01° Prince of Thorns - Trilogia dos Espinhos - Mark Lawrence

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“Eu não fugi”, disse. “Quatro anos atrás você fugiu da casa de seu pai.” Ele manteve a voz gentil e os irmãos o observavam como se estivessem hipnotizados por uma moeda girando. “Eu tive um motivo para sair de casa”, disse. Sua linha de ataque me abalava. “Qual motivo?” “Matar alguém.” “Você o matou?”, Sageous perguntou. “Eu matei muita gente.” “Você o matou?” “Não.” O Conde de Renar ainda vivia e respirava. “Por quê?” Por que não o matei? “Você o machucou? Você prejudicou seus interesses?” Não. Na verdade, se olhar bem, se você traçasse o caminho aleatório de quatro anos na estrada, poderia dizer que eu tinha ajudado os interesses de Renar. Os irmãos e eu tínhamos pisado no calo do Barão Kennick e o afastamos de suas ambições. Em Mabberton, destroçamos o coração do que poderia ter sido uma rebelião... “Eu matei seu filho. Enfiei uma faca em Marclos, carne e sangue de Renar, e seu herdeiro.” Sageous se permitiu um pequeno sorriso. “Ao se aproximar de casa, você ficou sob minha proteção, Jorg. A mão que o guiava está caída.” Seria verdade? Eu não podia ver mentiras nele. Meus olhos seguiam o que estava escrito em seu rosto, pergaminhos complexos de uma língua estrangeira. Um livro aberto, mas eu não saberia lê-lo. “Posso ajudá-lo, Jorg. Posso devolver seu verdadeiro eu. Posso dar sua vontade de volta.” Ele ergueu a mão, a palma aberta. “Livre-arbítrio precisa ser conquistado”, eu disse. Quando tiver dúvidas, busque a sabedoria dos outros. Nesse caso, Nietzsche. Certas discussões requerem uma faca se você quer ser breve, outras exigem que você quebre algumas cabeças usando uma pedra filosofal. Eu estendi o braço e peguei sua mão, por baixo, os nós de seus dedos sobre minha palma. “As escolhas foram minhas, pagão”, eu disse. “Se alguém tentasse me guiar, eu saberia.” “Saberia?” “E se eu soubesse... Ah, se eu soubesse teria que lhe ensinar uma lição tão instrutiva sobre a dor que os próprios Homens Vermelhos do leste viriam aprender novos truques.” À medida que me deixavam, as palavras pareciam ocas. Infantis. “Não fui eu quem o conduziu, Jorg”, disse Sageous. “Quem então?”, apertei sua mão até ouvir os ossos estalarem.


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