. O Congresso Nacional de Jovens da IPIB, que costumava ter uma adesão de cerca de 200 jovens, já tem, este ano, mais de 1.000 inscritos e deve chegar a quase 2.000 participantes de todo o Brasil. O evento, renomeado como Nitro, pretende ser uma complementação do trabalho que tem sido realizado durante os Oxigênios. O Nitro será realizado entre os dias 14 e 15 de novembro, na Unicesumar, em Maringá, PR. Para Lima, o evento nacional será uma oportunidade para que os jovens que já conhecem a Deus se

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

»

Em pouco mais de dois anos, os frutos deste trabalho já começam a ser colhidos. A juventude está ansiosa por ouvir mais.


fortaleçam, mas também será uma ocasião ideal para convidar não-cristãos para ouvir o evangelho. Lima diz que esses trabalhos têm despertado muitos jovens para saírem da relação de superficialidade com o evangelho e viverem um relacionamento profundo com Deus. “Nossa missão é desenvolver a juventude para assumir o compromisso de pregar a palavra e de levar o evangelho. Esse nosso projeto está olhando para a nossa igreja no futuro”, diz Lima.

Quer saber mais sobre o trabalho da Coordenadoria Nacional e sobre os eventos que ocorrem em todo o Brasil? Acesse:

http://cnumpi.com.br/

Multiplicar, converter e somar Há cinco anos, um grupo de jovens da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo, viajou para Maceió, AL, para conhecer e participar do Encontro de Jovens com Cristo (EJC) da Igreja Presbiteriana do Farol. Esse encontro, que acontece anualmente na Igreja de Maceió, foi responsável pela conversão de cerca de 70% dos jovens que lá congregam atualmente. Os jovens de Pinheiros queriam entender como o encontro funcionava e aprender com essa experiência. Também participaram do mesmo evento realizado pela Igreja Presbiteriana das Graças, em Recife, PE. O exemplo dessas duas igrejas no Nordeste inspirou os jovens de São Paulo a levar o mesmo projeto para o Sudeste, onde ainda não havia uma iniciativa como essa entre a juventude das igrejas presbiterianas. O que acontece nesses encontros não pode ser revelado; fica somente entre os jovens que lá estiveram. O

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 43


objetivo é que todo novo encontro seja uma surpresa, tanto para antigos, quanto para novos participantes. Por outro lado, a ideia comum entre todos os encontros é mostrar Jesus Cristo de uma forma pertinente à realidade do jovem contemporâneo. Mais do que isso, os participantes e voluntários de outras igrejas podem, em seguida, multiplicar a iniciativa e levá-la para suas comunidades. Matheus Vasconcelos Casimiro, um dos líderes da mocidade da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, foi um dos jovens que conheceu e foi treinado no Nordeste para multiplicar essa ideia em São Paulo. Ele explica que mais de 40 jovens da sua igreja participaram dos encontros no Nordeste antes que o EJC fosse implantado em São Paulo, no início de 2012. Desde a primeira edição do Encontro em São Paulo já houve, segundo Casimiro, um claro fortalecimento dos jovens da igreja. Mas, além disso, o encontro é hoje a principal porta de entrada de novos convertidos na mocidade de Pinheiros. “No primeiro encontro, 80% dos participantes eram crentes; no segundo, já tínhamos 50% crentes e 50% não crentes”, conta. Ele explica que a juventude da igreja é incentivada a trazer amigos de fora e fazer um trabalho de acompanhamento desses visitantes. Os jovens cristãos são chamados de pais adotivos dos amigos que convidam. São responsáveis por trazê-los ao encontro, orar por eles e direcio-

Jovens da Igreja Presbiteriana de Pinheiros que participaram do Encontro de Jovens da Igreja Presbiteriana do Farol, em Maceió

ná-los após o evento. Para o líder dos jovens, os encontros têm transformado os participantes e criado um engajamento maior entre os irmãos, que saem dos eventos com maior vontade de servir a Deus e trabalhar na sua obra. “Acho que o projeto tem sido uma mola propulsora para diversos outros projetos que estamos desenvolvendo na igreja, envolvendo discipulado, estudo e evangelismo”, diz Casimiro.

orrem uma Os eventos oc tre na vez por semes iana de er it sb re Igreja P u curioso Pinheiros. Fico ? Entre em para participar a mocidade de contato com São Paulo: Pinheiros, em

k.com/ www.faceboo umppinheiros


Um dos show da banda Steiger Brasil narra a crucificação e ressurreição de Jesus

Almas para Cristo em meio à cultura secular Apesar de serem um grupo cristão, os integrantes da banda Steiger Brasil não se parecem em nada com o estereótipo típico dos músicos da cultura gospel brasileira. Eles se assemelham muito mais a integrantes de bandas de rock ou punk, com suas roupas escuras, olhos pintados de preto e um som pesado embalado por guitarra elétrica. A banda não tem o costume de tocar em igrejas ou eventos cristãos. O foco principal é entrar em casas noturnas e bares seculares onde o evangelho nunca está

presente. Fundado em 2001, o grupo é apenas um dos muitos projetos da organização missionária Steiger, que começou seu trabalho em Amsterdam, na Holanda, nos anos 80, com o objetivo de evangelizar jovens que não estavam sendo alcançados pelas missões tradicionais. O missionário e também vocalista da banda Steiger Brasil, Luke Greenwood, diz que os músicos preferem não tocar em igrejas ou em eventos cristãos, já que a linguagem é voltada para um público distinto e o show traz uma performance com rock pesado e uma encenação diferente do que a igreja está acostumada. O espetáculo da banda narra a crucificação

e ressurreição de Cristo, e coloca em cheque a cultura do humanismo secular, em que o ser humano está no centro de tudo, sem compreender que a única salvação está no Filho de Deus. O público alvo da banda é o jovem que faz parte da cultura global secularizada, onde a religião institucional não tem mais valor. “São jovens que não iriam a uma igreja porque a consideram uma instituição ultrapassada, desnecessária. Não quer dizer que sejam ateus, mas também não são abertos à igreja”, explica Greenwood. Esses jovens têm entre 17 e 35 anos, vivem em grandes centros urbanos e são parte de uma geração que está

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 45


conectada e integrada por meio da internet, consumindo as mesmas ideias e a mesma cultura. Após se apresentar para esses jovens, Greenwood explica que a banda convida as pessoas interessadas a virem conversar com os integrantes sobre a história que acabaram de ver. É neste momento que surge a oportunidade de orar e falar sobre o evangelho. Eles sempre trocam e-mails, entram em contato por telefone e, se o evento ocorrer em São Paulo, os interessados também são convidados para conhecer a igreja da Missão Steiger, o Projeto 242 (Atos 2.42), que fica

no bairro da Liberdade. Ele diz que o discipulado pós show é um passo importante e foco da missão. São muitas as histórias de conversão que são frutos dos shows e dos discipulados que são feitos posteriormente, envolvendo grupos de estudos e encontros. Atualmente, a banda Steiger Brasil se prepara e busca recursos financeiros para fazer uma turnê na Europa, passando pela Finlândia e Portugal. A missão Steiger Internacional tem hoje 60 missionários e 150 voluntários no Brasil, Nova Zelândia, Polônia, Ucrânia, Chile, Líbano e Turquia.

»

O discipulado pós show é um passo importante e foco da missão. São muitas as histórias de conversão que são frutos dos shows e dos discipulados que são feitos posteriormente, envolvendo grupos de estudos e encontros.

46 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Quer saber mais sobre a banda Steiger Brasil e ser um parceiro? Acesse: http://banda.steiger.org/ Quer conhecer os diversos projetos da missão Steiger no Brasil? Acesse:

http://brasil.steiger.org

Quer saber mais sobre o ministério internacional? Acesse: http://www.steiger.org/


A igreja e a carreira A Igreja Batista Memorial de Alphaville, em Barueri, SP, fica numa região nobre, cercada por bairros fechados e protegidos por empresas de segurança. Alcançar os jovens de alta classe social ao redor da igreja é uma tarefa difícil. Após fazer uma análise do perfil dessa juventude, a igreja resolveu organizar palestras sobre carreira e mercado de trabalho que pudessem de alguma forma atraí-los. No final de 2012, a liderança de jovens iniciou um projeto chamado Happy Hour em que executivos de sucesso da própria igreja falam sobre sua carreira dentro de uma perspectiva cristã. A ideia é que o encontro possa direcionar os jovens que estão no início de suas carreiras e mostrar a eles como encontrar equilíbrio entre carreira e vida espiritual. Um dos líderes de jovens da Igreja Batista Memorial, Henrique Pinto, diz que os encontros têm direcionado muitos jovens e também atrai pessoas de fora da igreja, que começaram a se envolver em outros trabalhos e eventos após participarem do encontro. Ele diz que o objetivo dos encontros é falar sobre carreira, mas sempre com uma analogia à palavra de Deus. “Estamos aprendendo que, como cristãos, temos que lembrar sempre que nós não jogamos o mesmo jogo das pessoas que estão no nosso ambiente de trabalho, que nós temos que ser diferentes”, diz. Ele diz que, no último encontro, um presidente de uma grande empresa relatou como construiu e gerenciou sua carreira e espiritualidade, contando sobre os desafios que teve de enfrentar, os “não” que teve de dizer e a maneira que teve e ainda tem de se portar como profissional e cristão.

Jovens da Igreja Batista Memorial de Alphaville

Happy Hour

“Nós falamos sobre visão e valores do mundo corporativo, sobre onde as pessoas querem chegar e sobre como a Bíblia trata essas questões”, explica o jovem. O evento ocorre fora da igreja, mas Henrique Pinto diz que a intenção é que ele seja também a porta de entrada da igreja para muitos jovens não cristãos que nunca tiveram interesse em conhecer o evangelho. Dessa forma, a expectativa é que eles se

»

Falamos sobre visão e valores do mundo corporativo, sobre onde as pessoas querem chegar e sobre como a Bíblia trata essas questões

envolvam com o Corpo de Cristo e percebam que os jovens cristãos têm dilemas e desafios parecidos com os deles, mas com soluções e direções diferentes. É uma forma de integrar essa juventude e convidá-la para outras iniciativas. “A proposta não é que o jovem se converta nesse evento, mas queremos iniciar um relacionamento com ele”, diz o líder de jovens.  A Fabiana é jornalista

Quer saber mais sobre a Igreja Batista Memorial de Alphaville? Acesse:

http://www.ibmalphaville. com/

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 47


ESTILO DE VIDA

© SkyLine - Fotolia.com

Falta de tempo para nos relacionarmos com

Deus? 48 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Nossa vida contemporânea suga o nosso tempo e, na ordem de prioridades, é muito comum que a vida devocional seja a primeira a ser sacrificada.

WANDERLEY DE MATTOS JUNIOR

Pensemos num dia típico na cidade grande: você acorda cedo, fica um tempão no ponto de ônibus para um trajeto que parece eterno ou passa horas dentro do carro andando como tartaruga no trânsito, trabalha o dia todo e, se for jovem, vai pra faculdade à noite e chega bem tarde; se já tiver filhos, ao chegar em casa as crianças querem sua atenção, além de todas as outras coisas que tem para fazer e, quando está próximo de meia-noite... já passou da hora de dormir. O mesmo pode acontecer no campo, na praia, em qualquer lugar. Nem deu tempo para orar e ler a Bíblia... Agora, pense num dia que inicia ensolarado... Você acorda cedo, vai até a varanda, assenta-se diante do jardim florido, abre sua Bíblia e a lê por cerca de quarenta minutos. Após a leitura, segue-se um tempo de meditação, algumas anotações em seu caderno de reflexões e, depois, um caminhar pelo jardim e pelo pomar, agradecendo a Deus por seu amor, adorando-o por seu caráter, louvando seu nome por suas ações, confessando seus pecados e apresentando diversas necessidades suas e de outros diante dele em intercessão. Após pouco mais de uma hora, você entra em casa e começa a rotina do dia. Qual das duas situações lhe parece mais propícia à vida devocional diante de Deus? Claro que é a segunda. Mas esta só existe em nosso imaginário influenciado por tantas publicações oriundas do hemisfério norte ou na vida de raros privilegia-

dos que têm o jardim e o tempo para tamanha qualidade e beleza na relação devocional com Deus. A resposta não pode ser simplista. Deus é um ser relacional e nos criou semelhantes a si, ou seja, também somos seres relacionais. Temos a necessidade de nos relacionarmos. Assim, nossa devoção a Deus não consiste em meros rituais que têm por objetivo aplacar a ira divina, nem em oferendas que devam ser entregues conforme determinados preceitos, nem mesmo em repetições que nos façam entrar em determinado estado mental. Eu diria que nossa relação com Deus se baseia em três princípios: seguir a Cristo, praticar o bem e a justiça, e nutrir-se de Deus em oração e outras práticas devocionais. Todavia, quando falamos em relacionamento com Deus, comumente pensamos apenas nas práticas devocionais e tendemos a nos esquecer de que não basta a prática devocional, sem que haja o caminhar na vida que revela semelhança com Cristo e suas ênfases, e sem que haja a prática do bem e da justiça. O primeiro sem os outros dois gera apenas arrogância e cegueira espiritual. Mas pensemos na prática devocional. É comum sermos incentivados a uma boa vida devocional, que basicamente consiste em oração e leitura bíblica. E há no mercado cristão inúmeros livros que dão orientações à prática devocional, Bíblias devocionais, além de diversos devocionais diários, tais como o Presente Diário (antigo Pão Diário), No Cenáculo, Cada Dia, Mananciais no Deserto e ou-

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 49


tros tantos. Em minha instrução cristã inicial na adolescência, fui estimulado a ler a Bíblia todos os dias com o alvo de lê-la em um ano. Uma boa forma para fazer isso é ler três capítulos de segunda a sábado e cinco no domingo, além de dedicar tempo em oração e intercessão diante de Deus. Há aqueles que chamam tal momento de “hora silenciosa”, em que você se retira para a meditação. Sem dúvida, todas essas práticas são benéficas e indispensáveis para a nutrição espiritual que visa ao crescimento. Todavia, é cada vez mais difícil inserir tais disciplinas na prática cotidiana. Nossa vida contemporânea suga o nosso tempo e, na ordem de prioridades, é muito comum que a vida devocional seja a primeira a ser sacrificada. Não acredito que Deus não proteja nem deixe de abençoar aquele que não dedica diariamente um tempo considerável à oração e leitura bíblica, mas uma coisa é certa: sem relacionamento não há intimidade, não há crescimento, não há nutrição, não há fruto! O Salmo 1º afirma que é feliz e bem sucedido quem medita dia e noite na lei de Deus. Veja, o salmista não tinha uma Bíblia de bolso, nem um dispositivo móvel para fazer o download de um aplicativo de meditação. Como ele fazia, então?! Nossa sociedade imediatista e confusa, perdeu a dimensão da me-

»

ditação. Meditar virou privilégio das religiões orientais, enquanto os cristãos tornaram-se pragmáticos. Para nós, “devocional” significa achar algum texto bíblico que possa ser posto em prática e que resulte em algum benefício, e orar significa passar pelos 5 passos e terminar com um bom “em nome de Jesus, amém”, senão... vai que Ele não atende, se não usar a fórmula certa... A vida devocional é mais do que isso! Ela envolve a reflexão, o aproximar-se do texto bíblico como quem tem sede de nutrir-se do pão que alimenta. Tem a ver com derramar o coração diante de Deus, com estar diante dele em silêncio e não apenas falando. Tem a ver com aquietar a mente e dar tempo para Deus se manifestar. Não há regra, não há receita, não há fórmula. O que há é a busca! E a busca é individual. Deus quer se relacionar conosco. Por meio de seu Espírito Santo, o amor do Pai e a graça do Filho alcançam nosso coração e nossa mente em comunhão com ele. O Espírito toca nosso coração por meio da sua Palavra. Nossa alma é alimentada, tocada, suprida, renovada. Nossos pecados vêm à tona, fazendo-nos perceber onde erramos e onde precisamos mudar de atitude ou direção. Tudo isso, porém, não acontece em 5 minutos! É preciso tempo. Mais do que cumprir um ritual cansativo e morrendo de sono ou pressa, estar

O Rev. Wanderley, tradutor e intérprete, é pastor da IPIB

Podemos não ter as condições ideais para uma vida devocional em meio ao sossego e à beleza diariamente, mas podemos, sim, buscar a Deus como quem anseia estar com ele e encontrá-lo para que Ele mesmo transforme esse momento, quer curto quer longo, em uma experiência transformadora que nutre a alma e enche o nosso coração com seu amor e sua presença.

Não sofra por dinheiro (ou pela falta dele). O grande tesouro de sua vida está em um cofre especial: seu coração.

50 Alvorada

com Deus demanda vontade, desejo, saudade, anseio, fome, sede. O tempo é necessário, mas também é preciso haver desejo profundo do coração. Conhecemos mais a Deus lendo sua Palavra, meditando nela, ouvindo-a, aprendendo sobre como Ele foi construindo uma relação com os homens e mulheres ao longo dos tempos, meditando nos textos sagrados, orando com ou sem palavras, falando com Ele, compartilhando dores e alegrias, em voz audível ou não, em meio ao jardim ou num lugar sossegado da mente, ainda que em meio ao caos urbano. Entre o ideal e o real na vida devocional existe uma distância enorme que pode ser vencida através da busca sincera e perseverante. Podemos não ter as condições ideais para uma vida devocional em meio ao sossego e à beleza diariamente, mas podemos, sim, buscar a Deus como quem anseia estar com ele e encontrá-lo para que Ele mesmo transforme esse momento, quer curto quer longo, em uma experiência transformadora que nutre a alma e enche o nosso coração com seu amor e sua presença. Portanto, seja criativo e invente um momento seu com Deus em algum momento do seu dia. Isso vai fazer diferença em sua relação com Ele!

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 51


REFLEXÃO

A SOBREVIVÊNCIA DA FÉ NA CULTURA DO DESCONTENTAMENTO

52 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


»

Somos a geração da falsa satisfação. A geração cuja satisfação tem que ser imediata.

MARCOS KOPESKA

© DBPics - Fotolia.com

Os limites do contentamento mudam a cada geração. Ultimamente mudam ainda mais depressa. Há trinta ou quarenta anos, os meninos iam à escola com os pés descalços, mesmo no frio, chuva, geada. As crianças estariam contentes se tivessem um tamanco ou uma alpargata. Hoje, crianças com sete anos ou menos já “exigem” dos pais a roupa, o tênis, a mochila e o material escolar de grife. Isso sem falar no notebook, ipod, iped, celular e vídeo game. Diz-se que o contentamento vem não de grande riqueza, mas de poucos desejos. Há vinte anos, um computador era visto só em algumas grandes empresas ou em apresentações de novidades tecnológicas na televisão. Hoje, com frequência ouvimos jovens se queixando do penúltimo modelo, pois a satisfação está em ter o último. O mesmo vale para os celulares. É fato que estamos numa cultura onde o conforto exige um grau de consumismo cada vez mais elevado e o consumismo prega cada vez mais a cultura dos desejos insatisfeitos: “Sua felicidade está há um palmo, mas ela só virá quando você trocar de automóvel... reformar a casa...”. Homens e mulheres estão cada vez mais insatisfeitos com seus casamentos; por isso, o crescente número de divórcios. Cristãos cada vez mais insatisfeitos com suas igrejas; por isso, o incontrolável fluxo de pessoas entrando e saindo do rol de membros. Mulheres cada vez mais

insatisfeitas com seus corpos; por isso, a crescente procura por cirurgias estéticas. Aliás, o Brasil já é campeão em implantes de silicone, sinal evidente da insatisfação do brasileiro e da brasileira com seu corpo. Uma estatística aponta que 42% dos profissionais no Brasil estão insatisfeitos com a carreira profissional e com os ganhos. Projetamos este comportamento para a próxima geração e, por isso, os quartos das nossas crianças estão entupidos de brinquedos que só foram usados por quinze dias e trocados por outros mais novos. Alguém disse que somos a geração da falsa satisfação. A geração cuja satisfação tem que ser imediata. Nunca as palavras de Paulo, o apóstolo: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm 6.8), foram tão atuais. Atualíssimas! Fé é confiar que Deus sempre tem o melhor para os seus. Fé é crer que o que possui, possui para glorificar a Deus. "Bom não é aquilo que me agrada. Bom é o que agrada a Deus", dizia o pastor Milton Azevedo Andrade. A fé controla os impulsos de insatisfação. A fé faz com que você tenha discernimento entre o objeto do desejo e o objeto da necessidade. A fé nos faz valorizar o ser, acima do ter. A fé nos remete ao futuro com serenidade e segurança, nunca com ambição e ansiedade. A fé nos faz satisfeitos com o que temos hoje, não com o que teremos amanhã. Pense nisso e viva com satisfação.  O Rev. Kopeska é pastor da 3ª IPI de Marília, SP

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 53


MÚSICA

Martin BOULANGER

Música cristã

Considerações de um músico cristão atual sobre a música cristã atual 54 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Martin BOULANGER

as canções it u m e u q o d a rv se b Tenho o sical muito u m la u rm fó a m u têm rma não fo a rt ce e d e u q o , a parecid como o nosso, ís a p m u m co a in b com tão rica, em r se r o p , e d a d li ca si cuja mu nsinada para o e i fo já s, ca o p é s a tr ou resto do mundo.

JONAS PEREIRA DE SOUZA

Antes de tudo, é importante salientar que falamos de música cristã evangélica a partir de 2010. Assim, é possível descrever mais fielmente este cenário. Como atuo na área musical há mais de trinta anos, pude acompanhar de perto os acontecimentos que levaram a música cristã ao quadro que hoje se apresenta. Desta forma, sinto-me à vontade para fazer alguns comentários. Vamos começar pelas letras das músicas. Vivemos numa época sob a marca das grandes inovações tecnológicas, sendo que esta renovação tecnológica acontece junto com o aumento expressivo do número de evangélicos nos Brasil, que atualmente é maior que 20% da população e composto, em sua maioria, de adolescentes e jovens. Hoje há muitos evangélicos, membros de igrejas evangélicas, recém-chegados ao contexto, que precisam ser liderados. Não obstante, temos visto também pastores, líderes, compositores e um nicho de mercado que emergem desta safra de novos evangélicos. O resultado é que surgiu uma neocultura evangélica, influenciada e interativa com uma neocultura social geral. Ora, a letra das músicas costuma expressar ideias e conceitos. No caso de uma democracia em que a maioria ingressou recentemente, suas letras vão refletir uma religiosidade evangélica que se forma sem muita

referência na história da igreja anteriormente construída, ou seja, com referência na própria pós-modernidade. É o que se observa nas letras das músicas divulgadas nas rádios evangélicas e, depois, expostas nos data shows, para serem cantadas nas igrejas (isto é constatação, não uma crítica). Refrões curtos e uma certa necessidade de reposição dos hinos. Afinal, as rádios e o “mercado” apresentam músicas novas o tempo todo. O canto congregacional que, em seu princípio, tem a função de juntar as pessoas em torno de Deus para, em ousadia, entrar em seu santuário e adorá-lo através de Jesus, tende a tornar-se um apelo individual de cada ser em favor de suas próprias necessidades, ainda que no meio da coletividade (agora, sim, é crítica!). Já a musicalidade em si, segue um caminho parecido, visto que a tendência é a padronização. Um ambiente de pop-rock britânico, na linha das bandas Cold Play e U2, tem sido a tônica dos novos tempos, nos períodos de louvor que acontecem nos cultos, em termos musicais. É saudável verificar que essa é a linguagem dos adolescentes e jovens que compõem a igreja contemporânea em sua maioria, e que essa nova geração esteja expressando sua adoração de uma forma típica de seu tempo; na verdade, é melhor que façam isso dentro da igreja. Por outro lado, analisando como músico, que tem um histórico de formação, tenho observado que muitas canções têm

Das piscinas, sagro as cachoeiras THIAGO GIGO PEREIRA

Da piscina com água parada, prefiro as cachoeiras com seu movimento. Da piscina com água clorificada, escolho os ribeiros com salubres andamentos. Da piscina com sua beleza artificial, adoto as enxurradas com seu esplendor natural. A piscina está “morta”, é passiva e não interage com suas visitas. Já as cachoeiras... Ah! As cachoeiras! São participativas, dinâmicas e interativas. Lançam-me para lá e para cá, freneticamente, na força propulsora de suas torrentes. Já as piscinas, pobrezinhas, por maiores que sejam, jamais conterão tanta vida, beleza e energia. Água, movimento, som, pensamento – tudo converge na sinfonia das correntes. Riachos musicais, surpreendentes e vitais – são expressões divinais do Criador inteligente! Soli Deo Gloria O Rev. Thiago, casado, é pastor da IPI de Bariri

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 55


uma fórmula musical muito parecida, o que de certa forma não combina com um país como o nosso, cuja musicalidade, por ser tão rica, em outras épocas, já foi ensinada para o resto do mundo. Brota, neste contexto, um chamado à responsabilidade, para uma “geração” de anfitriões na qual me sinto inserido, que são aqueles que detêm o legado e memória do que tem sido a igreja evangélica. Essa equipe de transição tem como obrigação transmitir os valores e princípios que fortalecerão as novas safras, pois, em algum momento muito breve, eles precisarão disto, estejamos nós aqui ou não. Tem que ser informado, sim, a estes jovens e novos cristãos, que a igreja protestante tem uma tradição de hinos, cujas letras, durante séculos, refletiram os ideais de fé e prática, pautados na Bíblia, assim como tivemos (e ainda temos) compositores cristãos de excelência poética, que retrataram suas experiências de fé em canções que transcendem o tempo. Quanto à musicalidade, é possível resgatar do relativo esquecimento a expressão genuína e a riqueza musical do nosso cancioneiro, relembrando autores e músicos que fizeram história, por sua criatividade e qualidade musical. Afinal, “Há um lugar para todos, junto à família de Deus”, já dizia a canção. Que Deus dirija nossas letras e nossa musicalidade, com graça, paz e amor na adoração expressa pela igreja, em todas as gerações.  O Jonas é músico, compositor cristão, teólogo e pastor do ministério de música na Igreja Evangélica Catedral da Cura

56 Alvorada

Jonas durante um ensaio de uma banda

p-rock Um ambiente de po as bandas britânico, na linha d sido a tônica Cold Play e U2, temnos períodos de dos novos tempos, m nos cultos, louvor que acontece. É saudável em termos musicaisa linguagem verificar que essa é vens que dos adolescentes e jontemporânea compõem a igreja coue essa nova em sua maioria, e q ssando sua geração esteja exprerma típica de adoração de uma foade, é melhor seu tempo; na verd o da igreja. que façam isso dentr

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


FÉ E ESPIRITUALIDE

MAURICIO ARAÚJO

“Disse Jesus: Tirai a pedra. Disse Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois é o quarto dia. Então Jesus lhe disse: Não te disse que se creres verás a glória de Deus?” (Jo 11.39-40) O tema milagre não é tema tão fácil assim de ser tratado, pois envolve fé, envolve crer, envolve crença e muitas interpretações podem surgir de um mesmo acontecimento como foi o caso do milagre da ressurreição de Lázaro. Muitos creram e, ao mesmo tempo, muitos passaram a planejar a morte de Jesus e de Lázaro por conta do milagre (Jo 12.9-11). Como isso é possível? A resposta é muito simples e envolve o coração, pois todos viram o milagre e, embora a maioria ali tenha se dado conta de que Jesus era o Filho de Deus, o Messias, o Cristo, se maravilharam de ver a Lázaro, que já cheirava mal, voltando à vida, deixando o sepulcro, outros, no entanto, viram nesse episódio uma grande ameaça à posição que ocupavam, segundo João 11.47-48: “Este homem realiza muitos sinais miraculosos. Se o deixarmos prosseguir assim, todos crerão nele, e virão os romanos e tomarão o nosso lugar...”. Estavam mais preocupados com o umbigo, com a perda da posição do que em se regozijar com a família pelo presente de Deus. Um único acontecimento e duas reações distintas, bem diferentes! O milagre é uma coisa rara, não acontece todo dia, não é como tomar café a cada manhã, mas acontece. A Bíblia nos diz que os sinais haveriam de acompanhar aos que creem, que tudo é possível ao que crê e a própria Palavra de Deus está repleta de registros de milagres ao longo de sua narrativa. O milagre na vida de Lázaro não foi só em sua vida, mas na vida de Marta e Maria tam-

bém. Elas amavam a esse irmão, estavam sofrendo por causa da sua morte, e, quando Jesus chama a Lázaro para fora, para a vida novamente, o Senhor está abençoando a vida destas duas irmãs. O milagre aqui também abençoa aos que amavam essa família, pois muito oraram a Deus primeiro pela cura e depois para que fosse devolvida sua vida, e chegaram a achar que nada mais poderia ser feito por esse irmão querido da comunidade de Betânia, até que Jesus chegou e agiu. O milagre também alcançou a muitos em outras cidades, pois ouviam falar que Jesus ressuscitara a um homem e que ele estava em Jerusalém conforme João 12.9: “Uma grande multidão, sabendo que ele estava ali, veio não só por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos”. O milagre é uma coisa surpreendente e sobrenatural. É uma ação de Deus entre nós que só pode ser alcançada pela fé, através do crer. Milagres ainda acontecem na vida de muitas pessoas. Eu creio e já testemunhei muitas vezes a ação miraculosa de Deus. Há um tempo atrás, por exemplo, a igreja passou a orar por uma garotinha chamada Stefany, que se encontrava em um quadro bem delicado de saúde. Após cerca de 40 dias de UTI, já não havia muita esperança para sua vida, mas, de uma forma surpreendente que só poderia ser ação de Deus (milagre), reverteu-se seu quadro de saúde. Ela deixou a UTI, deixou o hospital e hoje retomou o convívio com sua família. Glórias a Deus por sua vida, Stefany! Glórias a Deus por ter atendido as orações de seus pais, familiares e irmãos! Glória a Deus por mais esse milagre! Ao Senhor Jesus, toda glória, toda honra e todo louvor!  O Rev. Mauricio é pastor da IPI de Jundiaí, SP

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 57

© andreiuc88 - Fotolia.com

O milagre


HOMENAGEM

Morre fundadora da Revista Alvorada

58 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


ROBERTO COSTA

Maria Clemência Mourão Cintra Damião é um marco na história desta revista. Como primeira presidente da Confederação Nacional de Senhoras da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), em 1967, dirigiu o segmento leigo feminino por dois anos. Em sua gestão nasceu Alvorada, revista que circula desde 1968. Clemência tinha uma missão a cada edição da revista que já chegou a ter 20 mil assinantes: compilava com carinho as cartas que recebia e que eram publicadas a cada edição. A maranhense de Grajaú morreu em janeiro deste ano, em Salvador, BA, onde morava desde 1978. Clemência foi casada com o Rev. Josué Cintra Damião, com quem teve os filhos Aderson Omar e Marta Maria. Odontóloga por profissão, mas cristã por convicção, dedicou sua vida a serviço de Deus. Vibrante, alegre, otimista, sorridente, organizada, dedicada - são adjetivos que, ao lado de outros tantos, definem o caráter desta mulher, como lembra o sobrinho Rev. Paulo de Melo Cintra Damião, que teve muita convivência com os tios, mesmo morando longe. Paulo recorda o último encontro: "Mesmo com 90 anos, ela saiu conosco para passear e nos mostrar a cidade. Sempre tinha uma palavra positiva e animadora para o meu ministério. Para muitos, ela foi a líder, a oradora, a escritora e a organizadora do trabalho feminino em nossa igreja. Mas, para mim, foi uma querida tia que deixa muitas saudades".

Em Salvador

Era agosto de 1993. Iaci do Valle Pereira Nogueira, que presidiu a Coordenadoria Nacional de Adultos (CNA) nos anos 1990, esteve na Bahia

»

e conversou por quase duas horas com Maria Clemência. Alvorada, que voltara a ser publicada em abril de 1994, reproduziu partes desta conversa. Falou como se deu a criação da Confederação: “O Rev. Tércio de Morais Pereira chegou com o manual da Igreja Presbiteriana e da Igreja Metodista e disse lá em casa: "Queria que você criasse um manual para a Igreja Independente". Era aquilo que eu estava sentindo necessidade, porque as igrejas não tinham orientação. Então, eu procurei mais material e pensei aquilo como uma criança pequena no berço. Depois arrumei tudo, datilografei e levei para o Rev. Daily Rezende França, na época presidente do Supremo Concílio da IPIB. Ele olhou, folheou e disse: "Clemência, como uma coisa bonita dessas, temos que fazer um encontro, uma coisa importante, para entregar nas mãos das mulheres!" Aí, surgiu a ideia do primeiro congresso nacional, quando se organizou a Confederação. Maria Clemência relembrou à revista a primeira diretoria da Confederação de Senhoras: "Eu, pela graça de Deus, fui eleita presidente. A vice, Helena Pita Guida. Heloína Costa, secretária, e a Berenice Neves de Camargo, segunda secretária. A tesoureira era a Maria de Lourdes e a secretária permanente, a Neusa Melo Amaral Tarcha. Um grupo maravilhoso de unidade, de pensamento”. Na época da entrevista, Clemência frequentava com o marido, o Rev. Josué Cintra Damião, a Igreja Presbiteriana da Bahia, para onde se mudou em 1978. Ali trabalhava com a APEC, com um abrigo de idosos, era supervisora do Departamento Infantil da igreja e respondia por um trabalho evangelístico.  Roberto, jornalista, é membro da 1ª IPI de Campinas, SP

Olhando para Cima Maria Clemência foi autora de "Olhando para cima", livro de crônicas que escreveu na Bahia, onde morou por bons anos. Suas crônicas são escritas com espontaneidade, em estilo quase de conversa, de grande simplicidade, descreve o cunhado e pastor, Rev. Paulo Cintra Damião, no prefácio. Logo no início do livro, em "Aprendi com ela", Clemência fala de seu carinho por Alvorada. "Eu faço, eu sei, aprendi com Alvorada", escreve sobre a compra de revistas que fez com a mãe Carmosina e que pretendia enviar a alguém da família, Helena, via Correios. "Quando abro uma revista, vou analisando as letras, os títulos, a perfilagem. Lembro-me como é difícil fazer um boneco. Que luta é selecionar um bom material. Erros de impressão, como escampam, mesmo numa revisão esmerada".

Vibrante, alegre, otimista, sorridente, organizada, dedicada - são adjetivos que, ao lado de outros tantos, definem o caráter dessa mulher. A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 59


COMPARTILHANDO

Luz e Aroma

Inspiração para começar um empreendimento HELÔ FRANCO

Comando a loja Luz e Aroma - Sabonetes Finos e Afins. Moro em São Paulo, onde nasci e cresci. Tenho uma vida multifacetada: sou estudante de psicologia, sou sócia-proprietária de uma academia de ginástica e crio eu mesma todos os sabonetes da minha marca. Ufa! Meu lado artesão é fruto da minha mãe, talentosa e habilidosa artesã. Cresci rodeada por lãs, linhas e moldes de costura, sendo insistentemente chamada para aprender técnicas: bordado, costura, crochê ou tricô. Mas sempre dava desculpas para não aprender, pois paciência não era o meu forte! Até que, um belo dia, por ironia do destino, descobri que seria mãe e minha vida mudou, inclusive a falta de paciência. Vi-me envolvida com bordados ponto de cruz e cheguei a fazer um enxoval completo. Também vivia presenteando amigos e parentes.

De repente, os sabonetes

Passado um tempo, os sabonetes chegaram em minha vida em uma visita a uma querida amiga. Foi quando conheci de pertinho todo o universo dos aromas. Me contagiei e, sem pensar duas vezes, tratei de comprar todo o material necessário. Assim que fiz minha primeira

60 Alvorada

remessa de sabonetes, para minha surpresa, todos gostaram. Virou uma fonte de renda sem imaginar! Comecei a pesquisar sobre o assunto em revistas do segmento, testes e buscas pela lenta e discada internet da época. Passei a frequentar cursos e feiras, e a pensar de modo profissional, observando todas as embalagens dos produtos que via.

A marca

O nome Luz e Aroma nasceu da necessidade de ter uma identidade. Não queria ser conhecida apenas como a moça dos sabonetes e das velas. Feito isto começava um longo caminho de confiança e credibilidade. Faço questão de trabalhar com ótimas matérias primas para conseguir ter um produto final de qualidade. Também procuro sempre ficar antenada às novidades e brechas que existem no mercado de farmácias e perfumaria. De tanto procurar por um talco agradável, criei meu best seller, o Talquinho da Vovó. Insisti em dar à criação ares nostálgicos e retrô. Com o talquinho, veio toda a linha Primaveril, minha menina dos olhos.

Como é a produção

Toda minha produção é feita no ateliê que nada mais é que a casa onde

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

»

Espero que minha história possa encorajar muitas pessoas que têm dúvidas sobre começar e administrar seu negócio criativo.


passei a maior parte da minha infância. A cozinha onde acontece a produção artesanal é a mesma desde o início e não troco por nada. Tenho geladeira para acelerar o processo de endurecimento, fogão que uso para derreter a parafina, armários onde guardo material (bases, formas, vidros, essências, extratos etc.), mesa para detalhes e meu fiel amigo, o microondas. Aliás, tempo é fator fundamental para toda a organização! Principalmente quando se trabalha só. Tenho sempre que dividir o meu dia e semana entre afazeres da casa, produção, criação e visitas a fornecedores. Essa parte é muito importante, pois tento manter vários para conseguir cotar os preços das mercadorias e ver o que realmente vale a pena comprar em quantidade. Para nunca perder material, trabalho sob encomenda e com pouco estoque. Afinal, tudo tem tempo de validade.

Tudo compensa

Fico feliz e realizada ao saber que clientes curtem meu trabalho e confiam no que faço. Transformar algo tão íntimo como o momento do banho em algo prazeroso, relaxante e inesquecível é meu objetivo. Além disso, adoro fazer parte de bailes de debutantes, casamentos, aniversários e nascimentos, com minhas velas e lembrancinhas. Espero que minha história possa encorajar muitas pessoas que têm dúvidas sobre começar e administrar seu negócio criativo. Agradeço ao Elo 7 por me fazer acreditar e mudar meu pensamento a respeito de vender e comprar pela internet. Agora convido todos a darem um pulinho na Luz e Aroma e sentir através da tela o perfume de produção aqui do ateliê! A Helô é da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP

Fonte: blog Elo7.com.br

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 61


ESPAÇO KIDS

V Vamos Vamo ccontar ntar oss dias a ppra ccelebrar l br r o NATAL? A AL Gosto muito de celebrar o Natal, mas ele só passou a ter sentido pra mim quando eu entendi porque Jesus nasceu aqui na terra. Quando eu era criança, minha família não comemorava, e o Natal era um dia como outro qualquer. Mas, quando conheci o amor de Deus por mim e que Jesus fazia parte de um plano pra me salvar, passei a sentir a maior alegria em comemorar não só nessa data. Mas aproveito muito o Natal porque sei que, em dezembro, todos estão pensando nisso. Aí, quero falar pra todo mundo desse plano maravilhoso e desse amor tão grande. Em minha casa, nos preparamos pra lembrar diariamente e quero ensinar vocês a fazerem um “calendário do Advento” ou “calendário da Chegada”. Assim, a cada dia, poderemos esperar ansiosos para celebrar o nascimento do nosso Salvador!

Vamos lá! A ideia é fazer com materiais baratos e fáceis de achar. Encontrei dois modelinhos na internet e quero dividir com vocês:

Para esse modelinho, você vai precisar de uma cartolina e 24 envelopinhos de cartão, brancos ou coloridos (você acha em papelaria). Desenhe as datas de 1 a 24 em cada envelope e cole na cartolina. Se quiser, você pode decorar com os desenhos que você desejar ou colar enfeites. Fica muito bonitinho e fácil de fazer. E, dentro de cada envelope, uma tarefinha pra você fazer com sua família e versículos para lerem juntinhos.

Pra fazer esse modelinho, você vai precisar de um papel color set vermelho e 24 saquinhos de pipoca. Aí, é só você desenhar as datas em cada saquinho e colar os saquinhos no papel color set.

Thiago Welte

Essa ideia é legal porque, além dos recadinhos, você pode colocar balinhas em cada bolsinho pra você dar de presente pra alguém com quem quer compartilhar a mensagem do Natal!

62 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Receitas Vamos aprender a fazer BISCOITINHOS DE NATAL? Você pode presentear amigos e familiares com eles!

Ideias de recadinhos para colocar em cada dia! Dia 1 Explique para a família o calendário e leiam juntos Isaías 2.1-5

Dia 2 Converse com a família sobre como era o Natal deles. Leiam juntos o Salmo 130.6

Dia 3 Prepare um lanche para levar à escola e dividir com um amigo. Fale com ele sobre o que significa o seu Natal! Salmo 94.19

Dia 4 Prepare um cartão com uma mensagem de Natal para sua professora. Coloque um versículo de que você goste! Leia Salmo 97.11

Dia 5 Peça pra família te ensinar um louvor de Natal Leiam juntos Salmo 80.3

Dia 6 Arrume seu quarto sozinho e leia com a família o Salmo 62.1

Dia 7 Convide um amigo para brincar e fale do amor de Jesus. Leia com ele João 3.16

Dia 8 Hoje é domingo! Chame a família pra adorar a Deus na igreja com você! Leiam Salmo 122.1

Dia 9 Ore com a família por alguém que ainda não conhece o amor de Jesus. Salmo 17.6

Dia 10 Que tal, separar as roupinhas que não te servem mais e doar para alguém? Salmo 67.1

Dia 11 Hoje é dia de ajudar o papai em alguma tarefa dele. Leia para ele o Salmo 94.14

Dia 12 Hoje é o dia de ajudar a mamãe em alguma tarefa dela. Leia para ela o Salmo 146.5

Dia 13 Prepare um cartão para as pessoas que você ama. Lembre-se do versículo de João 3.16

Dia 14 Sábado é um dia legal pra você separar os brinquedos que você não usa mais e doá-los Salmo 16.11

Dia 15 Que tal juntar a família para rever as fotos de outros Natais. Leiam juntos Jeremias 31.10-14

Dia 16 Que tal preparar um lanche para dividir com outro amigo e falar do amor de Deus pra ele? Leia para ele o Salmo 80.2

Dia 17 Convide a família para visitar um amigo que faz tempo que não visitam. Leiam juntos o Salmo 96.2

Dia 18 Preparem o jantar em família e ensine pra eles seu louvor de Natal preferido. Salmo 72.19

Dia 19 Faça cartõezinhos com mensagem de Natal para entregar para seus amigos da escola. Salmo 67.5

Dia 20 Nessa época, é muita correria. Separe um tempo para agradecer em família todas as bênçãos recebidas e leiam João 1.1-18

Dia 21 Uau! Está quase chegando. Ligue para alguém da sua família com quem faz tempo que você não fala e divida esse versículo: Mateus 1.18-25

Dia 22 Louve a Deus junto com seus irmãos na igreja, orem juntos por todos que ainda não conhecem Jesus e divida com eles esse versículo: Isaías 7.10-17

Dia 23 Ajude a mamãe a arrumar a casa e, junto com a família, leiam a promessa do nascimento de Jesus! Isaías 9.1-7

Dia 24 É dia de celebrar o nascimento de Jesus. Ele é o sentido do nosso Natal, e não os presentes e a comida. Ore agradecendo a Deus por enviar Jesus pra nos salvar! Lucas 2.1-14

Você só precisará de 3 ingredientes. Anote aí: • 100 gramas de açúcar; • 200 gramas de manteiga sem sal (margarina não dá certo); • 300 gramas de farinha. MODO DE PREPARO • Misture bem todos os ingredientes com as mãos. • Modele os biscoitos no formato que quiser ou use cortadores com motivos de Natal. • Coloque-os em um a assadeira untada. • Leve para assar em forno quente. Obs : Os biscoitos devem ficar clarinhos. Se quiser fazer o glacê para decorá-los e dar um toque colorido, anote aí: GLACÊ: • Clara; • ¼ de açúcar de confeiteiro; • Corante alimentício da cor desejada. Em uma vasilha pequena, bata a clara até que espume. Junte o açúcar aos poucos até obter um glacê branco. Adicione o corante que desejar, algumas gotas. Decore os biscoitos com a ajuda de um saco de confeitar com bico fino (ou saquinho de gelinho). Deixe o glacê secar bem antes de guardar os biscoitos. Guarde em vidros bem fechados.

Daniela Welte (Tia Pink) é missionária da IPIB e congrega na IPI Central de Palmas, TO

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 63


64 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Babies*

Teens

2 a 3 anos

15 a 17 anos

Kids*

4 a 5 anos

Friends*

12 a 14 anos

Discovery*

6 a 8 anos

Explorer*

Upgrade

18 a 25 anos

9 a 11 anos

*Babies, Kids, Discovery, Explorer e Friends disponíveis à partir de Novembro de 2013

Vivendo a fé

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 65


POESIAS

Eterna história LÍDIA SENDIN

O bom Jesus CARLOS MORAIS E SILVA

Jesus pequenino, Jesus, o menino, Fazia milagres; Jesus peregrino, Jesus, o rabino, Ditava milagres. Jesus me acolheu, Jesus me escondeu, Salvando a minh´alma; Jesus prometeu, Jesus me valeu, À sombra da palma. Jesus, Salvador, Jesus, meu Senhor, Na glória dos céus; Jesus, bom pastor, Jesus, o esplendor, No seio de Deus! Jesus me salvou, Jesus me tomou, Nos braços da vida; Jesus me abraçou, Jesus me tornou Um servo na lida. O Carlos é presbítero na 1ª IPI de Fortaleza, CE

66 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Quando se cruzam os ponteiros Bem no meio do relógio, Já é hora de alegria E tempo de bem louvar. O que fez o novo dia Para ser tão especial? É uma história antiga. Mas eu posso lhe contar: É um conto de Natal. Lembra o simples nascimento De um menino em Belém. Ele era diferente; Era rico sem vintém. Ele amava toda gente Mesmo quem não tinha amor. Era pobre e repartia Para o servo e pro senhor. Diferença não fazia, Cada um era especial. Estar com Ele todo dia Era dia de Natal. Enquanto Ele crescia Em estatura e em graça, Ganhava sabedoria. E ainda hoje onde passa Conquista muitos amigos, Mas também adversários, Quando espalha sua luz. E, ao soarem os sinos Da torre da catedral, Será outro aniversário, Começa de novo o Natal. A Lídia é da IPI de Piracicaba, SP


A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 67


68 Alvorada

A Revista da Família  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013


Mulheres


Que mundo é este? Jesse Therrien

Bela e Mestra do Bem, no século XXI

DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA Às vezes, eu, uma senhora de meia idade, pareço ter dificuldade em reconhecer este mundo em que vivo, onde criei meus filhos. Que mundo é este? Um dia destes, eu e meu esposo Ablandino, conversamos longamente com nosso líder de mocidade, Rony. Dizíamos a ele de nossa dificuldade em liderar neste mundo tecnológico, virtual. Às vezes, percebemos que não chegamos, que as respostas só virão depois. Elas acontecerão entre o grupo e nem sempre ficaremos sabendo. Agora em maio tivemos o privilégio de participar, em Poços de Caldas, do XI Congresso Interdisciplinar promovido pela Interclínica Ribeiro do Valle. Este congresso foi para nós um ótimo presente. Teve tudo a ver conosco, pois no ministério lidamos com pessoas que interagem, desenvolvem, envelhecem, têm insônia. Inclusive somos estas pessoas. Um dos palestrantes, Prof. Sigmar Malvezzi (USP), discorreu sobre a Gramática da Sociedade do Século XXI. Este parecia ter ouvido nossa conversa com Rony. Ele afirma que: “Neste momento da história, houve a virtualização do fazer; os processos são invisíveis, flexíveis e de difícil identificação. Os eventos acontecem acima de nossa capacidade de processamento. Acabamos nos vendo como sujeitos incompetentes, que não conseguem fazer o que é preciso. Os acontecimentos são muito rápidos. Houve a fragmentação das atividades econômicas e sociais. Indivíduos e instituições são desafiados na qualidade de vida, trajetórias, potencialidades, aprendizagem. Há uma soberania das redes de ação, interação, comunicação. Nesse ambiente, o indivíduo torna-se nômade sem se mover. A rede muda e ele tem que mudar. A demanda de novas competências impõe diferentes referenciais. Esperam identidades prontas, ajustadas. Ontem era um bom resultado, hoje não é. Quem pode liderar este empreendimento?

Índice Vida Cristã

Saúde & beleza

moda & estilo

Dentro das redes, indivíduos agem balizados. Sistemas órfãos, eventos e propriedades emergentes, não visíveis a olho nu. Nesta estrutura, o indivíduo é peça do jogo Lego, identidade, papéis e vínculos efêmeros. Não somos capazes de sentir da mesma forma. Somos máquinas adaptativas. Indivíduos negociam suas identidades, papéis, vínculos e tarefas. Desterritorializam-se os indivíduos de seus referenciais morais e de sua história. Tudo pode ou deve ser substituído a qualquer momento. O indivíduo precisa se reinventar fora da rede”. O Prof. Malvezzi ainda afirma que criou cinco filhos e agora cria seus netos passeando com eles pelas matas, mostrando as aranhas em suas casinhas, a natureza. Conta para eles as histórias da família. Opõe-se à massificação dos condomínios. Este professor verbalizou o que vínhamos sentindo. Que bom! Há poucos dias, li uma meditação intitulada “Um ponto fixo”. O autor australiano conta que foi visitar seu antigo bairro e quase não o reconheceu. Os marcos lembrados já não existiam. Cita os antigos navegantes que se orientavam por pontos fixos, imutáveis, tal como uma estrela. Afirma que nós cristãos temos sólidos pontos de referência: o Deus que não mudou em milênios e a Bíblia que oferece uma verdade eterna, independente de modismos. Sendo nós mulheres cristãs, do século XXI, precisamos nos reinventar todos os dias para conseguirmos nos comunicar, para sermos Belas, Mestras do Bem em nosso proceder (Tt 2.3-5) Ainda bem que: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13.8). Temos, portanto, um ponto fixo, uma estrela em um mar revolto. Ainda bem que Deuteronômio 11 continua atual. Que possamos viver e ensinar a Palavra, andando pelo caminho, o dia todo, todos os dias. Uma estrela, sempre eternamente! A Dulce, odontóloga, casada, tem 2 filhos e é da IPI de Botelhos, MG


Saúde&

beleza Entrando em forma depois da gravidez GISELE ROCHA SOUZA Emagrecer depois do parto não é tão fácil, especialmente quando, por algum motivo, a mãe não pode amamentar. Mas, algumas vezes, mesmo assim, depois do bebê nascer, o estresse, o cansaço e as noites mal dormidas fazem com que o peso normal demore a ser alcançado. É bastante natural o ganho de peso durante a gravidez, em geral de 9 a 13 kg. Outras chegam a aumentar até 15 kg. Algumas excedem este ganho de peso, fato este que é totalmente desaconselhado por profissionais da área de saúde. Durante a gestação, o corpo sofre diversas alterações físicas e hormonais e é muito solicitado para suportar o aumento de peso, angulação da coluna e pernas. Também existe a dilatação de quadris e do ventre; então, todo o cuidado com o peso é importante. Para voltar à boa forma, é preciso manter uma alimentação equilibrada nutricionalmente durante a gravidez. Não é necessário comer tudo que vê pela frente, pensando que grávida deve comer por dois. Durante a gravidez, a mulher em peso ideal precisa de um aporte calórico de 300 Kcal a mais da sua necessidade de calorias diárias. Sem contar que o excesso de peso também pode prejudicar o desenvolvimento do bebê e colocar em risco a saúde da mãe, podendo ocasionar doenças ou problemas indesejados nesta fase tão especial. É de suma importância o acompanhamento de um profissional nutricionista. E agora, se a gravidez já passou e os cuidados que poderiam ter sido tomados não aconteceram? Então, muita calma! Sendo disciplinada na alimentação, em pouco tempo é possível entrar em forma depois da gravidez, sem precisar fazer plástica alguma, como até muitas mamães procuram saber sobre o assunto. Escolha atividades prazerosas que, além de melhorar o corpo, podem também trabalhar o psicológico, Permita-se sentir felicidade

sem tanta preocupação. Coma sempre devagar e mastigando bem os alimentos, saboreando-os. Cada vez que for fazer uma refeição, procure sentar-se à mesa, de preferência em ambiente agradável. Mesmo sabendo que esta é uma tarefa difícil de se praticar, pois, mal conseguimos um banho ou um pentear dos cabelos com calma. Mas vale a pena tentar. Tente! Elimine completamente da dieta comidas gordurosas, bebidas alcoólicas, bebidas gaseificadas, refrigerantes e excessos de doces. De preferência, faça seis refeições por dia (desjejum, colação, almoço, lanche, jantar e ceia). Não pule refeições. Nas refeições como almoço e jantar, tente comer primeiro uma salada temperada com um pouco de azeite, vinagre ou limão, cheiro verde, o mínimo de sal ou temperos suaves de sua preferência, etc. Comendo a salada de entrada, aumenta-se o poder de saciedade e reduz-se a vontade de comer os alimentos mais calóricos. A barriguinha demora um pouco para voltar como era antes da gravidez: mas é só cuidar da alimentação e fazer atividades físicas que, em alguns meses, tudo volta ao normal. Quando o médico liberar a academia, faça os exercícios físicos, acompanhada de um profissional especializado. Assim, as séries são feitas respeitando seus limites e com a postura correta. Podem ser feitas até em sua residência. Os seios também podem ficar mais bonitos. O tempo deverá permitir o retorno dos seios ao ponto inicial. Os exercícios de peitorais e ombros devem cuidar, com o tempo, do retorno e do fortalecimento dos músculos envolvidos. As celebridades se dedicam a manter a boa forma, antes, durante e depois da gravidez. Mas muitas vezes, pela imposição de suas profissões, acabam exagerando e deixando a própria felicidade em segundo plano.

CINCO DICAS QUE AJUDAM AS MAMÃES A ELIMINAR PESO {1ª DICA } PACIÊNCIA 0 Às vezes, é complicado, especialmente

quando se olha no espelho, mas tenha paciência e espere passar pelo menos 6 meses para enfrentar uma dieta mais restritiva, sem comprometer o leitinho do bebê. Assim, o corpo vai estar mais equilibrado hormonalmente para responder bem ao sacrifício e emagrecer rápido depois do parto.

{2ª DICA } AMAMENTE, SE POSSÍVEL 0 Mas escolha bem os alimentos porque se, por

um lado, amamentar emagrece, por outro lado, também dá muita fome e comer bem é diferente de comer demais. A produção de leite provoca um enorme gasto calórico e ajuda a mamãe a emagrecer.

{3ª DICA } COMA BEM 0 No início ou no final de

cada mamada, o ideal é comer um iogurte ou tomar um copo de suco natural e beber muita água durante todo o dia, porque ela

0

ajuda a produzir leite e também a deixar o estômago ligeiramente cheio e com a fome controlada. Faça pequenas refeições ao longo do dia. Dê preferência às frutas, verduras, legumes, carnes brancas ou carnes vermelhas magras, cereais integrais e fibras. Não coma nada em excesso. Não invente de fazer dieta por conta própria: consulte seu médico e seu nutricionista.

{4ª DICA } SAIA PARA PASSEAR COM SEU BEBEZINHO 0 Vinte minutos de caminhada diária podem significar 100 calorias a menos aproximadamente. Consulte seu médico e o pediatra do seu bebê para saber qual é o melhor momento para esta atividade.

{5ª DICA } BEBA ÁGUA 0 Para que seu corpo seja hidratado e sempre se lembre de que uma alimentação com pouco sódio (pouco sal), além de reter menos líquido, faz bem a sua saúde.

A Dra. Gisele, especialista em Nutrição Clínica, é membro da 1ª IPI de São Paulo 1Consultório: Rua Santa Virgínia, 68 A, Tatuapé, São Paulo, SP - Fones: (11) 2097-0079 ou 2097-0089  Email: giselesrocha@uol.com.br

Mulheres  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013

Alvorada 71


blog Risqué

Sabe qual é o seu tipo físico? VIVI ALVES Meça a largura dos seus ombros, da cintura e da parte mais larga dos quadris. Mas, atenção, não dê a volta completa, tire a medida de uma lateral à outra. Passe-as para um papel e compare-as. Por exemplo, se ombros, quadris e cintura tiverem o mesmo tamanho, você é retângulo. Mas, se a cintura é fina, ampulheta. Quadris mais largos que ombros e cintura significam pera. Mas, se, em vez disso, os ombros são maiores, você é triângulo invertido. Oval tem cintura um pouco maior do que as outras medidas.

ALGUMAS DICAS PARA VALORIZAR SEU TIPO TRIÂNGULO (PERA) 0 Atenção: para equilibrar a silhueta é preciso atrair

0

0

RETÂNGULO 0 Atenção: O corpo costuma ser magro e com pou-

0

0 A Vivi é estilista e designer de acessórios, membro da IPI de Bebedouro, SP

Fontes de pesquisa: www.combinacomvoce.com.br pequenosfrascos.blogspot.com manequim.abril.com.br http://msn.bolsademulher.com

os olhares para os ombros com blusas chamativas. É importante que a cintura esteja sempre marcada, pois isso fará seu corpo parecer mais esguio. Diminua o volume dos quadris com roupas secas, retas e escuras e desvie a atenção para a parte superior do seu corpo. Aposte: decotes e detalhes horizontais, blusas e blazers acinturados, saias levemente afuniladas de tecidos firmes, salto alto, brincos chamativos e colares curtos, corte império, cintos e calças retas. Evite: camisas de punhos largos, bolsas de alças compridas, calças e saias claras, estampadas ou muito justas, bolsos volumosos e bordados na região dos quadris, calças cápri e peças curtíssimas.

cas curvas. Você precisa criar uma ilusão de curvas com recortes e cintos. Outra alternativa é esconder o corpo reto com blusas soltas. Valorize a região do colo, que costuma ser superbonita. Isso ajuda você a desviar os olhares das suas formas retas. Faça os quadris parecerem maiores usando saias evasês e calças com bolsos volumosos. Assim, você cria contraste com a cintura. Aposte: saias rodadas, cintura levemente baixa, vestidos-casaco, pantalonas, calças pregueadas ou boca-de-sino, mangas, decotes em V ou U, tecidos fluidos ou com textura, casacos e jaquetas. Evite: golas altas, roupas largas demais como calças baggy, estampas exageradas, blusas justas ou curtas, cós largos, cintura alta, peças muito acinturadas e cintos que contrastam com o resto do look.

0 0 0

AMPULHETA 0 Escolha roupas

0 0 0

0

0

apertadas que enfatizam sua figura, como saias que destaquem a cintura com cintos largos e estreitos que estão muito na moda ultimamente. Mostre os pés e os tornozelos com sapatos alegres e vistosos. Escolha um penteado macio. Evite o cabelo comprido. O melhor é uma madeixa um pouco abaixo dos ombros. Este tipo de corpo é o ideal e fica-lhe bem quase qualquer tipo de roupa.

OVAL 0 Atenção: é preciso disfarçar a barriga com túnicas,

TRIÂNGULO INVERTIDO 0 Atenção: As mulheres que

têm corpo com forma de triângulo devem evitar determinadas roupas; descubra qual é o modelo perfeito para valorizar suas formas e esconder aqueles defeitinhos. Este tipo de corpo tem como características principais:

Ombros mais amplos do que os quadris; Cintura bem definida e quadris retos; Glúteos planos e pernas finas. Quando engordar, os quilos vão todos ao peito, barriga e pernas. Escolha a roupa que não ressalte os ombros e leve o olhar à cintura. Aposte: Opte por jeans leggins e minissaias. Escolha tecidos como lã e seda. Use jóias de forma geométrica, mas não muito elaboradas. Opte por um corte de cabelo liso. Evite: saias e calças largas com cintura estreita.

0 0 0 0

0

camisas e blazers abertos e blusas com decotes verticais. Deixe sempre a pele à mostra, seja do colo ou dos braços. Decotes em V e mangas curtas destacam essas regiões. Procure afinar principalmente as coxas e os quadris. Mulheres de pernas bonitas e bem torneadas devem valorizá-las com saias e vestidos na altura dos joelhos. Aposte: looks monocromáticos, tecidos encorpados, decotes em U ou V, saias e calças retas, lapelas estreitas, túnicas e camisas até a metade dos quadris, salto grosso, anéis e brincos poderosos. Evite: tecidos volumosos ou colantes, calças e blusas muito largas, cintos, salto fino, bolsas grandes, saias rodadas, cores vibrantes, bolsos e botões exagerados, lenços amarrados no pescoço.

FACEBOOK:VIVIALVESNOIVAS 72 Alvorada

Mulheres  nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013 


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.