Revista Grande Porto

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negócios

| OPINIãO |

Portas a guiar Branco PAULO MORAIS

Os Estaleiros de Viana têm um dono: o estado português. Os governantes são pois os únicos responsáveis pelo estado comatoso a que a empresa chegou, ao fim de uma década de decisões criminosas e incompetentes. Todos os governantes da área da Defesa são responsáveis: uns culpados, outros cúmplices ou coniventes. Quando Paulo Portas, enquanto ministro da Defesa, assumiu a tutela parcial dos ENVC, prometeu o céu. Tirou daí dividendos eleitorais para o seu CDS, a quem os vianenses, enganados, retribuíram com votos, pela prometida salvação dos estaleiros. Esperava-se que, uma vez na esfera da Defesa, os ENVC recebessem encomendas da Marinha, de construção ou reparação naval. Para as quais havia, aliás, disponibilidade financeira no Gabinete de Contrapartidas do Ministério da Defesa. As contrapartidas nas aquisições militares foram sempre um mistério, mas o peso político de Portas antecipava que parte das verbas provenientes do negócio dos submarinos viesse a reverter a favor dos ENVC. Mas nem céu, nem encomendas, nem contrapartidas. Viana foi atraiçoada. Desde Portas, sucessivas administrações foram nomeadas, mas não houve nunca uma estratégia clara definida pela tutela. A empresa serviu de albergue para “boys” do PS, do PSD, mas principalmente do CDS. O governo falhava nas encomendas, os administradores não administravam. Aos trabalhadores ia restando a incerteza. Como os ENVC estavam longe de Lisboa,

o assunto não era importante para os políticos da corte do poder. Os ENVC longe de Lisboa e os administradores… longe dos estaleiros. Alguns nem sequer viviam em Viana e apenas se deslocavam à empresa para justificar salários, ajudas de custo e prémios. Os tempos da governação socialista de Sócrates não alteraram em nada a situação. Com a chegada de Aguiar-Branco à Defesa, exigia-se um cabal esclarecimento do destino das verbas das contrapartidas dos submarinos que não chegaram nunca… para as encomendas. Outra incógnita por esclarecer é o destino decentenas de milhões de euros que a empresa recebeu sob a forma de apoios da União Europeia. Mas Aguiar-Branco não teve coragem para incomodar Paulo Portas. Para dar jus ao seu próprio nome, decidiu branquear os disparates do presidente do CDS e as-

sumir as suas orientações. Aguiar-Branco poderia ter entrado para a história dos ENVC como o seu salvador, mas preferiu ser seu carrasco. Alienou a empresa de forma pouco clara e a empresários pouco recomendáveis associados ao plenipotenciário grupo Mota_Engil. No final desta história, os trabalhadores dos ENVC irão sofrer, a cidade assiste a mais um crime económico e vê morrer o último baluarte da sua tradição marítima. Em apenas uma geração, Viana, terra de mareantes, viu desaparecer a sua Empresa de Pesca, assistiu ao abate de uma parte considerável da sua frota pesqueira, perdeu a sua vocação marítima. Os governantes que agora condenam os ENVC não destroem apenas uma empresa com pergaminhos na história da cidade. Aniquilam toda uma vivência, hipotecam a cultura e a história da cidade de pescadores, navegadores e aventureiros.

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