Tony Moon Está Tudo Fora de Controle, Cara!

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Copyright © 2016 Pedro Duarte. Copyright © 2016 LeYa Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora. Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Revisão: Mariana Bard Capa: Felipe Miranda Projeto gráfico e Diagramação: Filigrana Ilustração: Brão Barbosa Curadoria: Affonso Solano Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Duarte, Pedro Tony Moon : está tudo fora de controle, cara! / Pedro Duarte. — São Paulo : LeYa, 2016. 240 p. : il. ISBN: 978-85-441-0463-7 1. Literatura juvenil 2. Ficção juvenil 3. Adolescentes I. Título 16-0842

CDD 028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura juvenil

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ร Mariucha, que estรก ao meu lado em todos os momentos.


Vocês ajudaram a tornar a trajetória do Tony Moon mais especial! Bruno Mendes, Felipe Miranda, Sidney Gusman, Raquel Moritz, Brão Barbosa e meu pai, muito obrigado!


1 Tudo dentro do planejado

Tony acordou como sempre: atrasado de acordo com os outros, mas no horário previsto, conforme o planejado. Afinal, qual a razão de chegar à escola antes do horário da aula? Tony não era o tipo de cara que gostava de chegar cedo e ficar batendo papo com os colegas, daquela espécie de aquecimento, quando todo mundo comentava o que tinha feito no dia anterior, doideiras que apareceram na internet e coisas do tipo, enquanto copiava os deveres de um ou de outro. Tony era o tipo de cara que chegava em casa, fazia logo o dever e depois arranjava um jeito de se ocupar o mais rápido possível: assistir à TV, falar com alguém on-line, qualquer coisa que preenchesse o tempo e o distraísse de algum jeito. No


dia seguinte, então, ele não tinha por que chegar mais cedo, já que não tinha nenhuma pendência para resolver e preferia se concentrar em chegar exatamente no horário da aula. Ele tinha uma pressa fenomenal para um garoto de 12 anos. Os psicólogos chamavam aquela forma tão ativa de viver de “síndrome da geração z”. Ou seria “geração y”? Enfim, a tal geração que nasceu na era dos computadores e da internet, com toda essa coisa tecnológica e que se acostumara a fazer mil tarefas ao mesmo tempo. Tony chamava o diagnóstico dos especialistas de “desperdício do dinheiro dos pais contratando essas pessoas em vez de comprar um computador novo para ele.”

– Tony! U’Última chance, ou vocêe vai sair sem tomar o cafe’é da manha! – berrou a mãe do garoto da cozinha. Mas Tony sabia que isso era apenas uma tentativa de apressá-lo. Ela nunca iria deixá-lo sair sem tomar o café. E, caso isso ocorresse, algum lanche seria posto sorrateiramente em sua mochila (escondido do pai dele, que reprovaria tal 8


“mimo”, claro). Disso, Tony tinha certeza. Portanto, não ligava de dormir alguns minutos a mais, com a finalidade de fechar o ciclo de sono de oito horas por dia, como recomendavam os médicos na TV. Ele sabia que, no final, tudo daria certo. Quando falo “minutos a mais”, não quero dizer que ele iria se atrasar. Nunca! Tony sabia que, às 7h05, o ônibus que ele pegava todos os dias para ir à escola passaria, e que às 7h15 já estaria na porta do colégio, pronto para entrar, a passos largos, diga-se de passagem, no exato momento em que os portões estivessem fechando – nem um segundo a mais nem a menos. Assim, antes das 7h25 já estaria sentado no lugar de sempre, arrumando os materiais de sempre, aguardando somente que a professora entrasse, com um copo de café na mão, e começasse mais uma aula. Tony dormia todos os dias às 22h30 e acordava às 6h30. Se você ainda não fez as contas, isso dá oito horas de descanso, certinho. Ele sabia o que estava fazendo e, ainda que decidisse dormir alguns minutos a mais, tudo sairia de acordo com o planejado – e isso incluía o lanche sorrateiro na mochila. 9


De qualquer forma, às vezes Cabelo, o amigo de Tony, pegava o mesmo ônibus que ele, e assim chegavam juntos no último minuto tolerável para entrar na escola. Apesar de muito metódico e pragmático, duas qualidades muito estranhas a uma pessoa só, Tony quase sempre torcia, em segredo, 10


para que Cabelo se “atrasasse” e pegasse o mesmo ônibus. Assim, eles conversariam antes de chegarem à escola e Tony não desperdiçaria tempo mais tarde, podendo ir diretamente para a aula – como calculara e fazia diariamente. A conversa no ônibus era uma substituta para o tal “aquecimento”, com o qual ele nem se importava muito, mas que não podia negar que era divertido. Com Cabelo e toda a sua cabeleira entusiasmada, com vida própria no mesmo ônibus, aquele se tornava um começo de dia perfeito com aproveitamento de tempo perfeito. Tudo sob controle. Naquela manhã de segunda-feira, após ter se vestido e escovado os dentes, Tony mais uma vez saíra sem tomar café, contando com o lanche escondido na mochila e torcendo, secretamente, para que Cabelo também estivesse no ônibus. Os dez minutos que separavam sua casa da escola passariam ainda mais depressa, principalmente por ser uma segunda-feira, dia com muitos assuntos a serem colocados em dia, como o que haviam feito no fim de semana, por exemplo. 11


E Tony tinha muitas coisas para contar, ah, se tinha! E estava louco para compartilhar com alguém o sucesso de mais um plano perfeito! Não eram novidades “boas” de acordo com os outros, mas não era isso que importava para ele, como já deu para perceber.

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2 Missão: chegar à escola

– Tony! – gritou Cabelo, de dentro do ônibus, enquanto acenava de forma frenética ao avistar o amigo. Tony deixou um sorriso de satisfação escapar. Comemorava internamente ter o colega como companhia e, assim, poder contar vantagem sobre o que tinha feito naquele fim de semana, algo insuperável (invasão de domicílio e vários outros crimes dos quais ele nem sabia o nome, mas que cometera!). O problema é que naquela manhã o ônibus estava especialmente cheio. Tony tentava abrir espaço e alcançar o amigo, se espremendo entre os corpos de adultos suados já àquela hora do dia e que se amontoavam como sardinhas, indo e vindo no balanço do ônibus, em seus afazeres diários. Antes de conseguir tal façanha, porém, o ônibus chegou ao


destino final: o colégio. Os dois desceram e, como duas amigas velhinhas que não se viam fazia muito tempo, tentaram falar o máximo possível no menor espaço de tempo, um interrompendo o outro, enquanto caminhavam (quase corriam, na verdade) em direção à entrada da escola, antes que o portão se fechasse e eles perdessem a primeira aula do dia. – Você não vai acreditar no que eu fiz nesse fim de semana! – disse Tony, ofegante.

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– Nem você, cara! Foi incrível! Sábado, eu… – tentou falar Cabelo, com a mochila sacudindo nas costas. – Não, não! Você não está entendendo! O seu sábado não se compara ao meu domingo! – E antes que fosse interrompido novamente, tentou emendar o assunto: – Lembra aquele vizinho… – Você vai me dizer que uma história sobre seu vizinho Barbudo e Barulhento pode superar um

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passeio de… – tentou argumentar Cabelo, mas foi cortado novamente. – CABELO! Um passeio qualquer nunca vai superar um ato de pura genialidade arquitetado por mim, seu amigo mais inteligente de todos! – exclamou Tony, rindo de satisfação e tentando respirar ao mesmo tempo. E essa foi a sensacional conversa que conseguiram travar até passarem, meio que se espremendo, pelo portão da escola, pontualmente, como avisei que seria, às 7h15.

Falando em pontualidade, o Colégio Haroldo Barko era bem rígido. Além da intolerância a atrasos, os alunos precisavam usar uniformes impecáveis todos os dias, seguir todos os horários à risca, ter uma dieta balanceada supervisionada por nutricionistas e acompanhamento integral de 1 milhão de especialistas nas mais diversas áreas criadas nos últimos anos, permitindo que aquelas centenas de estudantes usufruíssem ao máximo da infância e dos estudos: psicólogos para casos de bullying, psicólogos 16


para o primeiro beijo, psicólogos para o primeiro fora (um para os meninos e outro para as meninas), para o primeiro olho roxo, para os que gostavam de RPG, entre muitas outras coisas tão estranhas quanto normais quando se tem 12 anos. E toda aquela rigidez contrastava com o jeitão descontraído do lendário Haroldo Barko, sujeito que dava nome à escola, conhecido nos livros de história como boa-pinta, boa-vida, bom sorriso enorme (na única foto que se tem de registro), de boas relações, de muito boa sorte e que, por acaso, fundou a cidade em que Tony morava, Bom Chance. O nome foi uma homenagem desastrada à própria sorte que Barko considerava ter na vida. “Chance” significa sorte em francês, língua materna de Haroldo, e oportunidade, em português. Nome estúpido para uma cidade, pensava Tony. Como viver em um lugar que tem um nome que significa sorte e oportunidade como uma coisa só e ainda tem um erro de concordância? De todo modo, a rigidez do Colégio Haroldo Barko não era problema para Tony, para quem usar uniforme todos os dias era um grande alívio. Afinal, 17


quem ia querer perder tempo escolhendo o que vestir todas as manhãs? Cumprida a missão de chegarem ao colégio, só restava aos dois amigos sentarem em seus lugares, estrategicamente posicionados em pontos distintos da sala (ação aprovada por unanimidade por professores cansados e desesperados por um pouco de paz durante as aulas, pois Cabelo insistia em conversar o tempo todo), e esperar pela hora do intervalo, quando Tony, enfim, poderia contar ao amigo como invadiu e desativou a energia da casa do vizinho, o Barbudo e Barulhento, de forma brusca, com a intenção de acabar de vez com as festas que, semana após semana, interrompiam o sossego da rua e, especialmente, da família Moon (que, caso você ainda não saiba, já que não falei, é a família dele: Moon, Tony Moon).

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