Misterios 2

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Jim Gorham era o mais falante. Farley desprezava-o um pouco, pois era um "homem do vácuo", sem nunca ter deixado a Terra. Gorham dizia: - Llewes é um homem fácil de se matar por causa de seus hábitos regulares, entendem. Pode-se confiar nele. Por exemplo, reparem no modo pelo qual ele insiste em comer sozinho. Ele fecha seu escritório às 12 em ponto e o abre à uma em ponto. Certo? Ninguém entra em seu escritório neste intervalo, assim o veneno tem tempo bastante para atuar. - Veneno? - perguntou Belinsky dubiamente. - Fácil. Bastante veneno por todo o ambiente. Dê um nome, nós o temos. Está bem, então. Llewes come um queijo suíço com pão de centeio e um condimento forte em cebolas. Todos nós sabemos disto, certo? Afinal, podemos sentir o cheiro durante toda a tarde, e todos nós nos lembramos do alarido que ele fez quando uma vez desapareceu o condimento da sala de almoço na última primavera. Ninguém mais tocará no condimento, nunca de modo que um pouco de veneno colocado nele atingirá Llewes somente e a ninguém mais... Era uma espécie de brincadeira de hora de almoço, mas não para Farley. Cruelmente, e com seriedade, decidiu assassinar Llewes. Tornou-se uma obsessão para ele. O sangue fervia-lhe ao pensar em Llewes morto, e em ele ser capaz de ganhar os créditos que, de direito, eram deles, por aqueles meses vividos numa pequena bolha de oxigênio, vagando através de amônia gelada para retirar os produtos e promover novas reações nos ventos frios e cortantes de hidrogênio e metano. Mas, teria que ser alguma coisa que não pudesse fazer mal a outra pessoa que não Llewes. Isto aguçava o assunto e focalizava tudo sobre a atmosfera do quarto de Llewes. Era um quarto comprido e baixo, isolado do resto dos laboratórios por blocos de cimento e portas à prova de fogo. Ninguém a não ser Llewes jamais entrara ali, exceto na presença dele e com permissão. Não que o quarto estivesse sempre trancado. A tirania efetiva que Llewes havia estabelecido fazia com que a tira de papel desbotado pregada na porta do laboratório, dizendo "Não entre" e assinada com suas iniciais, fosse uma barreira mais convincente do que qualquer tranca... a não ser que o desejo de assassinar superasse tudo. Então, que tal a atmosfera do quarto? Os testes rotineiros de Llewes, sua precaução quase infinita, não ofereciam nenhuma garantia. Qualquer manuseio do equipamento mesmo, a não ser que fosse extraordinariamente sutil, seria certamente detectado. Fogo então? A atmosfera do quarto continha materiais inflamáveis e em quantidade, mas Llewes não fumava e estava perfeitamente atento ao perigo de fogo. Ninguém tomava maiores cuidados. Farley pensava impacientemente no homem a quem parecia tão difícil aplicar uma justa vingança; o ladrão brincando com seus pequenos tanques de metano e hidrogênio, enquanto Farley o


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