O Poeta Eletrônico

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O Poeta Eletr么nico Oliveira Neto Sonetos 2001 / 2002


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Nota do Autor: Esta obra foi originalmente publicada na forma de um website

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O Poeta

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u, Oliveira Neto, me considero um poeta satírico, cuja maior inspiração vem dos despantérios e do ridículo - "seria cômico se não fosse trágico" - em que nos deparamos diariamente. Para tanto, valho-me primordialmente da forma soneto, fiel a uma sina que exprimi na abertura do meu segundo livro, "Nova Lira Velha", de 1986: Existem muitos poetas... Mas se leio o que há de hodierno encontro obras nas quais Percebo, mesmo, prosa - e pouco veio Com certas excessões muito especiais... De fato, hoje que regras tão gerais Estão vigendo, é fácil neste meio Alguém se aventurar... Já não há mais As árduas restrições... Porém anseio Por declarar sinceramente o quanto Os poemas que obedecem rima e métrica Sempre serão dos com que mais me encanto, Razão por que em meus versos, com norma, Submeto-me a exigência quase tétrica: Buscar manter respeito às leis da forma...

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Sumário O Poeta Eletrônico ................ Anedotas .......................... Prêmios ........................... Sonetos – Índice .................. A obra de Oliveira Neto ........... Agradecimentos .................... Mensagem de despedida... ..........

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O Poeta Eletrônico É inegável... É inegável, o fato já se deu: vivemos todos na era da informática e mesmo os mais retrógrados, como eu, têm que curvar-se à nova sistemática... Não só do americano e do europeu é o uso da Internet – hoje, na prática, o mundo ela invadiu, o teu, o meu, influindo sobre nós, de forma enfática!... Destarte, um novo livro ora inicio, sem pejo, a me valer da cibernética para, na web, livrar-me do fastio e espero a compreensão da minha musa: que siga iluminando, em prol da estética, este vate, que dela tanto abusa...

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Vejo, atônito,... Vejo, atônito, o ignóbil atentado que sofreu a potência americana, coisa inimaginável, que há deixado perplexo o globo, que na dor se irmana... Quem terá sido o abjeto celerado que essa matança urdiu, com mente insana? Imagino a volúpia do atacado em vingar-se da corja desumana!... O que a seguir virá?... Que conseqüência provocará tal ato de demência a um mundo onde fenecem os valores? Os dirigentes com poder na América procederão de forma não histérica, evitando, destarte, mais horrores?...

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Barbalho... Saiu da presidência do Senado, por renúncia,Barbalho, o cidadão que lá não poderia ter ficado, por seu envolvimento em corrupção... Assim, após livrar-se do indiciado, buscou outro cabeça a instituição e uma surda disputa há provocado no partido que tinha essa missão... A casa, que antes teve o Malvadeza e, após, o renunciante à testa, altiva, o nome quer agora, com clareza, limpar – e, para tanto, meios há... Tem-se, pois, de quem entra a expectativa que seja, qual parece, só gagá...

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Começam a surgir... Começam a surgir desdobramentos da hedionda, sem igual carnificina que de Tio Sam feriu os sentimentos de forma vil, pungente, que lancina... Passados os fatídicos momentos das incríveis visões dessa chacina, preocupam-nos os pósteros temores que o feito à humanidade determina... Como será a vindita da potência que, ao que parece, conseguiu anuência de um universo sob desígnios seus? A belicosidade, que se assanha, não brindará o Islão com a façanha de promover um terrorista a deus?...

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Santos Dumont... Lembro Santos Dumont, certo um suicida que a crônica do gesto faz-nos crer ter preferido abandonar a vida a seu avião matando em guerras ver... Que assim seja... Entrementes, o homicida ataque ao Ocidente, que temer pelo futuro faz, vem dar guarida a hipóteses que são de estarrecer... Da aviação ao patrono volto e intento, recordando o espetáculo de dor, imaginar-lhe a angústia sem remédio que teria se visse o seu invento, com impacto letal, demolidor, posto a explodir no coração de um prédio!... .

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Que perdas... Que perdas o terrível atentado às torres provocou... Até o Brasil seus mortos chora... E as crises... E o mercado... Mas houve quem ganhou com o ato vil!... Foi Bush o principal beneficiado: vencera uma eleição como se viu, era figura obscura e ora é saudado como líder atuante e varonil... Mario Garnero, aqui, está aliviado: o prédio gigantesco que queria construir seria um projeto com mau fado e feliz deve estar Fernando Henrique, fora das luzes desde aquele dia, por mais barbaridades que pratique...

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Em versos lamentei... Em versos lamentei, anteriormente, quando ao Iraque se aplicou lição, quão aos americanos subserviente a Inglaterra tem sido, sem razão... O fato se repete agora e não parece incomodar à sua gente, detentora de grande tradição, mas que a tudo se mostra indiferente... O que há c’o povo inglês?... Não se estarrece com servilismo tal que, com enganos, apequena a nação?... A mim parece, sem pensar novamente na mulher que afundou o país, por tantos anos, ser hora de trocar-se Tony Blair...

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Retorna Dida... Retorna Dida, o excepcional goleiro, que tanta glória deu ao seu Timão!... Foi-se o tempo em que havia só frangueiro na baliza, a trazer-nos decepção... A volta desse jovem brasileiro, que deveria ser da seleção o titular, por certo um verdadeiro marco será da nossa redenção... Seu retorno me faz, com alegria, voltar à mente o fabuloso dia em que pegou os pênaltis do Raí (que após, no chão, chutou-o, em desespero)... Há que exortar-lhe: "Vem e, com esmero, nos fecha o gol... O teu lugar é aqui!..."

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Deixa o Premier Deixa o premier da Itália lhe escapar uma frase repleta de racismo, num momento infeliz, em que há no ar toda a tensão que causa o terrorismo... "Nos somos superiores..." A exemplar gafe saiu, causando paroxismo ao mundo muçulmano, a condenar essa explicitação de neofascismo... A manifestação de Berlusconi me fez lembrar alguém, cá no Brasil, que passaria bem por um seu clone: um milionário que pertence à nata da sociedade e mostra seu perfil em frases quais "estupra, mas não mata..."

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Três semanas... Três semanas se passam da agressão terrorista ao comando do Ocidente e está-se à espera da retaliação a quem levou tragédia a tanta gente... O alvo, em princípio, é o Afeganistão, onde se crêem agindo impunemente os mentores do crime sem perdão, aos quais pretende-se dar fim urgente... Controlando o rancor que há de ter n’alma, surpreende George Bush e mostra calma – e indagam muitos por que tarda o início da vingança que vem... E posso crer a demora dever-se a ele já ter informe de que o monstro é seu patrício...

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O minhocão... Não adianta... Outra vez, o Minhocão se assemelha a um depósito de lixo, se é que houve algum momento, nesse então, em que deixou de sê-lo, por capricho... É compungente a vil comprovação de ver sobrevivendo como bicho o lixo humano que, sob a extensão do viaduto se abriga... Não há nicho no campo de trabalho à pobre gente... Urge-lhe, Marta, pois, a salutar tarefa que iniciou: tirar da rua todos eles, sob pena, até iminente, de ver Paulo Maluf se vangloriar por dar-lhes teto embaixo de obra sua...

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Renuncia Barbalho... Renuncia Barbalho, qual previra este vate em opúsculo anterior: das antecipações que fez à lira, esta foi das mais fáceis de se impor... Se o Congresso justiça tinha em mira ao tratar este e o outro senador, acertou ao queimar na mesma pira os dois indignos, mesmo que sem dor: a renúncia, evitando a cassação, poupa aos indigitados seus direitos políticos... Na próxima eleição poderão retornar, num grande acinte a todos, pois a lei, com seus defeitos, dá a crer ser sempre avessa ao contribuinte...

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Pois bem, já que... Pois bem, já que estamos, certamente, num tempo em que cultua-se modismo, pergunto como o nosso presidente poder-se-ia enquadrar, sem eufemismo.... Colocada a questão, eu mesmo cismo, a tentar associar-lhe pertinente adjetivo, ou motejo, ou aforismo que o descreva de modo convincente... Não parece difícil a empreitada e, de fato, não é preciso ir fundo nem longe, para a mente que trabalha fazer brotar, de pronto, uma fornada de epítetos. Que ocorrem num segundo: neobufão, neocretino, neocanalha...

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Vejo Osama... Vejo Osama bin Laden, o execrado e suposto mentor do ato de morte que à América infligiu-se, em atentado sem precedente com tamanho porte!... Negando, embora, a culpa, seu passado parece incriminá-lo... E há quem se importe? Ele seja ou não seja o celerado, como bode expiatório é muito forte... E ao Afeganistão se leva guerra, ou melhor, bombardeio, para gáudio da indústria militar, que desemperra... Enquanto sobre o Islão bombas estrugem, seu incrível guru, com vídeo e áudio, vence a guerra das almas, com lambujem...

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Morreu Roberto Campos Morreu Roberto Campos, celebrado e, a um tempo, controverso economista, neoliberal ferrenho, até acusado de o bom para Tio Sam ter sempre em vista.... Ora finado, é justo que se assista ao preito homenageando seu passado de brilho e inteligência, sem dar pista de haver contra o Brasil se colocado... Pois bem, que seja assim, porém é certo que o país, por seguir idéias tais, já do fundo do poço está bem perto, em crise que parece não ter jeito, sob diretrizes de quem é, sem mais, de Campos um discípulo perfeito...

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Toda guerra... Toda guerra, seja ela como for, por certo nos trará notícias más e, com armas modernas, mais horror se espalha facilmente, num zás-trás... A de agora é uma luta com sabor diferente do usual: há bombas, mas também a novidade do terror por infecção a vírus com antraz!... Esse planejamento, tão bem feito, me intriga e faz pensar em onde estão os mentores do drama, que consterna... Provas não surgem contra o grão-suspeito, me aumentando, destarte, a convicção de que organiza tudo gente interna...

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Recordo o ataque... Recordo o ataque às torres de Manhattan, horrível episódio que a razão vilipendiou, usando aviões que matam para jogar o mundo em convulsão... Diz-se que vieram do Afeganistão as ordens que os princípios desacatam, cindindo o mundo em fera divisão, mas entre antípodas que em algo empatam... O atentado a New York foi, sim, nefando, covarde golpe que há de, na lembrança, ficar por muito tempo atormentando... É claro que Tio Sam revidaria, mas deve-se dizer, sobre a vingança, que como a estão impondo é covardia...

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Penso na guerra... Penso na guerra que se abate sobre o Oriente, nessa guerra perversa entre a maior potência e um povo miserável... Quanto mais a mente se ocupa da questão, mais sente-lhe a indecência... A justificativa dada, improcedente, da caça a um terrorista posto em evidência, não consegue iludir a quem, pensando, atente da indústria militar aos lucros em pendência... E quem comanda tudo é um presidente eleito de forma duvidosa, em contestado pleito, que agora a recontagem prova ser burlado... Assim, George, só tens uma digna saída: cessa teus bombardeios, em respeito à vida, renuncia e convoca ao voto o eleitorado!...

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Não aprovo... Não aprovo da força policial o modo usual de agir, com truculência... Eu mesmo já fui vítima, afinal, desse arbítrio, que espero em decadência... Porém, repilo, e o faço com veemência, a maneira escolhida, irracional, por jovens da Católica: a violência a obstar defender tese um oficial... A esses moços, que querem protestar dessa forma, reprovo e digo mais, mesmo sem conhecer o capitão: que bom se essa Polícia Militar tivesse muitos outros oficiais capazes de fazer pós-graduação!...

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Lembro de haver... Lembro de haver cantado o vergonhoso episódio Lucena, há já seis anos, dizendo ali morrer o sonho airoso de vingar no país airosos planos... Ao fazer a baganha, então, Cardoso, que, após, nos governou só com enganos, dera o tom de um governo desastroso, pleno de cambalachos palacianos, dos quais mais um agora: a indicação a ministro do pífio Ney Suassuna, que tinha no Senado a condição de engavetar processo contra o EJ e o fez, é claro... Tudo se coaduna: o Brasil, outra vez, feito de idiota!...

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Aliás, Fernando... Aliás, Fernando Henrique poderia, se quisesse, afastar qualquer suspeita que sobre ele pesasse, até em desfeita aos que só pensam nisso, todo dia... Seria muito simples: bastaria que de maneira límpida, escorreita, deixasse, com firmeza, desta feita, o EJ investigar... Ocorreria, então, que todo o povo brasileiro veria não haver nada de errado em suas ligações... Todo o dinheiro escuso que, aventavam línguas más, esse duo embolsou, mancomunado, inexistia... Por não o faz?...

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Vejo em Bin Laden Vejo em Bin Laden a tranqüilidade que falta a George Bush em seu semblante: um fala como arauto da verdade, o outro, qual militar beligerante... Se Osama é do atentado o vil mandante que a América chocou pela crueldade não se sabe... A impressão, ao vê-lo diante, é de um patético, obstinado abade... Onde mora a razão?... Para dizê-lo, somente um analista insuspeitável, que a questão matutasse com desvelo, a ponto de opinar tendo pesado tanto as mortes do crime abominável quanto históricas perdas do outro lado...

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Fernando está... Fernando está na Europa: é onde ele brilha, sente-se um estadista, é homenageado, têm-no como exemplar chefe de estado, grande líder, de escol... Que maravilha!... Quem o ouça discursar por lá, empolgado, em inglês ou francês, pois não se humilha a utilizar do Lácio a última filha, há de o crer um gestor iluminado... Isso é o primeiro mundo!... A fantasia, porém, fenece abaixo do Equador, onde o governo seu privilegia os ricos, os corruptos, os banqueiros, e não o povo, eterno sofredor, e o futuro de tantos brasileiros...

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Era só o que faltava Era só o que faltava... Está na imprensa a notícia que chega, deprimente: empresa de Pelé, dolosamente, pôs-lhe no bolso uma quantia imensa... E o caso é inda mais vil quando se pensa que era um fundo com fim beneficente, malversado em ludíbrio a muita gente que no atleta maior pôs sua crença... Que pensar de um país, qual sua fama, se alguém com glória tal chafurda em lama?... Que fato a lastimar... Que coisa feia... Agora, em face disso consumado, resta saber se o ilustre indigitado vai passar algum tempo na cadeia...

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Escuto Rubinstein... Escuto Rubinstein tocando piano com leveza, expressão, genialidade, um mestre do teclado, um veterano artista que venceu a própria idade... O momento é de enlevo, suavidade, mas eis que vem-me um pensamento insano: lembro Fernando e a insensibilidade com que gere o Brasil, sem qualquer plano... Por que falhou tão feio?... Ora, porque aliou-se aos interesses do cifrão, as questões principais faz que não vê, porque a distância dele a um estadista é a mesma que, por certo, encontrarão entre quem toca piano e um bom pianista...

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Penso nos Talebans... Penso nos talebans e na besteira feita, de dar guarida a um terrorista que era caçado, de qualquer maneira, pela grande potência belicista... Destarte, não surpreende que se assista agora à derrocada verdadeira do seu regime fundamentalista, que à nossa Idade Média tanto cheira... Rui, assim, uma incrível ditadura que se valia, no combate ao mal – a seu ver... – de uma hermética estrutura... Se "buscar sarna para se coçar" era o seu objetivo principal, o lograram com êxito exemplar...

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Volto ao assunto... Volto ao assunto dessa hodierna guerra em que se paga horror com mais horrores, qual tanto acontecer soe cá na Terra, há milênios chorando dissabores... Quem tais lutas estude jamais erra ao julgar que, em seus cursos, não há flores, mas na presente um ponto há, que ela encerra, dando certa razão aos invasores: eu se fosse afegão, adoraria não mais ter que usar barba, como um frade, e poder escanhoá-la todo dia mas também há outras coisas, se mais queres: música ouvir, beber, ter liberdade e poder ver a cara das mulheres...

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Volta a baila Volta à baila, outra vez, a discussão de quanto é probo o nosso presidente e, estando vindo próxima eleição, o tema ora em agenda é mais candente... De ter envolvimento ainda há muitos que Não penso assim – e acode em meu apoio,

em corrupção o julgam inocente... milenar refrão certamente:

"Não basta que de Cesar seja honesta a mulher, também deve-o parecer..." – eis um ditame que ninguém contesta... Pode Fernando, até, ser ilibado, mas, então, tanto estar sem recender a honestidade foi o seu pecado...

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Imaginei pessoas... Imaginei pessoas comparar com figuras nascidas da ficção e assim o fiz... Pois, vejam: Itamar com Woody, o pica-pau, tem relação... Pedro Malan me leva um certo personagem José Gregori, ao se me parecer do Jabba

a recordar corujão... manifestar, ser irmão...

Paulo Maluf, c’o a eterna malandragem, do Corrupião Corrupto é a própria imagem, como Delfim me lembra Sancho Pança... E o nosso presidente – Deus me valha...– só não sabe a um perfeito irmão Metralha, por ter com o Pateta semelhança...

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A família de Covas... A família de Covas continua a vetar José Serra intensamente, ungiu por Tasso a preferência sua e sonha vê-lo eleito presidente... Por que terá o cacique agora ausente feito essa opção?... Será porque na rua não tem repercussão o pretendente ou por causas banais, coisas de lua?... O fato é que a família, sempre fiel às idéias do prógono finado, nos planos do ministro joga fel, contribuindo, destarte, a que persista na presidência a um fato a ser notado: cem anos sem a posse de um paulista...

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A família de Covas, acrescento, nesse episódio, ao dar apoio a Tasso, conseguiu provocar, em mau momento, ao governo um insólito embaraço... Nada tenho com isso, fico isento, se tiver que opinar acerca, eu passo, mas certamente trouxe tal evento também a Geraldo Alckmin mau pedaço... A família de Covas, em essência, levou sério demais a veleidade do falecido em sua preferência... A família de Covas, empolgada, deixou passar uma oportunidade maravilhosa de ficar calada...

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O que há... O que há com o Brasil?... Coisas estranhas estão acontecendo na nação... O safado Lalau, com suas manhas, foi posto novamente na prisão... No Piauí, do Mão Santa a cassação se inclui deste período entre as façanhas, mas falhou-se em Vitória, onde o ladrão local logrou safar-se com barganhas... Porém, de todas, a maior surpresa foi a condenação dos anormais que incendiaram um índio sem defesa, pois, já que não se aplica no país execução a criminosos tais, o caso teve, assim, final feliz...

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Três meses... Três meses já se passam do atentado às torres, que abalou uma nação e levou-a um conflito já marcado por horrores, chacinas, confusão... Isto é até compreensível, por que não?... Se há um ataque brutal, qual consumado por tresloucados invocando o Islão, é natural vingar-lhes o pecado!... Mas se lembre, também, que, na miséria, trinta e cinco mil crianças no planeta a cada dia morrem, sem que séria denúncia haja, sem que alguém se anime a pugnar contra tal ou se intrometa a buscar os culpados desse crime...

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Almocei com Ciro Hoje almocei com Ciro, o jovem postulante ao cargo de Fernando em nossa presidência, e senti reforçada, ao ver-me dele diante, a impressão favorável que tinha: em essência, de que se eleito para o posto será atuante, não deixará o Brasil seguir em decadência, dará força ao que é nosso, sem ser titubeante, ou entreguista, até – seria uma incoerência... – não dirá no exterior o que não faz cá dentro, bajulador eterno não será do centro, mas cedendo à direita o melhor do poder, fará as reformas pelas quais não mais se briga, em vez de sempre as "empurrar com a barriga", será a antítese, enfim, de quem quer suceder...

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Já que a justiça... Já que a justiça não o ataca a fundo, Maluf, aproveitando-se do fato, ressurge na TV mais iracundo e desanca,a seu modo, o tucanato. Com a cara-de-pau que todo mundo conhece, põe-se, em tom de desacato, ao governo tachar de vagabundo e, como opção, se lança candidato... Cuidem-se, pois, Geraldo e seus tucanos: a eleição, sempre incerta, vem aí e o rescaldo do visto em vários anos alimenta o discurso desse histrião, já que, tirando o que ele diz de si, no resto, em boa parte, tem razão...

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Que o Brasil... Que o Brasil é um país que dá vergonha sabemos muito bem, estamos mal e, pior, não há governo que se ponha a melhorar a imagem nacional... O atual, que, em seu delírio, brilho sonha, mas que é de incompetência proverbial, acumula mais uma má, medonha e dura mácula internacional: assassinado por piratas, parte, em nosso território, um eminente navegador de escol, neozelandês, homem famoso... Que fazer?... Sua parte faz, compungido, o nosso presidente: envia pêsames, mais uma vez...

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Dentre as... Dentre as repercussões do horrível fato, vem o Ministro da Justiça e diz, a quem esteja atento, o que relato, amostra do que vai pelo país: "É lamentável este assassinato, já que crescia o turismo aqui..." O que quis dizer?... Não é esta frase o fiel retrato de um governo insensível, infeliz?... É triste ver alguém que sempre achei decente, mas que agora, a o deslustrar, está a deste governo ser da grei, deixar de lado todo o sentimento para, a exemplo do chefe, cortejar o interesse mesquinho do momento...

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O Corinthians... O Corinthians termina com derrota, ingloriamente, mais um campeonato... A torcida, outra vez, posou de idiota, vendo frustrado o seu desiderato... O desempenho mau, enfim, denota que, embora luta exista, há que, de fato banir-se a incompetência, cuja rota sempre conduz a resultado ingrato... A quem do mundo ao píncaro, há dois anos, alçou-se, no mais róseo dos cenários, triste é ter que afogar os desenganos a se valer do subterfúgio parco de assistir os maiores adversários afundando também, no mesmo barco...

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Podem ser tudo... Podem ser jamais... praticam, exceto em

tudo as guerras, mas amenas, Barbaridades todos lados por saber que não há penas, poucos casos registrados...

Ora relata-se uma dessas cenas, com petardos do céu arremessados em prisioneiros, mortos às centenas, alegando-se estarem rebelados... "Terroristas..." Vale este raciocínio, que essa matança, de aparência horrenda, justifica, não vendo-a como vã?... Se isto torna aceitável o assassínio, lembrado seja quando se pretenda julgar o Coronel Ubiratan...

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Levou grande goleada Levou grande goleada - doze a zero... – do futebol a máfia no Senado!... Resta saber se agora, como espero, o fato levará a algum resultado... Chega de lama e tanto lero-lero, que à nossa bola trazem só mau fado!... Sou otimista: ante o que vejo, quero que se sepulte logo esse passado... Como sei que seria até demais, num país em que a impunidade grassa, botar atrás de grades quem é rico, que ao menos, livre desses marginais, reviva o futebol, com sua graça, sem Farah, sem Teixeira, sem Eurico...

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Respirei aliviado Respirei aliviado, pois no Santos vai ficar mais um tempo o Marcelinho, já que auguro a esse moço outro caminho que não seja voltar por estes cantos... Sua passagem trouxe-nos encantos e o Corinthians lhe deu muito carinho, mas quanto ele mudou... Não mais me alinho consigo, Luxemburgo e uns outros tantos... E como é nossa prática a besteira de gostar de pagar altos salários, já temos novo técnico: Parreira... No que me tange, no que me concerne, qual diria o campeão dos salafrários, teria ido buscar Jair Picerni...

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Xeque-mate Xeque-mate ao governo da Argentina dá o povo, pelas ruas rebelado... Saques, greves, tumultos, triste sina de um país que foi rico, no passado... Mas, o analista isento que examina a crise da nação, por qualquer lado, logo percebe a fonte que origina a tragédia de agora e o seu legado... Não se execre Perón, ele é um efeito e não a causa do que tem-se feito para o país levar à medicância... Há que se aprofundar um pouco mais e buscá-la em pecados capitais: na soberba, no orgulho, na arrogância...

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Ao que parece... E, ao que parece, não surtiu efeito a defenestração do presidente: segue o povo em revolta, contrafeito, na busca de um país, enfim, decente... Depois de tudo o que por lá foi feito, incluindo a ditadura repelente, julgam todos estar no seu direito deter mais sério corpo dirigente... O "Não!" que gritam é contra o entreguismo, a corrupção, que sempre se acoberta, a injustiça social, o populismo, coisas que, como aqui, vicejam lá – e o que lá ocorre soe pôr-nos alerta... Cuidai-vos, pois, políticos de cá...

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Certamente... Certamente era um forte candidato, provocando frisson na discussão... Por diversos critérios foi, de fato, um nome a ser ousado – por que não?... Terrorista confesso, esse vilão, porém, ao Ocidente estupefato cotucou a consciência e pôs a mão nas feridas, em rude desacato... Importa é que à ancestral revista Time, que certamente pesa cada dime nas decisões que toma e não escapa do contexto em que atua, é seu direito, como homem do ano, não ter tido peito de bin Laden ungir à sua capa...

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Entra na igreja... Entra na igreja, trôpego, o assassino e toma o rumo do confessionário: vai em busca de paz, conta ao vigário o crime, cometido em desatino... Enquanto ao fundo se ouve um sóbrio hino, o padre escuta e pensa, em seu sacrário, e dita a penitência: o temerário gesto de se entregar – é o seu destino... O choque da sentença inesperada ao penitente amarga o coração, pois, como a despertar com a pancada, só então percebe a sua situação: não deixará de ser alma penada, já que só a morte lhe trará perdão...

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Hoje dirijo-me Hoje dirijo-me ao governador e à prefeita que temos por aqui - Geraldo Alckmin é o nome do senhor e o da senhora é Marta Suplicy... Meus caros, chega, é dasabonador: não se pode sair mais por aí sem que haja, em cada canto, um sofredor pedindo, mendigando... Me atrevi a provocá-los, pois, no Olimpo etéreo que ocupam, onde eleitos pelo povo soem se ocultar, jamais levando a sério a tragédia de muito cidadão... Conclamo-os, já, a ousarem algo novo, com certeiro fanal: "Miséria, não!"...

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Sobre Bin Laden Sobre Bin Laden e seu vídeo leio, em que dá ciência e assume ser culpado do portentoso, horrível atentado que as torres gêmeas atingiu em cheio... A verdadeiro ser o revelado, como parece, em bom momento veio, pois esclarece muito e, de permeio, ainda revela um caviloso lado: foi em nome de Deus que fez-se tudo - este aspecto parece-me bem forte nas frases do fanático barbudo!... Crêem-se certas as partes nessa história: uma delas sorri perante a morte, embasa a outra na morte a sua glória...

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Lembro Hitler... Lembro Hitler, o Führer, o nazista que deu origem a conflito imundo, com fúria radical, nunca antes vista, abrindo chagas que calaram fundo... E grande apoio interno tinha o "artista", com seu modo violento, furibundo... Como pôde?... E quem jura não se assista repetir-se a tragédia neste mundo?... Bush – e o que há por traz dele – é potencial ameaça à paz, mas ainda, em termos práticos, tem peias na consciência nacional... Já pensaram se, um dia, essa potência deixar de ter princípios democráticos e abandonar, de vez, a transparência?...

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Se compro ações... Se compro ações na Bolsa, perco o sono, porém, das que subiram, ele é dono; sonho um novo governo em que se invista, mas ele é malufista e fernandista; me critica por ler Agatha Christie, pois prefere a Carraro* e nisso insiste; tarda o ascensor ou algo tem que emperre-o, com ele nada ocorre e está no térreo; meu carro pára no engarrafamento, vejo o dele passar, sem sofrimento; no poker, com quatro azes, mando brasa, mas o straight flush em sua mão me arrasa; faz-me a rocha escalar, firo-me, esfolo-me, e ele acima a sorrir, airoso, incólume; dá-me o amigo secreto coisa vã, ganha ele um Logan ou um Rémy Martin; descubro a mulher linda e ele a conquista, por mais que seja feio e vigarista; marco ir às torres a onze de setembro e ele foi dia dez, qual bem me lembro; vou ao jogo e o Corinthians dá vexame e ele, ao lado, o Palestra aclama, infame; perdoar-me-ão os leitores se eu, no peito, guardar alguma raiva do sujeito?...

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Que o Brasil... Que o Basil é o país da malandragem, sabemos bem... Cada um é mais esperto que o próximo... Ninguém quer perder viagem, ficando sem tungar quem está perto... Se alguém se acerca com camaradagem, haja cuidado, pois amigo certo não é: muitos safados assim agem para, após, enganarem... Olho aberto!... E o governo não foge dessa regra: sempre que pode, esbulha o cidadão – – e todo mundo no engodar se integra, sem notar que praticam mútuo mal, resultando a geral empulhação em perda sinergética global...

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Recordo que... Recordo que, em poesia escrita há anos, investi contra o horário eleitoral, essa idiota excrescência nacional, porém que os candidatos têm nos planos... No entanto, outra há que não faria mal se extinta – e em causa tal nos irmanamos todos que sua arenga detestamos: é a Hora do Brasil... Logo, que tal, agora que eleição temos à frente, com as velhas promessas, dinheirama já prestes a rolar, que mal me cheira, candidatos haver a presidente que topem colocar em seu programa dar um fim a essa histórica besteira?...

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Está no chão Está no chão o corpo do suicida, única coisa errada nesse ambiente, além do copo em que água e formicida levaram-no ao além, conscientemente... Por que assim decidiu pôr termo à vida? Um bom profissional, sério, exigente, situação financeira definida, nada augurava o gesto comovente... Olho de cima a abaixo toda a sala, buscando achar motivo racional para o ato extremo: um livro, uma bengala, um busto de Caxias feito em prata e então dou conta do invisível mal: a nostalgia, a solidão que mata...

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Preocupa-me Preocupa-me o que passa a espécie humana, ante um materialismo tão crescente: a luta por dinheiro é vil, insana, mesmo se estando em condição solvente... A humanidade, assim, não se auto-engana? Não é, de certa forma, delinqüente? Porque se joga em tábua rasa e plana tanto valor que era, antes, caro à gente?... Destante, é de angurar-se que se possa, lançando mão de raciocínios vários, compreender mais de perto nossos males: por que em baixa o homo sapiens na era nossa, já que só vemos o homo monetarius ou, noutra dimensão, o homo sexualis?...

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Parabéns deputados Parabéns, deputados, senadores, por votarem o fim da imunidade parlamentar, que permitia horrores em ambas casas... A promiscuidade com bandidos de todos os setores, com traficantes e assassinos, há de ter chegado a tal ponto que os valores morais falaram alto... Na verdade foi isso, ou nossos nobres congressistas tinham os olhos na sobrevivência, a meses da eleição?... Teremos pistas em breve, pois é retroativo esse ato: se for para valer, em sua essência, que já se casse, a muitos, o mandato!...

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Voltaram a indagar Voltaram a indagar se eu votaria ou em Maluf ou em Fernando Henrique se, em eleição que houvesse, um certo dia, fosse essa a opção, sem mais nenhum cacique... Vou responder, e que bem claro fique que, nessa situação, sem alegria qualquer eu votaria... Num repique, porém, vamos ao ponto que eu queria... Já analisei bem isso e posso, pois, vista cada indecência, cada ilícito, dizer que, certamente, entre esses dois, sufragaria o Paulo e dou a pista: ira menor me dá um canalha explícito do que outro travestido de estadista...

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Cansou de alertar Cansou de alertar-nos Arnaldo Jabor: "Teremos saudades deste presidente, deste mulherengo Clinton sem pudor, mas que trata o mundo de forma decente..." Veio Bush, em pleito sem nenhum valor, confirmar o dito pelo neovidente: com ele está a Terra a haver-se com o horror, até então contido, em estado latente... O primeiro fez diversas tentativas de engendrar a paz, se pondo eqüidistante dos polos, mantendo as esperanças vivas... O outro, qual tufão, veio nos acenar com o americano espírito arrogante, sendo o agente mor do que está a se passar...

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Dois mil e dois Chegou dois mil e dois e vamos ter novas surpresas... Qual a nossa sina?... O ano é do futebol... Há como crer que ao Brasil essa Copa se destina?... O que augurar?... Ao povo mais poder, que se resolva a crise da Argentina, que cesse a América de combater carnificina com carnificina, que o Corinthians encontre seu fanal, dando alegria a muitos deste povo, que os políticos façam menos mal, que, com sua voz, julguem Fernando as urnas e que sejam as bênçãos do ano novo menos más, menos vis, menos soturnas...

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Mas, ora... Mas, ora, já que estamos, certamente, num tempo em que cultua-se modismo, pergunto como o nosso presidente poder-se-ia enquadrar, sem eufemismo... Colocada a questão, eu mesmo cismo, a tentar associar-lhe pertinente adjetivo, ou motejo, ou aforismo que o descreva de modo convincente... Não parece difícil a empreitada e, de fato, não é preciso ir fundo nem longe, para a mente que trabalha fazer brotar, de pronto, uma fornada de epítetos, que ocorrem num segundo: neobufão, neocretino, neocanalha...

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Fala-se... Fala-se ora em Fernando no Senado, sem passar pelo voto, vitalício, um estranho casuísmo preparado para beneficiar... Mas o princípio dessa proposta, que até tem seu lado positivo, a experiênica, traz o indício de que foi feita para o potentado que o país tem trazido sob suplício... Por que não entram Itamar, Sarney, também ex-presidentes da nação? Por que não os atinge a estranha lei?... Quem se visa premiar, pelo que fez, é o que menos merece esse condão, pois seu lugar perfeito é no xadrez...

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Após manifestar... Após manifestar o meu desejo de que o ano novo seja sem senões, retorno à realidade, que dá ensejo a mais ferinas elocubrações... Posto de lado o encanto, o que é que vejo? Um mundo que não faz suas lições, não aprende, não muda... É, pois, sem pejo que passo a despejar-lhe maldições... Que bin Laden ressurja, redivivo, continuando a imputar, com duro crivo, ao capital os crimes capitais... Que se prendam Fernando e sua máfia, assim como Maluf, com sua empáfia – já está bom para nós, simples mortais...

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Morreu, dizem... Morreu, dizem por lá, intoxicado aquele que refém fez Silvio Santos, mas dou por certo: foi envenenado, calando-o, como já se fez com tantos... Queima de arquivo ou só vingança?... O fado dos jurados de morte é duro... Quantos sobreviveram?... Nesse vil riscado, sobre a verdade soe jogar-se mantos... E, embora seja a vítima um bandido, é sua obrigação, governador, como antes, neste caso, decidido, com coragem, qual fez um tempo atrás em prol da vida do apresentador, passar a limpo a morte do rapaz

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Já chamei atenção... Já chamei atenção, freqüentemente, para o trauma que o nome de Fernando representa a quem seja presidente,* em face do que vemos se passando... Na Argentina e Brasil, coisa recente, três deles, sempre o povo desprezando, geriram indo contra sua gente, porém não sem reação a tal comando... Esses Fernandos, pelo que têm sido, coniventes com dolos, com a incúria, estão tendo destino merecido: defenestrou-se Collor, o argentino foi enxotado pelo povo em fúria – resta dar ao terceiro igual destino...

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Ditam os... Ditam os institutos de pesquisa qual o quadro de fundo da eleição... Muito sonho glorioso assim desliza para o terreno da desilusão... Lula segue na frente, atentar à “vestal” do assim como o governo: cálculos prodigiosos,

mas precisa Maranhão, este realiza sempre em vão...

Não decola o tucano candidato, enquanto a maranhense mais se inflama com o milho que cresce no seu prato – e Fernando, ante o viés que o quadro encerra, a seu modo traiçoeiro, creio, trama a cristianização de José Serra...

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Lembro o imposto... Lembro o imposto de renda, assim chamado o imposto dos salários, pois mais paga quem os recebe e não quem é abastado, configurando injusta e velha chaga... Com patamar de ganhos congelado, enquanto, em burla às loas, se propaga a inflação, da qual o índice é viesado, aos contribuintes transformou-se em praga... Porém, após sete anos de tutela, contrariando seu Cérbero, Everardo, Fernando Henrique aceita na tabela mexer: está o erário abrindo mão de bom dinheiro, que era ao povo um fardo... Quanto vale estar perto uma eleição!...

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Ano eleitoral Dois mil e dois é um ano eleitoral, o que garante termos pela frente uma disputa dura, figadal, na qual ninguém será condescendente... Quem lembre a ditadura, ainda recente, comentará, por certo: “Menos mal...” Mas a preocupação está presente de que não se ofereça-nos fanal... Quanto mais dou aos fatos atenção, observando o prelúdio desse pleito que fará fervilhar toda a nação, o que me assusta ao ponto de um chilique é vir o presidente a ser eleito deixar saudades de Fernando Henrique...

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Vem da secretaria Vem da Secretaria da Cultura um convite elegante e mui gentil – o Memorial do Cárcere inaugura seu museu em local outrora vil: o antigo DOPS, o qual, na ditadura e antes dela em vergonha do Brasil se constituiu... Que bom que, nesta altura, dá-lhe outro fim uma gestão civil... Eu que lá estive, trago na memória os dias tensos, frios, de incerteza, no subterrâneo, num quartel da História, ouvindo o urro de dor dos supliciados, com Mario Schenberg a nos dar firmeza, entre outros idealistas confinados...

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Em Campinas Em Campinas mataram o prefeito e agora foi a vez de Santo André – duas grandes cidades, com efeito, em que o PT tinha fincado pé... Crimes comuns ou mais do que um perfeito político conluio de má fé?... As probabilidades dão direito a se pensar que uma matança é... O governo o que faz, em nosso estado? Dá a se pensar que seja conivente ou, de forma total, despreparado... E outros crimes virão, porque, decerto, a impunidade anima a se ir em frente – cuide-se, Marta, estão chegando perto...

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Entra em... Entra em novo milênio a nossa Terra, bólido em que vagamos no Universo, e a pergunta se impõe: qual fado encerra para nós o futuro?... Bom?... Adverso?... O progresso é fantástico e não erra quem preveja este mundo estar imerso em mais tecnologia... Mas a guerra cresce como fantasma, vil, perverso... Vida longa terá a espécie humana, ou, mesmo até, merece esse condão, se a curar suas chagas não se irmana, se faz insanos gastos militares e a riqueza tem mais concentração, quando há negra miséria em tantos lares?...

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É o dejà-vu É o déjà-vu: este assassínio horrível leva Fernando, desmoralizado, a anunciar outro plano, tão falível quanto os inócuos feitos no passado... Com outra gente até seria crível, mas com este governo necrosado torna-se totalmente inadmissível acreditar em algo... O nosso estado, ao que parece, sofre por ter tido só governos corruptos ou ineptos após Franco Montoro haver saído – e não adianta virem os tucanos defender Mário Covas, pois seus reptos cairão frente ao que ocorre há vários anos...

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Esse impensável Esse impensável crime faz lembrar que o governo, num ato de bravura, há dois anos lançou um “exemplar” plano de segurança... O caradura que nos preside a todos engodar pretendeu... Entretanto, a face dura do crime não deixou jamais de estar presente, com horrível catadura... E antiga é, quanto a tal, a indignação que tenho, pois há tempos já dizia que estava este país, pela omissão de governos covardes, qual viria também ser o que temos hoje em dia, a mergulhar na "colombização"...

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Não consigo... Não consigo livrar-me desse tema: a morte horrível que o Brasil humilha, diante de um criminoso e vil esquema, da incompetência e da omissão é filha... Não importa ao governo que hoje tema qualquer um defrontar-se com quadrilha: sempre escolta-os alguém... Dane-se e trema quem de alta proteção não compartilha... E existem ainda espíritos piedosos que advogam conceder a celerados benesses, qual não fossem criminosos... A mim, não há mais nada que conforte: ante os bárbaros crimes praticados, aos seus autores há que dar-se morte!...

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E o palhaço E o palhaço que há à testa da nação nos diz que o que acontece é inaceitável, qual não fosse o primeiro responsável por essa inadmissível situação... Quem lançou há dois anos formidável plano contra a violência?... Ou era, então, tudo uma grande farsa de quem não resolve coisa alguma?... É lamentável que todos nós tenhamos que agüentar oito anos de um governo que não luta para a nação livrar do seu penar e que, com candidato promissor a sucedê-lo, após árdua disputa, tenha-o “queimado” pelo antecessor...

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Volto ao... Volto ao contra o e contra causa de

hediondo crime praticado Partido dos Trabalhadores um cidadão sério, ilibado, muita raiva e muitas dores...

E o Brasil vai ficando, assim, marcado como terra em que abundam tais horrores – somos presa do crime organizado, com suas pavorosas, negras cores... O que se passa é fruto do descaso, deixando a segurança à sua sorte, pelos nossos governos... Qualquer louco, bandido ou assassino encontra azo para atacar-nos... E a presente morte me fez sentir também morrer um pouco...

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E por falar E por falar nessa eleição que vem, muitos já dão por líquido e escarrado que a filha do Sarney, mais que ninguém, neste pleito dá conta do recado... “Vai ao segundo turno e lá não tem como perder do Lula, condenado, em função do receio com que o vêem, a ser eternamente derrotado...” O fato é que as pesquisas aí estão e a moçoila não pára de crescer, colhendo os frutos da televisão... É esta a realidade, é o que se passa – mas, convenhamos, se ela se eleger, vai ser para o país uma desgraça...

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É triste... É triste: o Ministério da Justiça nos será sempre uma inutilidade debaixo da gestão alheia e omissa de quem se lixa para a sociedade... Seus titulares têm como premissa, ao que parece, a desnecessidade de combater o crime vil que viça neste país, no campo ou na cidade... E vejam, os dois últimos ministros, nomes merecedores de respeito, postos no cargo sabem-me sinistros, pelo que vieram a representar: burocratas da lei e do direito, porta-vozes do nada tumular...

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Mais um corrupto Mais um corrupto vil se traz à cena: Menem, ex-presidente da Argentina, cuja conta na Suiça nos acena com mais problemas na nação platina... Em má hora, de fato, se o incrimina: seu partido tem liça não amena, embora a nova lama na latrina, de certa forma, seja até pequena... Mas como não há meia corrupção, há que julgá-lo e pô-lo na cadeia, sem que se fuja da comparação com um caso daqui, em que um ladrão trinta vezes maior se pavoneia e é candidato a tudo na eleição...

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Retornando Retornando à violência com verdadeiras máfias não há que titubear: é de o governo encarar a

que apavora, em ação, mais que a hora situação...

A atuação dos facínoras se ancora em parte da polícia, mas estão também nas sujas tramas, da lei fora, políticos e juízes, como não?... Com organizações de tal estirpe, podemos crer que o crime aqui se extirpe, por mais que policiais façam vigília? Temo muito que não, mas creio, sim, que se deva iniciar botando fim a uma máfia maior, a de Brasília...

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Aprisionou-se... Aprisionou-se o clã Magalhães Pinto, os vampiros do Banco Nacional – ficaram quatro dias e pressinto que lá não voltarão, pois, afinal, eles têm no Supremo Tribunal um padrinho fantástico, o distinto primo de Collor, que já deu igual tratamento ao Cacciola... Assim, extinto está o apenamento no Brasil de crimes tais... Reitera sua excelência o que todos sabíamos e é vil... E, ao certo, outro vampiro a rir está com essa proverbial jurisprudência: o do Econômico, Calmon de Sá...

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Enquanto... Enquanto os bancos nadam na abastança, com nunca vista lucratividade, a produção desaba e assim avança o desemprego aberto... E nos invade aquela sensação de ingovernança, com a violência – vil calamidade – crescendo... E vem Fernando, com voz mansa, se auto-elogiar, lixando-se à inverdade... Não me interessa como ele é julgado na América, em Paris, no Oriente Médio, em Londres ou às margens do Oceano Índico – só sei que se ele um dia for chamado para ser síndico do próprio prédio, com certeza será muito mau síndico...

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Dentre os males Dentre os males do nosso inferno diário, há os crimes de seqüestro, sem que dê-nos segurança um governo perdulário com alguns, certamente não pequenos... No mais recente, em que um publicitário teve a sorte de vivo, pelo menos, sair, nos esclarece o noticiário que os chefes da quadrilha são chilenos... Não bastassem as gangues nacionais, a "moleza" daqui certo os convida a vir infernizar-nos ainda mais!... Bandidos receber, assim, não dá - ao menos, tem que haver contrapartida: que tal Maluf enviarmos para lá?...

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Ao ver Barbalho Ao ver Barbalho preso e, ainda, algemado, cena neste país sem precedente com um ex-presidente do Senado, fiquei entusiasmado, mas descrente... Até quando?... Por certo um magistrado qualquer logo será condescendente com esse ladravaz, qual tem passado com tantos, nesta terra deprimente... Enquanto isso, da lei na contramão, em atitude que já não se estranha, a indispensável investigação sobre Maluf o insigne tucanato força por relaxar, de olho em barganha que ajude o seu difícil candidato...

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Ao rabiscar... Ao rabiscar a página não tinha ciência da que pôs em liberdade mas que era certa da

anterior, ordem de soltura o ex-senador, magistradura...

Assim tem sido... A dúvida, a esta altura, era só em quantos dias o favor viria... Qual!.. Ora, a desenvoltura e a rapidez para o condão se impor resultaram em horas... Faz pensar no que governa o tempo em que um bandido permanece recluso – e é elementar: se existe algum critério, é o mais perverso, pois soe ser, quanto ao roubo cometido sempre proporcional, mas ao inverso...

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A importância A importância dos livros não se nega, como fator para o saber mundial – só uma mente ignorante, surda e cega, contrariaria uma verdade tal... Contêm eles o acervo cultural da humanidade: a singular refrega incessante da História, o bem e o mal, mostram estrelas, quais Rigel e Vega, da Ciência, as mais incríveis novidades, na ficção, sofrimentos e alegrias, da Matemática, geniais teoremas... O livro, pois, tem mil utilidades, como uma nova, vista há pouco dias: serve também para esconder algemas...

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No futebol No futebol, a fraca seleção que à Copa vai com mérito precário, faz crescer no país a discussão se é certo ou não se convocar Romário. Parece que o teimoso Felipão, treinador que já ostenta em seu fadário um rastro de derrotas sem perdão, sempre mostrou-se e segue a ser contrário. Agora até Fernando entra na briga para que tê-lo em campo se consiga – ponto em que não opino: acerca, eu passo... Mas, vindo de quem veio, essa pressão em prol do craque, traz-me a sensação de que ele, desta vez, seria um fracasso...

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No tempo parco No tempo parco só de uma semana, presenciou o Brasil duas ações: o engessamento das coligações e a invasão de uma empresa de Roseana. Está o governo atrás das intenções?... Na situação presente, alguém se engana ao julgar essa turma tão sacana a ponto de engendrar tais situações?... Cada uma das ações é muito forte e o tucanato, penso, impertinente, espera assim mudar do pleito a sorte... Mas se isto vem de quem não o idolatra o povo - e mais, de gente incompetente pode o tiro sair pela culatra...

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Por que o homem Por que o homem nos vícios se vicia? Se tem a vida tantos atrativos, por que deixar de a desfrutar sadia e embrenhar por caminhos tão nocivos?... Há os viciados no jogo, a confraria dos otários que arruínam seus ativos... O fumo, como as drogas, alicia na juventude os que fará cativos... Há o alcoolismo, antigo e triste vício, que de tantas pessoas muda a sina, levando-as a insondável precipício... Mas há também o vício do poder, qual vimos no Brasil e na Argentina, que soe botar países a perder...

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O Partido... O Partido da Frente Liberal teve seus planos indo para o boeiro – e a descoberta que lhe foi fatal veio na forma suja do dinheiro... Mais de um milhão de reais!... Será normal deixar tudo num cofre?.. Forte é o cheiro de bandalheira, tanto que a ex-vestal despencou nas pesquisas por inteiro... É coisa do governo?... Assim acusa a agremiação em pauta – e cria um clima bélico, ao ver ferida a sua musa... A ser esse o culpado, nessa guerra ela levou, qual num ritual da esgrima, estocada mortal de José Serra...

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Inventou o governo... Inventou o governo o oito estrelado, mais uma mentirosa alegoria de um novo acesso de demagogia, para engodar o menos avisado... Nesses oito anos, o Brasil parado ficou... Em seu sofrido dia-a-dia, do povo a maior parte percebia cada vez mais piorar o seu estado... Só lucraram as multinacionais, os bancos e os corruptos... Ninguém mais, salvo exceção, tem algo a celebrar... Porém, Fernando apela aos marqueteiros – será a exceção?... – e ao povo, esses carneiros, mais um escárnio inflige... Irá vingar?...

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Mais uma vez... Mais uma vez a dengue ataca o Rio e outros estados: muita gente morta de novo, em formidável desafio que insiste em vir bater à nossa porta... O governo negou, anos a fio, à prevenção recursos... Só se importa agora com o drama – e desconfio que em face da eleição... Mas reconforta ver o esforço que move muita gente no combate ao mosquito pestilento, embora ainda haja muito inconseqüente que siga às precauções força não dando, com subdesenvolvido alheiamento, a exemplo do governo de Fernando...

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Fernando Henrique Fernando Henrique é um "fazedor de média" que nos comanda com cabal cinismo... Para manter do seu governo a rédea, recorre amiúde ao vil fisiologismo... Foi reeleito com sujo oportunismo, dos assuntos mais sérios faz comédia – e tem sorte: do povo o conformismo a natural revolta sempre impede-a... Tem o governo agora um candidato que me parece ter outra postura, distinto desse tipo caricato... Se, eleito, também Serra for assim, então verei, imerso em amargura, minha esperança conduzida ao fim...

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Em mazorca geral... Em mazorca geral esta eleição se converteu, com todos numa guerra... Só fica o estulto Enéas, o azarão, fora do tremedal, que nos aterra... Se atira aos outros o que venha à mão: primeiro foi Roseana – na esparrela caiu, flagrada com mais de um milhão... Se prepara ora a cama a José Serra?... Para tanto, o governo colabora: pela terceira vez em poucos dias sobem os combustíveis... Lula adora... O que virá a seguir?... Com qual sacada nos brindarão?... Em meio às profecias, que dane-se o país – não lhes diz nada...

101


Sai a nova... Sai a nova pesquisa sem Roseana, que debandou, não tendo outro caminho, e é Lula quem, na enquete, se engalana, enquanto empatam Serra e Garotinho... É isso, o povo, que Fernando engana, dando-lhe de beber água por vinho, quer mostrar seu repúdio e, assim, se irmana contra o governo falso, hostil, mesquinho... Os votos da Sarney – oposição aparente, que a incautos iludia – migram para o barbudo, de aluvião, o que põe do Palácio da Alvorada a cambada arrogante e luzidia, ante o cheiro de rua, apavorada...

102


Vai ao segundo Vai ao segundo turno da eleição na França o fascista le Pen, num retorno ao passado – passado que não honra ninguém e que lança uma sombra de medo num mundo assustado... Vê-se assim diminuir mais um pouco a esperança de que os homens dotados de bom predicado, embora em maioria, um tempo de bonança nos possam garantir, com auspicioso fado... E a sempre gauche France, agora, contrafeita, em disputa que fica entre as mais desastradas, sufragará a direita ou a extrema-direita, a mostrar que as esquerdas, como já se disse, sempre estarão, ao que parece, condenadas, a perder eleições pela própria burrice...

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Repete-se Repete-se em Jenin o que havia ocorrido nos campos de refúgio de Sabra e Chatila: o mesmo responsável, sempre empedernido, com máquinas da morte seu ódio destila... Observadores neutros do massacre à vila nos dão a dimensão do crime cometido por líder que inocentes assim aniqüila, mas não sem ser tacitamente consentido... Entretanto, a tal ponto chegou a matança que o hodierno Pilatos, como o antecessor, resolveu se mexer... Que baldada esperança... O corpo de eleitores tem que perceber que nunca haverá paz e sempre mais horror enquanto tipos tais ficarem no poder...

104


Voltando ao... Voltando ao preconceito, vou agora louvar um tento deste meu país: nesta terra em que tanto se deplora, existe um ponto que me faz feliz!... Quem circular pela nação a fora dificilmente, diante do nariz, verá o choque das raças... Sem demora notará que não há rancores vis... Á rabes e judeus se dão as mãos, chineses, japoneses e coreanos, brancos e pretos agem como irmãos... Em certa "elite" estão as exceções, não chegando a manchar, há tantos anos, o que julgo um laurel, por meus padrões...

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Nuvens negras... Nuvens negras ameaçam a candidatura de José Serra, o designado por Fernando – a Frente Liberal contra ele praga jura: quer outro nome para, enfim, estar voltando... Seria viável essa tática a esta altura? Resistirá o visado – e, se sim, até quando?... Sofre o tucano soez processo de fritura, mas, com seu sangue frio, vai se sustentando... Põe-se o caso Roseana como uma traição pela qual se abomina o insigne candidato, mas tenho para mim que é bem outra a razão: julgam que Serra, eleito, de passar à História cultivará ambição e tal, no seu mandato, passará por um basta dar a certa escória...

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Mas vejam bem... Mas vejam bem, não sou anti-semita, como da cor não tenho o preconceito: no soneto anterior, a minha grita é contra o que se fez, como foi feito... Terrorismo, abomino!... Quem reflita sobre isso, só vir-lhe-á repúdio ao peito... Tratou-se de algo pior, na coisa dita: terrorismo de estado, com efeito... A prática, que teve o mor-campeão seis décadas atrás e segue havendo, não se há de tolerar... Porisso estão as nações com governos neofascistas, ainda hoje a se valer do crime horrendo, sob crítica feroz dos pacifistas...

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Celebrados... Celebrados os louros, minha gente, vamos pensar na dimensão da glória... Não se pode seguir impunemente evitando dar tratos à memória... Esta conquista árdua, é evidente, não elude verdade peremptória: o nosso futebol é decadente, qual disse, há meses, a eliminatória... A vitória foi dura, foi suada, arrancada com sofrimento e dor, – assim tem sido, nunca uma lavada... Ganhamos, tudo bem, mas nem se pense em disputar torneios no exterior com time equivalente ao Brasiliense...

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Tema: Casório Seja a mulher gorda ou magra, bela ou feia de amargar, seja o homem velho, com Viagra põe-se a coisa no lugar... Tema: Casório Desatou esse casório a língua da mulherada: ela grávida do Honório e ele sem saber de nada... Ainda tem muito casório em que o noivo vê-se em fria: não é na igreja ou cartório, mas sim na delegacia... Em casório nem se pense, pois se entrará pelo cano, se um dos dois for cruzeirense e for o outro atleticano.

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Anedotas Versificadas "Chopp com steinhäger? Uns vinte porr dia, isto serr normal..." E Fritz aduz o seguinte: "O ekcesso, sim, fazerr mal!" Diz a freira ao padre: "Sinto, mas qual seu nome, vigario?" "Armas tê-lo à mão..." "É Pinto?" "Não reverenda, é Rosário!" Na lua de mel ele riu e resolveu lhe contar o nome certo do membro. E ela: "Prá mim, é piu-piu. Isso têm seu Ademar e outros, que já nem lembro..." Feliz, a noviça conta que Monsenhor lhe pusera a chave do céu na mão. A madre então se dá conta de que a chave outra não era que a "trombeta de São João..."

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Ouço sempre este estrililho: "Leite é bom e vinho ataca!" Mas este de uma uva é filho e do outro a mãe é uma vaca... Do Jânio Bosta obcecado por mudar o nome odioso, o motejo, atualizado, nos traz Bostênio Cardoso... Cereais para flagelados leva o Exército e, no cais, diz Costa e Silva aos soldados: "Ponham mais, e mais , e mais..." Do navio o comandante teme: Assim, vai soçobrar..." E o presidente, confiante: "Melhor do que só faltar!..." "Marca a reunião nesta sexta," diz Costa e Silva ao sargento, E o sargento, que é uma besta, com ignorância profunda: "Chefe, sexta tem acento?" "Marca a reunião na segunda Em Paris com o marido, Dona Yolanda perguntou: "Já foi no Louvre, querido?" "Não, comi algo que embolou..."

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Prêmios Propõem-me que verseje sobre "Ideal", Esta palavra assaz controvertida, Pois há o ideal do bem, o ideal do mal, Como há o ideal da morte, o ideal da vida... Uns o têm majestoso, outros, banal, A uns é o nobre mentor, a outros, ferida Que leva amiúde ao campo irracional, Qual no caso do mísero suicida... Porém, se ideais existem tão diversos, Gerando esta polêmica que sente Quem queira discuti-los, nestes versos Direi que o ideal do poeta é a chama acesa Que ilumina a sua busca permanente Da perfeição formal e da beleza! Segundo lugar no III Concurso Nacional de Sonetos da Casa do Poeta Lampião de Gás, de São Paulo, em 11/03/86

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Muito após ser descoberto, o Brasil hoje caminha por descaminhos que ao certo assombrariam Caminha! Menção Especial no Concurso Brasil-Portugal de Trovas do Elos Clube de São Paulo, em 22/04/87. Tema: Descobrimento do Brasil.

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A estrada que te conduz da mocidade ao jazigo será de trevas ou luz, como a construas, amigo! O andarilho sem guarida cumpre sina malfadada: viver à margem da vida, morrer à margem da estrada... Menção Especial no Concurso Interno da União Brasileira de Trovadores - Seção São Paulo "Veteranos", em 03/10/87. Tema: Estrada.

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No Brasil já não que, à razão que beba o rico mais e o pobre, menos

se estranha o tempo passa, champanha cachaça...

Destaque – 29º lugar no I Concurso Regional de Trovas de Garibaldi, em 26/07/87. Tema: Champanha

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A minha dor é tamanha pelo mal que me fizeste, que se ela fosse montanha chamar-se-ia Everest! Menção Especial nos VIII jogos Florais de Juiz de Fora, em 12/06/88. Tema: Montanha.

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Ao cruzarem, teu e meu, os olhares enlevados, cada um deles já entendeu dos corações os recados! Menção Especial no IV Concurso Nacional de Trovas de São Paulo - Drogazeta, em 22/11/86. Tema: Olhar.

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O dinheiro, podem crer, n찾o faz o rico feliz mas lhe permite ir sofrer em T처quio, Roma, Paris... Terceiro lugar nos jogos Florais de S찾o Bernardo do Campo, em 25/07/87. Tema: Rico.

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Em boteco vagabundo, Perigo é cair no sono, Pois há coisas neste mundo que, se sabe, não têm dono... Menção especial nos XLIII Jogos Florais de Nova Friburgo - 24-26/05/2002. Tema: Boteco.

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Sonetos – Índice É inegável... .......................................................................................... 11 Vejo, atônito,... ................................................................................. 12 Barbalho... .............................................................................................. 13 Começam a surgir... ............................................................................. 14 Santos Dumont... ................................................................................... 15 Que perdas... .......................................................................................... 16 Em versos lamentei... ........................................................................ 17 Retorna Dida... ..................................................................................... 18 Deixa o Premier ..................................................................................... 19 Três semanas... ..................................................................................... 20 O minhocão... .......................................................................................... 21 Renuncia Barbalho.............................................................................. 22 Pois bem, já que... ............................................................................. 23 Vejo Osama... .......................................................................................... 24 Morreu Roberto Campos ........................................................................ 25 Toda guerra........................................................................................... 26 Recordo o ataque... ............................................................................. 27 Penso na guerra... ............................................................................... 28 Não aprovo... .......................................................................................... 29 Lembro de haver... ............................................................................... 30 Aliás, Fernando... ............................................................................... 31 Vejo em Bin Laden ................................................................................. 32 Fernando está... ................................................................................... 33 Era só o que faltava........................................................................... 34 Escuto Rubinstein.............................................................................. 35

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Penso nos Talebans... ........................................................................ 36 Volto ao assunto... ............................................................................. 37 Volta a baila .......................................................................................... 38 Imaginei pessoas... ............................................................................. 39 A família de Covas... ........................................................................ 40 O que há... .............................................................................................. 42 Três meses... .......................................................................................... 43 Almocei com Ciro ................................................................................... 44 Já que a justiça... ............................................................................. 45 Que o Brasil... ..................................................................................... 46 Dentre as... ............................................................................................ 47 O Corinthians... ................................................................................... 48 Podem ser tudo... ................................................................................. 49 Levou grande goleada........................................................................... 50 Respirei aliviado ................................................................................. 51 Xeque-mate ................................................................................................ 52 Ao que parece... ................................................................................... 53 Certamente... .......................................................................................... 54 Entra na igreja... ............................................................................... 55 Hoje dirijo-me........................................................................................ 56 Sobre Bin Laden ..................................................................................... 57 Lembro Hitler... ................................................................................... 58 Se compor ações... ............................................................................... 59 Que o Brasil... ..................................................................................... 60 Recordo que........................................................................................... 61 Está no chão ............................................................................................ 62 Preocupa-me .............................................................................................. 63

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Parabéns deputados ............................................................................... 64 Voltaram a indagar ............................................................................... 65 Cansou de alertar ................................................................................. 66 Dois mil e dois ..................................................................................... 67 Mas, ora... .............................................................................................. 68 Fala-se... ................................................................................................ 69 Após manifestar... ............................................................................... 70 Morreu, dizem... ................................................................................... 71 Já chamei atenção.............................................................................. 72 Ditam os... .............................................................................................. 73 Lembro o imposto... ............................................................................. 74 Ano eleitoral .......................................................................................... 75 Vem da secretaria ................................................................................. 76 Em Campinas .............................................................................................. 77 Entra em... .............................................................................................. 78 É o dejà-vu .............................................................................................. 79 Esse impensável ..................................................................................... 80 Não consigo........................................................................................... 81 E o palhaço .............................................................................................. 82 Volto ao... .............................................................................................. 83 E por falar .............................................................................................. 84 É triste... .............................................................................................. 85 Mais um corrupto ................................................................................... 86 Retornando ................................................................................................ 87 Aprisionou-se... ................................................................................... 88 Enquanto... .............................................................................................. 89 Dentre os males ..................................................................................... 90

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Ao ver Barbalho ..................................................................................... 91 Ao rabiscar........................................................................................... 92 A import芒ncia .......................................................................................... 93 No futebol ................................................................................................ 94 No tempo parco........................................................................................ 95 Por que o homem ..................................................................................... 96 O Partido... ............................................................................................ 97 Inventou o governo... ........................................................................ 98 Mais uma vez... ..................................................................................... 99 Fernando Henrique ............................................................................... 100 Em mazorca geral... ........................................................................... 101 Sai a nova... ........................................................................................ 102 Vai ao segundo...................................................................................... 103 Repete-se ................................................................................................ 104 Voltando ao......................................................................................... 105 Nuvens negras... ................................................................................. 106 Mas vejam bem... ................................................................................. 107 Celebrados... ........................................................................................ 108 Tema: Cas贸rio ........................................................................................ 109

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A obra de Oliveira Neto Abertura é Abertura – 1980 (Pseudônimo: Luís Oliveira)

Agora que parece finalmente Soprarem sobre nós da abertura Os ventos iniciais (pois já se sente Um sopro, seja até de brisa pura!...) 58 sonetos

Anseio por levar ao presidente Que isto, contrariando a lina dura, Parece estar tentanto, o meu ardente Desejo de que o faça com ventura... Não posso, entretanto, me esquivar A transmitir uns versos que compus Num tempo bem recente, nus e crus, Pois se algo em represália me passar E alguém me pergntar "porque o fizeste?" Direi "foi da abertura mais um teste..."

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Em meio a Cabo Frio há uma colina E nela subo pra contemplar A vista de beleza singular Que em toda parte aqui se descortina!... É onde uma capela pequenina Existe. E junto a ela, devagar, Contemplo entusiasmado o verde mar, O azul do céu, ao longe uma salina... Dirijo-me em seguida à capelinha A ver seu interior, e para minha Surpresa não há santo algum: agora Ali se abriga apenas com seus filhos Um grupo de mendigos maltrapilhos Retrato vivo de um Brasil que chora...

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Vós que foste ungido para herdeiro Do trono desta imensa sesmaria E em breve o assumireis em verdadeiro Ritual de adulação e mordomia, Vós que julgais melhor da estrebaria O cheiro que o do povo brasileiro E que não percebeis o quão seria Prudente acostumar-vos a este cheiro, Vós que nos prometeste a abertura Prendendo e arrebentando a quem se oponha Aos poucos instaurar neste país Dizei-nos: como crer, se a ditadura, Com o que tem de vil e de medonha, Foi pai e mãe daquele que isto diz?

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O tempo já se passa desde que o amado Esposo que tiveste desapareceu Da forma pavorosa que, espero eu, Já seja hoje em dia coisa do passado... Mas só de imaginar o não tê-lo a teu lado A dor que representa, e o sofrimento teu Nos dias logo após quando o fato se deu, Sinto-me revoltado, amargo e indignado... Ele que torturado foi até a morte Tendo de tantos mais a mesma horrível sorte De terminar sem vida pelo que não disse É um símbolo macabro do que temos tido Em tristes longos anos no Brasil querido E sem saber tornou-se um nosso herói, Clarice...

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Nova Lira Velha – 1986 (Pseudônimo: Pedro Costa Neto)

Um pesadelo horrível noite atrás Sobressaltou-me o sono, persistente E nítido de forma a ser capaz De muito tempo após manter-se em mente: 107 sonetos

Sonhei que de uma vez por sempre a paz Cessara de existir... Que de repente Atraíra a humanidade Satanás Ao fogo nuclear...Que inferno ingente! Ainda alarmado, a desejar me ponho Que por felicidade não se eclipse Dos nossos potentados a razão De modo a ser somente este mau sonho Uma imagem fugaz do Apocalipse Ao invés de correta antevisão...

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Caraça Hoje visito o célebre Caraça, Venerando colégio e seminário Que foi, em tempo que já há muito passa, Temido, respeitado, legendário... Porém o casarão que por desgraça Ardeu em grande parte ainda o cenário Da muralha granítica que o enlaça Coroa, majestoso e solitário... Este antigo liceu tão celebrado Por muitos e por tantos mais maldito Que agora observo, quase abandonado, Me faz pensar... E quando mais reflito Mais fico convencido ser seu fado Eternamente conservar seu mito...

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Dentre as moléstias, a assassina chaga, Que a Medicina ainda hoje desafia, Diagnosticada, é perspectiva aziaga De dolorosa e horrível agonia... Tão vil algoz que cresce e se propaga Levando a presa ao derradeiro dia Me proporciona à mente que divaga Curiosa e impressionante analogia: Assim é o homem, esta espécie impura Que cria um gânglio com cada cidade - É a "civilização", um mal sem cura, Doença fatal que no seu bojo encerra Triste epitáfio para a humanidade, Tumor maligno a liquidar a Terra...

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Tancredo nos deixou!... Quando renasce Das trevas o Brasil, eis que o destino Conduz a esse sofrido desenlace, E o que a seguir virá, nem imagino... De fato, indago agora: terá o tino Do mestre o sucessor para este impasse Com pulso, decisão e trato fino Gerir, como se nada se passasse? Difícil, mas possível, por que não? Porém, as esperanças morrerão Caso falhem premissas que bem sei... Políticos, portanto, cooperai! Brasileiros, unidos, trabalhai! E Deus, iluminai José Sarney!...

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Trovas e Sonetos – 1990 (Pseudônimo: Pedro Costa Neto) 75 sonetos

No dia em que estiver vigendo sobre a Terra o primado do amor nos corações e mentes; No dia em que inexista o ódio que se encerra Em mórbidos espíritos intransigentes; No dia em que não mais algures façam guerra, Semeando o horror, a dor e a morte de inocentes; No dia em que o fantasma, que hoje nos aterra, Da destruição total não mais ameace as gentes; No dia em que não mais se agrida a Natureza, Levando muitas formas de vida à extinção, No dia em que a ninguém mais falte o pão à mesa, Nesse dia, talvez, à nossa espécie humana Faça jus se orgulhar de tal designação Já que hoje, sem razão, dela tanto se ufana...

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Vejo em frente, pendurado, um quadro de Paraty, qual se houvesse perguntado: "Que é que estás fazendo aqui?" ________________________________ Jânio e Montoro, eis o assunto... Na foto, o aperto de mão: um com cara de defunto e o outro, de indigestão... ________________________________ "Feia!" Embriadado, o marido grita e escuta, alto e bom som: "Bebado!" "Sim", diz, ferido, "mas amanhã fico bom!" ________________________________ Chove no Natal...Se trata, quiçá, de um pranto de dor por quem passa a grande data sem pão, sem lar, sem amor?... ________________________________ De que adianta ter dinheiro se o corpo é fraco, precário? Melhor é ser, companheiro, saudável e milionário!

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________________________________ Não sei se mais aprecio um dia gélido ou quente: cai bem o vinho no frio, no calor, chope é excelente! ________________________________ Tinha razão o ilustre general! Muita razão, conforme logo sente Quem procure encontrar ordem, moral Nesta vergonha que é o Brasil presente... Aqui se julga coisa natural Marcar às cinco para eventualmente Chegar às seis... Se admite, aqui, normal Ver tanta gente engabelando gente... Tudo se pode: ser ladrão, venal, Matar, especular ou transgredir... Ante o que viu, e sempre mais se vê, Tinha razão o velho general Ao proclama, a quem quisesse ouvir, Que "le Bresil n'est pas un pays sérieux!"

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O Poeta Amuado – 1996

Não amuem o poeta pode soltar aguda seta!

73 sonetos

E o poeta amuado pode ser indelicado E ir, de repente do ameno ao contundente... Não sei fazer mais... Seguem, pois, meus livres haicais! Mas algo me anima: meus haicais têm sempre rima...

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Sempre apoiei... Vejam só como errei... Sociólogo de esquerda e, por fim, esta grande perda... Déspota esclarecido, ou o Brasil está perdido... Chego a pensar numa estátua a Calabar... Sempre ocorre de novo: esquecer que existe o povo...

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Ao fim do desabafo em que vai seu lamento pela oportunidade, que julga perdida, de o Brasil se livrar do seu velho tormento, não resta ao poeta amuado mais que a despedida... O que vem por aí, a um simples pensamento, ante os fatos atuais, a mente esclarecida é capaz de prever...Portanto, este é o momento certo para cobrar a obrigação devida: - Fôsseis, do início, um presidente, o P maiúsculo, um estadista que o futuro enxerga e atina, não estaria, já, o governo em seu crepúsculo... Fica, só, a ilusão de que, quiçá mudando vossa forma de agir, revertais esta sina, com vontade política hercúlea, Fernando!

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Evoco o meu país, e eis que estou diante de um quadro peculiar, onde há de tudo do progresso, a riqueza impressionante, ao mendigo paupérrimo, desnudo... Maravilhas, como há, de deixar mudo, mas contrastes se vêem a cada instante... A natureza é pródiga, e contudo, sofre a agressão do homem, revoltante... Porém o quadro visto está incompleto, pois muito mais este país encerra para exibir a quem olhar se ponha, como o drama, nas urbes, dos sem-teto, a tragédia, no campo, dos sem-terra, e, em Brasília, o farrear dos sem-vergonha...

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A Fernando – 1998 32 sonetos

Recordo Potosi, bela e pacata cidade há muito erguida a grande altura, e a montanha de prata, pura prata que foi a sua riqueza e a sua tortura... Por ela, gente vil, que rouba e mata, profanou a Bolívia... E a clava dura dos saqueadores uma história ingrata lavrou, cheia de sangue e de amargura... Há tempo estive lá, mas a impontente montanha, com suas minas, faz lembrar, ainda hoje, que fiquei ao longe, ausente... E nesse pensamento algo me assanha: o anseio de voltar a esse lugar e desvendar o ventre da montanha!

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Elegemos Fernando, mas - que pena! pelo visto, iludiu-nos a aparência: a suposta estatura era pequena para o enorme tamanho da exigência... Bem cedo seus princípios de decência se revelaram com crueza plena. que teve a primogênita evidência no grotesco episódio do Lucena...*(1) Aquilo disse tudo! Estava dado o recado de como iriam ser seu governo, seus atos, sua imagem... Esquecêssemos todos seu passado: no início do mandato fez saber que aderira à vulgar politicagem... (*) Humberto Lucena, presidente do senado

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"Com vontade política hercúlea, Fernando!" Foi com estas palavras, compostas então, que opúsculo anterior encerrei, denotando um laivo de esperança em vossa redenção. Passado um tempo a mais, seguistes demonstrando que a esperança era vã - e adicional razão destes ao vate, além da que ele tinha quando alí tecia críticas à vossa ação. Do governo a política neoliberal, a forma como foi a reeleição tramada, a despriorização do que seja social, tudo nos mostra agora, por motivos mil, que ao projeto Fernando não importa nada que tenha ver com algo chamado Brasil...

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"Ora - direis - por que espezinhas tanto este Fernado, que afinal é honesto?" E eu vos direi, com muito desencanto, que, pelo que já vi, isso contesto. Dele onde a honestidade? Causa espanto que não vejais a burla... E se me presto a analisar melhor seus atos, quanto mais o faço, maior é o meu protesto! Direis agora: "Mas por que em teus versos não atacas os outros? Ladravaz tem muito no Brasil e esses perversos ladrões conheces bem..."E eu vos direi que a razão pela qual os deixo em paz é que nesses canalhas não votei...

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Salve a Reeleição! – 1999

Sempre que aumento as horas já viajadas por esta terra, esta abençoada filha da Natureza vista nas estradas, se me depara nova maravilha... 60 sonetos

Ora falo das Águas Emendadas, emergentes de um lago que fervilha, a demostrar, sem dúvidas deixadas, que o leste do Brasil é imensa ilha! Vêem-se aqui dois caudais, duas saídas pr'água que brota de uma fonte só - duas gotas de chuva aqui caídas, a distância entre as duas pequenina, uma morre no mar em Marajó, morre a outra no Prata, na Argentina! A Maria Rosa Magalhães Dezembro 1998

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Este é um soneto dedicado à morte - à morte, nos porões da ditadura, dos que tiveram a macabra sorte de sucumbir na sala de tortura... E, embora pouca gente hoje se importe em lembrar as lições dessa era escura, os fantasmas de então são ainda forte razão de alerta à geração futura... De Paiva, Fiel, Herzog (*1) e outros heróis, vítimas da bárbarie que se impunha, vamos aos novos tempos, novos sóis, democracia...Mas se recomeço, penso na deputada Ceci Cunha: hoje se mata às claras...É um progresso! (*1) - Rubens Paiva, Manuel Fiel Filho, Wladimir Herzog, assassinados pela ditadura.

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Salve a reeleição, que presenteou Fernando com a condição de tentar outra vez, ele que a alegou estar necessitando para então fazer o que até hoje não fez... Salve a reeleição, conseguida pagando a maus deputados, aliados de um mês, enquanto o país, sem governo, parado, sofria os efeitos dessa cupidez... E, pensando em quanto um outro mau mandato possa ser danoso a este povo infeliz, condenando, assim, a nova instituição - que, em má hora, aqui se transformou em fato a bem do futuro do nosso país, rogamos a Deus que salve a reeleição!...

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Apavorou São Paulo um assassino, um motoboy maníaco, um tarado que às moças decretava vil destino matando, após havê-las estuprado... E o Brasil - mais que nunca o descortino vendo gente morrer ao desamparo, milhares, pois do presidente o tino tinha outro foco, o que custou-nos caro - por essa reeleição, bilhões de reais se esvaíram, deixando de atender saúde, educação, coisas que tais, expondo uma verdade que nos dói: o legado desse homem mostra o ser mais funesto, bem mais, que o motoboy!

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Hoje tem Goiabada? – 2000 78 sonetos

Cada vez que na rua me vejo abordado por um desempregado, mendigo ou menor, penso em Fernando Henrique e o tom despreocupado com que deixa o Brasil passar de mal a pior... Comete o presidente o nefando pecado da omissão contumaz à crise ao seu redor - governa qual se aqui fosse um reino encantado, porém cujas mazelas sabemos de cor... E, reeleito que foi iludindo os incautos, cometendo destarte formidável dolo, faz como se estivesse desse crime isento - porém, do tempo há o tribunal, que o tem nos autos, e nos resta a certeza, a servir de consolo: não tem como fugir da História ao julgamento...

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De Rubens Peres, José Francis e outros mais que já partiram e eram grandes corinthianos, a memória me vem, passados tantos anos, e retorna-me à mente em tons emocionais... Esses caros amigos, todos figadais, presas do fanatismo, tantos desenganos sofreram nos maus tempos em que nossos planos amiúde se frustavam diante dos rivais... ah, se ora aqui estivessem, as velhas tristezas seriam dissipadas como por encoanto pelo novo Corinthians com suas proezas, que testemunhariam com fervor profundo, ardendo em emoção, não sufocando o pranto: bicampeão do Brasil e, após, campeão do mundo!

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Para a eleição que vem, segue na ponta, em todas as pesquisas feitas, Marta, mas a velha raposa não se aparta da idéia de lançar-se, em nova afronta, ele que peculatos já, sem conta, nesta terra onde a pena se descarta, tem praticado, enriquecendo à farta, alçando o seu pecúlio a grande monta... O animam proverbiais vinte por cento de cidadãos que seguem com o intento de ter em sua eleição a causa-mater! Como entender? Salvo exceções, só vejo explicação naqueles que, sem pejo, Vêem nele identidade de caráter...

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Lembro, em dos Anjos, os iconoclastas da sua amarga, clássica poesia...(*1) Bons tempos, esses... Ora, mais nefastas figuras nos complicam o dia-a-dia... Hoje a política se faz em hastas em que o social não se privilegia... Executivos levam, em sua pastas, a sentença de morte à maioria... São os tempos modernos, é o mercado, é o neocapitalismo, que nos lança num mundo de incertezas, complicado, muito outorgando a poucos e, aos demais, um enorme vazio de esperança, que já não há nem mais nas catedrais... (*1) -

O Sonteto "Vandalismo", de Augusto dos Anjos.

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No interior, quando o circo chegava à cidade, acontecia verdadeira procissão: o comboio circense passava, à vontade, enchendo a garotada de grande emoção... Todo mundo assistia, do prefeito ao frade, lá estavam os artistas, os bichos, o leão, mas eram os palhaços - lembro com saudade que mais levavam alegria à multidão... Hoje há circos modernos, muito diferentes, com os artistas dentro e os palhaços por fora, que a alguns poucos evocam lembranças nas mentes do canto dos que tinham a cara pintada, com clássico refrão, que segue atual agora: "Hoje tem goiabada? Hoje tem marmelada?"...

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O Afanador de Galináceos – 2001 145 sonetos & 1 conto

Morreu Barbosa Lima, que há três anos celebrara, ainda rijo, o centenário... Foi-se patriota ilustre, legendário, que a glória do Brasil tinha nos planos... Oriundo dos rincões pernambucanos, Fez do país sua causa, seu ideário... Frustava-o, certamente, o atual cenário de incompetência, crimes, desenganos... De "reserva moral desta nação" foi chamado, num preito à sua honradez - mas a homenagem traz preocupação, pois faz-nos perguntar se é nossa fado reservas ora ter desse jaez só nascidas no século passado...

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Bateram a carteira de Albert Gore: venceu essa eleição e foi tungado, num cambalacho que há que se deplore, em que é o Brasil também prejudicado... No voto e no colégio derrotado, não se impediu que o outro comemore, apesar do perfeito resultado de igualdade na Flórida, ontem "core" da decisão forjada, uma cabala de tribunais onde os conservadores detinham maioria... E digo mais, se fosse aqui, no Irã, na Guatemala, tal resultado causaria horrores a "observadores internacionais"...

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Na história há muito caso de estadista que ousou os poderosos enfrentar com firmeza e coragem, tendo em vista as conquistas da pátria preservar... No entanto, neste mundo imperialista, a esses homens de têmpera exemplar se busca, com ardis, baixar a crista, muitas vezes chegando-se a os matar... Com Patrice Lumumba foi assim, com Allende, Solano, Tiradentes, heróis aos quais foi dado triste fim... Quiça tenha razão nosso Fernando, cujas ações covardes e prudentes permitem-lhe seguir nos governando...

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Lembro-me da era Collor, em que havia corrupção vergonhosa, deslavada, bandalheira era feita à luz do dia, na certeza de estar acobertada... A coisa era notória!... Se sabia, não obstante ninguém falasse nada, que a grandes comissões se recorria para poder ter obra contratada... Foi preciso que o irmão dissesse tudo, para ruir esse esquema...Hoje, o que passa? Muito mais corrupção, mas ciente e mudo o país, como dantes... Até quando? Há agora Antonio Carlos... Por pirraça, será o baiano o Pedro de Fernando?...

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Solto Pimenta Neves, o assassino implacável da jovem jornalista! Um rico a mais a ter o seu destino aliviado da forma mais simplista... Será julgado um dia?...Já imagino o quanto istó é improvável, tendo em vista os cenários possíveis: desatino é crê-lo outra vez preso - não se insista... E foi pelo Supremo libertado, o tribunal maior desta nação, como a dizer a muito celerado: "Se tem dinheiro, pode até matar, pois a justiça estender-lhe-á uma mão amiga, generosa, tutelar...

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É primeiro de abril, o dia da mentira... Qual terá sido o início desse velho chiste: uma falseta imensa, algo que não existe, produto de uma mente estulta que delira? E fico a matutar, em face ao que se assiste no nosso dia-a-dia do mundo que gira, quanta inverdade dita, a incentivar a lira e a sátira do vate que a tal não resiste... Se um concurso fizéssemos, cá no Brasil, com vistas a premiar o maior mentiroso, teríamos, por certo, candidatos mil - nomes não citarei, para não ser tedioso, porém meu favorito possui o perfil de um Münchhausen moderno e atende por Cardoso...

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Passa o féretro triste e segue em frente, em seu triste trajeto ao cemitério - e o caixão pequenino mais pungente faz ficar o espetáculo funéreo... Aí temos um polêmico mistério: se Deus existe, então por que consente que uma criança se vá?...Por qual critério manda chamar tão cedo um inocente?... "Ele sabe o que faz..." muitos dirão, assim mostrando o cego conformismo que serve de alicercer à religião... É simples, e talvez até conforte, porém, perante o meu agnosticismo, parece concessão demais à morte...

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Fui visitar do Estado o novo Arquivo e vi uma exposição sobre Adhemar, que lá se armou para comemorar cem anos que teria se inda vivo... Isso pôs-me a que permite a uma homenagem a quem foi um

pensar no estranho crivo um governo chanchelar dessas, secular, corrupto muito ativo...

Alguém há de dizer "Roubou, mas fez..", usando um argumento duvidoso, mas com certa razão, pois a avidez do caixa da figura homenageada, pelos padrões desta era de Cardoso, era coisa pequena, quase nada...

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Fico amiúde a pensar: "Terá o Brasil condição de viver melhor momento, não mais sofrer subdesenvolvimento, que ainda existe, passado o ano 2000? Seu povo irá, com ' peito varonil ', como cantava o poeta, com alento e inteligência, dar, como ora avento, a esta grande nação novo perfil?" Dirão, é claro: "Mas com esta gente?" Ora, isto já me sabe a impertinência, pois outros como nós foram à frente... Outro argumento, sim, me desanima: onde buscar excelsa referência se o mau, o pior exemplo, vem de cima?...

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Está ficando próxima a eleição que irá nos dar um novo presidente alguém que, ansiosamente, esta nação espera que, outra vez, a ponha à frente... Será quem este ungido cidadão? Quem vencerá este pleito tão candente? Dentre os candidatáveis que já estão na liça, há algum que possa ter-se em mente? Não sabemos quem vem - nem é importante preocupar-se com isso neste instante, mas ir-se, sim, dessa questão ao cerne: este seja ou aquele que nos venha liderar, tanto faz, mas que se tenha, enfim, um presidente que governe...

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O Poeta Eletrônico – 2001/2002 99 sonetos & 1 anedota

Para adquirir os demais livros de sonetos do poeta Oliveira Neto e/ou se inscrever em seu mail-list de poesias, encaminhe mensagem para: politeleia@uol.com.br

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Agradecimentos

Luiz Ricardo Antenore Costa Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto Suzana Siniscalco S. Costa Diagramação, ilustração e publicação Sirlei Aparecida Souza Texto

Direitos Autorais As poesias, sonetos e imagens publicados neste site são de propriedade de seu autor, Oliveira Neto, pseudônimo de Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto, e é vedada a sua publicação sem sua prévia autorização, sem a qual serão tomadas as devidas medidas judiciais.

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Mensagem de despedida...

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