DEMOCRACIA FRATURADA: a derrubada de Dilma Rousseff, a prisão de Lula e a imprensa no Brasil

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Pedro NUNES

produzido por uma equipe de três juristas contratados por Aécio Neves e sob a tutela do PSDB. Além do respaldo dos partidos conservadores, a retaliação em forma de vingança de Eduardo Cunha foi ungida pela força de integrantes da Frente Parlamentar Evangélica, que, desde a campanha eleitoral de 2010, trataram de satanizar a então candidata eleita presidente da República. Contudo, face ao estratagema de Cunha e o cerco dos conspiradores, Dilma Rousseff se mostrou resistente28. De fato, não havia outro caminho para quem, ainda como estudante, já tinha sofrido tortura nos porões da Ditadura Militar, tinha sido violentada em pau-de-arara, recebido choques elétricos, uso de palmatória e socos e tido sua arcada dentária comprometida face as brutais formas de violência imputadas pelos órgãos de repressão do Estado. Com a lentidão de seu processo por quebra de decoro, na época já em andamento por quase dois meses, caberia, então, ao próprio Eduardo Cunha, em contraposição, acelerar a farsa parlamentar do processo de impeachment. A partir daí, as duas Casas que compõem o Congresso Nacional passaram a encenar um teatro de horrores, com direito a personagens (reais) canastrões, chantagistas, caricaturais, dissimulados, investigados pela Justiça e, evidentemente, em um lado oposto à presença de políticos honrados que prezam pela coisa pública. Todos esses personagens grotescos, e soberbos integrantes do então campo político do Legislativo Federal, estão lá no campo narrativo dos documentários Excelentíssimos (2018), de Douglas Duarte, e O Processo (2018), de Maria Augusta Ramos. É de lá, desse campo narrativo documental, que acionamos os dispositivos da memória e vemos, em pleno domingo do dia 17 de abril de 2016, Após tomar conhecimento da notícia de instauração do processo de impeachment, a então presidenta Dilma Rousseff fez a seguinte declaração em pronunciamento à imprensa: “São inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam este pedido. Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim. Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público." (ROUSSEFF, 2015). 28

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