Configuração da Paisagem Urbana pelos Grupos Imigrantes

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Mestrado Integrado em Arquitectura FAUTL 2010_2011 || Orientadora: Prof. Dra. Isabel Raposo Co-Orientadora: Prof. Manuela Mendes durante o século XIX, com a proliferação de casas e tabernas onde se cantava o fado, a organização dos primeiros arraiais e o aparecimento de alguns equipamentos recreativos. Depois das demolições na baixa do bairro em meados do século XX, houve uma retracção desse carácter lúdico, observando-se o seu ressurgimento, neste início do século, através das iniciativas culturais quer das associações do bairro, quer das actividades decorrentes da implementação a partir de 2009, de um programa de reabilitação e revitalização para o bairro. A diversidade cultural e étnica, assim como o carácter multicultural, começaram igualmente a estar associados ao bairro, desde o aumento no final do século XX, do comércio explorado por indivíduos imigrantes, e a significativa diversidade de nacionalidades presentes na população residente do bairro. Ainda do ponto de vista social, mas de carácter negativo, existem na zona desde o século XIX, as noções de criminalidade, vício, perigo e insegurança. Tendo o seu inicio resultado porventura do grande número de população jovem masculina que ali habitava naquele século, deu-se o alastramento dos problemas de alcoolismo e o aparecimento e proliferação da prostituição feminina, que continuaram até à actualidade. No final do século XX, houve um aparecimento do tráfico e consumo de estupefacientes, em conjunto com a pequena criminalidade muitas vezes associada, ficando como imagens fortes do bairro, o perigo e insegurança. Actualmente, e apesar de na opinião dos moradores ser muito baixa ou quase inexistente a criminalidade presente no bairro, perduraram essas imagens negativas para a restante população da cidade.

Figura 31: Indivíduos imigrantes na Rua do Benformoso

Figura 32: Indíviduos imigrantes na Praça do Martim Moniz

Fonte: Dussaud (2002)

Fonte: Pavão (2006)

Existe também fortemente associada ao bairro, a ideia de uma tradição religiosa católica importante. A instituição de uma procissão anual desde 1570, tendo unicamente dois curtos períodos de interrupção no século XX no decurso de agitações políticas, é uma das marcas identitárias mais fortes no bairro. O plano de reabilitação e revitalização para o bairro, com o início da sua implementação em 2009, pretende de um modo geral, a manutenção das características positivas e o desaparecimento das negativas. É certo que algumas das características negativas existentes no bairro irão diminuir ou mesmo acabar, dando azo ao aparecimento de outras positivas. Fica no entanto a dúvida se poderão ocorrer algumas consequências negativas decorrentes da sua execução. Poder-se-á então afirmar que a identidade do bairro da Mouraria é um conjunto de imagens positivas e negativas, por vezes contraditórias, que têm vindo a estar associadas ao bairro de um modo paralelo. Do ponto de vista negativo, podem incluir-se as ideias de estigmatização, exclusão, marginalização, esquecimento, insalubridade, mau aspecto da sua paisagem urbana, criminalidade, perigo e insegurança. Do ponto de vista positivo, as noções de património histórico, as tradições religiosas, populares e relacionadas com o fado, a multiculturalidade e diversidade étnica, e o carácter comercial da sua principal actividade económica. Para o futuro, deseja-se um desaparecimento das noções negativas na identidade do bairro, esperando-se que o recente plano proposto venha a melhorar ou a fazer desaparecer essas circunstâncias. Contudo, existe uma probabilidade de poderem vir a aparecer novos aspectos negativos, decorrentes da execução do mesmo plano.

Paula Gésero | FAUTL 3900 || 18 || paulagesero@gmail.com


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