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VAMOS ENFRENTAR A TUA ANSIEDADE

Manual de Intervenção Psicológica com Crianças Paulo José Costa


VAMOS ENFRENTAR A TUA ANSIEDADE

Manual de Intervenção Psicológica com Crianças Paulo José Costa

Ilustrações de Bruno Gaspar



2020


Título: VAMOS ENFRENTAR A TUA ANSIEDADE Manual de Intervenção Psicológica com Crianças Autor: Paulo José Costa Ilustrações: Bruno Gaspar Conceção e arranjo da capa: Paulo Fuentez

© Paulo José Costa | www.paulojosecosta.com

Hora de ler © para a produção Hora de Ler, Unipessoal Lda. Urbanização Vale da Cabrita Rua Dr. Arnaldo Cardoso e Cunha, 37 - r/c Esq. 2410-270 LEIRIA - PORTUGAL E-mail: horadelercf@gmail.com Tlm: 966739440

Revisão: Catarina Sacramento Design gráfico e paginação: Paulo Fuentez @ macamecanica.com Impressão: Artipol - www.artipol.net

1ª edição: novembro de 2020 Tiragem: 750 exemplares

Edição 1076/20 Depósito Legal: 475494/20 ISBN: 978-989-8991-38-6

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor.


Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos. ProvĂŠrbio chinĂŞs



NOTA PRÉVIA

Em todo o texto, onde se lê criança, deve subentender-se que o significante contempla os conceitos de criança e adolescente, atendendo à faixa etária à qual se direciona este livro (dos 6 aos 12 anos), assim como, para todas as demais palavras que se destinem aos dois géneros (masculino/feminino), mesmo quando é genericamente adotado o conceito de filho no singular, recorrendo ao masculino genérico. Se for facilitador para o processo de intervenção em curso, deverá ajustar-se a formulação dos conceitos, em função do género do sujeito (rapaz ou rapariga) a quem se dirige a leitura.

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NOTA INTRODUTÓRIA AOS PAIS E UTILIZADORES DESTE LIVRO

A breve história que consta neste livro destina-se a crianças dos 6 aos 12 anos de idade. Se for lida em voz alta, terá mais sentido e eficácia na promoção das competências para a qual foi criada. Independentemente do grau de interação, relacionamento ou familiaridade que tem com a criança, poderá sentar-se junto a ela, ler de forma pausada, observando as ilustrações e dedicando o tempo necessário às tarefas propostas em cada um dos seus capítulos. Embora não haja um tempo preestabelecido para cada uma das secções deste manual, procure dedicar-se a um ou dois capítulos de cada vez. Poderá esperar um dia ou dois para ler um novo capítulo, na medida em que a criança irá necessitar de tempo para interiorizar as ideias propostas nas diferentes secções, assim como para praticar as diferentes estratégias. Se estiver a realizar uma intervenção psicológica, poderá dedicar uma sessão a cada dois capítulos. No caso de ser pai ou mãe de uma criança que se sente ansiosa, deverá ter em consideração que na base dessa ansiedade poderão estar fatores hereditários ou decorrentes da aprendizagem. Nessa medida, deverá sentir-se à vontade para participar ativamente com o seu filho na implementação das 10


técnicas de enfrentamento e resolução das dificuldades apresentadas neste livro. Estes princípios básicos atuam de forma igualmente eficaz em adultos, tal como nas crianças. Se, enquanto progenitor ou cuidador, sentir um grau elevado de ansiedade que interfira negativamente na vossa interação e dinâmica relacional, poderá ser benéfico procurar auxílio psicológico e aconselhamento parental, no sentido de incrementar as suas competências de autorregulação emocional para que, de modo consistente, possa aplicar as estratégias propostas em cada uma das sessões. Avalie com o psicólogo se a sua ansiedade está a interferir de forma negativa na gestão dos processos emocionais e comportamentais do seu filho. Desde o momento inicial em que venha a apresentar este livro, deverá ter em consideração o poder do pensamento positivo e do otimismo. Mantenha as expectativas elevadas em relação à capacidade de a criança conseguir enfrentar e vencer as preocupações. Expresse a sua confiança e certeza de que irão conseguir superar esse desafio em conjunto. Estarão, assim, muito mais unidos para alcançarem, tão brevemente quanto possível, o momento em que poderá transmitir ao seu filho que antes costumava preocupar-se demais com coisas que agora já não o incomodam! A ansiedade é como um pacote de farinha. Sem que exista um invólucro, irá espalhar-se e será muito difícil evitar que se disperse de forma descontrolada. Por isso, a ansiedade precisa de ser contida, mantendo-a restrita ao que é necessário. Criando um «cofre das preocupações» e um horário destinado ao «tempo para as preocupações», estratégias descritas no capítulo «Como podes dedicar menos tempo às tuas 11


«preocupações» deste manual, estamos perante o equivalente estratégico da contenção psicológica que visa manter a farinha no seu pacote, evitando que se espalhe pelas superfícies em redor. Nesta medida, ao implementar as estratégias configuradas neste manual, deveremos considerar a ansiedade uma entidade psicológica demarcada de outros processos emocionais, mas que com eles se interrelaciona de forma permanente. Na verdade, ainda que a ansiedade não seja visível na sua expressão fisiológica e emocional, são bem reconhecidas as suas manifestações no domínio dos comportamentos, atitudes e pensamentos. Deverá pensar-se na ansiedade, ou nas preocupações, como se fossem passageiros inoportunos que já estamos saturados de levar no nosso meio de transporte. Esta história irá contribuir para que ambos, criança e adulto, aprendam a conseguir fazer sair a ansiedade (e também as restantes emoções negativas a ela associadas) na paragem que corresponde à vontade de decidir o seu destino. A externalização da ansiedade corresponde a um processo terapêutico utilizado pelos psicólogos para que os pacientes possam distanciar-se dos seus problemas. Permite às pessoas observarem «de fora» as suas dificuldades ou sintomas e encontrarem um sentido ou solução de maneira rápida e eficaz, o que prepara o terreno para que mais facilmente possam exercer controlo sobre eles, conforme descrito no capítulo «Desafiar as preocupações». Existe um princípio básico em ciência psicológica que sustenta que não é possível estar relaxado e ansioso em simultâneo, razão pela qual o envolvimento numa atividade física 12


divertida é um poderoso impedimento para a ansiedade. Com efeito, a distração é uma das ferramentas mais úteis que uma criança poderá usar para afastar a ansiedade. Quando participa numa brincadeira, num jogo, numa atividade física ou desportiva, criará menos espaço para se sentir ansiosa e preocupada, ainda que nada na situação temida se tenha alterado. (Introduzir Ilustração «FAMÍLIA» aqui)

Se é pai, mãe ou cuidador de uma criança com manifestações de ansiedade, sabe o quanto é tão difícil manter-se refém dessa condição. As crianças que manifestam com maior frequência e intensidade um sofrimento decorrente das suas preocupações e medos são prisioneiras de si mesmas, vivendo numa condição de desequilíbrio emocional relevante, com interferência significativa nas suas principais áreas de funcionamento – comportamental, familiar, relacional, educacional, social e até com possíveis reflexos na saúde. Estas crianças esforçam-se com frequência para evitar situações que sentem 13


como assustadoras, fazendo repetidas perguntas sobre assuntos relacionados com os seus receios e inquietações, levando os adultos ao desespero, por não conseguirem encontrar uma solução eficaz para ajudar a ultrapassar tais dificuldades. Ao mesmo tempo, as respostas fornecidas pelos adultos não lhe conferem à criança o alívio pretendido. Os pais passam bastante tempo à procura de uma tranquilização, persuadindo, acomodando-se às queixas e preocupações, com o objetivo de minimizar a fragilidade emocional do filho. No entanto, isso parece não resultar, pois o descontrolo emocional e a ansiedade persistem e vão-se intensificando com o tempo. E já deve ter tomado consciência de que dizer à criança para se acalmar, ou que em breve irá ficar mais tranquila e menos ansiosa, não resulta. Nem terá sucesso recorrendo aos argumentos e à lógica que enquanto adulto está habituado a usar, ou permitindo que o seu filho evite as situações temidas, ou oferecendo-lhe segurança sempre que os medos lhe forem transmitidos. A ansiedade tem uma forma particular de germinar, um modo específico de crescer, de se generalizar. E pode mudar no que respeita às suas manifestações corporais e sintomas emocionais, tendendo geralmente a resistir aos esforços para convencê-la a não existir. Vamos Enfrentar a Tua Ansiedade é um livro que irá ensinar aos adultos e às crianças um conjunto de estratégias e métodos apropriados para enfrentar, positivamente e de forma eficiente, as preocupações, os receios e o medo, contrariando a perceção de que não é possível controlá-los.

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A alteração desses padrões levará algum tempo e irá exigir insistência e determinação de ambas as partes envolvidas no processo – adulto e criança. Por isso, insistir de forma moduladora e assertiva na utilização consistente das técnicas apresentadas neste manual é uma das componentes mais importantes. Mantenha o otimismo e nunca deixe de encorajar os esforços e o empenho da criança, ainda que os resultados nem sempre sejam imediatos. Um entendimento básico dos fundamentos teóricos da psicologia subjacentes às técnicas apresentadas neste livro auxiliará o treino do seu filho com maior eficácia. Todas as estratégias aqui indicadas se baseiam na abordagem de intervenção psicológica designada como terapia cognitivocomportamental, utilizadas extensivamente pelos psicólogos para reduzir a ansiedade generalizada. As técnicas foram adaptadas às crianças e são apresentadas com explicações que lhes conferem sentido, embora seja fundamental que saiba o «como» e o «porquê» de estas técnicas funcionarem e terem sido validadas empiricamente neste domínio de intervenção. São três os princípios nos quais se sustentam as estratégias implementadas neste manual. A externalização, a contenção e a reestruturação cognitiva. Mas há também recursos e procedimentos terapêuticos que são deliberadamente usados neste livro: a autorregulação emocional, o treino de relaxamento e a prevenção de resposta disfuncional, assentes numa narrativa em que se promove a identificação e a autorreferenciação, para mais facilmente suscitar o envolvimento ativo e a predisposição para a mudança. 15


Para uma melhor perceção da sua inter-relação e funcionamento dinâmico, voltemos ao exemplo anterior do pacote de farinha. Contida no interior da embalagem, a farinha não ocupa muito espaço. Se colocarmos o pacote bem acondicionado na despensa ou num armário, não surgirá qualquer transtorno e não corre o risco de se espalhar. Agora, imaginemos a farinha sem este revestimento. Sem contenção ou invólucro, estaríamos perante uma grande desordem, uma enorme poeira que se instalava por todo o lado e que não nos permitiria ver de forma nítida, deixando-nos extremamente inquietos. Esperamos que este livro possa ser um valioso utensílio no processo de acompanhamento e resolução das dificuldades associadas à ansiedade em crianças. É também por isso que recorremos deliberadamente ao uso de metáforas, esse recurso extraordinário que nos permite facilmente, e de forma imagética, identificar o problema e externalizá-lo. As metáforas em terapia são um instrumento muito valioso. E também não poderemos ignorar o seu poder, quase «mágico», de gerar fascínio nos imensos territórios da infância.

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Com a ajuda deste livro, crianças e adultos vão aprender estratégias e métodos eficazes para enfrentar as preocupações e os medos. Afinal, é possível controlar a ansiedade. x

Licenciado em Psicologia Educacional pelo ISPA e pós-graduado em Psicologia Clínica e da Saúde. Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde pelo Colégio de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da OPP. Exerceu atividade docente no ensino superior privado e politécnico. Frequentou o mestrado e o doutoramento em Psicologia – área de especialização em Avaliação Psicológica na FPCEUC (conclusão da parte curricular em outubro de 2005); International Affiliate APA – Membership #9428-8426. Desde 2006, é assistente de psicologia do Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar Leiria, EPE (Leiria). Exerce consulta psicológica com crianças e adolescentes em prática clínica privada. Autor, coautor e organizador de diversas publicações no domínio da psicologia (atas de congressos e artigos científicos publicados em Portugal e no estrangeiro). É coautor do guia de promoção de competências parentais para pais de crianças com diagnóstico de PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção) e problemas de comportamento, Juntos no Desafio.

Bruno Gaspar nasceu em Paris, em 1979, mas é português. Licenciou-se em História da Arte, na Universidade Nova de Lisboa, e formou-se em cinema de animação em papel e volumes (CITEN), na Fundação Calouste Gulbenkian. Desde os 15 anos que participa em projetos artísticos: cinema de animação, fotografia, design, publicidade e marketing, ilustração e artes plásticas. Enquanto ilustrador colaborou em jornais e foi várias vezes finalista do Prémio Stuart Carvalhais. Venceu o Prémio Maria Alberta Menéres 2011 e o 2.º prémio de Artes Plásticas (25 de Abril – Casa de Portugal) em Macau, em 2017. É diretor do cinANTROP (Festival Internacional de Cinema Etnográfico de Portugal) e fundador do projeto artístico-solidário Olhares sem Abrigo/Homeless Heys. Nos últimos anos tem assinado crónicas de viagens no semanário Sol e no Jornal i. Na sua viagem mais recente pela Ásia, durante três anos, divulgou a cultura lusófona através do cinema, enquanto retratava cada país que visitava com os seus olhos de artista plástico e cronista.


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