Teatro no Bolso #1

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TEATRO DE BOLSO // EDITORIAL

EDITORIAL Uma realização do Instituto de Cultura Técnica (ICT), o Teatro no Bolso surge como uma publicação em formato fanzine para divulgar o teatro da região e seus participantes. Com o viés informativo e divulgação de nomes anônimos e peças fora do círculo da grande mídia, queremos dar a dianteira da divulgação com a forma mais alternativa – o fanzine – surgido nos Estados Unidos como uma publicação independente para divulgar trabalhos de artistas. Essa forma de publicação foi muito utilizada por quadrinistas e ilustradores, mas foi com o movimento punk que ela se deu com mais vigor. De cunho político, os punks divulgaram sua ideologia e sua forma de pensar indo de contra com o modelo político da época. Resgatamos essa forma para tentar suprir o vazio da divulgação sobre os artistas e seus trabalhos, e tentar dessa forma fazer com que o público conheça um pouco do que acontece com o teatro em Recife. Nessa edição, além do informativo sobre a peça Dell’arteanas Populares, temos trecho de uma entrevista com ex-aluno do ICT – o ator Zaza e trecho de uma matéria sobre Hermilo Borba Filho. Por Patrícia Valéria paty.lavir@gmail.com #3


PERFIL

HERMILO BOBRA FILHO

Nascido no Engenho Verde, município de Palmares, em 8 de julho de 1917, Hermilo Borba Filho viveu a decadência da civilização do açúcar. Filho de um dono de terras que perdeu quase tudo, ele gastou a infância entre águas, calçadas, paredes e pessoas de uma Zona da Mata em transformação, cuja elite agrária ainda relutava em se acomodar à nova realidade político-social, às demandas e promessas trazidas pelo processo de modernização do país. Entre os antigos oligarcas, viúvos do universo dos engenhos, e a massa de marginalizados, Hermilo foi sempre por estes. Em Margem das lembranças, romance que abre a tetralogia, ambientado na Palmares dos anos 1930, o registro não chega como laivo nostálgico pela quase extinta era das moendas, serve mais para ilustrar a figura do pai, o “Capitão Hermilo”, peça tão importante em vários de seus livros. Para além desse sentimento pela decadência paterna, #4


TEATRO DE BOLSO // PERFIL

o que nasce e cresce na adolescência de rapazola do interior é a incontornável solidariedade pelos oprimidos, que mais tarde levará à defesa de que arte e política são inseparáveis, como de resto nenhuma atividade humana se pode apartada do mundo ao seu redor. Em Palmares descobriu sua maior paixão, base de todas as outras atividades: a literatura (algo afirmado por ele mesmo diversas vezes, ainda que muitos prefiram vê-la como reflexo de sua militância teatral). Sua segunda casa era a biblioteca do Clube Literário da cidade. Lá, conheceu os clássicos de Dumas, Cervantes, Hugo, Dostoiévski, Tolstói, Stendhal, Dickens, Verlaine, Rimbaud e Machado, assim como os vergalhões para sua longa trajetória junto aos palcos: Na biblioteca do Clube Literário, que havia sido a maior do estado, descobri, quando me entreguei ao teatro de dona Micaela, Gogól, Pushkin, Goethe, Schiller, Musset, Racine, Corneille, Molière, Shakespeare, Lope de Vega e Calderón, Goldoni, Ibsen e Strindberg, Alfieri, Bernard Shaw. Hermilo — narrador em primeira pessoa dessa tetralogia tão inspirada na própria vida do autor — não se esqueceu de citar folhetins, literatura de cordel, livros de pornografia, Boccaccio e Marquês de Sade, embora o nome mais lembrado na fortuna crítica do pernambucano seja mesmo o de Henry Miller. Trecho do ensaio Nos Extremos escrito por Cristiano Ramos no jornal Rascunho rascunho.gazetadopovo.com.br/nos-extremos #5


Peça Dell’arteanas Populares

Com produção da Divisão de Eventos Culturais do ICT e direção da equipe do ICT, a peça Dell’Arteanas Populares será apresentada nesta quinta, dia 30 de julho, às 20h no palco do teatro Apolo recebendo a trupe de atuantes dell’arteanos em diversos roteiros, autos e dramaturgias de autores brasileiros. A adaptação e o roteiro da peça são de Adilson Rocha e Bernardo Contramestre. Edson Aranha, ator e professor de teatro, é assistente de direção da peça. Além dos alunos do curso de teatro (ICT) no elenco, a peça tem participação de Asaias Rodrigues com Mucurana. O espetáculo conta com trilha sonora do Maestro Ademir Araújo, pesquisador e executor musical de aspectos de nosso povo, cultura e arte, um artífice em expressar musicalmente sua compreensão sobre o povo nordestino. #6


TEATRO DE BOLSO // PEÇA DELL’ARTEANAS POPULARES

Sinopse Uma saudação aos mestres Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna e Rubem Rocha Filho pelo viés das personagens e variantes da Commedia dell’arte dos primórdios às reinvenções da imaginação utilizando-se de instrumentos, acessórios, figurinos, adereços, máscaras, dança, pantomima, prosa, a trupe embarca nos cenários (roteiros determinados) das personagens-tipo (imediatamente reconhecidas) para tocar a trilha secular dos patrões e criados (Zanni da Commedia dell’arte) mundo afora. Ficha Técnica: Produção: Divisão de Eventos Culturais do ICT Direção: Equipe do ICT Adaptação e Roteiro: Adilson Rocha e Bernardo Contramestre Assistente de direção: Edson Aranha Elenco: Alunos do Curso de Teatro do ICT e atores convidados originados do curso Participação especial: Asaias Rodrigues com a personagem “Mucurana”. Criação e confecção das máscaras da commedia dell’arte: Maria José Bezerra de Oliveira Fotografia: Patrícia Valéria Filmagem: Alex Macedo Luz: Gabril Felix, Nadjecson Lacerda, Rodrigo Oliveira e Jorge Costa. Som: Jorge Simões e Ademir. Maquinaria: Kátia Virgínia, Eduardo Autran, Nicolau Araújo. Nagilson Lacerda. Camarim: Maria José da Silva.

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ENTREVISTA

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ZAZA


TEATRO DE BOLSO // ENTREVISTA

Asaias Rodrigues, conhecido no meio artístico como Zaza, tem 36 anos, nascido e criado em Afogados. Fez cursos de iniciação ao teatro perto de sua casa. Encontrou um grupo de teatro muito forte no colégio Contato com dois professores: Ricardo Mourão e Luciana Lira. Foi aluno durante três anos e a partir daí trilhou seu caminho no teatro. Com dificuldades na escola e no vestibular para artes cênicas, Zaza foi aprendendo “na tora” a fazer teatro. “A escola veio depois dos artistas. Esse caminho artístico você pode trilhar independente”, conta o artista. Senhora dos Afogados, O Seminarista e Navalha na Carne são peças que fazem parte do seu currículo, entre muitos outros espetáculos. Seu primeiro espetáculo foi Beleléu existe mesmo de um grupo na Mustardinha quando Zaza ainda estava pensando em fazer teatro. Asaias fez parte do espetáculo Rei Rodelas, de Adriano Marcena, como prova pública no ICT com o professor e diretor Eduardo Santana, de quem se tornou amigo. Confira a entrevista completa no site do ICT www.ictnet.com.br #9


TEATRO DE BOLSO // ENTREVISTA

Quando foi que você começou a se interessar por teatro? Eu desde criança tinha essa veia artística – sempre desenhava e pintava. Minha família (minha avó principalmente) apreciava muito os meus desenhos, guardava e tal. E aí eu comecei a desenhar quadrinhos [na adolescência]. Para desenhar, me levantava da mesa, fazia as posições, as cenas e tal e voltava pro desenho pra meio que entender isso. E aquilo me liberava, mas ao mesmo tempo me deixava muito angustiado porque faltava alguma coisa pra eu me expressar. Eu sempre fui um garoto problema na escola porque sempre tirei nota baixa. Repeti cinco anos. Minha mãe me colocava em tudo que era tipo de coisa porque eu era o único entre os meus quatro irmãos homens que não sabia o que queria. Minha mãe me colocou em curso de pintura, de natação e, modéstia parte, eu era bom em tudo. Mas não me sentia realizado. Desistia logo. Um belo dia eu estava assistindo televisão e vejo –acho que foi – Tony Ramos fazendo uma cena lá intensa e eu disse “Nossa, é isso que eu quero fazer. Como é que se chama isso?”. Minha mãe disse que era teatro. Mas ela não colocou muita fé porque sabia que eu desistia das coisas. Um belo dia o meu irmão mais velho viu um cartaz na rua escrito “precisa-se de atores e não-atores para um espetáculo”. Era perto da minha casa, na Mustardinha e eu fui lá com a minha mãe ou com meu irmão mais velho. Conheci o pessoal muito tímido e eles já me pegaram, estavam precisando de gente. Paralelo a isso eu pedi ao meu pai um curso de teatro e ele #10


TEATRO DE BOLSO // ENTREVISTA

achava que não valia à pena. Briguei com ele e ele acabou pagando um curso de teatro e vídeo pra mim numa escola chamada Arcozelo. Lá eu conheci um pessoal de Olinda, a família Barros, que me chamaram pra fazer um trabalho. Fiquei fazendo aquele espetáculo perto da minha casa, esse curso e esse negócio em Olinda [grupo Estrela de Ouro]. Eu fui mudando de escola e eu acabei nessa escola Contato onde encontrei dois grandes mestres e dali foi uma bomba. Depois eu comecei a fazer uns trabalhos, tentei artes cênicas e não funcionou; continuei trabalhando, fiquei super orgulhoso com meu primeiro cachê. Comprei um CD de música da Nova Era. Foi muito emocionante isso pra mim porque eu meditava muito em casa e aí depois eu entrei na universidade de publicidade. Como foi que você chegou até o ICT? Eu cheguei no ICT porque o meu pai viu... ou eu achei na Agenda Cultural... e esse foi o segundo curso que meu pai pagou pra mim [em meados de 1997]. Conheceu Adilson [diretor do ICT] se sentiu confiante e me colocou na escola. Foi bem interessante porque a escola tem um perfil mesmo de escola. No começo eu não aceitava esse caráter da escola porque eu sempre tive problema com escolas. Tinha uma resistência muito forte com isso. Mas com o tempo eu percebi o quanto é importante ter gente como Adilson nos bastidores fazendo a coisa acontecer. Às vezes a gente não dá conta de fazer todas as outras coisas #11


TEATRO DE BOLSO // ENTREVISTA

de ser produtor, de ser diretor, de ser ator, de ser iluminador. Então é muito importante mesmo. Hoje eu tiro o chapéu para a importância dessas pessoas. Como você vê hoje a influência do ICT para sua vida profissional? Eu tou achando muito interessante esse meu reencontro com o ICT. Muito bonito. Eu saí muito magoado, porque eu era muito jovem. Eu bati de frente com Adilson, porque eu sempre fui muito rebelde. Era muita prepotência. E aí de repente esse homem me encontra e fala comigo. Fui aceitando ele e fui percebendo que eu cresci e que meu coração também cresceu. Ele é lindo nas suas capacidades e nas suas limitações. Ele tem um orgulho e ao mesmo tempo uma humildade de aceitar as coisas, de respeitar as pessoas. Fui entrando com receio e fui me amolecendo. Tou muito feliz. Tou me sentindo em casa. *** Todas as terças a partir das 20h, Zaza faz parte da leitura dramatizada do conto “Lázaro” de Hilda Hilst no Espaço ACRE, localizado no apartamento 701 do Edf. Iemanjá na Rua da Aurora. Contribuições voluntárias a partir de R$ 15. Por Patrícia Valéria paty.lavir@gmail.com

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TEATRO DE BOLSO

Um oráculo grego dizia “Conhece-te a ti mesmo”. Frase repetida por Sócrates aos seus discípulos.

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