Saude dos Bancarios

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Saúde dos bancários

recorrência de aparição (ou porque se queria negar ou afirmar qualquer coisa) que tinha significado para o objeto em análise. Por sua vez, os núcleos de sentidos foram agrupados em temas os quais deram origem às categorias. No presente texto, para torná-lo mais fluente, as categorias empíricas estão apresentadas de forma corrente; inicialmente aborda sobre as estratégias de defesas e o processo de adoecimento; em seguida, o processo de reabilitação da saúde e volta para o trabalho. As análises indicaram que os bancários, antes de adoecerem, adotavam a autoaceleração dos movimentos como estratégias de defesas, que se configurou como uma via de evasão dos conflitos e pressões engendrados pela organização do trabalho, expressa pela forma de gestão marcada pela intensificação das demandas por produtividade em menor tempo; pela exigência do modo operatório prescrito que não permitia ajustes e, portanto, o exercício da subjetividade para a realização das tarefas. Nesse sentido, os bancários manifestavam sentimento de insatisfação e desqualificação por realizarem uma tarefa que consideravam de “conteúdo pobre”, “bem repetitiva”, “muito mecânica” e submetidos a “horas intermináveis de trabalho”; “era comum entrar às 7 horas e sair às 10 horas da noite porque o gerente sempre pedia algo mais”. Ainda, os bancários relataram que não havia espaço para expressar descontentamento por causa da ansiedade provocada pela pressão dos clientes (interno ou externo) e das cobranças diárias vindas do gerente, como estão exemplificados nos fragmentos de relatos a seguir: “Cada tarefa é realizada sob pressão de tempo, por isso a gente vivia pressionado e também havia pressão por produtividade. Então, eu trabalhava todo o tempo sem parar”. De acordo com um dos bancários, “a pressão extrapolava as relações humanas [...] eu tive o azar de encontrar um gerente que, na época, dizia que tinha mais intimidade com máquinas do que com gente”. Para o outro bancário, as ameaças eram constantes, do tipo: “se não cumpre isso ou se fizer isso perde a comissão”. A esse fato uma bancária acrescenta que apesar do grande “volume de serviço” e da sobrecarga de trabalho “nunca se trabalhou com folga de funcionários”; por isso, “teve casos em que a gente ficava doida”. Além da tirania do tempo para execução das tarefas, os bancários também eram confrontados com as exigências de metas de vendas dos produtos, mesmo para aqueles que não tinham relação direta com o cliente externo, por exemplo: “havia cotas para vendas de seguro, vendas de títulos, venda de cheque especial e outros produtos; se não cumprisse a meta podia ser demitido”. A partir de então a vivência de sentimento de decepção, de irritação, de medo e de injustiça em relação às ações da gestão e, consequentemente, mais engajamento no uso da estratégia de defesa para tentar mitigar o sofrimento. 278


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