1ª ANTOLOGIA AMOLIVROS - ED. 2019

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Araçatuba - SP

“a u t ó g r a f o”


@ todos os direitos reservados aos autores.

CAPA PEDRO CÉSAR ALVES

1ª EDIÇÃO 2019


DEDICATÓRIA

Esta Edição é dedicada a todos que lutaram bravamente pela AmoLivros – Associação dos Amigos do Livro, que não foram poucos, mas que aos poucos se materializa.


PREFÁCIO

Sabemos que não é nada fácil escrever, porque requer leitura – e, infelizmente, poucos gostam de ler. E, os poucos que leem e escrevem, nem sempre encontram espaços para materializar em papel o seu texto. E nós, um pequeno grupo, estamos seguindo firmes com este objetivo: publicar o que escrevemos – e, em breve, a Edição de mais um livro de autores araçatubenses, ou que fizeram deste lugar a sua terra. Assim, pouco a pouco, passo a passo alcançaremos o nosso objetivo: a realização materializada dessa obra virtual: a ANTOLOGIA AMOLIVROS Nº 01. Vamos dizer: é questão de tempo, não é mesmo?


AUTORES PRESENTES NA ANTOLOGIA

Amarildo Clayton Godoi Brilhante Antenor Rosalino Fernanda Gaiotto Machado Hélio Consolaro Hugo Garcia Tosta (in memoriam) José Hamilton Brito Junior Salvador Larissa Alves Pedro César Alves Renata Ribeiro de Lima Reynaldo Mauá Junior Tacilim Oréfice Wanilda Borghi


Todos nós temos fantasias e queremos realizálas – mas nem sempre são possíveis; logo, quem vive da escrita, cria o seu mundo e nele os seus personagens vivenciam suas fantasias... Pense nisso.


AMOLIVROS - ANTOLOGIA

‘AMOLIVROS Antologia’ são crônicas publicadas no Jornal ‘O Liberal Regional’, Caderno ETC, p. 02, às terças-feiras. Autores que se reuniram para organizar a Instituição AMOLIVROS, e, dentre as metas, a publicação de textos foi uma delas. Durante o ano de 2018 foram publicados 41 textos, com a participação de 13 autores.


O PRIMEIRO DE MUITOS (13/02/2018) Este é o primeiro texto de muitos que por aqui pretendemos publicar - escrevo pretendemos porque somos: a Associação Amigos dos Livros de Araçatuba AMOLIVROS. Pensando na arte da leitura (e da escrita) - a AMOLIVROS, uma instituição sem fins lucrativos, nasceu há pouco mais de três anos e que vem, através de constantes mudanças, cativando o público leitor através dos seus objetivos essenciais. No último dia 06 de fevereiro estiveram os associados reunidos em Assembleia na Biblioteca Pública Municipal 'Rubens do Amaral' para dar continuidade aos trabalhos que vinham sendo feitos, e que, por necessidade de mudança, intercâmbio, estudos para outras cidades de grande parte da Diretoria em exercício (que em sua base era composta por jovens) - e com mandato até 31 de julho deste ano corrente, fez-se necessário eleger uma Diretoria Provisória Transitória até o fim do mandato. Para quem não tem conhecimento da AMOLIVROS, entre os seus objetivos estão elaborar projetos que visam ajudar a Biblioteca Municipal a desenvolver a prática de leitura e do interesse dos cidadãos por ela (biblioteca). O processo da leitura é gratificante, apesar de poucos desenvolverem esse hábito, a observar que, quando pequenos, tudo que lhes caem às mãos é objeto de leitura, mas com o decorrer dos anos tal processo entra em decadência - o que a AMOLIVROS tem por objetivo de resgate: a prática da leitura que será desenvolvida através do envolvimento mais direto do leitor com o escritor. 9


Buscando as raízes (que não faz muito tempo de sua fundação), um dos principais trabalhos da Diretoria empossada no início deste mês é criar um elo entre escritores e leitores, principalmente o jovem do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, que se dará através de palestras junto a esse público, instigando-os ao prazer de ler - portanto, o convite fica feito às escolas interessadas em participar (o que não descarta também a possibilidade do público do Ensino Fundamental I). Como citado acima, esta Diretoria transitória é composta por escritores que há alguns anos transitam pelo espaço araçatubense das Letras (Academia Araçatubense de Letras, Grupo Experimental/AAL, União Brasileira de Escritores/UBE), de pessoas envolvidas diretamente com o livro, que buscam diariamente interagir de forma acentuada com os leitores - sempre na busca de novos talentos na arte de escrever (oferecendo Cursos de formação ao escritor como o em aberto para 'Formação de Jovens Escritores', pela Academia Araçatubense de Letras). Os textos aqui publicados são voltados para o livro indicações e comentários literários, palestras, e outros assuntos voltados para os objetivos da Instituição. Também poderão ser encontrados assuntos variados na página da AMOLIVROS no Facebook, e em breve em página própria (que será divulgado em momento oportuno). (...) E esperamos contar com a participação efetiva dos cidadãos araçatubenses, incluindo você - caro leitor, de Araçatuba ou de nossa região (lembrando que a participação pode ser feita através de convites para palestras, de doações, de sugestões de atividades que serão analisadas e, sendo viável, colocadas em prática). Nossos sinceros agradecimentos 10


desde já. - por Pedro César Alves, Membro da AMOLIVROS.

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ARAÇÁ LETRAS - ARAÇATUBA SOB VÁRIOS OLHARES (20/02/2018) Araçatuba fez recentemente 109 anos e no interesse de homenageá-la, a Academia Araçatubense de Letras, pela sua presidente Yara Pedro de Carvalho, aceitou a sugestão do acadêmico Hélio Consolaro em editar um livro no qual ficassem registradas as lembranças de várias pessoas na forma de crônicas e poemas; cronistas e poetas com raízes na cidade, seja por nascimento ou por merecimento de muito terem feito por ela pelo que a amaram. Da ideia aos fatos e com a ajuda dos acadêmicos Hosanah Spíndola, Antenor Rosalino e do coordenador do Grupo Experimental da Academia, senhor José Hamilton Brito, foi ao trabalho: Araçá Letras - Araçatuba sob vários olhares. Um dos ilustres olhares foi o de Zulíria Martins Minicussi, professara no Cristiano Olsen: "É a linda cidade morena, rival de Iracema, a virgem selvagem dos lábios de mel". A Velha Senhora, como a chamou o saudoso Napo, ainda tem e terá sempre os lábios de mel pois, quem a beijou uma vez não a esquecerá jamais. Antenor Rosalino cita: "Lembranças vividas do quintal da minha casa, da vizinhança, dos amigos e colegas... Das lendas infantis que permanecem na minha memória". Arnon dos Santos em Carnaval entre amigos e inimigos, dá como inimigos a polícia que vivia perseguindo os foliões. Viis Pulchritunis é o texto da professora Cidinha Baracat que cita Odete Costa e Célio Pinheiro como idealizadores da Academia Araçatubense de Letras: "Toda 12


realização nasce de um sonho" - foi assim que surgiu esta Instituição que tanto nos enche de orgulho. Emília Goulart dos Santos em Declaração de Amor à Araçatuba confessa que votou muito errado. Conhecendote, amiga, sei que votaste com consciência e quem vota assim, nunca erra. Fala ainda da saudosa rua 13 de Maio. Pelo menos para mim, sempre saudosa. "Armec, armec, Armec / meu coração vai vibrar / minha maior alegria/ é ver o armec jogar" - assim, Dr.Geraldo Costa Silva canta no seu texto. Refere-se a um dos mais famosos, alegres, esplendorosos pontos de encontro não só de desportistas, mas de quantos queriam participar de um ambiente sadio e inteligente. Hélio Consolaro marca suas lembranças no texto Do jardim Nova Iorque aos condomínios e termina por citar o mais belo deles: o do quarteirão da sua casa. Em um segundo texto fala sobre Os ipês voltaram das férias. Dentre tantos belos textos destaco um que é belo: Carta à Velha Senhora, do saudoso Dr. Jorge Napoleão Xavier. Aqui ele cita as suas lembranças, que são muitas: "...mistérios e segredos que a envolvem, que não são diferentes, piores ou melhores, que das outras cidades, pois estas não têm a beleza e a história uma vez que não chamam Araçatuba" - mas não precisa, meu caro. Hamilton Brito traz no texto Araçatuba de Belezas Tantas, como surgiu a cidade, fala da sua vida cultural, cita alguns expoentes que fazem com que as noites de Araçatuba sejam mais românticas que as de Casablanca. Em Caminhos Caipiras evoca a música mágoa de boiadeiro e traça um paralelo entre a música e a sua realidade, sobretudo como o menino que então era. 13


Se você acessar o blog Araçá Letras - www.aracaletras.blogspot.com.br - poderá ter à sua disposição todos os textos do projeto. - por José Hamilton Brito, Membro da AMOLIVROS.

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A LUA SE ALCANÇA UM DIA DE CADA VEZ (27/02/2018) Os dias passam e, por estes últimos dias, por vezes, chove torrencialmente por aqui. Às vezes, algumas horas de um ar gelado, que até faz lembrar outros lugares, outros invernos, muito mais ao sul. Em horas assim, é bom lembrar que a vida continua. Que precisa de ritmo e equilíbrio. E que é preciso fé, para continuar. E, por mais que sempre tenha sido assim, a gente ainda precisa se lembrar que as estações passam. É bom lembrar que a semente vira flor. E a flor vira fruto. E o que o fruto vira vai ser pó, outra vez. Motivo de esperança e de, também, de continuar a plantar. Porque a vida continua. Mas o que plantar? E como se faz para plantar? Esta é a história que vou contar. Fez sete anos que cheguei nesta terra onde o sol é quente, e quente também é o sangue desta gente. Uma terra onde tenho colhido muitos motivos de gratidão. Onde ando conhecendo o calor da amizade, o segredo do ritmo, o segredo dos afetos, entre os laços e os nós. Um dia de cada vez. E um lugar, onde os laços têm se fortalecido e têm enchido meu coração de fé. Vim de longe. Voltei do sul, de onde esteve meu pai e para a terra de onde ele saiu. E isso já faz 50 anos, ó menino... É bastante história pra contar. Oxe... Jorge Alves, meu pai, foi um menino engraxate de Araçatuba, que foi pro Sul estudar e ser doutor. Bom... Já faz muito mais do que sete anos que a saudade dói assim, passo a passo, dia a dia, vai mexendo com as memórias e vai se transformando em verso. Mais do que isso; dia a dia essa saudade vai criando 15


e fortalecendo laços. E vai desfazendo nós. Sou grata por cada dia. Dia a dia, aqui e ali, eu vou dando aulas e sonhando meus próprios sonhos, enquanto penso que o estudo transformou a vida de meu pai. Ele teve um sonho. E, por conta desse sonho, ele foi tão debochado, menino... Oxe... Se eu pudesse te contar. Acredite, foi assim. Foi o que ele mesmo contou pra mim. Olhe só o que se falava: afinal, como pode um menino engraxate sonhar em ser doutor? Querer ser médico era como querer alcançar a lua. Meu pai tinha um sonho. Deboche faz muito mal, menino... É o que tenho pra te dizer. O deboche pode até adoecer. Hoje, tem até lei pra essas coisas. Mas, na época do meu pai, não tinha lei assim. Na época de meu pai, tinha apenas o menino engraxate, que veio pra Araçatuba, de um sítio pra lá de Bilac, há muito mais do que 50 anos, e que dizia que queria ser doutor. E não foi por causa de lei, nem por facilidade, mas foi por causa do sonho e do ímpeto. Foi por coragem. Pelo sonho, que era tanto, meu pai foi para o Sul e, de um jeito sem juízo, foi estudar pra ser doutor. E este é mês de saudade tanta... Mês de recordações. Tenho um filho. Um bebê loirinho, um menino que gostava de bola e de carrinho, um rapaz que está lá no Sul; no Sul que tem invernos demais. E a saudade é tanta, ó menino... Que nem sei como falar. Queria era contar pro meu menino, e todo menino e menina também, que é importante ter um sonho, ter coragem e lutar. Ainda que o sonho seja de alcançar a lua, ou pareça que é. Mas não esqueça, precisa cuidar dos laços e ter 16


cuidado com os nós. E precisa fé, para continuar. Não esqueça o sonho, se anima, passo a passo. E ainda que seja alcançar a lua... Sonho se constrói também dia a dia, um dia de cada vez. E muitos sonhos passam pelo estudo. E o estudo passa pela leitura. Por que não começar a ler? Dia a dia. Folha a folha. Uma folha de cada vez. Todo dia. Sem pular nenhum! Entre as estações da vida. Entre o ritmo da vida. Aprender o ritmo da terra. Da terra onde cai a semente, onde a semente vira flor, que vira fruta e que, depois, o que vira vai virar terra de novo. Semente de fruto. que é o sonho que a gente tem. Sonhe, meu menino... Sonhe que eu sonho aqui, também. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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O HERÓI DE MIL FACES (06/03/2018) 'O HERÓI DE MIL FACES' é um livro de Joseph Campbell, publicado no final da década de 1940. Trata-se de uma evocação esclarecedora do poder domito e seus significados para a transcendência do tempo, cultura local, gênero e perspectiva espiritual. O autor, um dos mais famosos mitólogos do mundo - alguns o chamariam, ainda, de filósofo - usa a história arquetípica da jornada do herói aventureiro como um atalho para explorar verdades humanas essenciais. Como parte do estudo, que possui também o suporte de teorias psicanalíticas, o autor desenvolve temas relacionados à universalidade da experiência humana, à natureza da dualidade, à harmonia, e à função do simbolismo na história e na vida. No prólogo, Campbell descreve tanto sua teoria central quanto o processo literário-analítico que ele usa no livro para iluminá-lo. O ponto central do argumento é: existem mais semelhanças entre os mitos e histórias tradicionais da humanidade do que diferenças. Segundo o autor, há, basicamente, três verdades centrais no centro dos sistemas de crenças espirituais e psicológicas de todas as culturas, em todos os tempos, e em todos os lugares. Primeira verdade: existe um mundo interior/espiritual em paralelo com o exterior/físico. Segunda verdade: o objetivo final da existência física é se conectar com esse mundo interior. Por fim, essa verdade é explorada e definida através da experiência humana universal do mito. 'O herói é o oposto do tirano egocêntrico que quer 18


tudo para si. O herói é o homem da submissão autoconquistada. É aquele que encontra regeneração dentro dos muros do império do tirano. Existe uma transfiguração no mundo do herói, uma radical transferência de ênfase do mundo externo para o mundo interno, uma retirada de ênfase da terra devastada e da expectativa de morte para a paz do REINO que está dentro de nós'. Uma das principais maneiras de isso acontecer, de acordo com Campbell, está na narrativa da Jornada do Herói - a história de um indivíduo místico e fisicamente poderoso em uma busca física para recuperar algo, uma história que é de fato uma metáfora simbólica para a busca espiritual da união ou re-união com o espiritual. O corpo principal do livro é composto pela análise detalhada de Campbell sobre os vários estágios da Jornada do Herói, as várias etapas de sua jornada. Um componentechave desta análise é a referência cruzada de Campbell de diferentes mitos, de diferentes culturas e eras históricas, que demonstram claramente os paralelos entre eles - paralelos que, segundo Campbell, provam que a experiência humana é universal. Outro componente dessa análise é a forma como Campbell descreve trechos desses diferentes mitos. Ele não apenas diz que existem paralelos, ele demonstra isso ao incluir histórias, como as do cristianismo, budismo, mitologia grega e esquimós. Campbell descreve, em detalhes, cada etapa da jornada do herói arquetípico, reiterando em vários pontos que o arquétipo tem uma base clara e um eco claro na existência viva real de cada ser humano. Esses ecos espirituais são despertados pela 19


metáfora. O objetivo final do mito e da metáfora, segundo Campbell, é despertar em cada ser humano individual uma consciência do aspecto espiritual da vida. Este despertar, segundo o autor, é o primeiro passo na jornada necessária longe da resistência às várias verdades físicas e espirituais inevitáveis associadas ao ser humano, como a morte, o sofrimento e a transformação. Na conclusão do livro, Campbell faz a afirmação clara de que a cultura contemporânea em geral e a cultura ocidental em particular, ao longo dos anos, se afastaram cada vez mais da autoconsciência que se encontra no mito. A experiência humana, segundo ele, tornou-se mais superficial, tornando-se cada vez menos o que o mito sugere que se pretendia: uma verdadeira experiência de harmonia entre o físico - o que podemos tocar, ver, cheirar, ouvir e provar -, e o espiritual - o que, através do mito e do símbolo, sentimos intuitivamente, psicologicamente e instintivamente. Em suma, SOMOS TODOS HERÓIS, mas será que estamos nos esquecendo disso? É o que cada linha do livro de Campbell nos faz recordar. - por Fernanda Gaioto Machado, Membro da AMOLIVROS.

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LER SEMPRE VALE A PENA (13/03/2018) Quando eu tinha sete anos, fui apresentado por meu irmão a minha primeira revista em quadrinhos. Daquele dia em diante a leitura passou a ser parte integrante da minha vida. Além de me perder por entre aquelas histórias fantásticas, o que mais me deixava feliz era o ritual da leitura. Íamos juntos até à banca de revistas, entrávamos em um acordo sobre qual quadrinho comprar e, depois, com nosso tesouro em mãos, voltávamos para casa, onde líamos de maneira alternada. Por fim, sentávamos diante da televisão e discutíamos aquelas histórias como se fôssemos experts em qualquer coisa, de artes marciais à física quântica. Aqueles simples fatos mudaram minha vida e foram determinantes para tudo o que se sucedeu. Mas você já parou para pensar em quão importante a leitura pode ser para a sua vida e a das pessoas que estão próximas? Não são poucos os profissionais que indicam a leitura como forma de ajudar no desenvolvimento das crianças. Além do estímulo à imaginação, a leitura também aguça a curiosidade e ajuda no desenvolvimento da linguagem dos pequenos. Quando elas ainda são bastante novos, a dica é procurar livros leves e adequados para a idade, nos quais quase sempre a criança pode reconhecer nas ilustrações coisas próximas a ela. Assim como aconteceu comigo, o hábito de contar histórias pode ser uma excelente forma de criar laços entre os membros da família. Quando se chega à adolescência e caminha-se para à vida adulta, os vestibulares exigem cada vez mais 21


conhecimentos gerais acerca de política, economia e relações sociais. Aí o conhecimento adquirido com a leitura mostra sua força. Depois disso vem a faculdade, onde aqueles que já possuem o hábito de ler tendem a enfrentar menos dificuldades, ante aos diversos livros indicados pelos professores. Por fim, na busca por um emprego, o leitor assíduo sai na frente mais uma vez, pois a leitura tem a capacidade de aprimorar o vocabulário, tornar o raciocínio mais dinâmico e melhorar a capacidade de interpretação. Todas estas características muito bem quistas pelos empregadores. Por fim, chegamos à velhice e, quando achamos que finalmente iremos parar de ler, é aí que a leitura se torna ainda mais importante. Não é segredo para ninguém que a terceira idade pode trazer declínios cognitivos consideráveis, como a perda de memória e a diminuição da compreensão da linguagem. O que se sabe também, por outro lado, é que a leitura é uma ótima forma de manter o cérebro recebendo estímulos constantes, inclusive com o nascimento de novos neurônios. Assim, um livro pode ser ótimo remédio para ajudar a prevenir, retardar ou combater doenças neurológicas como o Alzheimer, por exemplo. Por isso, meus amigos, a leitura sempre vale a pena. Se não bastasse, quanto mais você lê, maior será a sua capacidade de refutar qualquer informação recebida de maneira crítica. Com o passar do tempo, sua postura ao ler um texto torna-se mais ativa, de modo que, com o senso crítico mais apurado, é sempre mais fácil decidir o que é válido ou não no que se está lendo. Você pode, por exemplo, discordar de tudo que foi escrito aqui. O importante, entretanto, não é que você concorde com tudo, mas sim que 22


tenha plena liberdade para analisar e aceitar o que entende correto, rejeitando o que lhe parece equivocado. A leitura nos liberta das amarras da aceitação. Diante disso meus amigos, meu pedido é: ajudem a formarmos mais leitores! Leia para seus filhos; leia para seus avós; leia você mesmo; e, da próxima vez que der um presente de aniversário, junto daquele aparelho celular de milhares de reais, acrescente um livro de bolso, daqueles que não custam nem quatro litros de gasolina. - por Junior Salvador, Membro da AMOLIVROS.

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A MAGIA DE RUBEM ALVES (20/03/2018) Gostar de um livro é encontrar nele elementos intrínsecos. Qualquer escritor ainda que inconscientemente utilizando-se da mais valiosa matéria prima, a saber, a palavra, tem o poder de invadir o silêncio da alma e remexêla tão bem a ponto de desencadear o amor ou o ódio, algo que Rubem Alves soube fazer em muitos de seus escritos. No livro, Um céu numa flor silvestre, objeto de minha análise, verifica-se que há um processo simbiótico, um entrecruzar de sentidos a partir do momento em que o conteúdo do livro e o nosso interior revelam um encontro de teses e antíteses, uma explosão de vontades entre quem escreve e quem lê de fato. Eu me emocionei quando deparei com a narrativa do menino flautista e mais uma vez fica evidenciado que o dinheiro muda opiniões. Quem gosta de ler vivencia o mesmo sabor de quem chora ao ouvir uma música. Seus pensamentos viram um turbilhão, a imaginação solta, voa longe. Quem nunca na sua meninice não brincou com a fantasia ou quem nunca presenciou uma criança e suas fantasias? As representações imagéticas que se formam a cada página são uma constante na obra. Quem devora livros traz para dentro de si parte do outro, as virtudes são apropriadas, são pixels de sabedoria que se aglutinam formando um todo. A junção dos elementos contido na obra levam a beleza da imagem. Logo, se a obra que se apresenta ao leitor não tem uma boa resolução, ele a abandona. O abandono pode se dar por vários motivos, é claro. Mas a identificação com o aproxima. O leitor pode se enamorar com a obra por um 24


pouco de tempo ou ainda mais um pouco de tempo. Mergulhar num processo de devorar livros fará com que algo aconteça. Nas páginas iniciais da obra o autor explana questões metafísicas versus a solidez terrena. O autor traça diferenças entre o adulto e a criança onde diz: "Às crianças basta pouco; crianças nunca faz perguntas assim, por isso são mais felizes; crianças são entidades paradisíacas". Também delineia suas considerações sobre as palavras, dizendo: "as palavras têm um poder de engano infinito, assim como, de feitiço". Concordo. (Página 30, capítulo 4) As citações de outros escritores são frequentes em sua obra, tais como: Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, Friedrich Nietzsche, João Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Octávio Paz, Wittgenstein, entre tantos outros. Consoante o autor, as projeções que um indivíduo faz formam os contornos da pessoa que fala. Só quem ler o capítulo 5, da parte I, entenderá o que é encontrar um pinho de Riga ao final do trabalho. Na parte II, fala sobre amigos e conhecidos que são agraciados, história de pessoas que receberam dádivas dos deuses. Fala sobre o fracasso dele em tocar piano e conclui: "o piano não estava dentro de mim, embora o amasse, mas com o Décio foi diferente." Fantástica a menção a Nelson Freire. E Rubem arremata com uma frase impactante: "os deuses são injustos." Ouvir o Nelson é uma experiência de assombro, diz ele. Sem dúvida, a maneira como deixa evidenciado o dom de Nelson, deveria ser extraordinário estar presente para ouvilo. Eu gostaria também de presenciar só para ouvir o Nelson. O escritor soube explorar muito bem sua vertente de teólogo e psicanalista. Uma verdadeira aula em suas frases-efeito as quais um leitor atento viaja em reflexões. E 25


o leitor acaba por concluir com a seguinte exclamação: Fantástico. Caminhos dialógicos, experiências e textos que nos levam a entendermos um pouco mais acerca da vida. Ler Rubem Alves é gratificante, é aquisição de conhecimento garantido, é embebedar-se na sabedoria humana. Para ele, vivemos os assombros da vida. A correria e loucura dos nossos dias não nos permite ver. Ou será que permite, mas optamos por sermos cegos? Passamos de um lado a outro e não nos detemos a beleza dos pássaros, flores, cores, geometrias e etc., mas nos mergulhamos incansavelmente nos logaritmos neperianos, orações subordinadas, fases da mitose. Vês! Você tem um rio que corre. E a tua vida corre para qual lado? Os pés não caminham sozinho, as pernas não caminham sozinhas, aonde vão levam consigo o corpo. E aí, ler ou não ler? Eis a questão! Leio, por que existo. E para finalizar dizem que ele teria escrito: "Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho tristeza. A vida é muito boa. Mas a Morte é minha companheira. Sempre conversamos e aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a morte tem a dizer está condenado a ser tolo a vida inteira." Ilustre e encantável este imortal Rubem Alves. Está esperando o que para lê-lo? - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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LEMBRANÇAS... (20/03/2018) QUANDO UMA BIBLIOTECA MATOU UM PADRE *

Agora remexi com o que estava bem guardado lá no âmago do meu interior! Estas lembranças estavam adormecidas há muito tempo e sem motivo aparente começaram a vir à tona. Nos primórdios da minha adolescência, por forte influência da minha mãe, eu era coroinha na igreja matriz. Lembro do Monsenhor Vitor Ribeiro Mazzei quando celebrava as missas na Igreja da Praça Rui Barbosa, ao domingos de manhã, e eu auxiliando-o conduzindo o turíbulo, aquele objeto litúrgico que se utilizava para incensar com fumaça o ambiente do altar durante as missas, perfumando e exorcizando o ambiente. Também era o encarregado de pegar a galheta com vinho e água e levar até o altar e depois que ele lavava suas mãos eu lhe entregava uma toalha branca e rendada de algodão. Lembro que todo domingo minha mãe me entregava um pacote com minha batina vermelha cintilante e a sobrepeliz rendada nas extremidades de uma brancura ofuscante. Foram muitos meses neste ritual. Sempre após a missa ficávamos reunidos em pequenos grupos de fiéis, principalmente com as "filhas de Maria" com suas batas azuis, blusa branca e fita larga azul no pescoço. Esta mistura de coroinhas, aprendiz de coroinhas, alunos do catecismo e as meninas "filhas de Maria", criouse um saudável ambiente de amizade e diversão, tanto que 27


acabei conhecendo minha primeira namorada: a Haydeé. Uma bonita garota de pele alva e cabelos negros compridos uma dois anos mais velha. Neste meio tempo, minha mãe tramava minha ida para um seminário na cidade de Lins. Era seu sonho ter um filho padre! Eu, não sabendo isso continuava a namorando e frequentando a igreja. Lembro uma tarde de domingo ela convidou-me para ir até a casa de sua avó, que morava na Rua Silva Jardim. Era uma grande casa com um grande pomar. Pediu-me para sentar ao seu lado no banco de madeira e perguntou se eu já tinha beijado alguém. Respondi que ainda não. Então ela perguntou se eu gostaria de aprender a beijar e eu logo confirmei esse desejo que estava engasgado em meus sonhos juvenis. Ela segurou minha cabeça, e curvou a sua em direção a minha. Sabia superficialmente como era, mas não estava preparado para praticar. Ela começou a me beijar e quando colocou sua língua na minha boca, estranhei, pois nunca ninguém havia comentado que isto aconteceria. Tentei recuar minha cabeça, mas como ela estava segurando-a não consegui então, me entreguei aos seus úmidos, libidinosos e lascivos atos da arte de beijar por cerca de quinze minutos, até sua avó aparecer com uma jarra de suco de laranja. Depois deste dia eu não via a hora de chegar o domingo para depois da missa, ir com ela visitar a avó. Nesta mesma época, foi quando comecei a frequentar a biblioteca que era cerca de uns vinte metros da igreja matriz, ambas na Praça Rui Barbosa. Estimulado pelas experiências dos beijos comecei a ler sobre tudo buscando algumas orientações sobre como proceder naquelas 28


circunstâncias. Estava ávido por saber. Lembro que comecei minha fase de leitura iniciou com o "O Pequeno Príncipe" de Saint-Exupéry, mas logo parti para a Moderna Enciclopédia Sexual, três volumes de capa azul. Depois para os livros de Henry Miller como O Trópico de Câncer, O Trópico de Capricórnio, O Amante de Lady Chatterley de D.H.Lawrence, Os 120 dias de Sodoma, do Marques de Sade, Delta de Vênus, de Aanis Nin, O crime do Padre Amaro de Eça de Queiroz, Primo Basílio de Machado de Assis, e busquei toda e qualquer informação adicional sobre o tema nas coleções do Jorge Amado, José de Alencar, Machado de Assis e muito mais que esqueci muitos. Virei um rato de biblioteca. Foi um longo aprendizado, mas voltando a história inicial minha mãe conseguiu me enviar para o Seminário de Lins. Depois de quinze dias de iniciação fui fazer uma entrevista e o padre perguntou se eu tinha namorada, se já havia beijado ela e eu disse que sim. Quando ele perguntou os livros que eu gostava de ler e eu os relacionei, mandoume de volta no dia seguinte. Em virtude daquela biblioteca o mundo eclesiástico perdeu um grande e potencial fiel, talvez até um papa! - por Hugo Garcia Tosta, (in memoriam) Membro da AMOLIVROS. * Obs.: 'Quando uma biblioteca matou um padre' - título original dado pelo autor, mas por questões inexplicáveis, saiu publicado: Lembranças.

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UMA LETRA... UMA PALAVRA... UM LIVRO... UMA VIDA!!! (10/04/2018) Uma das primeiras notícias sobre a importância de ler e escrever que se conhece é parte de uma fábula egípcia denominada Papiro Westcar, onde o escriba Khety orienta seu filho Pepi expondo: "eu conheci fadigas, mas tu deves dedicar-te à arte de escrever, porque vi quem é livre do seu trabalho: eis que não existe nada mais útil do que os livros...".[1] Desde então, o fato de saber ler, escrever e contar, de certa forma ajuda a separar as pessoas com possibilidades de obter sucesso das que não terão essa oportunidade no contexto social. Neste sentido, além de características próprias e pessoais, o contato e a intimidade com os livros auxiliam no desenvolvimento intelectual e cognitivo de cada um de nós. Portanto, não se trata, apenas, de fatores individuais ou naturais para que as coisas deem certo na vida das pessoas, o hábito da leitura pode fazer uma grande diferença nesta jornada particular. O jornalista, escritor e pensador uruguaio, Eduardo Galeano, conta uma história que dá o tom de uma ajuda inestimável para a compreensão de tudo que nos cerca: a Vida. Diz assim: "Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou 30


mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Pai, me ensina a olhar!" [2] Quando não temos alguém que possa nos ajudar a fazer essa travessia ou a enxergar o mundo que ainda não compreendemos (como pais, irmãos, amigos, professores etc), o livro pode ocupar, com méritos, essa lacuna. Para tanto, quanto mais cedo pudermos criar o hábito da leitura, por meio de bons autores, boas histórias e bons livros (é claro) que nos instiguem a continuar cada vez mais com vontade de conhecermos o mundo e as circunstâncias que nos colocam nos lugares e nas condições em que vivemos, mais chances teremos de entender o que é certo e o que não o é, e o que fazer de melhor diante de cada circunstância. Concluo apropriando-me das palavras do escritor Alberto Mangel: "Creio que há uma ética da leitura, uma responsabilidade no modo como lemos, um compromisso que é tanto político como privado no ato de virar as páginas e seguir as linhas. E acredito que, às vezes, além das intenções do autor e das esperanças do leitor, um livro pode nos tornar melhores e mais sábios." [3] [1] [Mario Alighiero Manacorda. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias. Cortez, 5ª ed., 1996, p.22-23]. [2] [Eduardo Galeano. Livro dos Abraços. L&PM, 2002. Disponível em: https://www.kbook.com.br/livraria/wpcontent/files_mf/olivrodosabraços.pdf Acesso em: 01/03/2018]. 31


[3] (Alberto Manguel. No bosque do espelho: ensaios sobre as palavras e o mundo. Cia das Letras, 2000, p.14). - por Reynaldo MauĂĄ JĂşnior, Membro da AMOLIVROS.

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LITERATOS E POESIA (17/04/2018) Na minha lida no mundo da literatura, especialmente da poesia que tanto gosto, tenho observado pessoas que sentem no âmago, profundo desejo de escrever. Parece ser algo imanente. Tais pessoas buscam compartilhar este sentir com as pessoas circundantes ou à distância. E quando encontram afinidades, com o mesmo gosto poético, é como se realizassem um sonho acalentado. Nasceram para escrever e encantar. Outras existem que, por ter vasto conhecimento literário, escrevem apenas por vaidade pessoal, no afã de mostrar a sua invejável intelectualidade. Estes vivem enganados achando que encantam, mas nunca brilharão. Há ainda outro grupo de pessoas que escreve simplesmente para espairecer, buscam repousar a mente fazendo da escrita um entretenimento. Tal procedimento não deixa de ser salutar. Assim, cada escritor, à sua maneira, segue escrevendo e trazendo à luz seus sentimentos e interpretações do seu ponto de vista, advindas de suas experiências ao longo da vida. É bastante curioso também o fato de que os estilos e gostos literários se divergem muito, e os escritores denotam o seu potencial em conformidade com a essência de sua personalidade. Eu, do meu lado, sou afeito à poesia, ouso buscar, a meu modo, atingir a sensibilidade de quem me honra com suas leituras no meu blog e na minha página no site do Recanto das Letras. Aparentemente, pela quantidade de 33


visualizações obtidas e que tanto me surpreende, não tenho decepcionado e isso se constitui em refrigério para o meu coração. Não há dúvida de que fazer poesia é também a oportunidade que temos de desvincularmos por um dado momento da realidade e voejarmos por um mundo onde a imaginação flutua como se estivéssemos, de fato, num oásis de plena felicidade. Evidentemente, não se pode viver sonhando, mas, em certos momentos, essa fuga para o mundo do "faz de conta" reconforta e traz refrigério para a alma. Não foram raras as vezes em que me deparei com jovens que demonstram o desejo de elaborar poesias, mas se sentem frustrados pelo acanhamento de demonstrarem o seu sentir. Ora, basta apenas se entregar à fantasia, aos anseios do coração e passar para o papel. Com o passar do tempo, a própria pessoa irá se surpreender com os aprimoramentos e com a leveza dos seus escritos oriundos de fantásticas criatividades. É essa exteriorização de sentimentos sublimes em qualquer área de conhecimento que torna um homem imortal. Em síntese, a escrita revela a personalidade de quem escreve. Em sentinelas de emoções, é a visão mais exata que temos do circunspecto e dos mistérios que envolvem o ser o mundo. - por Antenor Rosalino, Membro da AMOLIVROS.

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QUAL O SEU SIGNO? (24/04/2018) Será mesmo que somos moldados pelas características dos signos que nos regem? Com essa interrogação é que começamos a desvendar os mistérios do livro "O assassino do zodíaco". Temos um autor estreante que buscou a originalidade na trama, organizando uma sociedade através dos signos. Um mundo onde as pessoas estão predestinadas desde o seu nascimento. Cada bairro, escola ou carreira reúne apenas pessoas do mesmo signo ou cujas características se assemelhem e as tornem aptas para exercer determinada atividade. Fica evidente o preconceito existente entre alguns signos, o que nos traz a realidade que vivemos hoje em dia, ainda cheia de discriminação, em que pessoas querem ser melhores que as outras em determinadas situações. Após um assassinato várias investigações começam e são elas que nos deixam presos à narrativa do início ao fim. O livro também aborda a questão da corrupção que ocorre dentro da corporação que investiga o caso. Percebemos que nem todos se importam com a investigação, apenas o detetive Jerome Burton, que se mostra muito competente para tentar descobrir o que realmente houve, e conta com a ajuda de uma astróloga forense. Nas entrelinhas do livro fica uma mensagem um tanto pessimista de que independente da forma como a sociedade decida se organizar, a dominação de fortes sobre fracos, a desigualdade entre ricos e pobres, a balança do 35


poder e da corrupção sempre se farão presentes e a humanidade sempre encontrará um jeito de driblar os ideais mais básicos de convivência. A descrição de como essa sociedade está organizada prende a atenção do leitor. Os capítulos são curtos e a narrativa em terceira pessoa é objetiva, o que faz com que a leitura flua rapidamente. Um thriller psicológico original criado em cima do horóscopo, no qual o autor aborda questões que estão presentes na nossa sociedade nos fazendo refletir. - por Renata Ribeiro de Lima, Membro da AMOLIVROS.

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O PODER DA FICÇÃO (01/05/2018) Surpreendi-me há alguns dias quando, em uma seção da Biblioteca Municipal 'Rubens do Amaral', que eu ainda não tive tempo de explorar, lendo os títulos dos livros, encontrei um livro chamado A Esfinge dos Gelos de Júlio Verne. Senti aquele arrepio de excitação de quando nos deparamos com algo muito legal e que não fazíamos ideia que existia. Esse livro era o que eu buscava há muitos anos sem saber que estava buscando: a continuação de A Narrativa de Arthur Gordon Pym, o único romance escrito por Edgar Allan Poe. O livro era uma homenagem do escritor francês ao escritor americano. Uma aventura completa que tomava como verdadeiras as desventuras que Arthur Gordon Pym e que havia pessoas, sobreviventes da viagem sombria do desafortunado Pym, a serem resgatadas. Devorei o livro rapidamente, pois já havia se passado mais de seis anos que li o romance de Poe e almejava um final, principalmente por ele ter sido escrito por Júlio Verne. O que coincidiu, também, com o presente de um amigo de um livro contando a história da ficção cientifica. Lembrei-me rapidamente da biografia de Santos Dumont onde ele relembra de sua infância e que não parava de ler Júlio Verne. Pai da ficção cientifica, ele escreveu por volta de setenta livros. Podemos destacas obras clássicas e grandiosas como Viagem ao Centro da Terra, 20.000 Léguas Submarinas, Da Terra à Lua e Volta ao Mundo em Oitenta Dias. Todas obras notáveis por explorar o poder da ciência e do que ela poderia conquistar se houvessem 37


intelectos e homens dispostos a correrem os riscos em busca de avanços científicos. Mas a ficção cientifica não começou com ele, ela remonta desde o século II com a obra História Verdadeira de Luciano de Samósata, lembrando da lenda japonesa o Conto do Cortador de Bambu e algumas histórias de As Mil e Uma Noites e Teólogo Autodidata de Ibn al-Nafis. Toda considerada proto-ficção cientifica, pois tinham elementos dela, mas, em uma época que ciência ainda não estava consolidada, não rompiam com o fantástico. Vários outros romancistas, posteriormente, escreveram livros que avançaram na direção de se tornarem a moderna ficção cientifica, mas apenas no século XIX, com a autora Mary Shelly com seu livro Frankenstein ou o Moderno Prometeu, que ela cria uma história toda embasada na tecnologia e ciência que rompe a barreira da pura fantasia, ou, nas palavras do criador de The Twilight Zone (Além da Imaginação), Rod Serling, que definem tão bem a ficção cientifica: "Fantasia é o impossível tornado provável. Ficção científica é o improvável tornado possível." Influenciados pelos avanços tecnológicos e da ciência do século XIX, surgiram grandes autores de ficção cientifica como H.G. Wells que escreveu A Máquina do Tempo, Guerra dos Mundos e O Homem Invisível, Robert Louis Stevenson com O Médico e o Monstro e as próprias obras de Júlio Verne. E, vale a pena ressaltar que, embora não tenha todos os elementos para ser considerado ficção cientifica, Sir Arthur Conan Doyle criou Sherlock Holmes na mesma época, influenciado pelos métodos forenses e de dedução que seriam tão comuns à polícia de todo o mundo 38


e, aqui no Brasil, tivemos autores de ficção cientifica como Joaquim Felício dos Santos que escreveu Páginas da História do Brasil, escritas no ano 2000 e Augusto Emílio Zaluar que escreveu O Doutor Benignus. Outros grandes autores surgiram no próximo século como Hugo Gernsback, Roquia Sakhawat Hussain, Edgar Rice Borroughs, Philip Francis Nowlan, Isaac Asimov autor de Eu, Robô, Damon Knight, Arthur C. Clarke autor de 2001: uma odisseia no espaço, Olaf Stapledon, Ray Bradbury autor de Fahrenheit 451, Stanislaw Lem e Yevgeny Zamyatin. Entre outros tantos nomes de outros tantos autores de ficção cientifica. São muitos, mas ainda sobra um espaço especial para mencionarmos Aldous Huxley autor de Admirável Mundo Novo e Philip K. Dick autor de Androides sonham com ovelhas elétricas? que inspirou o filme Blade Runner. Se formos entrar nos filmes que foram inspirados pela literatura da ficção cientifica, escrevia todo um livro sobre isso... Hoje Elon Musk diz que dois livros fizeram dele uma pessoa com mais sucesso: O Senhor das Moscasde Willian Golding e a trilogia de livros Fundação de Isaac Asimov. O que, como sempre, é bom ressaltar, nos lembra da importância e da influencia da leitura em nossas vidas e do poder que essas histórias têm sobre nós. O mesmo poder que o livro de Júlio Verne exerceu para escrever sobre o poder da ficção cientifica e o mesmo poder que não podemos, jamais, deixar perdido... em Além da Imaginação. - por Tacilim Oréfice, Membro da AMOLIVROS. 39


AMOR DOM MAIOR (08/05/2018) O acadêmico e escritor, Amarildo Brilhante trouxe ao público araçatubense a oportunidade de desfrutar de uma temática que todos apreciam: o amor. Sua obra do gênero poesia, lançada em 21 de fevereiro de 2014 no MAAP, foi publicada pela Editora Somos. O poeta ao falar de amor em sua obra traz à baila os tipos de amor, a saber, o "eros" e o "ágape". Nos dizeres do prefaciador Hélio Consolaro há um título que se apresenta por si onde o amor é conceituado, vivido e testemunhado e Brilhante se posiciona como um poeta do "status quo", o leitor vai encontrar em seus poemas reflexões do interior se interagindo com o exterior. Brilhante é resultado da liberdade linguística herdada com o Modernismo, logo, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas vão se fazer presente em sua obra poética. Em se tratando de um dos maisemblemáticos poetas da nossa literatura Carlos Drummond de Andrade deu início a sua carreira literária com o liv ro Alguma Poesia (1930), fazendo uma tiragem de 500 exemplares, com recurso próprio, com poucas páginas, poucos poemas. Brilhante, com sua obra Amor Dom Maior (2014), parece ter-se espelhado em Drummond, poeta do qual é admirador. Sua obra também teve uma tiragem de 500 exemplares, foi lançado com recurso próprio e que lhe rendeu portas dentro da carreira literária, entre elas o ingresso à Academia Araçatubense de Letras. Todavia, Brilhante não ambiciona ser um Drummond. Interessante do ponto de vista das coincidências, nada mais. Um adjetivo que bem resume este 40


raciocínio: "legal". Quiçá, um dia tenhamos um brilhante abrilhantando no cenário nacional e mundial. O poeta araçatubense adotou o uso de versos livres e a intertextualidade, esta recorrente entre um verso e outro. Tornou-se uma marca fazendo, entretanto, referência aos grandes poetas do Modernismo brasileiro, sendo eles: Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Para falar de amor é preciso sensibilidade, pois amor é sinônimo de sensibilidade, e sem ela é praticamente impossível se fazer poesia. O amor é fundamental tanto para a vida do indivíduo quanto para a composição poética, embo ra, as pessoas pareçam ter esfriado para o amor. O poeta tem uma postura dialógica diante do mundo que o cerca e a poesia e a arte são expressões subjetivas das quais o poeta se vale. Em alguns de seus poemas o poeta rompe com a uniformidade dos pronomes de tratamentos e se vale da licença poética criando o poema "Confusão de Pronomes" para justificar a irregularidade. Os dois tipos de amor, no idioma grego antigo, são tema dos 25 poemas do livro. Classificação que surge consoante o sentimento se manifeste. O "ágape" é sinônimo de divino, de um afeto transcendental, já o "eros" refere-se ao carnal aquele que instiga o homem e a mulher. A coleção de poemas agrada aqueles que tem sintonia com o belo, o amor e a paz. Vale a pena ler a obra, um verdadeiro canto ao amor. No comentário da leitora Rebeca Machado Carneiro ela pontua dizendo: "Um livro com poemas encantadores que aguçam a curiosidade do leitor à cada página. O autor aborda o amor e suas diversas faces e formas, o que faz com 41


que nos vejamos por diversas vezes em seus poemas. Entre todos os poemas, ressalto o meu favorito "Quem sabe outra vez". Um ótimo livro, que vale a pena ser lido mais de uma vez! Já o leitor Sérgio Martos Evangelista mencionou: "De uma só vez li o seu livro de poemas com o intuito de captar as diferentes maneiras de amar. "Confusão de Pronomes" foi o poema do qual mais gostei. A metalinguagem, as relações do "marfim" (gramática) com o pulsar dos sentimentos. "Admiração" retrata o amor em potência, que pode transformar-se em ágape ou em eros. "Drogas" é o amor ao futuro. A experiência de vida confrontando as ilusões de ótica trazidas pela 'vidaloka'". Tão logo, não deixe meu amigo, minha amiga de apreciar esta obra literária. - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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A PRIMEIRA VEZ NUNCA ESQUECEMOS (15/05/2018) Eram seis horas da tarde! O sol se punha e começava a espelhar múltiplas maravilhosas cores no horizonte intermediando em algumas nuvens. Parecia que o pintor supremo estava caprichando especialmente mais naquele dia nas agradáveis combinações do vermelho, amarelo e suas nuances. Havia caminhado cerca de doze quarteirões, mas não estava nem um pouco cansado. Estava excitado pela oportunidade que iria conhecer e pela resolução que havia decidido a acabar com aquela incerteza do que iria acontecer. Havia ensaiado por diversas vezes, mas nunca havia chegado tão perto. Eu tinha treze anos de idade e estava determinado a ir lá pela primeira vez. Estava iniciando minha adolescência e tinha consciência que já estava na hora, aliás, a hora adequada já havia passado há algum tempo e eu não aproveitei as oportunidades que apareceram. Muitos amigos já tinham ido e falavam maravilhas do que acontecera. Do enriquecimento das suas sabedorias e experiências. De como suas vidas mudara após passarem a frequentar aquele local. Isto aumentou minha expectativa, mas ao mesmo tempo aumentou também minha incerteza que eu também sentiria suas emoções. Eu não sabia como proceder ao chegar àquela antiga e grande casa. Não era uma construção moderna e atrativa. Suas paredes estavam descascando e a iluminação externa era deficiente. A noite dava um ar mais sombrio. Resolvi esperar um pouco do lado de fora na 43


esperança da chegada de algum amigo da escola. Isto me deu um conforto e diminuiu meus batimentos cardíacos. Encostei-me na parede lateral perto da esquina e fiquei aguardando, observando todas as pessoas que passavam em frente aquela grande casa, em especial aos que entravam. Não eram muitos os que entravam, mas pude perceber o semblante radiante quando entravam por aquela grande e alta porta. Às vezes eram duplas de garotos ou um grupo de alegres garotas, outras vezes eram homens e mulheres sozinhos e taciturnos. Depois de trinta minutos não reconheci ninguém que pudesse me convidar, estimular, levar-me para dentro. Neste meio tempo fiquei pensando se aquilo era realmente o que eu queria, se era uma decisão certa, se iria me satisfazer na curiosidade e na satisfação. Afinal eu estava crescendo e já não era mais um garotinho. Tinha um mundo inteiro para eu explorar, para conhecer e vivenciar. As emoções estavam ali, pertinho de mim e eu estava sem coragem para enfrentá-las. Coragem não era a palavra mais apropriada. Talvez a palavra correta naquele momento era tomar a decisão de conhecer pessoalmente tudo aquilo de bom que ouvira falar. Afinal, era homem para tomar a decisão ou não? Continuaria a ser um garotinho da mamãe? Com passos tímidos cheguei até a pequena escada que levava àquela alta porta de madeira cinza desbotada. Felizmente ninguém estava entrando naquele instante e pude caminhar com os olhos arregalados e ávidos de emoções e continuei. Um grande salão apareceu com muitas mesas e 44


cadeiras de madeira. Cada mesa tinha sua iluminação. Havia um grande balcão no meio da sala. Após grandes e profundas prateleiras repletas de livros. No balcão estava sentada uma senhora de vestido preto, grandes óculos e cabelos presos. Percebi que as pessoas se dirigiam até ela, falavam alguma coisa, esperavam e ela lhes entregava alguns livros. Era a Biblioteca Municipal! Eu caminhava maravilhado por aquelas mesas com pessoas compenetradas em seus livros. A maioria estava séria, porém algumas davam tímidos sorrisos à medida que viravam as páginas. Foi a minha primeira visita à Bibliotecal Municipal da cidade, que ficava na Praça Rui Barbosa onde hoje é o Banco do Brasil. Isto foi há mais de cinquenta anos e a emoção é maior do que a lembrança de qual livro havia lido naquela noite. A mesma emoção que senti quando estive hoje na nova Biblioteca "Rubens do Amaral", na reunião da Amolivros. - por Hugo Garcia Tosta, (in memoriam) Membro da AMOLIVROS.

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A SEMENTE DE TAGORE (29/05/2018) Enquanto estendia seu olhar para além do quadriculado de sua janela, Eumess, ia imaginando de que formas poderia descrever tudo o que suas retinas recolhiam das cores, traços, imagens e elementos do espaço aprisionado entre aqueles batentes. Os fios de eletricidade cortavam aquele cenário imaginário, dividindo sua tela fictícia. De um lado posicionavam os telhados, muros, trechos de árvores, metade de postes e, em determinados momentos, esfinges humanas, por suas cabeças. De outro lado, o azul sem igual dos dias de verão, as nuvens desengonçadas e provocativas que, numa hora eram seres estranhos e casuais, e em outras, habitantes de seu imaginário mundo fantástico. Ali, deitado sobre sua cama, com os olhos voltados para essa composição de desejo, arte e imaginação, Eumess, construía seu futuro envolvimento com o mundo real. Muito dessa condição fora obtida a partir da leitura de um poeta de nome complicado e difícil de se pronunciar: Rabindranath Tagore. Eumess iniciou suas leituras de R. Tagore a partir de uma coleção de minúsculos livretos que traziam poesias desse poeta. Talvez, por serem tão pequenos, esses livrinhos eram tão atraentes para Eumess que os acolheu como elementos de leitura obrigatória. O estilo leve, sensível e belo tocou a mente e a imaginação de Eumess. Todos os dias, assim que sobravam horas, minutos ou momentos em sua correria de moleque travesso, Eumess buscava um dos opúsculos de Tagore e 46


deleitava-se com suas palavras, expressões para descrever o universos e os sentimentos humanos, que, de alguma forma, tocava o coração quase imaculado de Eumess. Essa leitura lírica, coloquial, natural e, mesmo, contemplativa inundava a imaginação do menino que nunca mais esqueceria seu mestre indiano, mesmo distante no tempo e no espaço. Daqueles lampejos de emoção e sentimento, produzidos pelas leituras do poeta, Eumess, principiou a entender que poesia, poema e poeta são parte de elementos metafísicos e indícios de possibilidades que ultrapassam o mundo real para aninharem-se na fantasia e na verdade de cada um. Verdade essa que pertence aos poetas e visionários, que burilam e transformam palavras em sinais desvendáveis por cada leitor que mergulha e ascende junto nesse universo indizível, admirável, inenarrável. A simplória janela de Eumess, como proscênio da inspirada fruição Tagoriana, permanece até hoje na memória, na vida e na certeza de que o mundo não é um só. "No dia em que a flor de lótus desabrochou / A minha mente vagava, e eu não a percebi. / Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida. / Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim. / Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro/ De um perfume no vento sul./ Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade. / Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se. / Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim, / Que ela era minha, e que essa perfeita doçura / Tinha desabrochado no fundo do meu coração." Rabindranath Tagore[1] Rabindranth Tagore nasceu em Calcutá, na Índia. Foi poeta, romancista, músico e dramaturgo. Ganhador do 47


Prêmio Nobel de Literatura em 1913, era chamado de "Grande Mestre" por Gandhi. Reformulou a literatura e música bengali no final do Século XIX e início do Século XX. [2] [1] https://educacao.uol.com.br/biografias/rabindran ath-tagore.htm?cmpid=copiaecola [2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Rabindranath_Tag ore - por Reynaldo Mauá Junior, Membro da AMOLIVROS.

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SABEDORIA É JOGO DE CINTURA. ZIRIGUIDUM (05/06/2018) Nossa cabeça está cheia de comandos rígidos. Que são falados e repetidos por aí. Missões impossíveis, provérbios contraditórios, que não consideram o ritmo da vida. Quem é que nunca ouviu coisas assim? "Quem não aceita críticas não quer crescer." E muito mais, muito mais. Olha só: Não ouça a opinião dos outros. Apenas se interesse pela opinião de quem lhe ama. Você não mora no passado, pare de olhar para lá. Não destrua seu presente por causa de um passado ruim. Quem não avalia o passado está condenado a cometer os mesmos erros. Gentileza gera gentileza. Cada um tem de mim o que conquistou. Quem não é feliz sozinho, não sabe ser feliz com outro alguém. Vista seu melhor sorriso e vá encontrar pessoas. Os melhores amigos sabem a dor por trás de seu sorriso. Quem não fala o que sente, adoece. Adote um animal. Antes de adotar um animal consulte: sua paciência, suas finanças, suas alergias. Siga seu coração, mas leve seu cérebro junto. Nunca duvide do que lhe diz sua intuição. Dê valor ao que você tem, para não dar valor depois 49


que perder. Na vida, quem perde o telhado, ganha as estrelas. Vá atrás do que é importante para você. Na vida, aquilo que for para ser seu, fica. Liberte-se do que te faz mal. Aprenda a ver o lado bom em todas as coisas. Abra-se para o novo. Respeite a sabedoria dos mais velhos. Gosto quando não tenho que ter cuidado com o que vou dizer. Cuidado com as palavras, depois de lançadas, elas não voltam. O amor não desiste. O verdadeiro amor fará você chorar de rir e não de dor. A pessoa certa é aquela que não vai embora. Amigos não precisam estar sempre juntos, porque amigo é ser, não estar. E... e... e... E talvez como reflexo desta teia de hipérboles imperativas, vemos jovens indo às ruas carregando cartazes que pedem Educação de qualidade, sendo muitos os mesmos jovens que não conseguem se dedicar a uma leitura, nem mesmo a uma aula. Jovens que desrespeitam professores. Jovens que pedem Educação de qualidade, mas invadem escolas e impedem aulas. Outra consequência desta falta de rumo pode-se verificar nos bancos ocupados das Universidades Públicas em sua maioria por jovens que fizeram o ensino fundamental em escolas particulares. Contradições. Paralisados. 50


É como ficamos. Estupefatos. Sem rumo com tantos caminhos apontados. Meia hora em uma rede social e é necessário uma desintoxicação. Uma bússola para se saber onde se está, quem sou, para onde ir. A contradição... sempre a contradição... Não tenho dúvidas. O primeiro passo para encontrar a paz é aceitar a contradição. E em um mundo que não tem pedagogia para isso, aprender a arte de conviver com elas e dentre elas. Um viver difícil. Uma vez que conviver é essencial. Sem certezas. Com rótulos condenados a se contradizerem. E é preciso fé para continuar. O mistério que envolve cuidar dos laços e cuidado com os nós. Sem fórmulas prontas, mas descobrindo a verdade no caso a caso. Não tenho dúvidas... as ciências naturais não nos ajudam nisto. É preciso algo sobrenatural. É preciso um discernimento afinado, uma sabedoria rápida mas além da que nos é emprestada pelo senso comum, para que se possa tomar decisões e fazer escolhas diante dos incontáveis movimentos e interações do dia a dia.. Tendo-se a capacidade de ser flexível às singularidades, como impõe a justiça. É necessário algo além de nós mesmos. Às vezes é, às vezes não é, às vezes poderia ser. Sem que se perca a identidade. 51


É necessário a liberdade de espírito para este jogo de cintura social. E conforme a vida se acelera... É necessário samba no pé. Um pé lá e outro, aqui. Ziriguidum ziriguidum. Sabedoria é jogo de cintura. Um passo de cada vez. Um passo lá e outro cá. Com muita fé para continuar. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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INSPIRAÇÃO POÉTICA (12/06/2018) Não são raras as vezes em que lampejos de inspiração me vêm à mente. Surgem, sorrateiramente, vindos assim do nada. Não sei mesmo de onde vêm. Parece que se escondem no mais profundo do âmago até resolverem se revelar. Uma coisa se evidencia claramente: quem tem o prazer de elaborar poemas não os escolhem, eles é que surgem e os poetas e poetisas se submetem aos seus caprichos. A partir daí, nada mais importa, apenas e tão somente o transbordar das doces palavras, as quais, paulatinamente, vão surgindo e povoando o coração poético. O texto vai ganhando vida e superando as angústias, apesar de que a inquietação é sempre latente na alma de quem tem aguçada sensibilidade para escrever poesias. E isso decorre em virtude da incansável e intermitente busca pelo perfeccionismo dos escritos. Por vezes, me ocorrem receios de que a inspiração se afugente, mas quando ela se vai, parece voltar, depois de algum tempo, ainda mais esculpida e decantada. Em vista desse detalhe, da volta sempre triunfal dos sentimentos líricos, não fico preocupado e jamais desprezo a abençoada dádiva do escrever, de exteriorizar plenamente o meu sentir sobre o circunspecto e muito além nas viagens da imaginação. Muitas são as lembranças que acabam por fazer parte do labor poético e contribuem, decisivamente, para o surgimento da arte. Estar atento de forma contemplativa ao 53


circunspecto, procurando razões e respostas, refletindo sobre as circunstâncias do cotidiano é, sem dúvida, de importância fundamental, além de desenvolver a capacidade linguística. Entretanto, muitas vezes, quando nesse estado introspectivo, eis que, de repente, o telefone toca. Imediatamente, vem a pergunta: por que tocar justamente agora? Os assuntos ao telefone se sucedem. Por fim, a volta ao pensar na poesia latente. E outra pergunta se faz inevitável: onde eu estava mesmo? Assim como veio, a inspiração se vai... Onde será que se esconde? Não adianta tentar buscá-la. Deve estar em algum lugar distante. Definitivamente, parece que esperá-la é minha sina. Depois de certa fase da minha vida, quase sempre, antes de a noite chegar, recorro-me aos sonhos e às lembranças mais queridas e espero a inspiração voltar com sua essência cristalina e pura que paira no ar como um espectro. É um despertar de sentimentos que se renova trazendo beleza à minha alma. Enfim, na minha concepção, acredito não ser exagero acreditar na convicção de que tais manifestações que se afiguram tão gratificantes e belas quanto misteriosas, são expressões do sentir que Deus escreve no tempo e na eternidade. - por Antenor Rosalino, Membro da AMOLIVROS.

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CONTRAMÃO (19/06/2018) Se você tem alguma semelhança comigo, se está no caldo dos relacionamentos, deve andar se sentindo confuso. Discussões, malcriações, quebra de valores, quebra de amizades, rompantes constrangedores. Falo das cansativas discussões e pobres argumentações entre esquerda e direita. Eu... que me incluo entre os que não suportam carregar uma dúvida, sentei a bunda em uma cadeira e me pus a revisar materiais de Filosofia e Sociologia. Afinal, ainda adolescente, sob a ignorância de um pai severo, estive nas lutas pelas Diretas Já, no Centro de São Paulo e não vou me dobrar a alguma opinião midiática, sem antes espernear um tanto. Um esperneamento intelectual, metafórico. O tempo ensina que a elegância é ingrediente da maturidade. Os sabidos no assunto dizem que o problema já nasce nos termos: direita e esquerda. De tudo o que li, ouvi, busquei, interpretei e compreendi cheguei à conclusão que o sangue quente do povo, aquecido pela pressão dos maus tratos e indignidades cotidianos, recorrentes desde o desembarque dos portugueses em nossas praias, criou apenas uma desculpa para transbordar em efervescência, altas temperaturas e gestos e palavras de baixo calão. Por causa disto: "Filho meu não vai pra rua". Poucos sabem o que dizem. Gritam, sem saber que concordam. "Me segura que eu vou falar". 55


Poucos parecem querer enxergar que no fundo, queremos a mesma coisa: condições de vida individual e familiar com mais dignidade - com acesso a itens básicos como moradia, saneamento básico, segurança pública, educação de qualidade, atendimento de saúde de qualidade. Direita e esquerda fazem, praticamente, os mesmos discursos. Em suma: queremos a mesma coisa! Divergimos sobre a estratégia. Mas ninguém fala de ideias e de estratégia. Gritam apenas. E é o que me leva a crer que nada mais se trata do que um vício. Perdemos o foco. O que nos ensinam os sabidos é que a esquerda acredita que apenas o Estado, com sua força e interferência nas relações econômicas, pode garantir que a população tenha condições de vida digna. A direita, ao contrário, acredita que a interferência do Estado cria uma instabilidade no mercado e redução das riquezas a distribuir e apenas retirando essa interferência seria possível alcançar condições de vida dignas para a maioria. Ocorre que as duas ideologias - esquerda e direita - podem se radicalizar. A extrema esquerda e a extrema direita são dois fracassos históricos. Pelos mesmos fatores: abuso de poder, privilégios e corrupção. Os barulhentos de esquerda e de direita repudiamnos solenemente. Outro ponto em comum vergonhosamente ignorado em prol da malcriação. 56


Os de direita, quando arguidos, autodenominam-se liberais, ou seja, contra o Estado inchado e imenso. Nada contra as políticas sociais, dizem, desde que não criem a sobrecarga tributária do equipamento produtivo. Creio que já é possível enxergar que temos muitos pontos em comum. Vemos apenas gritos. São como as brigas das torcidas organizadas. Expressão de paixões fúteis. Não esclarecem e nem educam o povo. Não colaboram para o país. Ora, que sentido tem romper relações de amizade, dos inocentes tempos da infância, quando temos tanto para unir forças e lutar lado a lado? Como ouvi um dia, pela calçada: "Nois num é elite. Nois num gosta de estudar." A questão aqui não é o estudo, mas brigar apenas pelo sabor de brigar. Oxe, menino... tá perdido? Já explica nosso irmão mineiro: volta um pouquin, dobre à direita e depois quebre à esquerda. É logo ali, apenas um cadin cadin de chão. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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NÃO É APENAS FUTEBOL (26/06/2018) A partida caminhava para o final e o placar permanecia inalterado. Junto à linha lateral, loucos para entrar no campo de jogo, os torcedores dos dois times faziam o possível para empurrar suas equipes. Não era a Vila Belmiro ou "La Bombonera", era algo muito pior. Se fosse uma arquibancada, as colunas estariam tremendo nesse momento. Se houvesse alambrados, os dedos estariam entrelaçados nos fios de aço, enquanto a boca entoava os cânticos. O chute foi para fora e a bola demorou uma eternidade para voltar ao campo. Era comum algo comum em jogos finais. O empate persistia e não agradava a nenhum dos dois times. As luzes tinham diminuído há pouco tempo atrás, mas nenhuma das equipes havia aceitado o fim do jogo. Aquela batalha teria fim ali, sob os olhos aguçados dos torcedores. Aquando a bola voltou, o zagueiro deu o primeiro passe para o lateral. Em jogos como esse a marcação é apertada. Homem a homem, como dizem os especialistas da TV. O lateral recebeu a marcação do atacante e tocou a bola no meio campo. O antes zagueiro agora era volante e partia para construir a jogada de ataque. O lateral passou rápido como um raio. Agora era ponta esquerda. Recebeu a bola e cruzou para o meia direita, o mesmo que havia começado a jogada. Do outro lado não era diferente. Atacantes, meias e volantes agora eram zagueiros empenhados na marcação. Quanta falta fazia ter um goleiro. O suor empapava as camisas e os pés doíam por causa do jogo longo. Mas não 58


poderiam desistir, nem que quisessem. O meia direita cruzou a bola rasteira. No meio do campo o centroavante desvencilhou-se da marcação. O zagueiro tentou puxar-lhe a camisa. Esqueceu-se que jogava contra o time dos sem camisa. O garoto bateu com a lateral d o pé descalço na bola murcha e ela rolou em direção ao gol vazio. O zagueiro tentou um carrinho, ralando a pele no asfalto, mas era tarde. A bola deslizou pelo chão negro e passou por entre as traves laterais, dois chinelos de dedo na cor azul. Foi uma explosão de felicidade. O atacante saltou e socou o ar. Correu em direção ao meia direita e o abraçou! − Campeão do mundo! gritou. É campeão! É campeão! Gritaram as torcidas de ambos os lados. Os perdedores trocaram olhares entristecidos e se cumprimentaram. No futebol no asfalto é sempre assim. Há dias em que se ganha, outros em que se perde, mas o importante é estar ali, jogando com raça e fazendo o seu melhor, cada dia em um time diferente. Não demorou muito e o troféu finalmente chegou e os olhos dos vencedores brilharam. A garrafa de refrigerante tinha aquela cor acinzentada e as gotículas se formavam ao redor. Estava deliciosamente gelada, era o que podiam perceber, antes mesmo de tocá-la. Após a premiação, sentaram-se todos na borda da calçada. Campeões e derrotados. Torcedores e árbitros. Os vencedores abriram a garrafa e tomaram os primeiros goles. Privilégios daqueles que vencem. Em seguida a garrafa passou de mão em mão, até que o troféu fosse consumido por completo. 59


Depois disso, como nos programas de TV começou a resenha, a mesa redonda. E nessa hora que alguns reclamam de faltas sofridas durante o campeonato, enquanto outros se vangloriam de uma jogada mais bonita. As discussões durariam a noite toda se, quando se aproximasse da hora do jantar, uma e outra mãe não viessem e ordenassem que cada jogador devia ir para casa tomar banho. No fim de semana seguinte um novo campeonato. Nas férias, um campeonato por dia. Porque não é apenas futebol, é uma maneira de viver. - por Júnior Salvador, Membro da AMOLIVROS.

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PAI, FIZ PARA VOCÊ (03/07/2018) - Pai, fiz para você. - Ah, obrigado. Mas, não é uma coisa que vou usar muito. - Tirei 10 no trabalho sobre a Inconfidência Mineira. - Mesmo? Mas sua professora viu os erros de português? - A professora de balé disse que minha postura está muito boa! - Mas sua tia disse que você está muito arrogante. Sempre com o nariz empinado. - A mãe da Ana disse que eu posso ir pra praia com eles, nas próximas férias. Ela disse que sou muito comportada. - É que ela não sabe o trabalho que você me dá todos os dias. - Passei no vestibular! - Mas a filha da Maria Helena passou em primeiro lugar. - O Joãozinho falou que eu era a moça mais bonita do aniversário! - Hum.... mas com essa cara pálida? Você devia passar um blush de vez em quando. - O Sr. Honorácio disse que eu datilografo muito bem. Disse que se eu me empenhar bastante, logo logo, posso receber uma promoção! - É, mesmo?... mas que coisa... o trabalhador brasileiro carece de qualificação... o que será deste país, meu Deus?! 61


Mas... mas.... mas... Quantos "mas" negativos! A vida precisa de equilíbrio. Que não é algo estático. É mais parecido com ritmo. E o ritmo se faz com pausa e tom, pausa e tom. Silêncios e som, silêncio e som. Dois passos para frente, um para trás. Todo mundo repete em coro: a vida precisa de equilíbrio! Mas muitos estão esquecendo que o equilíbrio da vida é muito mais parecido com as estações do ano: verão, outono, inverno, primavera. Ou com as fases da lua: Minguante, nova, crescente, cheia. O copo é o mesmo. Você pode dizer que esteja meio cheio. Pode dizer que esteja meio vazio. O copo continua sendo o mesmo. Pessoas bem-sucedidas são capazes de se auto motivar. Motivar-se é encontrar um "mas" que, em cada circunstância, aponte um motivo para continuar. Um "mas" que resgate o prumo e então... o ritmo da caminhada. - Trouxe um presente, não sei se será muito útil. - Mas só por você ter se lembrado de mim, eu agradeço. Fez-me muito bem! A vida precisa de motivação e de esperança. Em cada passo do caminho... para dar o próximo passo. Nem todo mundo está comprometido com toda a caminhada que terá que fazer em tua vida, com teu bemestar, quando lhe diz as palavras que diz. Apenas a amizade faz este compromisso. É preciso cuidar dos laços e ter cuidado com os nós. Se como diz a música: "Cada um sabe a dor e a delícia de 62


ser o que é", é urgente então... o aprendizado de ser teu próprio amigo e comprometer-se com esta caminhada de tua vida! Por isso... Quando o primeiro lampejo de maturidade lhe alcançar... comece a treinar a liberdade de escolha: comece escolhendo os próprios pensamentos e sobre quais palavras você vai meditar. Palavras que te enchem de bem-estar ou que te deixam doente. As palavras que meditamos fazem raízes em nosso coração e produzem frutos. E que os frutos também sejam palavras sementes de motivação. Quando os primeiros lampejos de maturidade lhe alcançarem... Lembre-se que a vida é como o copo é o mesmo, com duas realidades diferentes, contraditórias e paradoxais: meio cheio e meio vazio. É preciso equilíbrio e ritmo. Honra, misericórdia e sabedoria... tudo junto e misturado. . E a vida é vivida dia a dia. Todo dia. Um de cada vez. Sem pular nenhum. Se alguém tentar roubar tua fé: misericórdia. A cada vez que precisar escolher entre o silêncio e a palavra, entre a pausa e o passo: sabedoria. Se alguém lhe der a mão ao tropeçar: honra. É preciso fé, para continuar. Ingenuidade? Não... isto é concreto, real, empírico. É pensar em resultado e produtividade, é gestão de longo prazo. E em palavras contemporâneas: isto é ser sustentável! - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS. 63


O GRITO INEFÁVEL DA LIBERDADE (27/07/2018) Ah! O grito da liberdade! Quem o sabe melhor, senão o prisioneiro? Pudera eu, se o tivesse como o faria. Escreveria meu diário das dores sofridas dia após dia. Machado de Assis em um de seus escritos relatou que o melhor é ao final do dia jogar-lhe de lado e relaxar. Um verdadeiro descanso. Sinto-me sufocado, afinal, são horas e horas aqui, neste lugar horrendo, escuro, apertado. Sinto a angústia de querer sair, mas não falo como os seres humanos, por isso, me pego a metaforizar, como o faz o eu poético nos versos. Sinto a angústia do aperto, não sei o que dói mais, se são as artérias digitais ou os ramos dorsais, penso que sejam os nervos digitais plantares próprios, afinal, nervos são nervos e, neste caso, não há nervos de aço que suportem as mais de oito horas. Um desconforto e uma necessidade premente de liberdade. Ter a liberdade de sentir a brisa, aquele vento leve, suave, gostoso e o frio natural tocando, tocando a ... Que horas são? Este lugar não é para mim, pelo menos não desta forma estressante, tenebrosa, sinto-me maltratado. Difícil suportar. É um tal de vai pra lá, vem pra cá. Não para o dia inteiro. Não suporto mais. Todos os dias são assim, uma mera repetição de atos. Nasci preso, não tenho vontade própria, não tenho voz própria, senão voz propiciada pela figura de linguagem, ao menos isso. Tenho sobre minha responsabilidade aguentar todo este peso. Começa cedinho e nem ele e, nem ela, se dão conta da minha importância, a não ser que me percam. Sou parte integrante de um conjunto, um conjunto que 64


funciona, cada um desempenhando o seu papel e quando um deles falham lá vem complicação. Sou peça, somos peças que se harmonizam dentro de uma macroestrutura. Meu dia começa tenso e termino ainda mais tenso o meu dia sentindo-me sufocado, aprisionado. E aqui a história perde a graça aos que por meio de meias palavras já entenderam, a estes nada mais restando a dizer. Senão encaminhá-los ao final. Que horas são? Restam apenas alguns minutos para o término de um dia inteiro de trabalho. Na fábrica soa-se a sirene, nas empresas, apressam a passar a digital ou bater o cartão de ponto ou ainda uma simples despedida aos colegas e amigos restando a certeza de que amanhã começará tudo de novo. Eis aí! A angústia relatada na sua discrição daquele que por essência da origem é suportar o peso, um composto de músculos, ossos e nervos na completude de todas as suas camadas e regiões. Os pés! E para aqueles que não entenderam, vá lá, infeliz mortal! Veja se não o sabes que o propósito da filosofia de Epicuro era o estado caracterizado pela aponia. Por isso, dei vozes aos pés atormentados pela forte pressão que sofrem diariamente. A lamúria de quem só o faz pelo efeito das metáforas, enfim, as ricas figuras de linguagem que tornam a expressão humana mais acomodada digamos assim. E Joaquim Maria Machado de Assis retratou muito bem uma felicidade simples num excerto de Memórias Póstumas de Brás Cubas - Capítulo XXXVI: A propósito de botas: "E fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então 65


considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata." E parafraseando-o, nesta felicidade barata, o gesto barato e rápido que sucede a uma dor pungente de jogar de lado os sapatos após um longo e tenso dia de trabalho é inefável e incoercível momento de gozo. Resta-nos, porém, esta efusão perturbadora, o consolo de que tudo um dia pela desintegração completa dos átomos vai acabar. - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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ANDAR COM GRAÇA (07/08/2018) Atitudes de agradecimento parecem estar saindo de moda no mundo apressado de hoje. Por isso, penso, que nunca é demais dar uma pausa na correria cotidiana e refletir um pouco sobre um gesto delicadamente valioso e, muitas vezes, tão esquecido: GRATIDÃO! Gratidão vem do latim "gratia", que significa graça, ou gratus, que pode ser traduzido como agradável. Um reconhecimento amável pelo que se recebe ou lhe é concedido. É, na verdade, uma emoção que envolve um sentimento, sem implicações, obrigações ou comprometimentos. [1] O mundo atual, hedonista, egoísta, imediatista e materialista, tem uma ligação estreita com sentimentos de aborrecimentos, desgostos e desprazer. O cultivo e o exercício do hábito de agradecer tem a potencialidade de diminuir os vieses frios e calculistas dos relacionamentos, promovendo, assim, a redução dos abalos e influências negativos que deparamos a todo o momento. É uma dinâmica que tende a tornar a vida bem melhor. "É difícil ficar deprimido quando se é grato." [2] Todas as tradições religiosas ou espiritualistas valorizam a gratidão. A gratidão é um sentimento associado à felicidade. Ela é origem preciosa de sentimentos e impulsos humanos e humanitários. Sua prática eleva o nível dos hormônios do bem-estar e do prazer. Uma pílula de otimismo neste cenário sombrio em que subsistimos. A gratidão se aprende e evolui. Pessoas beneficiadas por algum favor ajudam mais e mostram mais gratidão ao 67


próximo, gerando um tipo de reciprocidade positiva. Promover situações em nosso dia-a-dia pelas quais podemos mostrar consideração e gratidão, mesmo diante de reveses e empecilhos, é um exercício de sabedoria e elevação. Do mesmo modo, procurar erros, defeitos ou deslizes, nos leva a notar cada vez mais falhas, mais problemas e mais dificuldades. Coloca-nos pra baixo. Agradecer sempre e por tudo o que nos acontece não quer dizer que bendizemos os erros e problemas que encontramos a todo o tempo. Significa que temos clareza suficiente para refletir, analisar e aprender com quaisquer tipos de circunstância. É sempre exequível evoluir com os erros que deparamos se mantivermos a mente aberta e disponível para o novo. É a Vida ensinando a viver. Portanto, na pressa, na agitação, no frenesi da faina diária, tome um tempo só pra si. Experimente momentos que lhes concedam a oportunidade de observar e reverenciar o que outras pessoas realizam por você, mesmo por força de quaisquer convenções. Deixe marcado em suas ações, palavras e gestos um toque de gratidão. Empregue como uso contínuo de seu comportamento e conduta um espaço para dizer "obrigado", "agradecido", "grato". Palavras pequenas, grávidas de sentimentos positivos, que podem provocar uma diferença em nossas vidas e uma revolução nas relações entre as pessoas. [1] Disponível em: https://www.antroposofy.com.br/wordpress/a-diferencaentre-obrigado-e-gratidao/ Acesso em: 13/05/2018. 68


[3] GRANT, Anthony & LEIGH, Alison. A ciência da felicidade - e como isso pode realmente funcionar para você. Editora Fundamento Educacional Ltda., São Paulo, SP, 2013. - por Reynaldo Mauá Junior, Membro da AMOLIVROS.

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TUDO JUNTO E MISTURADO (14/08/2018) Tudo junto e misturado - é assim que a emoção acontece o tempo todo. Não escrevo dessas coisas pór conta de algum direito,ou mesmo excelência que tenha de mim, de escola ou de vivência, para ensinar algo do assunto. Eia menino! Oxe... Né não! Pois se meu coração dói em cada batida, quem seria eu pra ensinar? Oxe... sei bem, menino. Como sei! Sem pretensão de ensinar, mas apenas de contar histórias, esvaziando o peito do que aperta e tira o ar quando o ar gelado chega antes do levantar do sol. Andando por estes caminhos, contando e ouvindo histórias e esvaziando o aperto da saudade e da lembrança. Conhecendo outros contadores, que falam em prosa e em rima, do jeito que se deve falar. E são muitos os contadores! E são muito bons esses contadores de histórias que andam por estes caminhos desta banda de cá. Tem Rita Lavoyer, Emília Goulart, Marianice Paupitz, José Hamilton Brito e tantos outros talentosos amigos. Ler e também de ouvir das coisas do coração, na voz dos seresteiros e dos tocadores de viola. Oxe, que privilégio! É o que tenho pra contar. E no perfume que o café faz, quando é maltratado pela água quente, os pensamentos da gente vão mais rápido do que os pés, por esses mesmos caminhos da vida. E eu penso cá comigo, enquanto dou um gole na 70


bebida fumegante: "quanta confusão, dor e devastação que se faz ainda nesse mundo, por conta do que se passa no coração da gente e essa gente em volta não sabe lidar. E tem gente que não sabe e a verdade é que tem quem nem queira saber! Coisas que todo mundo conhece, mas não encontram respeito, ou não dá de respeitar. Esse é o meu espanto, ó menino! Essas coisas do coração são coisas que todo mundo conhece, ou de viver ou de ouvir falar. Estão misturadas no dia a dia da vida que a gente leva ou da vida que leva a gente. Não dá de separar. Essa gente que não sabe e que diz: não é hora pra isso! E sentimento lá tem hora de ter, menino? Diz pra mim... E coração quando é desrespeitado, ixi... vou te contar assim: é terra devastada! No plantio sem cuidado na terra do coração, a colheita vem amarga ou a terra fica árida e não há como colher flor, em terreno assim. É triste ver quanta palavra amargurada que a gente ouve. De gente cheinha de dores, mas que a semente não brotou. Amargou e virou amargura. A amargura e o azedume das palavras vêm de sonhos que ficaram para trás. Uma dor que as palavras mostram, mas que não se sabe mais de quê! Frutos do plantio feito sem cuidado ou sabedoria. Sonhos que não deram frutos, ou não foram desfrutados e que amargurados temperam o sabor dessas palavras nos encontros e desencontros que a gente tem. Dá de perceber que os sonhos eram doces, mas o sabor mudou. 71


E além da amargura, tem ainda as palavras salgadas que a gente ouve também. Penso que estas sejam o pior que há de acontecer a um sonho. Palavras salgadas demais vêm de quem parece não saber de sonho e nem das coisas do coração. Parece nem querer saber! Mas o que teria acontecido ao sonho da pessoa? E não venha me dizer que não posso dizer do sonho de ninguém. Pois bem sei, que toda gente tem um sonho, menino...oxe... se tem! É a força do sonho que carrega a gente pela vida, menino... oxe... se é! O sabor das palavras tem a ver com o fruto dessa terra do coração. O plantio precisa cuidado e sabedoria de quem lida na terra e sabe que a vida tem estações. Cuidado para não deixar a semente apodrecer e ficar amarga. Secar e ficar salgada. Coisas assim, como sonhos, que não podem se tratadas de qualquer jeito. Eia, podem não! Dei de aprender dessas coisas parando pr'um converse por esses caminhos que faço. Mas palavra salgada demais, tenho cá pra mim, envenena a terra do coração dos outros. Que pena, ó menino! Porque a palavra salgada, que antes era sonho... agora vira solidão. E essa terra envenenada, ó menino, pelos sonhos que apodreceram, é terra que não vai dar frutos por gerações! Esse sonho não vivido, essa amargura, essas palavras salgadas e azedas afetam a geração seguinte e outra e talvez 72


outra... e pode se ver da dificuldade que essas crianças grandes tem de viver seu próprio sonho também. É um espanto que ainda não se cuide das próximas gerações. Ah menino, tem sabedoria! Cuida do sonho, cuida da fé! Põe esperança em cada passo. Lembra da sabedoria que tem nas estações da vida. Não esquece que as estações sempre passam e que o inverno sempre vem. Cuida, menino. Cuida que a saudade é tanta. Dói em cada batida do coração. Ainda existe uma brasa queimando daquele sonho. Aperta no peito ,como uma mão gelada, mais ainda que o ar gelado que entra pelas frestas da janela antes da luz da manhã. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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A MORTE (21/08/2018) Morte! Ó morte! Que cedo ou tarde venha, final da existência humana, pouco importando os seus sinônimos. Ao de cujus querem os vivos arrumar lá seus eufemismos. Nos velórios o que se ouve sempre é: ele descansou, foi para um lugar melhor... Palavras de consolo, apenas. Mas seja lá um passamento, óbito ou falecimento, no fundo no fundo todos querem seu adiamento a não ser que o muito sofrimento, peça-lhe um adiantamento sem troco nem pagamento. Vida e morte caminham lado a lado. Dentro da magnitude do processo da existência humana existe apenas uma linha tênue entre ambos. Primeiro a vida, segundo a morte. Surge, evolui, dá seus ares de graça, segue seu curso natural. Já o envelhecer é sorver-se da morte a passos lentos. Esta ordem natural intrínseca haveria como mudá-la? Talvez, não. Em se pensar nela, por si só coisa boa pode não ser, pois bate aquele estranho sentimento. Não nos importa como: morte é morte. Ausência de vida. A carne passa com suas vaidades. Tudo é passível de morte. Os homens, as plantas, os rios, os animais, os sentimentos, os sonhos, tudo está passível. Princípio e fim. Pouco importando se abstrato ou concreto. Quantas consciências vencidas pelo espírito da morte? Encontram-nas em meio ao caos. Em vida enterramse vencidas pela balbúrdia, pela imoralidade, pelos convites enganosos conduzindo-se ao cativeiro. Enfim, morte. Silenciosa. Pouco a pouco. Morte é o passaporte carimbado da partida. É o veneno que não queremos tomar. Passagem pro além, 74


processo irreversível, tal como a chegada. Alguns, são cartas marcadas. Há uma sina quer na chegada quanto na saída. Assim que chegam dão seu último suspiro. Derradeira partida. Pronto lá está sua partida anotada em seu prontuário. Por demais triste. Tão cedo, as razões extrassensoriais, ninguém sabe ao certo. Morte é o rebento para a eternidade. Ela nem sempre representa o fechamento, mas às vezes a possibilidade de recomeçar, como por exemplo: a falência de uma empresa ou o término de um namoro. Intercorrências espontâneas da vida. A morte nem sempre representa o fim. É preciso celebrá-la como uma passagem. Veja a vida eterna. Não têla-ia quem não, desgarrar-se da matéria corporal. Um novo começo. A semente precisa morrer para que a planta surja. O enterro de um casamento pode ser a oportunidade de algo especial até então nunca vivenciado. É o novo surgindo onde não havia esperança de luz. Ou ainda a perda de um emprego impulsionando a um salto qualitativo e quantitativo, o sucesso. Em meio a desgraça da morte, às vezes, é possível ganhar. Vede lá as sedentas funerárias. A morte lhes é lucro certo. Se alimentam dos corpos cadavéricos. Enquanto alguém ganha, alguém perde. A herança não se achega ao vivo enquanto não houver uma partida. Ainda que se seja um cético, entre as muitas dúvidas, a única certeza: o dia da partida poderá tardar, mas há de chegar. Morte é mais que uma simples encrenca à máquina humana. Põe fim aos sonhos, produz estranhamentos, conduz ao ostracismo em vida. Morte é mais que um alistamento esperado. E querendo ou não todos estão previamente escalados e quando menos se espera cada um há de assumir sua 75


titularidade. E entre as oitenta e oito constelações, nesse imenso universo, é possível um dia tornar-se uma estrela? Há esperanças de vida não se sabe como, nem onde, do outro lado da vida, se da carne a morte terrena finda. Aguardemos, então até o porvir. - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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QUERO MINHA MÃE (28/08/2018) E por falar em respeito... Onde anda o "mas"? Onde anda a gente separado, sem falar nada de solidão? Por onde andam, para onde foram, onde se perderam, por que fugiram - ou será que não? - os "s" e os "r" bem pronunciados? Os "positivinhos" não querem se fale do passado e será que é por causa disto que tiraram o HÁ de lá? Criando a absurda necessidade do paradoxo. O faz e o existir conjugando o tempo com toda a força transcendental em conjugações agressivamente incorretas. Qual mentor do mal transformou a crase em unidade de uso aleatório? Soldado perdido em frases apontando sempre a baioneta para o lado errado. Ah! Que falta estão fazendo o de repente, por enquanto e até o ser humano: os vocábulos perfeitos em suas solitudes (palavra estrangeira, uso ainda permitido em nossa linguagem - ou será que não? Será que aboliram as figuras de linguagem juntamente com a boa educação?). Quem deu autorização ao mim para conjugar verbo e não me comunicou? - Ora, ora... Mas se é de comunicação que estamos falando... Não é mesmo? A pergunta fica retórica neste contexto. Quem roubou, tomou, escondeu. Que brincadeira essa de tanto mau gosto, seu moço! Devolve, se for possível. Nem precisa se identificar. Onde estão as belas conjugações verbais, precisas, de nossa linguagem rica em declinações herdadas da mãe latina? Nem falo das pessoas que já são passado, ultrapassadas no trato familiar como o tu e o vós... Falo do nós. Devolve-nos! E deixemos por isto. Hipérboles demais. Precisamos das mesóclises para 77


enrolar a língua. De que nos adianta falar de respeito aos idosos, se ao final, largamos ao ostracismo esta velha senhora tão respeitável? Deixamo-la morrer solitariamente esquecida. Ora menino... Tanto se fala em bulling e o que se está fazendo contra toda esta violência? Onde está o pessoal dos "Direitos Humanos" para defender a boa e honesta comunicação? Onde estão os nacionalistas para defender a linguagem nacional, que é um dos símbolos da pátria? Onde estão os defensores da democracia para defender o bom uso da linguagem para todos? Onde estão os assistentes sociais para propor projetos de saneamento básico na língua que é porta-voz necessária da justiça? Onde estão os meritocratas para resgatar a valorização do bom aprendizado? Onde estão os sacerdotes para excomungar estes pecados? Onde estão os politicamente corretos para protestar contra a violência contra nossa língua mãe? Onde estão os que lutam contra o preconceito para instituir a boa comunicação com todos e lutar para se manter a unidade? Onde estão os que defendem os símbolos culturais para não deixar extinguir nossa Língua oficial? Menino... Ora, mas que vergonha. Abaixa este cartaz que pede educação de qualidade! Sai da rua, tira essa tinta da cara, lava esse cabelo. Sai de fininho e vai pra casa. Entra no quarto, desliga o celular. Põe a bunda em uma cadeira e abre um livro. Menino... Faz isso, não. Estou aqui, passada. Passada, pisada, espremida, constrangida de lhe dizer... Diminui esse barulho. "Tu não tá podendo, não". Põe o rabo entre as pernas. Arregaça as mangas. Não depende de governo, nem de verba, nem de mudança no cenário político econômico. Depende só de coerência. De dar ao tempo de aulas, atenção. Ao tempo de fazer as tarefas, esforço. 78


Nem só de por favor e com licença vive o respeito. Falar uma língua corretamente é questão de respeito, também. Por falar em palavrinhas mágicas... Quem foi que disse para as mulheres que falar obrigada seria elitismo? Larga mão de ouvir estas bobagens que essa gente que se diz de esquerda fala por aí... Repetir essas bobagens é só mais um sinal da falta de estudo. De não saber diferenciar tomada de focinho de porco. Mulheres dizem obrigada. Não porque seja a "melhor" forma. Não existe opção! É a única forma de mulheres dizerem. Internet é local público. Usa o Google antes de publicar, faça-me o favor! Antes de publicar diante de centenas de contatos. Antes de gravar em um cartão de visitas, em uma faixa, em uma placa. Quem foi que roubou a ambição, os sonhos e a autoestima desse povo, desta geração? Que fica constrangida de falar e escrever certo. De procurar saber. De procurar ser uma pessoa melhor. Quem foi que convenceu nosso povo a se conformar com o pouco, com o mau feito, com o desleixado e a não usar as ferramentas, que hoje estão ao alcance de um clique de toda a população? Quem foi este vilão que distorceu os valores a este ponto e que deixa o povo constrangido, chamando tudo de elitismo e de segregação? Que deixa o povo se contentando com pouco, com as mãos amarradas embora soltas sobre a tecla do celular? Quem está fantasiando as maravilhas da tecnologia para deixar o povo cego para ver que ele sozinho pode e não depende de ninguém? Quem está fazendo tanto barulho com radicalismos para deixar o povo surdo para ouvir o suave sussurrar do que seja realmente respeito e que é uma atitude unicamente pessoal e que não depende de outros? 79


Chamem os detetives, os exércitos. Porque é violento o que se vê. Chamem os pais, os avós, os guardiões. As crianças estão em perigo. Chamem os juristas e os diplomatas, que ponho minhas apostas que o que está se vendo acontecer é ilegal. Chamem os agentes de saúde pública. Os agentes de segurança nacional. Que isto tem cheiro de complô para derrubar a soberania do país. Chamem o padre, o bispo e o pastor. Expurgue-se este espirito do mal que está se infiltrando nas famílias brasileiras, no espírito de cada cidadão, como fumaça entra pelas frestas da janela, iludindo, convencendo e destruindo e deixando todos dormentes e aceitando cada vez pior, cada vez pior. Quando bastava um ato individual. De cada um. E de um em um, de muitos, de todos. Silencioso como a vergonha na cara. Modesto como o respeito. De procurar saber. E depois de saber, a ousadia de colocar em prática. A humildade de aprender. E de falar e escrever. Salve, salve, nossa Língua Nacional. Eu quero minha mãe! - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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TODO DIA: SUBA PARA RESPIRAR (04/09/2018) Não esquece... ó menino. Todo dia, recomece. Volte para respirar. Volte pra vida, todo dia. Dia a dia. Um dia de cada vez. Sem pular nenhum! Menino... se eu pudesse te falar... As palavras me faltam. Não consigo me expressar! Seja o que for, que aconteça... lembra de teu avô e da lição, que ele deixou. Ainda, que as águas te cubram... Põe o pé no fundo. Firma naquilo de bom, que a vida te ensinou. Pega impulso naquilo de bom, que a vida tem pra ensinar. Todo dia, menino... pega impulso, todo dia volte pra respirar! Tenha fé. Acredita no sonho, acredita no afeto. Planta semente do bem! Dia a dia. Um dia de cada vez. Sem pular nenhum. Viva todo dia. Sem pular nenhum. Ao final do dia... faz como teu avô fazia... se ajoelhe aos pés da cama. Se ajoelhe aos pés da cruz. Seja como for o teu dia a dia. Seja qual a dor. Todo dia, aos pés da cruz. Volte todo dia pra vida. Ainda que as águas te cubram. Pegue impulso no fundo. Volte a respirar... todo dia. Acredita no sonho. Viva os afetos. Cuida dos laços e tem cuidado com os nós. Todo dia: recomece! Nunca esquece, meu menino... Apesar de tanto e apesar de tantos. É por causa da esperança, apesar de tanta saudade. Todo dia é dia de recomeçar. Menino... vou te contar: a vida cobre a gente com essas águas. Cobre até você pensar que vai perder o fôlego. E a gente até pensa. E tem quem até se afogue. E eu? Eu encontro o fundo. Lá no fundo onde está a 81


saudade e também está o sonho... está todo esse afeto de meu pai... apesar de um tanto... apesar de tantos. Ali eu pego impulso e volto pra respirar. Meu pai me deixou isso assim: - A certeza de que um sonho vale a pena. - A certeza de que a generosidade tem que ser espontânea. - A certeza de que a gente tem a responsabilidade de deixar esse mundo um pouco melhor. - A certeza de que a gente precisa de um sonho e precisa lutar pelo sonho que a gente tem. - A certeza de que a vida precisa de alegria. - A certeza de que o amor precisa ser expressado. - A certeza de que a vida precisa de afetos e precisa de amigos. - A certeza de que a vida precisa de música. De música que emocione a gente. - A certeza de que a vida não é pra "bonito". Que as coisas da vida são pra serem usadas, são pra fazer a gente feliz. - Certeza de que a vida tem que ser alegre e que azedume... envenena e enlouquece a gente. Meu pai me deixou a certeza de que a vida precisa de fé. É menino... ele foi um homem de contradição e você nem imagina o quanto! A este respeito... São muitas histórias pra contar! Mas se não fosse por ele, eu não saberia o que é afeto, o que é a alegria dividida, o que é alguém olhar pra mim com olhar de orgulho, o que é me sujar só por brincadeira, o que é me doar quando nem poderia. Se não fosse por ele, ó menino... eu nem saberia o que é a fé. Hoje eu ando por esses caminhos, por onde andou meu pai... são tantas histórias que ouço. São tantas histórias 82


pra contar. Esses caminhos, que tem cheiro de mato. Que tem jeito de mato. E assim, eu vou recolhendo meus pedacinhos de pão. Como João e Maria fazendo o caminho de volta pra casa! Por esses caminhos, dessa quente de sol quente, mas que faz muito frio também. Essa terra de gente, que também tem o sangue quente, como meu pai tinha. Ah menino... quando ele se foi deixou tanto vazio, mas foi um vazio, que fez tanto barulho... Ah, se eu pudesse te contar! E apesar disso tudo... de tanta contradição... hoje tem muita saudade. E hoje, quando as águas me cobrem e eu chego lá no fundo... Pego impulso pra respirar. Por causa da fé. Por causa do sonho. Por causa dos afetos. Eu volto pra respirar. Um dia de cada vez. Todo dia. Sem pular nenhum. Eia saudade... - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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O PEQUENO PRÍNCIPE (18/09/2018) Há um bom tempo atrás, tínhamos um grupo de jovens, garotos e garotas, que se reuniam quase sempre aos fins de semana para conversar, ouvir música e, algumas vezes, paquerar. Era, sem dúvida, uma época de inocência e descobertas. O mundo ainda respirava os ares despoluídos e os ventos traziam a força da juventude para uma sociedade em transição. Neste clima de "paz e amor", ganhei de uma amiga o livro Pequeno Príncipe. Com um apelo inicial de literatura infantil, transbordava dele um conteúdo filosófico e poético que marcaria toda uma geração e continua contribuindo para a compreensão de assuntos tão importantes para a vida das pessoas, como: amor, amizade, solidão, consideração, perda, entre outros, a partir da relação de um pequeno príncipe que caiu na Terra e habitava um asteroide, o B-612. Publicado em 1943 nos Estados Unidos, o autor, um francês chamado Antoine de Sanit-Exupéry, discorre sobre as relações entre ser criança e ser gente grande, com uma suavidade e propriedade que inspira e instiga seus leitores a permanecer com o texto na mente, mesmo muito tempo passado de sua leitura. Tornou-se um dos livros mais lidos da história da literatura mundial. Foi traduzido para mais de 200 idiomas, transformado em filmes, desenhos e peças teatrais em várias partes do planeta. Com mensagens iluminadas pela simplicidade e profundidade das coisas simples, deixa na memória de que lê a obra, um sabor de pureza e candura, como, por 84


exemplo, uma conversa da Raposa com o Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos. Só se pode ver com o coração". Outra declaração da Raposa, demonstrando ao pequeno que existe carinho e antecipação quando se tem um encontro com quem gostamos e consideramos, pode nos fazer, mesmo nos dias de hoje, comportarmo-nos de forma mais afável com aqueles que esperamos ver em breve: "Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz". Apresentei a introdução acima para justificar uma situação que aconteceu comigo há poucos dias. Como parte de uma atividade de leitura, presenteei ao meu neto, João Gabriel, que agora está com treze anos, o livro do Pequeno Príncipe, recordando o quanto ele foi significativo na minha bagagem de jovem leitor. Para minha surpresa, a análise que ele fez de sua leitura me deixou bastante animado e esperançoso com o desenlace de um panorama promissor para seu gosto de ler. Ele, simplesmente, me disse: "Vô, foi o melhor livro que já li na vida !!!". Então, com o coração cheio de gratidão e esperança pensei, é o Pequeno Príncipe continuando a agir na relação entre as pessoas, os livros e o conhecimento. Ainda que sua leitura seja leve e suave, seu alcance continua profundo e intenso. Aí, me lembrei de que "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". O livro fez sua parte e eu estou tentando fazer a minha. - por Reynaldo Mauá Júnior, Membro da AMOLIVROS. 85


RECONHECIMENTO LITERÁRIO (25/09/2018) Tendo terminado de reler o livro "Arte da Felicidade", do Dali Lama - Prêmio Nobel da Paz, repentinamente, veio-me à lembrança de que nunca na história um brasileiro conquistou a tão grandiosa honraria deste prêmio. Os latino-americanos agraciados no gênero literatura foram: Grabriela Mistral em 1945 e Pablo Neruda, em 1971, ambos do Chile; Miguel Angel Asturias, em 1967, da Guatemala; Gabriel Garcia Marques, em 1982, da Colombia; Octavio Paz, em 1990, do México e Maria Vargas Liosa, em 2010, do Peru. Na minha humilde observação, o Prêmio Nobel de Literatura é o ápice do reconhecimento aos melhores literatos e quero acreditar que todos os ilustres ganhadores tenham sido, efetivamente, merecedores de tão profunda honraria pelos seus feitos históricos. Entretanto, muito me intriga saber também, principalmente, que nenhum brasileiro figura entre os dez maiores escritores de todos os tempos. Não consigo entender, em minhas ponderações, o motivo pelo qual um intelectual brasileiro possuidor de tão vasta e bela obra como Machado de Assis, entre outros, cuja literalidade e poéticas tão exuberantes que transcendem, não se enquadram entre os maiores escritores da humanidade. Em conversa recente sobre isso como um amigo, este me fez lembrar que, em muitos concursos podem ocorrer injustiças, e asseverou-me de que a dificuldade dos 86


brasileiros em conseguir tal projeção internacional é pelo fato de pertencermos a um país de Língua Portuguesa, pois trata-se de uma Língua não muito falada no mundo e que, excetuando-se Portugal, os demais países que a utilizam são subdesenvolvidos. Pode ser - pensei comigo -, mas ao lembrar-me de nomes como o próprio Machado de Assis, Raquel de Queirós, Olavo Bilac, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Hilda Hiltz, João Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, entre tantos outros escritores brasileiros do mais alto nível de intelectualidade fico com a certeza de que o essencial, e isso sim é o que fica, se eterniza e nos exempla, é que o escritor ou suas obras possam ser úteis em nossas vidas e, fundamentalmente, na formação intelectual e inspiração dos nossos jovens para que possam construir um mundo progressista, fraterno e solidário, mas, sobretudo, um mundo imortal. - por Antenor Rosalino, Membro da AMOLIVROS.

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CIDADANIA (02/10/2018) Há pessoas cujas ações tornam-se memoráveis e por isso são especiais por aquilo que fazem em seu meio social. A pessoa exercente é aquela que se mobiliza, principalmente, em favor de outros. Tal atitude confere a ela algo de especial. O cidadão protagonista é elemento fundamental dentro de uma sociedade. O exercício de cidadania surge a princípio dentro de nossa casa e vai tornando-se extensivo com simples atitudes como: varrer a calçada, fazer a devida lacração do lixo, não deixar cachorros soltos na rua, não cortar árvores boas sem nenhum critério, não esbanjar água, não esbanjar energia elétrica, não jogar lixo na rua, não quebrar placas de sinalização, não quebrar vidros na rua, não fazer pichações, não destruir patrimônio público; conservar a escola pública, cuidar de uma praça abandonada da qual a prefeitura não está em condições de fazer, providenciar uma sinalização a fim de evitar acidentes de veículos que passam pela via, participar de mutirões como o combate contra a dengue, etc.; são ações em que o fazer encontra-se em poder de todos, a saber: do mais novo ao mais velho, do mais pobre ao mais rico, do menor ao maior. Ações positivas provocadas pelo cidadão são sempre bem-vindas, válidas e de extrema importância, uma vez que traz mudança significativa no cenário de uma comunidade, cidade ou um país. Como foi o caso do fim do nepotismo ocorrido por intermédio duma pressão e ação de iniciativa popular. Dentro de um Estado de Direito, o princípio democrático enuncia que cidadania é o gozo dos direitos 88


civis e políticos onde devemos desempenhar nossos deveres. A cidadania é constituída através de cada indivíduo. São pessoas conscientes de seu papel individual e social que contribuem automaticamente. Dezenas de milhares estão assim fazendo a sua parte no anonimato. Lucramos se cada cidadão brasileiro fizer a sua parte com eficiência. Agora que este ou aquele cidadão exercente é portador de um diferencial, ah!, é, sim! Um princípio basilar para o exercício de muitos direitos é o conhecimento. Este ser exercente, a saber: o cidadão consciente, diferencia-se do cidadão letárgico, alguns com uma letargia lúcida, pois aquele sabe situar os interesses de um todo acima de seus interesses pessoais, mesquinhos. Contudo, participar, mobilizar e controlar são formas de exercício da cidadania e qualquer pessoa poderá fazê-lo dentro de seu espaço geográfico. Em um aspecto mais amplo que o de ter título de eleitor e ser brasileiro nato ou naturalizado apenas, ser cidadão é estar comprometido, é estar cônscio dos deveres e obrigações. É, sobretudo, não deixar de protagonizar em seu meio social. Pessoas de espírito aguerrido, dotadas de nobreza de espírito são mobilizadas dentro de seu próprio íntimo e impelidas a transformar o ambiente em que vivem. Ao contrário das passivas, com espírito lânguido. Pessoas mobilizadas fazem a coisa acontecer, concorrem com interesses da comunidade, agregam pessoas a uma causa coletiva, cobram ações do Poder Executivo a fim de que haja melhorias que somatizam as expectativas de todos. Enfim, só se alcança o melhor quando as mangas são arregaçadas e as obrigações não são negligenciados. Fazer vistas grossas e empurrar para o outro nunca foi condizente 89


com o ato de cidadania, mas sim um acovardamento. Levantemos e façamos ainda que seja o mínimo dentro de nosso universo, mas façamos, assim, ganharemos todos e construiremos paulatinamente uma nação mais justa, igualitária e fraterna. E o maior legado que podemos deixar é a educação de pessoas bem ajustadas e exercentes da cidadania. Libertar-se das amarras da inércia é preciso. Seja cidadão de fato e não apenas de direito! Eia, vamos, avancemos! Deixo aqui como sugestão o livro: Basta de cidadania obscena, Mário Sérgio Portella e Marcelo Tas. - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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O CARÁTER DOS JOVENS (09/10/2018) Muitas vezes, em várias palestras que articulei, lia um texto para a plateia, composta quase exclusivamente de educadores e educadoras, e discorria brevemente sobre esse pequeno fragmento de uma obra, sem dizer exatamente quem fora seu autor ou, mesmo, em que período da história teria sido escrito. Entretanto, os questionamentos levantados a partir dessa leitura, e o propósito educacional presente naquela reunião, permitia que os profissionais presentes fizessem variadas interpretações sobre o conteúdo do escrito. Na maioria das vezes, os agraciados com a autoria do conteúdo transitavam entre os autores educacionais mais atuais, com maior influência entre os professores e professoras da plateia, concordante com as ideias mais inseridas e comentadas nos círculos educacionais e, também, entre os textos mais conhecidos e exigidos nos programas de estudo e atualização dos mestres. Depois de deixar os participantes alçarem voos livres com o conhecimento e as próprias experiências sobre as questões provocadas, nomeava o autor e, com ele, o tempo em que tal texto fora escrito. Era sempre uma surpresa geral. Como um conteúdo tão atualizado, tão facilmente reconhecido, tão preciso em seu alcance, podia estar, na sua criação, tão distante de nosso tempo? A conclusão do exposto, vou deixar, como fazia naquelas ocasiões, para cada um de vocês leitores. Existem, sim, muitas interpretações, em várias áreas do 91


conhecimento para a questão. Portanto, não se acanhe de produzir a tua. Pense, analise, reflita e tire as tuas conclusões. O pequeno escrito, que disponibilizo a seguir, é de Aristóteles e foi elaborado, aproximadamente, por volta de 350 a.C. Veja sua atualidade e imagine porque ainda continua atual. Assim se apresentavam os jovens, para Aristóteles: a) são propensos aos desejos passionais e inclinados a fazer o que desejam; b) são impulsivos, irritadiços e deixam-se arrastar pela ira, por causa da sua fogosidade não suportam que os desprezem; c) não têm mau, mas bom caráter, porque ainda não viram muitas maldades; d) são otimistas porque, tal como os bêbados, também os jovens sentem calor, por efeito natural, e porque ainda não sofreram muitas decepções; e) a maior parte dos jovens vive da esperança, porque a esperança concerne ao futuro; f) para a juventude, o futuro é longo e o passado é curto; no começo da vida nada há a recordar, tudo há a esperar; g) são fáceis de enganar (é que facilmente o esperam); h) são mais corajosos pois são impulsivos (qualidade que os faz ignorar o medo) e otimistas (o que lhes inspira confiança); i) são envergonhados (não conhecem ainda que haja outras coisas belas, pois só foram educados segundo as convenções); 92


j) são magnânimos porque ainda não foram feridos na vida e são inexperientes na necessidade. * Qual é a tua hipótese? * [GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.] - por Reynaldo Mauá Júnior, Membro da AMOLIVROS.

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QUALIDADE DE VIDA (23/10/2018) Muitas transformações ocorreram com o passar dos tempos. Excesso de informações, muito estresse, muita correria, cobranças por todo lado, preocupações, relacionamentos comprometidos, família fragmentada e, uma vez que estamos vivos, sempre haverá dias de ocorrência de fatos negativos que produzirão impacto de âmbito direto ou indireto. Porém, a forma como você lida com situações adversas pode repercutir sobremodo em sua trajetória. É preciso adotar um estilo de vida que promova sua saúde e consequentemente o seu bem-estar e, para tal, que haja uma percepção aguçada do que se quer, além de planejamento; ambos fundamentais para quem deseja ter qualidade de vida. Independentemente de qualquer fator corrente sua família não pode ser ignorada, mesmo que a distância os separe e para isso inventaram as redes sociais, canais de comunicação, mas nada substitui o toque, o abraço, o beijo, a presença em si. Aquele tempinho com a família reunida ao redor da mesa ainda existe? A palavra de ordem é: mude o que for necessário mudar, pois qualidade de vida não é um requisito somenos em nossas vidas. Aspire a qualidade sem comprometer suas atividades laborais, cuide não só do seu físico, mas também do psicológico, as pessoas, às vezes, ignoram os cuidados com a mente. Faça atividades que ajude a liberar o estresse do cotidiano. Desde uma simples caminhada até um esporte que lhe agrade. O dinheiro é parte, porém, não é tudo, assume certa importância, auxilia em certos aspectos, mas 94


é preciso saber viver, saber viver, como poeticamente cantaram. Há quem opte por destruir sua própria saúde por mera liberalidade. Práticas como fumar, beber e se drogar, por exemplo, não figuram na lista de um comportamento saudável, afinal é bom que se saiba que a bebida alcoólica, o cigarro e as drogas ilícitas não possuem nenhuma substância necessária ao bom funcionamento dos órgãos. Se você faz um mau uso de seu livre-arbítrio, está sendo competente o bastante para cavar o próprio buraco. Escolher a direção equivocada é sempre um agravante. Entretanto, as pessoas só podem ajudá-lo à medida que você decide ser ajudado. Gaste um tempo de qualidade com as pessoas que o amam. Valorizar sua saúde, seu bem-estar é extremamente importante. Fuja de práticas inadequadas a mente e ao seu corpo. Crie o senso de respeitar a si mesmo. Examine-se! Faça uma introspecção e corrija o que não está bem em sua vida. Sempre há uma solução mais viável. Busque alguém suficientemente maduro e preparado para te ajudar na questão que o acossa. Ser disciplinado é sinal de equilíbrio. Suas percepções determinam seu sistema de cultura e valores. Logo, seu interior precisa estar de bem com a vida. Desassocie qualidade de vida com padrão financeiro. Você pode tê-la mesmo tendo pouco. Preserve sua autoestima. Estimule-se em busca do que irá corroborar com seu bemestar. A realização ocorre a partir da sua iniciativa. Dentre tantos fatores não negligencie uma boa dose de sono. O sono permite a "máquina" descansar e "carregar a bateria" nos renovando a cada amanhecer. Busque o lazer, mesmo que seja sentar no banco de uma praça e sentir o 95


frescor da brisa tocar seus cabelos. Atenda demandas importantes sem deixar de viver. Mantenha uma boa alimentação. Faça o que é da sua alçada de modo responsável. A vida é como um jogo, quem não joga fica atrofiado, deslocado, perdido. Trace suas próprias metas, crie as próprias expectativas. Gere ganhos a sua saúde. A melhor condução da sua vida é aquela que você sabe aonde quer chegar. Molde-se e mexa-se! Seja produtivo para que você mesmo ao olhar para trás se dê por satisfeito! E por fim, faça o que te faz bem, respeitando-se o lugar do outro! - por Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Membro da AMOLIVROS.

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PASSO A PASSO (30/10/2018) Quantas histórias tenho tido pra contar, desde que cheguei na terra do boi gordo, que também é terra de muito sol. Eu, que vim de terra de muito frio, ando por estes caminhos, passo a passo, encontrando muita gente de sangue quente, graças a Deus. E nas histórias, que a gente dá de contar e de também, ouvir... sigo contando por aí, entre o passo, a pausa, a prosa e o café, como é que dá de ser este caminho, que tenho feito passo a passo, que é um caminho de volta, deste jeito assim. E tem quem não ache senso nisso: "Menina essa, que anda pra frente e que insiste que faz o caminho de volta!" Sigo assim, contando como foi que só sobraram 7 malas de uma vida, como só sobrou saudade, oxe... Tamanha saudade essa, que sobrou! Se eu pudesse te contar, ó menino... quanta saudade, que ficou! Sigo passo a passo. Vivendo a vida assim, dia a dia. Todo dia. Que outra maneira, nem dá de ser. E se hoje ando devagar, ó menino: "é porque já tive pressa". Hoje, ando devagar e eu te digo: outra maneira, nem dá de ser! Já enfrentei tanto frio, e hoje, graças a Deus, ando debaixo deste sol forte, todo dia, sem pular nenhum! E é nestes caminhos, que Deus tem me dado oportunidade de amarrar alguns pontos, que ficaram pra trás. É como tem sido. Não é falta de senso... é como a 97


vida deu de ser. É oportunidade: de encontrar pontas soltas, de alinhavar meus retalhos, fortalecer laços, ficar inteira. Tem quem pergunte: quem é essa Larissa Alves? Sou filha de Jorge Alves. Jorge Alves, meu pai, nascido e criado por estas bandas, era o filho de Benedito Alves, irmão do Seo Juca, marido da d. Chica, ali do bairro São Joaquim. Era um menino engraxate, que nunca foi de muito bom senso, carecia um tanto de juízo e depois do atraso pra estudar, trabalhou na farmácia Princesa e porque lhe faltou juízo, saiu de Araçatuba, pelo ano de 1960 e foi lá para o sul, estudar pra ser médico... e com nenhum dinheiro e pouco senso que tinha, foi assim, que foi. O menino que foi engraxate não tinha juízo, saiu de Araçatuba, foi enfrentar tempos frios lá do sul e virou doutor. Meu pai chegou em Curitiba e lutou tanta luta! Sentiu o frio daquela cidade estranha, descobriu a cidade aos poucos, foi fazendo raiz aos poucos, entrou na UFPR, fez Medicina, formou-se doutor, fez família, ficou por lá. E desse jeito, assim, que é este mundo em que a gente vive... nessas voltas, que essa nossa vida dá... nas escorregadas, nas curvas fechadas... o que aconteceu foi que hoje, estou aqui, de volta de onde ele saiu. Vim buscar calor. E o que encontrei foi esperança. Hoje, ando por estes caminhos, passo a passo, e enquanto ando pra frente, vou amarrando pontas soltas, que ficaram pra trás. Hoje, debaixo do sol forte, existe um tanto de esperança. Todo dia é dia de graças. Graças a Deus, pelo céu azul. Graças a Deus, por este 98


sol forte, pelos caminhos pra pisar passo a passo, no chão de terra, pisando firme, deixando o chão batido e os problemas pra trás. Graças pela paisagem desta terra, cheia de cor e perfumes e graças pelas primaveras, das casas de gente de sangue quente, que abre a porta, pra eu entrar... abre a porta, serve o café. Abre a porta da casa, que tem primaveras no jardim da frente e a porta do coração, graças a Deus. E a saudade? A saudade, também, é dia a dia. Oxe, se é! Todo dia, pr'eu te contar. Dia a dia, sigo por estes caminhos, passo a passo com esperança, por causa da fé e do calor das amizades, apesar de tanta saudade, dia a dia, todo dia, sigo assim: sem pular nenhum, graças a Deus. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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O CROCHÊ DA D. MARIA (06/11/2018) Em dia que a saudade é demais, fico olhando pela janela o céu azul dessa cidade e a falta de vento, que parece não deixar o relógio andar. Em dias assim, é bom de por a massa de pão pra crescer e a mesa prum café. Em dias de muita saudade é dessas coisas prosaicas que a gente precisa. Precisa chamar a comadre pruma prosa e por a mesa pro café. Pegar lá do fundo da gaveta a toalha de crochê, que D. Maria fez pro meu enxoval e que ainda restou, lá no fundo da gaveta. D. Maria, minha avó, fazia crochê como ninguém. Filha de Portugueses tinha o sotaque de Florianópolis misturado com o da região de Itajaí. D. Maria fazia crochê e fazia bolinho de banana pro café da visita... sempre fazia . E eu vou te dizer que a verdade é que ninguém nunca mais fez o bolinho assim, do jeito que D. Maria fazia. E tinha as bolachas de Natal decoradas de suspiro... Latas imensas.. cheinhas, que eram abertas apenas no dia da ceia... era a festa da "netaiada"... oxe... e isso também, ninguém mais fez. D. Maria se foi aos 96 anos e ninguém mais fez as coisas que ela fazia. E ninguém também fez o croché do jeito que ela sabia fazer. É a tristeza que a gente dá de ter, nessa altura da vida... quando percebe tanta coisa que já não se encontra 100


mais por aí... é a tristeza de não encontrar mais tanta coisa... tristeza de ver esses desencontros. O que aconteceu é que a diabetes levou D. Maria aos 96 anos. E foi a pressão alta também. Foi assim que foi. Foi um tanto assim. Enquanto viveu, D. Maria lutou com a pressão alta. D. Maria também lutou pelos filhos e lutou pra que todos os filhos ficassem casados apesar de tanto... foi assim.. . sem tanto final feliz... os filhos da D. Maria ficaram casados e cada neta ficou com a toalha de crochê no enxoval, que depois ficou no fundo da mala e foi pro fundo da gaveta. Foi assim. Foi a pressão alta que levou D. Maria. Ela se foi... e ninguém nunca mais foi assim, como D. Maria. Ah... a D. Maria e seu croché. E aquele tanto de linha emaranhada, que eu costumava separar nas férias, quando ia visitar. Eu já me anunciava da porta de trás, quando chegava: - Bom dia, D. Maria! E lá de dentro da casa, que tinha cheiro de café fresco, ela respondia: - É a Sissa? A nossa Sissa chegou! E eu me sentava no chão, aos pés da avó, com aquele tanto de linhas emaranhadas a encontrar as pontas, a separar em rolinhos, a ouvir histórias que a D. Maria contava e a ouvir ela me contar de pontos, de laços e de nós. Mas eu mesma, nunca consegui. Croché como o da D. Maria... nunca mais vi. O crochê tem que ser devagar, com cuidado. Sem 101


perder o ponto, cuidando dos laços. Tomando cuidado com os nós. Não se pode esquecer dos pontos pra trás. O segredo do crochê é tem que ser feito assim: tem os pontos pra frente, mas não se pode esquecer do ponto pra trás. Esse ponto de trás, ó menino... é o que prende na carreira e vai formando o tecido... é o que vai dando sentido, vai ajuntando e fazendo a blusa surgir, ou a manta, ou a toalha, ou a colcha da cama do casal... oxe... Bobice de menino que só gosta de carreirinha... que não entende que crochê precisa de ponto pra trás. Se não dá o ponto pra trás, ó menino... não vira nada, não ajunta. E de que é que serve um tanto de ponto solto ou frouxo ou mal ajuntado? A carreira sem laços nem serve no crochê e nem serve na vida. Presta atenção, ó menino e larga de bobice. Pois o que importa são os laços e o cuidado com os nós. Assim é também, no crochê conversado com a comadre e no crochê dessa vida que a gente vive ponto a ponto, passo a passo, dia a dia, do mesmo jeito que essa vida é... Dia a dia... todo dia... sem pular nenhum. Né não? Oxe... penso que seja assim, ó menino. Não adianta tanta carreira... precisa cuidar dos laços, precisa dar ponto pra trás. Precisa o cuidado com a pressão. A pressão que levou a D. Maria. 102


E é triste perceber quanta coisa já não se encontra por aí. Como o crochê da D. Maria, como a mesa posta prum café... - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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SUSPEITAS NA POESIA (13/11/2018) É sabido que a poesia no Brasil surgiu a partir das composições dos jesuítas integrantes da Companhia de Jesus, autos e poemas avulsos bem edificantes. Com o passar do tempo, tardiamente, foram feitas coletas dessas nossas primeiras letras poéticas cujos textos foram atribuídos em quase sua totalidade, ao padre José Anchieta que, entre todos os padres da época, figura como o mais dotado de sensibilidade poética. Tempos mais tarde, porém, o padre Serafim Leite, eminente autor da História da Companhia de Jesus no Brasil indaga se os escritos constantes nos cadernos de Anchieta que tanto encantaram a população daquela época e que até hoje ainda causam admiração por tão profunda sentimentalidade e percepção, principalmente das coisas belas da vida são realmente dele. Serafim Leite aponta sério fundamento para admitir a autoria ou a intervenção do padre Manuel do Couto, no auto de São Lourenço, poesia de fundo religioso que figura nos cadernos de Anchieta, pois o texto tem características bem portuguesas e, na sexta estrofe, traz claras reminiscências de Manuel do Couto e isso suscitou dúvidas ao sábio historiador Serafim Leite se é possível creditar os escritos de Anchieta como sendo todos seus. Causou-me muita estranheza e certa frustração ter lido, recentemente, no livro "Apresentação da Poesia Brasileira" descrita pelo imortal poeta Manuel Bandeira sobre essa possibilidade. Após ter tido conhecimento dessa hipótese detive104


me a pensar se, realmente, pode haver veracidade em tão grave acusação ou se trata apenas de coincidência, pelo fato de Anchieta ter sido admirador da poética de Manuel do Couto. Seja como for, cada qual leva para o túmulo a leveza ou o peso esmagador da consciência conforme os atos praticados. Certas palavras são comumente usadas e até repetidas, muitas vezes, por vários autores nos textos literários ou poesias, mas, evidentemente, há um limite para isso e é preciso atentar para os direitos autorais que resguardam o direito do autor. Três são as consequências que podem pesar a quem, impensadamente, e por não ter talento, ousam copiar textos alheios: primeiro, a pessoa não tem o prazer de dizer em sã consciência que determinado escrito é, de fato, de sua autoria; segundo: pode cair no ridículo de ser desmascarado por pessoas que já leram tais escritos e, terceiro: poderá ter de responder judicialmente pela violação de direitos autorais. Que o advento da internet e a maior acessibilidade a livros não venha criar desmedidas imitações que, por si só são ridículas e podem macular definitivamente a imagem desses arremedos de autores que, por não serem autênticos, jamais sairão do anonimato, pois não conseguem falar ao coração das pessoas com a naturalidade que caracteriza os probos e autênticos autores. - por Antenor Rosalino, Membro da AMOLIVROS.

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NÓS FEITOS A SÓS (20/11/2018) Tudo junto e misturado - é assim que a emoção acontece o tempo todo: Justifico que não escrevo dessas coisas por conta de algum direito, ou mesmo alguma excelência que tenha de ensinar. Escrevo para dividir algumas descobertas preciosas no caminho da vida, pelo mesmo motivo que me faz procurar por elas... Busco crescimento pessoal... E o crescimento pessoal apenas pode acontecer no terreno do relacionamento. E o relacionamento depende da comunhão... E a comunhão depende assim... De a gente dividir a alma da gente... Deixar o outro entrar... Ser convidado a participar... É assim... Outra maneira não dá de ser. Descobertas daquelas que tiram de mim um suspiro, ou um riso... Ou até lágrima... Mas eu ainda prefiro as que tiram de mim o riso... Trouxo ou frouxo... Solto assim... Ainda prefiro... E como não tenho coração de guardar só pra mim... Costumo é dividir. Para que tudo o que eu diga faça sentido, eu preciso que se lembrem de que andei por vários caminhos... Fiz algumas paradas... Mas não fui pessoa de ficar... Fui mais vento, do que fui raiz. E que esta caminhada começou muito cedo na minha vida... Que em primeiro, conheci os caminhos seguros da leitura, e por eles se me abriram portas de vários mundos... Que depois foram os caminhos profissionais e os caminhos acadêmicos... Outros foram muito sem substância, para que eu pudesse dizer que sequer 106


caminhos fossem. Fizeram parte... Mas não tem quê de comentar... Acho que foi por um jeito assim... Assim sei lá! E outros... São atoleiro! Mas esta... Esta é outra história... É sobre isso que quero falar. Para tornar tudo mais coerente, também é necessário saber que em alguns trechos, eu andei rápido por demais... Cheguei mesmo a derrapar... Foi mais precisão, do que querer... Houve vezes em que peguei estradas escarpadas e muitas vezes preferi encarar e derrubar enormes obstáculos, tirar pedra por pedra... Por tudo ao chão... Ao invés de contornar. Quando a sabedoria diria que deveria ter contornado. Mas afirmo que contenda não! Sempre que foi possível, estas não encarei. Que não sou de guerra... Veja bem! E se teve algum porquê, olhe menino... Foi por isso que cansei... Me desgastei por demais com gente que gosta de competição. Gosta de lutas... Aprecia disputas... Desgastei-me especialmente nas contendas compulsórias, de que não pude me desviar... Me desgastei deste jeito assim, que se vê. Mas também é preciso saber que de cansaço minha alma sempre esteve cheia... É por isso que, enfim... Quando o cansaço venceu meu corpo... A busca se intensificou na minha alma e não sei explicar esta compensação. De tudo o que aconteceu e que eu possa contar, foi que encontrei algumas tribos, que assim como eu, eram de 'caçadores de mim'. É... Eu considero minha vida uma aventura... Como 107


imagino que a tua também seja... Mas não é um conto de fadas... Não... Conto de fadas nunca foi. A gente vive para contar as vitórias, mas na luta do dia a dia, nunca se vê tanta glória. Enfim... Juntando as minhas histórias, as histórias de algumas tribos e de outros tantos 'caçadores de mim' que encontrei... Foi assim que me vi sozinha no caminho... Mas um caminho em que não podia estar só... Havia muitos de nós... E nunca estamos realmente a sós. Todos sozinhos, desatados de nós, buscando crescimento. Foi assim... E teria quem dissesse: "tadinha da menina, ficou olhando tanto para dentro de si, que perdeu o bonde, perdeu a banda... Passou e ela não viu". Sabe onde é que está o enrosco? É que crescimento pessoal não é algo que se teoriza... Mas é algo que acontece. E acontece como resultado da dança e da temperatura dos relacionamentos. Oxe... Percebe a encrenca? Eu sozinha... Um tanto de sozinhos... procurando teorizar sobre relacionamentos. Seria hora de rir? Ou de chorar? Eu e você somos muito "atual", menino... Somos 'in' nessa história de querer entender, já que o que as cabeças filosóficas do mundo hodierno andam se questionando é, exatamente, sobre as novas formas de relacionamento. Mas relacionamento não é teorizar. Relacionamento é viver. Viver dia a dia, todo dia, sem pular nenhum. 108


Criando novos laรงos. Sempre a sรณs, procurando os nรณs. - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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GUARDIÃO DE MEMÓRIAS (27/11/2018) Num dia de preocupação, temor e desespero, pelo entendimento de que não haveria mais ninguém que pudesse me ajudar, no futuro, a entender quem eu fui, liguei para ele: “Amigo, por favor, me ajude. Você é minha última esperança. A partir de agora, declaro você o guardião de minhas memórias.” Tínhamos vivido quase toda nossa juventude juntos. Estávamos cotidianamente lado a lado, nas brincadeiras, nos jogos, nos esportes, na escola. Compartilhávamos as madrugadas em longas conversas sobre tudo: os livros que liamos, os filmes que assistíamos, as músicas que ouvíamos, nas serenatas que dedicávamos às nossas amigas e namoradinhas, as pequenas viagens que fazíamos para dançar nas cidades vizinhas, as paqueras quase inocentes que arriscávamos. Planejávamos o futuro, os bailes aos finais de semana, os acampamentos nas matas, ainda quase virgens, nos arredores da cidade. Dividíamos os ônus das burrices e burradas, das ignorâncias praticadas e das pequenas tragédias que nos envolviam. Discutíamos sobre trabalho e trocávamos observações e críticas sobre os últimos textos e poesias que produzíamos continuamente, como dínamos em pleno funcionamento. Agora, depois de décadas de convívio, mais de meio século, durante um almoço no final de semana, a partir de uma simples pergunta sobre um fato qualquer, banal, que ambos conhecíamos, a resposta veio com um tom de tragédia anunciada: sua memória não era mais a mesma. Respondera com outros argumentos e circunstâncias, sem 110


vínculo com a questão posta. Trocara as pessoas, o lugar e o tempo. Sem demonstrar, no momento, a minha perplexidade e preocupação, pensei: “Caramba, será que é assim que se inicia o processo de senilidade, a perda da memória recente? O tão temido “alemão”? Mas ele ainda é tão novo, somos quase da mesma idade.” E mirei a mim mesmo no espelho da vida. À noitinha, com o silêncio tomando conta de minhas elucubrações, instalou-se em mim uma nostalgia angustiosa: “Quem guardou as minhas memórias? Onde estão os casos e as experiências que partilhei com ele para que fossem contados para os meus descendentes, como testemunha viva e ocular das minhas paixões, dos meus tropeços, da minha trajetória com os altos e baixos experimentados? Quem poderá confirmar as peripécias vividas, os traumas, os sonhos e os dramas que criamos para dar continuidade à nossa existência? Quem, agora, poderia instilar para meus filhos e outros amigos, sobre os planos, os projetos que tivemos para alcançar a maturidade tranquila, bem acabada e cheia de histórias, com a autoridade de quem as viveu conjuntamente?” Percebo que daqui pra frente, aos poucos, vou perdendo meu amigo, meu irmão de fé, meu companheiro de aventuras e fortunas. Vejo em seus olhos, cada vez mais embaçados, e sua atenção quase dispersa, quão longínquo ele vai ficando de tudo o que o prendia nesta ousadia de viver. Aceitar o desfecho que se apresenta e continuar convivendo com suas reações às posturas, descuidos e deslizes, que acontecerão cada vez mais, será uma tarefa 111


que, no meu proceder egoísta, não desejava, mas que terei de enfrentar. Reviver tudo isso, a cada vez que o reencontro, é tarefa penosa e severa. Porém, difícil mesmo, é ter que me despedir aos poucos, a cada dia, em todas as horas que ainda passaremos juntos, desse amigo que, a todo o momento, também vai habitando, cada vez mais, apenas a minha memória. - por Reynaldo Mauá Júnior, Membro da AMOLIVROS.

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LITERATURA E ROCK AND ROLL (04/12/2018) Ao findar a leitura do livro "Só garotos", de Patti Smith, da TAG Experiências Literárias, me pus a pensar no seu conteúdo e vou escrever aqui sem me preocupar com o fazer literário, porque, bem no estilo norte-americano, tratase de um biografia (melhor, autobiografia) de um ídolo da Geração Beat, que dominou o país no pós-guerra, foi um grito de rebeldia, era o rock and roll. Minha geração só aprendeu inglês na escola regular, éramos nacionalistas, xenófobos, principalmente em relação aos Estados Unidos da América. Então, conheço pouco da cultura norte-americana, pelos livros estou fazendo uma recuperação intensiva. Como disse a resenhista "Artista Indecisa" em seu canal do YouTube, se já tivesse morado em Nova York, talvez teria entendido melhor o livro. Patti Smith queria ser poetisa, mas acabou sendo mais conhecida como roqueira. Mas há incompatibilidade entre poesia e rock? A música, no caso dela, foi o veículo de seus poemas, as letras de música. Há gente de nossa geração e os mais novos se surpreendem quando sabem que ela publicou livros. Por que o título do livro é "Só garotos"? Um casal de velhos andava pela Whashington Square. Patty e Robert, protagonistas do livro, perambulavam pelo espaço onde havia uma manifestação com distribuição de panfletos. Num certo momento, os casais se cruzaram, o homem do casal mais velho encarou os dois jovens vestidos de forma beatnik (psicodélica, exótica), e a mulher quis até registrá113


los em foto, pensando ser artistas. Então, o velho puxou a companheira e disse: "Ora, vamos, são só garotos". E a foto não foi registrada. Essa fala e a atitude do casal adulto revelam que não acreditaram no que viam, pois os dois seriam mesmo grandes artistas norte-americanos, uma nova onda estava chegando; uma certa concepção de arte. Contestando tudo, nadando contra a maré, e por elas os garotos foram longe. Patti Smith foi chamada de comunista nos Estados Unidos da América porque vivia buscando inspirações nos poetas franceses Arthur Rimbaud, Charles Baudelaire e Jean Genet. Ela era apaixonada por Paris, fazendo sacrifícios econômicos foi lá pela primeira vez à capital da França e subsequentemente várias vezes. Numa dessas viagens, solicitando informações para uma mulher francesa sobre os três poetas, e percebendo que Patti era norte-americana, deu-lhe uma resposta maleducada que revela que os franceses gostam de pôr fronteiras na poesia, ideológicas e geográficas: por que você não se interessa por poetas americanos, você não é de lá? Robert morreu em 1989, Patti (1946) ainda é viva. Já fui secretário municipal de Cultura de minha cidade por quase oito anos, sou escritor, portanto, artista. Sempre tratei bem os artistas na minha gestão, principalmente os mais rebeldes, mas confesso que eu os teria compreendido melhor se tivesse lido "Só garotos" naquela época, principalmente os roqueiros. Patty Smith se aproximou de Bob Dylan em 1995. Em 2017, ela foi a Estocolmo representá-lo no recebimento do Prêmio Nobel de Literatura. Parece que ele quis mandar um recado para o júri do prêmio: no meu lugar quem devia 114


ser premiada era Patti Smith, a representante literária da Geração Beat. - por Hélio Consolaro, Membro da AMOLIVROS.

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A RODA DA VIDA (18/12/2018) Atravessou a sala onde se realizava a comemoração e alcançou o amigo. Passou-lhe o braço pelos ombros em franca camaradagem e na outra mão levava a taça com que acabaram de fazer o brinde. - Mas então! Nunca pensei.... Você! Amarrar-se assim! E tão novo. Um estudante de medicina brilhante! Com uma grande carreira pela frente! Mas quê! Como se deu? Disse-lhe o noivo, com a voz cheia de paixão: - Ah, mas meu amigo! Como não? Olhe-a! Vê seu sorriso franco. Não tem sofisticação, nem refinamento. Ri em toda e qualquer situação. Mostra aquele sorriso aberto. A amiga já diz quando a vê: Lá vem ela com seu sorriso de trinta e dois dentes. É toda espontânea. Não se dobra a nenhum protocolo e nem conveniências. Enfrentou a um executivo sem o menor respeito ao seu título por achar que foi desrespeitoso com um colega. Chegamos atrasados a um evento porque me fez voltar, em uma noite congelante, a buscar um cobertor dentro de casa a um mendigo que dormia na calçada. Em outro passou a noite com meu paletó porque tirou o próprio agasalho para dar. Houve um aniversário em que riu tanto de uma piada, que pensei que lhe fosse deslocar a mandíbula. Assim é, toda e inteira. Não tem qualquer jeito para o sorriso refinado e olhares de meia. Encara mesmo, até constranger. No meu aniversário, atravessou a sala sem cumprimentar nenhum convidado e se jogou em meu pescoço na frente de médicos, professores e advogados. No Natal, sem qualquer respeito aos mais 116


velhos, sentou-se no meu colo e lascou-me um beijo. É toda espontaneidade. Sem nenhuma afetação. Os anos não lhe roubam a alegria infantil. Tanta, que até parece vaidade! Tudo lhe provoca intensa alegria. Alegra-se com qualquer coisa. Com um doce, com um passeio, com um café. Quando vê alguém que gosta, não preserva nenhuma emoção, sai de onde está correndo para envolver o afeto em um abraço de lhe roubar o fôlego. Ri. Chora. Emociona-se a céu aberto. Ri, como ri! Não dissimula. Não usa maquiagem. Se mete a todo tipo de coisas. E se sai das suas, adivinha? Rindo! Pega criança no colo, dá beijo estalado, senta no meio-fio. Chega em casa morta de cansada, já na porta de entrada descalça os saltos e solta o sutiã. Aperta o botão do aparelho de som e com uma taça na mão dança samba ao meu redor, como eu lhe fosse um mestre salas. Mas como? Não estava morta de cansaço? Ah essa espontaneidade! Até me constrange. É um vendaval! Não tem nenhuma sofisticação. É transparente demais. Quero essa mulher na minha vida! Para sempre! A festa acabou. O tempo passou. Veio a formatura. E depois veio a vida como ela é. O dia a dia. Os amigos viraram conhecidos. Cada um foi cuidar de seu caminho. Passaram-se os anos. Certa noite, ao entrar em um restaurante viu o colega, médico há vários anos, sentado à uma mesa de fundo, tendo ao seu lado uma jovem loira. Filha? Pensou... recordando-se do dia de seu casamento. O colega também viu-o, levantou-se e foi ao seu encontro. Abraçaram-se recuperando os anos de amizade. - E então? Como está? E como está a...? - Divorciei-me. 117


- Mas como?! Ainda busco para mim mesmo o modelo de amor que você me descreveu no dia de suas bodas. Como foi que isso aconteceu? Disse-lhe o outro, com a voz cheia de desprezo e indignação: - Ah, meu amigo. Sou um médico respeitado. Formado há vinte anos. Tenho uma vida social e me relaciono com pessoas de respeito. Veja bem... Como não? Não tinha sofisticação, nem refinamento. Ria em toda e qualquer situação. Mostrava aquele sorriso aberto. A amiga já dizia quando a via: Lá vem ela com seu sorriso de trinta e dois dentes. Era toda espontânea. Não se dobrava a nenhum protocolo e nem conveniências. Enfrentava a um executivo sem o menor respeito ao seu título por achar que foi desrespeitoso com um colega. Chegamos atrasados a um evento porque me fez voltar, em uma noite congelante, a buscar um cobertor dentro de casa a um mendigo que dormia na calçada. Em outro passou a noite com meu paletó porque tirou o próprio agasalho para dar. Houve um aniversário em que riu tanto de uma piada, que pensei que lhe fosse deslocar a mandíbula. Assim era, toda e inteira. Não tinha qualquer jeito para o sorriso refinado e olhares de meia e nem para manter as aparências. Encarava mesmo, até constranger. No meu aniversário, atravessou a sala sem cumprimentar nenhum convidado e se jogou em meu pescoço na frente de médicos, professores e advogados. No Natal, sem qualquer respeito aos mais velhos, sentou-se no meu colo e lascou-me um beijo. Era toda espontaneidade. Sem nenhuma afetação. Os anos não lhe roubaram a alegria infantil. Tanta, que até parece vaidade! Tudo lhe provocava intensa alegria. Alegrava-se com qualquer coisa. Com um 118


doce, com um passeio, com um café. Quando via alguém que gostava, não preservava nenhuma emoção, saía de onde estava correndo para envolver o afeto em um abraço de lhe roubar o fôlego. Ria. Chorava. Emocionava-se a céu aberto. Ria, como ria! Não dissimulava. Não usava maquiagem. Se metia a todo tipo de coisas. E se saía das suas, adivinha? Rindo! Pegava criança no colo, dava beijo estalado, sentava no meio-fio. Chegava em casa morta de cansada, já na porta de entrada descalçava os saltos e soltava o sutiã. Apertava o botão do aparelho de som e com uma taça na mão dançava samba ao meu redor, como eu lhe fosse um mestre salas. Mas como? Não estava morta de cansaço? Ah essa espontaneidade! Até me constrangia. Era um vendaval! Não tem nenhuma sofisticação. Era transparente demais. Quero essa mulher fora da minha vida! Para sempre! - por Larissa Alves, Membro da AMOLIVROS.

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CIRANDEIROS (18/12/2018) Mais um ano se finda. Nesse tempo de celebrar a vida, a alegria, que tal um giro pela nossa história? Afinal, a felicidade pede que, por vezes, se olhe pra trás, também a frente não tem fim. Ou tem? Importa não só saber “pra onde a onça vai”. A propósito... “de onde a onça vem?’ Quem responde é Marcos Tinareli, nosso Mestre, de indiscutível sensibilidade e competência. ... E tudo começou com Pedro Álvarez Cabral. A essa “gente que vem de Lisboa” prestamos nossa homenagem, com a marujada. “Peixinhos do Mar”. Brasil descoberto, reverenciemos suas regiões. A Amazônia, com o “Carimbó”, dança indígena, típica do Pará; e o “Cálix Bento”, do folclore mineiro. Quem vem lembrar a Região Centro-Sul do Brasil é um beija-flor, o “Cuitelinho”, do folclore mato-grossense. Depois de um passeio de “Chalana”, símbolo do Pantanal, continuamos “Tocando em frente” (obra prima de Almir Sater e Renato Teixeira), seguindo a “Romaria” (verdadeiro hino de Renato Teixeira), já no Estado de São Paulo, precisamente em Aparecida do Norte. Na sequência, nos deparamos com uma “Casinha Branca”, ou melhor, duas, pois são duas músicas homônimas que vêm contemplar os estados do Paranã e Rio de Janeiro. Assim, pudemos constatar que “É disso que o velho gosta”. Barbaridade, chê! (Rio Grande do Sul). Na Rodovia Castelo Branco, ali pelos km 45 e 50, nos deparamos com essa ode 120


à Literatura: “Vide Vida Marvada”, de Rolando Boldrin. Já nos Nordeste, “Súplica Cearense” e “Xote das Meninas” completam esse giro por nosso país, diversificando, e que por isso tem “Natal Brasileiro” e “Natal do Sertão”. E porque somos um povo plural, sabemos desejar “Um Feliz Natal” poliglota. Para que todos entendam nossa homenagem de paz, e juntos possamos festejar com as “Duas cirandas de Recife”, uma vez que “cantar é uma atividade física”. Não é não, Mestre?

- por Wanilda Borghi, Membro da AMOLIVROS.

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FECHANDO O ANO DE 2018 (25/12/2018) Estamos chegando ao fim de mais um ano e, com graça, com paz, com harmonia – como é preciso. E sempre é bom fazer uma retrospectiva do que se fez – seja individual ou coletiva. E, através desta coluna, através deste espaço, muitos nomes passaram por aqui e deixaram o seu parecer, o seu registro sobre o mundo, o seu registro de suas leituras – e, com maestria ficarão eternamente ligados a este plano terrestre através de suas palavras. Iniciamos este trabalho de publicação neste conceituado veículo no mês de fevereiro e de lá para cá tivemos a grata satisfação de termos quarenta e um texto publicados no decorrer do ano (contando com este que estás a ler, caro leitor), e por aqui passaram nomes de peso de nossa sociedade araçatubenses de escritores, tais como: Amarildo Clayton Godoi Brilhante, Antenor Rosalino, Fernanda Gaiotto Machado, Hélio Consolaro, Hugo Garcia Tosta (in memoriam), José Hamilton Brito, Junior Salvador, Larissa Alves, Pedro César Alves, Renata Ribeiro de Lima, Reynaldo Mauá Junior, Tacilim Oréfice, Wanilda Borghi, com seus textos maravilhosos, de reflexão sobre a vida, de comentários de obras literárias. E não para menos que, entre a paixão pela leitura e pela escrita, o registro se fez presente desde as coisas simples da vida – como: um olhar sobre a cidade de Araçatuba, um olhar diferenciado sobre os nossos astros, sobre os nossos heróis, sobre os nossos escritores maiores, sobre a valia da leitura nossa de cada dia – em prosa (o poder da ficção) ou em poesia (o poder da arte poética), 122


sobre as nossas lembranças, sobre a nossa vida, sobre os signos e enigmas a serem decifrados da vida, sobre o amor como efeito do dom maior que temos, das coisas que jamais esquecemos – sementes plantadas, regadas,, árvores crescidas, frutos colhidos, do jogo de cintura que precisamos ter com a vida, do jogo de cintura que precisamos ter com as pessoas; às vezes, até o ir e vir na contramão, é um jogo permanente, assim como o futebol, da liberdade (do respirar), da gratidão pelo que temos; do relacionamento entre os familiares, com os pais, com as mães; do relacionamento com o cidadão – com a vida e com a morte (com a qualidade de vida); do caráter; dos amigos, dos vizinhos – e por que não, também, do eu – feito sozinho? Das memórias – do ‘rock and roll’ – ah! De tudo um pouco, tudo junto e misturado. Sem deixar de lado, em hipótese alguma, o Pequeno Príncipe. “O ano termina, mas começa outra vez” – como diz a canção. É a roda da vida: um eterno rodar, um eterno caminhar – por entre as multidões, e, às vezes, sentindo-se só – mas, ao mesmo tempo, com a leitura na mão, na mente, no coração. É o desafio próprio que poucos possuem – é o estudar o outro através de suas múltiplas leituras. É o peregrinar por entre páginas em busca de algo que não se sabe o quê – mas é sabido que está ali – talvez nas linhas, talvez nas entrelinhas, e – mais profundo de um talvez, por detrás das linhas. Por dizer: ‘É um não querer mais que bem querer / É solitário andar por entre a gente / É um não contentar-se de contente / É cuidar que se ganha em se perder” – simplesmente magnífico! E neste derradeiro parágrafo, sentimo-nos no direito de convidá-los a escrever também – basta nos escrever, 123


basta querer. E assim, através de nossos registros, deixaremos às próximas gerações o que realmente queríamos neste mundo, entre tais coisas – valendo reforçar: a paz, o amor, a harmonia entre os povos. E esperamos que o próximo ano venha recheados de excelentíssimas coisas, basta acreditarmos, basta procurarmos fazer o bem – sem olhar se o outro merece ou não, pois o galardão maior vem de cima – onde um dia será o nosso derradeiro lugar. A todos os nossos amigos leitores e escritores que participaram dessa coluna, os nossos sinceros votos de paz, amor e prosperidade, recheado com belíssimas leituras e escritas. - por Pedro César Alves, Membro da AMOLIVROS.

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OS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS...

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