Edissa

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Paul Law

Edissa

2011 4


Sumário Capítulo I- O encontro com Rei Remorso..................11 Capítulo II - Joana Cospe Facas..................................16 Capítulo III - Em busca das desculpas de Ádria.........22 Capítulo VI - Jorge II, o cavaleiro mirim.....................29 Capítulo V - Ádria se nega a falar com Edissa............35 Capítulo VI - Flora é quem pode curar Edissa............41 Capítulo VII - A ira da Noite.......................................47 Capítulo VIII - A morte de Fryz...................................55 Capítulo IX - Você é Flora?.........................................60 Capítulo X - Plantando Edissa....................................65 Capítulo XI - O Nascimento de Edissa........................70 Capítulo XII - Hora de voltar......................................75 Capítulo XIII - Dia, pai ausente..................................80 Capítulo XIV - O reencontro com Noite.....................86 Capítulo XV - Na Cidade de Sal..................................91 Capítulo XVI - Eclipse.................................................96 Capítulo XVII - Os Cavaleiros Virtuosos contra o Exército de Remorso................................................100 Capítulo XVIII - Edissa é levada por Ádria...............105 5


Capítulo XIX - Fryz retorna.......................................110 Capítulo XX- As desculpas para Joana.....................115 Capítulo XXI- Minhas desculpas..............................120 Capítulo XXII- Arrependo-me de ter desistido........125 Capítulo XXIII- Miranda encontra uma solução......131 Capítulo XXIV- De volta ao local onde o vento faz a curva........................................................................136 Capítulo XXV- Edissa e a Alma.................................141 Capítulo XXVI- Lutando contra minha Alma............146 Capítulo XXVII- Miranda dorme..............................151 Capítulo XXVIII- Julia e o julgamento......................157 Capítulo XXIX- A decisão..........................................162 Capítulo XXX- Vida...................................................167 Capítulo XXXI- O retorno de Jacira..........................172 Capítulo XXXII- Eu aceito.........................................177

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Paulo, Maria de Lourdes e Giovanni, eterna família; Para minha nova família Miriene e Bárbara; Ao amigo Odirlei por admiração; Aos amigos que continuam fiéis.

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Apresentação

As coisas são sensíveis, foi a primeira dedução que tive e que tenho ainda. Neste correcorre da vida moderna em que mal temos tempo de ver quem dorme conosco, isso não fica tão evidente. É preciso parar um pouco. Um pouco para sentir. E foi assim, como sempre é e sempre será que este livro foi concebido. Trata-se de uma história que pode ser sentida. Sinta-se a vontade para senti-la.

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I O encontro com Rei Remorso

Edissa caminhou por muitos dias sem rumo certo. Ela andou sem nada de importante para encontrar e se encontrasse não faria muita diferença. Estava doente e para os doentes tudo parece ruim. A moça de idade pareada a de uma adolescente de quinze anos, possuía cabelos negros,

compridos

e

formados

por

grandes

cachos. Mas o que chamava a atenção de quem a via eram os dedos em carne viva por causa da doença. Havia

também feridas

grandes que

pipocavam sua pele pálida. Iam dos braços até as pernas, na altura dos joelhos. Seus olhos avermelhados eram emoldurados por maquiagem forte e o rosto por algumas cicatrizes ao passo que os lábios eram contornados por batom negro.

Feridas

secas,

mas

algumas

novas

preenchiam sua testa e bochecha. Trajava um vestido maltrapilho preto com alguns detalhes

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em

vermelho

que

deixavam

seus

ombros

descobertos. Andava sempre descalça. Que tinha? Pensava consigo. As pessoas agora tinham repulsa de sua presença. Viam-na como lixo humano e talvez fosse ela mesma algo dessa natureza, mas estava tão evidente assim? Numa dada altura de caminhada, Edissa viu uma carruagem estacionada. Revoada de corvos veio do horizonte, chegavam aos muitos e voavam em círculo sobre sua cabeça. O crocitar foi estarrecedor e só perdeu volume quando a porta da carruagem negra se abriu, revelando um homem velho de capuz marrom e de lanterna na mão. Os corvos saldaram seu senhor com rasantes e os cavalos relincharam. — Saudações, Edissa! Que belos olhos você tem! — Aproximou-se o velho com essas palavras. — Estou doente! O senhor sabe como posso ser curada? — Pois é certo que sei! Foi por isso que vim! — Ah que alívio! Minhas feridas doem!

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— Venha em minha carruagem e te levarei comigo para a Vila do Arrependimento, local onde reino. Lá haverá um modo de curá-la! Edissa achou estranha aquela proposta: — Vila do Arrependimento? E para que serve? —

Para

abrigar

aqueles

que

se

arrependem, não é óbvio? Eu sou Remorso, senhor do Arrependimento! — O que é arrependimento? Remorso suspirou e corvos pousaram em seu ombro: — Toda vez que fazemos algo e depois desejamos não ter feito é arrependimento! A culpa por aquilo que fazemos e depois achamos errados, me entende? Edissa abaixou a cabeça: — Entendo. Agora sei a razão da sua visita. Sou mesma alguém que carece viver na Vila do Arrependimento. Remorso deixou sorriso amarelo saltar da sua face coberta por capuz. Os corvos voaram e ele disse:

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— Em meu reino todo mundo é igual a você! São pessoas que se arrependem em vão. Em vão porque já é tarde para elas. — Da mesma forma que para mim — Edissa continuava com a cabeça baixa. — Exatamente! Arrepender-se por aquilo que

foi

feito

é

sempre

tardio.

Como

poderíamos voltar no tempo e não fazer aquilo? Não há como! — Não há mesmo. — Então venha, criança! Permita-me levála ao meu Império de Arrependimento. Suba em minha carruagem! Edissa levantou sua mão ferida para que Remorso lhe ajudasse na subida. Galgou o primeiro degrau e depois se sentou, seguida de seu novo conhecido. A porta se fechou e a carruagem começou a se mover. Ao ganhar impulso, os cavalos alçaram voo e Edissa admirou da janelinha as árvores e vilarejos que se faziam lá em baixo. Quando estava quase anoitecendo, os cavalos voadores iniciaram

a

decida

rumo

às

terras

de

Rei

Remorso. Pararam em frente a uma escadaria de

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mármore que antecedia a entrada de um vasto palácio dourado: — Mas que bonito! — admirou Edissa. — Estamos no centro do Vale da Culpa e ao nosso redor estão todas as pessoas de que falei! Estão todos os que se arrependem! Vivem aqui. — disse Rei Remorso, explicando que ficava no

castelo

enquanto

todos

os

outros

permaneciam no aparente vilarejo que se fazia em volta. — Meu senhor — Edissa se voltou para o rei — Quando poderei receber minha cura? O velho sorriu malicioso e por um instante pareceu que iria curar Edissa instantaneamente: — Eu menti sobre curá-la — Rei Remorso virou de costas e fez um sinal para os soldados que guardavam a entrada de seu castelo — Levem-na! — disse por fim.

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II Joana Cospe Facas

Aquela situação pareceu ainda pior do que caminhar sem rumo como outrora, imaginou Edissa. Havia sido levada para um calabouço nas masmorras do castelo. Depois de trancada, foi abandonada pelos soldados e se viu só até que ouviu gemido: — Há mais alguém aqui além de mim? Não houve resposta. — Responda-me! Então uma voz de mulher se fez nestes termos: — Eu estou aqui! — Ouviu-se o barulho de metal por três vezes seguidas. Era

uma

mulher

de

vestes

velhas

acinzentadas e de pele encardida. Os cabelos castanhos eram crespos e os olhos tinham a mesma

coloração

ao

passo

que

os

lábios

pareciam ressecados. — Quem é você? — Sou Joana Cospe Facas! — Quatro vezes ouviu-se o barulho de metal tocando o chão. 16


— Cospe facas? E como pode? — Cada vez que digo uma palavra, uma faca sai de minha boca! — mais barulho de metal se ouviu. — Que estranho! —

Se

arrependimento

matasse!

murmurou Joana ao som de metal — Eu era uma linda mulher que tinha ambições na vida! Quando tentei seduzir Jorge dos Virtuosos para que se casasse comigo e me fizesse rainha, Ádria sua esposa,

amaldiçoou-me

com

as

seguintes

palavras: “toda vez que abrir sua boca, já que a usou para atentar contra a minha felicidade, saíra dela facas para que sinta dores!” Cá estou a vomitar lâminas por ter querido roubar-lhe o marido! — Por certo que agiu errado, mas mesmo assim é um demasiado castigo! — lamentou Edissa. — Nem me fale! Queria me desculpar com a Rainha Ádria, mas fui pega antes por Remorso! Ele vaga por aí em busca dos que estão arrependidos!

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— Pois foi assim que ele me pegou também! Achei que me curaria, mas agora percebo que ele me aprisionou! — Todas as celas daqui estão repletas de pessoas arrependidas! Remorso se alimenta da nossa culpa! — explicou Joana — O vilarejo que ele te mostrou não passa de uma colônia de presos. — Que podemos fazer para nos libertar? — Como eu disse pedir desculpas é um modo de desfazer o arrependimento! — muitas facas caíam pelas palavras dita por Joana — Malditas facas! — Não sei se posso pedir desculpas — Edissa disse quase que num sussurro. — De que se arrepende? Mas Edissa não respondeu. Depois de um tempo de silêncio preferiu dizer: — Já sei como poderemos sair daqui! — E como? — Duas facas caíram. De manhã, quando o soldado de farda esverdeada e de quepe com aba negra veio para retiras as muitas facas cuspidas por Joana, Edissa colocou o seu plano em prática. Sua cela 18


era ao lado da pertencente a amiga cuspidora de lâminas e quando o soldado fazia a limpeza, ela o agarrou pelo pescoço e o ameaçou com uma faca no pescoço: — Solte-nos, ou usarei dessa arma para perfurar-lhe o pescoço! — Não, minha senhora! Sou apenas um reles soldado! — Pois então abra nossas celas! O militar abriu a cela de Edissa porque a de Joana já estava aberta para limpeza. — Não há como saírem das dependências do Reino de Remorso! Há muitos soldados lá fora — advertiu o homem que tinha uma faca no pescoço. — Isso é o que você pensa! — disse Edissa aproveitando para tomar-lhe o rifle. — O que pretende? — quis saber o militar. Edissa o empurrou e caminharam para a saída do calabouço. Chegaram à superfície na ponta dos pés. Subiram por uma estrada de chão até

as

dependências

despertassem

atenção

do

castelo dos

sem

soldados.

que A

carruagem de Rei Remorso estava no centro do pátio que antecedia o palácio: 19


— Isso não vai dar certo! — Disse o soldado. Edissa pediu: — Tire a parte de cima da farda! Rápido. O homem obedeceu. Depois a mulher de olhos vermelhos continuou: —

Agora

você

corre

na

direção

dos

soldados e nós corremos para a carruagem! — Mas que plano de doido! — Obedeça! Vá! — Edissa empurrou o militar. Quando o soldado correu na direção dos outros soldados que faziam guarda da entrada do castelo, chamou atenção de todos. Eles armaram seus rifles e só não dispararam por causa da gritaria do homem que dizia ser um deles. Até constatarem

a

verdade,

Edissa

e

Joana

estavam quase chegando à carruagem. Quando perceberam o golpe, miraram e disparam contra as duas fugitivas. Um tiro acertou Joana que gritou de agonia. Por conta do grito, ela cuspiu uma linda espada de cabo dourado e lâmina de prata. Edissa tentou carregar a amiga: — Vamos, Joana! 20


— Não Edissa! Bem sei que morrerei! Leve a espada que cuspi e dê para Ádria como prova das minhas sinceras desculpas! — Mas Joana! — Vá Edissa, porque se não conseguir as desculpas

eu

vou

continuar

aqui

presa

e

perseguida por Remorso. Edissa assentiu e largou o corpo quase sem vida de sua amiga. Depois agarrou a espada e levou consigo até a carruagem que alçou voo sem rumo certo.

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