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Oportunidade
menores de 5 anos –, um número estarrecedor; assim
Nesse contexto, onde a gravidez na adolescência
como é estarrecedor o fato de que, entre os acusados, há
(assim como a evasão escolar) faz parte do cotidiano, a
todo tipo de gente – inclusive quem deveria resguardar a
agenda de Aline representa uma oportunidade que
infância: conselheiro tutelar, vereador, deputado estadual,
atende pelo nome de Movimento República de Emaús,
médico e padre.
uma instituição pioneira no trabalho junto a crianças e
“Há casos em que crianças são trazidas do interior com
adolescentes em situação de rua, e expostos à violência
a promessa de virem a Belém para estudar e são
e à exploração sexual. Nem da aula de cidadania, a
escravizadas como empregadas domésticas ou exploradas
menina tenta escapar e traz o discurso na ponta da
sexualmente”, conta Nazaré Araújo, coordenadora
língua: “A gente não está na rua se envolvendo com
pedagógica da ONG, que tem cinco linhas de ação: a
pessoas más. Estamos sempre em alerta. Somos
educação não formal, a formação profissional, a proteção
educados para não brigar com os colegas e para entrar
jurídico-social e mobilização social. Sob os dois últimos
em coisas boas”, diz.
focos, é impossível falar das conquistas da infância
A mãe de Aline diz que a menina tem muitas
brasileira, como a criação do Estatuto da Criança e do
oportunidades no Emaús. “No período de férias, por ela,
Adolescente, em 1990, sem citar o trabalho do Emaús, que,
seria o dia inteiro no projeto. E eu estou achando ótimo,
desde a década de 1980, trabalhou na formação do
porque vejo que ela está se desenvolvendo, gostando,
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e
aprendendo. É um compromisso, faz ela acordar cedo
organizou I Encontro Nacional de Meninos e Meninos e
para ir”, diz a mãe, sinalizando que também faz sua
Rua, em Brasília, em 1986. “Houve uma época em que trabalhávamos mais com
parte em casa: “Mostro as coisas que saem no jornal
crianças e adolescentes que estavam na condição de
para ela”.
vítima. Hoje atendemos a esse público e, ao mesmo tempo, CPI da Pedofilia
trabalhamos com prevenção”, diz Ana Lúcia da Silva
Em fevereiro de 2010, a Assembleia Legislativa do Pará
Barreira, coordenadora dos projetos de socialização e educadora do Emaús desde 1979.
aprovou o relatório final da CPI da Pedofilia, que consumiu um ano de trabalho. Os deputados concluíram que mais de 100 mil casos de violência, abuso e exploração sexual
Evolução
foram registrados naquele estado só nos últimos cinco
Na década de 1970, quando o Emaús surgiu, estava
anos – um quinto deles, ou seja, 20 mil, praticados contra
voltado, sobretudo, para os jovens trabalhadores do 92